Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jerônimo Teixeira

‘O escritor e jornalista americano Tom Wolfe, de 74 anos, é um cronista impiedoso da vida de seu país. Seja falando dos malucos que enchiam a cabeça de LSD nos anos 60 – no livro-reportagem O Teste do Ácido do Refresco Elétrico – ou dos gananciosos investidores de Wall Street nos anos 80 – no romance A Fogueira das Vaidades -, Wolfe exerce a mesma ironia. Em seu mais recente romance, Eu Sou Charlotte Simmons, que a editora Rocco lança nesta semana, o autor de Nova York – célebre também por ser um dândi que só se veste de branco – retrata as universidades americanas e a vida desregrada de seus estudantes, com muitas festas e farras nos dormitórios mistos. Mesmo com toda essa verve, o escritor tem um grande carinho pelo objeto de sua sátira, os Estados Unidos. E se confessa um eleitor convicto do presidente George W. Bush – que, por seu lado, é um leitor da obra de Wolfe. O autor fará sua primeira visita ao Brasil nesta semana – será dele a conferência de abertura da Bienal do Livro do Rio de Janeiro, na quinta-feira. De Nova York, onde mora, Wolfe falou por telefone a VEJA.

Veja – A imprensa americana já relatou que o presidente George W. Bush gostou de Eu Sou Charlotte Simmons e tem recomendado o livro a amigos. O senhor esperava que ele fosse um fã de sua literatura?

Wolfe – Não, nunca imaginei isso. Mas acho ótimo. Algumas pessoas ficaram horrorizadas com isso. Os intelectuais de Nova York, em especial, têm uma fobia irracional – embora quase sempre inofensiva – a Bush. Eles não percebem que na verdade a política americana é muito estreita.

Veja – Como assim, estreita?

Wolfe – O governo americano é como um trem: tem gente gritando para o governo virar à esquerda ou à direita, quando o trem simplesmente não pode mudar de direção. Ele anda sobre os trilhos. Ninguém vai se tornar um ditador nos Estados Unidos, e ninguém vai cortar nossos direitos civis. É por isso que não entendo essa fobia a Bush entre os intelectuais. Os americanos em geral não se entusiasmam tanto por política. Em 1974, quando Nixon saiu do governo, não houve uma só demonstração nas ruas, a favor ou contra. Não houve sequer um episódio de algum republicano bêbado jogando um tijolo numa vitrine. Eu mesmo nunca me interessei em escrever sobre política americana. Seria como fazer a cobertura jornalística de um jogo de gamão. Muito chato.

Veja – Pelo que o senhor está dizendo, dá para supor que seu voto na última eleição foi para Bush.

Wolfe – Sim, sem dúvida. E muitos confrades no meio jornalístico ficaram escandalizados quando souberam disso – olhavam para mim como se eu fosse um criminoso, um molestador de crianças. Eu me divirto com isso. Votar em Bush é tão contra a corrente…

Veja – A religião seria uma das razões pelas quais a intelectualidade rejeita o presidente Bush?

Wolfe – Não havia pensado nisso, mas é verdade. Bush é um soldado cristão. A religiosidade faz com que, para os intelectuais, ele pareça um tipo rústico.

Veja – O senhor é religioso?

Wolfe – Não, mas tenho uma consciência aguda da importância da religião. Fala-se muito da ‘direita religiosa’ nos Estados Unidos. Mas não é de direita: é só religiosa. Hoje, basta ter uma fé cristã convencional para ser visto como um tipo de extremista.

Veja – Uma de suas reportagens mais famosas, do fim dos anos 60, fala das festas em que a alta sociedade de Nova York recebia grupos políticos extremistas como os Panteras Negras – uma tendência que o senhor batizou de ‘radical chique’. Ainda existem festas assim hoje?

Wolfe – Não, pois não existem mais grandes movimentos de esquerda como os Panteras Negras. Aliás, não há mais nenhuma causa que possamos identificar como de esquerda. Mesmo a oposição à guerra no Iraque não foi uma causa de esquerda, pois congregou gente de todos os tipos.

Veja – Nem a questão racial é uma bandeira de esquerda?

Wolfe – Não mais. Houve uma grande mudança nessa área. Não foi só o crescimento econômico da população negra: o nível de respeito entre raças cresceu tremendamente. Mesmo entre as pessoas mais brutas, não são mais aceitáveis os insultos raciais que eram comuns há algumas décadas.

Veja – Em 2003, o jornal The New York Times passou por uma crise de credibilidade depois que se descobriu que um de seus repórteres, Jayson Blair, inventava notícias. No ano passado, o noticiário da rede televisiva CBS foi acusado de falsificar documentos sobre o serviço militar de George W. Bush. O que se passa com o jornalismo americano?

Wolfe – O incidente com Jayson Blair foi tirado de proporção. Era um repórter inexperiente, um garoto, que fabricou fatos em algumas matérias. Tudo o que precisavam fazer era demiti-lo. Mas o próprio jornal extrapolou o caso para além de qualquer medida razoável: queria tanto se arvorar em modelo de virtude que foi como se Blair houvesse pecado contra Deus. No caso da CBS e de seu âncora, Dan Rather, há várias ironias. Em primeiro lugar, embora Rather tenha aprovado a exibição da matéria sobre Bush, ele não tinha nada a ver com sua apuração. Os âncoras não têm nada a ver com reportagem. O maior trabalho deles é tirar meia hora por dia para aprender como se pronunciam os nomes mais complicados de personagens do Oriente Médio. Eles lêem o que os outros escrevem – são cordas vocais muito bem pagas. Rather é um bom sujeito e não precisava se demitir.

Veja – O senhor não parece respeitar muito o jornalismo televisivo.

Wolfe – O problema com a televisão é que não existe reportagem. Os âncoras viajam apenas ocasionalmente para entrevistar algum chefe de Estado. O próprio Dan Rather entrevistou Saddam Hussein antes da guerra. Ou seja, eles vão ouvir as mentiras oficiais em pessoa. A televisão tira pelo menos 90% de suas notícias dos jornais. Quando ocorre um incidente como esse da CBS, a primeira coisa que os executivos de televisão e seus prepostos perguntam aos jornalistas é: ‘Onde é que vocês leram essa notícia?’. E, se eles dizem que foram eles mesmos que apuraram o fato, a reação é de choque: ‘Vocês mesmos apuraram? Estão loucos?’.

Veja – E os jornais?

Wolfe – Os jornais, nos Estados Unidos, tornaram-se monopólios locais. Não existe um jornal nacional significativo, como na Inglaterra. Como resultado, não há quatro ou cinco repórteres atrás das notícias nas cidades americanas, mas apenas um. Eu fui repórter de jornal por dez anos, e era diferente: havia competição, o que me obrigava a trabalhar cinco vezes mais. Isso mudou. Mas o que importa ressaltar é a liberdade absoluta da imprensa americana. Eu já debochei de muita coisa nos Estados Unidos, e pode até parecer, pelo que escrevo, que este é um país bizarro. Mas ainda acho que ele está em ótima forma. É um país profundamente democrático.

Veja – O senhor foi um dos expoentes do Novo Jornalismo, que levou recursos literários para a redação de notícias. Qual a herança desse movimento?

Wolfe – Os movimentos que trazem ‘novo’ no nome envelhecem mal. Os jornais nunca gostaram do Novo Jornalismo, e com certa razão, pois é um gênero difícil. E nas revistas de hoje os editores querem textos curtos, simples de ler, sem muita sofisticação, pois acreditam que os jovens têm uma atenção limitada. É um erro: os jovens só têm atenção limitada para as coisas que os entediam. O Novo Jornalismo ainda é praticado em livros-reportagem como Falcão Negro em Perigo, de Mark Bowden, sobre a intervenção americana na Somália. Esses livros usam as técnicas literárias do Novo Jornalismo, embora não sejam mais identificados assim.

Veja – Por que o senhor decidiu escrever um romance sobre a vida estudantil nas universidades americanas?

Wolfe – É estranho que, dado o frenesi que ronda o tema, ninguém antes tenha escrito sobre a vida universitária americana da perspectiva dos estudantes. Havia estudos sociológicos que diziam que a conduta sexual nesse grupo é mais livre e irresponsável, mas são pesquisas quantitativas. Não se considerava como isso afeta a vida desses jovens. Também não se falou de como era a vida de um astro dos esportes universitários. Sempre se soube que havia um certo grau de corrupção nos esportes universitários. Pessoas que, pelo desempenho acadêmico, não mereceriam estar na universidade eram matriculadas para jogar no time de basquete ou futebol americano. Mas eu estava interessado em saber como esses esportistas se sentem, sendo tratados como semideuses.

Veja – No seu livro, há muita ênfase nas festas e nas atividades sexuais dos estudantes e quase não se vê aprendizagem. Não é uma visão muito caricatural da universidade?

Wolfe – Não, não acho. Fui a várias universidades – Stanford, Yale, Universidade da Flórida, de Michigan, da Pensilvânia – e as coisas eram assim mesmo. Não é que não exista mais atividade acadêmica. Mas muito do trabalho mais sério se dá na pós-graduação. Já nos primeiros anos da universidade, a atmosfera é completamente diferente.

Veja – Como foi seu contato com os estudantes?

Wolfe – As pessoas achavam que seria difícil para mim, na minha idade, e vestindo terno e gravata, conviver com os estudantes. Mas não foi assim. Muitos dos jovens gostavam da idéia de ter um par de orelhas grandes mas neutras para ouvi-los. Em geral, todos gostamos de falar de nossas vidas. E eles especialmente, pois sabem que estão vivendo um período incomum.

Veja – E como se dá o sexo nos dormitórios da universidade?

Wolfe – Há certos códigos de comportamento. ‘Ficar’ ou ter um caso com alguém no seu próprio dormitório não é considerado uma atitude descolada. Isso é chamado de ‘dormincesto’ – uma mistura de ‘dormitório’ e ‘incesto’. Quase não acontece de um estudante atravessar o corredor para pular na cama de uma colega. Mas, quando se encontra alguém numa festa ou num bar, é fácil arrastá-lo para o dormitório.

Veja – Era muito diferente na década de 50, quando o senhor fez seus cursos universitários?

Wolfe – Sim. As igrejas ainda tinham um certo poder moral sobre as pessoas então. E não existiam dormitórios mistos, como hoje. Aliás, a maioria das faculdades era ou masculina ou feminina – eu mesmo freqüentei uma faculdade só de homens, e tínhamos de viajar no mínimo 70 quilômetros até uma faculdade feminina, para ter um encontro no fim de semana. Não era permitido aos rapazes entrar no dormitório das moças, e havia toque de recolher: tínhamos de levar as meninas de volta até 1 hora, no máximo. Nos dormitórios de hoje, qualquer um pode entrar ou sair sem vigilância. É um detalhe físico que faz imensa diferença quando se trata de sexo. Por mais liberado que seja, um adulto muitas vezes não consegue encontrar uma cama num prazo curto. Se você mora em uma cidade, talvez tenha de ir para um hotel – o que é um incômodo e custa caro. Mas, na faculdade, os hormônios estão eriçados e as camas encontram-se lá, à espera.

Veja – Charlotte Simmons é dedicado a seus dois filhos, que o ajudaram com a gíria universitária dos personagens. O senhor se preocupava com a atividade sexual deles na universidade?

Wolfe – Na verdade, não. Acredito que meus filhos têm um ótimo discernimento e não vão fazer nada só pela pressão do grupo. Mas também nunca perguntei nada a respeito a eles. Imaginei que, se eles tivessem qualquer problema nessa área, me falariam.

Veja – Certos capítulos de Eu Sou Charlotte Simmons deixam a sugestão de que os avanços na área de neurociência estão corroendo o senso moral das pessoas. Por quê?

Wolfe – A mensagem da neurociência, embora isso talvez não seja intencional, é que nós somos mecanismos. Pensamos que temos controle sobre nossas escolhas, nossa idéia de bem e mal, o tipo de música de que gostamos -, mas a neurociência diz que na verdade não é assim, que temos um microchip determinado geneticamente, e que não existe livre-arbítrio. Essas idéias, que eu acho deprimentes, estão se espalhando. Já se encontram pais por aí que acreditam que, se o filho não está se saindo bem na escola, é porque não foi programado para isso. Mas a crise moral é resultado também da diminuição da fé religiosa entre pessoas educadas, bem de vida.

Veja – O senhor mora a poucos passos do Central Park, em Manhattan. A vida na cidade mudou muito depois dos atentados de 11 de setembro de 2001?

Wolfe – Mudou muito nos primeiros quatro ou cinco dias. Normalmente, em Nova York, se um carro demora uma fração de segundo para arrancar quando o sinal abre, pode ter certeza de que o carro atrás vai buzinar. E naqueles dias isso não acontecia. Mas é assim com qualquer tipo de desastre: as pessoas se tornam mais polidas. O mesmo se dá quando há um blecaute – e o blecaute quase vale a pena, só para estar cercado de pessoas cordatas, para variar um pouco. Obviamente, uma tragédia como os atentados não vale a pena. Depois de um ano, de qualquer forma, o temor de que algo do gênero tornasse a acontecer começou a declinar. E hoje já não há qualquer sentimento de ameaça.’



NEW JOURNALISM
Paulo Roberto Pires

‘Jornalismo bossa nova’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 3/05/05

‘‘Novo jornalismo’ é como ‘bossa nova’. Ao longo dos anos, o adjetivo virou substantivo e, além da promessa de ‘novidade’, tornou-se um clássico. Assim como o gênero musical, a linhagem de jornalistas inaugurada por Tom Wolfe, Gay Talese & Cia criou uma multidão de adeptos, um modismo e uma saturação. Também abriu, é verdade, o caminho para uma forma mais complexa de reportagem, que pede emprestado da literatura técnicas e truques para traçar retratos vivos de pessoas, lugares, situações.

A começar pelo título, o recém-lançado ‘The new new jorunalism’ (Vintage Books, 456 páginas, US$ 13,95) quer de alguma forma renovar a promessa de novidade. Na prática, põe na balança o que ficou daquela geração histórica para mostrar como seus princípios só podem valer hoje de uma forma muito diferente. O autor, Robert S. Boyton, que é professor da New York University, entrevistou 19 jornalistas que, a seu ver, nutriram-se daquela tradição para dar a ela ainda mais conseqüência. Da ‘velha guarda’, o representante solitário é, sintomaticamente, Gay Talese. Junto a ele estão, dentre outros e de forma mais próxima do leitor brasileiro, Jon Krakauer (autor de ‘No ar rarefeito’), Susan Orlean (que virou personagem do filme ‘Adaptação’) e Lawrence Weschler (‘Um milagre, um universo’, sensível reportagem sobre a tortura na América Latina).

O ‘novo novo jornalismo’ é, segundo o organizador, a combinação de duas tendências da tradição jornalística americana: a dos veneráveis ancestrais como Stephen Crane, escritores preocupados com a realidade imediata que, movidos pela preocupação social, mergulhavam no universo dos despossuídos em geral; e, de forma mais próxima, a da geração que surgiu nos anos 1960 renovando a linguagem e autodenominando-se ‘novo jornalismo’.

No fundo, esta síntese está menos nos autores entrevistados do que na obsessão de Robert Boynton em desancar Tom Wolfe para enaltecer Gay Talese como o ‘verdadeiro’ novo jornalista. Seu prefácio, aliás, é praticamente um manifesto anti-Wolfe, considerado superficial e ‘literário’ – sendo literatura aqui associada à pura invenção e preconceituosamente desdenhada em oposição à exaustão da apuração e do detalhe. Ao lado de Norman Mailer, Truman Capote e Hunter S. Thompson, o autor de ‘Os eleitos’ estaria mais para um ficcionista que se basta na experimentação da linguagem e considera a realidade um mero detalhe. ‘Os dias em que autores de não-ficção testavam os limites da linguagem já se foram há muito tempo’, sentencia ele na introdução.

Não se questiona em nenhum momento, no entanto, se o gosto pela informação minuciosa não descamba muitas vezes para um mero fetiche da ‘realidade’ – e o melhor exemplo disso vem do próprio Talese, que no antológico ‘Nova York: jornada de um serendipitoso’ contabiliza quantos litros de cerveja, quilômetros de fio dental e toneladas de carne o novaiorquino consume a cada dia. O texto é uma delícia, mas não há muita diferença entre este tipo de informação e o veneno, obra-prima de observação, destilado por Tom Wolfe em ‘Radical chique’.

Há um elogio, um tanto vazio e gratuito, da ‘apuração’ em detrimento do ‘estilo’, como se, nos grandes jornalistas, fosse possível fazer uma distinção perfeitamente clara entre reunir as informações e ordená-las. Como, também, se o universo dos despossuídos conferisse ao jornalismo, por si só, nobreza e profundidade maiores do que as afetações das classes média e alta. Para simplificar, o ‘novo novo jornalismo’ que se quer definir é uma versão politicamente correta do novo jornalismo clássico.

Felizmente, as entrevistas são bem melhores e mais úteis do que o prefácio. E o que se destaca em todas elas é a disposição infatigável dos entrevistados em buscar temas que fogem completamente às pautas mais consagradas da imprensa. O que interessa a eles é, quase sempre, as margens da notícia, aqueles personagens e fatos que, por algum motivo, estão fora da ‘agenda’ mais tradicional da imprensa.

Neste ‘desvio’ fundamental está, talvez, o pulo do gato de jornalistas tão diferentes entre si. Todos correm atrás de uma boa história e o conceito de interesse jornalístico é, aqui, saudavelmente deslocado dos ‘grandes temas’. Gay Talese, o mestre, formula com simplicidade desconcertante seu método básico de trabalho: tema interessante é aquele que lhe diz respeito diretamente, que literalmente o envolve. A partir deste impulso, fundamental, parte-se para uma imersão completa em um universo que o repórter retrata com olhos de alguma forma inocentes, de quem vê algo ou alguém pela primeira vez e, não sem alguma humildade, procura deduzir sua lógica e conexões próprias.

Não deixa de ser deprimente, no entanto, a comparação, inevitável, com as possibilidades de realização deste tipo de jornalismo nos EUA e no Brasil. Lá, publicações como a ‘New Yorker’, ‘The Atlantic’, ‘Rolling Stone’ e ‘Esquire’ continuam, apesar da decadência de algumas delas, privilegiando esse tipo de reportagem. Por aqui, com redações cada vez mais minguadas, encontrar este tipo de jornalismo requer persistência de detetive, sendo mais prático recorrer às livrarias, onde já começa a crescer uma estante importante no gênero – mas de qualquer forma distante da agilidade que também faz parte desta produção jornalística.

Ano passado, num debate realizado na Bienal do Livro de São Paulo, Zuenir Ventura definiu muito bem o que seria este gênero de jornalismo, ‘literário’, ‘narrativo’ ou ‘novo’: ‘Para mim é a reportagem que eu tenho tempo para fazer’ – o que resume muito bem a vida dos coleguinhas americanos e, por tabela, a nossa.’



PAPA NA MÍDIA
Folha de S. Paulo

‘Editor de revista católica dos EUA é demitido por ordem do Vaticano ‘, copyright Folha de S. Paulo, 8/05/05

‘O jesuíta Thomas Reese, editor de ‘America’, a principal revista católica dos Estados Unidos, renunciou à chefia da publicação por ordem do Vaticano. Reese, que aparece com freqüência na televisão americana como analista de assuntos ligados ao catolicismo, publicou na revista artigos com discussões sobre temas polêmicos, como o casamento entre gays, as relações com o islã e o aborto, o que desagradou ao Vaticano. A ordem para que Reese abandonasse o cargo, segundo o ‘New York Times’, partiu da Congregação para a Doutrina da Fé em meados do mês de março, quando o órgão ainda era chefiado pelo cardeal Joseph Ratzinger. Logo depois, o papa João Paulo 2º morreu e o cardeal Ratzinger foi eleito pontífice, assumindo o nome de Bento 16. A demissão de uma figura de tamanha visibilidade, segundo analistas, é uma mensagem do Vaticano de que a discussão de certos assuntos não será tolerada.’



O Estado de S. Paulo

‘Papa pede que mídia lute contra violência ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 9/05/05

‘O papa Bento XVI destacou ontem que os meios de comunicação de massa são um ‘extraordinário recurso’ para promover a paz e pediu responsabilidade para evitar que sejam usados como instrumento de fomento à violência. Ele passou a mensagem a milhares de fiéis reunidos na Praça de São Pedro para a reza dominical do Regina Coeli (que substitui o Ângelus no atual período religioso), aos quais disse que ontem se comemorava o Dia Mundial das Comunicações Sociais.

‘Na atual época da imagem, os meios de comunicação de massa são um extraordinário recurso para promover a solidariedade e o acordo entre a família humana’, disse o papa, antes de destacar que isso se demonstrou ‘na ocasião da morte e das solenes exéquias’ de seu ‘querido antecessor João Paulo II’. Se forem mal utilizados, os meios de comunicação podem ‘alimentar o preconceito e o desprezo entre os indivíduos e os povos’, destacou o religioso.

‘Eles podem contribuir para difundir a paz ou para fomentar a violência. Por isso é preciso apelar sempre à responsabilidade’, frisou, antes de pedir ‘objetividade, respeito à dignidade humana e atenção ao bem comum’. ‘Deste modo se contribui para a queda dos muros de hostilidade que ainda dividem a humanidade’, disse.

A mensagem do papa também fez referência à festividade religiosa da Ascensão, que a Igreja Católica comemorou ontem: ‘Somos chamados a renovar nossa fé em Jesus, a única fonte de salvação verdadeira para todos os homens’. Após a reza do Regina Coeli, Bento XVI cumprimentou os presentes em italiano, inglês e espanhol, idioma em que dedicou uma saudação especial a um grupo de peregrinos de Madri.

DIÁLOGO

O papa Bento XVI expressou ontem ao rabino emérito de Roma, Elio Toaff, sua vontade de ‘continuar o diálogo’ iniciado com João Paulo II, ao mesmo tempo em que agradeceu ‘as boas relações tecidas com a Santa Sé’.

Em mensagem comemorativa dos de 90 anos de Toaff, o papa destacou a ‘ocasião para renovar o compromisso de continuar o diálogo entre nós, olhando para o futuro com confiança’. Após evocar os estreitos laços que Toaff, quando era rabino-chefe, teve com João Paulo II, Bento XVI mencionou a visita de Karol Wojtyla à sinagoga de Roma em 1986, a primeira vez que um papa pisava num templo judaico.

‘Lembro com alegria o abraço com o qual o acolheu (a Wojtyla) na sinagoga de Roma em 13 de abril de 1986’, afirmou Bento XVI. A mensagem do papa foi entregue a Elio Toaff pelo cardeal alemão Walter Kasper.’