Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Janaina Vilella e Heloisa Magalhães

‘A Net Serviços prepara-se para ingressar no mercado de TV digital, com o lançamento, até o fim deste ano, do ‘Net Digital’, serviço de TV em banda larga que usará o padrão tecnológico DVB, conhecido como padrão europeu, adiantou ao Valor o presidente da Net Serviços, Francisco Valim. O novo produto, que será mais caro do que os oferecidos atualmente pela empresa, contará com cem canais, sendo 30 deles do tipo pay-per-view. O atual pacote mais amplo da distribuidora tem 70 canais. De acordo com Valim, a Net teria capacidade para transmitir até 700 canais, mas ‘não haveria oferta de conteúdo para tanto’.

A Net também está se preparando para em 2005 oferecer serviços de voz na rede de TV paga, informou Valim. Ele não quis confirmar, mas as informações que correm no setor são de que a operadora já está testando a tecnologia com a Telmex, com a área corporativa da empresa, a ex-AT&T LA, e a própria Embratel. A Telmex tem acordo com a Globopar para tornar-se acionista da Net.

Para Valim, o consumidor terá um papel determinante nos novos negócios que estão surgindo a partir da convergência tecnológica entre a TV, o computador e as telecomunicações. ‘O cliente decidirá a melhor tecnologia. Vai usar os aparelhos e o conteúdo de forma que lhe for conveniente. Os consumidores querem um único fornecedor com um bom preço e de qualidade diferenciada’, disse.

O executivo explicou que no novo pacote da Net, além de serviços adicionais não disponíveis na atual transmissão analógica, como guia eletrônico amigável com informações detalhadas, canais de programação exclusiva que podem ser adquiridos por meio de controle remoto. Serão oferecidos recursos como mosaico de canais com janela de programação e portal de serviço.

Valim criticou a ação do governo de estimular a criação de um padrão de TV digital próprio para o Brasil. ‘O Brasil não tem escala para ter um padrão próprio. Tem só entre 35 e 40 milhões de domicílios, e uma boa parte desses têm baixa renda’, disse o executivo, ressaltando que o Brasil é o único país do mundo que usa o sistema de televisão PAL-M. De acordo com ele, isso foi um erro ‘que causa até hoje um aumento de custos e faz as TVs produzirem pelo sistema NTSC, convertendo para PAL-M para que os programas sejam recebidos nos aparelhos de televisão’.’



BAIXARIA NA TV
Agência Câmara

‘Ministério Público entra com ação contra baixaria na TV’, copyright Agência Câmara de Notícias, 9/09/04

‘A campanha ‘Quem Financia a Baixaria é contra a Cidadania’, criada pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, foi a base para a uma ação civil pública apresentada na semana passada pelo Promotor da Justiça do Consumidor de São Paulo, João Lopes Guimarães Júnior. A ação é contra programas como ‘Brasil Urgente’, da TV Bandeirantes, e ‘Cidade Alerta’, da TV Record. O Ministério Público quer que programas como esses, que apresentam cenas de violência, sejam exibidos apenas depois das 22 horas.

A ação do Ministério Público também quer obrigar as emissoras a divulgar advertência aos telespectadores sobre o conteúdo violento desses programas. A ação foi fundamentada com dados da campanha, criada há quase dois anos pela Comissão de Direitos Humanos da Câmara, e que, desde então, vem recebendo via Internet, ou pelo telefone 0800-619619, críticas e denúncias contra alguns programas televisivos.

Continuidade

O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP), integrante da Comissão, elogiou a ação do Ministério Público e disse que ela é uma continuidade dos trabalhos que a Campanha vem realizando. ‘O Ministério Público só veio reforçar os nossos argumentos. Estamos preocupados com a cidadania, com os direitos da criança e dos nossos jovens. Lamentavelmente, as emissoras estão preocupadas com o faturamento’, disse Fantazzini. O parlamentar destacou ainda que as ações que conduzem a uma cultura de violência não consolidam a democracia e tampouco o exercício pleno da cidadania.

Conseqüências da violência na TV

De acordo com a coordenadora técnica do Conselho Federal de Psicologia, Cleide Souza, a agressividade é uma das conseqüências das mais devastadoras que podem ocorrer às crianças por estarem expostas à violência excessiva mostrada nas televisões. Para a psicóloga, a deturpação dos valores gera alterações comportamentais e atrapalha o desenvolvimento da criança e do adolescente.

A ação pública do MP foi encaminhada à Vara Civil da capital paulista.’



TV & DIVERSIDADE
Cássia Borsero

‘TV precisa oferecer diversidade de linguagem e conteúdo, diz professora’, copyright Midiativa – Boletim Cidadania na Internet, 8/09/04

‘Distante da efervescência acadêmica do eixo Rio-São Paulo, os estados do Sul têm se destacado na pesquisa sobre as relações entre a mídia e o público infanto-juvenil. Prova disso é a existência do Ateliê da Aurora – criança, mídia & imaginário, site que reúne publicações, pesquisas, eventos e artigos sobre o tema. Criado em 1999, ele é resultado do trabalho de diversos pesquisadores da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) interessados em fomentar o debate sobre mídia e infância. O site é um dos únicos a disponibilizar a cobertura do Encontro Latino-Americano sobre TV de Qualidade – TVQ 1999, evento que inspirou os seminários TVQ e contou com a participação de alguns dos principais criadores do Midiativa, como Beth Carmona e Claudius Ceccon. Este grupo de pesquisadores também criou a ‘Jornada de Debates Mídia e Imaginário Infantil’, que já teve três edições e é um espaço importante para o intercâmbio entre especialistas de várias regiões do país.

Uma das idealizadoras da Jornada e do Ateliê da Aurora, Gilka Girardello é professora de jornalismo da UFSC, e sua tese de doutorado versa sobre a relação entre a televisão e a infância, tema que pesquisa até hoje. Contadora de histórias apaixonada pela exuberância das narrativas, Gilka falou ao Midiativa sobre seu trabalho, o perfil da TV produzida para o público infantil e a necessidade de criar mais e melhores opções para as crianças. ‘A TV precisa oferecer diversidade de linguagem e conteúdo, contar histórias mais diversas, de diferentes origens e lugares’.

Como nasceu o Ateliê da Aurora?

Gilka Girardello – O Ateliê da Aurora começou em 1999, com a união de vários pesquisadores da área de mídia e educação. Nós estavámos interessados em discutir a relação da criança com a mídia, e fazer com que esse debate tivesse prosseguimento e estivesse disponível na Internet. No site do Ateliê Aurora, nós disponibilizamos publicações, pesquisas, entrevistas, cobertura de eventos e artigos sobre o tema, além de alguns experimentos que os alunos de produção cultural para crianças realizaram. Hoje todo o conteúdo do site é atualizado por Laura Tuyama, sua editora.

Como começou a ‘Jornada de Debates Mídia e Imaginário Infantil’?

Gilka Girardello – Apesar do Aurora sempre estar ligado ao debate internacional, sempre acompanhamos com atenção e tentamos divulgar as questões regionais, a pesquisa local sobre sobre mídia e infância. Começamos a conversar com a equipe de pós-graduação em jornalismo e da Faculdade de Educação da Universidade Federal do Rio Grande do Sul. A partir daí organizamos o nosso primeiro evento, a ‘I Jornada de Debates Mídia e Imaginário Infantil’ em 1999, onde lançamos o Ateliê Aurora.

A idéia era fazer a Jornada um ano em Florianópolis e no outro ano em Porto Alegre, pois como estávamos realizando uma pesquisa fora do eixo Rio-São Paulo, sentíamos a necessidade de nos fortalecer. Dessa forma, em 2000 foi a equipe de Porto Alegre que organizou a ‘II Jornada de Debates sobre Mídia e Imaginário Infantil’. Ela foi muito interessante e contou com a participação de nomes como Maria Rita Khel, e o deputado federal Marcos Rolim, que na época era muito ativo na questão dos direitos da criança na mídia. Esse debate permeou todo o evento daquele ano. Outra discussão interessant foi sobre a participação de crianças nas novelas e na televisão, e acabou abrindo o debate sobre a necessidade do controle social dos meios de comunicação.

Em 2002 realizamos a ‘III Jornada…’ aqui em Florianópolis, que contou com a participação de Âmbar de Barros, Ismar Soares, além dos pesquisadores de Porto Alegre e os daqui. Levando em consideração que Florianópolis é uma comunidade muito pequena, reunir 300 pessoas a cada sessão para discutir a relação entre a mídia e infância demonstra como foram positivos os resultados deste trabalho. Esses eventos dinamizavam o site, que divulgava estas ações e era alimentado pelos conteúdos das discussão que aconteciam.

Você, que orienta estudantes e tem bastante contato com os pesquisadores de Santa Catarina, acha que há um aumento de interesse em torno do tema mídia e infância? Quais são os temas mais recorrentes?

Gilka Girardello – Sem dúvida que sim. Acho que este interesse temcrescido em todo o país. Os temas mais recorrentes costumam ser a relação entre a televisão e a infância, violência na mídia, TVs educativas, sobre cinema e criança.

Como você avalia a atual programação televisiva para crianças e adolescentes?

Gilka Girardello – Acho que a maioria da programação que está disponível na TV aberta é muito fraca, e não atende às necessidades das crianças. Há uma série de conteúdos que as crianças não deveriam assistir. E existem opções melhores para esse público, como demonstra a Mostra de Cinema Infantil de Florianópolis. As TVs educativas têm que ser um espaço diferenciado e canalizar a criatividade dos estudantes que hoje cursam jornalismo e produção de TV.

Dessa forma, a TV educativa seria um espaço mais experimental, que promovesse a cultura local e a mídia de qualidade. Nós desenvolvemos um trabalho bastante próximo das escolas, e por isso creio que a TV educativa tem que cumprir este papel. A partir disso, me pergunto se o fato dos formadores de opinião assistirem tão pouco à programação de TV aberta para as crianças não acabaria neutralizando a preocupação com a qualidade.

A grande mídia ainda está na retaguarda em abrir espaço para que as crianças sejam mais protagonistas, e não meras expectadoras. Para reverter esse cenário é necessário levar em conta a diversidade. Fazer tudo de maneira estereotipada empobrece a maneira como a criança é representada, e os conteúdos que ela consome na mídia. O próprio conceito de ‘a criança’ precisa ser desconstruído. A criança varia de acordo com a sua cultura, seu país e suas referências.

Como a criança elabora o conteúdo da TV no imaginário e no seu dia-a-dia?

Gilka Girardello – A pesquisa mais profunda que eu fiz mais próxima deste tema, foi a minha tese de doutorado de 1996, na Costa da Lagoa (região de Florianópolis). As crianças que entrevistei faziam parte da primeira geração que tinha crescido com a TV, já que se trata de uma comunidade isolada, cujo acesso só é feito com barcos, e que tem uma tradição oral muito forte. Muitos pais e avós destas crianças não eram alfabetizados, e acabavam se transformando em contadores de histórias. O que eu percebia era que se a criança tem espaço para brincar, fora da escola, se tem um cotidiano flexivível que permita a ela alternar a TV com outras atividades, acabam por ter uma cultura própria. Elas acabam desenvolvendo brincadeiras que não são pautadas pela televisão. Se a criança tem condições de brincar com outras, e dessa forma elaborar o que vê na televisão, estes conteúdos acabam sendo recriados na própria brincadeira.

Mesmo que o conteúdo seja pobre?

Gilka Girardello – Ainda assim. Claro que os problemas da exposição à mídia de baixa qualidade não deixam de existir apenas porque as crianças são capazes de reelaborá-la. Em um programa de rádio uma pessoa me perguntou o que eu achava dos pais que não permitem que seus filhos vejam TV, se isso não deixaria a criança excluída da cultura. Eu respondi que até pode ser, mas os pais que vetam a televisão são uma minoria. E os que vetam, de alguma forma, tendem a suprir a ausência da televisão de outra maneira. Então este não é o problema mais sério. O mais grave é que a grande maioria das crianças do país vêem muita televisão porque não têm outras alternativas. A mediação dos pais é fundamental, como também é importante que as crianças tenham outras alternativas de lazer.

Que tipo de postura os pais devem adotar para realizar tal mediação? O que eles poderiam fazer para inserir este tema junto às crianças?

Gilka Girardello -Temos o ideal e o possível. O ideal seria se todos os pais pudessem acompanhar mais de perto, conversar, explicar os conteúdos e a própria linguagem da TV, e discutir os valores. Se não der, acredito que o melhor é justamente garantir que a televisão não seja o único passatempo da criança. E aí temos uma questão que não aborda apenas a responsabilidade dos pais, mas que é social.

Acho que a abordagem que vê a criança como responsabilidade exclusiva dos pais e da escola tem que ser transformada. Afinal, as crianças de hoje são os futturos telespectadores, o que faz com que seja necessário ter uma preocupação sobre a formação de um público crítico e inteligente. É um imediatismo muito grande nos preocuparmos com as pessoas somente após elas terem completado 18 anos.

Como seria um programa de televisão ideal para crianças na sua concepção?

Gilka Girardello – Acho que é necessário conter muita arte. Tudo o que existe de mais avançado da música, tecnologia, teatro, poesia. E ao mesmo tempo muita diversidade, tanto em termos de linguagem, como nos conteúdos. Histórias das mais diversas, diferentes origens e lugares. Outro elemento importante é a complexidade. Um bom programa tem que fazer as crianças pensarem, apresentar desafios, tem que despertar interesse porque é intrigante, e não óbvio. Como sempre as crianças também buscam respostas para as grandes questões da humanidade: o que é o bem e o mal, o que significa a morte, e vários outros temas. Abordar isso em um programa de televisão para crianças não é comum e nem fácil, mas a literatura já fez isso inúmeras vezes. O programa ideal saberia usar a arte, a literatura, a poesia para abordar todas estas questões e falar com a criança de forma atual. Seria um programa que não ficaria só no ‘moderninho’, apesar de ter referências modernas, mas que através do humor e da arte introduziria esta herança cultural para as crianças. Esse programa também faria com que a voz das culturas locais se fizesse ouvir. E já que é um programa ideal, eu acho que não deveria ter propagandas…

Você acha que a publicidade estimula o consumismo das crianças?

Gilka Girardello – Claro. Onde estão os principais criadores de hoje? Nas agências de propaganda. As propagandas são ótimas, em termos estéticos e mesmo nos roteiros, e acabam tendo muito apelo. Eu queria que todo este apelo fosse usado para falar dos sonhos, estimular a imaginação da criança, e não só vender.

A educação para a mídia é muito rara na escola. Os professores, em sua maioria, não têm capacitação para tratar do tema em sala de aula. Como o professor pode, mesmo com a ausência de políticas públicas, conseguir incorporar alguma prática neste sentido?

Gilka Girardello – Essa é uma questão importante. Os professores muitas vezes não conseguem dar conta das suas próprias atribuições, e a educação para a mídia tem que ser pensada mais globalmente, em termos de currículo. O ideal seria que houvesse uma disciplina que tratasse isso. Acho que a melhor educação para a mídia é aquela que une a leitura crítica, com a possibilidade de produzir mídia. Acho que quando você mexe com a mídia, consegue entender melhor e ser mais crítico. Escrever roteiros para novelas em sala de aula, brincar com fotografia. Criar pequenas rodas de história, pedir que as crianças contem histórias. Naturalmente as crianças trarão temas relativos à TV, que poderão ser analisadas com a mediação do professor. Ao contar as crianças estão recriando os conteúdos da TV. Tudo isso enriquece e são coisas simples de fazer. E o professor também passa a refletir mais sobre os conteúdos. Se ele tiver sensibilidade os resultados podem ser bem positivos.’



REALITY SHOWS
Daniel Castro

‘Famosos viram ‘peões’ em ‘reality show’’, copyright Folha de S. Paulo, 13/09/04

‘O canal pago Multishow estréia em 16 de novembro a série ‘Tira Onda’, em que celebridades experimentam por um dia o exercício de uma profissão ‘humilde’. O piloto (programa-teste) foi gravado com a atriz Isabella Garcia, que se passou por manicure.

Nesta semana, será gravado o segundo episódio da série, com o ator Murilo Benício, que irá ‘tirar uma onda’ de taxista no Rio.

A produtora do ‘Tira Onda’, a independente Urca Filmes, pretende gravar episódios com os também globais Deborah Secco (como uma frentista), Marcos Palmeira (que teria um dia de feirante) e Camila Pitanga (que seria vendedora ambulante de praia).

A primeira temporada de ‘Tira Onda’ terá oito episódios. Mas o programa, que o Multishow classifica como sendo do gênero ‘reality show’, poderá ser estendido.

No piloto com Isabella Garcia, não houve câmeras escondidas nem disfarces para tentar ocultar a identidade da atriz. Ela foi reconhecida por clientes que atendeu em um salão de beleza.

A atriz, segundo a produção do programa, não foi mal como manicure. Apenas uma cliente reclamou do serviço. E uma outra não quis ser atendida por Isabella, para não correr riscos.

O primeiro episódio traz depoimentos de manicures ‘reais’, que relatam aspectos da profissão. Elas detestam, por exemplo, quando têm de parar o trabalho porque o celular do cliente toca.

OUTRO CANAL

Sinfonia 1

O presidente da TV Cultura, Marcos Mendonça, encomendou ao maestro John Neschling, da Osesp, uma nova trilha de abertura para o ‘Roda Viva’. Neschling aceitou.

Sinfonia 2

A nova trilha deve estrear na edição que irá comemorar os 18 anos do ‘Roda Viva’, que a princípio seria em 27 de setembro, mas que deve ficar para outubro, por causa da campanha eleitoral. O programa também terá um novo logotipo.

Caseira

A Record fez cotações de preços com várias produtoras independentes, mas decidiu fazer ela mesma a edição brasileira do ‘reality show’ ‘O Aprendiz’, com Roberto Justus, previsto para estrear em novembro.

Calendário

A nova versão de ‘A Escrava Isaura’ não irá mais estrear dia 27 na Record, conforme havia anunciado a emissora. Ficou para outubro, também por causa das eleições municipais, segundo versão oficial.

Torcida

O Flamengo foi disparado o time que mais apareceu na TV aberta no Rio neste ano. De janeiro a julho, segundo a Informídia, que faz pesquisas para clubes, teve 24 jogos transmitidos pela Globo e 13 pela Record. Na Globo, o segundo colocado foi o Vasco, com 14 transmissões. E na Record, o Fluminense, com quatro.’