Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Jorge Martins e Célia Costa


‘Depois de 16 horas de julgamento no I Tribunal do Júri, o traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, foi condenado ontem de madrugada a 28 anos e seis meses de reclusão em regime fechado, além do pagamento de uma multa de R$ 3.600, pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, por formação de quadrilha e por ocultação de cadáver. O crime aconteceu há três anos, no Complexo do Alemão. Por cinco votos a dois, os jurados decidiram pela condenação do bandido por homicídio após se reunirem por 35 minutos. Os advogados de Elias disseram que já recorreram da decisão.


A leitura da sentença foi acompanhada em silêncio e com grande expectativa pela família do jornalista e por estudantes de direito. O juiz Fábio Uchôa Pinto de Miranda Montenegro ressaltou que Elias é muito perigoso e que, como chefe do tráfico no Complexo do Alemão, exercia ‘o poder com indizível violência’. O réu, também segundo o magistrado, ‘demonstra ainda possuir personalidade voltada exclusivamente para a prática criminosa, associando-se a uma famigerada facção’ que controla grande parte dos bandidos dentro e fora das prisões.


Irmã de Tim Lopes: foi feita justiça


Elias foi condenado a 19 anos e seis meses por homicídio; a três anos e pagamento de multa por ocultação de cadáver; e a seis anos por formação de quadrilha.


A viúva de Tim Lopes, Alessandra Wagner, que assistiu ao julgamento em silêncio, deixou o tribunal após ouvir a sentença sem falar com os jornalistas. Tânia Lopes, irmã do jornalista, disse que o julgamento foi satisfatório e que a justiça foi feita. Ele elogiou ainda a atuação da promotora Viviane Tavares Henriques, agradecendo o desempenho dela:


– Agora, posso ir para casa e dizer à minha mãe que o assassino de meu irmão foi condenado e ficará preso.


Os advogados José Maurício Levine e Célio Maciel, que defenderam Elias Maluco, disseram que a decisão da Justiça foi bastante severa.


Durante o julgamento, a réplica e a tréplica foram marcadas por debates intensos. Diante das interrupções da representante do Ministério Público, o juiz ameaçou suspender o julgamento caso elas continuassem. As críticas da promotora começaram após ouvir os defensores de Elias Maluco, que a todo instante tentavam provar sua inocência no caso.


Os advogados disseram ainda que há falhas no inquérito. Segundo eles, houve pressão de todos os lados e os policiais, na pressa para concluir a investigação, deixaram lacunas. No processo, Elias Maluco alegou que não é traficante e sim pintor de carros. A alegação do bandido fez com que a promotora Viviane Tavares, durante o julgamento, o classificasse como um verdadeiro ‘cara-de-pau’.


– Ele deve estar achando que na nossa testa está escrita a palavra ‘palhaço’.’



***


‘Para colegas, uma resposta à sociedade’, copyright O Globo, 26/05/05


‘A resposta à sociedade foi dada três anos após a morte de Tim Lopes. Foi assim que amigos da vítima e entidades que representam jornalistas classificaram a sentença. Para eles, a condenação diminui a sensação de impunidade. Segundo Nacif Elias, da Comissão Tim Lopes, criada pelo Sindicato dos Jornalistas para acompanhar as investigações do caso, a esperança agora é que os outros seis acusados do crime, cujo julgamento está previsto para dentro de 15 dias, também sejam condenados.


O presidente do Sindicato dos Jornalistas, Aziz Filho, disse que a justiça foi feita:


– A Justiça cumpriu seu papel, reforçando o combate à tirania dos bandidos que ameaçam a cidadania nos territórios que ocupam.


Nem os advogados do traficante acreditavam na absolvição. Célio Maciel afirmou que esperava um placar de 7 a zero, além de uma condenação muito maior para seu cliente.


– A defesa também sofreu com a família de Tim Lopes – disse Célio.’



Roberta Pennafort


‘Elias Maluco pega 28 anos’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/05/05


‘A poucos dias do 3.º aniversário de morte do jornalista Tim Lopes, o homem que determinou sua execução foi condenado pelo 1.º Tribunal do Júri a 28 anos e 6 meses de prisão. O traficante Elias Pereira da Silva, o Elias Maluco, deverá cumprir a sentença em regime fechado. A pena é pelos crimes de homicídio, ocultação de cadáver e formação de quadrilha. Os advogados do criminoso já recorreram da decisão.


Os sete jurados, cinco mulheres e dois homens, ficaram convencidos de que o assassinato foi praticado por motivo fútil, por meio cruel e com recurso que impossibilitou a defesa da vítima, o que configurou o homicídio triplamente qualificado.


A promotora Viviane Henriques argumentou que Elias teve o direito a ‘um julgamento justo, conforme manda a nossa Constituição, com direito à defesa, exatamente o contrário do que fez com a vítima, a quem julgou e executou de uma forma terrível’. Ela mostrou aos jurados a espada com que Elias fez um corte no tórax de Tim.


O advogado José Maurício Neville admitiu, durante a sessão – acompanhada por cerca de 300 pessoas, entre jornalistas e estudantes de Direito -, que seu cliente é traficante de drogas, apesar de Elias ter se declarado pintor de automóveis diante do juiz Fábio Uchôa. ‘Ele é traficante, mas não matou Tim Lopes’, disse.


‘Esse homem não é tudo o que falam. Ele não cometeu esse crime e não deveria estar sentado aqui’, alegou outro advogado de Elias, Célio de Carvalho Maciel. Segundo ele, o traficante estava ‘emocionalmente abalado’. ‘Ele acabou de se casar (no dia 20, em Bangu 1) e até as fotos do casamento lhe foram negadas.’


Os argumentos não convenceram os jurados, que decidiram pela condenação por 5 votos a 2, no caso do homicídio (pena de 19 anos e 6 meses de prisão), 4 a 3, por ocultação de cadáver (3 anos e pagamento de multa equivalente a R$ 3.600), e 6 a 1, pela formação de quadrilha (6 anos). Após passar o tempo todo de cabeça baixa, Elias a levantou para ouvir a sentença. E não mudou a expressão ao saber da condenação.


SATISFATÓRIO


Para Tânia Lopes, irmã de Tim, o julgamento foi ‘satisfatório’. ‘A justiça foi feita. Estou indo para casa para levar a notícia à minha mãe.’ Ela acompanhou o julgamento, assim como a viúva, Alessandra Wagner, que não fez comentários.


Nacif Elias, da Comissão Tim Lopes, formada pelo Sindicato dos Jornalistas do Rio para acompanhar o caso, espera que a sentença seja cumprida. ‘A gente queria uma pena mais severa, mas não discutimos uma decisão da Justiça. Agora ele tem de cumprir os 28 anos e 6 meses, sem ter benefícios, assim como todos os outros.’ No dia 14, serão julgados outros seis traficantes do bando de Elias que participaram do crime.’



INCLUSÃO DIGITAL


Luís Nassif


‘O caso do PC Conectado’, copyright Folha de S. Paulo, 26/05/05


‘Há certa confusão nas críticas feitas ao programa PC Conectado, pelo fato de exigir apenas softwares livres no computador. Alega-se que, como o Windows é o sistema operacional hegemônico nos computadores pessoais, os ‘incluídos’ do software livre seriam os ‘excluídos’ do sistema predominante.


Não é bem assim. Há dois tipos de público: o profissional e o usuário individual. Qualquer política de desenvolvimento de software no país precisa contemplar não apenas o livre mas os sistemas e programas mais utilizados no mundo, como Windows, Oracle, SAP etc.


Quantos aos usuários individuais -especialmente os que irão adquirir o primeiro computador-, precisarão, no básico, de um editor de texto e de uma planilha, um navegador para a internet e um programa de e-mails. Adicionalmente, programas de apresentação e bancos de dados, softwares que rodem programas de áudio e vídeo.


Só que, no reino do software livre, todas essas ferramentas ‘office’ viraram commodities, com similares à altura dos originais. Existe o OpenOffice, que emula todos os comandos do Microsoft Office. O acesso ao OpenOffice habilita o usuário não apenas a dominar o OpenOffice como os aplicativos do Microsoft Office. E de graça.


Mas é importante que o PC Conectado não se transforme apenas em um distribuidor de aplicativos. Tem que servir de base para uma política de modelagem do negócio de software livre.


Esse pessoal trabalha de duas maneiras: ou sistemas próprios, em cima de plataformas livres e abertas, ou na integração de aplicativos de software livre. Ainda há muita dificuldade em definir o modelo de negócio -que lhes permitirá se profissionalizar, ganhar dinheiro e crescer.


O primeiro passo é definir um padrão de Linux único a ser utilizado. Embora seja um sistema aberto, nos últimos anos surgiu um modelo torto de negócio, de distribuidoras de Linux operando com a cabeça de software proprietário, compilando programas apenas para seu próprio ambiente. Há que colocar ordem nessa zorra.


O segundo ponto consiste em definir o negócio do pequeno desenvolvedor. Um modelo de negócio é o de prover serviços de atualização dos aplicativos e de assistência técnica remota. O sucesso do programa, aliás, dependerá da capacidade permanente de atualização dos sistemas e aplicativos.


Outro ponto relevante é estimular sistemas de rede que permitam economizar hardware e integrar comunidades, especialmente a escola pública. O Ministério da Educação pode ter, aí, a chance de implantar definitivamente as bibliotecas virtuais e outras possibilidades abertas pela inclusão digital.’