Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornais destacam início da
propaganda eleitoral gratuita


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 15 de agosto de 2006


ELEIÇÕES 2006
Dora Kramer


Agora vai. Ou racha


‘Começa nesta semana, com os debates e a propaganda eleitoral diária no rádio e na televisão, o período decisivo da campanha eleitoral às eleições presidenciais – a quinta desde a redemocratização do País, há 21 anos, e a segunda sob o instituto da reeleição, introduzido na política brasileira em 1997 para dar ao então presidente Fernando Henrique Cardoso a chance de um segundo mandato.


Embora sejam 45 os dias disponíveis para os candidatos mostrarem ao que pretendem vir, a impressão deixada pelos primeiros será essencial para indicar se o presidente Luiz Inácio da Silva terá competidores de verdade no dia 1° de outubro ou se os que se apresentam como adversários serão meros coadjuvantes de um processo de homologação ao favoritismo até agora expresso nas pesquisas pela reeleição.


Cada qual terá um papel específico a cumprir. Geraldo Alckmin tem a missão mais difícil: tornar-se conhecido, conquistar a simpatia do eleitor, convencê-lo de que é uma alternativa viável de poder e, dessa forma, conseguir chegar ao segundo turno.


Heloísa Helena vai precisar mostrar se é candidata para valer ou se é apenas uma coqueluche passageira. Tem a desvantagem do tempo exíguo (1 minuto e 11 segundos) no horário eleitoral e baixa expectativa de vitória.


Cristovam Buarque, sem compromisso com a disputa, cumpre o importante papel de fincar a bandeira da educação como prioridade nacional.


Lula fica com a tarefa de sustentar a dianteira. Não é fácil. Não se pode comparar a situação dele com a de Fernando Henrique em 1998. A despeito do então presidente já sofrer à época resistências na classe média e ainda contar com apoio nas classes C, D e E por causa do plano de estabilização, FH não tinha de enfrentar questionamentos éticos na proporção dos que atingem a figura de Lula.


Ele não foi a debates porque podia escolher não ir e, assim, evitar ser alvo dos ataques dos adversários, notadamente Lula e Ciro Gomes. Tinha mais a perder, mas poderia também ganhar.


Lula é diferente, não tem escolha. Se for – e não vai – a perda é certa e inevitável. Primeiro, pelo fato de os assuntos, como mostrou a entrevista do Jornal Nacional, da agenda de questionamentos ao presidente serem todos altamente constrangedores. A corrupção dominaria o debate, com Lula na berlinda.


O segundo motivo que demonstra acerto na decisão – não do ponto de vista do eleitorado, mas da conveniência de sua estratégia de comunicação – é que Lula, por uma questão de treino, formação político-profissional, personalidade e carência cultural e educacional, não é bom no contraditório. Ele se enerva e se perde ao ser confrontado com questões difíceis, que exigem maior elaboração de raciocínio e até lógica para não cair em contradição.


Não por outro motivo – as acusações de vocação ao autoritarismo são a simplificação de uma realidade subjacente mais complexa – o presidente concedeu apenas uma entrevista coletiva no País em quatro anos de mandato e mesmo assim com restrições a réplicas.


Lula conta com a monumental vantagem do cargo, mas é o que mais riscos corre diante das armadilhas que monta para si com seus excessos verbais e arroubos de temperamento quando se sente seguro do sucesso. Quanto mais tiver medo de perder, mais chance terá de ganhar.


Seqüestro


A ação do crime organizado contra profissionais de imprensa, vale dizer do maior grupo de comunicação do continente, não é um ato de afronta à liberdade de expressão; o objetivo dos criminosos não é calar ninguém, pois vivem da publicidade dada a seus atos.


O seqüestro não atinge uma emissora nem uma categoria profissional, alcança a sociedade toda, pois mostra a disposição da bandidagem de iniciar operações de dominação e intimidação que logo atingirão instituições e pessoas representativas do poder social de reação e repressão.


Começaram atacando policiais, agentes carcerários, derivaram para a imprensa, jogaram uma bomba de alerta nas proximidades do Ministério Público em São Paulo e seguirão o roteiro já visto em países onde a disseminação de terror tornou-se parte do cotidiano.


A ousadia será em escala ascendente e cada vez maior à medida que o Estado continue na defensiva, amedrontado, como confessa estar o ministro da Justiça.


O passo adiante do crime organizado sem dúvida alguma guarda relação com a constatação de que as autoridades federais e estaduais estão mais preocupadas com sua respectiva lista de perdas e ganhos políticos quando ocorrem os ataques do que em dar combate aos agressores.


A ausência de noção a respeito de quem seja o inimigo comum dá ao agressor inequívoca vantagem: a da unidade de ação e pensamento, conceito primário de qualquer organização política, hoje deixado de lado pelo mundo da legalidade, militante da divisão e da dissensão, e adotado pela marginalidade, que aproveita o momento eleitoral e a miopia das forças políticas para crescer e se estabelecer pela imposição do terror.’


Vera Rosa


Pesquisas vão orientar fala de Lula na TV


‘O comando da campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva encomendou pesquisas qualitativas para os 45 dias de horário eleitoral gratuito, com a intenção de comparar o desempenho do candidato petista com o do adversário do PSDB, Geraldo Alckmin. O publicitário João Santana, marqueteiro da campanha, acredita na eficácia do método para orientar o discurso de Lula e os programas petistas, que estréiam hoje.


As sondagens que medem impressões dos eleitores serão realizadas às terças, quintas e sábados – dias reservados aos candidatos à Presidência na propaganda eletrônica. As duas maiores preocupações do PT referem-se à crise ética e à segurança pública, mas a forma como Lula e Alckmin vão tratar todos os temas de interesse nacional passará pelo crivo de grupos de vários segmentos, com ênfase nas classes C, D e E.


A comparação mais direta será com Alckmin, embora os petistas admitam que prestarão muita atenção nos comentários em relação à concorrente do PSOL, Heloísa Helena. Por enquanto, pesquisas mostram que ela tira mais votos de Alckmin.


A propaganda destacará os ‘resultados’ do governo que, na avaliação da cúpula petista, ficaram escondidos por causa da crise política. ‘As pesquisas revelam que, mesmo na nossa base, 80% não têm informações sobre as ações do governo’, disse o ministro das Relações Institucionais, Tarso Genro.’


Cida Fontes


Alckmin levará à tela realizações e poupará PT


‘O programa de TV do candidato do PSDB a presidente, Geraldo Alckmin, vai lembrar suas realizações à frente de cargos públicos, sobretudo no governo paulista. Pelo menos na etapa inicial, não haverá ataques ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva.


‘É uma estratégia positiva e correta’, defendeu o coordenador-executivo da campanha, senador Sérgio Guerra (PSDB-PE), que na semana passada fechou os últimos detalhes do programa, em São Paulo, com o coordenador de comunicação de Alckmin, Luiz Gonzalez. O presidente do PSDB, senador Tasso Jereissati (CE), também participou do encontro. Os dois avalizaram o tom e o conteúdo do programa.


A reunião com Gonzalez serviu para acertar um maior entrosamento do grupo de marketing com o núcleo político e os responsáveis pela agenda do candidato. A partir de agora, o coordenador de comunicação passará a integrar o Conselho Político, formado por dirigentes do PSDB, PFL e PPS, Alckmin e seu companheiro de chapa, senador José Jorge (PFL-PE). O deputado Moreira Franco (PMDB-RJ) também foi incorporado, representando o PMDB.’


Patrícia Villalba


Hoje, Heloísa abre horário eleitoral gratuito


‘A largada definitiva na corrida eleitoral é dada hoje com o início da propaganda gratuita na televisão, das 13h às 13h25. Como estabelecido em sorteio, a candidata da coligação Frente de Esquerda (PSOL-PSTU-PCB), senadora Heloísa Helena, inaugura a transmissão, com 1 minuto e 11 segundos para falar de suas propostas. O programa será encerrado pela coligação A Força do Povo (PT-PRB-PC do B), que busca a reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Nos programas seguintes, será adotado um sistema de rodízio, conforme manda a Lei Eleitoral.


A propaganda será veiculada em todas as emissoras de rádio e TV do País, nos canais por assinatura do Senado, da Câmara e das Assembléias Legislativas. No primeiro turno, vai até 29 de setembro, totalizando 45 dias de transmissão.


As mensagens dos candidatos à Presidência serão apresentadas às terças, quintas e sábados, às 13 horas e às 20h30. Ela é seguida por mais 25 minutos destinados aos candidatos a deputado federal. Nos demais dias da semana, é a vez dos candidatos a governador em cada Estado – nesse caso, são 20 minutos por bloco, seguidos de 30 minutos para os candidatos a senador e deputado estadual. A regra para os candidatos a presidente vale no rádio, mas muda o horário: das 7h às 7h25 e das 12h às 12h25.


De acordo com a legislação eleitoral, é proibida a invasão de horário, ou seja, o candidato à Presidência não pode se mostrar no espaço destinado ao candidato a governador e vice-versa, sob pena de suspensão.


Geraldo Alckmin é o que ficará mais tempo no ar – 10 minutos e 22 segundos, em cada bloco. O presidente Lula terá 7 minutos e 21 segundos. Heloísa Helena e Rui Pimenta têm o menor tempo – 1 minuto e 11 segundos – entre os candidatos à Presidência.


Além dos programas em bloco, os partidos têm direito a seis minutos diários para inserções de até 60 segundos dos candidatos a presidente, em ordem de veiculação já estabelecida num plano de mídia do Tribunal Superior Eleitoral. A coligação Por um Brasil Decente (PSDB-PFL), do candidato Geraldo Alckmin, é a que terá o maior número dessas inserções – 223; A Força do Povo tem direito a 158. A Frente de Esquerda, de Heloísa Helena, terá 25. O PDT do candidato Cristovam Buarque, 51; Luciano Bivar, do PSL, 27; José Maria Eymael do PSDC, 27; Rui Pimenta, do PCO, 25.


Em caso de haver um segundo turno, a propaganda eleitoral volta a ser exibida até o dia 27 de outubro, mas um pouco mais enxuta: 20 minutos, também em dois blocos diários, divididos igualitariamente entre os candidatos. A votação do segundo turno será realizada em 29 de outubro.’


Carlos Marchi


Rivais usam debate para centrar fogo em Lula, ‘o candidato que fugiu’


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva se transformou no alvo de todos os seus concorrentes ontem e virou, no dizer de Geraldo Alckmin (PSDB), ‘o candidato que fugiu’, no primeiro debate entre os candidatos à Presidência da República, na TV Bandeirantes. Lula comunicou à emissora que não compareceria e foi representado no estúdio por uma cadeira vazia.


A concorrente do PSOL, senadora Heloísa Helena, criticou insistentemente a ausência do presidente. ‘É a arrogância de pensar que é o maior – e não é’, disse, citando ‘a roubalheira de seu governo’. José Maria Eymael (PSDC) ironizou: ‘Acho estranho a gente questionar a ausência de Lula. Ele não viu nada, não soube de nada, vai ver não soube do debate.’


Alckmin denunciou ontem o que chamou de ‘terrorismo político eleitoral’, que estaria sendo praticado no Brasil pelo crime organizado. ‘Na Colômbia, começaram pela política e foram para o crime; no Brasil, começaram pelo crime para vir para a política’, disse no debate da TV Bandeirantes. Ele questionou a lógica dos últimos ataques da facção criminosa Primeiro Comando da Capital (PCC) em São Paulo: ‘Ladrão não ganha nada dando tiros na polícia e em posto de gasolina. Querem influir no resultado da eleição.’


O presidente foi acusado pelo tucano de se omitir na questão da segurança pública, mas acabou questionado por Heloísa, ao responder a uma pergunta sobre a crise paulista. Alckmin prometeu liderar uma cruzada contra o crime a partir do dia 1º de janeiro, se for eleito, mas Heloísa acusou PT e PSDB de errarem juntos.


O candidato do PDT, Cristovam Buarque, perguntou a Antônio Bivar (PSL) se o brasileiro se decepcionou mais com a perda da Copa do Mundo de futebol ou com o governo Lula. ‘Futebol, pelo menos, a gente tem de quatro em quatro anos’, ironizou Bivar. Cristovam rebateu: ‘O governo Lula provocou várias decepções, mas a maior é deixar aquela cadeira vazia’ – e apontou para a cadeira ao lado. O pedetista disse que a ausência de Lula no debate era ‘falta de respeito’ com o eleitor.


BOLSA


Alckmin, que é médico, perguntou a Heloísa, que é enfermeira: ‘O candidato que fugiu ao debate disse há dias que a saúde está chegando ao limite da perfeição. O que a senhora acha?’ Heloísa respondeu que, se eleita, destinaria ‘dinheiro limpo, não para comprar mensalão ou sanguessugas, mas para aplicar em saúde’. Ela disse que o dinheiro para seus projetos virá dos juros e do fim da corrupção. ‘Não vou fingir que não vi roubar.’


Cristovam disse que ninguém vai perder o dinheiro do Bolsa-Família, mas prometeu lutar para dar trabalho às pessoas. ‘A pessoa pensa assim: eu recebo esse dinheiro porque sou pobre. Se sair da pobreza, perco esse dinheiro’, disse. Alckmin lembrou que o Bolsa-Família é a junção de programas sociais criados no governo FHC e afirmou que vai manter o Bolsa-Família, mas lutar para gerar empregos.


REFORMA AGRÁRIA


Alckmin disse defender a reforma agrária, mas repudiou invasões de terra: ‘Comigo, invadiu, vai desinvadir’, disse. ‘Vou fazer a reforma agrária’, bradou Heloísa, garantindo que, com ela no governo, não haverá violência no campo. Segundo ela, os governos FHC e Lula promoveram uma ‘favelização rural’. Prometeu assentar 1 milhão de famílias, mas garantiu que vai respeitar o agronegócio.


Já Alckmin disse que o agronegócio será uma estratégia importante para criar trabalho e renda. Afirmou que vai implantar o seguro de safra e melhorar a questão sanitária, além de diminuir os juros para o campo e cuidar da infra-estrutura.


Heloísa atacou os governos Fernando Henrique e Lula por não terem feito a reforma tributária. ‘É inaceitável a continuação da Desvinculação das Receitas da União, que saqueia o dinheiro da saúde, da educação e dos aposentados para pagar juros.’ Alckmin, por sua vez, defendeu o ajuste fiscal.


Com seu estilo agressivo, Heloísa disse que, se chegar à Presidência, só dois setores terão algo a perder: ‘os banqueiros e os políticos corruptos’. Garantiu que vai mandar fazer auditorias nas contas dos dois governos – FHC e Lula.’


Bruno Winckler, Rodrigo Pereira


Torcida para os candidatos, só mesmo a do PSOL


‘Diferentemente de outras eleições, em que a militância partidária fez parte dos debates com confrontações e muito barulho do lado de fora, o encontro de ontem na TV Bandeirantes não provocou nada além de gritos de ordem de 30 militantes do PSOL. O movimento fraco surpreendeu até as autoridades de trânsito e os policiais militares. Por volta das 21h30, ainda antes do início do debate, a Companhia de Engenharia de Tráfego (CET) e a Polícia Militar desmobilizaram parte do pessoal deslocado para a porta da TV.


‘Estamos aqui hoje (ontem)para dar apoio a Heloísa (candidata do PSOL à Presidência), dentro do espírito de debate e para mostrar que política se faz na rua e a militância está disposta a tocar essa luta’, disse o estudante Rodolfo Viana.


‘Não teve uma organização formal para isso (o encontro na emissora). É disposição e ânimo militante’, completou Viana, que não escondeu a surpresa por não encontrar partidários dos outros candidatos.


Os militantes do PSOL se postaram na Rua Bruno Rangel Pestana e não viram Heloísa Helena chegar. A senadora entrou, de táxi, pelo acesso da Rua Professor Eduardo Monteiro. Pela entrada onde estavam os militantes chegaram os candidatos José Maria Eymael (PSDC) e Cristovam Buarque (PDT). O pedetista, que, como Heloísa, é dissidente do PT, foi bem recebido e elogiado. ‘O senhor fez parte do governo Lula mas não tem culpa de nada, é gente boa’, disse um militante.


Atrás de um emprego, Carlos Farat, de 51 anos, foi o único tucano a comparecer à porta da Bandeirantes. ‘Disseram que sempre tinha gente no debate, então eu vim’, explicou. Farat foi de bicicleta do Itaim Bibi ao Morumbi, onde fica a emissora. Vestia a camiseta e levava na mochila cartaz de um candidato a deputado que diz apoiar. ‘Já estive com ele em duas eleições, vamos ver se consigo emprego nessa também.’


Vinte minutos após o início do debate, os militantes foram embora reclamando da falta de um telão.’


TV DIGITAL
Agnaldo Brito


Zona Franca brigará por exclusividade na TV digital


‘As indústrias da Zona Franca já se preparam para uma batalha contra o governo. A indústria não aceita perder a exclusividade do Pólo Industrial de Manaus na produção dos equipamentos para a TV digital. As consultas jurídicas para sustentar até uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (Adin) já começaram. O setor não quer que o governo transforme produtos eletroeletrônicos, fabricados hoje em Manaus, em bens de informática, conforme desejo do ministro das Comunicações, Hélio Costa.


Costa disse na última sexta-feira, em Santa Rita do Sapucaí, Sul de Minas Gerais, que o governo não deixará a produção desses equipamentos exclusivamente nas mãos da Zona Franca. O governo estima que a produção do set-top box (equipamento que permitirá que um televisor analógico receba sinal digital) movimente R$ 9 bilhões em três anos. ‘Trabalho nesse sentido, não existe nenhuma decisão do governo com respeito a não enquadrar os produtos de TV digital dentro da Lei de Informática’, disse Costa.


O presidente do Centro das Indústrias do Estado do Amazonas, Maurício Loureiro, disse ontem que a posição do ministro é ‘inaceitável’. Ele afirmou que a defesa de Costa ao pólo eletroeletrônico do Sul de Minas é ‘tendenciosa’ e que a mudança fiscal do equipamento para dar incentivos da Lei de Informática é ‘oportunismo’ das indústrias fora da Zona Franca.


Somente o enquadramento desses produtos na Lei de Informática assegura competitividade para que sejam produzidos fora da Zona Franca, assim como ocorreu com o celular. ‘O Brasil é o único país do mundo que considera o celular bem de informática. Se fizermos isso com os equipamentos da TV digital, vamos rasgar as leis’, disse Loureiro. Entre os benefícios fiscais previstos na lei estão a redução do IPI e isenção do PIS e da Cofins, além de acesso a financiamentos do BNDES.


Loureiro antecipou que a Zona Franca vai brigar pela produção do receptor-decodificador e por todos os produtos que forem incluídos no sistema de TV digital. O governo estima que, em uma década, a implantação dos Sistema Brasileiro de TV Digital vai movimentar R$ 100 bilhões. ‘Acho que há coisas a serem desenvolvidas dentro desses R$ 100 bilhões, que podem ser feitas em outras regiões do País’, diz Loureiro.


Ele criticou o ministro. ‘Ele foi infeliz na declaração. Ele não pode dizer que essa decisão já foi tomada no governo, porque ele não fala sozinho pelo governo’, afirmou. Hélio Costa é senador por Minas e não escondeu, durante a visita a Santa Rita do Sapucaí, que assumiu a causa dos industriais da região.


PERDA ADICIONAL


Loureiro afirmou que a Zona Franca não teme perder apenas a produção do set-top box (o terminal de acesso). Para ele, ao converter um eletroeletrônico num produto de informática, cria-se a possibilidade de transformar também o televisor em bem de informática, tirando a exclusividade de produção da Zona Franca. ‘Esse será um segundo passo, não tenho dúvida. Se isso ocorrer, vão tirar metade das receitas da Zona Franca. Acabam com o Pólo Industrial de Manaus’, afirma.


O pólo deve faturar este ano entre US$ 21 bilhões a US$ 22 bilhões. Metade dessa receita é obtida com produção de eletroeletrônicos. Segundo a Cieam, 36 mil empregos dependem da fabricação de produtos eletroeletrônicos na Zona Franca.


Principais pontos: (1) Isenção de Imposto de Importação para insumos usados na produção. (2) Redução total ou parcial de PIS (Programa de Integração Social) e Cofins (Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social )para os investimentos. (3) Fim da incidência da Cide (Contribuição de Intervenção sobre Domínio Econômico) sobre a importação de tecnologia de ponta.


Objetivo: Criar as condições tributárias adequadas, no padrão internacional, para atrair a instalação de fábricas de semicondutores no Brasil, um dos pilares da política industrial do governo.


Poderá haver financiamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) para a implantação do primeiro pólo de semicondutores no Brasil, em Minas Gerais.’


PCC SEQÜESTRA JORNALISTA
Marcelo Godoy, Laura Diniz, Paulo Baraldi E Álvaro Magalhães


Polícia tem 2 suspeitos do seqüestro


‘A polícia identificou dois suspeitos de participação no seqüestro do jornalista Guilherme Portanova. Um deles seria um ex-presidiário ligado ao Primeiro Comando da Capital. O repórter da TV Globo passou por três cativeiros na zona sul. Ficou amarrado em todos eles e com os olhos vendados – primeiro por um blusão vermelho e, depois, por óculos com lentes cobertas por fita isolante. O repórter foi libertado à 1 hora de ontem, após 42 horas de cativeiro.


A emissora havia cedido à exigência da facção para soltá-lo, exibindo à 0h28 de domingo um vídeo da facção de três minutos. A transmissão alcançou 20 pontos no Ibope na Grande São Paulo, onde cada ponto equivale a 54.500 domicílios.


Policiais do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic) crêem que Carlos Antônio da Silva, de 28 anos, o Balengo ou B.L., está envolvido no crime. B.L. é o principal líder do PCC em liberdade. Além dele, outras dez pessoas participaram do crime, inclusive gente que não sabia quem era Portanova, de 30 anos, ou a razão de seu seqüestro.


Um deles era o carcereiro que tomou conta do jornalista no segundo cativeiro, uma casa para onde Portanova foi levado após a libertação do assistente técnico Alexandre Coelho Calado. ‘Você tá aqui por quê? Você é cagüeta, mano, tá devendo pro tráfico, meu?’, perguntou o carcereiro a Portanova. Quando ele respondeu que era repórter e trabalhava na Globo, o bandido não acreditou. ‘E eu sou Papai Noel.’ Só depois, quando chegou outro seqüestrador, é que o carcereiro foi informado pelo comparsa de que Portanova estava ali por causa do ‘vídeo que tem de passar na TV’.


PLANO


O jornalista não foi agredido. Os bandidos planejavam seqüestrar dois apresentadores da TV Globo. Como não encontraram os dois, resolveram levar a primeira equipe da Globo que encontrassem. Sabiam que os jornalistas da emissora freqüentavam uma padaria perto da sede da Globo. Foi lá que apanharam Portanova e Calado.


O repórter teve os pés e mãos amarrados no primeiro cativeiro, uma casa que fica próxima da Avenida Interlagos, na zona sul. Na ida para o segundo cativeiro, os criminosos levaram Portanova em um carro. Ele ficou nessa casa por algumas horas até que foi transferido para um terceiro lugar. Desta vez, o jornalista foi levado a pé até o lugar. Para que ele não identificasse o caminho, os bandidos mandaram-no pôr óculos escuros com a lente coberta.


Nesse lugar, Portanova foi obrigado a ficar só com as pernas amarradas. O repórter ouvia sons de pássaros e de um rio. De repente, ouviu uma movimentação no lugar. Foi quando os seqüestradores lhe disseram que ele seria libertado. Portanova foi posto no porta-malas de um carro e levado ao Morumbi.


DEPOIMENTO


Portanova prestou depoimento ontem no Deic durante três horas. Na madrugada de ontem, ele deu uma entrevista na sede da TV Globo. ‘Eu estou bem de saúde, estou legal, ninguém me agrediu e fui alimentado nesse tempo todo’, disse. O repórter estava descontraído e já falava em voltar ao trabalho. ‘Queria agradecer a solidariedade. O pessoal falou que vocês estavam bem apreensivos aí. Isso aí é que faz a gente ter vontade de continuar trabalhando, porque a galera é unida e se ajuda.’


Portanova disse que não viu o rosto dos seqüestradores, que fizeram muita pressão para que fosse exibido o vídeo do comunicado do PCC. ‘Falavam que eles queriam ver a reivindicação deles no ar e, se a reivindicação deles não estivesse no ar, eles poderiam tomar outras medidas.’ O repórter acha que decidiram libertá-lo após a exibição do Fantástico. ‘Ali, eles sentiram que talvez estivesse completo o serviço deles.’


Segundo o diretor de Jornalismo da Globo em São Paulo, Luiz Cláudio Latgé, Portanova foi libertado à 1 hora no Morumbi. Ele abordou o carro de uma empresa de segurança da região e pediu ajuda. Avisou a emissora e foi levado até lá. ‘Ele chegou assustado e sem camisa. Estava incomodado com uns arranhões e picadas de inseto.’ Latgé acha difícil ocorrerem novos seqüestros de jornalistas, mas disse que ‘a escalada de violência é imprevisível’.’


Alexandre Rodrigues


‘Passei o tempo todo coberto’


‘Depois de três horas de declarações à polícia, o repórter da TV Globo, Guilherme Portanova, deixou a sede do Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado (Deic), na zona norte da cidade, demonstrando não ter oferecido aos delegados muitas informações que possam levar aos seus seqüestradores. Fugindo de entrevistas, Portanova falou pouco.


‘Acho que todas as informações que a gente pode prestar acabam ajudando de alguma forma na investigação, mas eu passei o tempo inteiro coberto’, disse Portanova, que contou aos policiais ter ficado encapuzado durante todo o seqüestro. ‘Estou feliz por ter escapado com vida porque, em alguns momentos, eu pensei que não ia voltar mais’, desabafou.


O jornalista chegou ao Deic às 15h23 num Omega preto, de vidros escurecidos, da TV Globo, escoltado por dois carros da polícia. Com semblante sério e abatido, de camiseta pólo, calça jeans e tênis, entrou rapidamente no prédio guiado pelo delegado Antônio de Olim, da Divisão Anti-Seqüestro (DAS). Também participaram da sessão de declarações de Portanova os delegados Nilton Fujita, da DAS, e Ruy Ferraz, da divisão de combate a roubo a banco que investiga o PCC. Também ouviram a vítima dois promotores do Grupo de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do Ministério Público Estadual. Portanova deu à polícia detalhes sobre os momentos em que ficou sob poder dos bandidos, como a caminhada de dez minutos que foi obrigado a fazer entre dois cativeiros. Ele foi mantido em esconderijos ao ar livre.


A TV Globo informou que Portanova e a emissora decidiram que ele não daria entrevistas. Ele sairá de férias hoje e pretende viajar com os pais, que vivem em Porto Alegre. Ele teria manifestado desejo de descansar numa região de praia.’


Juliano Machado


Instituto vai treinar jornalistas


‘O Instituto Internacional de Segurança para a Imprensa (Insi, na sigla em inglês) vai organizar em novembro, no Rio, um treinamento inédito de situações de risco para 50 repórteres e profissionais da TV Globo e outras empresas de mídia.


A informação está em uma nota do Insi, divulgada ontem pela Globo, sobre a libertação do repórter Guilherme Portanova. O curso, com duração de dois dias, não tem relação com o seqüestro. A negociação foi feita no ano passado entre o Insi e o Sindicato dos Jornalistas do Rio. O instituto já treinou 512 jornalistas em 11 países, entre eles, Colômbia e Venezuela.


A Globo consultou a entidade, à qual é filiada, e foi orientada a procurar a companhia inglesa The Ake Group, que trabalha com o instituto nos cursos de proteção pessoal.


‘CORAJOSA DECISÃO’


No documento, o Insi expressa ‘profunda satisfação’ pela libertação de Portanova. ‘Não havia outra ação a ser tomada pela Globo a não ser aceitar as condições dos seqüestradores.’ A emissora é elogiada pela ‘corajosa e difícil decisão’.


No entanto, o diretor do Insi, Rodney Pinder, teme que o Brasil se torne um país perigoso para a atividade jornalística. ‘Foi um episódio alarmante. Ainda é um país sem muitos problemas para o trabalho da mídia, mas realmente tenho medo de que essas condições piorem’, disse, por telefone, ao Estado.


A nota do Insi diz que o seqüestro foi o segundo ataque contra a mídia paulista desde o início dos atentados do PCC. O texto cita o incêndio da sede do jornal Imprensa Livre, de São Sebastião, no litoral norte, em 18 de maio.


A entidade sugere que as empresas jornalísticas do Brasil tomem medidas preventivas ‘para evitar ataques que não só põem em perigo a vida de jornalistas, como restringem a liberdade de expressão’.’


INTERNET
Shaonny Takaiama


Procuradoria quer fechar sede do Google no País


‘A queda de braço entre o Ministério Público Federal e o site de relacionamentos Orkut irá entrar em uma nova fase nesta semana. O escritório da empresa no Brasil poderá ser fechado, caso o Google Brasil continue se recusando a fornecer os dados de 29 criminosos cadastrados no site de relacionamentos.


E a atitude do Ministério Público Federal não ficou só nisso. Em parceria com a ONG Safernet, que defende os direitos humanos na internet, foi elaborado um relatório bastante detalhado sobre as páginas do Orkut que veiculam conteúdo impróprio – pornografia infantil, neonazismo, incitação a crimes, maus-tratos contra animais, homofobia e intolerância religiosa são algumas das denúncias que constam do relatório. Ele foi encaminhado à Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados e, após ser avaliado pelo Congresso Nacional, será enviado ao Congresso dos Estados Unidos ainda nesta semana. Esta é uma forma de a Justiça Brasileira pressionar a Google Inc., empresa proprietária do Orkut, para que esta forneça os dados sigilosos dos usuários do site de relacionamentos responsáveis por atitudes criminosas.


É somente após ter a posse dessas informações – endereço eletrônico (ip), login de acesso, dados cadastrais e conteúdo das páginas – que a Polícia Federal pode investigar os autores dos crimes.


De acordo com Tiago Tavares, presidente da Safernet, sempre que a Justiça obriga o escritório do Google no Brasil a quebrar o sigilo de criminosos, a empresa descumpre a determinação alegando não ter autonomia para isso, pois o escritório da empresa no Brasil só representa comercialmente a matriz norte-americana, onde ficam armazenadas as informações de cadastro dos usuários.


O Ministério Público Federal considera essa atitude da Google Brasil um crime de desobediência e favorecimento pessoal, pois, ao não fornecer os dados à Justiça, a empresa está assegurando a impunidade dos criminosos. ‘Temos dois problemas: o primeiro é identificar os criminosos e o segundo é a falta de colaboração da Google Brasil com a Justiça’, diz Sérgio Gardenghi Suiama, procurador da República no Estado de São Paulo.


Ele afirma que, quando há uma recusa da Google Brasil em fornecer informações, a atitude tomada pelo MPF é pedir a instauração de um inquérito policial contra a empresa. Após a conclusão dos inquéritos e, no caso de a empresa continuar se recusando a fornecer os dados, a medida final será o seu fechamento.


O procurador ressalta que o fechamento do escritório do Google no Brasil não significa tirar o Orkut do ar. ‘O nosso objetivo não é tirar o Orkut do ar, pois nem há como fazer isso, já que ele está hospedado nos Estados Unidos. O nosso problema é identificar as pessoas que usam o Orkut para praticar crimes.’ Em nota, a Google Brasil informou que ‘a Google Inc. está finalizando o desenvolvimento de novas ferramentas que serão usadas para detectar e remover conteúdos impróprios do site.’’


TELEVISÃO
Keila Jimenez


Globo cobra explicação da Band


‘A Globo pediu na Justiça uma explicação à Band com relação ao anúncio publicado simultaneamente ao seu, sobre cobertura eleitoral. A rede quer que a Band explique o porquê da publicação do anúncio ‘Eles prometem. A Band cumpre’, que saiu no início do mês em grandes jornais de São Paulo. O anúncio, que não cita a Globo nominalmente, seria uma resposta da Band ao anúncio publicado dias antes pela Globo ‘Eu prometo’, para divulgar a cobertura eleitoral da emissora.


Na peça publicitária, a Band também enumerou vários fatos históricos em que afirma ter feito em cada ano de eleição seguido da frase ‘Eles silenciam’.


A Globo recebeu o anúncio da concorrente como uma afronta e entrou com uma interpelação na Justiça pedindo uma explicação da Band antes de mover qualquer medida judicial. Segundo a Central Globo de Comunicação, a rede resolveu questionar a quem o anúncio se dirigia para não ser leviana ao tomar medidas mais drásticas.


A Band, por meio de sua Assessoria de Imprensa, informa que ainda não recebeu nenhuma notificação da Justiça com relação ao caso.


entre-linhas


O público masculino: esse é o alvo das próximas campanhas publicitárias para levantar a imagem do SBT.


Silvio Santos, com seu Topa ou não Topa, desbancou O Aprendiz de Justus novamente anteontem, registrando 13 pontos de audiência, ante 10 pontos da Record na Grande São Paulo.


Angelina Jolie e Brad Pitt deram a liderança em audiência na TV paga para o Telecine com Sr. e Sra Smith. O título, exibido no último dia 29, é agora o mais assistido do ano entre todos os filmes exibidos na TV fechada.


O canal Sony exibirá ao vivo a cerimônia de entrega dos prêmios Emmy, no dia 27, direto de Los Angeles, às 21 horas. O problema é que o canal pago não disponibilizará legendas nem tradução simultânea. Antes, às 20 horas, haverá um pré-show.


Demorou, mas acabou caindo a média de Bicho do Mato, da Record. A novela, que se manteve nas primeiras semanas com média de 15 pontos, registrou 9 pontos de ibope na sexta-feira.


Juliana Silveira, a protagonista de Floribella – que está chegando ao fim – pode ganhar um contrato fixo na Band. A rede tem planos para a jovem.


O Canal Brasil lança amanhã a sexta temporada de Um Pé de Quê?. Desta vez, além de rodar pelo Brasil, Regina Casé viajou por Moçambique e México para ver as árvores típicas de cada país.


Sushiman nas horas vagas


De VJ a sushiman. Essa foi a ‘mutação’ que Edgard sofreu no Tira Onda, do Multishow. Ele teve que trabalhar como shushiman em restaurante japonês da Vila Olímpia, São Paulo. O programa vai ao ar na quinta-feira, às 21h15.’


OSESP NO NYT
O Estado de S. Paulo


New York Times comenta polêmica em concurso de piano


‘A polêmica em torno do Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos, que a Osesp promove ao longo desta semana na Sala São Paulo, foi tema de reportagem do New York Times. Em longo artigo, o correspondente Larry Rohter diz que o evento, ‘que queria mostrar ao mundo que o Brasil não é apenas uma potência da música popular’, começou ‘manchado por acusações de que o processo de seleção dos competidores foi manipulado’. O texto traz entrevistas com Ilan Rechtman, ex-diretor artístico do concurso, demitido em abril, e do maestro John Neschling, diretor da Osesp. O primeiro acusa a orquestra de ter manipulado a lista feita pelos dois jurados responsáveis por selecionar os 20 candidatos em meio aos 90 inscritos. A Osesp rebate na mesma moeda, acusando Rechtman de ter mudado a lista preparada pelos jurados. O concurso começou ontem e vai até domingo, quando será realizado o recital dos vencedores, e é aberto ao público. Mais informações no site www.osesp.art.br.’


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 15 de agosto de 2006


PCC SEQÜESTRA JORNALISTA
Editorial


Ataque à imprensa


‘O SEQÜESTRO neste fim de semana do repórter Guilherme Portanova e do auxiliar técnico Alexandre Calado, ambos da TV Globo, foi um passo temerário nos métodos do crime organizado paulista. O alvo da intimidação não se restringiu aos dois profissionais, tampouco à emissora em que trabalham. Tratou-se de um atentado contra a imprensa, de cuja liberdade depende, em grande medida, a própria democracia.


Quando bandidos arrebatam um jornalista e condicionam a sua libertação à transmissão de uma mensagem pela TV que o emprega, é o direito à informação que está sob ameaça.


Esta Folha se solidariza com a Rede Globo pela decisão difícil que teve de tomar, diante da ameaça covarde contra a vida de seu repórter. Felizmente, Portanova e Calado saíram fisicamente íntegros do episódio.


Esse crime, no entanto, é grave demais -suas implicações, é bom reiterar, transcendem a esfera dos protagonistas imediatos- para que baste a soltura dos reféns. Ou as autoridades reagem de imediato e de modo exemplar, identificando rapidamente os autores e os mandantes do seqüestro, ou o que é por ora um episódio isolado na ação do chamado PCC se tornará o primeiro ato de uma série.


Não podemos tolerar que o Estado mais rico e populoso do Brasil se submeta a coerção fascista comparável à que cartéis da droga e guerrilhas que um dia foram de esquerda chegaram a exercer sobre os meios de comunicação na Colômbia. Só às piores tiranias se compara o poder liberticida de gangues que seqüestram e matam a fim de subjugar o Estado de Direito.


Não há de estar inquieta a facção criminosa paulista necessariamente porque se sinta mais poderosa. O fato de ser levada a aumentar o grau de descaramento de suas ações atesta que os interesses dos líderes da quadrilha estão sendo seriamente contrariados. O fato de vociferar contra o Regime Disciplinar Diferenciado (o que isola chefes criminosos nas penitenciárias) confirma que o dispositivo é mesmo eficaz contra esse tipo de organização e que seu uso deve ser ampliado.


Ocorre que o terror também é filho da impotência. É comum que grupos, ao enveredarem por esse caminho, testem o tempo todo novas formas de espalhar o pânico na população, minimizando custos e riscos. As possibilidades abertas pelos ensaios terroristas do PCC fora dos muros dos presídios, portanto, exigem das autoridades inovações em sua capacidade de resposta.


Não pode ser frágil nem fria a resposta do poder público no momento em que a porta de entrada para a intimidação contra a imprensa foi aberta. É dever da polícia, do Ministério Público, da Justiça e de toda a sociedade afirmar com energia incomum que quem trilhar esse caminho incorrerá em um risco altíssimo. Caso contrário, a apuração e a circulação de informações -um pilar consagrado da democracia- estarão sob risco de seqüestro no Brasil.’


Clóvis Rossi


Horário gratuito, versão PCC


‘Para a interminável série ‘nunca neste país’, a muleta que o presidente Lula usa para amparar sua pobre oratória: ‘nunca neste país’ o crime organizado havia obtido o seu próprio horário eleitoral gratuito na televisão. Conseguiu-o ao seqüestrar o repórter Guilherme Portanova. Não é mera coincidência o ‘horário gratuito’ do PCC ter ido ao ar apenas 48 horas antes de começar o horário gratuito, digamos, normal, se há algo normal por aqui. Afinal, o novo pico nas ações da criminalidade (novo por enquanto, porque logo, logo, será superado) acontece depois de 12 anos de governo do condomínio tucano-pefelê em São Paulo, de oito anos de FHC e mais quatro de Lula na União. E nem me venha algum simpatizante idiotizado da outra ‘quadrilha’, aquela denunciada pelo procurador-geral da República, dizer que segurança pública é problema estadual apenas. O PCC, conforme atestou recente reportagem desta Folha, financia-se praticamente só com o narcotráfico, que é, digamos, crime federal. Fracassaram os dois grupos que dividem o poder no Brasil. Pior: continuam sem um projeto de país, porque tudo o que lhes interessa é ocupar o poder. Ponto. O tamanho do fracasso pode ser medido pelo fato de que a vítima indireta do seqüestro, a Rede Globo, se viu obrigada a consultar especialistas externos para decidir sua ação ante a chantagem do sindicato do crime. Não encontrou no país nem sequer a proteção de um conselho informado e, portanto, útil. Se a Globo, com o poder que tem, sentiu-se órfã, o que dizer dos pobres mortais submetidos cotidianamente a chantagens similares ou piores, dos parentes de outros seqüestrados (quantos continuam em poder de seqüestradores neste exato momento?) ou dos mortos na guerra que o poder público perde todos os dias?’


Janio de Freitas


Os dois avisos


‘A conclusão , exposta por jornalistas e vários entrevistados, de que, ao seqüestrar um repórter, o crime em São Paulo ‘subiu de patamar’, só se explica como um desses maus momentos a que as pessoas estão sujeitas. E que são comuns em jornalistas quando o infortúnio inverte os papéis e põe um de nós no lugar da vítima. Invocam-se então a liberdade de trabalho, a inocência da vítima, a violência covarde e outras verdades não menos gritantes. Mas, na essência, as verdades que envolvem o jornalista vitimado em nada se distinguem das transgredidas na grande maioria das outras vítimas: o turista esfaqueado para roubo, o motorista incendiado com o ônibus, o dentista assassinado pela polícia ‘por engano’, a criança morta por ‘bala perdida’ – consta serem assim 50 mil por ano no Brasil, mas o número parece modesto.


Há muito tempo os seqüestros se sucedem, ora mais, ora menos freqüentes. No caso de São Paulo, até como principal característica da criminalidade. O seqüestro de um repórter nada acrescentou, por si, aos seqüestros de outras vítimas. A troca do resgate por uma nota para divulgação -finalidade que não precisava de seqüestro, por certo seria obtida com a simples distribuição da nota- esta, sim, sugere duas observações aparentemente ainda atuais.


O seqüestro absorveu mais atenção do que a insípida nota e, nela, atentou-se mais para o exigido fim do ‘regime disciplinar diferenciado’. Nisso ficou quase perdida a frase de importância capital: ‘não ficaremos de braços cruzados pelo que está acontecendo no sistema carcerário’. Os bravos secretários do governo paulista, bem à sua maneira, podem tomar a frase como desafio ou como bazófia, mas para os demais vale por um aviso geral de necessárias precauções contra ataques que já se provaram factíveis.


A outra observação vem do momento escolhido para o seqüestro e sua finalidade. Da Folha de sábado: ‘Folgas cassadas de quase 100 mil policiais militares e 30 mil policiais civis, helicóptero do Exército usado pela PM, […] blitze nas ruas. É com esse cenário de guerra, preparado pelas forças de segurança’ […]. Assim foi feita, para o fim de semana, a devida prevenção do crime articulado. E, no entanto, houve o seqüestro. Ou seja, uma outra mensagem: o nível a que a criminalidade chegou em numerosas cidades exige muito mais do que pôr as polícias e mesmo o Exército na rua. Esse é um ensinamento que o Rio tem difundido em vão. É impossível policiar toda a cidade, é impossível impedir que o crime conte com os vazios inevitáveis do policiamento e com o imprevisto.


O crime se sofisticou no armamento e aprimora métodos, como demonstrou o seqüestro do repórter com o uso e troca de dois carros, incêndio de um para eliminar vestígios, batedor de moto. É hora de que o anticrime seja levado a sério e procure reelaborar suas idéias, sair da velha e inútil obviedade. Essa é uma dívida que os intelectuais, os acadêmicos e a mídia têm com o país.


Do episódio ficará a perfeita atitude da TV Globo no dever de proteção à vida do seu repórter.’


Leandro Beguoci


PCC faz terrorismo eleitoral contra o PSDB, diz Alckmin


‘O tucano Geraldo Alckmin classificou ontem o seqüestro de um jornalista da TV Globo e os atentados praticados pelo PCC em São Paulo como atos de ‘terrorismo político-eleitoral’ contra a sua candidatura à Presidência da República.


Sem citar o petista Luiz Inácio Lula da Silva, candidato à reeleição, Alckmin também disse que a disputa presidencial deste ano vai obrigar o país a decidir ‘se quer um governo frouxo e omisso na questão da segurança ou se quer alguém firme’ e que ‘vai ficar cada vez mais claro para a população quem está do lado da sociedade, dos homens e mulheres de bem, quem tem coragem para enfrentar o crime’. E completou: ‘Não estou dizendo que é partidário. Eu estou dizendo que eles querem interferir no processo eleitoral’.


Como exemplo de firmeza e falta de ‘medo’ do crime, o tucano enfatizou que foi São Paulo quem primeiro organizou o RDD (regime disciplinar diferenciado), em 2001, o que permite deter os presos em cadeias de segurança máxima. O PCC quer o fim do RDD.


‘Isso aqui é uma luta contra o PSDB, contra a minha candidatura, terrorismo eleitoral, político-eleitoral’, disse Alckmin sobre o seqüestro do repórter Guilherme Portanova. ‘Não tem a menor lógica você seqüestrar pessoas para colocar fita na televisão. Ladrão não faz isso. Isso lembra as Farc colombianas. Lá, a política migrou para o crime. Aqui, o crime está migrando para a política. Eles [PCC] querem influenciar no processo eleitoral. Isso está extremamente claro.’


As Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) são um grupo armado surgido na Colômbia em 1964 como o exército do Partido Comunista Colombiano. Hoje, embora mantenha a retórica revolucionária, o grupo vive basicamente do tráfico de drogas, do seqüestro de autoridades e do controle de áreas inteiras do país. É classificado de grupo terrorista pelos Estados Unidos.


Alckmin negou que o reforço de sua equipe de segurança com agentes da Polícia Federal seja por medo. ‘Todos os candidatos [à Presidência] têm a PF acompanhando.’


Serra


Alckmin falou à mídia após caminhada com o candidato do PSDB ao governo de São Paulo, José Serra, no bairro do Ipiranga, zona sul da capital. Serra também disse acreditar que os atentados do PCC tem o objetivo de enfraquecer o PSDB.


‘O PSDB, no governo, enfrentou muito o crime, o crime organizado não gosta do PSDB. Eles [PCC] estão atuando como força política. É uma ação que parece terrorismo. Não estou dizendo que tem um partido instruindo o PCC. Estou dizendo que o PCC é contra o PSDB.’’


***


Partido estuda hora de debater segurança na TV


‘O comando de campanha de Geraldo Alckmin (PSDB) à Presidência se reúne amanhã com seu coordenador de comunicação, jornalista Luiz Gonzalez, para uma análise do programa do candidato em rádio e TV.


Na reunião, PSDB e PFL discutirão a conveniência de antecipar o programa dedicado à segurança, após as ondas de ataque da facção criminosa PCC.


Aliados do candidato adiantam que a intenção é caracterizar Alckmin como inimigo da facção. Segundo tucanos, para hoje está mantida a estratégia de apresentação da biografia do candidato.’


Fábio Zanini


PT endurece o discurso e passa a chamar facção de ‘terrorista’


‘Após três ondas de ataques e o seqüestro de um jornalista e um auxiliar técnico da TV Globo, a campanha do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) à reeleição decidiu endurecer o discurso e tratar o PCC (Primeiro Comando da Capital) como uma organização que pratica ações ‘terroristas’.


Os lulistas não vão mais tolerar tentativas do PSDB e PFL de insinuar conjunção de interesses entre PT e PCC.


O programa de governo do presidente deve chamar a atenção para o fato de serem ‘insuficientes’ as políticas que lidam com violência sem mencionar as práticas terroristas.


O seqüestro de dois funcionários da TV Globo pela facção criminosa no final de semana reforçou ontem no PT o discurso de que é preciso repensar a estratégia de segurança.


O programa de Lula para a segurança pública deve ficar pronto em um mês. A coordenação é do sociólogo gaúcho José Vicente Tavares, que lidera equipe de 50 pessoas.


Apesar do reconhecimento de que o PCC representa um novo patamar de violência, os petistas rejeitam, por ora, o endurecimento da legislação penal, que já seria ‘suficientemente’ rígida.


Sem dar detalhes, o coordenador do programa petista, Marco Aurélio Garcia, diz que o enfoque para lidar com uma organização de viés terrorista deve ser em ações de inteligência e na articulação das forças de segurança nos níveis federal, estadual e municipal.


A estratégia política dos petistas é diferenciar-se do que chamam de ‘truculência’ do comando da segurança pública em São Paulo. O PT vai concentrar críticas na atuação do secretário de segurança pública, Saulo de Castro Abreu Filho, para tentar atingir a campanha de Geraldo Alckmin (PSDB).


O governador Cláudio Lembo (PFL) é considerado um aliado de ocasião, após as brigas que comprou com tucanos e dentro de seu próprio partido.’


Fábio Takahashi e Vinicius Abbate


Jornalista ficou em cativeiros ao ar livre


‘O repórter Guilherme Portanova, 30, da TV Globo, afirmou ontem à polícia que esteve em três cativeiros nas quase 41 horas em que ficou seqüestrado. Ele também contou que permaneceu encapuzado durante todo o tempo.


Seqüestrado às 7h50 de sábado, perto do prédio da Globo, junto com o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado -que foi solto na noite de sábado-, Portanova foi liberado por volta da 0h30 de ontem.


O jornalista afirmou que os criminosos só repetiam que queriam que as suas reivindicações, contidas num CD, fossem transmitidas pela TV Globo.


Portanova não foi agredido. ‘Mas, se as reivindicações não estivessem no ar, eles diziam que poderiam tomar outras medidas’, afirmou o repórter às 3h de ontem, duas horas e meia depois de ter sido deixado próximo ao hospital Albert Einstein, no Morumbi (zona sul de São Paulo).


Ele foi levado pelos seqüestradores até o local no banco de trás de um carro, com a cabeça abaixada. Logo que foi libertado, Portanova encontrou funcionários do hospital, que o ajudaram a entrar em contato com sua família e com a Globo.


Um funcionário do hospital deu carona ao jornalista até a sede da emissora em São Paulo, no Brooklin (zona sul). Segundo o diretor da Central Globo de Jornalismo em São Paulo, Luiz Claudio Latgé, Portanova chegou sem camisa porque levou muitas picadas de mosquito durante o seqüestro e estava incomodado com a roupa.


Na sede da Globo, o repórter prestou depoimento a policiais civis. Em seguida, foi até o estacionamento da emissora e falou por cerca de cinco minutos com os jornalistas.


‘Estou legal, bem de saúde. Ninguém me agrediu, fui alimentado esse tempo todo. O pessoal [da Globo] me disse que vocês [repórteres] estavam apreensivos. Isso faz a gente ter vontade de continuar trabalhando, porque a galera é unida e se ajuda’, disse -nesse momento, seus olhos ficaram cheios de lágrimas.


Portanova disse que foi libertado logo após o ‘Fantástico’. ‘Eles sentiram que tinham completado o serviço.’


O plantão do jornalismo da Globo que exibiu o vídeo da facção criminosa PCC na madrugada de domingo deu 21 pontos de audiência na Grande São Paulo. Ou seja, foi sintonizado em mais de 1,1 milhão de domicílios só na região.


No domingo, o ‘Fantástico’, que relatou trechos do vídeo, marcou 34 pontos.


Portanova voltou a depor à polícia, às 16h30 de ontem, na sede do Deic (Departamento de Investigações sobre o Crime Organizado). Após duas horas e meia, deixou o local dizendo ter conseguido colaborar com as investigações. O repórter reiterou que estava bem: ‘Estou ótimo, estou saindo de férias’.


De acordo com o delegado Antônio de Olin, que acompanhou o depoimento, os três cativeiros em que Portanova esteve eram ao ar livre.


Para ir até o último deles, o repórter teve de caminhar por cerca de dez minutos.


Mãe


Em entrevista concedida à Folha por telefone, a mãe do repórter, a advogada Maria Elizabeth Lacerda Azevedo, disse que, ao ser liberado, o filho estava muito cansado, sujo e com olheiras, mas psicologicamente equilibrado.


Ela disse que o filho teve uma luxação em um dos ombros, em decorrência da velocidade do carro -ele foi transportado no porta-malas.


Ela deve passar os próximos dias com o filho. ‘Como boa gaúcha, não vou desgrudar da cria por um bom tempo.’


Em comunicado emitido ontem, a TV Globo informou que está prestando ‘todo o apoio necessário’ aos dois funcionários e aos seus familiares e que Portanova e Calado terão um período de descanso antes de retornar ao trabalho.


Ontem de manhã o jornalista esteve na redação da TV Globo para rever os colegas.


‘Não estou com pânico, dormi bem, me alimentei, e o pior já passou’, disse Portanova, segundo o comunicado.’


Fabio Schivartche


Lembo não vê terror em SP e critica analistas


‘O governador Cláudio Lembo (PFL) disse ontem que os ataques do crime organizado em São Paulo não são atos terroristas nem de uma guerra civil. E criticou os analistas que defendem essas teses.


‘Eu diria que há uma violência do crime, mas temos que tomar cuidado com as palavras. [Muitos especialistas] falam tolices. Lamento que o brasileiro tenha a capacidade de falar ingenuidade a todo tempo, que as pessoas não tenham auto-censura’, afirmou de manhã.


A Folha publicou nos últimos dias a opinião de diversos especialistas em segurança e terrorismo do Brasil e do exterior. Muitos dizem que os ataques do PCC às forças de segurança e o seqüestro do jornalista da Globo são atos típicos de terroristas.


Para Lembo, ‘há acadêmicos que falam coisas absolutamente fora de lugar’. ‘Há realidades diferentes em cada país. Em São Paulo a violência é quase endêmica. Mas vamos vencer essa parada.’


Seqüestro


Lembo confirmou que a Polícia Civil orientou a Rede Globo a não ceder às exigências dos seqüestradores. ‘Era uma forma clássica de agir em caso de seqüestro, sem nenhuma concessão.’ Mas o governador não criticou a emissora por ter veiculado a mensagem do PCC.


‘É muito cedo para fazer uma reflexão. Precisamos ver se abrirá precedentes para o futuro.’


O governador elogiou o secretário da Segurança Pública, Saulo de Castro Abreu Filho. Negou que Saulo vá deixar o governo e elogiou o fato de haver ‘apenas’ dois seqüestros em andamento em São Paulo. ‘Isso mostra como está agindo bem o secretário. Portanto, [o seqüestro do jornalista e do auxiliar técnico da Rede Globo] não desmoraliza, é apenas mais um episódio de uma vida muito difícil, a de São Paulo.’’


André Caramante


Polícia procura pelo menos seis suspeitos ligados ao seqüestro


‘Policiais da DAS (Divisão Anti-Seqüestro) de São Paulo tentam identificar ao menos seis pessoas que tiveram relação direta com o seqüestro do auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado e do repórter Guilherme de Azevedo Portanova.


Até agora, os policiais da DAS têm pistas indicando que dois criminosos ligados à facção criminosa PCC (Primeiro Comando da Capital) têm ligação direta com o seqüestro.


Dois dos três retratos falados dos seqüestradores apresentaram grandes semelhanças com dois criminosos ligados à facção que já passaram por penitenciárias do interior.


Para identificar os criminosos, a Polícia Civil também tem contado com consultas ao banco de imagens mantido pelo Departamento de Inteligência da SAP (Secretaria da Administração Penitenciária).


O delegado Wagner Giudice, responsável pela DAS e um dos coordenadores da investigação, acredita que os cativeiros onde Calado e Portanova foram mantidos fiquem na região da zona sul da capital.


Na noite de ontem, a polícia chegou a anunciar a prisão de um suspeito em Taboão da Serra (Grande São Paulo). Mais tarde, afirmou que se tratava de boatos.’


Pedro Dias Leite e Eduardo Scolese


Para Lula, governo não pode se intimidar e deve ter discurso ‘duro’ contra crime


‘No mesmo dia em que o repórter da TV Globo foi libertado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que o governo não pode se ‘intimidar’, porque, se permitir que ‘a moda pegue’, o Estado ‘se colocará derrotado’.


‘Se permitirmos que os bandidos comecem a fazer chantagens contra o Estado, a fazer exigências descabidas, acho que o Estado se colocará derrotado diante daqueles que não merecem que o Estado os trate com essa vocação política que eles [a facção criminosa PCC] querem ter nesse momento’, disse, em uma reunião em Brasília, no Palácio da Alvorada.


Lula afirmou aos aliados políticos que ‘em nenhum momento devem mostrar vacilação’ ao falar com a imprensa e determinou que sejam ‘duros’ na retórica contra a facção. ‘Unidos, temos mais chances de vencer a bandidagem.’


A declaração foi dada numa reunião do conselho político de sua campanha.


Thomaz Bastos


A iniciativa da Rede Globo em divulgar as imagens do vídeo atribuído ao PCC foi considerada correta pelo ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos. ‘Acredito que foi uma decisão acertada. Acho que essa decisão nesses momentos de crise devem ser tomadas sempre em nome da vida humana. A vida do ser humano deve ser colocado acima de qualquer outra consideração’, comentou. O ministro, que ontem participou de uma teleconferência na sede da Polícia Federal, na Lapa (zona oeste), disse que acompanhou ‘bem de perto’ o caso.


Ele disse achar difícil que a facção criminosa tenha mudado de foco, com interesse em seqüestrar ou ferir jornalistas.’


ELEIÇÕES 2006
Nelson de Sá


Sem conflito, debate na TV foi sonolento


‘A Band deixou cadeira vazia para Lula e ela, a cadeira, foi o alvo ao longo do debate. Alckmin, Heloísa, Buarque e até Bivar diziam ‘Lula fugiu’ e olhavam para a cadeira. De resto, conflito nenhum.


Alckmin chegou a elogiar a biografia de Heloísa Helena, que elogiou de volta. Ela ainda elogiou Buarque, que fez o impensável e elogiou Bivar!


O risco de enfrentamento só apareceu quando a candidata perguntou a Alckmin sobre isenção do capital financeiro. Mas o tom foi contido -e com ataques a Lula e a FHC. Jamais um ao outro.


Com o tempo, foram todos se mesclando num só desânimo, até Heloísa, mas sobretudo Alckmin. Desânimo que se refletia na sonolência do mediador Ricardo Boechat.


As coisas só foram mudar com a entrevista pelos jornalistas, mas a audiência já era.


Registre-se que antes e durante o programa a Band se apresentou como ‘referência na realização de debates’ -ela, Band, que não fez debate na campanha pela reeleição presidencial em 98.’


Michele Oliveira


Para analistas, só TV não muda


‘Embora o candidato do PSDB Geraldo Alckmin aposte suas fichas no horário eleitoral, marqueteiros ouvidos pela Folha vêem pouca chance de alteração no cenário a partir de hoje, quando começa a propaganda na TV e no rádio.


A ressalva que fazem é unânime: somente um fato muito relevante contra o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), líder nas pesquisas, será capaz de reverter o quadro atual.


As previsões se assemelham ao que aconteceu em 1998, quando um também candidato à reeleição -Fernando Henrique Cardoso (PSDB)- começou a campanha na TV à frente dos demais, posição da qual não saiu até o fim da disputa.


Já para a candidata do PSOL, Heloísa Helena, que estava em terceiro no último Datafolha, com 12%, o ideal seria que ocorresse o mesmo de 2002.


Antes do horário eleitoral daquele ano, Ciro Gomes (PPS) estava dez pontos atrás de Lula, com 27%, segundo o Datafolha. José Serra (PSDB) vinha em terceiro, com 13%. Em 30 de agosto, dez dias depois do início da propaganda na TV, Serra já havia subido à segunda posição, tecnicamente empatado com Ciro: 19% contra 20%.


‘Desde 2002, principalmente, grandes mudanças de voto não aconteceram por causa de programas eleitorais, mas sim por causa de notícias’, afirma Einhart Jacome da Paz, marqueteiro de Ciro em 2002.


Nos primeiros dias de horário eleitoral, a campanha de Serra mirou em Ciro. Reproduziu uma entrevista na qual o então candidato do PPS chamou um ouvinte de ‘burro’.


Dias depois uma declaração de Ciro pareceu enterrar de vez as suas chances. No dia 31 de agosto, ele disse que o papel na campanha de sua mulher, Patrícia Pillar, estava no fato de ‘dormir’ com ele. Em 9 de setembro, Serra já tinha ultrapassado Ciro, 21% contra 15%.


‘O cenário só muda muito se acontecer de o Lula cometer uma seqüência de gafes muito grande ou ofender o eleitor de alguma maneira’, disse o publicitário Paulo de Tarso da Cunha Santos, que fez as campanhas de Lula em 1989 e 1994.


Para os marqueteiros, o que é realmente importante são as inserções, pequenas peças publicitárias que as TVs distribuem ao longo da programação. Elas são curtas, de até 60 segundos, e têm a vantagem de pegar o eleitor de surpresa.


‘As inserções são mais importantes até’, diz Fernando Barros, marqueteiro das campanhas presidenciais de FHC.


Com 65 inserções a mais do que Lula até 28 de setembro, Alckmin pode se beneficiar de outra característica das inserções, que é a de poder fazer ataques aos adversários sem quase ser identificado.


É comum os ataques virem acompanhados apenas de uma minúscula série de siglas. ‘Inserções são muito importantes. Dá para atacar sem ficar com o ônus’, diz Jacome da Paz.


Com ataques ou só ‘paz e amor’, o horário político, segundo Paulo de Tarso, vai trazer o eleitor para a campanha.


‘Sem outdoor e faixas, as pessoas estão distantes da campanha. A eleição ainda não entrou na vida das pessoas’, afirma o marqueteiro.’


Folha de S. Paulo


Em debate, Lula é criticado por ausência


‘Ausente, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva foi o principal alvo de ataques de todos os presidenciáveis que participaram ontem do primeiro debate entre candidatos, promovido pela Rede Bandeirantes. Em clima morno, em que deixaram de lado rivalidades políticas e até trocaram elogios, os candidatos preocuparam-se mais em aproveitar todas as brechas para criticar o petista pela ausência e pelos resultados do atual governo do que detalhar suas propostas ao eleitor.


A surpresa programática ficou por conta do compromisso assumido por Geraldo Alckmin (PSDB) e Heloísa Helena (PSOL) de extingüir a DRU (Desvinculação de Receitas da União). Hoje, o governo federal pode remanejar livremente até 20% das receitas da União. A DRU, criada em 1994 e prorrogada até 2007, é considerada essencial pela equipe econômica para evitar o engessamento financeiro da União.


‘Pretendo fazer a reforma tributária e acabar com essas histórias de desvinculação’, disse Alckmin. Heloísa adotou o fim da DRU como bandeira. ‘Em 2007, será extinta.’


Lula foi criticado por todos, sem exceção. ‘O presidente nunca ouve nada, não vê nada, provavelmente não sabia que teria debate’, debochou José Maria Eymael, do PSDC. Ex-ministro da Educação de Lula, Cristovam Buarque (PDT) disse que o presidente desrespeita a democracia.


Heloísa disse não aceitar a ‘arrogância’ de Lula que se considera melhor que os outros’. Para Alckmin, Lula não tem apreço pela democracia.


Políticos presentes no debate, inclusive do PSDB, elogiaram o desempenho de Heloísa Helena. Apesar de Alckmin ter sido sorteado para começar o debate, ela foi a primeira a criticar a ausência de Lula. Interessados numa eleição em dois turnos, ambos não se atacaram. Ao criticar o PSDB, ela mencionava Fernando Henrique Cardoso. Já Alckmin explorou sua proximidade com Mário Covas.


Ao longo do debate, dividido em cinco blocos, houve momentos de descontração. Cristovam Buarque perguntou a Luciano Bivar (PSL), que foi presidente do clube Sport (PE), se ele se decepcionou mais com a derrota da seleção brasileira na Copa ou com o governo Lula.


Eymael abusou da sinceridade: ‘Minha proposta central é a conquista da Presidência’.


A questão da segurança provocou alguns constrangimentos a Alckmin. O tucano foi criticado por Eymael por ser o responsável por depósitos de presos e o início do PCC em São Paulo. Alckmin disse que implementou presídios de segurança máxima. Afirmou que Lula ‘amoleceu’ com os bandidos e o acusou de omissão. ‘Lula teria que estar aqui para prestar contas porque se omitiu na questão da segurança.’


A audiência do debate foi de 5,8 pontos (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande SP). A Bandeirantes autorizou os candidatos a usar a imagem da cadeira vazia de Lula.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Não acordar sob bomba


‘A BBC deu a reação da mídia no Oriente Médio ao cessar-fogo pedido pela ONU. Do libanês ‘Al-Nahar’:


– Esperamos não acordar sob bombas e tiros, uma vez que os céus do Líbano e da Palestina parecem ter se tornado campos de futebol, onde os competidores trocam foguetes para ver quem faz mais pontos.


Já os também libaneses ‘Al-Safir’ e ‘Daily Star’ elogiam o Hizbollah -com quem, diz o primeiro, os políticos do país ‘podem aprender muito’. Na Síria e no Irã, respectivamente, o ‘Al-Thawrah’ e o ‘Resalat’ também saúdam a ‘vitória inquestionável’ do grupo.


E em Israel o ‘Yediot Ahronot’ trata o cessar-fogo como ‘o fim do primeiro combate’ e o ‘Jerusalem Post’ avisa a comunidade mundial que ‘Israel não vai repetir o erro de esperar o Hizbollah se rearmar’.


VITÓRIA E VITÓRIA


Nos EUA e Europa, os sites de ‘New York Times’ e ‘Le Monde’ fugiam de apontar vitória ou derrota em suas páginas iniciais, concentrando-se no sucesso do cessar-fogo.


Já o site do britânico ‘Guardian’ destacava que o ‘Líder do Hizbollah declara vitória’, enquanto o do ‘Washington Post’ ressaltava ‘Bush diz que Israel derrotou Hizbollah’.


CNN e Fox News, canais de notícias dos EUA, também noticiavam em destaque a declaração de George W. Bush.


PROCLAMA E AMEAÇA


Na Globo, a primeira entrada anunciou que ‘os libaneses celebraram um cessar-fogo que consideram uma vitória’.


Já o ‘Jornal Nacional’, a exemplo dos sites e portais, buscou mais distanciamento. Na manchete do portal UOL, ‘Israel ameaça o Hizbollah; grupo proclama vitória’.


No site Carta Maior, o enviado a Tel Aviv, Bernardo Kucinski, dizia que ‘entre os israelenses é consenso que o Hizbollah é o vitorioso -e que o primeiro-ministro vai cair’.


EM GAZA A Fox News evitou, mas CNN e BBC noticiaram o seqüestro de dois jornalistas (à esq. Steve Centanni) do canal concorrente, um repórter e um câmera, em Gaza. Segundo a BBC, citando fontes da Fox News, ‘as negociações estão sendo encaminhadas para a libertação de ambos’ – e os seqüestros têm sido usados comumente na pressão de grupos sobre a Autoridade Palestina


CARTÃO DE VISITA


O britânico ‘Financial Times’ adiantou ontem duas reportagens sobre o início do horário eleitoral, hoje. Uma contrapõe as chances de Lula e Geraldo Alckmin, pontos fortes e fracos, citando a opinião do cientista político -e tucano- Bolívar Lamounier:


– Alckmin tinha impressionante cartão de visita em SP. E aí [a violência] apareceu.


POLÍTICAS


A segunda reportagem do ‘FT’ é sobre Heloísa Helena, com atraso em relação ao ‘Wall Street Journal’, mas tom semelhante. Avisa, por exemplo, que suas políticas incluem ‘terminar com os superávits orçamentários e renegociar a dívida interna’.


15/20 ANOS


E o ‘FT’ também foi parar na ‘tríplice fronteira de Paraguai, Brasil e Argentina’. Mas foi para noticiar o ‘vislumbre de sucesso’ nos esforços para conter a corrupção fronteiriça e ‘formalizar a economia’.


A previsão do presidente Nicanor Duarte foi de ‘15/20 anos para acabar com a velha história de sermos nação de falsários e contrabandistas’.


LIDERANÇA


Já o ‘Miami Herald’, como ‘NYT’ e outros antes dele, fez longo dossiê sobre o etanol, com reportagem no ABC sobre ‘flex-fuel’, longo perfil da presidente da GM na América Latina -e até ‘Editor’s Note’ sob o título ‘EUA devem seguir a liderança do Brasil’.’


GUERRA NO ORIENTE
Folha de S. Paulo


Jornalistas da Fox News são seqüestrados


‘Homens armados e mascarados seqüestraram dois jornalistas da equipe da rede de TV americana Fox News, na Cidade de Gaza, ontem. O carro em que estavam o repórter Steve Centanni e o câmera Olaf Wiig se encontrava perto do comando dos serviços de segurança palestinos e foi cercado por dois caminhões. Até a noite de ontem, nenhum grupo havia assumido a autoria do seqüestro.


Também ontem, um ataque aéreo israelense matou três palestinos no norte da faixa de Gaza, após dois foguetes vindos da mesma área atingirem Israel. Outro ataque atingiu a suposta casa de um membro do Jihad Islâmico, deixando oito feridos. Com agências internacionais’


FIDEL DOENTE
Folha de S. Paulo


Pela 1ª vez após cirurgia, TV mostra Fidel doente


‘Um dia depois do aniversário de 80 anos de Fidel Castro, a TV estatal cubana veiculou ontem o primeiro vídeo com imagens do ditador cubano desde seu afastamento, há duas semanas, devido a uma cirurgia no intestino.


Fidel aparece numa cama, recebendo a visita de seu irmão Raúl, que assumiu o poder, e do presidente venezuelano, Hugo Chávez, seu maior aliado. As imagens foram gravadas anteontem. O ditador, com aparência abatida, conversa com Chávez, sorrindo, e é mostrado escrevendo e tomando iogurte.


As últimas imagens de TV do ditador eram do dia 26, durante um discurso. O jornal oficial, ‘Granma’, publicou ontem fotos do encontro. Sob o título de ‘Tarde inesquecível entre irmãos’, ele diz que Chávez e Fidel trocaram ‘presentes [como uma taça e uma adaga que foram de Simón Bolívar] e risadas’. Os dois vestem vermelho.


Autoridades cubanas insistem que Fidel se recupera bem, mas declaração atribuída a ele divulgada anteontem diz aos cubanos para se prepararem ‘para uma notícia adversa’, pedindo, porém, que continuem ‘otimistas’. A falta de notícias concretas sobre a saúde de Fidel tem gerado especulações.


Sobre as fotos, o porta-voz da Casa Branca, Tony Snow, afirmou: ‘Primeiro você tem aquela com [o editor de imagens] Photoshop’, referindo-se a imagens divulgadas anteontem, que mostram o ditador sozinho. ‘Pelo menos a segunda foi um pouco melhor.’ O Departamento de Estado americano disse que ‘os irmãos Castro estão impondo uma sucessão dinástica’. Com agências internacionais’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Jô Soares faz amanhã a entrevista nº 10.000


‘O apresentador e showman Jô Soares comemora dupla efeméride amanhã. Fará sua entrevista de número 10.000 e completará 18 anos de carreira como apresentador de ‘talk-show’, tipo de programa com o qual se confunde no país.


A 10.000ª entrevista será com o também apresentador de ‘talk-show’ (o ‘Saca Rolha’, da Play TV) Marcelo Tas. Mas o jornalista não será tratado diferentemente dos outros 9.999 entrevistados de Jô.


A produção do ‘Programa do Jô’ (Globo) passou alguns meses pensando em um nome para marcar a 10.000ª entrevista. O escritor Ariano Suassuna, que tem fama de ‘difícil’, foi cogitado. Mas a idéia acabou abortada, até porque Suassuna, assim como o compositor baiano Dorival Caymmi, já foi entrevistado por Jô.


‘Destacar um só entrevistado seria deselegante com os demais. E ficaria muito auto-promocional’, afirma Jô Soares.


O humorista, que estreou como entrevistador em 1988 no SBT, à frente do ‘Jô Soares Onze e Meia’, diz que não há ninguém que tenha tentado e não tenha conseguido entrevistar, apesar de, em 2004, ter sido preterido pelo presidente Lula, que falou com exclusividade ao ‘Programa do Ratinho’ (SBT).


Jô também diz não ter uma única entrevista mais marcante. ‘Foram tantas. A mais marcante é sempre a próxima’, conta. ‘Vamos partir agora para as próximas 10.000.’


REBATISMOVai se chamar ‘Vidas Opostas’ a próxima novela das oito da Record, escrita por Marcílio Moraes. O novo título substitui ‘O Senhor da Guerra’, do qual a emissora desistiu porque avaliou que ficaria presa à ‘armadilha’ de ter de centralizar a trama no protagonista (o senhor da guerra em questão).


FORÇA NEGRAO ator Leandro Firmino, o Zé Pequeno do filme ‘Cidade de Deus’, está para fechar contrato nesta semana com a Record. Deverá interpretar um bandidão de morro carioca em ‘Vidas Opostas’.


PARCERIA MUSICALA TV Cultura negocia com a casa de shows paulistana Tom Jazz uma parceria para gravar lá um novo programa, focado em música instrumental.


MILAGRE NO SBT 1O SBT, apesar do nanismo de sua estrutura jornalística, conseguiu noticiar a libertação do repórter Guilherme Portanova à 1h04 de ontem, apenas três minutos após a Globo e antes do canal Globo News.


MILAGRE NO SBT 2A notícia, no SBT, foi dada por Hermano Henning, com imagens frias. Ficou melhor que na Globo, que a deu em tela coberta (só estava escrito ‘Plantão’). Henning só estava na emissora porque tinha gravado o telejornal da manhã.


TÁTICA DE GUERRILHAA Record imitou o SBT e, sem avisar, mudou o horário de ‘O Aprendiz’, anteontem, das 20h30 para as 22h37. Fugiu de ‘Topa ou Não Topa’, do SBT, mas a audiência foi a mesma do domingo anterior, nove pontos.’


Lucas Neves


GNT estuda a estupidez humana


‘Se é verdadeiro o princípio mercadológico de que sexo vende (‘sex sells’, no original inglês), o mesmo deve valer para a imbecilidade. É o que defende o documentário ‘A Estupidez Humana’, que o GNT leva ao ar hoje à noite. ‘Ser estúpido é atraente. As pessoas se sentem melhor ao ver outras em situação pior do que a delas’, resume um acadêmico.


O programa mostra que a indústria cultural se pauta pelo conceito de ‘mínimo múltiplo comum’. Raciocínios minimamente complexos, vocabulário um pouco menos coloquial e referências históricas constituem o tripé da cartilha de ‘como afugentar o público’. E os barões da mídia e da política estão longe de querer isso, certo?


A França foi pioneira nos testes de Q.I.. Um certo Goddard traduziu o teste para o inglês, e os americanos aplicaram-no às levas de imigrantes que chegavam ao país. O resultado foi usado para deportar milhares de pessoas. Quando a escala de classificação de Goddard inspirou os nazistas, a brincadeira perdeu de vez a graça…


A deturpação do trabalho de Goddard parece ter inibido o estudo da estupidez. Até hoje, a bibliografia sobre o assunto é escassa. Já o material empírico a ser analisado não pára de crescer: ‘George Bush se orgulha de sua imbecilidade’, diz um dos entrevistados.


A ESTUPIDEZ HUMANA


Quando: hoje, às 21h


Onde: GNT’


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