Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Helena Chagas desmente
versão de Antonio Palocci


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 19 de abril de 2006


CRISE POLÍTICA
Andréa Michael


Jornalista contradiz Palocci sobre caseiro


‘Em depoimento à Polícia Federal, a jornalista Helena Chagas, diretora da Sucursal de Brasília do jornal ‘O Globo’, negou ter levado ao ex-ministro Antonio Palocci Filho (Fazenda) a informação de que o caseiro Francenildo dos Santos Costa, que ganhava R$ 700 mensais, teria recebido uma quantia significativa de dinheiro.


Chagas foi ouvida pela PF no inquérito que apura a quebra ilegal do sigilo bancário do caseiro. Hoje, o delegado Rodrigo Carneiro Gomes encaminha relatório parcial à Justiça no qual pedirá um prazo maior para a investigação e listará como indiciados o ex-ministro Antonio Palocci, o ex-presidente da Caixa Econômica Federal Jorge Mattoso e o ex-assessor de imprensa Marcelo Netto.


Ouvida durante duas horas na noite de segunda-feira, Chagas afirmou que recebeu uma ligação telefônica de Palocci na tarde de 15 de março, véspera do dia em que o sigilo bancário de Francenildo foi violado na Caixa.


No telefonema, o ex-ministro teria pedido a ela mais informações sobre as tais quantias recebidas pela caseiro. Palocci teria dito que tomara conhecimento do assunto por meio do senador Tião Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado e articulador do governo na CPI dos Bingos.


Também no depoimento, Chagas relatou que, em conversa com o senador Viana, comentou ter ouvido de seu jardineiro, chamado Leonardo, que Francenildo teria recebido dinheiro.


À PF, em depoimento de 4 de abril, Palocci afirmou ter recebido da jornalista a informação de que o caseiro Francenildo ‘tinha um bom dinheiro’.


Chagas mora no bairro do Lago Sul, em Brasília, ao lado da ‘casa do lobby’, onde Francenildo trabalhava e que era usada por ex-assessores de Palocci.


‘O Globo’ informou que Chagas está em férias, e Viana não respondeu ao recado deixado pela reportagem na tarde de ontem.


Jardineiro


O jardineiro Leonardo Moura disse ontem à noite em depoimento à PF que, em janeiro, Francenildo voltou de férias do Piauí e contou a ele que havia recebido um dinheiro de seu pai biológico e gostaria de comprar um terreno.


Cerca de dois meses depois, Moura disse que, ao ver a foto de Francenildo no jornal, comentou com Helena Chagas, sua patroa, a conversa que teve com o caseiro vizinho. Segundo ele, em nenhum momento Francenildo contou que tinha conta na CEF. Permanece na investigação, portanto, o mistério de onde surgiu a informação de que Francenildo era correntista do banco estatal.’


POLÍTICA & IMPRENSA
Carlos Heitor Cony


O poder da imprensa


‘Desde que começaram a considerar a imprensa como o quarto poder, passei a contestar a classificação, achando que a imprensa nunca é poder -eventualmente pode ser uma força, que não chega a ser um poder.


Lendo jornais antigos, deparei com o editorial de um dos órgãos mais famosos da imprensa brasileira, que deixou história dentro de nossa história. Inaugurava-se, no Rio, a avenida Central, hoje Rio Branco, marco no urbanismo carioca e nacional, pois foi a primeira tentativa de dar às cidades brasileiras um desenho civilizado e moderno.


Realizaram-se festas monumentais para a inauguração do maior acontecimento daquele tempo. Desfiles militares, representações estrangeiras, iluminações nunca vistas, comida farta e ‘o povo divorciado por completo das festanças e pagodes oficiais’.


Não apenas a festança e os pagodes oficiais foram veementemente condenados. Condenada foi a própria avenida: ‘Ontem, enquanto no espocar do champanhe festivo a gente do governo inaugurava a avenida, centenas de famílias abandonavam os lares tangidas pela febre demolidora do progresso. O dinheiro do contribuinte foi esbanjado, foi desperdiçado em indenizações vergonhosas, em que se abarrotou a advocacia administrativa, distribuído em negociatas e arranjos…’.


O texto homicida e o tom indignado lembram o que hoje se publica nas revistas e jornais, inclusive nos noticiários da TV. A onda moralista mudou de nome devido à desmoralização da moral. Tornou-se ética. E nada mais ético do que a força da imprensa cobrando ética de tudo e de todos.


O poder real não dá bola para essa força. Vai em frente, esbanjando o dinheiro do contribuinte, distribuindo-o em negociatas e arranjos.


O que foi dito contra a avenida Central foi repetido contra Brasília e outras iniciativas que deram certo. É repetido também agora, quando nada está dando certo.


Onde está o poder da imprensa?’


TODA MÍDIA
As pontes


Nelson de Sá


‘té a Globo, que um dia antes responsabilizava a ‘intransigência’ do governo pelo atraso no Orçamento, perdeu a paciência. Já abriu seu ‘Bom Dia Brasil’ questionando:


– O texto está no Congresso há nove meses. A oposição ainda faz exigências até o último momento. Semanas atrás, os pedidos da oposição, de dinheiro para obras nos Estados, eram tantos que dava para pensar que era estratégia para atrasar de propósito o Orçamento.


A pressão continuou à tarde, com Tarso Genro, Renan Calheiros e o presidente da OAB, Roberto Busato, cobrando o Orçamento na Globo News.


Início da noite e vem a notícia, na Globo, de que ‘o impasse está praticamente resolvido’. A pefelista Bahia teria chegado ‘a um acordo’ e só faltaria então, bem ao lado, ‘uma pendência sobre investimento de Sergipe’.


Do blog de Magno Martins, da Agência Nordeste, horas antes:


– A liberação de R$ 90 milhões para uma ponte que liga Aracaju ao município de Barra dos Coqueiros impede a votação do Orçamento Geral da União.


Mais importante, segundo a blogosfera, caiu também o dinheiro que o pefelista Cesar Maia pedia para o Pan, no Rio.


E assim tudo voltou a zero, a partir do ‘Jornal Nacional’.


DUDA FAZ


Cena final do comercial da Petrobras, ontem à noite


O comercial abre com helicóptero sobre o mar, no pôr-do-sol, depois próximo da plataforma. Locução, em off:


– Petróleo. Dizem que é difícil encontrar. Não é, não. É só olhar em volta. O petróleo tá na pelada do Luiz…


E tome cenas de ricos e pobres, negros e brancos, todos sorrindo, em harmonia e felicidade, usando derivados:


– É, o petróleo tá em um montão de coisas. É ele que leva a Maria para descobrir o mundo.


Aparece uma menina, sorrindo, a caminho da escola.


– Tá no brinquedo novo do Felipe.


Surge um menino pela primeira vez de bicicleta, o pai ao fundo, orgulhoso. Do blog de Fernando Rodrigues:


– Na direção da campanha sobre a independência petrolífera, entre outros, ele mesmo, Duda Mendonça.


O comercial da Petrobras chega à apoteose, com fundo musical e uma seqüência emocionante de imagens:


– E agora em 2006 o Brasil vai ter todo o petróleo que precisa, para continuar sorrindo [uma jovem em êxtase], sonhando [o pai do menino, em close, sorrindo]. Para continuar crescendo [uma montadora; e por fim um operário da Petrobras agradece, tocando seu capacete].


Corte para a plataforma, distante, com os dizeres:


– 2006. O Brasil auto-suficiente em petróleo.


Mais uns dias e Lula vai à plataforma, de helicóptero.


Começaram ontem também os comerciais petistas de Edson Barbosa -o também baiano Edinho. Sem toda a ‘arte’ de Duda, mas com apelo emocional semelhante.


O caminho…


Você tem que seguir ‘o caminho da notícia nos tempos da velocidade’, no dizer do blog de Bob Fernandes, com ironia.


A blogosfera começou o dia reproduzindo o ‘ex-blog’ de Cesar Maia -segundo o qual ‘um repórter distraído deixou o gravador ligado e, quando abriu, era Paulo Okamotto falando os números das contas’. O prefeito abriu então as contas ao mundo.


… da notícia


Mais um pouco e o blog de Ricardo Noblat entrou com uma história supostamente contada por ‘um destacado senador’, relacionando Marcos Valério a Okamotto. Mais um pouco e o blog de Claudio Humberto deu detalhes das tais três contas -duas de Blumenau, cidade onde mora Lurian, filha de Lula.


Curiosamente, como se viu na boataria de sexta iniciada pelo ‘ex-blog’, de súbito, terminou aí ‘o caminho da notícia’.


Nenhum


Ecoou por telejornais, canais de notícias, rádios e sites do país a notícia do tablóide ‘The Sun’, de que ‘nenhum dos policiais’ envolvidos no assassinato de Jean Charles será processado.


Já o editorial não repercutiu. Sob o título ‘Atitude correta’, o jornal sensacionalista qualificou a morte como ‘erro terrível’, mas não ‘do homem que puxou o gatilho’. Oito vezes. Na nuca.


Sem papel


O Pulitzer, maior premiação do jornalismo americano, ‘pela primeira vez’ aceitou ‘material que apareceu antes on-line’.


Foi do ‘Times-Picayune’, de Nova Orleans, que levou dois prêmios por sua cobertura da devastação -após perder o parque gráfico e até a redação. O feito foi destaque de ‘New York Times’, ‘Wall Street Journal’ e demais, na cobertura do Pulitzer.’


TV DIGITAL
Folha de S. Paulo


Costa diz que decisão da TV digital está nas mãos de Lula


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva chamou ontem para uma reunião os ministros brasileiros que foram ao Japão tratar das contrapartidas à escolha pelo Brasil do padrão japonês de TV digital (ISDB).


‘A reunião foi solicitada pelo próprio presidente com os três ministros que foram ao Japão tratar de TV digital. A decisão é do presidente da República. Ele agora está com todos os dados’, disse o ministro Hélio Costa (Comunicações), antes da reunião, que deveria acontecer às 20h30. ‘Nós vencemos uma etapa. A partir daí, a decisão compete ao presidente da República’, afirmou.


No Japão, o ministro Celso Amorim (Relações Exteriores) assinou um memorando no qual o governo brasileiro manifestava ‘forte desejo’ de adotar o padrão japonês de TV digital. ‘Nós só fomos aos Japão porque tínhamos um procedimento em andamento nos últimos quatro meses, de conversações que foram sendo encaminhadas para uma posição muito consolidada’, disse Costa. Além do ministro das Comunicações e de Amorim, esteve no Japão o ministro Luiz Fernando Furlan (Desenvolvimento).


Em março, a Folha publicou que o governo já se definiu pelo padrão japonês. Falta o anúncio.


Apesar de o texto do memorando não trazer um compromisso explícito de implantação de uma fábrica de semicondutores japonesa no Brasil, Costa considerou a viagem bem-sucedida. ‘O que queríamos obtivemos, que foi o comprometimento do governo japonês com as iniciativas das empresas japonesas. Evidentemente quem vai tomar essa decisão são os empresários’, disse. ‘Nós conversamos também com as empresas e com os empresários e notamos da parte deles uma disposição muito grande de participar conosco nessa nova fase da tecnologia no Brasil.’


Na segunda, Celso Amorim disse que, em 15 dias, um grupo de especialistas da Toshiba virá ao Brasil para iniciar estudos de viabilidade de investimentos em fábricas de semicondutores.’


OPUS vs. DA VINCI
Folha de S. Paulo


Opus Dei quer aviso em ‘Código da Vinci’


‘A Opus Dei, prelazia da Igreja Católica, enviou carta aos estúdios Sony pedindo que as cópias de ‘O Código Da Vinci’ venham com um aviso dizendo que o filme é uma ‘ficção’. Baseado no best-seller homônimo de Dan Brown, o longa estréia no dia 19 de maio em Cannes, na França. Para a Opus Dei, o filme, dirigido por Ron Howard, com Tom Hanks, ‘deforma a figura de Jesus Cristo’, ‘mescla realidade e ficção e, no final, não se sabe onde estão as fronteiras entre o que é verídico e o que foi inventado’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Pedro Bial será cronista da Copa na Globo


‘Ausente da Copa de 2002 por causa da segunda edição do ‘Big Brother Brasil’, o jornalista Pedro Bial será a novidade na equipe de 166 profissionais que a Globo mandará para o Mundial da Alemanha. Bial, que já foi correspondente em Berlim, trabalhou nos mundiais de 1994 e 98.


‘Ele vai ser âncora do ‘Fantástico’ e repórter do dia-a-dia. Vai fazer a crônica, o diário da Copa’, diz Luiz Fernando Lima, diretor de esportes da Central Globo de Jornalismo. Além de Bial no ‘Fantástico’ e Fátima Bernardes no ‘Jornal Nacional’, a Globo terá âncoras para o ‘Bom Dia Brasil’ (Tadeu Schimidt) e o ‘Jornal da Globo’ (Christiane Pelajo).


A Globo prevê transmitir 56 jogos ao vivo (do total de 64). Serão narrados por Galvão Bueno, Cléber Machado e Luís Roberto. No ‘time’ de comentaristas, que terá Paulo Roberto Falcão e Sérgio Noronha, falta ainda definir o substituto de Walter Casagrande.


Já a mesa-redonda comandada por Galvão Bueno desde 98 terá edições também nos domingos (após ‘Sob Nova Direção’) que precederem jogos do Brasil, além dos dias em que a seleção jogar (após o ‘Jornal da Globo’).


A Globo também conta com a experiência que Pedro Bial adquiriu com ‘Big Brother’ para eventuais entradas ao vivo. Nesta Copa, a emissora terá cinco canais diretos com a Alemanha (três via fibra ótica e dois via satélite _em 2002, era só um nessa tecnologia).


OUTRO CANAL


Inferno Atordoada pela dúvida se viu mesmo Bia Falcão (Fernanda Montenegro) ao sair de um restaurante, Júlia (Glória Pires) irá pedir a exumação do cadáver da avó, no início de maio em ‘Belíssima’. No túmulo, haverá sim um cadáver, mas não será o de Bia.


Céu O capítulo de anteontem de ‘Belíssima’ bateu o recorde de audiência da novela de Sílvio de Abreu: 56 pontos. Antes, a produção havia marcado 55 pontos (em fevereiro, quando Júlia flagrou a filha na cama com o marido) e 54 no capítulo de estréia.


Espaço O ‘SBT Repórter’ voltou ao ar há duas semanas, mas já desapareceu da grade da emissora, após uma única exibição. A direção do SBT considerou seu conteúdo muito ‘requentado’ _ou seja, era velho demais para um programa que se diz jornalístico. O ‘SBT Repórter’ passa agora por nova ‘reformulação’.


Areia 1 A Rede TV! negocia com a Disney o adiamento das gravações da versão brasileira do seriado ‘Desperate Housewives’, em Buenos Aires, num esquema em que dividirá textos, cenários e elenco de apoio com outros países da América Latina.


Areia 2 Segundo a Rede TV!, a versão brasileira começaria a ser gravada em agosto, mas foi antecipada para junho por causa da entrada de um novo país no ‘pool’ de co-produtores. O tempo ficou curto demais (ainda não há elenco).’


INTERNET
Adriana Ferreira Silva


Arte Na Blogosfera


‘Uma subversão ocorre na blogosfera: alguns artistas estão transgredindo o formato mais conhecido dos blogs, de diários virtuais e de sites de notícias, e criando uma categoria de arte eletrônica batizada de blog arte.


Como é isso? Num blog convencional, a página de abertura geralmente traz uma série de tópicos, com datas, imagens e comentários do autor logo abaixo. No subvertido, do fundo da tela saltam animações, desenhos, músicas, vídeos, que, num clique, podem se transformar em uma cascata de janelas coloridas e dominar o computador do usuário.


Este efeito, que pode ser um tanto desesperador para os desavisados, foi utilizado pela dupla Rick Silva e Jimpunk para remixar uma obra do francês Marcel Duchamp, numa série de ‘ready-mades’ que está no Screenfull, site que contabiliza mais de 100 mil visitas.


Criado por Silva, 27, brasileiro radicado nos Estados Unidos que o assina sob o codinome Abe Linkoln, e pelo francês, de identidade desconhecida até por seu parceiro, o Screenfull é citado por net artistas como o melhor exemplar de blog arte, com seu mix de vídeo, animação, grafismos e música, que lhe rendeu resenhas elogiosas do museu de arte digital Rhizome.


‘O que mais me fascina é que eles [Silva e Punk] pegaram o formato de blog e embaralharam todos os parâmetros’, diz Marcus Bastos, 31, professor do curso de mídias digitais da PUC-SP. ‘Eles fizeram um layout completamente fora do tradicional, com um ‘postzinho’ depois do outro.’


A artista e pesquisadora Giselle Beiguelman, 43, também o destaca: ‘O Screenfull é o único blog que chegou ao limite’, diz. ‘É uma somatória de quebra de regras. Tudo o que não é para fazer eles fizeram. Tem imagens gigantescas e animações no fundo da página’, exemplifica.


Silva, que mantém outros trabalhos de web arte no ar, define o Screenfull como uma ‘performance’. ‘Para mim, é como a idéia de happening do Fluxus’, diz ele, comparando-o com o movimento artístico dos anos 60, que agregava John Cage, Nam June Paik e Yoko Ono.


‘O que acontece com a net arte pessoal é que você faz um clique aqui, outro ali, e não precisa voltar mais ao site’, acredita Silva. ‘Mas, com o nosso, as páginas mudam completamente. Há pessoas que vêm todo o dia para checar, porque sabem que vai mudar. Por isso é uma performance.’


Sobre Jimpunk, que tem outros trabalhos de net arte na rede e faz questão de manter o anonimato, Silva ‘acha’ que ele é francês e que nasceu em 1966. Eles se conheceram na rede, conversando sobre cultura, e passaram a fazer trabalhos juntos. ‘Não sei nada sobre ele, só que é um mestre.’


Brasileiros


De acordo com o site de buscas especializado Technorati, o universo dos blogs hoje é de cerca de 35 milhões de endereços. O boom ocorreu, principalmente, pela facilidade de manusear o formato.


Para um web artista, que costuma desenvolver seus próprios softwares de criação, trabalhar com um blog é muito fácil. Mesmo assim, ainda não há muitos adeptos da blog arte no Brasil.


Um dos primeiros a se aventurar na blog, ou melhor ‘vlog arte’ -de videoblog-, foi o espanhol radicado em São Paulo Nacho Durán, 26, que mantém seu Feito a Mouse desde 2003.


No site, Durán coloca vídeos manipulados que podem ser vistos de vários ângulos, acompanhados de trilha sonora.


Sua inspiração, conta, vem da videoarte. ‘Trabalho com narrativas simultâneas e com o loop, que permite construir vários tipos de leituras’, explica Durán.


Atualmente, ele está atualizando o videoblog para torná-lo colaborativo. ‘As pessoas poderão enviar trabalhos’, conta. ‘Também estou fazendo um software que vai permitir mixar os vídeos, trocar de lugar e mudar as cores, como se fosse um VJ [videojóquei] on-line.’


A baiana Andrea May, 40, vocalista da banda tara-code, também mantém um site com imagens, frases, fotos, cujo efeito acontece quando o espectador sobe e desce o mouse rapidamente.


‘Aproveito minhas canções e desenhos para compor o espaço do blog, como se fosse uma tela’, descreve May. ‘Quando há apenas uma tela, o espaço é limitado. O interessante do blog é que ele pode ter diversas tramas.’


Making of


Se alguns o subvertem, há os que mantêm o formato original e transformam o blog em uma espécie de making of de suas obras, como o videoartista Daniel Seda, 32, autor do projeto Telepatia.


Seda montou um site em 2001 e passou a usá-lo como diário de anotações para o roteiro de um filme. Depois, construiu um videoblog para incluir cenas das filmagens. ‘Reuni trechos de três minutos, com os textos que geraram os fragmentos de vídeo.’


Quando terminar, ele pretende fazer um DVD. ‘Mas pode ser também uma instalação interativa, que tenha textos e vídeos’, divaga Seda. ‘Encaro ambos como parte da obra.’


Pop arte


Para os interessados, é possível acompanhar as novidades do mundo da blog arte em uma galeria on-line. Os curadores são os entusiastas Rick Silva e a norte-americana Marisa Olson, artista e editora do museu Rhizome.


O site traz uma lista de links, com amostras de diversos tipos de blog e vlog arte, além de bizarrices, como o Universal Acid, série de performances de Silva e Olson, durante o Réveillon de 2006.


Olson, 28, defende que a blog arte é uma nova forma de pop arte. ‘A pop arte lidava com a comunicação de massa, com temas como mercadorias e produtos de entretenimento’, explica. ‘A blog arte fala sobre todas essas coisas, e acho que, como a pop arte, é fácil para as pessoas entenderem.’


Resta saber se haverá um Andy Warhol dessa nova onda.’


Folha de S. Paulo


G Calendar engrossa serviços do Google


‘Depois de muita especulação, e também atrás de seus principais concorrentes, Yahoo! e MSN, o Google lançou seu calendário on-line. Batizado de G Calendar (calendar.google.com), o novo serviço é, como de praxe, 100% on-line e foi desenvolvido em Ajax, tecnologia que permite a maior interação possível entre serviços baseados na internet e seus usuários.


Ainda em fase de testes, o G Calendar deverá agradar ao usuário iniciante. Afinal, o serviço tem interface intuitiva e uma série de recursos especiais que vão além dos tradicionais serviços de agenda e de lembrete.


Ele conta com duas propriedades que podem agradar a diversos internautas: o compartilhamento de calendário com amigos (ou com desconhecidos) e a possibilidade de utilizar calendários públicos para programar as atividades. Por meio desse serviço, é possível programar a agenda para informar cada vez em que um time de futebol jogar.


Outra possibilidade bastante útil apresentada pelo G Calendar é a capacidade de realizar buscas dentro do calendário. Quando alguém passa a utilizar um serviço desse tipo, provavelmente recorrerá a ele por um longo período. O recurso de busca permite pesquisar a agenda e rever compromissos passados e futuros.


Um dos pontos negativos do G Calendar reside no fato de a agenda ainda não apresentar versão em português, como ocorre com seus principais concorrentes, o Yahoo! Calendar (calendar.yahoo.com) e o Calendar MSN (calendar.msn.com).


Além disso, o aplicativo ainda não funciona corretamente em todos o navegadores de internet. Ao ser testado no Opera, o G Calendar enviou uma mensagem de erro, informando não funcionar com aquele programa.’


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O Globo


Quarta-feira, 19 de abril de 2006


FRANÇA
O Globo


Manifestantes ocupam jornal na França


‘PARIS. Depois dos protestos contra o CPE, o alvo agora é o CNE. Cerca de cem pessoas invadiram ontem em Paris a sede do jornal econômico ‘La Tribune’, que mantiveram sob ocupação por quase três horas até serem desalojados pela polícia. Os manifestantes – estudantes, desempregados e trabalhadores autônomos na indústria de entretenimento – exigiam a retirada da lei sobre a igualdade de oportunidades, a qual incluía o polêmico Contrato de Primeiro Emprego (CPE), rejeitado por amplos setores da sociedade que mobilizaram milhões de pessoas para conseguir sua derrubada. E exigiam também que o quase homônimo do CPE, o CNE (Contrato do Novo Emprego) fosse derrubado.


Assim como o malfadado CPE, o CNE facilita a demissão de empregados, mas em companhias com menos de 20 funcionários. A lei entrou em vigor em agosto de 2005. Ontem, os manifestantes puseram cartazes nos quais se lia: ‘Não estamos à venda.’ E atrapalharam enquanto puderam a produção da edição de hoje do ‘La Tribune’. A justificativa para a ocupação do jornal foi que o diário econômico promoveria idéias liberais. ‘Aqui constroem medidas e criam o ambiente mental que promove a desigualdade e a violência social’, acusaram os manifestantes numa declaração. Eles exigiram que o jornal publicasse um texto, mas não foram atendidos. Quando a polícia chegou, o grupo deixou o prédio pacificamente. Apesar da interrupção causada à primeira edição do ‘La Tribune’, as outras duas não deveriam ser afetadas.’


PROPAGANDA & POLÍTICA
Mariza Louven


Filme da auto-suficiência do petróleo é exibido junto com propaganda do PT


‘O primeiro filme da campanha publicitária que anuncia a auto-suficiência do país na produção de petróleo começou a ser veiculado ontem na TV, junto com a propaganda política do PT. À noite, no intervalo da novela ‘Belíssima’, o comercial da Petrobras foi precedido por três anúncios do partido. Dois deles exaltaram os esforços do governo Lula na implementação do programa Bolsa Família, que atende a nove milhões de famílias, compreendendo 40 milhões de pobres. Um outro comparou o número de empregos criados neste governo com o de vagas geradas no governo anterior, do presidente Fernando Henrique Cardoso.


O anúncio oficial da auto-suficiência será feito pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva no próximo dia 21, feriado de Tiradentes. Orçada em R$ 37 milhões, a campanha foi produzida pelas agências F/Nazca, Quê e Duda Propaganda. Esta última é do publicitário Duda Mendonça, envolvido no escândalo do mensalão. Ele confessou, na CPI dos Correios, ter recebido do esquema do empresário Marcos Valério R$ 10,5 milhões em conta no exterior.


O primeiro dos três filmes da campanha sobre a auto-suficiência tinha sido veiculado pela primeira vez à tarde e foi ao ar novamente à noite. O anúncio exaltou o esforço da Petrobras para encontrar petróleo e mostrou a presença do produto no dia-a-dia das pessoas, inclusive como ingrediente de receita culinária. O comercial destacou que o petróleo é um produto difícil de ser encontrado, mas não para a Petrobras, que foi buscá-lo em todo canto.


Campanha inclui inserções em rádio e internet


Para o ‘dia D’, quando o presidente Lula acionará o botão da plataforma P-50, que está na Bacia de Campos, cuja produção garantirá mais petróleo para atender a todo o consumo interno do país, está previsto um novo filme sobre a conquista. Outro, depois do dia 23, será sobre o que muda na vida das pessoas. Os anúncios em TV estão sendo acompanhados por inserções em rádio, internet, jornais e revistas. No feriado, além da solenidade na plataforma, haverá um coquetel no Museu Histórico Nacional.


A idéia é mostrar a importância da auto-suficiência na vida das pessoas, mas o aumento da produção não terá impacto direto no bolso do consumidor. O presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, já afirmou que, apesar de não precisar mais importar petróleo, isso não significará queda nos preços de derivados, como a gasolina.


O valor da campanha é maior que os R$ 35,2 milhões destinados pelo governo em 2005 ao programa de proteção social às crianças e aos adolescentes vítimas de violência, abuso e exploração sexual em suas famílias, considerado prioritário pelo presidente Lula. O programa de apoio à instalação de restaurantes populares públicos também recebeu valor inferior, R$ 34,7 milhões em 2005. Já para o programa de apoio à pesquisa e à inovação em Arranjos Produtivos Locais, que dá incentivos a micro e pequenas empresas, foram R$ 35,7 milhões.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 19 de abril de 2006


JUDAS NO BRASIL
Roberto DaMatta


A propósito de Judas


‘A semana passada teve como centro uma figura que ronda a nossa história cultural, religiosa e política: o velho e cada vez mais onipresente Judas. No universo luso-brasileiro, os Judas não têm a visibilidade das Nossas Senhoras e dos santos, cuja representação chega aos milhares, sendo cultuados e invocados nas casas e ruas, nas rotinas e nos momentos extraordinários, quando restituem a fé dos seus devotos com infalíveis graças e milagres.


Ao contrário da Virgem e dos santos que promovem a grande conjunção entre vivos e mortos, ou, como diz o grande historiador da Antiguidade Peter Brown, entre a tumba e o altar, pois a sua capacidade mediadora vem do fato de terem sido humanos como nós, mas homens e mulheres que ascenderam pelo martírio ou pela pureza imaculada à esfera divina, os Judas exemplificam a irremissível iniqüidade da traição. Esse pecado maior numa sociedade fundada na honra e no favor. Num Brasil, cujo tecido social se baseia na competição e em leis que valem para todos, mas também, e sobretudo, na interdependência entre superiores e inferiores. Aqueles oferecendo casa, visibilidade (‘boa aparência’) e trabalho com proteção; estes entregando uma disponibilidade perene e irrestrita no que se traduz como lealdade e dedicação: uma aguçada consciência de posição social, de conhecer o seu lugar. Se, então, os Judas não são modelos de ações positivas dentro de nosso universo ainda largamente patronal e baseado na reciprocidade pura do ‘dou para receber’, como fazem prova o mensalão e o nepotismo, sua presença negativa é essencial, revelando o gesto proibido, o ato que vai além do crime, sendo um tabu e um pecado.


O que, então, simboliza esse Judas de nome confusamente plural, como a indicar que a sua traição – o ato de entregar o amigo ao inimigo, a decisão de se deixar dominar pela duplicidade moral – tem muitos seguidores?


Tomando o Brasil como base, dir-se-ia que o interesse pelo Judas fala de uma abominação moral. Judas foi, afinal de contas, o primeiro estelionatário deste nosso mundo cristão. Além de ter desonrado a amizade com Cristo, rompendo um tabu e cometendo um pecado sem remissão, ele também desfrutou vantagens monetárias (e políticas) por meio da fraude, da mentira e do comportamento mascarado. Disso decorre a sua imundície, como afirmou o papa Bento XVI. Judas Iscariotes, com a sua Caixa 2, foi um estelionatário bíblico e, por isso, sua figura tem tanta presença e desperta tanta atenção entre nós.


Esse traidor de Cristo surge concretamente no fim da Semana Santa, quando as trevas da Sexta-Feira dão lugar ao milagre da Ressurreição e de um retorno à normalidade no Sábado de Aleluia. Dia em que se tomava consciência da suspensão dos tabus da Quaresma, porque se voltava a comer carne e se celebrava o ritual carnavalesco da malhação do Judas.


Nesse rito, Judas surge como um boneco de pano freqüentemente engravatado, cuja passividade marcava a passagem do homem ardiloso e rápido para a vítima sacrificial inativa, inteiramente nas mãos dos seus alegres algozes. Aliás, é preciso remarcar que esse Judas é um judeu por etnia como foi Cristo, mas sua figura ritual nada tem de judeu. Pois o dado englobante de sua simbologia não é o povo judeu, mas a figura universal do traidor que, por 30 moedas, entregou Cristo às autoridades romanas. Neste sentido, esse Judas se parece muito mais com os ricos e com os políticos locais, estaduais e federais – lidos na ocasião do ritual como ‘Judas’ ou traidores do povo – do que como um representante de um grupo étnico particular. Os nazistas modernos que tinham um plano científico de purificação racial, queimaram os judeus; a tradição católica luso-brasileira queima a imagem de um traidor, esse ser que existe independentemente de credo, nacionalidade, ‘raça’, estado social e, estamos descobrindo a duras penas no Brasil, partido político.


De fato, a malhação do Judas tem duas etapas. À morte simbólica violenta, segue-se um segundo tempo igualmente essencial. A leitura do seu testamento de ricaço sovina e de político corrupto, traidor dos seus eleitores, realizada com paradoxal solenidade carnavalesca por algum gaiato do grupo punitivo em versos de pé quebrado que, nas entrelinhas, denunciam também as putas, os preguiçosos, os malandros e os cornos de uma vizinhança que rotineiramente se pensava como ordeira e pacata. A punição do Judas no sistema ibero-brasileiro não fala de sua etnia judaica, mas do seu gesto abominável e imundo.


Tanto que a tradição popular ibero-brasileira acaba situando-o num lugar. Num lendário Cu do Judas. Uma comunidade governada por meio da mentira e do segredo, esses irmãos gêmeos da traição e do estelionato político. Nos últimos anos, sem trocadilho, sabemos quanto se tem tentado transformar o Brasil num Cu do Judas. Num lugar ordenado por aristocracias partidárias na qual é heróico ter um plano B e ser um e outro ao mesmo tempo. Num país governado por estelionatários profissionais, esses Judas que são hoje legião no mundo político brasileiro.’


TELEVISÃO
Shaonny Takaiama


Hebe diz que cumpre ordens


‘Na segunda-feira, o SBT convidou toda a imprensa para a gravação do milésimo programa de Hebe Camargo. Até aí, nada demais, não fosse o fato de a imprensa não ter tido permissão para falar com a apresentadora. Ordens superiores? A questão ficou no ar.


Mesmo assim, a gravação foi divertidíssima. Logo na entrada, as eternas senhorinhas que acompanham a carreira de Hebe, vestidas com muito brilho, disputavam os pouquíssimos lugares da platéia. ‘A gente sempre dá uma caprichada no visual para vir aqui, porque ela gosta,’ diz Maria Kimura, que há dez anos participa religiosamente do programa pela caravana de São José dos Campos.


No comando do sofá estavam Ana Paula Padrão, Adriane Galisteu, Regina Volpato, Amália Rocha, Joyce Ribeiro e Marília Gabriela. Todas faziam perguntas à Gracinha, muitas vezes capciosas, principalmente as proferidas por Marília Gabriela. A jornalista tocou na questão-chave que nem a imprensa pôde perguntar: a mudança do programa para sábado. E Hebe foi evasiva. ‘Eu sou contratada para fazer o que me mandam fazer. Mas o público me cobra muito, pois já estava acostumado com as segundas’, disse ela, em leve tom de desabafo.


Para amenizar as perguntas sérias, em determinado momento do programa, Marília Gabriela soltou esta: ‘Você é perua?’ E Hebe, toda à vontade: ‘Você tem dúvidas? Perua é aquela que usa tudo o que tem. Já ganhei até troféu lá na Bahia.’


Não seria o programa da Hebe se a apresentadora não soltasse alguma pérola, como a que disse para Adriane Galisteu. ‘Pra esta belezinha aqui eu sempre falava: ‘Vem (para o SBT), vem!’ Mas não sei se dei um bom conselho! (risos)’, o que deixou Galisteu vermelha como pimentão. Coisas de Hebe.’


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