Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Henri Tincq

‘Nos últimos dois meses até sua morte, ontem, o mundo esteve saturado de informações sobre a saúde do papa, suas hospitalizações, suas aparições na janela do Vaticano. Ninguém mais ignora os episódios de sua doença nem sua máscara de sofrimento. Seu rosto é examinado com atenção, dissecado pelas teleobjetivas. Câmeras e computadores não lhe deram descanso. Cada etapa do combate que ele travou contra a doença soou como os minutos de uma contagem regressiva.

O pior é que cada aparição de João Paulo 2º para tentar quebrar esse ciclo infernal e tranqüilizar seus féis, para mostrar que o homem que sofria sentia as dores de um mundo doente e violento -era esse o sentido da última mensagem pascal, que passou desapercebido-, se voltou contra ele.

O papa, cujas realizações e cuja determinação patética são elogiadas por todos, se tornou vítima de uma política de comunicação demente. Uma política que data de mais de um quarto de século e que tentou fazer desse ator nato, carismático até não mais poder, homem de teatro desde sua juventude, o ‘pastor’ universal do planeta, a boa consciência de um mundo imoral.

Deixemos o mito de lado. Essa mediatização extrema não foi concebida por alguns prelados megalomaníacos. Mas nada foi feito no Vaticano diante da excepcional popularidade desse homem, indômito enganador da morte (um atentado, doenças, sete internações hospitalares), para tentar frear essa corrida infernal de globalização da imagem do papa, com suas vantagens e as impressões ambivalentes criadas nos dias de hoje.

Desde o início de seu pontificado, não faltaram questionamentos sobre a organização teatral e o custo das viagens de João Paulo 2º, seu impacto real, os riscos de aparente aproximação com políticos locais (por exemplo, o aperto de mão com o ex-ditador Pinochet em Santiago, em 1987).

Mas também a confusão em torno da função de um papa que, para os protestantes e para os ortodoxos (e até mesmo para a teologia católica tradicional), não passa de bispo de Roma -o primeiro dos bispos, sim, mas não Deus sobre a terra. Esses questionamentos foram sendo desprezados, um a um, pela hierarquia católica, surpresa com o interesse do mundo e contrariando os espíritos céticos.

O efeito bumerangue se torna evidente hoje. É verdade que a imagem do papa ‘atleta de Deus’ e o enunciado tranqüilo de suas certezas contribuíram para a valorização da identidade católica, para a difusão da mensagem da Igreja Católica, em grau que, um quarto de século atrás, ninguém teria podido imaginar.

Sobretudo após as instabilidades que se seguiram ao Concílio Vaticano 2º (1962-1965) e que dificultaram o pontificado de Paulo 6º (1963-1978), papa escrupuloso e atormentado.

O desempenho da Igreja não se reduz ao relatório numérico de uma empresa, mas, em sua edição da Páscoa, o semanário alemão ‘Der Spiegel’ estimou que a população católica, sob o papado de João Paulo 2º, passou de 750 milhões para 1 bilhão de pessoas em todo o mundo.

Inversão simbólica

Do mesmo modo, admite-se a idéia de que Karol Wojtyla, condenado à condição de enfermo, à afasia, aceitando mostrar seus limites físicos e seu sofrimento, conferiu outro sentido à sua missão, um sentido que é evidente para todos exceto para aqueles que o pressionavam para retirar-se de cena: uma espécie de proximidade com os doentes, os deficientes e aqueles que agonizam. Em outras palavras, uma inversão simbólica da hierarquia de um mundo no qual só são contados os famosos, os atletas, as modelos, os empresários, os critérios da estética, do lucro e do poder.

Mas essa supremacia da imagem tem seus inconvenientes que são igualmente cegantes nessa fase derradeira de um reino excepcional.

Assim como a árvore oculta a floresta, a comunicação de João Paulo 2º, tanto a dos anos de plena expansão quanto a dos anos da decadência física, deixou à sombra a própria natureza constitutiva da igreja.

O papel das igrejas locais, a vitalidade própria das comunidades católicas, maior ou menor segundo os países e os continentes, tudo isso passou para o segundo plano. As câmeras ficaram sempre voltadas para Roma, deixando de mostrar as comemorações e as peregrinações da Semana Santa em todo o mundo.

A cúpula da Igreja Católica concorda, em grande medida, com esse diagnóstico. Diante da longa agonia televisionada de João Paulo 2º, muitos observadores e cardeais se questionam sobre os limites de uma comunicação concebida pelo grupo que cerca o papa, e com a concordância dele.

Órgãos de imprensa que, em tempos normais, não prestavam nenhuma atenção à vida institucional da Igreja Católica e que, normalmente, não divulgavam suas mensagens, com a doença do papa passaram a observar a vida do Vaticano de perto, dando ouvidos a rumores e especulando sobre o que poderia estar sendo tramado nos bastidores.

Escolha da igreja

Deixada de fora dos circuitos de informação oficial do Vaticano, a mídia passou a dedicar colunas inteiras ao suposto ‘vazio de poder’, às intrigas entre cardeais à sombra do papa, aos possíveis cenários de demissão, à suposta guerra da sucessão.

E o ardor com que o fizeram chama ainda mais a atenção quando se considera que, durante décadas, elas ignoraram o catolicismo ou mesmo foram irônicos sobre seu desaparecimento.

O que estará em jogo no próximo conclave será a escolha entre levar adiante esse magistério mundial, com outro homem providencial, ou o retorno a um papado mais modesto. Tradução de Clara Allain’



Sandro Magister

‘Lutando no futuro com armas do passado’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/04/05

‘Fui surpreendido pela excessiva humildade de João Paulo II – sua tendência para pedir desculpas por tudo – porque era uma humildade apenas superficial. Na realidade, era o pólo oposto. A Inquisição, sobre a qual escrevi num de meus romances, me vem à mente como um exemplo. A Inquisição incluiu atos de atrocidade, executados em grande parte pelos dominicanos, mas nunca nada pior do que foi feito pelos poderes laicos agindo com a anuência deles, sem que a Igreja atuasse como um dique e um filtro. Foi, em suma, um fenômeno entrelaçado com um processo histórico mais amplo.

Mas João Paulo II sempre negou isso. Ao pedir perdão, rejeitou a Igreja como um conceito histórico e negou a humanidade da Igreja em nome de uma superioridade abstrata.

Precisamente quando parecia ser mais humilde, o papa exibia a intransigência máxima de alguém que via a Igreja como superior aos seres humanos; superior a tudo. Papas anteriores, como Paulo VI, nunca pediram desculpas dessa forma. Isso porque Paulo VI era feito de outra fibra; as pontadas da dúvida viviam nele, dúvidas sobre os seres humanos nos quais a Igreja se manifestava.

Com João Paulo II, vimos o retorno do super-homem, santíssima Igreja dos papas da Contra-Reforma, mas numa nova forma. Nunca antes um papa conseguiu usar tão bem a modernidade para encobrir uma filosofia essencialmente arcaica.

Quando assumiu o assento de Pedro, o Vaticano estava saindo do pontificado de Paulo VI, que tinha lutado para lidar com o confronto entre o moderno e o antigo, um conflito que precisa ser enfrentado por qualquer religião. Em contraposição, João Paulo II usou inescrupulosamente as ferramentas da modernidade para reintroduzir uma idéia de religião que datava dos papas de 300 anos atrás ou ao menos ao tempo de Pio IX, que decretou a doutrina oficial da infalibilidade do papa em 1869 – e que, não por coincidência, foi reabilitada por João Paulo II após décadas de esquecimento.

A modernidade de João Paulo II emergiu acima de tudo nos aspectos triunfais da primeira fase do seu pontificado. Tenho amigos que são cristãos fiéis e que ficaram escandalizados. E, mais tarde, quando eles o observaram de perto, viram muitos homens insignificantes, se não ameaçadores, se alvoroçando ao redor do papa. E uma pessoa pode ser julgada por aqueles que a cercam.

João Paulo II passará para a História como o papa que derrotou o comunismo e fechou o livro sobre o socialista utópico. Mas para ele esta utopia não era um inimigo absoluto, mas sim uma alternativa ao cristianismo. Ele foi muito claro sobre isso: embora tenha sofrido pessoalmente a opressão de um regime socialista em seu próprio país, sempre manteve um respeito pela idéia da utopia, que nunca se aproximou do puro stalinismo nem do socialismo. E isso porque, além da utopia comunista, João Paulo II sentiu que o verdadeiro inimigo não era o marxismo, mas sim o Iluminismo, que 100 anos antes tinha pavimentado o caminho para o marxismo.

Um outro elemento memorável do pontificado de João Paulo II foi a inflação no número de santos durante seu reinado. Ele chegou ao ponto de promover canonizações em massa, algo parecido com o tempo em que, em 1968, todo mundo na Itália recebeu o direito ao voto.

O que poderia ser mais arcaico do que recorrer a essas raízes da religião popular? Pareceu uma volta ao final dos anos 1500, quando a igreja reabriu as catacumbas em Roma para serem usadas como um tipo de arma para combater o protestantismo. Ocorreu um enorme tráfico de relíquias de santos, envolvendo também um elemento criminoso. O bispo Carlo Bascape de Novara ordenou que um vagão inteiro cheio de relíquias fosse levado para ele em Roma, somente para vê-las serem levadas por outros clérigos romanos. Bascape foi o braço direito do cardeal Carlo Borromeu e chegou bem perto de ser eleito papa. Se isso tivesse acontecido, teríamos tido um Khomeini católico no poder, um proponente fanático de uma Igreja cheia de santos.

Quanto se tratava de santos, João Paulo II não tinha constrangimentos.

Nunca houve uma exaltação dos santos tão pública e tão imprudente. Sob sua liderança, não apenas a canonização se estendeu a pessoas controvertidas, das quais a própria Igreja tinha se afastado, tais como o Padre Pio, mas também as raízes menos apresentáveis da fé foram promovidas de novo.

Para mim, um leigo que se sente à vontade para debater qualquer coisa, até mesmo a religião e a Igreja como uma construção histórica, esse papa movimentou-se na direção contrária. Ele se recusou a enxergar a Igreja no contexto da realidade humana e não fez uso de meias medidas.

Foi a extremos, por exemplo, quando se tratou das relações da Igreja com os judeus.

Há três anos, um editor italiano pediu-me para escrever um prefácio para a Carta de São Paulo aos Romanos. Eu o escrevi e isso despertou muita controvérsia – tudo porque sustentei que Paulo tinha vencido e abalado a convicção dos judeus de que eles eram o povo escolhido. Um estudioso da Bíblia que editou a coleção acrescentou um posfácio para mostrar a opinião oposta.

‘O povo escolhido’ é uma dessas expressões que me preocupa, não importa a quem seja aplicada. Porém era uma expressão que João Paulo II nunca se cansava de repetir. No seu diálogo com os judeus, não era suficiente dizer que eles eram ‘velhos irmãos’ cristãos – ele era também totalmente comprometido com a idéia de que eles eram o povo escolhido.

O pontificado de João Paulo II foi verdadeiramente reacionário, do tipo que não se via há séculos. E mesmo assim pouca gente percebeu isso. A maioria foi enganada pelas vestimentas modernas com quais ele se paramentava. Mesmo entre o laicato, as pessoas se deixaram levar pela sua amabilidade para com a mídia e pelo carisma pessoal de sua figura.

Mas, se o papado continuar na direção apontada por João Paulo II, dentro da própria Igreja a autonomia da razão, nascida no século 17, está destinada ao colapso.

* Sandro Magister cobriu o Vaticano para a revista italiana L’Espresso por mais de 25 anos. Edita um site na web sobre a Igreja – www.chiesa.expressonline.it – e leciona política do Vaticano na Universidade de Florença e na Universidade de Urbino’



Geraldo Majella Agnelo

‘João Paulo 2º, o gigante da fé’, copyright Folha de S. Paulo, 3/04/05

‘O santo padre está em condições muito críticas de saúde e o sofrimento pelo qual passa nestes dias suscita, no mundo inteiro, encontros de oração e de reflexão para, de alguma maneira, participarmos dessa etapa decisiva da existência. A dor pelas circunstâncias nas quais encontra-se o santo padre é tão grande quanto a gratidão pela sua vida, pela sua presença segura de guia, sumo pastor das comunidades católicas espalhadas pelo mundo.

A personalidade do santo padre é de tal maneira rica que ele aparece aos nossos olhos como pessoa extraordinária. Por isso o papa é estimado e amado não só por quem reconhece nele o sinal visível de Jesus Cristo ressuscitado, presente para guiar o seu povo, vigário de Cristo na terra, mas também por pessoas de outras religiões e por jovens que estão em busca de exemplos nos quais se inspirar para a construção da própria vida.

Sua experiência humana, particularmente conturbada desde a primeira infância, levou-o a valorizar o homem, cada pessoa humana, na busca de realização e de felicidade, procurando a satisfação capaz de permanecer na variação das circunstâncias da existência. O papa desde logo compreendeu que, quando a pessoa realiza o desígnio de Deus, realiza simultaneamente o bem para a sociedade, a verdadeira utilidade da vida e o seu próprio bem pessoal. Por isso a personalidade do santo padre não cabe nos esquemas estreitos das diversas ideologias que sempre tentam reconduzi-lo nos limites de suas estratégias.

O interesse pelo homem concreto que luta e que espera, que sofre, ama e trabalha caracterizou seus discursos, documentos, encontros, viagens. Nessa perspectiva, deve-se compreender o apreço pela liberdade e a democracia, os direitos humanos e a justiça social como bens inestimáveis, condições indispensáveis para que cada pessoa possa responder ao desejo de felicidade, respondendo ao desígnio de Deus.

‘Abri as portas a Cristo!’ foram as primeiras palavras que pronunciou, ao ser eleito papa, pois Jesus, o filho de Deus encarnado, é o redentor do homem, do cosmos e da história. Encontrando Jesus Cristo, a pessoa floresce e desenvolve suas capacidades de maneira a aumentar a compreensão da realidade que a cerca e a dilatar os limites do próprio coração. A grandeza humana atinge sua máxima expressão na amizade com Cristo. Além de constituírem essas coisas pontos essenciais do ensinamento do papa, a verdade delas documenta-se na maneira de conduzir sua vida e enfrentar os problemas. Nesse sentido, pode-se reconhecer um estreito entrelaçamento entre o magistério pontifício, o que ele nos ensinou por documentos e discursos realizados nos 27 anos de pontificado, e sua concreta maneira de viver. Reflexão e testemunho fundem-se nele numa coisa só, e, certamente, esta é uma das razões que explicam o fascínio de sua personalidade.

Quando, em 1981, foi mortalmente ferido na praça de São Pedro, o sangue derramado lembrou o sangue dos mártires que pagavam com a vida o testemunho de Cristo, incômodo aos poderosos do momento. Era o dia 13 de maio, festa de Nossa Senhora de Fátima, e o santo padre atribuiu à sua proteção a preservação de sua vida. Foi grande a comoção do mundo ao vê-lo perdoar e abraçar o homem que tentou assassiná-lo. Fala ao nosso coração e continua sendo provocação a seguir o seu exemplo, segundo as palavras de Jesus: ‘Amai os vossos inimigos, fazei o bem àqueles que vos perseguem’.

Muitas vezes o papa nos lembrou que o homem se realiza somente no amor, isto é, no dom sincero de si para o bem, para a felicidade do outro. E apontava o exemplo de Jesus, especialmente na cruz, ao dar sua vida para o bem, para a felicidade de outros, inclusive dos que o crucificaram. Nós o conhecemos como o papa peregrino, que percorreu centenas de milhares de quilômetros para encontrar as comunidades católicas, para conversar com os líderes de outras religiões, em busca de pontos de contato, para dialogar com os homens de cultura, para encontrar as famílias, os jovens, os trabalhadores, os povos indígenas, a todos oferecendo palavras de solidariedade, de conforto e indicando o ideal segundo o qual a vida pode se tornar grande e cheia de significado e utilidade, beleza e redenção: Jesus Cristo.

Nas viagens pelo Brasil, estabeleceu com o povo sintonia e recíproca simpatia, suscitando admiração de todos. ‘João de Deus’ foi amado e aplaudido pelas cidades onde passou, não como manifestação do folclore religioso local, mas como o reconhecimento de uma presença humana extraordinária, através da qual o próprio Cristo ressuscitado se faz presente em nosso tempo.

O santo padre se prepara para a última grande viagem, de volta para o Pai! Ele, de maneira tão forte, participou na terra da cruz de Cristo. Certamente vai tomar parte da sua glória. Queremos acompanhá-lo com a oração, com o coração comovido e cheio de dor, com gratidão e com a certeza de que a vitória de Cristo sobre a morte o conduz para a feliz morada eterna. Cabe-nos retornar sobre sua vida e seus ensinamentos, para compreender melhor seu significado para nós, aprender dele aquela grandeza que admiramos. Diferentemente dos heróis, que ninguém pode imitar, os santos indicam um caminho que é possível para qualquer um: o santo padre nos convida a o seguir na santidade da entrega total a Cristo, em quem se encontra a plena realização humana.

Dom Geraldo Majella cardeal Agnelo, 71, arcebispo de Salvador (BA) e arcebispo primaz do Brasil, é o presidente da CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil).’



Karla Dunder

‘Nos livros, o pensamento e a vida de Wojtyla’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/04/05

‘O pensamento e a trajetória de João Paulo II foram abordados em recentes lançamentos no mercado editorial. Alguns deles assinados pelo próprio papa. É o caso de Memória e Identidade (Objetiva, 192 págs., R$ 29,90), lançado neste ano, no qual Karol Wojtyla reflete sobre as ideologias do século 20.

O livro causou polêmicas. Uma delas derivada do fato de o líder católico ter relacionado como formas semelhantes de extermínio as políticas nazistas e o aborto legalmente permitido em alguns países. Também chamou a atenção a relativização que fez da democracia contemporânea, afirmando que a ética católica está longe de ‘canonizar’ esse sistema.

No ano passado, o papa tinha lançado Levantai-vos! Vamos! (Planeta, 216 págs., R$ 29,90) em comemoração ao próprio aniversário de 84 anos. Escrita durante os meses de férias na sua residência de verão em Castelgandolfo, na Itália, é uma autobiografia discreta, com poucos detalhes sobre o cotidiano.

O foco principal é sua vocação para a vida religiosa. Entre as curiosidades, estão seu gosto pela canoagem, esporte abandonado quando se tornou bispo da Cracóvia, por achar que não combinava com a nova função; e a admiração pelo teatro e a literatura. Cita especialmente as obras do escritor e aventureiro Ernest Hemingway.

TRABALHO E DEVOÇÃO

Outra autobiografia, Dom e Mistério (120 págs, R$ 11,30), editada pela Paulinas, na comemoração dos seus 50 anos de ordenação sacerdotal, trata especialmente de sua experiência como operário numa pedreira e da devoção a Nossa Senhora – presente desde sua infância.

Em 2003 foi publicado Tríptico Romano – Meditações, livro de poemas em que o autor reflete sobre a vida e a morte a partir da pintura de Michelangelo no teto da Capela Sistina. Essa obra não teve edição brasileira. Em outubro de 1994, João Paulo II havia lançado Cruzando o Limiar da Esperança (editado no Brasil pela Francisco Alves, mas já esgotado).

Recentemente a editora Record lançou dois livros sobre o papa. O primeiro, João Paulo II – Biografia, é um relato detalhado da trajetória do papa polonês, assinado pelo jornalista francês Bernard Lecomte (784 págs., R$ 69,90).

De acordo com o autor, no terceiro pontificado mais longo da história, Wojtyla desempenhou um papel contraditório. Desafiou as tendências contemporâneas, aferrando-se à defesa da tradição, da liturgia e dos dogmas da Igreja, o que lhe rendeu a imagem de conservador e, para muitos, reacionário. Ao mesmo tempo, no entanto, denunciou erros do passado, enfrentando o silêncio do Vaticano diante do colonialismo e do anti-semitismo.

O empenho do papa na luta contra o comunismo também foi destacado uma vez mais nessa obra. O jornalista detalha o apoio decisivo que ele deu ao sindicato Solidariedade, de Lech Walesa, no período em que ele enfrentou o regime totalitário comandado pelo general Jaruzelski.

O segundo lançamento da Record, Conclave (256 págs., R$ 31,90), de John L. Allen, oferece uma visão concisa do processo de eleição do papa. O autor, que escreve para um jornal católico americano independente, aponta quais são as qualidades mais esperadas do novo papa e os desafios que o esperam. Ele também analisa os erros e acertos da política de João Paulo II e o perfil do colégio de cardeais.

Um pouco mais antigo, mas ainda à disposição dos leitores, Sua Santidade (Objetiva, 592 págs., R$ 69,90) também acompanha a trajetória do primeiro papa não-italiano em 500 anos de história. Os autores, os jornalistas Carl Bernstein, americano famoso por denunciar o caso Watergate, e Marco Politi, decano entres os profissionais que cobrem assuntos do Vaticano, percorrem a história recente do século 20, a queda do comunismo e seu impacto sobre o mundo.

Revelam histórias sobre os acordos secretos que o papa e o presidente americano Ronald Reagan realizaram, com o intuito de derrubar o regime comunista.

OUTROS LANÇAMENTOS

Em 2003 a Record lançou A Sabedoria de João Paulo II (276 págs., R$ 31,90), de Nick Bakalar e Richard Balkin. Os dois apresentam os pensamentos do papa a respeito de questões como os direitos humanos, a paz e progresso no mundo moderno, entre outros assuntos. Tudo compilado de encíclicas papais, sermões e discursos.

Pela Paulinas foram editados mais três livros sobre Wojtyla. Um deles, João Paulo II – Vinte Anos de História (98 págs.), organizado pelo cardeal Joseph Ratzinger, prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé, destaca os lugares mais significativos visitados por João Paulo II. Os outros dois são de Luigi Accatoli, outro respeitado estudioso e analista de questões relacionadas ao Vaticano: Karol Wojtyla – O Homem do Final do Milênio (384 págs., R$ 31) e Quando o Papa Pede Perdão – Todos os Mea Culpa de João Paulo II (323 págs., R$ 19, 92).

Segundo Accatoli, a Igreja Católica Apostólica Romana não será a mesma depois do pontificado de João Paulo II. Em O Papa Pede Perdão ele mostra a grandeza de Wojtyla nos momentos em que reconheceu culpas e omissões da Igreja ao longo da história. Faz isso por meio análise de 94 textos escritos pelo papa sobre esses problemas.

Uma das mais completas e fascinantes biografias, João Paulo 2.º, lançada em 1995, está com suas edições esgotadas no Brasil. Seu autor, o jornalista Tad Szulc, americano de origem polonesa, que trabalhou como correspondente do The New York Times em vários países, foi um dos primeiros a demonstrar a complexidade do pontificado de Wojtyla, tanto do ponto de vista religioso quanto político, e a detalhar seu perfil humano. A obra foi lançada aqui pela editora Francisco Alves.’