Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1280

IstoÉ

‘A reportagem de capa da ISTOÉ 1819 provocou grande repercussão. A publicação da carta do jornalista Luís Costa Pinto, ex-editor da revista Veja, e o relato do ex-deputado Ibsen Pinheiro sobre o erro que ajudou a enterrar a sua carreira política causaram perplexidade. A Veja, onde há 11 anos foi publicado o erro, reagiu, num primeiro momento, com a mesma sensatez demonstrada por Ibsen, que disse a ISTOÉ: ‘O denuncismo tem cura, mas na imprensa censurada o denuncismo é eterno.’ Em clara crítica ao projeto do Conselho Federal de Jornalismo enviado pelo governo ao Congresso, a frase de Ibsen foi publicada na capa de ISTOÉ. Veja, depois de ter acesso à reportagem de ISTOÉ, publicou em sua matéria de capa o seguinte texto: ‘A imprensa erra, mas os erros acabam aparecendo quando não são corrigidos logo em seguida pela apuração correta dos fatos. Veja lamenta os enganos que cometeu nos casos de Alceni (Guerra), Eduardo Jorge e Ibsen Pinheiro.’ Um pedido de desculpas tardio, mas, de qualquer maneira, um ato de sensatez. Mas o exemplo de equilíbrio e bom senso do fim de semana cedeu lugar a uma histérica demonstração de descontrole. Em sua versão online, que entrou no ar na terça-feira 17, Veja resolveu atacar ISTOÉ. Num texto em que não esconde sua falta de argumentos, o semanário da Abril não explica o inexplicável: por que Veja publicou uma informação errada, que havia sido detectada pelos seus próprios mecanismos de checagem ainda no prazo de fechamento e com tempo hábil para correção? Errar, toda a imprensa mundial já errou. O assunto que mereceu capa de ISTOÉ é muito mais grave. Trata-se da discussão da manipulação de informações acerca das contas bancárias de um cidadão, mesmo sabendo que os dados apontados pela revista estavam errados.

Já na abertura da página da Veja On Line há uma tentativa de manipulação. É reproduzida uma chamada interna de ISTOÉ para dar a impressão de que a revista cometeu na época uma capa igual à de Veja. Não é verdade. A capa de ISTOÉ naquela edição era sobre outro assunto. No mesmo texto de Veja On Line, foi feita uma montagem com o título de uma reportagem interna de ISTOÉ misturado à legenda de uma foto: ‘ISTOÉ de 1993. Até Tu Ibsen – Ibsen movimentou em suas contas pelo menos US$ 1 milhão desde 1990.’ A segunda frase era legenda de foto no texto de ISTOÉ, e não parte do título, como Veja quer fazer acreditar. A reportagem de ISTOÉ não falava em depósitos de US$ 881 mil na conta de Ibsen, informação comprovadamente falsa e repetida várias vezes por Veja. Pelo contrário, o texto de ISTOÉ foi cuidadoso com o ex-deputado: ‘A CPI parece ter se enganado ao denunciar os depósitos e levantar a suspeita de que se tratava de repasses financeiros do pessoal da máfia do Orçamento.’

‘Na semana passada, ISTOÉ acusou Veja de ter feito exatamente a mesma coisa que ela fez’, diz o site. Também não é verdade. Veja foi acusada pelo jornalista Luís Costa Pinto de ter publicado informações comprovadamente falsas. Não há nenhuma acusação contra ISTOÉ, cuja reportagem de capa da semana passada falava exatamente do estrago produzido. Em sua última edição, ISTOÉ apenas revelou o fato. A informação falsa vazada pela CPI é que levou toda a imprensa ao erro, inclusive a legenda da foto de ISTOÉ. A diferença é que, como relatou Costa Pinto, Veja teve acesso aos extratos, refez as contas e mesmo assim publicou a capa contra Ibsen.

Também não é verdade que Veja tenha se corrigido na edição seguinte, como diz o site. Em uma semana, dá a foto de Ibsen na capa – com o título interno de ‘Uma estrela na lama’ – e numa reportagem de seis páginas confirma em vários trechos que o então parlamentar havia recebido US$ 881 mil (informação que sabia ser errada). Na semana seguinte, em uma página com o título ‘Um milhão de dificuldades’, Veja repassa a culpa pelo erro – que conhecia de antemão, conforme relatou Costa Pinto – para a CPI, como se não tivesse sido alertada para o superfaturamento em 1000% dos depósitos atribuídos a Ibsen Pinheiro.

Veja também é tomada pela histeria quando desclassifica o jornalista Luís Costa Pinto. Quem trabalhou durante sete anos em sua redação, conquistou vários prêmios – inclusive com a famosa entrevista de Pedro Collor que deu origem ao processo de renúncia do presidente Collor -, não poderia ser tratado por ‘lobista de empresas multinacionais, marqueteiro, consultor do PT e ex-jornalista’. Nem um stalinista Conselho Federal de Jornalismo da velha União Soviética faria o que fez Veja: julgar, condenar e cassar um profissional em tempo recorde.

O descontrole também comprometeu a leitura. A calma permitiria ver que tanto a capa de ISTOÉ com Ibsen Pinheiro como o editorial daquela edição são libelos contra o nefando Conselho Federal de Jornalismo. Com um pouco mais de equilíbrio se perceberia que, já na capa, ISTOÉ fez questão de reproduzir a declaração de Ibsen e, ainda, que no editorial, na página 19, diz em bom português: ‘O ápice da insensatez foi atingido com o envio ao Congresso de um projeto de Conselho Federal de Jornalismo. (…) O momento em que isso acontece mostra a intenção de tolher uma das funções básicas do jornalismo, que é olhar o poder com lupa e relatar o que de errado encontrar. (…) O que rege o jornalismo é a Constituição do Brasil.’

É uma pena que Veja perca o controle e abuse de impropérios ao tentar cavar delirantes teorias conspiratórias para tentar justificar, 11 anos depois, uma página inexplicável de sua história. A revista escreveu em seu site: ‘Parece ser mais que uma simples coincidência o fato de a ISTOÉ ter dado uma capa em que procura desacreditar o bom jornalismo de Veja na mesma semana em que Veja atacou a tentativa do governo de amordaçar a imprensa. (…) A capa de ISTOÉ foi ostensivamente comemorada pelo advogado Antônio Carlos de Almeida Castro, amigo íntimo do ministro José Dirceu e advogado do PT, conhecido nas franjas do poder (e também nas sombras) pelo apelido de Cacai.’ Realmente um delírio. A verdade e a cortesia mereciam mais respeito.’



Hélio Campos Mello

‘Síndrome da descortesia’, copyright IstoÉ, 24/08/08

‘O entrevistado para as páginas vermelhas desta edição, professor Muniz Sodré, defende a tese de que a divergência ajuda, e não atrapalha. Sodré refere-se à polêmica envolvendo governo e imprensa a respeito do projeto de conselho disciplinador enviado ao Congresso. A entrevista concedida a Francisco Alves

Filho, da sucursal do Rio, é uma aula de bom senso. Muniz Sodré, que é doutor em comunicação social, professor da Escola de Comunicação da Universidade

Federal do Rio de Janeiro, membro do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social e eleitor de Lula, disse também, com estranheza, que o governo fica indignado pelo fato de haver a denúncia, e não pelo fato denunciado. O professor se refere ao caso do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles. Depois que vieram a público as denúncias de ISTOÉ e, em um segundo momento, as da revista Veja, ele recebeu como prêmio uma novíssima blindagem, à prova de imprensa e outras chateações, como nos mostra a reportagem de Luiz Cláudio Cunha e Weiller Diniz, da sucursal de Brasília.

O professor Muniz Sodré também leu com atenção a última edição de ISTOÉ e, portanto, elogia o ex-deputado Ibsen Pinheiro pelo fato de rejeitar a censura, apesar de ter sido vítima de erro jornalístico. Já a revista Veja não dispensou a devida atenção à última edição de ISTOÉ, o que propiciou a produção de um texto, em sua edição online, repleto de erros e demonstrações de descortesia.

Além disso, nesta edição, publicamos reveladora entrevista com Aguinaldo Silva, autor do sucesso da Globo Senhora do destino. Também falamos sobre a nossa modesta performance na Olimpíada, assim como o inacreditável e emocionante sucesso da Seleção Brasileira no Haiti. Já para a capa desta edição o assunto escolhido foi o transtorno do pânico, uma doença que atinge quase quatro milhões de brasileiros. Boa leitura. Sem pânico. Com tranquilidade.’



Paulo Moreira Leite

‘Ibsen Pinheiro’, in Carta aos Leitores, copyright IstoÉ, 24/08/08

‘Personagem da última reportagem de capa da revista, gostaria de fornecer algumas informações importantes aos leitores de ISTOÉ: 1. A responsabilidade sobre capas da Veja nunca foi dos editores executivos, cargo que eu ocupava na época em que o deputado Ibsen Pinheiro foi cassado, mas do diretor de redação, Mário Sérgio Conti. Só ele tinha o poder de definir uma capa – ou mandar trocá-la, se fosse o caso. Na ausência dele, respondia o adjunto, Tales Alvarenga. Ou seja: quem acredita que um dia a revista publicou uma capa oferecendo notícias sabidamente falsas deve procurar a direção de redação da época. Ela é que pode responder por isso, dar explicações e justificar possíveis erros e omissões. 2. Ao contrário do que diz Lula em seu artigo absurdo, a capa da Veja foi modificada quando descobrimos que ele havia mandado cheques de valor errado para São Paulo. A equipe de checagem lembra-se que a chamada de capa foi mudada. Foram feitas, também, diversas correções no texto interno. Esses fatos questionam a grande fantasia de Lula Costa Pinto, para quem eu teria telefonado, exigindo uma declaração fraudada, apenas para sustentar uma informação errada. Por que eu faria isso, se a capa já havia sido modificada e era coerente com as informações que tínhamos no momento? 3. Eu não faria isso porque sou um jornalista que acredita nos valores da profissão. Tenho um currículo de quem defende a verdade, embora esteja sujeito a erros e imperfeições. Quem mente é Luís Costa Pinto. Mentiu há 11 anos, quando tentava publicar cheques superavaliados na esperança de subir no estrelato do jornalismo. Mente agora, quando divulga supostos diálogos que manteve comigo. Mente de novo, ao dizer que nós concluímos que o patrimônio bancário de Ibsen não passava de 1.000 dólares. Essa afirmação é ridícula. Se Ibsen movimentasse apenas US$ 1.000 em sua conta bancária não poderia pagar a conta da geladeira de seu apartamento funcional. A soma de US$ 1.000 refere-se apenas aos três cheques que Lula tentou publicar na revista, sem se dar ao trabalho de fazer a conversão correta da moeda nacional para dólar. Se tivesse o cuidado de ler a imprensa da época, em vez de elaborar fantasias desconexas, Lula saberia que Ibsen foi cassado porque não conseguiu explicar a seus colegas de plenário uma certa soma em suas contas, algo entre 100.000 e 300.000 dólares. 4. Lula jamais disse que tinha informações erradas, nunca admitiu que fizera uma trapaça nem disse que suas fontes não eram confiáveis. Sempre insistiu que tinha informações corretas e bem apuradas. Jamais fez nenhum tipo de autocrítica nem acendeu um alerta vermelho para dizer que estávamos tão errados que seria prudente não dar a matéria. Dizer, como ele faz hoje, que tinha medo de perder o emprego, é acrescentar uma nova mentira a uma extensa lista de lorotas. Em 1993, Lula era um dos repórteres de maior prestígio do País. Tinha acesso à direção da revista e à cúpula de diversos jornais, que o cortejavam. Poderia dizer o que quisesse, inclusive mentiras, vê-se hoje, que não faltaria quem o escutasse. ‘A verdade aparece’ (ISTOÉ 1819).’