Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Joost aposta em fusão 
da TV com a internet


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de abril de 2007


TV & WEB
Alexandre Matias


Joost quer fundir TV e internet. Tem bala?


‘‘TV em qualquer lugar, a qualquer hora.’ Este é o slogan do Joost, que começa oficialmente a caminhar a trilha que transforma o hype em um sucesso neste mês de abril. O software, desenvolvido pelos suecos Niklas Zennström e Janus Friis (a mesma dupla que criou o Kazaa e o Skype), aos poucos deixa de ser uma aposta quente entre os novos nomes para 2007 para ter seu batismo de fogo.


O programa ainda se encontra em fase de testes e não anunciou sua data oficial de lançamento, mas, desde a semana passada, quem já havia se cadastrado no site para participar dessa fase beta recebeu um email que dá acesso ao download do programa. Se você tem interesse em participar também, faça seu pedido agora.


Antes restrito a anunciantes, jornalistas e programadores escolhidos a dedo, o Joost agora passa a aceitar ‘meros mortais’ em sua rede de relacionamentos. E quem já está lá dentro pode convidar conhecidos para entrar na brincadeira. O número de convites é proporcional ao tempo de uso do programa.


Ou seja, o Joost começa a investir na expansão da comunidade, o que será fundamental para o negócio dar certo. Porque, apesar de se vender como a televisão do futuro, o programa é parente direto de redes sociais online como Orkut e MySpace. E filho da lógica das redes P2P (‘peer-to-peer’), que deu origem ao Napster e instaurou a atual crise no modelo econômico inventado pela indústria de entretenimento no século 20.


Desde fevereiro deste ano, o Joost (cuja pronúncia original é ‘iúst’) tem gerado muita expectativa como o próximo capítulo na fusão entre a TV e a internet. 2006 foi o ano do YouTube; 2007 promete ser o ano do Joost. Será?


Para responder (ou pelo menos tentar responder) a essa pergunta, é importante entender as diferenças entre os dois.


A primeira delas é que, ao contrário do YouTube, o Joost não permite que os usuários uploadem seus próprios conteúdos. Isso pode afastar pessoas que curtem justamente colocar seus vídeos para mostrá-los ao mundo. Mas protege o Joost de uma avalanche de produções caseiras e conteúdo de baixa qualidade e evita exposição a infrações de direito autoral.


Mas a diferença mais significativa é que o YouTube é um site da web (www), acessado via um navegador tradicional (Internet Explorer, Firefox, etc). Já o Joost é um programa que usa a internet para criar sua própria rede, como o MSN, o Skype ou vários jogos online.


Essa rede é formada justamente pelos usuários do programa, que compartilham suas bandas de conexão à internet. Quanto mais pessoas estiverem assistindo a determinado programa, melhor a qualidade e a velocidade da transmissão.


Mesmo sem ainda ter um grande número de usuários (a empresa não revela o número atual), no teste realizado pelo Link nesta semana a qualidade do vídeo, exibido em tela cheia, foi boa, com pequenos tropeços de ‘buffering’ (aquelas irritantes pausas na transmissão em ‘streaming’).


No Joost, os conteúdos dos diferentes canais podem ser acessados de forma não-linear. Basta escolher o canal e o programa e começar a assistir, interrompendo-o e voltando a assistir sempre que quiser.


Outro diferencial é uma série de recursos interativos como uma sala de chat para cada canal e programa, na qual as pessoas podem conversar ou deixar comentários. Também é possível avaliar o programa e convidar outras pessoas a assisti-lo.


Ainda não está claro o modelo de negócio do Joost. Por enquanto, há anúncios de 1 segundo antes de alguns vídeos, que têm duração variada. A fase beta é gratuita e ainda não há informação se o serviço será cobrado no futuro.


Essa característica interativa, que aproxima a TV online da TV digital, foi fortalecida pelo Joost na semana passada com a contratação do programador norte-americano Dan Brickley. Ele é o criador de uma linguagem chamada FOAF, que permite a identificação automática de perfis em redes sociais.


Neste primeiro contato, tive a impressão de que o Joost tem condições de ter um papel importante na fusão entre a internet e a TV. Mas daí para a TV do futuro ainda falta muito.


Começa agora, para a indústria do audiovisual (que inclui emissoras de TV, produtoras de vídeo e estúdios de cinema), uma fase semelhante à que começou em 1999 para o mercado da música, com o lançamento do Napster e seus clones. O principal aspecto dessa nova fase é mais cultural do que tecnológico.


Com telas espalhadas por todos os lados (celular, outdoors, elevadores, DVDs portáteis e telas de bolso) já sabemos que a televisão estática na sala de estar aos poucos torna-se um artefato do passado. Mas isso é só o começo.’


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Próximo desafio: criar uma grade mais consistente


‘O principal problema do Joost é sua fraca programação. Depois de resolverem os principais problemas técnicos (a versão beta anterior, a 0.9, apresentava problemas de conexão, resolvidos na atual, 0.92), a empresa transfere o foco para sua programação.


Semana passada, durante o evento MIPTV 2007, que aconteceu em Cannes, na França, o canal anunciou parceria com produtores de conteúdo como Alliance Atlantis, IndieFlix, Shorts International, All3Media, Wall to Wall e September Films, além de apresentar o primeiro canal latino-americano no sistema, o Brazilian Music Channel, parceria da produtora Elo com a gravadora Trama.


Apesar de lançado na semana passada, este canal não pôde ser assistido até o fechamento da edição por problemas técnicos.


Além desses, outros canais que estão no Joost são o MuchMusic canadense, o GameStar (sobre videogames), o Fifth Gear (carros), alguns canais alternativos da MTV e o canal do Guinness, o livro dos recordes.


São pouco mais de 30 canais, com conteúdo ainda restrito. Mas como ainda é fase de testes, é de se supor que isso seja resolvido. Senão, o problema é deles.’


MASSACRE NA VIRGÍNIA
Pedro Doria


E-mail para evitar uma barbárie?


‘O que deveriam ter feito os responsáveis pela universidade Virginia Tech, nos EUA, para evitar mais uma chacina em uma escola norte-americana?


Quando recebeu a notícia de que havia dois mortos em um tiroteio ocorrido em um dormitório, a polícia começou a investigar a hipótese de crime passional. A diretoria da escola enviou então um e-mail para todos os alunos dando conta do ocorrido.


Duas horas depois, a barbárie. As críticas foram severas. Afinal, a Virginia Tech tinha um sistema que lhe permitiria, com esforço mínimo, enviar um SMS para o celular de todos os estudantes.


O correio eletrônico, leu quem abriu o computador naquela manhã – e muitos estavam em aulas do tipo antigo, sem internet. O celular está no bolso de todo mundo. Sempre.


Como alertar quando o risco é iminente? Justiça seja feita: não é trivial imaginar que, após a morte de duas pessoas, um louco homicida vá esperar quase duas horas para concluir seu massacre.


Digamos que o risco fosse calculado: como avisar uma comunidade, usando toda a tecnologia disponível, de que há alto risco?


Depois do 11 de Setembro, o governo dos EUA desenvolveu um sistema de alerta nacional. Há um padrão de cores, que vai do amarelo ao laranja ao vermelho, com base em informações à disposição das agências de espionagem. Se o alerta é alto, vai a laranja. Se é máximo, vermelho. A toda hora, as TVs informam a cor do dia. Um website disponibiliza a informação para quem quiser.


O resultado é como a fábula de Esopo, na qual o menino sempre grita que há um lobo atacando seu rebanho. No dia em que há um de fato, ninguém acode. Um sistema ideal de alertas, pois, tem de ser muito pouco utilizado.


Universidades e escolas, nos EUA, costumam ter um sistema integrado de áudio, com caixas de som espalhadas pelos corredores e pelas salas. Se é o caso da Virginia Tech, talvez devessem ter usado.


A própria existência de um sistema integrado de envio de mensagens SMS é fascinante. Não tem nada de complexo. Basta que estudantes, professores e demais funcionários inscrevam seus números em um banco de dados central. Se as operadoras de celular tiverem sistemas ligados à web, coisa comum nos EUA, é só interligar.


Cho Seung-Hui, o assassino de Virginia Tech, cometeu o maior massacre em câmpus de escola ou universidade da história dos EUA.


Se a diretoria tivesse noção do que estava para ocorrer, o e-mail seria, provavelmente, a pior maneira de avisar as vítimas em potencial. Ele é lido com desatenção, há muito spam, quando se responde é com um tamborilar de teclado – rápido, instantâneo. Internet tem disso.


Foi também utilizando tecnologia que Cho se comunicou. Entre o primeiro e o segundo tempo de sua ação criminosa, despachou vídeos e fotos de protesto para a rede NBC de televisão.


É uma decisão curiosa. Por que não pôr no YouTube? Por que não criar um blog? Por que não enviar à NBC por e-mail? A pausa para envelopar, endereçar e despachar arquivos digitais pelo correio é o toque antitecnológico bizarro dada sua idade.


Não que precise ter sentido. Talvez não tenha.


Fato é que o alerta não foi dado. É injusto culpar a diretoria de Virginia Tech ou a polícia. Tantos morreram porque havia um assassino em fúria a solta. Só isso. Tudo isso.’


RÁDIO EDUCATIVA
Simone Iwasso


SP terá rádio educativa para pais, alunos e professores


‘Resultado de uma mudança na abordagem do tema pela Fundação Padre Anchieta, será lançada oficialmente amanhã a Rádio Educação, a primeira do gênero no País voltada para conteúdos da educação escolar para pais, alunos e professores. A rádio será uma nova versão da antiga Cultura AM, que trabalhava com uma programação variada, e terá seu sinal distribuído gratuitamente para todo o território nacional.


Outra iniciativa anunciada no mesmo dia será a criação do Núcleo de Educação da TV Cultura, voltado para produção de conteúdos que ajudem professores e educadores a se preparar para a sala de aula. Serão produzidos programas para televisão e CD para distribuição gratuita nas escolas da rede pública.


‘Consideramos a educação um dos problemas mais graves do País, e a rádio AM tradicionalmente atinge uma população de baixa renda, com poucos acessos. Por isso, decidimos que essa rádio teria seu foco totalmente direcionado para isso’, afirma Marcos Mendonça, diretor-presidente da Fundação Padre Anchieta. ‘O objetivo é criar produtos para o professor, o aluno e o estudante.’


Após entrevista ao Estado, na sexta-feira, Mendonça renunciou ao cargo em favor do jornalista Paulo Markun, que concorre à eleição para a presidência da fundação com indicação do governo.


BOLETINS E RADIONOVELA


A rádio inicialmente terá uma programação das 5 horas à 1 hora. Haverá um jornal com notícias da educação, de acontecimentos atuais e culturais, com três edições diárias; boletins diários mostrando fatos e histórias que acontecem dentro da escola; uma espécie de radionovela ambientada numa instituição de ensino, mostrando situações e dificuldades vivenciadas nesses locais. Além disso, o restante da programação será intercalado com música brasileira.


‘O conteúdo será produzido pela própria rádio, em colaboração com o Núcleo de Educação. Vamos apresentar o projeto e buscar parcerias com várias instituições, queremos contribuições para mantê-la no futuro’, diz Marcos Amazonas, que será responsável pela rádio. O investimento inicial foi de R$ 2 milhões. Amazonas explica que a rádio precisará de cerca de R$ 500 mil mensais para seu funcionamento.


Já o núcleo será coordenado pela professora Guiomar Namo de Mello. ‘Representa uma guinada no enfoque que a fundação tinha para a educação. Agora, um dos eixos principais será o currículo da educação escolar, que exige um pouco mais de foco’, explica. Segundo ela, será um material didático e de simples utilização. ‘O professor vai poder assistir aos programas ou usar o CD no computador. Se ele quer saber o que tem de ser dado em geografia no quinto ano, ou matemática no sexto, ele vai encontrar lá.’


O segundo eixo serão as práticas pedagógicas e o terceiro, a transversalização das disciplinas para ajudar o professor a contextualizar notícias recentes com o conteúdo das disciplinas, por exemplo. ‘Depois dos Parâmetros Curriculares Nacionais, cada rede deveria fazer seu próprio plano curricular, o que, infelizmente, muitas não fizeram. Com isso o professor não sabe o que deve ensinar, quando deve ensinar. Não é nosso papel suprir essa lacuna, mas pretendemos ao menos ajudar, fornecendo orientações didáticas.’’


PUBLICIDADE
Marili Ribeiro


Público interno se torna estratégico para as empresas


‘Cada vez mais as empresas investem em projetos de comunicação para o público interno. Investimento que vem se transformando até em uma espécie de proteção: com as facilidades de divulgação de informações proporcionadas pelas novas tecnologias, as empresas se esforçam para ter funcionários mais comprometidos com suas demandas, para não correr o risco de ver fatos não desejados difundidos no YouTube ou nas redes de relacionamento.


A preocupação cresce tanto que os investimentos em comunicação interna aumentaram, em média, 5% ao ano nos últimos três anos no Brasil. No ano passado somaram cerca de R$ 600 milhões. A estimativa é da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial (Aberje), que acompanha os recursos movimentados pelas 120 maiores empresas nessa área. ‘Para efeito de comparação, nos EUA essa verba já soma US$ 4 bilhões’, diz Paulo Nassar, presidente da entidade.


Grupos como Vale do Rio Doce e Votorantim estão implantando projetos que valorizam a platéia da casa, como conta Nassar. Entre as táticas adotadas, essas companhias apostam na comunicação face a face, em que gerentes assumem o compromisso de passar informações às equipes e envolvê-las nas metas. ‘A proposta é evitar a corrosão da confiança. Tudo acontece com velocidade acelerada, o que pode implicar perda de competitividade’, diz.


‘A comunicação interna era considerada atividade de pouca relevância. Uma espécie de ‘patinho feio’ das empresas. Mas, no cenário de alta competição de organizações que não tiverem colaboradores alinhados com seus objetivos estratégicos correm risco de perder clientes, mercados, reputação, e, pior, ficar fora do jogo’, diz Sérgio Motta Mello, diretor-geral da TV1, empresa que há mais de 20 anos dedica-se à comunicação corporativa. Entre seus clientes estão o Grupo Orsa e a Brasil Telecom.


O ambiente interno passa a ser tão relevante para os negócios quanto a preocupação com as campanhas de publicidade. Processos convencionais, como os jornais murais e intranet, já não bastam. A convivência com a difusão da informação via torpedos e programas de mensagens instantâneas exige transparência e comprometimento. Condição que só se consegue com diálogo.


‘A empresa é um ser vivo e sua marca é o reflexo dessa organização’, diz Dennis Giacometti, diretor da Giacometti Propaganda. ‘A empresa não pode se relacionar apenas através da direção. Clientes e parceiros têm acesso a todo tipo de informação. É fundamental que o ambiente interno seja permeado pelo diálogo para se refletir externamente’.


Giacometti reconhece que esse discurso encontra resistências dentro das corporações porque implica mudança de mentalidade. Mesmo assim, considera vantajoso entrar nesse processo. Dá como exemplo a rede Lojas Marisa, cliente de sua agência, que passa por uma mudança cultural desde 2002, com resultado positivo em sua imagem e vendas.


Na mesma linha de atuação, a agência PeopleMais, dos publicitários Edmundo Monteiro e Sérgio Felício Ribeiro, desenvolve ações para motivar funcionários. Chamado de endomarketing no meio publicitário, busca alavancar a moral das pessoas, reter talentos e turbinar a produtividade.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Canal atiça mercado


‘É estimado em 300, por baixo, o número de contratações para o canal de notícias que a Record pretende colocar no ar no segundo semestre, pela sintonia da Rede Mulher. Isso, só para os estúdios da Barra Funda, em São Paulo. Embora se espere das demais praças a contribuição da estrutura já existente entre filiadas e afiliadas no jornalismo, contratações extras para o novo canal são previsíveis também em Brasília e Rio.


Eis o cenário que tem provocado grandes perspectivas no mercado da concorrência e inflacionado salários para lá e para cá. Há aqueles que contam com isso para melhorar salários, e há, sobretudo, aqueles que contam com providencial mudança de emprego.


De toda forma, no que diz respeito aos profissionais de vídeo, especialmente a turma da bancada de apresentadores, a Record News deverá seguir os mesmos passos de Globo News e Band News: abrir vagas a novos rostos, geralmente localizados em cursos de locução.


No mais, o aproveitamento maior, assim como se dá na Globo e na Band, será da equipe e da estrutura que já produzem conteúdo ao jornalismo da TV aberta. E dá-lhe reprise.


entre-linhas


Herdeira de Silvio Santos que responde pela direção artística do SBT, Daniela Beyrute tem sido insistentemente procurada para dar entrevistas, mas papai, segundo informam os interlocutores dessas solicitações, não quer que ela fale com ninguém.


Por falar em Senor Abravanel, o presidente do Grupo Silvio Santos, Luiz Sebastião Sandoval, casa-se no dia 5 de maio.


Sônia Braga esteve em Buenos Aires para se encontrar com colegas de elenco e visitar os estúdios onde será gravada a versão brasileira da série Desperate Housewives para a RedeTV!. As gravações começam hoje.


Franklin Martins, ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, ocupa hoje o centro do Roda Viva na TV Cultura, às 22h40.


Recém-saído de Amazônia, na Globo, Paulo Nigri é mais um nome em Caminhos do Coração, próxima novela da Record.


Executivos da Televisa fazem nova visita ao SBT nesta quarta-feira. Em pauta, a renovação – ou não – do acordo que prevê a importação das novelas mexicanas pelo SBT.


Romário, Isabel Fillardis e a escritora Claudia Werneck se juntam no programa de Astrid Fontenelle no GNT desta quarta-feira. O tema: ‘Meu filho é diferente’. Às 19 h.


Saiu em DVD a quinta temporada da sitcom Newsradio pela Sony Pictures. Os erros de gravação estão nos extras.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de abril de 2007


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Esquerda e direita


‘Em seu primeiro teste, a France 24, a CNN francesa que se quer tão independente quanto seus modelos, frustrou. Amontoou debates e links anticlimáticos e destacou a ‘participação recorde’, também manchete do Lemonde.fr. O canal se salvou pelos discursos ao vivo de Nicolas Sarkozy e Ségolène Royal, eles, sim, mais modernos e envolventes como personagens de mídia. Royal e a sua claque mostraram entusiasmo. Sarkozy e a sua, um pouco menos. Nas chamadas da France 24, expressões tipo ‘duelo’ e ‘Sarkozy contra Royal’. O blog Seqüências Parisienses, de Luiz Felipe de Alencastro, explica que é ‘um novo embate político na França: à esquerda, a primeira mulher com chance afasta-se do militantismo herdado de maio de 1968; no campo conservador, um líder verdadeiramente de direita, decidido a abandonar o gaullismo social’.


ON-LINE


Sem transmissão por cabo no Brasil, EUA e outros, a France 24 aposta na web, com ‘streaming’ simples e de qualidade -e com três sinais, em francês, inglês e árabe, com âncoras, links e até estúdios diferentes


‘GIGANTES’


Os Brics aparecem de todo lado. A agência americana AP, em seu despacho de Paris, diz que ‘os franceses estão preocupados em perder empregos para China, Índia e Brasil’. No ‘Wall Street Journal’, o artigo de um professor de Chicago diz que ‘a idéia de que os EUA poderiam impor sua concepção de direitos humanos a outros países tem apanhado e apanhará mais, conforme poderes regionais como China, Rússia, Índia, África do Sul e Brasil continuem a crescer e se afirmar’.


Mas é do ‘New York Times’, sob o título ‘Mercados emergentes, gigantes emergentes’, o texto mais paranóico do fim de semana. Abre dizendo que ‘uma nova onda de competição externa começa a irromper na economia dos EUA, de empresas de mercados emergentes como Brasil, Rússia, Índia e China’. Daqui, já no segundo parágrafo, são relacionadas Embraer, Braskem, Embraco e Natura.


NO IRÃ


Enquanto duela com Hugo Chávez, o Itamaraty abre novas frentes. Segundo as agências Irna e Isna, uma missão liderada por Roberto Jaguaribe, o vice de Celso Amorim, ‘defendeu expansão nas relações com o Irã’.


NA NICARÁGUA


De outro lado, outra missão do Itamaraty, comandada por Jorge Taunay, chegou ontem também à Nicarágua para ‘dar seguimento’, no dizer da agência espanhola Efe, aos acordos fechados por ambos -em etanol, por exemplo.


1 CATALUNHA O ‘El País’ destacou, sob foto de floresta derrubada na Amazônia ‘para plantar soja’, que o Brasil ‘perde todo ano o equivalente a uma Catalunha’


SEM FAZER ESCÂNDALO


Para variar, um escândalo em que a internet não dá as cartas. Nem a televisão. Nada daquelas campanhas do ‘Jornal Nacional’, que fechou a semana apostando por dois dias em adulteração de gasolina, ou do ‘Fantástico’. On-line, tem até site jurídico postando que ‘não se sabe’ se o desembargador Roberto Haddad é alvo da operação, mesmo com a apreensão de documentos em seu gabinete. Na blogosfera, Zé Dirceu, com atraso, só reclamou que a oposição barrou a CPI dos Bingos. E a coisa parou por aí. Talvez pela complexidade do caso, que avança a esmo.’


VENEZUELA
Folha de S. Paulo


Chávez não cederá a pressões por canal


‘O presidente venezuelano, Hugo Chávez, afirmou ontem em seu programa, ‘Alô, Presidente’, que não cederá a ‘pressões’ nacionais ou internacionais para renovar a licença de funcionamento do canal RCTV. ‘No dia 27 de maio se acaba a concessão, esqueçam’, afirmou. Funcionários do canal e manifestantes marcharam no sábado contra a medida de Chávez, que consideram ‘inconstitucional’. Chávez acusa a TV de ‘golpista’ por ter apoiado o golpe que o depôs por 48 horas em 2002.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Ibope vai medir audiência de TV nas ruas


‘O Ibope começa a testar no segundo semestre deste ano um aparelho que servirá para medir a audiência das TVs em bares, restaurantes, ambientes de trabalho, veículos e locais públicos. Atualmente, a audiência das TVs é medida apenas em residências (e somente das pessoas que fazem parte da família que mora no local).


A tecnologia foi desenvolvida pelo próprio Ibope, que a batizou de PPM (Portable People Meter). Trata-se de um aparelho semelhante a um telefone celular, pelo qual o telespectador participante da amostra do Ibope informará ao instituto em qual canal está sintonizado, esteja ele trabalhando, em casa ou visitando um parente.


Dora Câmara, diretora comercial do Ibope Mídia, enfatiza que o instituto não irá medir especificamente a audiência de locais públicos, mas de indivíduos fora de seus domicílios.


O PPM deverá acabar com uma antiga reclamação contra o Ibope, a da falta de medição de audiência em eventos como Copa do Mundo e Olimpíada, em que muita gente assiste às competições em praças, no trabalho ou na casa de amigos.


O aparelho tende a se tornar mais útil ainda porque, como advento da TV digital, no final do ano, será possível assistir à televisão em telefones celulares e em veículos em movimento. Ainda não há previsão de quando os PPMs começarão a fazer parte das medições oficiais do Ibope.


FERA FERIDA Em meio a uma crise sentimental, Aguinaldo Silva vem escrevendo as primeiras cenas de ‘Duas Caras’, próxima novela das oito, com estréia marcada para 8 de outubro. O autor já cogitou pedir demissão da Globo e abandonar tudo. Mas, para alívio de dezenas de profissionais que dependem dele, o primeiro capítulo ficou pronto na semana passada.


DECURSO DE PRAZOO Ministério da Justiça reclassificou na semana passada o programa ‘Gordo Freak Show’, da MTV. A atração, antes liberada para as 20h (12 anos), foi enquadrada às 22h (16 anos) por conter agressões físicas e verbais e é ‘descrições pormenorizadas do consumo de drogas’. O problema é que o ‘Freak Show’ saiu do ar em dezembro e não volta mais.


PAPA-ANJOA jornalista Marília Gabriela vai entrevistar para seu programa no GNT, no próximo dia 9, a apresentadora Ana Maria Braga. Na pauta, mulheres que se casam com homens bem mais jovens do que elas, assunto que as duas dominam.


RECURSO 1O Ecad (órgão que recolhe direitos autorais musicais) vai recorrer ao STJ (Superior Tribunal de Justiça) contra decisão do Tribunal de Justiça do RJ que anulou sentença de primeira instância que obrigava a Globo a pagar anualmente ao órgão 2,5% de seu faturamento, o que daria mais de R$ 100 milhões.


RECURSO 2 A Globo informa que paga atualmente ao Ecad R$ 40 milhões por ano (e não R$ 6 mi, como disse semana passada).’


TELEVISÃO
Bruno Segadilha


MTV estréia jogo de perguntas sem graça


‘Em seu projeto de mudança, a MTV resolveu reduzir o espaço para os clipes. Agora parece querer investir cada vez mais em programas de auditório e games voltados ao público adolescente.


Nada mais chato. Não pelo gênero em si, que até pode ser divertido, mas pela forma como esses programas vêm sendo produzidos no canal. Uma prova disso é a estréia de ‘Invasão MTV’, hoje, às 19h.


No programa, Penélope Nova comanda um jogo pra lá de sem graça, em que os participantes devem girar uma roleta (sim, igual àquela do Silvio Santos) e responder a perguntas sobre o mundo pop e sobre o próprio canal. No final, eles podem levar prêmios como camisetas e agendas, além de kits com CDs e DVDs.


A VJ é uma apresentadora espirituosa, tem jogo de cintura, e suas tiradas acabam sendo a melhor coisa da atração. Por outro lado, ela não parece ter muito jeito para esse tipo de formato -pelo menos é o que mostra neste primeiro programa. Sem o ‘timing’ de um bom mediador, a competição fica arrastada, os participantes não se empolgam com o jogo, e, a partir de um certo ponto, começamos a sentir um certo constrangimento no ar, uma vontade de que aquilo acabe logo. Uma pena, a idéia é interessante e foi bem-sucedida em outros canais.


INVASÃO MTV Quando: hoje, às 19h Onde: MTV’


MASSACRE NA VIRGÍNIA
Nelson Ascher


Lições de Virginia Tech


‘Terça-feira passada , Cho Seung-hui, estudante sul-coreano de 23 anos, cuja família se estabelecera em 1992 nos EUA, matou a tiros, entre colegas e professores, 32 pessoas no Instituto Politécnico da Virgínia (Virginia Tech), onde estudava Letras. Por que o rapaz, armado com duas pistolas que adquirira, perpetrou esse massacre e como isso foi possível?


A resposta é simples, óbvia e só não a aceitam aqueles que se deixaram voluntariamente cegar por algum tipo de propaganda maliciosa.


É fácil adquirir armas de fogo nos Estados Unidos, bem mais do que na Europa e no Brasil. Armas, como se sabe, matam (como, aliás, caminhões cheios de fertilizante, bombas caseiras, facões etc.). Um homicida atacadista sempre vai dispor ali das ferramentas necessárias para realizar seu trabalho. Além disso, como na Virginia Tech as armas eram rigorosamente proibidas, nenhuma das vítimas potenciais dispunha dos meios para se defender de alguém disposto a transgredir as leis e as normas locais. Caso algum estudante estivesse armado, ele poderia ter parado o assassino.


As escolas e universidades norte-americanas são competitivas, voltadas para o mercado. Os alunos são, desde cedo, qualificados como ‘winners’ (vencedores) ou ‘losers’ (perdedores), e estes últimos amargam o desprezo, seja das instituições, seja dos colegas. A pressão é insuportável e, hora dessas, a corda arrebenta. Convém mencionar também que, nos EUA, os universitários são crianças mimadas que, não mais submetidas à disciplina e às exigências rigorosas de antigamente, vivem numa redoma artificial de bem-estar na qual os administradores fazem de tudo para que ninguém se sinta diminuído diante dos outros. Os sentimentos de todas as minorias, de quem quer que tenha uma reclamação, são protegidos pela imposição da correção política e, portanto, os jovens nunca estão preparados para enfrentar o mundo real.


Como a sociedade mais injusta, imperialista, militarista e violenta que já existiu, a americana é o caldo de cultura da violência individual, violência esta encorajada pelos meios de comunicação, videogames e pela ideologia do país. Jovens facilmente influenciáveis absorvem os valores oficiais e cometem barbaridades. Além disso, as instituições de ensino superior são verdadeiros centros de doutrinação anticapitalista e antiamericana, nos quais a democracia local é retratada como uma tirania. Professores, inclusive os de Letras, falam de culpa coletiva e pregam a destruição revolucionária do sistema. Alunos facilmente influenciáveis ouvem esse blábláblá e tomam a justiça nas próprias mãos.


Vale a pena acrescentar razões suplementares para o massacre. A guerra do Iraque, que legitimou a violência. Os protestos contra a guerra do Iraque, que indispuseram os americanos entre si. A repressão sexual, que canaliza a testosterona rumo a opções perigosas. A licença sexual, que leva aqueles que não se dão muito bem neste jogo a se tornarem rancorosos e vingativos. A discriminação de que são vítimas os imigrantes. O excesso de imigração, que não dá tempo aos recém-chegados de se adaptarem à cultura local. A miséria e a fome. A opulência e a obesidade. O aquecimento global.


E quanto a Cho Seung-hui? Ele, afinal, era o verdadeiro culpado. Ele era, afinal, a vítima principal. Cho era um narcisista que queria aparecer. Cho era um introvertido que queria desaparecer. Ele era um maluco anti-social cujos próprios colegas previam que certo dia faria uma dessas. Era um rapaz normal, enlouquecido por um ambiente cruel e predatório. Era um herói, um mártir corajoso que, com seu sacrifício, ajudou a punir uma sociedade injusta.


Todas as explicações acima e muitas outras, às vezes em combinações complexas, podem ser achadas na imprensa, na internet, na mídia em geral. Alguma faz sentido? Talvez. Todas juntas? Só numa multiplicidade de universos paralelos. Se há pouco de sério a dizer sobre Cho e o massacre, a variedade quase infinita de enfoques e interpretações aponta, porém, para algo interessante.


Poucas coisas despertam tanto a curiosidade humana como o crime, principalmente os assassinatos em massa, os hediondos e os inexplicáveis. Cada indivíduo ou grupo os interpreta de maneira a que façam sentido na sua visão mais ampla de mundo, mas de modo também a que não a refutem nem contradigam. Como o mistério mais fascinante neste vale de lágrimas, nada revela tão bem as crenças e a ideologia de uma pessoa quanto o modo segundo o qual ele ou ela busca explicar a criminalidade em geral e, em particular, o homicídio.’


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