Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Gustavo Mansur

‘Recém demitido da TV Bandeirantes o jornalista e apresentador Jorge Kajuru não tem resposta para a pergunta que surge na mente dos que acompanham sua carreira: ‘para onde vai Kajuru agora?’

Não saber esconder a verdade parece ser um dos ‘defeitos’ do jornalista Jorge Kajuru, que no momento tem se dedicado a estudar propostas e pensar no futuro. ‘Minha maior referência, Juca Kfouri, diz que existe um mentiroso compulsivo e que eu sou o verdadeiro compulsivo. Então, até o completíssimo Juca acha que às vezes tem coisas que eu não preciso falar. Talvez eu tenha que refletir sobre isso’, confessou Kajuru recentemente.

Seguindo a linha do ‘verdadeiro compulsivo’ Kajuru recusou a primeira proposta que lhe surgiu, da Rede TV, para apresentar um programa policial concorrendo com o de seu amigo-irmão José Datena, na Bandeirantes. ‘Não sei como é que eles imaginaram que eu ia aceitar concorrer com o Datena’, explica.

Seria um retorno à rede de televisão onde em julho de 2002 surpreendeu a todos ao pedir demissão em solidariedade a saída do diretor Alberico Souza Cruz. Na época Kajuru fazia dobradinha com Juca Kfouri nos programas esportivos do canal.

Há pouco mais de um mês nova surpresa, Kajuru foi tirado do ar, e posteriormente demitido da TV Bandeirantes quando mostrava ao vivo de Belo Horizonte a confusa entrada de torcedores no Mineirão durante o jogo da seleção brasileira contra a Argentina pelas Eliminatórias da Copa.

Durante a transmissão Kajuru criticou o governo de Minas Gerais e a CBF pelo tumulto imposto aos torcedores em comparação ao acesso privilegiado dos convidados vips do governo mineiro aos camarotes criados especialmente para a partida. ‘Eu apenas mostrei a minha indignação através da revolta dos torcedores que não tinham ingresso para comprar’, explica Kajuru. ‘Foi a produção da Band que escolheu aquele lugar para transmitir as minhas entradas no ar. Tanto que o que eu fiz e falei sobre a revolta dos torcedores durante o Jornal da Band foi motivo de elogio no ar do Carlos Nascimento’, resume.

Kajuru tinha contrato com a Bandeirantes até abril de 2005 e sai da emissora criticando abertamente a diretoria, mas não reclama da empresa. ‘A empresa Bandeirantes foi corretíssima comigo’, comentou o jornalista. ‘O dinheiro que eu ganhei na Band eu nunca vi na minha vida’, confessa.

Em busca de uma nova emissora para trabalhar Kajuru teme que o verdadeiro motivo de sua demissão tenha sido um episódio anterior ao do Mineirão, em maio deste ano, envolvendo as Casas Bahia. Durante seu programa diário, Esporte Total, uma declaração do ex-técnico Mário Sérgio sobre a participação financeira das Casas Bahia no São Caetano rendeu sérias advertências à Kajuru e sua suspensão da programação durante uma semana. ‘Juro pela alma da minha mãe. Eu não sabia que o Mário Sérgio ia dar entrevista’, defende-se Kajuru que explica que a partir daí passou a ser vigiado pela direção da TV Bandeirantes que apenas esperava um motivo para decretar sua demissão.

No que considerou sua ‘entrevista mais franca após a saída da TV Bandeirantes’, Jorge Kajuru falou a AOL sobre sua agitada passagem pela emissora, sobre os episódios envolvendo o governador Aécio Neves e confessa que teme uma possível perseguição das Casas Bahia que tornaria inviável seu retorno a uma grande rede de televisão. ‘Se eu fui demitido da Bandeirantes por causa do Aécio Neves tudo bem. Agora, se a minha demissão foi a pedido das Casa Bahia a minha situação fica preocupante. Ela é a maior anunciante do país’, desabafou o jornalista.’

Liberdade na Bandeirantes

‘Kajuru fala sobre a surpresa que teve com a censura na Bandeirantes e sobre os primeiros atritos com a direção da emissora. Ele explica também o episódio envolvendo as Casas Bahia. ‘Não acredito que as Casas Bahia tenham pedido minha cabeça. Mas acho que algum diretor da Bandeirantes deve ter oferecido’

AOL: A Bandeirantes tem a fama de ser um canal de televisão com um jornalismo aberto, sem censura. O episódio do Mineirão que culminou com sua demissão te surpreendeu?

KAJURU: Surpreendeu porque nestes 30 anos de carreira em televisão eu nunca havia trabalhado com um diretor de jornalismo como o Fernando Mitre. Nunca ninguém me deu tanta liberdade como ele. O Mitre sequer olhava os meus editoriais. Ele tinha tanta confiança e me dava tanta liberdade que ele nem passava perto de onde eu estava redigindo meus editoriais. Então era uma liberdade absolutamente plena.

O que começou a me assustar foi no ano passado, em novembro, quando eu fiz uma crítica ao presidente do Cruzeiro, o José Perrella. E ele ligou para o governador de Minas Gerais, o Aécio Neves reclamando. O Aécio é muito amigo do presidente do Cruzeiro. Sonha em ter o presidente do Cruzeiro na chapa do PSDB como vice-prefeito do João Leite, ex-goleiro do Atlético Mineiro (deputado estadual e ex-secretário de Desenvolvimento Social do governo mineiro). O sonho do Aécio é fazer a dobradinha com um cara do Atlético, com o João Leite; e um cara do Cruzeiro; com o Perrella.

Então o José Perrella reclamou com o Aécio, que por sua vez reclamou com a Bandeirantes. Eu sei que o Aécio reclamou nesta época porque a diretora jurídica da TV Bandeirantes, a Dra. Andrée de Rider, desceu até a sala do Datena e minha e contou que o governador de Minas ficou com ela meia hora no telefone com o João Saad (presidente da emissora). A partir daquele episódio, em novembro de 2003, eu recebi uma advertência que dizia que o próximo comentário inadequado que eu fizesse o meu contrato seria recindido sem direito a multa.

AOL: Isso não passou pelo Fernando Mitre?

KAJURU: Não, pelo contrário, o Mitre nem concordou com aquilo. O Mitre começou a colocar na minha cabeça que aquilo era bobagem, que eu devia assinar a advertência. Porque eu não queria assinar. Mas na época ele acabou me convencendo e assinei e fiquei a partir daquele momento com medo. Eu ficava pensando no que poderia ser um ‘comentário inadequado’. Como é que eu ia saber o que eu podia falar ou não? Que comentário que poderia fazer e a emissora considerar inadequado e conseqüentemente tirar o meu emprego?

AOL: Isso tudo antes do episódio envolvendo as Casas Bahia?

KAJURU: Antes, bem antes. O episódio das Casas Bahia foi na primeira semana de maio. De novembro até maio eu vivi um momento tranqüilo, com liberdade plena, onde o documento que assinei, aquela advertência que me deu medo durante um tempo acabou não representando nada. Porque realmente eu pude falar tudo que queria falar. Inclusive voltei a criticar o Perrella e nem chamaram a minha atenção. Isso porque na Bandeirantes houve um arrependimento de me darem aquela advertência, porque quando eu critiquei o Perrella eu disse que tinha gente do Cruzeiro na CPI do Banestado. A direção da Bandeirantes achou que eu tinha sido irresponsável de falar aquilo. Foi por causa deste comentário que o Aécio reclamou e conseguiu que eu tomasse a advertência da emissora. Só que um mês depois, no final de 2003, veio a confirmação de que o diretor de futebol do Cruzeiro, o Eduardo Maluf, estava na CPI do Banestado. A direção da Bandeirantes viu que eu tinha razão, recuaram quando viram que tinham cometido um erro e que eu não tinha dito nenhuma bobagem quando fiz as denúncias. E eu passei a ter de novo a mesma liberdade que tinha até o episódio de novembro. Quando chegou na primeira semana de maio aconteceu o outro episódio, com as Casas Bahia.

AOL: Até então você sempre trabalhou acreditando que tinha liberdade total na Bandeirantes?

KAJURU: Sem dúvida. Depois da advertência eu achei que tinha voltado a ter a mesma liberdade de antes. Porque eu não errei nada. O que eu falei era verdade. A própria Band teve que dar a notícia no Jornal da Band sobre o envolvimento do Cruzeiro com a CPI do Banestado.

AOL: E com o episódio das Casas Bahia? Você também recebeu o mesmo tipo de advertência?

KAJURU: Antes disso eu tive mais uma demonstração de que a Bandeirantes sabia que eu não brincava, que como jornalista era bem informado. Eu denunciei que o Carlos Augusto Montenegro, presidente do IBOPE, também estava na CPI do Banestado. Aí foi aquela loucura lá dentro. ‘Kajuru você é louco, como é que você fala um coisa destas’, e por aí foi. Eu sabia do que estava falando. E de novo achei que ia ter um clima horroroso. E como na minha advertência estava escrito que um próximo comentário inadequado ia culminar com a minha demissão eu fiquei com medo. Mas nisso a Marlene Mattos marcou um almoço comigo, com o Datena e com o Augusto Montenegro. Neste almoço ele confirmou para nós que ele realmente estava na CPI do Banestado mas que era uma bobagem, um negócio de um apartamento que ele comprou e que era uma injustiça muito grande. Mas ficou claro que eu não havia mentido, que eu de novo tinha dito a verdade. De novo a direção da Bandeirantes viu a minha responsabilidade, e que , modéstia a parte eu era bem informado.

AOL: Você sentiu que a Bandeirantes estava de mãos atadas?

KAJURU: Eu acho que tem gente na direção dela que se sente frágil em relação a situação econômica das empresas de comunicação no Brasil. Eles acabam querendo ser mais realistas que o rei. E nisso entrou o caso das Casas Bahia. Eu não acredito que as Casas Bahia tenham ligado para a Rede Bandeirantes pedindo a minha cabeça. Mas acredito que algum diretor da Bandeirantes deve ter oferecido a minha cabeça para agradar às Casas Bahia.

Eu não tenho certeza se foi gente das Casas Bahia ou se alguém da Bandeirantes querendo agradar o anunciante. Mas eu prefiro acreditar que foi alguém da Bandeirantes.

Em nenhum momento a empresa Casas Bahia foi citada no ar. Não houve nenhuma insinuação, não se levantou nenhuma suspeita sobre a atuação dela no futebol durante o programa. Estávamos no programa o Joelmir Beting, o Juca Kfouri e eu. Está lá a fita para quem quiser conferir. Naquele programa inteirinho, em nenhum minuto se citou as Casas Bahia. Até porque as Casas Bahia não se apresentam publicamente como anunciantes do São Caetano. Quem patrocina o São Caetano é a Cônsul. A única coisa que aconteceu foi que o Mário Sérgio, que já foi treinador do São Caetano apareceu em um VT em que várias pessoas falaram sobre o futebol brasileiro, sobre a situação financeira dos clubes e a discussão dos modelos dos times pequenos que não estão em crise financeira. Neste VT apareceu o Mário Sérgio falando que no São Caetano quem coloca dinheiro, elogiando como um grande parceiro, era o Saul das Casas Bahia. O Saul é o filho do dono. Até então o Saul não havia sido citado por mim em lugar algum desta forma como o Mário Sérgio falou. E o Mário Sérgio citou elogiando, foi a única coisa que aconteceu.

Quando a imagem voltou para mim depois do VT, nem eu nem o Juca, ou o Joelmir fizemos qualquer comentário sobre a declaração do Mário Sérgio. Nos continuamos discutindo o futebol, falando sobre lavagem de dinheiro no futebol inglês e no Brasil não citamos nenhum clube. Só falamos que tem time que o dinheiro entra e saí sem nenhuma explicação.

AOL: O diretor que possivelmente tomou as dores nas Casas Bahia foi precipitado?

KAJURU: Aí não tem possibilidade. No dia seguinte eu fui advertido pessoalmente e fiquei fora do ar uma semana. A direção da Bandeirantes me avisou que estava me tirando do ar por causa das Casas Bahia.

AOL: Você acha que ficou como um mal entendido?

KAJURU: Aí foi a direção da Bandeirantes que interpretou que eu fiz aquele programa para prejudicar as Casas Bahia. Mas não é verdade porque eu estava viajando e quando cheguei meia hora antes eu sequer sabia que neste VT apareceria o Mário Sérgio. Juro pela alma da minha mãe. Eu não sabia que o Mário Sérgio ia dar entrevista. Durante a semana eu sempre só voltava no domingo uma meia-hora antes do programa que era produzido pela equipe com a qual eu sequer discutia, porque eu confiava nela. Mas está lá o André Ribeiro, que é o produtor do programa, pode perguntar para ele. A direção da Bandeirantes está sendo injusta comigo. Primeiro porque eu não citei, não insinuei não falei das Casas Bahia. E segundo porque a única declaração que teve sobre o filho do dono das Casas Bahia como parceiro financeiro do São Caetano não foi feita por mim, foi feita pela Mário Sérgio.

AOL: Este incidente deixou você em uma situação frágil dentro da emissora?

KAJURU: Não deixou, não, ele praticamente decretou a minha saída. A única coisa que aconteceu foi que eu não podia ser demitido naquela semana porque ficaria muito na cara. Naquela semana que eu saí do ar, a direção da Bandeirantes veio falar comigo sobre o episódio das Casas Bahia e me tirou do ar por uma semana querendo que eu alegasse que estava cansado, que eu estava estressado. Eu avisei que não ia falar isso porque não ia mentir, que eu não sei mesmo mentir. Além do que eu não estava nem cansado nem estressado. Eles me avisaram que iriam falar que este era o motivo. Eu falei que eles poderiam dar a versão que quisessem que eu não iria falar isso.

Dois dias depois a ‘Folha de São Paulo’ fez uma matéria de destaque na Ilustrada dizendo ‘Band suspende Kajuru por uma semana’. E na matéria relatava que eu estava suspenso por causa das Casas Bahia. Ficou público que meu afastamento teve por motivo o episódio com as Casas Bahia. Se eu fosse demitido ali ficaria muito na cara. Eu acredito que resolveram não me demitir na época e esperar um pretexto. O pretexto chegou via Aécio Neves três semanas depois. A pressa em me demitir era tanta que aquele motivo do Aécio foi um absurdo. Porque eu não fiz nada demais no Mineirão. Eu sequer citei o nome do Aécio. Eu falei sobre ingressos, convites da CBF e do governo de Minas.

AOL: A confusão causada pelos convites no Mineirão também já era pública naquele momento do jogo. Você não viu nisso um motivo para gerar sua demissão?

KAJURU: Claro que não. Eu apenas mostrei a minha indignação através da revolta dos torcedores que não tinham ingresso para comprar. E o problema dos deficientes físicos que não podiam usar o portão que sempre foi deles porque não chegava de entrar políticos, artistas e acompanhantes tudo de graça. Ali se formou uma revolta do torcedor. Eu apenas registrei isso porque ali eu estava. Foi a produção da Band que escolheu aquele lugar para ser transmitida as minhas entradas no ar. Tanto que o que eu fiz e falei sobre a revolta dos torcedores durante o Jornal da Band foi motivo de elogio no ar do Carlos Nascimento. Ele concordou com o que eu fiz e ainda disse no ar após a minha entrada: ‘é por isso que a gente gosta do Kajuru, porque ele pega no pé’. Ninguém me chamou atenção pelo que eu estava fazendo e falando.

Se eu estivesse errado alguém tinha que me falar depois do comentário que eu fiz no Jornal da Band e mandar que eu parasse de mostrar aquilo. Agora eu fiz o Jornal da Band, ninguém me disse nada e meia hora depois eu entrei no meu programa. Meia-hora era tempo suficiente para que se eu tivesse falado besteira, alguém poderia ter me chamado a atenção.

AOL: E ainda teve o elogio do Carlos Nascimento…

KAJURU: Sim , mas vamos supor que fosse algo só do Nascimento. Se eu estivesse errado para a direção da empresa ela teria meia hora para me avisar. Mas nada disso aconteceu. Pelo contrário, eu entrei no ar, e comecei a fazer o programa. O Jornal da Bandeirantes me passou com a audiência de 3,5. Eu entrei a audiência foi para 7. O editor do programa e os produtores estavam comemorando. Me estimulando a continuar e entrevistar o povo. E quando eu fui entrevistar o povo um dos torcedores falou que o que estava acontecendo ali era uma ‘farra do Aécio’. Eu não entrevistei porque eu quis, mas porque o produtor mandou animado com o Ibope.

Quando eu chamei o primeiro intervalo, estranhamente, eu não voltei. Então eu acho que ali, em meio àquela confusão do Mineirão apareceu a idéia para algum dos diretores da Band de que era a oportunidade de me tirar do ar e me demitir. E fizeram isso. Ainda fizeram uma bobagem, porque poderiam deixar que eu terminasse o programa e aí sim, poderiam me demitir. Ainda me tiraram do ar no meio do programa, coisa que não acontecia desde a época da ditadura. Você lembra de algum profissional de televisão que foi tirado do ar, ao vivo, no meio de um programa? Veja a fragilidade da pessoa que tomou esta decisão. Fragilidade e burrice.’

Kajuru na Globo?

Na última parte da entrevista Kajuru conta sobre sua quase transferência para a Globo em 2002, e confessa que ‘o dinheiro que eu ganhei na Band eu nunca vi na minha vida’

AOL: E você já está livre da Bandeirantes agora?

KAJURU: Já até recebi a multa rescisória. A empresa Bandeirantes foi corretíssima comigo. Com muita dignidade ela começou e terminou comigo. Eu não posso falar nada da empresa Bandeirantes. Financeiramente não teve nenhuma falha comigo. Me tratou muitíssimo bem. Eu sinceramente vou ter dificuldade para achar uma empresa como a Band. A gente tem que saber separar a empresa de um ou outro diretor que toma decisões. O meu episódio foi decisão exclusiva de um diretor e não da instituição. Eu negociei, recebi como devia ser minha multa rescisória. Não posso reclamar.

AOL: Após este episódio você chega a ficar desanimado com a idéia de voltar a trabalhar em televisão?

KAJURU: Não estou desanimado. O que eu tenho é uma incógnita. Porque se eu fui demitido da Bandeirantes por causa do Aécio Neves tudo bem. Não vai ser por causa de uma pressão política que eu não vou conseguir voltar a trabalhar. Agora, se a minha demissão foi a pedido das Casa Bahia a minha situação fica preocupante, ela é a maior anunciante do país. Se foi o Aécio Neves eu não tenho porque me preocupar porque ele não tem força suficiente para impedir a minha contratação em todas as emissoras.

AOL: Antes de ir para a Bandeirantes você chegou a ter uma longa negociação com a Globo. Como você imagina que teria sido a reação da Globo diante da mesma situação no Mineirão?

KAJURO: Eu não posso falar sem conhecer de perto. Eu fiquei dois meses conversando com o Luis Fernando Lima, que é o diretor geral de esportes, com o Marco Mora, diretor de esportes de São Paulo. Tudo com a intermediação do Galvão Bueno, que é meu amigo, meu irmão, e foi quem mais desejou a minha contratação na Globo. O Galvão me queria no programa dele no Sportv, o Bem Amigos. O Marco Mora e o Luis Fernando Lima me queriam na Globo para fazer entradas no Jornal da Globo, com a Ana Paula Padrão. Aquilo que o Renato Maurício Prado passou a fazer. Também para apresentar o Globo Esporte no sábado porque eles queriam me testar na Globo. Eles queriam ver o meu estilo e a minha postura como seria na Globo. Não queriam me colocar no ar todo dia direto. Eu faria no sábado o Globo Esporte e uma participação no Esportes Espetacular do domingo gravada.

Este era o plano de entrada do Kajuru aos poucos na TV Globo. Acertamos seis meses de contrato. O que mostra que a Globo tinha muito medo do meu estilo. E estava tudo certo, mas quando eu ia assinar o contrato houve um impedimento político. A afiliada da Rede Globo em Goiás, uma das mais antigas, que é do Júlio Câmara, foi para cima da Globo, por uma questão pessoal, dizendo que um jornalista como eu, que já tinha criticado a empresa dele em Goiás, já tinha feito todo o tipo de denúncia contra ele e contra a empresa dele não podia de uma hora para outra entrar na casa dele. Aí apareceu um impedimento político. O governador de Goiás, que é muito amigo do Júlio Câmara, entrou na briga para pressionar a Globo para não me contratar. Com isso a Globo pediu para que eu esperasse um pouco até o fogo apagar. Eles queriam um tempo para resolver esta questão política envolvendo meu nome. Enquanto isso eu ficaria apenas no Sportv fazendo o programa do Galvão.

Só que isso começou a demorar muito. Demorou para estrear o programa do Galvão e demorou para a Globo resolver a questão política com Goiás. Neste meio apareceu a proposta da Band. Eles tinham acabado de contratar o Datena, meu irmão. E o Datena me convenceu a ir pra Band, até porque a proposta era irrecusável. Era simplesmente oito vezes mais do que a Globo me ofereceu.

AOL: Além disso, alguém tentou te alertar nesta época sobre o fato de que você não combinaria com a Globo pelo estilo?

KAJURU: Foi o que o Datena e o Juca Kfouri falaram para mim. Para eu esquecer a Globo com o contrato de seis meses. Na Band me ofereciam dois programas diários ao vivo e meus com liberdade total. Ainda poderia fazer o programa de domingo a noite que era meu sonho. E financeiramente eu ia arrumar a vida. Com dois anos de contrato na Band eu fazia a minha aposentadoria. E era verdade, porque o dinheiro que eu ganhei na Band eu nunca vi na minha vida.

Eu liguei para o Galvão Bueno e ele mesmo disse para mim: ‘Vai meu filho, vai pra Band que é muito melhor para você. Você não pode ficar esperando. A Globo pode demorar para resolver esta questão política. Vai e cuida da sua vida porque você vai ganhar um dinheiro em esportes no Brasil que o único que ganha sou eu’. Foi o que o Galvão falou. ‘Você vai ser, depois de mim, o maior salário do Brasil em televisão e esportes. Vai correndo e não se preocupa que a sua hora vai chegar na Globo’. Então eu ouvi o Galvão, que foi quem mais lutou pela minha ida para a Globo. Ouvi o Datena e o Juca, meus melhores amigos, e aceitei correndo a proposta da Band. Eu não posso falar da Globo porque eu não sei como seria minha vida lá. Eu imaginei.

AOL: Mas o próprio Datena e o Juca imaginaram que seria difícil você se encaixar na Globo.

KAJURU: Mas a Globo deixou muita coisa clara para mim. A vantagem da Globo é que ela é o contrário da Band onde você entra achando que tem liberdade para falar tudo e depois descobre que não tem nada. A Globo deixa as regras claras. Eles me disseram desde o começo que eu não poderia criticar o horário do jogo, porque isso não é assunto jornalístico, é assunto comercial. Eu não concordava, mas eles deixaram claro já no início que eu não poderia discutir isso na Globo. Me avisaram que em determinados momentos que eu teria que dosar, precisaria saber falar contra o Farah, o Ricardo Teixeira, que são dirigentes com os quais a Globo negocia direitos de futebol. Não que eles fossem me censurar, mas eu teria que saber falar bem. As regras na Globo são claras. Você entra sabendo o que pode falar, o que não pode falar e o que você tem que saber falar. É diferente das outras emissoras que quando você é contratado isso não é dito para você.

AOL: Como você vê estes formatos populares dos programas esportivos em canal aberto como o do Milton Neves e o do Avalone? Você acha que o estilo de programas como o do Juca Kfouri está condenado a desaparecer?

KAJURU: Do ponto de vista moral, ético e jornalístico o modelo do Juca Kfouri é perfeito. O que se faz na TV aberta em programas esportivos é um lixo, um circo. Eu acho que quem quer fazer um programa de esportes na televisão brasileira com discussão, com jornalismo esportivo de verdade tem que ver o que a Record faz e fazer tudo ao contrário dela. Só isso.

AOL: Você comentou uma vez dos gastos que você tem com processos, principalmente do Milton Neves. A situação continua a mesma?

KAJURU: Até pior porque agora quem paga os advogados sou eu. Antes a Band, pelo contrato que eu tinha com ela, me ajudava a pagar. Agora eu pago sozinho. Mas tudo bem, já ganhei mais um processo do Milton Neves esta semana. Graças a Deus vou continuando primário. Até hoje não fui condenado. Eu vou tocando o barco. Isso é bobagem. Isso não me preocupa.

AOL: E a sua rádio em Goiás? Você não tem mais nenhuma participação? Alguma chance de voltar por lá?

KAJURU: Agora ela se chama rádio 730. Ali existe um acordo em que viraram sócios dela em 75% o Joel Datena, filho do Datena que vive em Goiás há mais de 10 anos, e o Jocelino Braga, que é um amigo do Datena e meu há algum tempo. Então eles assumiram o controle da rádio. Eu não tenho nada a ver com ela, não participo em nada na rádio. E eu fiz um acordo onde até 1º de janeiro de 2007 eu não participo da rádio nem financeiramente. Ou seja, eu não pago um centavo de prejuízo, mas também não recebo um centavo de lucro se a rádio tiver lucro. O lucro é deles, o prejuízo é deles. Os meus 25% só estão preservados porque quando este governador que lá está, que é meu inimigo mortal…

AOL: O Marconi Perillo…

KAJURU: Isso mesmo. Que é meu inimigo mortal. Quando ele sair eu tenho o direito de decidir se vou voltar ou não para a rádio.

AOL: E você pensa nisso?

KAJURU: Se eu voltar eu vou ter 25% de lucro ou prejuízo. Agora só mesmo com a saída deste governador. Porque do jeito que a rádio está lá hoje ela não está como na minha época. Eu não aceitava publicidade de governo. Eu não aceitava isso. Então esta não é a minha rádio. Se eu voltar terá que ser a minha rádio, do meu jeito, o meu sonho, do meu estilo. Eu acho muito difícil voltar. Acho que o mais fácil, até pela minha situação financeira daqui para a frente, é vender estes 25%. Porque os 75% que eu vendi para eles eram as minhas dívidas lá na rádio. Eu passei a rádio pelas minhas dívidas. Porque a rádio era inviável. Ela ficou falida em função da perseguição que eu sofri do governo. O governo estadual conseguiu tirar mais de 68 anunciantes. O melhor para mim é vender estes 25% e ficar livre porque vai ser difícil voltar para lá. Até porque os meus sócios não concordam com a minha filosofia de rádio, de que não pode ter governo como anunciante. Eu acho que rádio só pode ter anunciante da iniciativa privada. Então para que eu vou brigar com eles se eu os adoro como amigos? Então eles ficam com a rádio e compram o restante dos meus 25%.

AOL: E para TV você tem alguma idéia do que vai fazer? Você me dizia que gostaria de tirar umas férias até o final de julho.

KAJURU: Metade de julho de preferência. Até agora a única coisa que apareceu foi esta proposta de participar do programa da Hebe, no SBT que eu já vou começar agora. E teve uma proposta maluca da Rede TV de ser ancora de um programa policial para concorrer com o Datena no mesmo horário. Mas eles deveriam imaginar que eu jamais iria aceitar concorrer com o Datena no mesmo horário.

De fora de São Paulo eu tive duas propostas. Uma da Rede Pampa, no Rio Grande do Sul, para fazer rádio e televisão. E outra ideologicamente muito gostosa que é ir para Florianópolis, que eu adoro, para trabalhar na Rede Cultura de Florianópolis que é uma emissora de televisão parceira de duas universidades. Lá eu teria um programa diário, às 19hs, com plena liberdade.

AOL: Você tem receio de sair de uma rede nacional?

KAJURU: Eu não tenho nenhuma vaidade com isso. Eu não me entusiasmo com nada que possa vir me faltar amanhã. Então eu não estou preocupado com isso. Se for para voltar a trabalhar em um Estado como Santa Catarina, Rio Grande do Sul ou Rio de Janeiro, se for para sair da mídia nacional eu saio de cabeça erguida. Porque estes poderosos, como bem dizia o Neruda, eles podem destruir uma, duas, três, ou mais rosas, mas eles não vão conseguir deter a primavera. Uma hora a casa vai cair para estes poderoso.’



O DIA
Milton Coelho da Graça

‘Levinsohn fora de O Dia e da briga’, copyright Comunique-se, 8/7/04

‘O sr. Ronald Levinsohn confirmou hoje (8/7) que deixou O DIA, após cerca de 60 dias de um trabalho que ele classifica de ‘consultor e amigo’. Levinsohn me disse que ‘não havia mais nada a fazer porque o jornal está muito bem, apesar das dificuldades vividas pelos meios de comunicação, e tem um pessoal espetacular para dirigi-lo.’ Mas também explicou que ‘não quer se meter na briga familiar, que será decidida na Justiça’, referindo-se às ações judiciais que separam as três filhas do falecido proprietário do jornal, Ary de Carvalho: de um lado, Gigi e Eliane (Dadá), que estão agora no comando, e Ariane, a mais velha, que vinha dirigindo O DIA desde a morte do pai, mas foi afastada pelas irmãs pouco antes da chegada de Levinsohn.

Elaine, a irmã que mora em Boston, nos Estados Unidos, decidiu permanecer mais algum tempo no Rio – provavelmente uns dois meses. Esse dado é mencionado por outras fontes, também próximas à família, como indicativo de que, apesar do desmentido publicado pela direção do jornal no final da semana passada, a venda – total ou parcial – é cogitada como alternativa para o impasse entre as irmãs.’