Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Imprensa da Venezuela comemora
vitória de escola de samba no Rio


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Quarta-feira, 3 de março de 2006


VENEZUELA
Pedro Soares


Mídia na Venezuela destaca a vitória da Vila Isabel no Rio


‘Campeã do Grupo Especial do Carnaval do Rio, a Vila Isabel foi tema da primeira página de quase todos os jornais da Venezuela, que destacaram o apoio da petrolífera estatal PDVSA (Petróleos da Venezuela) à escola e a representação de Simón Bolívar no desfile. A repercussão chegou a incluir pedido de investigação do presidente Hugo Chávez por suposto mau uso de dinheiro público.


Diários do Peru e do Equador, outros países onde Bolívar lutou pela libertação, também noticiaram o campeonato da Vila.


O diário ‘El Nacional’, um dos principais de Caracas, trazia ontem integrantes da Vila Isabel empunhando uma bandeira da Venezuela em sua foto principal, ressaltando que a agremiação se ‘consagrou campeã com um canto à integração latino-americana’. O diário ‘2001’ afirmava que a Vila, que ‘recebeu um patrocínio aproximado de US$ 1,5 milhão da empresa estatal PDVSA, foi proclamada campeã do Carnaval do Rio em 2006’.


Entre os jornais, há divergências quanto ao valor do patrocínio. O ‘El Nacional’ menciona US$ 450 mil. O ‘Últimas Notícias’, também de Caracas, cita a mesma cifra, dizendo que a escola ‘recebeu um financiamento’ da petroleira. Oficialmente, nem a Vila Isabel nem a PDVSA confirmam o valor, mas a Folha apurou que o patrocínio ficou em cerca de R$ 1 milhão -o que corresponde a US$ 450 mil.


Outro a noticiar a conquista da escola do bairro de Noel Rosa foi o jornal venezuelano ‘El Universal’, que ressaltou o patrocínio na abertura de seu texto.


Mais enfáticos, porém, foram os jornais de outros países. ‘El Correo’, do Peru, trouxe título parecido: ‘Escola de samba patrocinada por Chávez ganha o Carnaval do Rio’. O ‘Expresso’, de Guayaquil (Equador), diz na reportagem que a Vila ‘se consagrou campeã com uma monumental apologia à integração latino-americana e com o apoio financeiro do governo venezuelano’.


Acusações


A entidade Cambio Democrático pediu ao procurador-geral da República da Venezuela que investigue o financiamento da Vila Isabel com recursos provenientes do governo Hugo Chávez, de acordo com informações do jornal ‘El Universal’.


Oscar Arnal, presidente da entidade, diz que Chávez deve ser processado por peculato (quando um funcionário público se apropria de dinheiro público) e malversação (má gestão).


‘Nos dói que se distraiam e invistam dinheiro do erário nacional em objetivos que ridicularizam a nossa máxima figura pátria [Simón Bolívar] e que nada de positivo deixam para os venezuelanos. É a mesma política de proselitismo político pessoal e dádivas a outros países à margem da lei’, afirmou Oscar Arnal, citado pelo ‘Universal’.


Caso sejam encontradas irregularidades no apoio dado à Vila Isabel, Chávez pode ser processado pelo Tribunal Supremo de Justiça (equivalente ao Supremo Tribunal Federal brasileiro). Em sua página na internet, a Cambio Democrático se define como ‘organização não-governamental, apartidária e sem fins lucrativos’ que pretende uma sociedade com ‘cultura pacífica e participativa’.’


ELEIÇÕES 2006
Conrado Corsalette e Fabio Schivartche


Serra intensifica gastos com publicidade


‘A administração do prefeito de São Paulo, José Serra (PSDB), está gastando mais com publicidade.


Até setembro do ano passado, a média mensal de comprometimento da prefeitura com propagandas era de cerca de R$ 300 mil.


Desde então, quando se intensificaram as articulações em torno da candidatura do PSDB à sucessão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a média de gastos saltou para cerca de R$ 2,1 milhões.


Os números constam do SEO (Sistema de Execução Orçamentária) da prefeitura paulistana e se referem a valores liquidados (quando o pagamento é autorizado após a execução do serviço).


Serra e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, são os dois pré-candidatos do PSDB à Presidência. Enquanto Alckmin já se declarou publicamente candidato, o prefeito tem evitado falar do assunto. Tucano mais bem colocado nas pesquisas, Serra avalia os riscos de deixar o cargo para disputar a Presidência com apenas 15 meses de governo.


Auxiliares do prefeito negam que o aumento tenha viés eleitoral e alegam que o desembolso apenas se ‘normalizou’ após um período de ajuste fiscal, adotado pelo prefeito no primeiro ano de seu mandato.


Já a oposição vê o aporte de recursos como um cálculo eleitoral do prefeito. ‘Serra tem destinado tempo e dinheiro para se viabilizar como candidato à Presidência’, afirma o vereador Paulo Fiorillo (PT). ‘Os gastos contrariam seu discurso de campanha’, diz o vereador Antonio Donato (PT).


Recapeamento e eleição


O atual foco da propaganda oficial do município é o programa de recapeamento de ruas. A exemplo do que fez o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no trabalho de tapa-buracos nas rodovias federais, Serra investiu em ações para a melhoria do sistema viário e, agora, ‘presta contas à população’, conforme define sua Secretaria Executiva de Comunicação.


Na propaganda da TV, que utiliza como música de fundo uma cantiga de roda, o locutor não se dirige apenas aos paulistanos. Afirma que as ruas do município são ‘de todos os brasileiros’.


A prefeitura alega que tal referência é feita para incentivar o turismo na cidade. O espaço comprado pela administração nas emissoras de TV prevê veiculação em todo o Estado de São Paulo.


A publicidade sobre o recapeamento de ruas se encerra hoje, após uma semana de exibições nas grades de diversas emissoras. De acordo com a Secretaria Executiva de Comunicação, a veiculação da peça custou R$ 297 mil.


Cada uma das seis inserções previstas para irem ao ar no ‘Jornal da Globo’, por exemplo, atingiu cerca de 800 mil domicílios.


O próximo tema da publicidade oficial será a saúde, assunto ligado diretamente à biografia de Serra, que foi ministro da área no governo Fernando Henrique Cardoso. O prefeito já analisa as sugestões de seus assessores.


Desde o início do ano, a propaganda oficial já abordou temas educacionais e de orientação ao paulistano (dicas sobre o pagamento do IPTU). A prefeitura não fez liquidações de publicidade em janeiro deste ano, o que não significa que não tenha havido propaganda no período -a burocracia, às vezes, atrasa o registro no SEO.


O Orçamento de 2006 prevê gastos da prefeitura de até R$ 23 milhões com publicidade. Trata-se de um valor menor do que era desembolsado pela ex-prefeita Marta Suplicy (PT). A média mensal de gastos de Serra até agora é de cerca de R$ 1 milhão (valores liquidados). Marta desembolsou cerca de R$ 3 milhões ao mês em quatro anos de mandato.


Colaborou DANIEL CASTRO, colunista da Folha’


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Campanha tem cunho educativo, diz secretário


‘O secretário-executivo de Comunicação da Prefeitura de São Paulo, Marcus Vinicius Sinval, negou ontem que o aumento de gastos do município com publicidade esteja atrelado ao calendário eleitoral.


‘As campanhas [publicitárias] foram iniciadas no final do ano passado e, por mais que haja uma coincidência com o momento político, nunca perderam o cunho informativo e educacional’, afirmou o secretário-executivo, que classificou a propaganda sobre o programa de recapeamento de ruas da prefeitura como ‘informativa’. ‘É um serviço que está sendo prestado.’


Segundo Sinval, a referência que é feita ‘a todos os brasileiros’ no comercial se deve à estratégia turística da cidade, ‘para atrair visitas’ -a propaganda é veiculada em todo o Estado de São Paulo.


Ainda de acordo com o secretário-executivo, a criação das peças está sob responsabilidade da agência de publicidade contratada pela prefeitura, a Agnelo Pacheco.


‘O prefeito Serra apenas aprova o tema a ser abordado e o produto final’, afirma.


Ele justifica a escolha da saúde como o próximo tema a ser tratado nas propagandas oficiais dizendo que se trata de uma área que recebeu atenção especial da administração e que, por conta disso, é preciso prestar contas à população.


Sinval afirmou que o primeiro ano do mandato de José Serra na cidade foi atípico no que se refere a gastos com propaganda. ‘Tínhamos apenas R$ 4 milhões aprovados no Orçamento para a área’, disse.


‘A verba já é pouca. Imagino a dificuldade do pessoal que trabalhava aqui no início’, afirmou o secretário-executivo, que assumiu o posto só em fevereiro deste ano, após a saída de Sérgio Kobayashi do cargo.


Essa limitação, disse o secretário-executivo, impediu que a prefeitura gastasse em campanhas ‘educativas’ e ‘informativas’. No meio do ano, a verba publicitária recebeu um aporte de recursos. Mas Sinval argumenta que o ajuste fiscal pelo qual a prefeitura passava também limitou os gastos em propaganda. Apenas no final do ano o fluxo de recursos para a área foi normalizado, segundo ele. ‘Agora, sim, estamos gastando normalmente’, afirmou.


Até o final deste ano, a prefeitura deve gastar R$ 23 milhões em publicidade. Os auxiliares de Serra sempre ressaltam o fato de a quantia ser menor do que a média anual gasta pela sua antecessora, a ex-prefeita Marta Suplicy (PT), de quase R$ 40 milhões.’


CENSURA DO BC
Sheila D’Amorim


BC censura anúncio da Caixa sobre juro


‘Um anúncio de redução de juros feito pela Caixa Econômica Federal provocou um mal-estar na área econômica e acabou censurado, um dia depois de o governo petista ter sido acusado pela CNBB (Conferência Nacional dos Bispos do Brasil) de favorecer mais o sistema financeiro que a área social.


Em um texto de 30 linhas divulgado ontem, a Caixa insistia que estava se antecipando à esperada queda dos juros do Banco Central -a reunião do Copom (Comitê de Política Monetária) está marcada para a próxima semana- e baixando as taxas cobradas de seus clientes.


Logo na primeira linha do texto, o banco estatal avisava que estava se ‘antecipando a uma nova e possível queda na taxa básica de juros na semana que vem’ e, portanto, diminuiria em até 20% as taxas cobradas nas principais linhas de crédito para as pessoas físicas.


Em seguida, o presidente da instituição, Jorge Mattoso, comemorava a decisão, repetindo a expectativa de ‘nova redução da taxa Selic’ e dizia que esperava ‘continuar expandindo suas operações de crédito comercial, oferecendo juros mais baixos’.


Depois de listar as taxas que mudarão a partir da próxima segunda-feira, o texto voltava a destacar que ‘além da antecipação da esperada queda da Selic no próximo dia 8’, a Caixa irá diminuir também o chamado ‘spread’ -a diferença entre o juro pago para captar os recursos no mercado e o valor cobrado dos clientes.


A nota desagradou à cúpula do BC e, depois de uma série de atritos nos bastidores, a Caixa tentou suspender a divulgação da decisão, cancelando a nota oficial divulgada.


No BC, avaliou-se que tanto o momento do anúncio quanto a forma como ele foi feito foram infelizes. Primeiro, os diretores da instituição não gostaram da referência da Caixa a decisões do Copom que ainda não foram sequer discutidas. Além disso, integrantes do governo consideraram que a medida seria mal interpretada por ter sido anunciada em meio às críticas da CNBB. Oficialmente, porém, a assessoria de imprensa do BC afirmou que não houve nenhuma interferência da direção do banco para que a Caixa suspendesse o anúncio.


Os analistas do mercado esperam uma redução de 0,75 a 1 ponto percentual na Selic, hoje em 17,25% ao ano.’


POLÍTICA CULTURAL
O monstro e o poeta


Antonio Negri e Giuseppe Cocco


‘O ódio da elite a Lula é proporcional à insistência desse governo, moderado e disciplinado, em tentar abrir brechas nas bases sociais do bloco de poder. Nesse sentido, Lula é monstruoso, porque está aquém da representação e além da utopia. Ele não é, pois, homologável nem à soberania do ‘um’ (seja ele o ‘povo’, o ‘partido’, ‘o’ intelectual) nem a nenhuma utopia abstrata. Lula é, ao mesmo tempo, um e muitos. Sua singularidade se mantém e se reproduz na multiplicidade. Não se trata de projeto, mas de forma de vida.


É essa monstruosidade que incomoda a elite, também no que diz respeito às políticas culturais do Ministério da Cultura. O poeta Ferreira Gullar (em sabatina desta Folha, no dia 21/12/05) afirma que ‘não acompanha’, mas que ‘dizem que os projetos [do MinC] não andam. Nem as solicitações de verbas’. Ele sentencia: ‘O governo tem de dar respaldo para [a cultura]’, e não intervir.


Não poderíamos encontrar expressão mais apropriada do ‘liberalismo’ das elites brasileiras: os subsídios públicos (o Estado) devem sempre ir para os mesmos (os ‘grandes’ cineastas, os ‘autores’ confirmados), e o mercado (a competição e o risco), para os outros!


As críticas da elite ao MinC tentam aproveitar uma real ambigüidade sobre o que se entende por política cultural. Não é por acaso que, por uma ironia apenas superficial, o poeta e o secretário de Políticas Culturais do MinC trocaram acusações de stalinismo.


Na realidade, permanece cá e lá uma visão de esquerda que pensa a cultura como um instrumento necessário à construção, a partir de uma política de Estado, de um ‘projeto de nação’. Evidentemente, esse discurso ‘oferece’ à hipocrisia da elite a oportunidade retórica de defender a ‘liberdade’ da criação. Ficamos assim com essa falsa oposição entre uma liberdade de criação, que deveria ser garantida por mecanismos não estatais, e uma publicidade da cultura, que passaria por algum mecanismo de ‘centralização’ estatal.


Hoje, a cultura não tem só um expressivo peso econômico. A economia como um todo depende cada vez mais, em seu conjunto, das dimensões culturais. Algo que não saberia limitar-se aos sucessos de um ou outro grande ‘autor’, por mais genial que ele seja. O que é cultural no capitalismo globalizado das redes é o trabalho em geral. Ou seja, um trabalho que se torna intelectual, criativo, comunicativo -em uma palavra, imaterial.


A cultura ‘gera valor’ (como diz o ‘management’) porque o que é incorporado aos produtos são formas de vida: estilos, preferências, status, subjetividades, informações, normas de consumo e até a produção de opinião pública. A mercadoria precisa ser dotada de valor cultural. O trabalho se torna, assim, ação cultural. O trabalho da cultura e na cultura se torna cada vez mais o paradigma da produção em seu conjunto.


Hoje em dia, vivemos um tempo unificado e disperso que implica também uma nova espacialidade, não funcional, de inter-relações contínuas. Toda a vida é mobilizada em um fluxo contínuo -de circulação produtiva- que pode ser chamado de biopolítico: produção de formas de vida por meio de outras formas de vida.


Nesse novo mundo, a multidão das singularidades que cooperam em rede define um campo totalmente diferente do individualismo da retórica liberal e neoliberal. As singularidades se definem pelas relações que as ligam entre elas, pelo reconhecimento do outro. O trabalho da multidão só pode acontecer na medida em que paixão, imaginação e intelecto se encontram no que podemos chamar de amor das singularidades que cooperam horizontalmente. O amor, entendido como nova ética do trabalho e como nova estética, produz o comum.


Não estamos idealizando. Muito pelo contrário, falamos de algo extremamente material, ou seja, tanto dos produtos de uma colaboração voluntária, aberta e auto-organizada, que caracteriza os movimentos do ‘copyleft’ e do ‘open source’, quanto dos pré-vestibulares ‘comunitários’ para negros e pobres. O comum não é privado (mercado) nem público (estatal): sua constituição passa pelo reconhecimento de que não é mais possível uma produção e uma estética, a não ser na base de uma apropriação social dos bens públicos.


Corretamente, as políticas culturais do MinC estão além dessa oposição, na medida em que procuram se abrir aos sujeitos novos da criação cultural contemporânea. Esses sujeitos, múltiplos, não são mais representados pelo Estado, pois não podem ser reduzidos ao ‘um’ (ao ‘povo’ e/ou à ‘nação’), ao passo que sua multiplicidade não tem nada a ver com o individualismo egoísta do mercado.


A procura de mais democracia, diversidade e pluralidade das políticas de fomento à cultura por parte do MinC constitui uma inovação maior porque coloca a produção cultural no cerne da mobilização democrática e produtiva da sociedade como um todo.


Antonio Negri, 72, filósofo italiano, é professor titular aposentado da Universidade de Pádua (Itália) e professor de filosofia do Colégio Internacional de Paris (França). Entre outras obras, escreveu, em parceria com Michael Hardt, os livros ‘Império’ e ‘Multidão’.


Giuseppe Cocco, 50, cientista político, doutor em história social pela Universidade de Paris, é professor titular da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Entre outras obras, escreveu, com Antonio Negri, o livro ‘Glob(AL): Biopoder e Luta em uma América Latina Globalizada’.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Limpar a casa


‘A brindo edição em parte dedicada a Lula, o título do editorial da ‘Economist’ soa quase entusiasmado:


– A mágica de Lula.


Mas o texto não vai bem por aí. Foi um editorial para ensinar, como de costume na revista, ‘o que o presidente manchado por escândalo deveria fazer com uma segunda chance’.


Antes, a avaliação gerencial. Sobre a economia:


– Pelos padrões de outros grandes emergentes como a China e Índia, o Brasil continua a desapontar… Pelos padrões de seu passado recente, porém, o Brasil está indo bem.


Ou ainda:


– Está construindo sobre a base iniciada pelo predecessor, mas o faz com uma considerável coragem. Aferrou-se às duras políticas fiscal e monetária até quando ficaram impopulares. Ao mesmo tempo, começou a enfrentar a desigualdade social com um programa que alcança 8,7 milhões de famílias.


O que fazer, então? Antes de mais nada, ‘vencer na conversa, não apelar ao suborno’:


– O Brasil é um país difícil de mudar… Na busca de maioria no Congresso fragmentado, líderes petistas são acusados de cortar caminho com uma arrogância leninista, subornando pequenos partidos-de-aluguel.


Mais à frente:


– O escândalo atingiu mais a imagem do partido do que Lula. Muitos dos brasileiros parecem sentir que seja lá o que tiver acontecido não foi pior que no passado… Se for reeleito, porém, Lula precisa limpar a casa.


Não só pelo país, diz a revista, mas pelo hemisfério:


– A maneira do Brasil -com uma construção paciente das instituições e do consenso- tem muito mais em seu favor em uma região onde o populismo de Chávez tem atraído mais atenção ultimamente.


Para encerrar:


– Lula não é só um político carismático, mas de sorte. Ele prometeu um governo limpo e presidiu sobre um escândalo de corrupção, e ainda assim parece capaz de ganhar uma segunda chance. Ele tem potencial de ser um dos políticos democráticos mais marcantes para a América Latina. Mas a maior parte de seu trabalho está pela frente.


A edição quase exagerada da ‘Economist’ é preparatória da visita de Estado da semana que vem. A agência Reuters noticiou ontem que o presidente vai se reunir ‘com ‘o creme e a nata’ empresarial e financeira’.


De outra parte, Lula já surgia ontem nos tablóides de Londres, para ser preciso, em uma coluna do ‘Daily Mail’.


Pelo que anuncia Richard Kay, ‘conhecido pelas boas fontes que tem junto à família real’, no relato da BBC Brasil, a rainha Elizabeth 2ª deve transmitir a Lula ‘um pedido de desculpas velado’ pelo assassinato de Jean Charles de Menezes.


A AGENDA


Se a ‘Economist’ entrevista Lula, Larry Rohter reage com FHC, Tasso Jereissati e Bolívar Lamounier no ‘New York Times’. Do primeiro parágrafo:


– Há um ano, Lula parecia imbatível… Agora, porém, com o presidente enfraquecido pelo pior escândalo de corrupção na história moderna do Brasil, o principal partido de oposição tem o problema oposto: dois fortes postulantes à candidatura que só um pode vencer.


Mas FHC, como sublinhou o blog Primeira Leitura, de Reinaldo Azevedo, se concentrou no que mais importa, citando a campanha de John Kerry em 2004:


– Eu estava nos EUA e fiquei chocado como o partido se deixou levar pela agenda do governo. Você tem que determinar a agenda. Se você deixa o outro lado fazê-lo, vai perder, porque eles escolhem o terreno onde lutar.


É o que está em jogo nas entrevistas mais recentes do ex-presidente sobre corrupção -e agora no noticiário pós-Carnaval, a começar do ‘Jornal Nacional’.


Antes, porém, tem o enfrentamento dos ‘dois fortes postulantes’. A Globo, que antes se recusou a noticiar a pesquisa CNT/Sensus, ontem destacou a Setcesp/Ibope, anunciando que ‘Geraldo Alckmin aparece com 40%’ para o Senado e ‘Eduardo Suplicy tem 29%’.


Segundo o Noblog, de Ricardo A. Setti, ‘por mais que não admita ter um plano B, Alckmin deverá concorrer ao Senado caso seja preterido’. Segundo o próprio, não -ao menos pelo que se lia ontem no UOL.


EM OBRAS No comercial da Prefeitura de São Paulo, ouvem-se os versos ‘se essa rua fosse minha, eu mandava recapear’, mais um locutor que anuncia: ‘Essa rua é sua, é de todos os brasileiros. Quase três milhões de metros quadrados recapeados, porque SP fica mais bonita com você. Visite esta nova cidade.’’


INTERNET
Folha de S. Paulo


Microsoft vê conluio da UE com adversários


‘DA BLOOMBERG – A Microsoft acusou as autoridades reguladoras da União Européia de articular ‘contatos secretos’ com empresas concorrentes e lançou dúvidas sobre a independência de um observador técnico nomeado pela UE.


A fabricante de software, que se defronta com a ameaça de arcar com 2 milhões em multas diárias por não cumprir determinação antitruste da UE, disse em documento encaminhado à Comissão Européia que o órgão teria ‘estimulado com determinação os adversários da Microsoft a ‘instruir’ o observador técnico independente de uma forma prejudicial à Microsoft’.


A Comissão Européia concluiu em março de 2004 que a Microsoft abusou ilegalmente da hegemonia de seu software, que roda em mais de 90% dos computadores pessoais do mundo.


A Microsoft recebeu ordem de licenciar informações proprietárias aos concorrentes, entre os quais os desenvolvedores do sistema operacional Linux e de outros projetos conhecidos como de código aberto. O órgão também cobrou uma multa recorde, de 497 milhões, da empresa.


Em outubro de 2005, a UE nomeou o cientista da computação Neil Barrett para fornecer ‘orientação imparcial’ sobre o cumprimento pela Microsoft da decisão. Ele escreveu dois relatórios sobre as medidas tomadas pela empresa para obedecer à decisão.


A Microsoft disse ontem que o órgão regulador ajudou a articular reuniões entre quatro empresas concorrentes e o árbitro técnico independente antes do encontro desse com a fabricante norte-americana de software.


‘Os encontros, não-monitorados e não-documentados, entre o observador técnico e os adversários da Microsoft, estimulados pela comissão, infringiram as próprias salvaguardas regulamentares da comissão, bem como os princípios gerais do devido processo legal’, disse Horacio Gutierrez, assessor jurídico da Microsoft, em comunicado.


Em dezembro de 2005, a comissão acusou a Microsoft de não ter fornecido informações ‘completas e precisas’ sobre o Windows aos concorrentes. As acusações se basearam em recomendações de Barrett e do instituto de análise e pesquisa Organisation and Technology Research.


A Microsoft disse que os contatos entre suas concorrentes e Barrett ‘põem em dúvida’ se os relatórios do observador técnico são ‘realmente independentes’ ou se ‘são, em vez disso, peças de argumentação desenvolvidas para a comissão com a assistência das concorrentes da Microsoft’.


A comissão confirmou ter recebido o documento da Microsoft e disse nada ter a comentar, afirmou Jonathan Todd, porta-voz da comissão. O órgão regulador vai realizar uma audiência em 30 e 31 deste mês com a Microsoft e suas concorrentes sobre as acusações de não-cumprimento formuladas pela UE.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ministra negocia ‘paz’ entre Record e negros


‘As ofensas da Igreja Universal aos cultos afro-brasileiros, com termos como ‘exu’ e ‘mãe-de-encosto’, viraram assunto da Presidência da República.


A ministra Matilde Ribeiro, chefe da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial, vinculada à Presidência, virou negociante da ‘paz’ entre a Record, que exibe programas da Universal, e o Ministério Público Federal (MPF) e entidades defensoras dos cultos afros.


Ribeiro vem tentando selar um acordo para pôr fim a uma ação, movida pelo MPF, que pede direito de resposta na programação da Record às entidades afro. No ano passado, a Justiça Federal concedeu liminar obrigando a Record a exibir um programa de direito de resposta durante sete dias. O programa chegou a ser gravado, mas a liminar foi cassada pela Record.


Ontem, a Record enviaria à ministra uma proposta em que aceita exibir três vezes o programa das entidades afros, no início da madrugada. Mas um impasse continua: a Record não aceita a obrigação de vetar programas da Universal com conteúdo agressivo ao candomblé e umbanda. ‘Se existe ofensa religiosa, eles devem discutir com a igreja. A Record não pode controlar o conteúdo dos seus clientes’, diz Alexandre Raposo, presidente da rede.


A assessoria de Ribeiro diz que ela entrou na negociação a pedido das religiões afro, que considera segmento do movimento negro.


OUTRO CANAL


Radiografia 1 A ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) é apontada por vários setores envolvidos nas discussões sobre TV digital como o ‘fiel da balança’ entre os quatro ministros que influenciarão a decisão do presidente Lula, prevista para o dia 10, sobre qual o padrão tecnológico (japonês, europeu ou americano) será adotado.


Radiografia 2 De acordo com os observadores: Hélio Costa (Comunicações) e Antonio Palocci (Fazenda), de olho numa campanha eleitoral mais tranqüila, estão fechado com as TVs e defendem o padrão japonês, enquanto Luiz Fernando Furlan é a favor do europeu. A posição de Dilma pode ‘empatar’ ou decidir.


Sobe/desce 1 Record (10%) e Band (8%) foram as únicas emissoras que cresceram significativamente no Ibope da Grande São Paulo (média do dia) nos dois primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período de 2005. A Record foi alavancada pela novela ‘Prova de Amor’ e pelo novo ‘Jornal da Record’, que em fevereiro cravou média de dez pontos.


Sobe/desce 2 Na Band, pesaram os desempenho de ‘Floribella’ e de ‘Mandacaru’. O SBT caiu 14% na média diária (de 9,1 pontos para 7,8) e a Rede TV!, 4%. A Globo subiu um décimo de ponto de audiência (de 20,8 para 20,9), crescendo apenas 1%. O número de televisores ligados oscilou de 43,8% para 43,9% na média do dia.’


Laura Mattos


SBT planeja ‘Jornal Hoje’ para Nascimento


‘Silvio Santos não pretende deixar Carlos Nascimento nas madrugadas do SBT por muito tempo. Contratado na semana passada, o jornalista estréia na próxima segunda como âncora do ‘Jornal do SBT’, à meia-noite e meia.


Mas a intenção a médio prazo é colocá-lo na apresentação de um novo telejornal de rede nacional, provavelmente exibido na hora do almoço. Seria um concorrente do ‘Jornal Hoje’, da Globo, que Nascimento apresentou até 2004, quando foi para a Bandeirantes.


À Folha, Nascimento afirmou ontem que Silvio Santos não concordou que ele estipulasse contratualmente uma faixa horária em que teria de entrar e sair do ar, como fez Ana Paula Padrão. Quando trocou o ‘Jornal da Globo’ pelo ‘SBT Brasil’, em 2005, ela exigiu que constasse em contrato que seu jornal teria de terminar até as 22h. ‘Silvio disse que eu teria de estar disponível o dia todo. Então, posso trabalhar das 6h às 2h’, contou rindo Nascimento.


Ele admitiu também que o empresário não o convidou especificamente para o ‘Jornal do SBT’.


‘O plano do Silvio é fazer um investimento no telejornalismo. Ele queria que eu viesse fazer parte da equipe, deixando claro que nada tinha a ver com o jornal da Ana Paula, e que eu me encaixaria nos novos projetos. E ficou estipulado que inicialmente minha missão seria o ‘Jornal do SBT’, afirmou Nascimento à Folha.


Digestão


O SBT prepara o lançamento de dois novos telejornais. Um deles seria um regional de São Paulo, veiculado por volta das 18h, apresentado por Hermano Henning, que estava no ‘Jornal do SBT’ até a contratação de Nascimento. Seria uma espécie de ‘SPTV’.


O outro, que deverá ficar com Nascimento, é o jornal nacional do horário do almoço. O grande obstáculo será convencer emissoras afiliadas, especialmente as do Nordeste, a exibirem esse produto no lugar de seus jornais locais.


Espécies de ‘Cidade Alerta’ piorados, esses programas sensacionalistas costumam registrar audiências altas, algumas vezes até superiores às da Globo local, ao veicular, em plena hora da refeição, reportagens policialescas e imagens de corpos assassinados.


Diretor nacional de jornalismo do SBT, Luiz Gonzaga Mineiro disse ontem que já há um diálogo com os canais locais sobre uma futura mudança. ‘Nós queremos tirar aos poucos esse linha ‘Aqui Agora’ [‘pai’ do ‘mundo cão’ na TV, veiculado pelo SBT na década de 90]. É preciso fazer isso aos poucos, respeitando as diferenças regionais’, falou Mineiro.


Equipe pequena


Enquanto esse projeto do ‘Jornal Hoje’ do SBT não sai do papel, Nascimento terá de sobreviver com a falta de estrutura do ‘Jornal do SBT’. Atualmente, a equipe na Redação em São Paulo tem só 14 pessoas, já que o programa reaproveita reportagens já exibidas. No ‘Jornal da Band’, que Nascimento apresentou desde o início de 2004 até ser contratado por Silvio Santos, há em São Paulo cerca de cem profissionais. O ‘SBT Brasil’, de Ana Paula Padrão, tem por volta de 60.


Nascimento disse que está negociando com a emissora um orçamento para que possa ampliar a equipe. Além de editores e repórteres, ele afirmou gostaria de levar ao SBT José Simão, colunista da Ilustrada, com quem o âncora dividia o microfone na Bandnews FM. ‘Acho que o telejornalismo está precisando de mais humor.’’


Lúcia Valentim Rodrigues


Prinze Jr. confunde graça com canastrice


‘Você provavelmente não sabe o nome dele, mas já viu sua carinha de bebê pidão muitas vezes em comédias românticas bobinhas feitas em Hollywood. Tá bom, vou ajudar: ele foi o Fred do insosso ‘Scooby-Doo’. Ambicioso, Freddie Prinze Jr. se lança na frente e atrás da telinha com um seriado chamado ‘Freddie’ -será falta de idéia ou pura presunção?


Criada, produzida e estrelada por ele, a série se inspira na própria família do ator. No programa, Freddie Moreno é um jovem solteirão que conseguiu sair de casa e ser bem-sucedido como um chef num restaurante de Chicago.


Teria tudo o que gostaria, não fosse uma batelada de problemas que passa a acometer sua família, e ele se vê de novo cercado pelas mulheres de sua vida: a irmã mais velha e a filha adolescente, a cunhada amalucada e a avó porto-riquenha que não fala inglês.


Com todos vivendo sob o mesmo teto, Freddie vai ter de se virar para conviver com as manias da família, das quais achava que tinha ficado livre, e tentar ter uma vida de homem disponível. Não vai ser fácil, e a graça é para vir daí.


O problema é apostar tudo no ‘carisma’ de Prinze Jr. À beira dos 30 anos, já não está na hora de parar de bancar o universitário à caça de uma bela mulher?


A idéia de investir na carreira televisiva surgiu após a participação especial na nona temporada de ‘Friends’, como um ‘homem-babá’ sensível. Funcionou, mas os protagonistas eram outros.


A família desajustada podia até dar certo, mas há seriados que fizeram antes e melhor, como os encantos de ‘A Feiticeira’, a gordura de ‘The King of Queens’ ou até mesmo a psicopatia de ‘Everybody Loves Raymond’.


Se Freddie Prinze Jr. já era canastrão no cinema, sem a pressão de um público ao vivo e sem a dificuldade de ter de fazer graça, na TV só tende a piorar. A única coisa certa aqui é ele estar nessa casa de loucos. Embora falte como vizinhos os produtores da série.


Freddie Quando: estréia hoje, às 20h, na Warner’


TV DIGITAL
Elvira Lobato


Redes fazem anúncio contra teles na TV digital


‘Em uma demonstração inédita de aliança, as grandes redes de televisão do Brasil lançaram uma campanha publicitária institucional conjunta em defesa da TV aberta e gratuita. A campanha, que começou a ser veiculada no sábado de Carnaval, tem como pano de fundo a disputa entre a radiodifusão e o setor de telecomunicações em torno da definição do modelo de televisão digital a ser implantado no país.


‘TV aberta: 100% Brasil, 100% grátis’, diz o anúncio. Sem fazer referência à polêmica sobre o modelo digital, ele reproduz a tese dos radiodifusores de que o acesso à programação deve permanecer gratuito na nova tecnologia, enquanto as teles encaram a mudança como uma oportunidade para comercialização de novos serviços pagos, de cujo mercado elas querem participar.


Segundo as emissoras, a campanha foi proposta pela Abra (Associação Brasileira de Radiodifusão, que reúne Bandeirantes, Rede TV e SBT) e encampada pela Globo, pela Record, pela TV Cultura, de São Paulo, e pela Rede Vida, da Igreja Católica.


‘Primeira vez’


‘É a primeira vez que nos unimos numa iniciativa dessa dimensão’, afirmou Guilherme Stoliar, vice-presidente do SBT, do Grupo Silvio Santos, o que é confirmado por Antonio Teles, vice-presidente da Rede Bandeirantes. A rivalidade histórica com a Rede Globo foi deixada momentaneamente de lado.


‘As emissoras conseguiram a unanimidade de pensamento em torno do conceito de TV que está sendo ameaçado pelas companhias telefônicas, as quais querem ocupar todos os espaços disponíveis e indisponíveis’, disse Antonio Teles. A campanha deve ficar no ar por seis meses. Os anúncios estão sendo veiculados também em rádios e imprensa escrita.


Questionado sobre se o público consegue captar a mensagem implícita no anúncio, o executivo da Band disse que o alvo pretendido são os formadores de opinião, que acompanham a polêmica.


Os radiodifusores têm insistido em que a discussão sobre o modelo de TV digital diz respeito exclusivamente ao setor e que as companhias telefônicas não deveriam opinar sobre o tema.


‘Os grandes investimentos serão feitos por nós, e não há motivo para as teles se meterem’, acrescenta Guilherme Stoliar. Antonio Teles chega a falar em ‘pirataria internacional’ por parte das operadoras de telecomunicação, que, segundo ele, buscam abocanhar parte do mercado da radiodifusão. Ele afirma que as emissoras de TV não se envolveram na discussão sobre a digitalização da telefonia celular, ocorrida nos anos 1990.


Telemar


As teles entraram oficialmente no debate sobre TV digital em janeiro, com um documento da associação Telebrasil, quando defenderam que a discussão deveria se dar em torno do modelo de negócios, e não da tecnologia.


‘A TV digital vai mudar a cadeia de valor da prestação de serviço de radiodifusão. (…) Queremos oferecer a infra-estrutura de telefonia existente para prestar os serviços de interatividade e o atendimento ao cliente. Não faz sentido multiplicar a infra-estrutura’, afirma o diretor de Estratégia e de Novos Negócios da Telemar, André Bianchi.


O executivo da Telemar duvida que a TV digital possa ser de acesso universal e gratuito, como apregoam as emissoras de televisão. Para ele, o serviço deixa de ser universal e gratuito na medida em que os atuais aparelhos de televisão analógicos precisarão de uma caixa de conversão, a ser comprada no mercado, para captarem a programação digital. Sustenta ainda ser utópica a idéia difundida pelos radiodifusores de que os custos da TV digital possam ser bancados só com receita publicitária.


Anteontem, um grupo de fabricantes que defendem o padrão de TV digital DVB europeu -e que se auto denomina ‘Coalizão DVB’ – divulgou nota pedindo a inclusão de novos pontos na discussão sobre a escolha do modelo de TV digital, e que a discussão seja aberta. O diretor de Relações Institucionais das Organizações Globo, Evandro Guimarães, discorda da prorrogação do debate proposto por indústrias européias. Para ele, as discussões para a definição das regras para o sistema digital estão maduras.’


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O Globo


Quarta-feira, 3 de março de 2006


VENEZUELA
Miriam Leitão


Soy loco


‘Um pouco antes do carnaval, a PDVSA, Petróleos de Venezuela, deslanchou uma campanha de publicidade em todos os meios comunicando que estava chegando ao Brasil com seu petróleo e seus programas sociais. Mas desembarcou mesmo foi na Sapucaí, onde conquistou o título de campeã com a Vila Isabel. A empresa tem estado de olho na Ipiranga porque quer entrar também na distribuição de petróleo brasileiro.


Não é apenas a lógica do mundo dos negócios que move a PDVSA. A empresa deixa de lado qualquer racionalidade quando se trata de garantir impulso para o presidente Hugo Chávez e seus projetos: fornece petróleo de graça a Cuba, publicou uma página oferecendo óleo para aquecimento a preço baixo para a população de baixa renda nos Estados Unidos, anunciou que distribuirá petróleo de graça para os pobres da Bolívia e comprou títulos da dívida externa argentina. De investimento no negócio mesmo, ouve-se pouco a empresa falar.


– O que move a PDVSA é mais a lógica política que a empresarial – diz o consultor Adriano Pires.


Se fosse só empresarial, seria de deixar a Petrobras preocupada. É que há rumores no mercado de que a PDVSA entraria no Brasil na distribuição de derivados de petróleo através da compra da Ipiranga. Circula também que a Petrobras não quer que este negócio se concretize: amigos, amigos, petróleos à parte.


– A Ipiranga está num dos seus melhores momentos em muitos anos. Fez uma reestruturação empresarial e adotou alguns focos. Um deles, o centro-oeste do agronegócio. Como a Shell está se encolhendo, ela se tornou a maior distribuidora de diesel do centro-oeste. Hoje, em todo o Brasil, é a segunda maior distribuidora de derivados, tendo algo como 18% do mercado brasileiro na frente das empresas estrangeiras como Shell e Esso – comenta Adriano Pires.


Se a empresa venezuelana tiver interesse em ocupar espaço no mercado brasileiro, com seu petróleo de baixo custo e sua ótica de que mais importante que o lucro é o objetivo estratégico-bolivariano, pode dar dor de cabeça à Petrobras, sempre ciosa do seu controle monopolístico sobre o mercado brasileiro.


O problema com a PDVSA é sua total falta de transparência. O anuário da Opep diz que ela é a 9 maior produtora de petróleo do mundo e que produz três milhões de barris/dia. Mas há rumores de que, desde a greve de 2003, nunca mais tenha voltado a produzir a plena capacidade. Além disso, não tem investido em exploração e produção porque uma parte indefinida do lucro financia as políticas populistas de Chávez. O presidente venezuelano acabou com qualquer possibilidade de reação dos funcionários da empresa à sua política de botar a mão no caixa da companhia. Demitiu 15 mil funcionários da PDVSA após a greve de 2003 e nomeou como presidente da estatal o seu ministro de Minas e Energia. Hoje ele é o senhor absoluto da PDVSA: uma empresa com números tão opacos quanto o sentido que Chávez dá à palavra ‘bolivariano’.


Na Venezuela, vende gasolina fortemente subsidiada. Com algo como R$ 10 é possível encher um tanque. Tudo porque, na opinião de Chávez, esta é a forma de fazer com que o ‘povo’ se beneficie do petróleo do país, que tem a sexta maior reserva do mundo do produto e a maior reserva latino-americana de gás.


O ‘povo’ vê pouco o fruto desta riqueza. Apesar de os preços do petróleo terem disparado nos últimos anos, quadruplicando a receita da companhia e, portanto, aumentando muito o dinheiro do qual o governo se apropria, a pobreza na Venezuela permanece enorme. Só agora, sete anos depois de iniciado o governo Chávez, o país começa a ter os primeiros sinais de redução da pobreza. Ela tinha aumentado em anos anteriores, mesmo em estatísticas que o governo costuma manipular. Nos primeiros cinco anos, aumentou em onze pontos percentuais o número de venezuelanos vivendo abaixo da linha da pobreza. Dados de 2003 mostravam um quarto da população em extrema pobreza, não conseguindo sequer o alimento básico. O temor de perder o poder no referendo fez com que Hugo Chávez iniciasse uma série de programas emergenciais que têm surtido efeito, pelo menos temporário, de redução da pobreza.


Segundo dados publicados num artigo do professor Javier Corrales, divulgado pela ‘Inter-American Dialogue’, a Venezuela manda aproximadamente 90 mil barris/dia de petróleo para Cuba. O preço é tão favorável que o cálculo é que 20 mil a 26 mil barris/dia Cuba recebe de graça. Há notícia de que o governo de Fidel Castro reexporta 40 mil a 50 mil barris/dia do que ela recebe, porque ela consome internamente 120 mil barris/dia e produz 80 mil internamente. Se estiver revendendo 40 mil barris, está tendo um lucro de US$ 2,3 milhões por dia. Em troca, Cuba está mandando técnicos, médicos, pessoal treinado para os programas sociais de Chávez e consultores militares e de inteligência para as beligerâncias do presidente venezuelano.


No Brasil, além de financiar escolas de samba, o que a PDVSA tem é um projeto de uma refinaria em Suape que processará 200 mil barris diários, junto com a Petrobras. Se fosse olhar o interesse puramente comercial da empresa brasileira, o sócio deveria ser outro, porque o petróleo disponível na Venezuela é quase tão pesado quanto o nosso.


Nos próximos dias, veremos a suposta reencarnação de Simon Bolívar comemorando na Sapucaí sua vitória na primeira intervenção no carnaval brasileiro. Bons tempos aqueles em que a Venezuela cuidava de assuntos venezuelanos e a Vila Isabel, de Martinho da Vila, ganhava o título com a raça de Kizomba.’


CHINA
Gilberto Scofield Jr.


Jornal chinês censurado volta a circular


‘PEQUIM. O suplemento semanal ‘Bing Dian’ voltou a circular esta semana, 35 dias após ter sido fechado pelo governo da China por causa de seus artigos polêmicos (freqüentemente críticos do próprio governo). O fechamento do ‘Bing Dian’, um encarte do jornal ‘China Youth Daily’, e o afastamento de seu editor-chefe, Li Datong, motivaram a publicação de uma carta aberta assinada por membros do próprio Partido Comunista da China (PCC) condenando os exageros da censura no país.


Na volta, artigos mais favoráveis ao governo


Mas o jornal não trouxe em suas páginas as matérias críticas que sempre o caracterizaram, como o artigo do historiador Yuan Weishi que irritou as autoridades chinesas ao afirmar que os livros de História do país ‘vitimizavam os chineses em seus conflitos com os estrangeiros, sem tocar nos equívocos cometidos pelos próprios governos chineses’. O artigo provocou o fechamento do jornal.


Em entrevista concedida esta semana à agência de notícias Reuters, Lu Yuegang – o segundo editor na hierarquia do jornal – comemorou o fato de o ‘Bing Dian’ ter voltado a circular depois de tantos dias suspenso. Ao voltar a circular, no entanto, a capa do novo ‘Bing Dian’ trouxe um artigo derrubando a tese de Yuan Weishi e intitulado ‘Anti-imperialismo e anti-feudalismo são os principais pontos da História Moderna da China’.


Segundo a Organização Não-Governamental (ONG) Comitê de Proteção aos Jornalistas, a China é atualmente o país do mundo que mantém a maior quantidade de jornalistas em suas prisões: 32. Mas a presidente da Associação de Correspondentes Estrangeiros da China, Melinda Liu, estima que este número deve, na verdade, ser bem maior e calcula que se aproxime de 100, já que a maioria das prisões desses profissionais não chega a ser comunicada pelos órgãos do governo.


INERNET
O Globo


Microsoft se prepara para lançar o seu iPod


‘A Microsoft está se preparando para lançar um aparelho portátil para competir com o tocador de música em MP3 iPod, da rival Apple, segundo uma reportagem da rede britânica ‘BBC News’. Batizado de Origami, o produto teria tela sensível ao toque, acesso sem fio à internet e operaria músicas, vídeos e jogos.


A empresa lançou o site www.origamiproject.com, que não menciona o nome da Microsoft nem dá detalhes sobre o produto. Exibe apenas um vídeo conceitual, que promete algo que ‘mudará sua vida’. Na semana passada, o site prometia uma atualização para ontem. Agora, ele joga a expectativa para a próxima quinta, dia 9. Coincidência ou não, este é o dia de uma das maiores feiras anuais de telecomunicações e informação do mundo, a CeBit, em Hannover, na Alemanha.


A Microsoft confirmou na semana passada que está trabalhando no projeto e que é seu o site, mas insistiu que não há uma data para o lançamento. Ainda não se sabe se o aparelho apenas rodará o sistema operacional da Microsoft ou se será de fabricação da companhia.


As especulações cresceram com o lançamento pela Apple, de novos Mac mini, o computador mais acessível da Apple, e de um sistema de som para iPods. Também é alvo de especulações o novo modelo de iPod da Apple, que teria uma tela maior, horizontal, e também sensível ao toque.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta-feira, 3 de março de 2006


ELEIÇÕES 2006
Mariângela Gallucci


TSE exige linguagem de sinais na TV


‘Os sete ministros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) decidiram deixar para hoje à tarde a definição das medidas mais polêmicas para a campanha deste ano, como a questão da verticalização e a da prestação de contas. Ontem à noite, eles aprovaram sete regras. A maior inovação é que todos os candidatos terão de incluir nas peças publicitárias na TV a linguagem de sinais e legendas para que os deficientes auditivos possam acompanhar o conteúdo.


Na reunião, alguns ministros ponderaram que a inovação deve encarecer as campanhas, o que traria dificuldades para os candidatos dos partidos que dispõem de menos recursos. Apesar da ressalva, a regra foi aprovada por unanimidade.


O TSE também amenizou as regras sobre registro de pesquisas de intenção de voto. Até as eleições passadas, todas tinham de ser registradas na Justiça Eleitoral. Os ministros decidiram que a partir de agora só é obrigatório o registro de pesquisas destinadas à divulgação. Outra instrução aprovada permite a juízes eleitorais adotarem prazos mais longos para serem apresentadas reclamações contra candidatos acusados de usar a máquina do governo.


No caso da verticalização, os ministros terão de resolver se vale ou não para este ano. Em 8 de fevereiro o Congresso aprovou emenda constitucional que acaba com a obrigatoriedade de os partidos formarem alianças iguais nos Estados e na disputa para a Presidência. Mas cabe ao TSE aceitar ou não que a liberação das coligações entre em vigor este ano.


Mas as propostas mais polêmicas são mesmo as que visam a tornar mais rígida a prestação de contas dos candidatos e coibir o uso de caixa 2. Uma das idéias é tornar obrigatória a prestação de contas a cada 15 dias ou a cada mês. Nas eleições passadas, os candidatos tinham de prestar contas só depois de terminada a eleição.


Os ministros vão avaliar a possibilidade de que as informações sobre prestação de contas, arrecadação de contribuições e gastos de campanha sejam divulgadas pelos partidos na internet, para permitir seu acompanhamento pelos eleitores. E terão de definir se os nomes dos doadores serão divulgados durante a campanha. Um argumento contrário é de que os doadores passariam a ser procurados por todos os outros candidatos em busca de recursos.’


LULA NO THE ECONOMIST
João Caminoto


‘Economist’ qualifica Lula de sortudo e carismático


‘A quatro dias da chegada do presidente Luiz Inácio Lula da Silva à Grã-Bretanha – ele será recebido na terça-feira pelo primeiro-ministro Tony Blair – a revista The Economist afirmou ontem, em editorial, que o presidente brasileiro é, além de carismático, um sortudo. Ele ‘prometeu governo limpo, presidiu sobre um escândalo de corrupção e ainda parece capaz de obter uma segunda chance’, afirmou a revista.


Lula, no entender da Economist, ‘tem potencial para se tornar um dos mais notáveis políticos democratas da América Latina. Mas grande parte de seu trabalho está para ser realizado’. A revista dedicou à visita um editorial, dois artigos e uma longa entrevista (a íntegra está no seu site: www.economist.com/Lula).


Lula declarou à revista que os dois principais avanços de seu governo foram a estabilidade econômica e o progresso na área social. Trouxe de volta as reformas, ao falar sobre as tarefas essenciais do próximo governo: ‘Teremos de terminar, primeiro, a reforma tributária. Depois, votar a reforma sindical e a trabalhista. E temos de fazer a reforma política. O sistema político brasileiro precisa ser cuidadosamente revisto’ .


A busca de um pacto social para reduzir os gastos do governo e melhorar a qualidade de seus serviços, disse ele em seguida, terá de esperar passar a eleição. ‘Num ano eleitoral é difícil conquistar um acordo social, mas estou consciente de que, num período mais calmo, todos vão concordar que precisamos nos comprometer a não gastar mais dinheiro do que podemos’.


SEM PRESSA


Lula não se abalou, na conversa, com o baixo crescimento do Produto Interno Bruto (PIB), de 2,3% em 2005. ‘Não estamos com pressa de fazer a economia decolar imediatamente. Primeiro, cuidamos de consolidar a base macroeconômica. (…) Não quero um crescimento de 10% ou 15% ao ano. Quero um ciclo de crescimento sustentável de 4% ou 5%.’


Provocado a comentar os desafios do presidente venezuelano Hugo Chávez aos Estados Unidos, ele respondeu que ‘não é papel do Brasil criticar governos democraticamente eleitos’ e garantiu: ‘Tenho um bom relacionamento com Chávez e nossos países mantêm intenso comercio’.


Fez comentários, também, sobre o papel do Estado, dizendo que ‘freqüentemente, ele é forte se a economia está desarrumada. (…) Acreditamos que o Estado deve, gradualmente, afastar-se da economia. Mas como educar sem fazer investimento público para trazer de volta os professores?’’


U2 NO BRASIL
João Mellão Neto


Bono Vox está certo


‘O irlandês Bono Vox, para quem não conhece, é o líder da melhor banda de rock do momento, o U2, que esteve nestes dias no Brasil. Bono é diferente dos demais roqueiros. Ele tem idéias e convicções políticas e se devota a elas com igual afinco ao que dedica à música. Dá para levá-lo a sério?


Dá. Por maior que seja o preconceito que as elites esclarecidas têm em relação ao discernimento dos superastros em geral, o fato é que Bono é um caso especial. Ele é recebido com respeito e reverência pelos chefes de Estado de todos os países que visita. Ele tem o que dizer, e não se trata de trivialidades ou lugares-comuns. Ele faz sucesso em Davos, por exemplo. E não é cantando que ele conquista a austera platéia do Fórum Econômico Mundial. Bono é um ativista político. E, como tal, um dos mais respeitados da atualidade. Ele se vale de sua imensa popularidade para divulgar os seus ideais. E estes não são frívolos nem sequer utópicos.


É uma pena que a mídia brasileira, com poucas exceções, quase nenhuma atenção dedicou às idéias políticas de Bono Vox. Preferiu dar destaque à sua música e às eventuais excentricidades e extravagâncias tão comuns em estrelas do rock. Se algum órgão de imprensa houvesse se disposto a entrevistá-lo (a sério) sobre temas políticos, seus leitores teriam ficado surpresos com a propriedade e o conhecimento de causa que Bono possui. O vocalista do U2 é um discípulo aplicado e dileto do economista Jeffrey Sachs. E Sachs, por sua vez, é considerado pela revista Time como uma das cem pessoas mais influentes do mundo.


Jeffrey Sachs lançou, no ano passado, um livro brilhante e esclarecedor prefaciado por Bono Vox. Seu título é O Fim da Pobreza, já traduzido e publicado no Brasil. Para quem ainda acha que lugar de roqueiro é no palco, que deixe de lado as pregações de Bono e trate de ler os muito bem fundamentados argumentos de Sachs. Os mesmos, aliás, que o cantor defende.


A tese principal de sua obra é a de que é possível acabar com a miséria no mundo até o ano de 2025. Daqui a pouco menos do que duas décadas.


Não, não se trata de mais uma dessas utópicas palavras de ordem, lançadas por esquerdistas inconseqüentes em ambientes delirantes como o Fórum Social Mundial. Sachs possui uma respeitável biografia a zelar. Muitos dos economistas e gestores do FMI e do Banco Mundial foram seus alunos em Harvard. Coube a ele idealizar e conduzir a bem-sucedida transição da Polônia do socialismo para a economia de mercado. Foi, também, um dos principais consultores de que se valeram países díspares como a Índia e a Rússia em seu processo de abertura econômica. Ligado, atualmente, à Universidade de Colúmbia, ele é, na comunidade acadêmica dos EUA, unanimemente exaltado como um dos economistas mais brilhantes de sua geração.


Feitas as devidas apresentações, adentremos no mérito de sua tese.


A História nos ensina que a humanidade só se coloca problemas quando já está apta a resolvê-los. Falar em fim da miséria, duas gerações atrás, não fazia sentido, uma vez que metade da população mundial era miserável. Pregar o fim da miséria, uma geração atrás, era utópico, já que um terço da humanidade era miserável. Propor o fim da miséria na geração atual é algo viável, já que os miseráveis se reduziram apenas a um quinto dos habitantes do planeta. O mundo de hoje – pela primeira vez em toda a História – possui recursos econômicos, capacidade administrativa e tecnologia adequada em volume suficiente para acabar de vez com os bolsões de miséria ainda existentes. O que falta, portanto, é vontade política para fazê-lo. Não se trata de caridade ou assistencialismo. Não se pretende, aqui, dar dinheiro aos pobres para torná-los ricos. O que se propõe, apenas, é que se dê uma ajuda eficiente que lhes permita se ajudarem.


Dos cerca de 6 bilhões de humanos, 1 bilhão já chegou ao topo da escada econômica e quase 4 bilhões já lograram galgar ao menos os seus degraus mais baixos. Resta cerca de 1,4 bilhão. Estes não têm condições, por si próprios, de alcançar nem sequer o primeiro degrau.


O fenômeno recente da globalização econômica – ao contrário do que afirmam os zangados ativistas do Fórum Social – logrou fazer verdadeiros milagres. A possibilidade de inserção no comércio mundial tirou da miséria muitas centenas de milhões de pessoas, em especial na Ásia. Até mesmo nações que eram o símbolo da miséria duas décadas atrás, como Bangladesh e Vietnã, hoje possuem perspectivas reais de prosperar.


O problema está, na verdade, nos países que, por razões diversas, jamais serão alcançados pela globalização. São povos desnutridos, devastados por doenças como a aids e a malária, cujos Estados não possuem os mínimos recursos para resolver as suas deficiências.


Em diversos fóruns internacionais, as nações desenvolvidas já se comprometeram a direcionar 0,7% de seus PIBs, durante dez anos, para as Metas de Desenvolvimento do Milênio, um programa bem articulado e concreto elaborado pela ONU. O que Sachs e Bono pleiteiam é tão-somente que estas nações cumpram o que prometeram. Vale a pena ler o livro de Sachs. Seus argumentos são brilhantes e muito bem fundamentados. Vale a pena, também, ouvir as palavras de Bono Vox . Não são pregações inconseqüentes ou triviais, nem ele se presta à demagogia fácil tão comum nas causas quixotescas que os artistas costumam defender.


As Metas do Milênio não serão alcançadas se não houver lideranças como Bono – e ele, incontestavelmente, é um líder entre os jovens – para mobilizar a opinião pública no sentido de sensibilizar e pressionar os governantes das nações ricas para que cumpram a sua parte. Este é um papel histórico do qual nossa geração não pode se dar ao luxo de se eximir.


Apreciemos as belas músicas cantadas por Bono. Mas – principalmente – ouçamos, também, o que ele tem a dizer.


João Mellão Neto, jornalista, foi deputado federal, secretário e ministro de Estado.


Site: www.mellao.com.br’


BIG BROTHER
George Monbiot


Novo Big Brother tem forma de chip


‘Ela ganhou apenas alguns centímetros de texto num par de jornais, mas a história que li no mês passado me parece um vislumbre do futuro. Uma companhia do Estado de Ohio chamada City-Watcher (Sentinela da Cidade) implantou radiotransmissores nos braços de dois empregados. Os implantes garantem que só eles possam entrar na caixa-forte. Aparentemente, é ‘o primeiro caso conhecido de trabalhadores dos EUA etiquetados eletronicamente para fins de identificação’.


Os transmissores são minúsculos (mais ou menos do tamanho de um grão de arroz), baratos (US$ 150, preço que cai rapidamente), seguros e estáveis. Sem precisar de manutenção ou substituição, eles podem identificar uma pessoa por muitos anos. São injetados, com anestesia local, no braço. Não precisam de fonte de energia, pois só se tornam ativos quando escaneados. Não há obstáculos técnicos a seu uso mais amplo.


A companhia que fabrica essas ‘etiquetas de identificação por radiofreqüência’, a VeriChip Corporation, diz que elas ‘combinam o controle de acesso com a localização e a proteção dos indivíduos’. Os chips também podem ser implantados em pacientes de hospitais, especialmente crianças e doentes mentais. Quando os médicos querem saber quem são eles e qual é seu histórico médico, só precisam escaneá-los. Isto, ao que parece, é ‘uma opção para capacitar indivíduos’. Por um momento, uma escola da Califórnia brincou com a idéia de implantar os chips em todos os alunos.


Uma etiqueta desse tipo tem um alcance máximo de poucos metros. Mas outro dispositivo implantado emite um sinal que permite que alguém seja encontrado ou rastreado via satélite. A nota de patente diz que ele pode ser usado para localizar vítimas de seqüestros ou pessoas perdidas na selva. Em outras palavras, há utilidades legítimas de sobra para o chips implantados. É por isso que eles me preocupam.


Uma tecnologia cujo uso disseminado seria recebido hoje com horror vai gradualmente se tornar comum. À medida que isso acontecer, o objetivo começará a aparecer.


No início, as etiquetas serão mais usadas em trabalhadores com permissões especiais de segurança. Ninguém será forçado a usar uma; ninguém contestará. Então os hospitais – e alguns nos EUA já fazem isso – começarão a escanear seus pacientes inconscientes ou incoerentes para conferir se eles têm uma etiqueta. Seguradoras poderão começar a exigir que pessoas vulneráveis usem chips.


As Forças Armadas descobrirão que os chips são mais úteis que as etiquetas em cães para identificar soldados feridos ou localizar soldados perdidos ou capturados pelo inimigo. As prisões logo chegarão à mesma conclusão. Então as fábricas exploradoras dos países desenvolvidos vão acordar.


Os supervisores já procuram controlar os empregados o tempo todo, determinando quando eles batem o ponto, quando vão ao banheiro, até mesmo o número de movimentos que fazem com as mãos. Um chip torna tudo isso mais fácil. Os trabalhadores não serão forçados a usá-los – não mais do que são obrigados a fazer sexo com seus chefes; contudo, se não aceitarem as condições, não ganharão o emprego. Depois disso, certamente não vai demorar muito para que os estrangeiros que pedem asilo sejam obrigados a fazer uma escolha similar: você não precisa aceitar um implante, mas, se recusar, não poderá ficar no país.


Acho que provavelmente vai parar por aqui. Não acredito que você, eu ou a maioria das pessoas em boa situação e mentalmente competentes sejamos forçados a usar uma etiqueta. Mas esta se tornará uma maneira cada vez mais aceita de rastrear e identificar pessoas que possam ser um perigo para si mesmas, corram risco de adoecer ou desaparecer repentinamente ou sejam, de algum outro modo, difíceis de ser controladas por companhias ou governos. Serão, em geral, pessoas cuja voz política será silenciada.


Como acontece em todas as invasões de nossa privacidade, não será fácil apontar o que exatamente há de errado com essa tecnologia. Ela não representará realmente uma nova forma de controle, pois todas as pessoas que aceitarem os implantes já estarão sujeitas a algum tipo de monitoração ou rastreamento. Sempre será voluntário, ao menos na medida em que qualquer coisa que o Estado ou nossos empregadores querem que façamos é voluntário. Mas existe algo profundamente revoltante nisso. É mais um meio de derrubar as barreiras entre nós e o Estado, nós e a corporação, nós e a máquina.


Nessa pequena cápsula, encontramos o paradoxo do capitalismo do século 21: um sistema político que celebra a escolha, a autonomia e o individualismo acima de todas as virtudes exige que a escolha, a autonomia e o individualismo sejam perpetuamente suprimidos.


Chips implantados não levarão ao escaneamento em massa da população, mas outro uso da mesma tecnologia poderá fazer isso. No fim de janeiro, uma carta vazada de Andy Burnham, um vice-ministro do Interior britânico, revelou que os cartões de identidade que involuntariamente aceitaremos terão chips de identificação por radiofreqüência. Isso permitirá que as autoridades leiam os cartões com um scanner. Sugiro que, à medida que a tecnologia avançar, a polícia será capaz de escanear uma multidão e (supondo que todos carreguem seu cartão de identidade voluntário-compulsório), farão uma lista de quem estiver presente. Sugiro ainda que isso já parecerá razoável daqui a um ou dois anos.


Já nos acostumamos à polícia filmando manifestações. Quando começou a fazer isso, há cerca de dez anos, provocou indignação. Ficamos com a impressão de que, ao protestar, nos tornávamos suspeitos. Mas agora nem notamos os policiais – ao ponto de acenar e gritar: ‘Oi, mãe.’ Como todas as outras invasões de nossa privacidade, esta se tornou normal.


Também sugiro que o escaneamento em massa que será permitido por esses chips será acompanhado por outro tipo de tecnologia de vigilância.


No mês passado, ativistas no País de Gales obtiveram uma carta enviada pela Agência de Desenvolvimento Galesa ao conselho do Condado de Ceredigion. Ela revelou que a agência, com a ajuda da União Européia, está montando uma vila industrial na periferia de Aberystwyth. O objetivo é a ‘aceleração de mercado’ de veículos aéreos não-tripulados (UAVs, na sigla em inglês). Com a ajuda de companhias como BAE Systems, Rolls-Royce e Qinetiq, a agência espera encontrar a melhor maneira de encorajar a ‘operação rotineira de sistemas UAV em toda a Grã-Bretanha’. O site do conselho de Ceredigion enumera várias funções dos UAVs, das quais a primeira é a ‘imposição da lei’.


Assim, a polícia nem precisará estar presente. Alguém sentado numa sala de controle poderá pilotar um pequeno avião (alguns têm apenas alguns centímetros de largura) equipado com um receptor sobre as cabeças de uma multidão e, com a ajuda de nossos novos cartões de identidade, determinar quem está lá. Soa um tanto maluco, assim como a idéia dos cartões de identidade biométricos soou um dia na Grã-Bretanha. Todas essas novas tecnologias de algum modo conseguem parecer ao mesmo tempo loucamente implausíveis e inteiramente verossímeis.


Não haverá acontecimentos dramáticos. Não sairemos de casa numa manhã para descobrir que o Estado, ou nosso chefe, ou nossa seguradora sabem tudo sobre nós. No entanto, se a resposta silenciosa ao cartão de identidade é um indicador, vamos nos submeter gradualmente, em nome de nossa proteção. E então não será necessário um novo governo tirânico para nos privar da liberdade. Passo a passo, voluntariamente, já teremos desistido dela.


*George Monbiot é articulista do diário inglês- ‘The Guardian’’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Google quer ser um grupo de US$ 100 bi


‘REUTERS. NOVA YORK – O Google, líder mundial em buscas pela internet, quer se tornar uma empresa de US$ 100 bilhões, e planeja lançar novos sistemas este ano para ajudar a companhia a alcançar essa meta, afirmou ontem seu presidente-executivo, Eric Schmidt. ‘Vou deixar vocês decidirem se são US$ 100 bilhões em valor de mercado ou em receita’, disse Schmidt, quando discutia as prioridades da empresa para este ano.


Como o valor de mercado da empresa já supera os US$ 100 bilhões – pelo preço de fechamento das ações ontem, a capitalização de mercado era de US$ 111,2 bilhões -, Schmidt deve ter se referido à receita. Em 2005, porém, o faturamento ficou muito abaixo de US$ 100 bilhões: foi de US$ 6,14 bilhões, 92,5% a mais que os US$ 3,19 bilhões de 2004.


PUBLICIDADE


As metas deste ano também incluem a melhora da qualidade de seu negócio principal, o de buscas na internet, e da publicidade, aumentando o tamanho de sua audiência na web e expandindo o número de produtos, serviços e parcerias, acrescentou o executivo. ‘Parece, para nós, que o crescimento internacional está muito forte e deve permanecer assim por um longo tempo’, disse.


Schmidt falava a analistas financeiros durante abertura da reunião anual do Dia do Analista Google no escritório da empresa em Mountain View, na Califórnia. Ele enfatizou que a companhia está focada em crescimento de longo prazo e que não tem planos de alterar sua política de não dar metas financeiras de curto prazo.


O executivo negou que o preço de publicidade no sistema tenha enfraquecido nos últimos meses, como alguns analistas especulavam. Cerca de 97% da receita do Google vem de publicidade relacionada a buscas.’


TELEVISÃO
Luiz Carlos Merten e Renata Gallo


GNT estréia papo de Luluzinha


‘Pouca gente ainda fala de John Frankenheimer e é verdade que a fase final da carreira desse diretor convida ao silêncio. Os filmes foram ficando cada vez piores e A Ilha do Dr. Moreau, a despeito de Marlon Brando, é uma mancha em qualquer currículo. Mas Frankenheimer foi muito bom nos anos 1960 e começo dos 70, quando fez filmes como Sob o Domínio do Mal (a versão com Frank Sinatra), O Segundo Rosto, O Homem de Kiev, Os Pára-Quedistas Estão Chegando e O Pecado de Um Xerife (com trilha de Johnny Cash).


Os Pára-Quedistas passa hoje às 23h30 no canal Futura. Chama-se The Gypsy Moths, no original, e conta a história desses três amigos que arriscam a vida num show itinerante de pára-quedismo. Como mariposas atraídas pela luz, eles não conseguem evitar a destruição. E assim vão parar numa pequena cidade do Kansas, onde um deles se envolve com uma mulher casada.


Burt Lancaster e Deborah Kerr interpretam os papéis, mas, em 1969, não eram mais o casal que rolava na areia da praia, desafiando a moral americana em A Um Passo da Eternidade, o clássico de Fred Zinnemann, de 1953. A sensualidade dá lugar à amargura, o filme é a crônica desencantada de uma América provinciana que encarcera e sufoca os personagens. Gene Hackman, Scott Wilson e Bonnie Bedelia completam o elenco e estão todos ótimos.Após eles discorrerem sobre suas vidas amorosas em Nós e Eles, que foi ao ar no início do ano passado, chegou a vez delas. Nós e Elas estréia hoje no GNT, às 22 horas, e tem o mesmo formato que a série anterior: 13 episódios e o comando de uma personalidade, agora masculina. Ele pergunta, elas respondem.


Se na primeira leva tivemos Maitê Proença, Angélica e Giulia Gam, agora temos Vladimir Brichta, Washington Olivetto, Alexandre Borges, Hélio de La Peña, entre outros, falando sobre temas como brigas, diferenças culturais, fantasias e o primeiro filho.


A estréia será com Frejat falando sobre relacionamento a distância – mal que também o acomete. Ciúme, insegurança, sexo e brigas são alguns dos assuntos que Frejat coloca na roda para as mulheres responderem. Mulher aeromoça casada com homem piloto, mulher que trabalha em terra com homem marinheiro que fica meses no mar, mulher brasileira e homem holandês que, a todo custo, quer imprimir uma certa rotina ao casamento. No caso, cozinha falando ao telefone e até aluga o mesmo DVD para assistirem simultaneamente – apesar dos mais de 10 mil quilômetros de distância.


A certa altura, até Frejat se entrega e sai de seu papel de questionador para relatar brigas que já teve com a mulher ao telefone tendo toda a banda como cúmplice. Ou que, por causa da distância, tem uma paciência que poucos maridos têm. É capaz até de ir ao shopping com a mulher.


Os depoimentos são intercalados com cenas de filmes. Sintonia de Amor, Encontros e Desencontros e Albergue Espanhol foram alguns dos selecionados para o primeiro debate que ganhou o nome de Tão longe, tão perto.


Sempre às sextas, com narração de Du Moscovis.’



Keila Jimenez


Nascimento no SBT


‘Copa do Mundo, debates políticos… Não são poucos os planos de Carlos Nascimento em sua nova casa, o SBT. O âncora estréia no comando do Jornal do SBT – Edição Noite na segunda-feira e já tem uma lista de ‘demandas’ encaminhadas ao patrão, Silvio Santos.


‘Tem gente que chega a um lugar mudando tudo, outros preferem ir mexendo aos poucos na estrutura já existente. Eu sou destes’, adianta Nascimento, que deixou a Band há duas semanas, aceitando a proposta de Silvio Santos. ‘Quero a contratação de repórteres em São Paulo, Rio e Brasília e também a utilização dos correspondentes internacionais que já existem na casa ou a contratação de outros.’


Uma repórter que fale sobre comportamento e moda também faz parte dos pedidos de Nascimento. ‘Este é um ano muito bom para o jornalismo, com Copa, eleições, e é claro que daremos destaque a esses assuntos por aqui’, fala o jornalista. ‘Gostaria de ir para a Copa, sim, já cobri três, vamos ver se o SBT vai me enviar. Quanto a debates políticos, posso vir a comandar algum no SBT, mas isso é mais uma coisa política, de interesse dos partidos, do que do jornalismo. Mas querer, eu quero.’’


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