Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Joaquim Falcão

‘Assim como ocorreu com o Protocolo de Kyoto, assinado por Clinton e desconfirmado por Bush, o governo norte-americano mais uma vez voltou atrás. Agora, em matéria até mesmo mais estratégica que a do aquecimento global. Em 1998, os EUA assumiram o compromisso de abrir mão do controle que exercem sobre a internet mundial. Há algumas semanas, decidiram manter o controle. Indefinidamente.

Esse controle é exercido pelo poder de veto que o Departamento de Comércio Norte-Americano tem sobre as atividades estratégicas da Icann. Icann é uma associação norte-americana sem fins lucrativos que detém a chave tecnológica através da qual são distribuídos os nomes de domínio -os ‘endereços’ na internet-, possibilitando que um e-mail chegue a seu destinatário.

É a organização fundamental da rede. Sem ela, nenhum computador se comunica com outro. Nenhuma empresa com outra. Nenhum país com outro. Eu não poderia enviar por e-mail para a Folha este artigo que agora escrevo. Teria que ser por fax ou correio. Quem controla a Icann controla a internet. Controla o mundo das comunicações.

O poder da Icann é imenso. Ela pode, por exemplo, desconectar qualquer endereço da rede. Pode desconectar um país inteiro, isolá-lo do mundo. Pode impedir que haja comunicação via internet dentro do próprio país, entre seus próprios nacionais. Numa situação extrema de guerra, seu poder é inimaginável. Exército nenhum, economia nenhuma, país nenhum resistiria a uma semana sem internet, sem poder se comunicar consigo mesmo. Não é, pois, sem motivos que o governo norte-americano tomou essa decisão. Está em jogo uma instituição estratégica.

Essa decisão interrompe um processo de multilateralização da governabilidade da internet e impõe a unilateralização. É preocupante. O Congresso norte-americano tinha delegado ao Departamento de Comércio o poder de regular a internet. O governo Clinton, tendo em vista o interesse global envolvido, fez com que o departamento delegasse à Icann -uma entidade com representantes de todos os países interessados- o poder de distribuir e operar os nomes de domínio. E estabeleceu um período de transição para que essa delegação fosse completada.

Esse modelo tinha duas vertentes. Por um lado, assegurava uma governabilidade progressivamente multilateral. Por outro, enfatizava mais as comunidades tecnológicas que os governos. A representação por país não se fazia em termos estritamente oficiais. O Brasil, por exemplo, tem dois membros no Conselho de Administração da Icann, de um total de 18. Não são membros do Itamaraty, mas sim indicados pela comunidade de informática. Essa transição é, agora, interrompida em nome da garantia -afirma o governo Bush- de uma internet ‘estável e segura’. Decisão que decorre da mesma política que inspira unilateralismo no meio ambiente, no protecionismo econômico e na geopolítica.

Na verdade, a transição caminhava perigosamente em direção à criação de um órgão multilateral oficial dos países, inspirado no modelo das Nações Unidas. Esse caminho não é tranqüilo. É polêmico. Traria pelo menos três conseqüências principais.

Primeiro, tornaria o processo decisório muito mais lento, sendo hoje a agilidade da Icann um ativo importante. Segundo, submeteria os Estados Unidos, que inventaram a internet e a própria Icann, a países de quase ou nenhuma experiência tecnológica. Terceiro, organizações das Nações Unidas, como a Organização Mundial do Comércio e a Organização Mundial da Propriedade Industrial, passariam a influir na Icann.

Seria possível criar um terceiro modelo, que escapasse da dicotomia entre um modelo unilateral e o modelo multilateral oficial das Nações Unidas?

Esse é o desafio principal. Um modelo que viabilizasse pelo menos duas autonomias hoje inexistentes. Primeiro, a autonomia financeira. A quase totalidade dos recursos necessários para manter a Icann vem de empresas privadas norte-americanas. Melhor seria se a Icann tivesse sua própria fonte de recursos, por meio do sistema de registro dos nomes de domínio. Segundo, a autonomia tecnológica. Dos 13 servidores-raiz da internet existentes no mundo, dez são operados nos Estados Unidos, submetidos ao controle tecnológico e físico de instituições norte-americanas. Os outros três estão na Inglaterra, no Japão e na Suécia. Uma descentralização tecnológica que permitisse, por exemplo, à América Latina ter em seu território um servidor-raiz, o que daria maior autonomia ao sistema.

Quando os próprios Estados Unidos criaram a Icann, instauraram um processo de invenção institucional inédito na regulação de atividades globalizadas. O que foi extremamente positivo. Afinal, as gerações se distinguem umas das outras e o progresso se faz pela capacidade de inovação e invenção institucional. Seja a nível local, seja a nível global. O modelo Icann tem a virtude da existência e da eficiência. Mas um progressivo processo de invenção global se faz necessário. Resta saber se esse processo será ou não interrompido pela decisão unilateral do governo Bush.

Joaquim Falcão, 61, mestre em direito pela Universidade Harvard (EUA) e doutor em educação pela Universidade de Genebra (Suíça), professor de direito constitucional e diretor da Escola de Direito da FGV-RJ, é membro do Conselho Nacional de Justiça.’



Paulo André Vieira

‘A Internet em quadrinhos’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 28/07/05

‘Primeiro, foram os escritores que tiraram seus contos, crônicas e ensaios do fundo da gaveta e passaram a publicá-los em seus blogs para quem quisesse ler. Depois, os fotógrafos também aproveitaram as facilidades da fotografia digital para transformar monitores, pelo mundo afora, em galerias para expor sua produção artística. Agora, chegou a vez dos cartunistas aproveitarem os benefícios do mundo virtual: o custo da publicação é praticamente zero e o potencial de audiência é muito maior do que o das prateleiras de lojas especializadas. Milhares de histórias em quadrinhos estão sendo publicadas na Internet, inclusive material que provavelmente seria visto por poucas pessoas em cópia feitas em xerox.

No dia 10, foram anunciados, em uma grande cerimônia virtual, os vencedores da edição 2005 do Web Cartoonist’s Choice Awards, uma espécie de Oscar dos quadrinhos online. Já em sua quinta edição, contou com a participação de diversas celebridades, como Welton Colbert, Author Donathan e Marten Reed, o que não chamaria a menor atenção se não fossem os três personagens de histórias em quadrinhos. Toda a cerimônia de entrega dos prêmios foi feita na própria linguagem que os organizadores do evento se esforçam tanto para divulgar. Cada trecho foi entregue nas mãos de um cartunista que, usando a linguagem e personagens de histórias em quadrinhos, explicava aquela categoria e apresentava os indicados. Os intervalos foram marcados pelo show de uma cantora – virtual, é claro – vestida apenas calcinha e sutiã.

O grande vencedor

Não há nenhuma recompensa monetária para os vencedores, mas isso não impediu que centenas de histórias em quadrinhos recebessem votos dos quase 600 cartunistas que participaram da do prêmio. Segundo Mark Meekes, um dos organizadores, o maior objetivo do prêmio é servir como incentivo para que os cartunistas se dediquem cada vez mais à rede e produzam quadrinhos com uma qualidade cada vez melhor. ‘A entrada de mais gente na competição faz com que os verdadeiramente talentosos ganhem mais respeito para os quadrinhos online como uma forma de entretenimento e como expressão artística’, diz Meekes. ‘E eu certamente espero que esta premiação ajude neste processo de reconhecimento.’

A decisão de quem merece receber cada um dos 26 prêmios está nas mãos dos próprios cartunistas, que escolhem seus quadrinhos favoritos como um dos quatro finalistas de cada categoria. Qualquer pessoa que escreva ou desenhe uma história em quadrinhos e a publique na Internet tem direito de votar. A categoria mais importante, e a que recebe mais votos entre todas, é a de melhor história em quadrinhos do ano. Os candidatos são avaliados em termos da qualidade das ilustrações, do texto e da técnica utilizada. Já as categorias específicas de cada gênero, como fantasia e ficção científica, costumam atrair menos votos.

O grande vencedor deste ano foi ‘Alpha Shade’, que faturou três dos quatro prêmios aos quais foi indicada, entre eles o de melhor design de cenários e o de melhor história longa. E ‘Alpha Shade’ é realmente uma senhora história em quadrinhos, de visual deslumbrante não só pelos cenários premiados, mas também pelas cores, pelos personagens e pelo roteiro. Além disso, a tecnologia utilizada permite que o leitor amplie a página para observar melhor os detalhes ou visualize apenas os esboços que serviram de base para cada uma.

Como pagar a conta

A idéia de publicar quadrinhos na Internet não é recente. Em 1991, ‘Where the Buffalo Roam’, que era publicada porum jornal da cidade americana de Boulder, começou a ser digitalizada e distribuída gratuitamente na Internet. A história retratava a típica vida de estudantes de faculdade, falando abertamente de sexo, bebida e política. Apesar de ser bem escrita e de humor inteligente, não se tornou tão famosa quanto outras sobre a vida universitária que surgiram posteriormente, como ‘College Roomies From Hell’ e ‘Stuble’. Talvez até por isso, Hans Bjordahl, seu criador, deixou de atualizar as histórias de ‘Where the Buffalo Roam’ em 1994, pedindo desculpas aos fãs com a explicação de que os quadrinhos não pagavam suas contas no fim do mês.

Se Hans tivesse esperado alguns anos, poderia mudar de opinião. John Allison, vencedor da categoria de melhor história em quadrinhos em 2005, pode se gabar de ganhar a vida com suas criações. Ele publica ‘Scary Go Round’ desde 2002, e o que começou como uma história sobre duas garçonetes tem, hoje em dia, tramas que envolvem até mesmo pequenas criaturinhas verdes que planejam abrir uma agência de detetives particulares e acham que a melhor maneira de conseguir clientes é riscar o nome dos concorrentes de todas as listas telefônicas da cidade. Em seu site, ele vende diversos modelos de camisetas, cinco coletâneas de seus quadrinhos e um boneco de pano baseado em um dos personagens que criou. Por uma módica taxa, John se oferece ainda para autografar e desenhar o seu personagem favorito. Para conseguir tal sucesso, John trabalha duro cinco dias por semana, dividindo seu tempo entre a criação do roteiro, a ilustração das páginas e a organização das vendas de livros e camisetas.

Já Scott Kurtz, do ‘PVP Online’, encontrou uma maneira diferente de ganhar dinheiro com seu trabalho. O sucesso de sua tira sobre nerds e geeks, que escreve há mais de sete anos, atraiu tanto tráfego para o seu site que ele começou a ser inundado com pedidos de empresas interessadas em colocar banners de propaganda. Além de oferecer os banners tradicionais, colocou os próprios personagens de sua história à disposição dos anunciantes, usando-os para criar propagandas que os leitores realmente ficam ansiosos para ver todo mês.

Outra maneira que alguns cartunistas encontraram para ganhar dinheiro com seu trabalho foi através de sites como o ‘Modern Tales’. Ele reúne dezenas de histórias em quadrinhos, mas permite o acesso gratuito apenas ao capítulo mais recente de cada uma, cobrando dos leitores o acesso ao arquivo com o material dos dias anteriores. ‘Modern Tales’ é praticamente um portal com vários sites especializados em certos segmentos, como o ‘Girlamatic’, especializado em quadrinhos para o público feminino.

Nascimento e morte

O mercado de quadrinhos na Internet é extremamente segmentado. Há quadrinhos para todos os gostos – aventura, romance, ficção-científica, horror e muitos outros. Um dos mais populares é o de histórias sobre o cotidiano de personagens fictícios ou dos próprios autores. ‘Grave Dave’, por exemplo, é uma janela para a vida de um solteiro em Nova York, seu trabalho, seus amigos, suas bebedeiras. Nas palavras do autor, é uma história para aqueles que têm idade para beber e o azar de precisar trabalhar para poder sobreviver.

Exatamente o oposto do que Jeffery Manley, autor da tirinha ‘Manley Days’, publica em um diário sobre sua vida com a esposa, Alexis. Os instantâneos do cotidiano do casal permitem que possamos mergulhar nos pequenos detalhes do seu dia e compartilhar a primeira vez que vêem o bebê pelo ultrassom, seus primeiros chutes e o sofrimento de Alexis quando sabe da morte do avô. Silas West Manley nasceu 19 de julho de 2005, pesando pouco mais de quatro quilos, para a alegria dos Manley e de todos os que acompanharam todos os momentos da gravidez.

Um dos fãs de Manley é Tan Reymond, que sempre se considerou uma pessoa irrequieta. Quando percebeu o potencial da Internet, começou a publicar páginas de seu caderno de rascunhos como uma forma de diário digital, usando imagens no lugar de palavras. Aos poucos, as narrativas começaram a se distanciar de suas experiências pessoais, tornando-se mais e mais ficcionais. Nasceu, assim, ‘Carbon Marrow Comics’.

Morador de Selangor, na Malásia, ele começou a se aventurar no meio dos quadrinhos produzindo revistas em cópias xerox que distribuía entre parentes, amigos e conhecidos. O objetivo inicial era apenas impressionar garotas e fazer piadas com amigos, os únicos que ele realmente alcançava com seu trabalho. Quando saltou para a Internet, percebeu novas exigências de linguagem linguagem. ‘Ao fazer quadrinhos na Internet, tudo que você tem é sua caneta, seu computador e sua cabeça. Você pode desenhar e escrever exatamente o que você pensa, sem se preocupar demais com o que os outros vão pensar’, diz Tan. ‘A Internet ensina você a deixar os quadrinhos falarem por conta própria.’

É o que pensa também Andrew Haentjens, autor de ‘Mind of Marla’. As histórias que publica são fragmentos da imaginação de Marla, personagem criada por ele. E sua imaginação é sombria, povoada por prostitutas viciadas que matam para sobreviver, o vermelho do sangue se destacando dos traços em preto-e-branco. Aspirante a cineasta, ele aproveitou as idéias para um curta-metragem e escreveu sua primeira história em quadrinhos, inspirada na obra de Frank Miller, criador de ‘Sin City’, recentemente transformado em um filme de grande sucesso.

Andrew chegou a procurar um jornal de sua cidade na Bélgica para oferecer as histórias em quadrinhos de Marla, mas histórias sombrias e violentas não era o que os editores estavam procurando. ‘Através da Internet, posso escrever e desenhar quadrinhos do meu próprio jeito, e alcançar a maior audiência possível’, conta Andrew. ‘A reação das pessoas ao ler minhas histórias é toda a recompensa que eu espero. Não tenho nenhuma pretensão de ganhar dinheiro com minha criação.’

O Brasil também tem seus representantes na comunidade dos quadrinhos online, como Alberto Pessoa. Ele acredita que a Internet abriga hoje os principais nomes da vanguarda dos quadrinhos. O fato de criador e editor serem a mesma pessoa, os recursos ilimitados de páginas, a colorização e o acesso imediato ao leitor explicam o sucesso, segundo ele. ‘A independência criativa resulta em possibilidades concretas de pesquisa e em novos caminhos para roteiros, desenhos, design, o que garante a renovação deste meio que estava engessado por fórmulas pré-estabelecidas’, diz o autor de ‘Apenas um Desenhista Latino Americano’, em que fala sobre amores e faz piadas do dia-a-dia de um desenhista.

Este paulista de 26 anos acredita que as histórias em quadrinhos podem ter um papel fundamental na formação dos jovens. Ele realiza um trabalho voluntário em uma escola pública de São Paulo, o Projeto Mamute, que reúne alunos de 12 a 30 anos. São aulas de desenho e produção de quadrinhos que buscam estimular o senso crítico e a reflexão. ‘Quando o aluno reflete sobre o que desenhar, personagem, cenário, ação, está estimulando o caráter crítico e descritivo de um pensamento.’’



TECNOLOGIA
Ethevaldo Siqueira

‘Software 3D revoluciona Grupo Dedini’, copyright O Estado de S. Paulo, 31/07/05

‘Os projetos assistidos por computador têm tido papel decisivo na evolução da indústria mecânica e metalúrgica em todo o mundo. Nesse processo de informatização, o passo mais avançado é o uso de softwares de simulação tridimensional. Exemplo brasileiro dessa tendência é a decisão do Grupo Dedini de adotar o SolidWorks 3D como software padrão para o desenvolvimento de seus projetos mecânicos.

É bom lembrar que os softwares tridimensionais revolucionaram os sistemas de CAD-CAM (de Computer-Aided Design e Computer-Aided Manufacturing), permitindo significativo avanço na qualidade e na produtividade da indústria mecânica, não apenas na fase de projeto como nas de fabricação de peças e de montagem de estruturas de quaisquer dimensões. Com o uso do SolidWorks 3D, incorporam-se aos projetos computadorizados todos os recursos de visualização do desenho em três dimensões (3D), mesmo em PCs de mesa.

Para melhor compreender esse avanço no Brasil, vale a pena colher o testemunho da Dedini Indústrias de Base, de Piracicaba, que produz e exporta equipamentos e plantas completas de cervejarias, energia, sucos e fertilizantes, peças fundidas, papel e celulose.

As usinas que esse grupo forneceu são responsáveis pela produção de 80% do álcool no País. Seus diretores lembram que a empresa nasceu em 1920 de uma pequena oficina para consertar carroças e ferramentas agrícolas.

META: QUALIDADE

Para a Dedini, tomar a decisão de adotar um software tridimensional foi um longo processo de análise, em especial porque sua introdução teria que ser feita gradualmente, em paralelo com o uso de outras tecnologias adotadas tradicionalmente em seus projetos.

Mas as grandes vantagens do software 3D acabaram convencendo a empresa a implantar a nova tecnologia, que torna tudo mais fácil e mais preciso, inclusive no tocante à complexidade das montagens e instalações, permitindo não apenas a visualização mais rápida e correta do labirinto de tubulações, como também maior precisão nas dimensões de todas as peças a serem produzidas.

Outro objetivo era dispor de novas técnicas que assegurassem melhor relação custo/benefício e eliminassem a maioria dos problemas de montagem de campo, decorrentes da grande diversidade de especificações de seus clientes.

‘Diante dessas exigências – diz o superintendente Sergio Barreira, da área de inoxidáveis da Dedini – o grupo industrial se convenceu da necessidade de ferramentas mais avançadas.’

Nesse processo, a Dedini está modernizando seu parque de informática, com a aquisição de novos servidores, computadores desktop e ferramentas do chamado planejamento de recursos empresariais (Enterprise Resources Planning ou ERP), além de criar novas parcerias no segmento de comunicação de dados e voz.

Nesse projeto de informatização, a empresa investe 5% de seu faturamento, superior a R$ 400 milhões.

Introduzir novos métodos e tecnologias é algo que exige planejamento e precisa ser testado com segurança em qualquer grande empresa. Assim também foi feito na Dedini, a partir de um projeto-piloto para conhecimento e preparação dos profissionais que agora operam o SolidWorks 3D, adotado como software padrão.

Segundo o gerente de tecnologia da informação Donato Penatti, as etapas que antecederam a introdução das inovações foram desde a apresentação da solução, execução do projeto-piloto e avaliação da nova realidade, por engenheiros e projetistas, no tocante à cobertura de necessidades, facilidade de operação, assistência e suporte técnico, visitas à SolidWorks, na sua condição de fornecedor dessas ferramentas, ouvindo os clientes dessa empresa e avaliando as situações de uso efetivo dos softwares, além de estudar questões econômico-financeiras, como preço e relação custo-benefício.

A empresa optou pela SolidWorks após a inauguração da primeira estação de biodiesel a partir de ácidos graxos do Brasil, em Belém do Pará. ‘Ficou evidente – explica Penatti – que, com o software 3D, poderíamos assegurar maior precisão aos projetos, o que garante menor número de devolução de tubos e outros materiais.’

A estação de biodiesel brasileira foi fornecida pela Dedini em abril, ao Grupo Agropalma, de Belém, com tecnologia desenvolvida pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. A usina pode produzir 8,5 milhões de litros de biodiesel por ano, utilizando como matéria prima o óleo de palma.

O DESAFIO HUMANO

As próximas etapas incluem a obtenção de maior produtividade das diversas engenharias, a redução do tempo de elaboração dos produtos e dos gastos com retrabalho, utilizando-se a simulação do processo de montagem em campo, ainda durante a fase de projeto.

Não se pode minimizar também o desafio do desenvolvimento e do treinamento das equipes de projetistas. É toda uma nova cultura profissional e industrial que se introduz, nesse processo de modernização do grupo brasileiro.

Um dos exemplos de resultado direto desses avanços foi o fornecimento de uma cervejaria inteira para Ambev, na República Dominicana, cuja montagem alcançou grau máximo de precisão, eliminando totalmente as perdas de tubulações e outros materiais.’



O Estado de S. Paulo

‘HP aposta em PC barato e planeja voltar ao varejo’, copyright O Estado de S. Paulo, 31/07/05

‘Com o corte de impostos sobre computadores trazido pela MP do Bem, fabricantes internacionais preparam a volta ao varejo. A americana HP, que nos últimos anos esteve voltada para o mercado corporativo, quer lançar sua linha de micros para residências, com baixo custo, até o começo do próximo ano. Hoje, sua oferta no varejo está limitada às linhas de imagem e portáteis. A chinesa Lenovo, que comprou a divisão de PCs da IBM, também traça planos de voltar a oferecer computadores de mesa para residências.

‘Trabalhamos em toda uma linha de produtos para o varejo’, afirmou a vice-presidente de Computação Pessoal da HP, Cristina Palmaka. Ela não se limita ao modelo definido pelo governo no programa Computador para Todos, antes chamado de PC Conectado.

Enquanto isso, a empresa lança o seu modelo mais barato de computador, voltado para o mercado de pequenas e microempresas, com preço de R$ 1.339, sem monitor. Com processador Intel, o micro não tem drive de CD-ROM. Trata-se do primeiro modelo criado pela HP no País. O sistema operacional é o FreeDOS, compatível com o antigo software da Microsoft. ‘O trabalho começou em maio do ano passado’, disse Cristina. Antes do lançamento, a máquina mais barata da HP custava 15% mais.

Os computadores cinzas, montados com peças contrabandeadas, respondem por 75% do mercado brasileiro. É a eles que a HP quer fazer frente, sem perder qualidade. A etapa de desenvolvimento de seu PC barato incluiu cerca de três meses de visitas à Rua Santa Ifigênia, centro de São Paulo, que concentra muitos montadores de PC, para conhecer o mercado e comparar preços.’



RÁDIO / JABÁ
Thiago Ney

‘Pagamento de ‘jabá’ deve persistir no país’, copyright Folha de S. Paulo, 30/07/05

‘No início da semana, um promotor de Nova York ganhou disputa judicial contra a Sony BMG, e a gravadora foi obrigada a pagar US$ 10 milhões (R$ 24 milhões) de indenização por ter oferecido somas financeiras a DJs e programadores de rádios para ter músicas de seus artistas veiculadas. Em bom português, pagava jabá. Comemorado em princípio, o resultado não deve, porém, ter resultados práticos nem lá nem aqui.

Essa é, pelo menos, a opinião de gente ouvida pela Folha. ‘Nos EUA já houve ações como essa nos anos 50, nos anos 60 e em meados dos anos 80. Nunca conseguiram acabar com o jabá. Não encontro elementos que me façam acreditar que isso será erradicado por causa dessa multa’, disse João Marcello Bôscoli, presidente da gravadora Trama.

‘Não é uma vitória contra o jabá, apenas um referencial’, afirma o cantor Lobão. ‘É um bom momento para que a opinião pública discuta os prejuízos que isso causa à formação musical.’

O problema é antigo no Brasil -há quem diga que a partir dos anos 60 programadores de rádios começaram a receber para tocar determinadas músicas. Em 2003, o deputado Fernando Ferro (PT-PE) levou ao Congresso projeto de criminalização da prática do jabá. A proposta está parada.

‘É um assunto tabu nesse meio. A lei pode até não resolver completamente o problema, mas criará empecilhos para aqueles que praticam isso de forma escancarada’, afirmou o deputado.

Atualmente, o jabá está maquiado e foi institucionalizado como ‘verbas de promoção’: as gravadoras compram espaço publicitário nas rádios e, em troca, têm seus artistas veiculados. ‘Isso é criminoso. É venda de espaço público’, indigna-se Lobão. ‘Estão tentando moralizar o jabá. O Brasil é o país do jabá. O ‘mensalão’ é um grande jabazão…’

Para Bôscoli, a prática poderia ser mais ‘transparente’. ‘As gravadoras estão com menos grana, então o dinheiro de promoção diminuiu muito. Não é a solução, mas seria mais transparente se o locutor anunciasse: ‘Você está ouvindo essa música como patrocínio da gravadora tal’.’

Segundo pessoas ligadas a rádios ouvidas pela Folha e que não quiseram se identificar, quase 90% das músicas novas têm que ter algum investimento de suas gravadoras para serem tocadas.

Em reportagem publicada na última quinta-feira pelo ‘New York Times’ executivos de selos independentes afirmam que o esquema do jabá deve persistir devido à enorme estrutura que cerca as gravadoras grandes. Há casos de empresas que pagam pessoas para ligarem às rádios e pedirem canções como se fossem ouvintes.’