Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Jornalista da Globo
é libertado pelo PCC


Leia abaixo os textos de segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 14 de agosto de 2006


PCC SEQÜESTRA JORNALISTA
Alvaro Magalhães e Marcelo Godoy


Repórter da TV Globo é solto após 24 horas da exibição do vídeo do PCC


‘Pouco mais de 24 horas depois de a TV Globo ter cedido ao Primeiro Comando da Capital e exibido um vídeo de 3 minutos da facção na madrugada de ontem, a emissora anunciou a libertação do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado na manhã de sábado pelo PCC.


O jornalista foi deixado no bairro do Morumbi, zona sul da capital, e pediu ajuda numa empresa, cujos seguranças o levaram para a sede da emissora, no Brooklin. No caminho, Portanova ligou para os colegas na Globo. O rapaz chegou à emissora por volta da 1 hora de hoje. Segundo informações de jornalistas da emissora que estiveram com Portanova, ele passa bem. Queixou-se apenas de dores no ombro esquerdo, por ter ficado a maior parte do tempo dentro de um carro. Não foi agredido.


Alexandre Coelho Calado, auxiliar técnico da equipe de reportagem, também foi levado pelos seqüestradores e liberado na noite de sábado. Foi ele quem entregou a fita da facção à TV. A exibição do vídeo era uma exigência do PCC para não executar o repórter. Ontem à noite, no Fantástico, a emissora voltou a mostrar o vídeo, em versão editada.


Portanova e Calado foram seqüestrados às 8 horas de sábado, quando saíam de uma padaria perto da sede da Globo. Os bandidos soltaram Calado às 22h30 de anteontem.


Pela manhã, a cúpula da Secretaria da Segurança reuniu-se. A inteligência policial informou ter identificado o comando do líder do PCC, Marcos Camacho, o Marcola, no crime. O plano original era de que o seqüestro da equipe da Globo ocorresse mais perto das eleições, mas alguém teria se precipitado.


Uma única escuta telefônica da polícia indicava a possibilidade de o PCC mudar de tática novamente. A ordem foi interceptada às 11 horas de terça-feira e mandava parar a terceira onda de atentados, iniciada no dia anterior, para esperar ‘o que a imprensa ia divulgar’. No mesmo dia, bandidos deixaram o vídeo na sede do SBT, em Osasco. Como a emissora não o divulgou, o PCC apelou para o seqüestro.


Em 24 horas, a polícia fez cinco operações na Grande São Paulo em busca do cativeiro de Portanova. Esteve na periferia de Carapicuíba e de São Bernardo e em favelas das zona sul, leste e oeste da capital. O crime mobilizou políticos. O ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça) conversou duas vezes com o governador Cláudio Lembo para saber detalhes do caso.’


Marcelo Godoy


Desta vez o cérebro é Norambuena


‘Um seqüestro ocorrido no Chile em 1987 pode estar por trás da tática utilizada pelo Primeiro Comando da Capital ao seqüestrar o jornalista Guilherme Portanova e o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado. Trata-se do seqüestro do coronel Carlos Carreño, diretor da Fábrica de Armas do Exército do Chile. O motivo dessa suspeita da polícia paulista é o fato de Maurício Hérnandez Norambuena, o Comandante Ramiro, ter participado dessa ação.


Líder dos seqüestradores do publicitário Washington Olivetto, Norambuena é um dos principais suspeitos de ter articulado a ação do PCC neste fim de semana. Preso desde 2002, ele cumpre pena no Centro de Readaptação Penitenciária de Presidente Bernardes, onde está a cúpula do PCC. Quando foi preso, Norambuena era o comandante militar da Frente Patriótica Manoel Rodrigues (FPMR).


O coronel Carreño foi seqüestrado pela FPMR, pouco depois de o grupo esquerdista ter rompido com o Partido Comunista do Chile, de quem havia sido o braço armado. Mantido 92 dias em cativeiro no Brasil, Carreño foi libertado em São Paulo depois que o regime do general Augusto Pinochet atendeu às exigências da FPMR, distribuindo alimentos em uma favela de Santiago e permitindo a divulgação de comunicados do grupo na imprensa daquele país.


Em entrevista ao Estado em 2002, a única até hoje concedida por Norambuena, ele confirmou ter participado da Operação Príncipe, o seqüestro de Carreño. ‘Essa operação teve o objetivo de trazer ao conhecimento do país a posição da frente com a publicação pela imprensa de declarações da FPMR.’ Norambuena disse ainda que ‘a libertação são e salvo do coronel produziu uma grande simpatia pela frente’.


Delegados da Divisão Anti-Seqüestro (DAS) e do Departamento de Polícia Judiciária da Capital (Decap) consideram provável a participação de Norambuena no plano do seqüestro dos funcionários da TV Globo e discutiram isso ontem em reunião na Secretaria da Segurança Pública.


A polícia suspeita que o próximo passo da facção possa ser seqüestrar uma autoridade para exigir a libertação de líderes do PCC presos em troca da vida do refém. Isso porque a imagem de Carreño com a bandeira da FPMR ao fundo publicada à época remete à do ex-premiê italiano Aldo Moro, presidente da Democracia Cristã, no cativeiro diante de uma bandeira das Brigadas Vermelhas. Moro foi seqüestrado em 1978. Como o governo não aceitou libertar brigadistas presos, ele foi executado.


Em 2002 e 2003, a polícia paulista apreendeu com integrantes do PCC planos de seqüestro de autoridades, que nunca se consumaram. Agora, essa é uma possibilidade voltou a ser levada em conta.’


Chico Siqueira


Vídeo foi gravado há uma semana


‘O vídeo levado ao ar pela TV Globo depois que o PCC ameaçou matar o repórter Guilherme Portanova foi gravado há uma semana, mesmo dia em que a facção divulgou o salve (ordem) geral no qual tentou justificar a onda de atentados iniciada na madrugada anterior. Cópia da fita tinha sido jogada na garagem da sede do SBT, em São Paulo, na própria segunda-feira, mas a rede não quis exibi-la. A redação da Folha de S. Paulo também recebeu o material. O jornal mencionou o conteúdo do vídeo de forma discreta, na edição de quinta-feira. Só na manhã do sábado, após o seqüestro, a fita foi entregue ao Ministério Público Estadual.


À tarde, as imagens foram repassadas pela Globo à sua afiliada de Presidente Prudente, para especialistas analisarem se o material era mesmo criação do PCC. A confirmação saiu em seguida, mas nem a polícia nem o serviço de inteligência da Secretaria da Administração Penitenciária imaginavam a possibilidade de o PCC usar o seqüestro para exigir a divulgação das imagens. ‘Foi uma surpresa para todo mundo’, disse, ontem, um técnico da SAP.’


Laura Diniz


Texto do PCC é plágio de parecer do governo


‘O PCC se apropriou de um parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária (CNPCP), sobre a criação do Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), para elaborar o texto lido pelo soldado de máscara ninja, que a TV Globo foi obrigada a divulgar para tentar salvar a vida do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado anteontem pela facção.


O conselho é um órgão do Ministério da Justiça destinado a estudar a questão penitenciária no país, sugerir políticas criminais e estabelecer normas e diretrizes para o sistema carcerário. Quem assina o texto original é o presidente do CNPCP, Antônio Cláudio Mariz de Oliveira, um dos criminalistas de maior renome no Brasil.


Procurado ontem à noite pelo Estado, Mariz contou que não assistiu ao vídeo na TV Globo. A reportagem reproduziu o texto e ele logo disse que soava familiar. ‘É mais uma demonstração de que estão se politizando’, analisou. A facção tenta, segundo ele, em nome da denúncia de um sistema penitenciário falido, legitimar suas ações criminosas. ‘Não sinto nenhum orgulho disso, ao contrário. As manifestações do Conselho têm por escopo melhorar o sistema penitenciário e jamais servir de escudo pra prática de delitos.’


Mariz lembrou que o parecer foi aprovado por unanimidade pelos membros presentes na reunião do Conselho em que foi apreciado. Era abril de 2003. O documento oficial avalia que o RDD viola a Constituição, que proíbe a ‘aplicação de pena de natureza cruel’. O texto do PCC diz que ‘a nova punição disciplinar inaugura novos métodos de custódia e controle da massa carcerária, conferindo à pena de prisão um nítido caráter do castigo cruel’.


O RDD, regime duro de cumprimento de pena contra o qual se insurge o PCC, foi criado em 2001, em caráter administrativo, pela resolução 26 da Secretaria da Administração Penitenciária (SAP), como reação à megarrebelião dos presídios de 2001. O regime foi instituído em termos nacionais pela lei federal 10.792, em dezembro de 2003. O presidente Luiz Inácio Lula da Silva sancionou a lei pouco após o período em que o traficante Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, era mandado de um Estado para outro.’


LIBERDADE DE IMPRENSA
Carlos Alberto Di Franco


Não ao autoritarismo


‘Governos freqüentemente cedem à tentação do autoritarismo. Em passado recente (no governo Fernando Henrique Cardoso), imprensa e Ministério Público foram ameaçados com tentativas de aprovação da chamada Lei da Mordaça. Lula e o PT, então, posavam de defensores da liberdade e empunhavam o bisturi investigativo. Lei da Mordaça, jamais! As CPIs eram defendidas como instrumento indispensável no combate à corrupção. Agora, instalados no poder, a coisa mudou. Entusiasmou-se o presidente da República com a esdrúxula proposta de um grupo de juristas para restringir os poderes das comissões parlamentares de inquérito. E, aproveitando a carona, tratou de lançar mais um projeto ao vento: a criação de uma Assembléia Nacional Constituinte exclusiva para fazer a reforma política. Reforma que, diga-se de passagem, não o preocupou até ontem. Não vingará. Mas, se desse certo, ajudaria, e muito, a desviar a atenção das incômodas CPIs. Na esquizofrênica lógica presidencial, comissão parlamentar de inquérito, louvada num passado não tão distante, virou conspiração para derrubar o governo. Ministério Público, antes encarado como aliado, passou a ser visto como contrapoder. E a imprensa, segundo o raciocínio presidencial, se transformou em ponta-de-lança das elites insensíveis e irresponsáveis.


Vale a pena, caro leitor, relembrar os precisos comentários do então procurador-geral de Justiça de São Paulo Luiz Antonio Guimarães Marrey. Em declarações à imprensa, o promotor defendia a ação do Ministério Público no combate aos predadores do interesse público. Ao comentar as críticas de alguns políticos que vislumbravam abusos em certas ações do Ministério Público e os projetos que pediam o esvaziamento das atribuições da instituição, afirmava: ‘São propostas contrárias aos interesses da sociedade. Se existe uma instituição que tem colaborado para a construção de um novo País, democrático e republicano, tem sido o Ministério Público, responsável pela vigilância no gasto do dinheiro público, na defesa do meio ambiente e na ação contra criminosos, inclusive aqueles com maior poder econômico ou político.’


Concordo com a sua visão do papel do Ministério Público, que, em parte, se aproxima da missão dos meios de comunicação social. As conseqüências individuais e sociais do nosso trabalho informativo exigem, como é lógico, independência e sensibilidade ética. Preocupam-se alguns com os perigos de prejulgamento que podem advir de uma declaração precipitada e pública da autoridade (leia-se do Ministério Público) estampada em título de jornal. Procuram, por isso, criar um sistema que proteja a intimidade e garanta a presunção de inocência de pessoas submetidas a processo investigativo. Esse cuidado legítimo, contudo, pode transformar em regra o que deveria ser rigorosamente exceção.


Fatos recentes evidenciam a importância da informação jornalística e da ação do Ministério Público como instrumentos de efetivação da justiça. O Brasil, não obstante a gigantesca onda de corrupção que tanto nos envergonha, está melhorando. Não se cura uma doença grave com terapias florais. É preciso lancetar e extirpar o tumor. Custe o que custar. Ninguém discute que o Brasil tem avançado graças ao esforço dos meios de comunicação. Duvido que o processo democrático possa avançar no terreno empobrecido pela falta de informação. A Venezuela de Hugo Chávez, louvada e aplaudida por inúmeros integrantes do governo petista, pode ser tudo, menos um modelo de eficiência e de democracia. O populismo traz votos no curto prazo, mas gera miséria e crise no longo prazo. O presidente Lula, homem público com fascinante biografia, não deve permitir que o imediatismo e a paixão pelo poder comprometam o corolário da sua carreira.


A informação é a medula da sociedade democrática. Precisamos, sem dúvida, melhorar, e muito, os controles éticos da notícia, combater as injustas manifestações de prejulgamento, as tentativas de transformar a mídia em palanque ideológico e eliminar a precipitação que pode desembocar em autênticos assassinatos morais. Mas, ao mesmo tempo, não podemos deixar de criticar as tentativas de cerceamento do dever ético da investigação. As reiteradas tentativas do governo de controlar a imprensa, o Ministério Público e, agora, o próprio funcionamento do Congresso Nacional não colaboram para a imagem de austeridade e defesa da ética que o presidente Lula tenta vender. Fatos são fatos. Discursos são discursos.


Não se consolida a democracia com casuísmos jurídicos. Edifica-se um país, sim, com o respeito à lei e à verdade. Ao presidente da República, que, questionado, nega qualquer envolvimento pessoal com os desmandos de seus auxiliares, só deveria interessar a busca da verdade e a punição dos corruptos. Por isso, presumindo a sinceridade de Sua Excelência, não se entende o seu recorrente empenho em criar embaraços ao trabalho investigativo das CPIs, ao esforço informativo da imprensa e ao labor de apuração do Ministério Público. Como afirmou Dora Kramer, com razão, ‘no lugar de capitanear um movimento de superação da crise política convocando ‘os bons’ a dar combate à degeneração dos costumes usando os instrumentos usuais da democracia, o presidente da República prefere desqualificar mais ainda o Parlamento, impregnando na sociedade o negativismo que paralisa, desanima, a todos iguala e dissemina a desesperança, semente do autoritarismo’.


A sociedade brasileira, queira ou não o presidente da República, exigirá explicações para as notáveis contradições que permeiam o discurso e a prática do fundador PT.


Carlos Alberto Di Franco, diretor do Master em Jornalismo, professor de Ética e doutor em Comunicação pela Universidade de Navarra, é diretor da Di Franco – Consultoria em Estratégia de Mídia E-mail: difranco@ceu.org.br


INTERNET
Ricardo Anderaos


Mamãe perigosa


‘Gina Brunelas é uma típica mãe de família norte-americana. Com 43 anos de idade, vive com seu marido e três filhos pequenos em Wellington, na Flórida. Ela trabalha fazendo perícias técnicas para a polícia local.


Tudo normal, aparentemente. O que ninguém sabia era que quando seu marido não estava em casa, Gina sentava ao computador da família, entrava na internet e vasculhava salas de bate-papo e comunidades online à procura de garotos menores de idade.


Seu alvo predileto eram rapazes das redondezas. Quanto mais perto morassem, melhor. Assim que identificava um alvo em potencial, trocavar endereços de e-mail e incluía o novo amigo na lista do seu programa de mensagens instantâneas. O messenger era o instrumento que ela usava para começar a falar abertamente de sexo com seus amiguinhos.


Daí para trocar números de telefone celular era um pulo. E assim ficava mais fácil para Gina alcançar seu verdadeiro objetivo: convidar os rapazes para visitarem sua casa. Na ausência do marido e depois que ela colocava as crianças na cama, é claro.


‘O general vai ficar fora de casa na primeira semana de agosto… Você está interessado em vir aqui?’, escreveu ela no messenger para um garoto de 17 anos que mora em Palm Beach. Nas conversas com os amiguinhos, ela sempre se referia ao coitado do seu marido como ‘o general’.


‘E o que tem aí para mim?’, perguntou o adolescente. ‘Diversão, diversão e mais diversão’, escreveu ela. ‘Sexo, sexo e mais sexo!’, completou o garoto. E quando ele perguntou se eles não acordariam as crianças, ela disse que não. ‘Já fiz isso antes. Não teremos nenhum problema.’


Não está claro se o pai flagrou o filho, ou se esse garoto resolveu abrir o jogo com a família. A primeira hipótese me parece mais plausível. O fato é que o pai do rapaz procurou o xerife e denunciou Gina. A conversa transcrita acima foi encontrada por um investigador da polícia no computador do garoto.


O rapaz foi levado à delegacia no dia 24 de julho. Lá, contou detalhes sobre suas sessões de sexo virtual e conversas com Gina pelo celular. Os policiais pediram que ele telefonasse para ela e gravaram o diálogo a seguir.


‘Você estava falando sério sobre tudo aquilo? Quer dizer, fazer todas aquelas coisas que a gente escreve no computador?’, perguntou o garoto. ‘Claro! Por que, você não estava?’, disse ela. Gina disse para o rapaz que eles precisavam ter cuidado, porque ela trabalhava para a polícia. O rapaz perguntou se estava claro que ele era menor. Ela disse que sim.


No dia seguinte os investigadores descobriram um vizinho de Gina, com 16 anos de idade, que mantinha o mesmo tipo de relacionamento com ela. O rapaz compareceu à delegacia com a mãe e relatou uma história semelhante.


Há uma semana, Gina foi detida pela polícia. O caso ganhou destaque na TV local. Sua fiança foi fixada em US$ 25 mil. Depois de depositar esse valor, ela foi libertada. Mas está proibida de se aproximar dos dois garotos e também de acessar a internet.


Os programas de mensagens instantâneas são a principal atividade dos adolescentes diante do computador. É o que dizem as pesquisas e o que vejo acontecer em casa, com minha filha de 12 anos. Tenho um software que impede meus filhos de acessarem páginas com pornografia. Mas esses programas não controlam o Messenger e seus assemelhados.


Como evitar que nossos filhos sejam assediados? Cortar a internet não é solução. Neste século, seria o mesmo que criá-los dentro de uma bolha. Tudo conspira para dificultar o diálogo entre pais e filhos. Mas essa me parece a única saída. Ontem, hoje e sempre.’


Pedro Doria


O começo da Era Digital


‘No dia 11 de agosto de 1981, a IBM lançou no mercado o computador 5150 – ou apenas IBM-PC. Havia outros computadores pessoais à venda, o Apple II correspondia a quase 80% da base instalada, mas dos micros lançados naquele período inicial nenhum mexeu com o mundo tanto quanto este. Tanto que a sigla genérica PC, de personal computer, computador pessoal, virou sinônimo do modelo IBM. A revolução começou há 25 anos.


Naquele princípio dos anos 80, fora uma meia dúzia de excêntricos, ninguém levava muito a sério o conceito de computador pessoal. E o PC era caro: US$ 1.500, pouco mais de US$ 3.000 em valores atuais. Um investimento pesado para uma família numa máquina muito promissora mas que, bem, não tinha lá muita utilidade.


As equipes de tecnologia das grandes empresas, por outro lado, nem sequer consideravam a compra de PCs. Eram uma piada: com 16 Kbytes de RAM e fitas cassete para armazenamento de dados, mesmo para os padrões do tempo tratava-se de uma máquina fraca, muito fraca. Quem mexia com computador mexia com equipamento bem maior e mais robusto.


A diferença veio de quem não mexia com computador: os gerentes, executivos de outros departamentos, em geral jovens e numa posição hierárquica intermediária. Se antes não conseguiam convencer suas empresas a investirem num micro, quando veio um com o selo IBM a coisa mudou de figura. Aquilo talvez fosse sério.


E era sério, principalmente por conta do lançamento do Lotus 1, 2, 3, nova versão da planilha eletrônica VisiCalc que já existia para outros computadores. A planilha deu utilidade ao PC e, sozinha, justificava sua compra.


A IBM, no entanto, se por um lado teve um estupendo sucesso comercial de largada, se deu mal a longo prazo. Don Estridge, o engenheiro responsável pelo time de 12 que desenvolveu o PC, fez a opção que garantiu o sucesso da empreitada ao mesmo tempo que condenou sua empresa ao fracasso.


Diferentemente do que era praxe na IBM, a empresa não fabricava todos os componentes do PC. Estridge queria empurrar o preço para baixo e concluir o projeto o mais rápido possível. Para isto, decidiu mobilizar a menor quantidade possível de departamentos da gigantesca (e burocrática) IBM. Na Intel, foi buscar o processador 8088. Da Microsoft, comprou um sistema operacional – o MS-DOS, que ainda subsiste, discreto, em PCs até hoje.


Em um ano, a equipe tinha o produto pronto. Mas não tinha a exclusividade dos componentes. Assim, poucos meses após o lançamento do IBM-PC, em princípios de 1982, uma empresa chamada Columbia pôs no mercado seu PC, uma máquina bem mais poderosa, com 128 Kbytes de RAM, expansíveis até respeitáveis 1 Mbyte. Pouco depois, foi a vez de a Compaq lançar o seu.


Mal nascido o PC, já surgiam os computadores compatíveis com o padrão IBM. Eram os clones, cada vez mais baratos, capazes de rodar rigorosamente os mesmos programas. Se a gigante da informática ditou aquele que seria – e persiste sendo – o padrão, facilitou a fortuna de Intel e Microsoft. Não à toa, o termo genérico IBM compatível nos últimos dez anos foi substituído por máquinas WinTel – de Windows, Intel.


No momento em que completa 25 anos, o PC já não é mais fabricado pela IBM, que vendeu sua subsidiária para a chinesa Lenovo, em 2004. E também já não é mais absoluto. O mundo digital espatifou-se em câmeras, celulares, consoles de jogos, palmtops, iPods, utensílios diversos que cada vez menos precisam do intermédio de um computador para funcionar. Câmeras digitais, afinal, ligam direto na impressora.


O que não quer dizer que os micros estejam condenados – ainda são um forte diferencial de eficiência. Alfabetização digital, a capacidade de interagir com PCs e seus diversos acessórios, é um conceito novo que dita os rumos econômicos de quaisquer países. Nos EUA, e os números são da revista Economist, há 70 microcomputadores para cada 100 pessoas. Na França, há 35; no Brasil, 7; Na China, 3.


É sempre difícil apontar em que momento exato, ou que produto particular, virou o mundo e lançou-o na Era Digital na qual se encontra hoje. Terá sido o primeiro Apple, em 1977, que integrava um micro a um aparelho de tevê mais teclado? Ou então a popularização da internet, já em idos dos anos 90? Seja como for, sem o IBM-PC, a história seria outra.’



O Estado de S. Paulo


Presidente do Irã lança blog e critica EUA e Israel


‘Mahmud Ahmadinejad, presidente do Irã, lançou um blog para contar sobre sua infância pobre e perguntar aos internautas se eles acham que Israel e Estados Unidos querem começar um nova guerra mundial. Ahmadinejad também descreve como desde os tempos escolares ficava furioso com o tratamento que os Estados Unidos davam a seu país.’


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Nova campanha da Bic será 100% na internet


‘A Bic resolveu adotar uma estratégia diferente ao lançar sua nova linha de isqueiros Bic Music. Toda a campanha de marketing será feita pela internet. ‘Criamos um site especial para a linha e serão feitos anúncios em portais’, diz a gerente da divisão de isqueiros da Bic, Eliana Rodrigues. ‘Tomamos esta decisão porque o público que queremos alcançar é jovem e antenado. Vimos que não valeria gastar esforço e dinheiro com outras mídias, pois o meio com o qual eles mais interagem é a internet.’


A campanha anterior da Bic, para a série da Copa do Mundo Bic Gol, já tinha um site especial. Porém, usava também outdoors. Esta é a primeira vez que a empresa resolve investir somente em internet.


A iniciativa é rara no Brasil, mas já avança em outros países. Nos EUA, a cervejaria Foster anunciou que passará a fazer apenas campanhas online. Conhecida por suas propagandas irreverentes, a empresa justificou a decisão dizendo (de maneira menos educada) que ‘a TV é muito chata’. No ano passado, a Foster gastou US$ 5 milhões em anúncios na TV. Agora, lançará uma série de filmes cômicos online.


O site da BIC (www.bicmusic.com.br) traz uma série de inovações. A maior delas é uma mesa de mixagem virtual, onde o internauta pode escolher entre 52 trechos de músicas em seis instrumentos diferentes e mixá-los da maneira que preferir. A música resultante pode ser baixada em MP3 para o computador ou tocadores de música digital. Também pode ser usada como ringtone para celular. Tudo de graça.


Também haverá uma lista de músicas exclusivas para essa campanha. Caso a pessoa queira montar um CD, o site já fornece algumas opções de capa para impressão, nos temas dos novos produtos.


CONCURSO


O site deve ficar no ar por quatro meses, a contar de hoje – o mesmo tempo em que a edição limitada estará à venda. Neste meio tempo, os internautas podem participar de uma promoção musical: após criar alguma música no site, o internauta pode enviá-la para a Bic e, ao fim da campanha, concorrerá a iPods.’


PUBLICIDADE
Julie Bosman


Anunciante não quer só revistas, quer eventos


‘A última edição do Condé Nast’s Fashion Rocks teve como destaques um concerto de Elthon John e outros artistas transmitido para 20 países, uma festa com centenas de celebridades, transmissão do tapete vermelho pelo canal E! e uma campanha para levantar fundos em prol do combate à AIDS.


Ah, e tinha uma revista.


Virou prática comum entre as editoras de revista: parte da estratégia para se manter em alta é aparecer, realizar eventos exuberantes que unem a televisão, a Web e meios de comunicação sem fio – mas tem relativamente pouca ligação com o produto impresso.


A Condé Nast não gosta de ser chamada de editora de revistas – embora publique 27. ‘Somos provedores de conteúdo’, disse Richard Beckman, presidente do Condé Nast Media Group. Um evento que eles realizarão em Nova York em 7 de setembro vai reunir Chritina Aguilera, Faith Hill e Beyoncé. O show será transmitido pela CBS e há um site sobre o evento com dicas de moda e música.


Os anunciantes, que têm exigido muito mais do que impressões, vieram aos borbotões. O evento levantou US$ 45 milhões em anúncios e ao menos 32 grandes anunciantes – dentre eles Chevrolet, Cingular, Citigroup e L’Oréal Paris.


O Citigroup viu no evento uma grande oportunidade de atingir consumidores que se interessam por música e moda. ‘Sabemos, pela demografia das revistas, que este é um público interessante para nós’, disse Mark Ingall, diretor de estratégia global do grupo em Nova York. Já a Cingular justificou os investimentos como ‘uma ponte para que ligar a imagem das empresas com as estrelas que aparecem nos editoriais e eventos.’


Atrair anunciantes para revistas se tornou uma tarefa mais difícil. Nos últimos cinco anos, muitos anunciantes voltaram seus esforços para a mídia online para buscar os consumidores que abandonaram os impressos. Mas isso não é um prenúncio da morte das revistas. ‘Se ainda há pessoas dispostas a gastar US$4 em uma banca, imagino que é porque ainda se credita às revistas algum valor,’ diz Ingall, do Citigroup.’


A TRAJETÓRIA DE OCTÁVIO FRIAS…
José Maria Mayrink


As memórias de Octavio Frias


‘Office-boy, vendedor de aparelhos de rádio, funcionário público, incorporador imobiliário, banqueiro… Octavio Frias de Oliveira fez um pouco de tudo para ganhar dinheiro até comprar um jornal, a Folha de S. Paulo, uma decisão que, aos 50 anos de idade, mudou sua vida. Pagou com cheque, numa sexta-feira 13, agosto de 1962, avisando que o dinheiro só estaria no banco três dias depois. Estava.


A história do empresário que entrou na imprensa meio por acaso, negócio de ocasião, chega hoje às livrarias com o lançamento de A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira, um texto de 332 páginas no qual o jornalista Engel Paschoal traça o perfil do publisher da Folha intercalando a narrativa com informações dele e depoimentos de amigos e colaboradores – tudo no contexto da época.


Carioca do bairro de Copacabana, Octavio nasceu na casa dos avós, em 5 de agosto de 1912, quando sua família morava na cidade paulista de Queluz, na divisa com o Rio de Janeiro, onde o pai, Luiz Torres, era juiz. Descendente dos barões de Itaboraí e de Itambi, grandes fortunas no Império, viveu dias apertados em São Paulo na infância e na adolescência. Estudou no Colégio São Luís, mas teve de arrumar emprego, ainda menino, para ajudar nas despesas.


Começou aí o futuro empresário que faria do trabalho seu maior interesse. Conviveu com Guilherme de Almeida, Di Cavalcanti e Brecheret, mas não queria saber de vida intelectual. ‘Nesta época, eu só pensava em ganhar dinheiro e gastar. Preferencialmente com mulher. Eu gostava de cinema, ia bastante, mas não era apaixonado. Meu hobby era mulher e esporte. Não era um namorador, mas gostava de farra…’


Octavio era funcionário da Recebedoria de Rendas da Secretaria da Fazenda do Estado, salário de 600 mil réis, quando veio a Revolução de 32. Foi para as trincheiras. ‘Eu não acreditava naquela revolução, achava que nós íamos perder, mas a pressão geral era tão grande que eu resolvi me alistar também, para desespero de meu pai, que não queria que eu fosse de jeito nenhum. Aquilo era sacanagem dos paulistas da UDN (União Democrática Nacional). Sempre achei isso…’


Aos 36 anos, o funcionário público pediu demissão no emprego para ser sócio do Banco Nacional Imobiliário (depois Interamericano). Não tinha dinheiro, mas ficou com 10% do BNI. ‘Entrei com a cara e a coragem. Quem entrou com o dinheiro foram os acionistas que nós arrumamos…Eu não entendia nada de banco. Mas sempre fui um homem que sabia organizar as coisas’, assim Otávio Frias de Oliveira, que a partir daí passou a ser chamado de Frias, lembra sua aventura de banqueiro.


O investimento seguinte foi o ramo imobiliário, quando o BNI contratou Carlos Caldeira Filho, que havia lançado um condomínio, a preço de custo, em Santos. O BNI comprou a idéia. Trabalhando juntos, Frias e Caldeira, futuros sócios, ficaram amigos. Um de seus empreendimentos de sucesso foi o Edifício Copan, encomendado a Oscar Niemeyer para a comemoração do 4.º Centenário de São Paulo.


Frias lembra a dificuldade que foi o Copan sair do papel. ‘Não havia jeito de o Niemeyer fazer o projeto. Depois de muitos atrasos, um dia tranquei o Niemeyer na sala e disse: ‘Você só sai daqui com um projeto’. Horas depois, ele havia feito os primeiros esboços do Copan.’


Quando o BNI quebrou, depois de financiar a campanha política de Orozimbo Roxo Loureiro, sócio majoritário, Frias estava licenciado, mas sofreu o baque. Com os bens bloqueados, teve de recomeçar do nada. Dedicou-se então à Transaco, uma pequena corretora de sua propriedade que vendia assinaturas para a Folha, então controlada por José Nabantino Ramos.


A Transaco vendeu também assinaturas da Tribuna da Imprensa, no Rio, onde se envolveu na campanha de Lacerda para o então Estado da Guanabara. ‘Inundei o Rio com placas do Carlos Lacerda, com 30% de comissão’, informa Frias, para mostrar que sabia ganhar dinheiro. Aplicava tudo a juros. ‘Era usurário, cobrava 3% ao mês e não tinha conversa…Mas nunca fiz isso com pessoa física, só com empresa.’


A compra da Folha, em agosto de 1962, era para ser apenas um negócio a mais. Frias conhecia bem o jornal, por causa de Nabantino, seu amigo, e de Clóvis Queiroga, seu cunhado, também sócio da empresa, mas não se interessava pelo ramo. ‘Não tinha nenhum gosto pela atividade, tanto que eu não queria comprar a Folha. Eu passei minha vida lendo O Estado, até chegar à Folha, mas não era um grande leitor do jornal.’


A partir do momento em que comprou a Folha, Frias casou-se com ela, observa Paschoal. Passou a despachar no quinto andar do prédio da Barão de Limeira, sede da empresa, onde ele e Caldeira ocuparam duas salas vizinhas. Entregou a redação ao jornalista José Reis e se preocupou, antes de mais nada, com a situação financeira e econômica.


O livro sobre a trajetória de Frias, que em grande parte se confunde com a história da Folha, registra avanços e retrocessos. No capítulo 7 – Anos de chumbo, anos de ouro – o autor lembra como a Folha da Tarde foi o ‘calcanhar-de-aquiles’ do grupo, ao passar das mãos de uma equipe de ‘esquerda’ em 1969 para um de ‘direita’ nos anos seguintes. Depoimentos de jornalistas que trabalharam nessa época confirmam a infiltração de ‘funcionários’ ligados à repressão e a utilização de carros de reportagem e de caminhões da distribuição da Folha em missões clandestinas de agentes da ditadura.


‘Depois de conversar com o meu pai e até com gente que teve ligações com a guerrilha naquela época , eu diria que sim: os caminhões de transporte da Folha foram usados por equipes do DOI-Codi para fazer campana e até para prender guerrilheiros, ou supostos guerrilheiros’, afirma no livro Otávio Frias Filho, diretor de redação.


A virada, ou ‘os anos de ouro’, viria a partir de 1976, quando o jornal abriu espaço para o debate de idéias, um pluralismo que contribuiria para a redemocratização do Brasil. Entre os profissionais que participaram da mudança, sobressai o nome de Cláudio Abramo, braço direito de Frias na redação.


(SERVIÇO)A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira. De Engel Paschoal. Mega Brasil. 332 pág. R$ 44. Instituto Tomie Ohtake. Avenida Brigadeiro Faria Lima, 210. Hoje, 18h30′


TELEVISÃO
Márcia De Chiara, Renato Cruz


TV de plasma desaponta consumidor


‘O advogado Paulo do Amaral, de 66 anos, que mora em Sorocaba (SP), decidiu, no fim de 2005, dar um presente a si mesmo. Comprou um televisor de plasma de 42 polegadas de R$ 9,999 mil. Chegando em casa, constatou que a imagem da TV não era maravilhosa como a exibida na loja.


‘Apareceram manchas nas laterais da tela’, diz Ricardo Soares Amaral, filho do advogado. Decepcionado, Paulo mandou o aparelho para a assistência técnica. Só então ficou sabendo que não há como resolver o problema. As emissoras de TV aberta no Brasil ainda usam tecnologia analógica e os aparelhos de plasma estão preparados para transmissão digital. Paulo descobriu que só conseguiria obter a imagem da loja se assinasse TV paga digital ou assistisse a um DVD.


‘Trata-se de omissão de informação do fabricante’, reclama Ricardo. Seu pai entrou com queixa no Procon contra a loja. Após várias audiências, no mês passado, ele conseguiu trocar a TV por outros produtos.


São muitos os consumidores decepcionados. Pedro Luiz Turco, de 51 anos, dono de uma empresa de pintura de motos, comprou uma TV de plasma de 50 polegadas em junho. Quando ligou, viu que as cores ficavam estouradas e não havia como regulá-la. Chamou a assistência técnica e nada. Depois de brigar muito, conseguiu que o fabricante se comprometesse a devolver o dinheiro. ‘Já tinha uma TV de plasma de 42 polegadas, que na TV a cabo digital fica um cinema.’


Ele gosta de assistir principalmente filmes e não se incomoda com o formato da imagem. ‘Minha mulher reclama um pouco na hora da novela.’ O casal costumava assistir aos programas da TV com faixas pretas do lado da tela, para ajustar o tamanho da imagem. Um sobrinho avisou, porém, que se usassem muito a TV dessa forma, a tela ficaria manchada.


A alternativa foi assistir com a imagem na tela toda, o que faz com que as pessoas pareçam achatadas. ‘Fomos assistir ao vídeo de um casamento de uma sobrinha, que aconteceu em Portugal, e pensei: ‘Nossa, como minha sobrinha está gorda’, lembra o empresário. Na verdade, não estava. Era a televisão que achatava a imagem e fazia a menina parecer obesa.


Além da imagem, muita gente se viu surpresa com o aumento do consumo de energia. Enquanto uma TV convencional de 32 polegadas consome em média 150 W, o consumo médio de energia de um televisor de plasma de 42 polegadas é mais que o dobro, ficando em 320 W. As TVs com telas de cristal líquido também têm consumo menor que as de plasma.


Desde o fim de abril, o Procon do Rio de Janeiro faz, em média,15 atendimentos telefônicos diários de consumidores reclamando do produto.


O grande número de queixas reflete o boom de vendas da TV de plasma. No ano passado, foram vendidos 58 mil aparelhos entre plasma e cristal líquido. De janeiro a abril deste ano, foram vendidos 80 mil aparelhos.


A TV de plasma, que foi o eletroeletrônico vedete na época da Copa do Mundo, perdeu o destaque que tinha no mercado. Na época, grandes redes varejistas chegaram a reduzir em 20% os preços em relação à cotação do fim de 2005. A Seleção Brasileira foi desclassificada e o preço do produto caiu ainda mais depois da Copa. Hoje um TV de plasma pode ser adquirido por R$ 4,650 mil. Antes do início da Copa, o produto custava cerca de R$ 8 mil.


JUSTIÇA


Para resolver a insatisfação dos consumidores, a Comissão de Defesa do Consumidor da Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), presidida pela deputada estadual Cidinha Campos (PDT-RJ), entrou com uma ação coletiva de consumo contra seis fabricantes (Samsung, Philips, Panasonic, Gradiente, LG e Sony) por publicidade enganosa.


No início de junho, a juíza Márcia Cunha, da 2.ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro concedeu uma liminar que determinou que os fabricantes informem aos consumidores que a qualidade da imagem dos aparelhos no sistema transmissor do País não é a que prometem os anúncios.


A juíza também determinou a suspensão imediata da publicidade do produto e fixou multa diária de R$ 100 mil pelo descumprimento da ordem.


No fim da semana passada, essa liminar foi suspensa porque a LG argumentou que há outro processo semelhante movido pela Associação Nacional de Defesa da Cidadania e do Consumidor (Anadec), de Campinas, que era anterior à ação da Alerj. ‘Essa é uma tática dos advogados’, diz Ronni Fratti, advogado da Anadec.


Fratti diz que a Anadec moveu processos contra a LG e a Philips na Justiça de São Paulo. ‘A intenção é mover processos contra os demais fabricantes (Samsung, Panasonic, Philco, Gradiente e Semp Toshiba) nesta semana para que a Justiça obrigue as companhias a informar ao consumidor os riscos e defeitos do produto.


‘Vamos aguardar a decisão do STJ’, afirma Solano de Camargo, advogado que representa as empresas Sony, LG, Samsung, Panasonic e Philips.’


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Para a indústria, não há nada de errado com as TVs


‘Os fabricantes de televisores de plasma negam que esse tipo de aparelho tenha defeitos na imagem. Eles informam, no entanto, por meio da associação do setor, a Eletros, que apresentaram uma proposta ao Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ)de um termo de acordo firmado entre as indústrias para tornar mais acessíveis as informações dadas ao consumidor sobre o equipamento.


De acordo com a Eletros, a proposta foi enviada ao Ministério Público no começo de junho. O promotor de Justiça de Defesa do Consumidor do MPRJ, Rodrigo Terra, diz que o acordo entre o MPRJ e a Eletros está ‘em vias de ser assinado’. ‘A documentação já foi recebida e está sendo processada.’


Mas a lei ampara o consumidor, mesmo com a suspensão da liminar da 2. ª Vara Empresarial do Rio de Janeiro – que obrigava os fabricantes a informarem corretamente o consumidor sobre o produto – e o acordo entre a Eletros e o MPRJ não ter sido ainda assinado.


Procurada pelo Estado, a direção da Eletros informou que não há incompatibilidade entre a TV de plasma e o sistema de transmissão brasileiro. Segundo a entidade, ‘haveria incompatibilidade se o aparelho não funcionasse, o que não é o caso.’ De acordo com a associação, os aparelhos são compatíveis e recebem as imagens.


Quanto ao formato que a imagem é recebida – 4×3, enquanto as telas das TVs de plasma são em widescreen, com formato 16×9, mais largas que as imagens transmitidas pela TV aberta – a Eletros informa que os fabricantes conheciam os formatos de recepção da imagem no sinal 4×3. Tanto é que, segundo a entidade, ‘todos os catálogos de produtos fazem e sempre fizeram esse esclarecimentos aos consumidores’. A Eletros informa que os fabricantes estão reforçando a publicidade sobre o tema e os vendedores estão sendo orientados para esclarecer os consumidores.


Quanto ao efeito burn-in, que são faixas pretas nas laterais que podem manchar a tela do televisor, a Eletros esclarece que ‘não há nenhum tipo de dano’. De acordo com a associação, as novas tecnologias têm recursos que revertem esse tipo de ocorrência. A entidade enfatiza que nenhum processo na Justiça apresenta prova técnica de que esse efeito tem prejuízo irreversível.


Procuradas pelo Estado, a maioria das indústrias nomeou a Eletros como porta-voz. A Samsung, no entanto, informou, por meio do gerente de Produto da Área de Áudio e Vídeo, Rogério Molina, que a companhia recebeu apenas uma notificação do órgão de defesa do consumidor de Florianópolis sobre possíveis problemas. Ele esclarece que a companhia passou a colocar uma etiqueta na frente do monitor explicando a questão do formato da tela. ‘Antes isso constava só no manual’, afirma Molina.


CONSUMIDOR


‘Se não recebeu informações adequadas sobre o produto, o consumidor pode exigir restituição imediata do que pagou por ele’, afirma Luiz Fernando Marrey Moncau, advogado do Instituto de Defesa do Consumidor (Idec). Ele cita o artigo 6.º do Código de Defesa do Consumidor, que define como um dos direitos básicos do consumidor: ‘a informação adequada e clara sobre os diferentes produtos e serviços, com especificação correta de quantidade, características, composição, qualidade e preço, bem como sobre os riscos que apresentem’.


A informação correta deve ser prestada antes da venda do produto. ‘Não adianta vir somente no manual, que o consumidor só vai ler depois de comprá-lo’, explica Moncau. ‘Outra alternativa ao consumidor seria exigir a troca por um produto da mesma espécie, mas isso não resolveria o problema’, aponta o advogado.


A TV aberta deve se digitalizar no ano que vem. Isso, no entanto, não garante que toda a programação será em widescreen, com formato de 16×9. Parte dela pode continuar no formato convencional, de 3×4, por algum tempo.


A transição da televisão de tubo para o plasma e cristal líquido, no entanto, está acontecendo bem rápido. No Brasil, a previsão é que, em três ou quatro anos, o plasma e o cristal líquido já respondam por metade do faturamento. No mundo, as TV de tubo ainda têm de 83% a 85% do mercado.’


Keila Jimenez


Band cobra no ar


‘O grupo Bandeirantes resolveu cobrar no ar um de seus clientes. Há cerca de um mês, a Band e o canal pago Terra Viva, do mesmo grupo, vêm exibindo esporadicamente em sua programação, em horário alternados, um comunicado que informa que os programas Terra Nossa e Acorda Brasil saíram do ar por ‘falta de pagamento’.


Os mais desavisados se assustam com o anúncio, que fica por alguns minutos na tela do canal. Além de citar o nome dos programas, a rede expõe a produtora das atrações, a Verticale Comunicações.


Segundo a Assessoria de Imprensa da Band, o comunicado nada mais é do que um esclarecimento aos telespectadores sobre a saída dos programas da grade.


Fato é que a Band se abastece bem do faturamento alcançado com horários locados em sua grade. Um dos melhores clientes da rede nesse nicho de locação é o Show da Fé, de RR Soares. O evangélico, que tem um contrato de quatro anos com o canal garantindo espaço no horário nobre, paga à Band cerca de R$ 2 milhões por mês.


O Estado procurou a Verticale Comunicações, mas não obteve resposta até o fechamento.


Barraco em Páginas. Mais um


Páginas da Vida terá mais um barraco hoje. Será no aniversário de Marina (Marjorie Estiano). O pai da garota, vivido pelo ator Eduardo Lago, chega bêbado ao evento, provocando a ex-mulher, Carmem (Natália do Valle) e causando o maior tumulto.


entre-linhas


Embalada pelo início do horário eleitoral gratuito, a TV Cultura começa a exibir, também amanhã, o programa De Olho no Voto. Vai ao ar das 20h às 20h30, de segunda a sexta-feira.


Outra estréia na TV Cultura amanhã está voltada para as universidades. Às 7 horas da matina começa o programa Campus, espaço prometido para a divulgação da produção acadêmica das universidades brasileiras.


A TV Gazeta programa para o fim do mês mais um debate rumo à sucessão local, desta vez em Brasília, onde acaba de criar uma sucursal.


Estrelas, novo programa de Angélica, já passa por reformas. A ordem agora é gravar o máximo de externas possível e utilizar menos o cenário da atração.


A Globo fechou na semana passada um acordo com 23 emissoras latino-americanas formando 1.ª Cúpula Latino-Americana de Líderes da Mídia para aids. As redes se comprometeram a trocar campanhas e conteúdo relacionados à doença.


Além de um programa especial, a edição de 20 anos de Xuxa na Globo vai virar DVD.


Depois de Jason Priestley, o Brandon de Barrados no Baile, voltar à TV com a série Love Monkey – uma espécie de Alta Fidelidade, no ar na Sony, às quartas, às 21 horas – é a vez de outro ídolo da série adolescente dos anos 90 retornar à telinha. Luke Perry, o Dylan, está em Windfall, que a Fox estreará em outubro e que mostra a vida de amigos que ganharam na loteria.’


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 14 de agosto de 2006


PCC SEQÜESTRA JORNALISTA
Vinicius Mota


Manifesto do Partido Criminoso


‘O seqüestro de um repórter e um técnico da TV Globo, no sábado, é a etapa mais recente da rápida evolução da facção PCC rumo ao terror. Os bandidos conseguiram que a emissora transmitisse para todo o território paulista um manifesto contra o Regime Disciplinar Diferenciado (RDD), a norma que permite isolar os chefes da organização nos presídios.


Um bacharelismo degradado, absorvido em cursos de direito de terceira e pelo autodidatismo encarcerado, embala o texto dito por um homem de capuz. O RDD, afirma, ‘agride o primado da ressocialização do sentenciado, vigente na consciência mundial desde o Ilusionismo’ (…). Quis dizer Iluminismo, penso eu, mas isso pouco importa.


Esse discurso é só pretexto. Enverniza o que é relevante no episódio: uma nova técnica de disseminar o medo foi desenvolvida pelos criminosos. Seqüestrar jornalistas (e estrangeiros em geral) e transmitir em vídeo perorações rudimentares contra o ‘Ocidente’ e ultimatos para as nações dos cativos retirarem tropas do Iraque foi um ‘modismo’ -no termo do governador Cláudio Lembo- que teve seu pico há uns dois anos no Oriente Médio.


Pode até não ser condizente com o interesse original da quadrilha paulista -vida mansa aos líderes presos- a adoção de práticas ainda mais mortíferas e destruidoras daqui para a frente. Faz algum tempo, entretanto, que o PCC rompeu fronteiras e invadiu a esfera do terror. Age cada vez mais constrangido pelo espírito de inovar, de surpreender, para que sua capacidade de assustar os cidadãos e acuar as autoridades se mantenha.


O plano frustrado pela polícia britânica na quinta-feira é mais uma prova de que, em matéria de terrorismo, não há limites para a inventividade. O que não dá para aceitar é que esteja em presídios, cujo controle é tarefa básica do poder público, a origem da ameaça que paira sobre São Paulo. É como a história da jabuticaba -terror comandado das celas, só no Brasil.’


Fernando Rodrigues


‘A luta é nós e vocês’


‘O seqüestro de uma equipe de reportagem da TV Globo sintetiza a degradação extrema a que chegou o sistema de segurança pública em centros urbanos.


Nos últimos dias, ameaças de bomba paralisaram a cidade de São Paulo. No início da madrugada de domingo, os criminosos conseguiram forçar a interrupção da programação da maior emissora de TV do país para transmitir um comunicado. Ou o vídeo ia ao ar ou uma pessoa inocente seria assassinada. Indefesa como toda a sociedade, a TV Globo veiculou o texto.


Chama a atenção o trecho final do discurso atribuído ao PCC: ‘Deixamos bem claro que nossa luta é contra os governantes e os policiais. E que não mexam com nossas famílias que não mexeremos com as de vocês. A luta é nós e vocês’.


Errado. Se o país vive num regime de democracia representativa pleno, a luta dos criminosos é contra toda a sociedade.


São os 126 milhões de eleitores que escolhem os governantes. Os eleitos organizam as forças policiais. Os governadores, deputados, senadores e presidente da República têm responsabilidade direta pelo estado de pré-Colômbia das grandes cidades. Em resumo, a sociedade brasileira é a grande mentora da atual degradação.


Nestes tempos de eleição, jornalistas costumamos receber perguntas sobre em quem se deve votar ou como encontrar saídas. Em geral, respondo com duas perguntas: 1) em quem você votou há quatro anos para deputado? e 2) quantas vezes tentou cobrar responsabilidade do seu escolhido até agora? O silêncio que se segue é eloqüente. Pensar que a crise de segurança será solucionada com algum tipo de mágica é o pior caminho. A tarefa durará anos ou décadas. O início do processo está nas urnas eletrônicas no dia 1º de outubro.’


Sergio Costa


Tudo dominado


‘Ao descer o morro do Vidigal, numa manhã, o blindado do Bope (Batalhão de Operações Especiais da PM) trouxe sete fuzis e uma metralhadora a tiracolo e deixou oito corpos para trás. Os homens de preto haviam terminado a missão de intervir num confronto na favela que matou 16 só esse mês.


Seria uma manhã como dezenas de outras no Rio após uma operação policial em favela, mesmo com o número elevado de baixas do lado do tráfico, não fosse o entusiasmo de alguns moradores. ‘Caveeeeira, Caveeeeira!’, gritavam em saudação ao blindado.


Os repórteres desconfiaram da manifestação pró-PM. Normalmente, o que acontece após uma ação é um monte de mães e irmãs se atirar à frente das câmeras gritando que era ‘tudo trabalhador!’.


Não era. Dessa vez era ‘tudo alemão’ -gíria que nas favelas denomina inimigo. Por inimigo aí, entenda-se integrantes do CV (Comando Vermelho) que invadiram o Vidigal, território do ADA (Amigo dos Amigos). Na prática, o Bope ajudou o ‘governo’ local a rechaçar os ‘alemães’, uma vez que só matou de um lado, daí os aplausos. Os mortos eram mercenários do CV recrutados em vários morros da cidade. Três deles eram do Chapéu Mangueira, no Leme.


Tanto que uma enorme faixa preta foi desfraldada na favela em luto por seus ‘soldados’ mortos. Entre os quais, um jovem de classe média de Copacabana que fugira de casa para se alistar ao tráfico.


Os homens do Bope, que costumam se exercitar cantando que sua missão é ‘deixar corpos no chão’, dessa vez haviam feito ‘a coisa certa’, pelo menos para os moradores de uma favela, conformados com um tipo de gestão do tráfico implementado por crias do morro.


E a gente ainda tem que dormir com um barulho (de tiros) desses.’


José Alberto Bombig


Seqüestro parece ‘atentado político’, afirma Alckmin


‘O candidato do PSDB a presidente, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin, afirmou ontem que o seqüestro do jornalista Guilherme Portanova, da TV Globo, tem ‘características de atentado político’, mas evitou relacionar o crime à facção criminosa PCC ou a qualquer partido político.


Temeroso quanto à possibilidade de um ataque contra sua campanha, o candidato requisitou, pela primeira vez, proteção da Polícia Federal e ontem participou de atividade eleitoral na zona leste da capital paulista sob a proteção de dois agentes.


No PSDB e no PFL, ganhou força no final de semana a corrente que defende atacar a suposta ligação do PCC com integrantes do PT no horário gratuito de rádio e TV, que terá início amanhã em todo o país.


Alckmin, contrário à estratégia, foi mais cauteloso. ‘Quero manifestar toda a minha solidariedade à família da vítima, à TV Globo, mas vamos aguardar. Tem todas as características de atentado político, mas nos cabe agora… Vou deixar para me pronunciar daqui a alguma horas’, afirmou Alckmin, por volta das 12h30, ao deixar um culto religioso.


Em seguida, questionado sobre a afirmação, ele não quis responder. ‘Não vou fazer nenhum comentário enquanto essa questão não estiver resolvida. Qual o próximo tema?’


A expectativa do ex-governador, que deixou o cargo no final de março, era de que a polícia libertasse o jornalista ainda ontem. O tucano estava em contato permanente com o secretário da Segurança, Saulo de Castro Abreu Filho, um de seus aliados no governo.


Alckmin decidiu que não iria atribuir o crime ao PCC nem comentar as reivindicações da facção para não confrontar os seqüestradores, o que, no seu entender, poderia colocar em risco a vida do jornalista. Seu receio era de que um desfecho infeliz da operação pudesse ser atribuído a ele.


No início da madrugada de ontem, um suposto membro do PCC pedia, em vídeo divulgado pela TV Globo, mudanças no sistema prisional do Estado.


Anteontem, o tucano José Serra, candidato ao governo de São Paulo, declarou que o PCC faz oposição ao PSDB. ‘O crime organizado não gosta do PSDB. Esse é um dado da realidade, que aparece em todas as gravações e conversações que até hoje vieram a público’, disse.


Serra era aguardado ontem pela manhã num evento da campanha de Alckmin, mas preferiu dedicar o dia à família e às reuniões com seu núcleo político. À noite, o ex-prefeito gravou programas do horário eleitoral de rádio e TV.


Clima de terror


Como de costume, Alckmin e seus assessores diretos chegaram ao templo evangélico da Comunidade da Graça, na Vila Carrão (zona leste), em um táxi. Logo atrás, no entanto, vinha a escolta de um carro azul, com dois agentes à paisana.


Durante o evento, um deles ficou no interior do templo, onde estavam cerca de 2.000 pessoas, e outro circulou pela parte de fora. O ajudante-de-ordens do ex-governador, um policial militar, usava coletes à prova de bala, medida adotada apenas em situações críticas. Alckmin, segundo a Folha apurou, dispensou o uso da proteção.


Conforme a lei, todos os candidatos a presidente têm direito à proteção da PF. Alckmin, no início da campanha, havia dispensado o auxílio. Mas, segundo tucanos ligados a ele, as ameaças do PCC contra Alckmin e sua família teriam aumentado nos últimos dias.’


Rachel Añon, Regiane Soares, Kleber Tomaz, André Caramante, Janaína Leite e Fábio Takahashi


Após 41 h, jornalista seqüestrado é solto


‘Guilherme Portanova foi deixado no Morumbi 24 horas depois da divulgação das reivindicações do PCC, uma exigência da facção


O jornalista Guilherme Portanova, 30, foi libertado por volta da 0h30 de hoje, após quase 41 horas de seqüestro. A libertação ocorreu no Morumbi (zona sul de São Paulo) cerca de 24 horas depois da divulgação pela Globo de um CD com um manifesto da facção criminosa PCC.


A Folha apurou que o repórter pegou uma carona na rua e foi deixado na frente da emissora, que fica na av. Luís Carlos Berrini, no Brooklyn, também na zona sul. Portanova, que não aparentava traumas físicos, entrou por uma portaria secundária e pediu para ver os pais.


Portanova foi seqüestrado na manhã de sábado com o auxiliar técnico Alexandre Calado, 27. A divulgação do CD na televisão foi uma exigência dos seqüestradores para soltar o jornalista. O CD chegou à TV Globo pelas mãos de Calado, que foi libertado por volta das 22h30 de sábado, a menos de um quilômetro da emissora, na zona sul de São Paulo.


A polícia, que estava em alerta máximo na região, não conseguiu descobrir de qual carro ele desembarcou.


Calado recebeu o CD com a ordem de colocar as imagens no ar o mais rápido possível. Disse ter recebido o seguinte aviso: ‘A vida do teu colega está na tua mão’. A Folha apurou que o técnico e sua família também foram ameaçados.


As imagens foram divulgadas à 0h28 de ontem, mas durante o dia não houve mais nenhum contato dos seqüestradores.


A Globo exibiu o CD em rede estadual e editou as imagens. Cortou a introdução na qual eram mostradas armas de guerra, dinamites, granadas e coquetéis molotov. O vídeo foi transmitido no intervalo do ‘Supercine’, que, na Grande SP, costuma ter mais de dez pontos no Ibope, o que equivale a mais de 550 mil domicílios. À noite, a emissora exibiu parte do manifesto no ‘Fantástico’.


A Folha recebeu na última quarta-feira uma cópia do CD, cuja autenticidade não era comprovada. Relatou parte do seu conteúdo em reportagem publicada na quinta-feira.


Uma outra cópia do CD foi jogada, na sexta-feira, no estacionamento do SBT, que a encaminhou à Promotoria.


Parte do comunicado repete quase na íntegra trechos de parecer do Conselho Nacional de Política Criminal e Penitenciária do Ministério da Justiça, de abril de 2003. O órgão apontava, na ocasião, aquilo que considerava ilegalidades do RDD.


O vídeo foi encaminhado para perícia em busca de digitais. A voz foi comparada com diálogos de seqüestradores gravados pela polícia. A polícia requisitou imagens das câmeras das rodovias a fim de tentar descobrir se o Gol utilizado no seqüestro deixou a cidade.


Por volta da 1h de ontem, o diretor de Jornalismo da TV Globo São Paulo, Luiz Cláudio Latgé, contou que o auxiliar técnico foi levado até as cercanias da Globo no porta-malas de um carro.’


Kleber Tomaz e Ricardo Gallo


Técnico foi ameaçado de morte


‘Cabeça baixa, olhos vendados, o auxiliar técnico da Rede Globo Alexandre Coelho Calado ficou todo o tempo sob o poder dos seqüestradores em uma garagem escura, segundo relatou à polícia. No cativeiro, ouvia os seqüestradores se tratarem por codinomes como Tio e Jão, enquanto, ao fundo, um rádio tocava funk.


Calado, 27, ficou entre as 7h50 e as 22h30 de anteontem seqüestrado. Saiu com a condição de entregar à Globo uma carta e um CD para que o repórter Guilherme Portanova, 30, capturado com ele, não fosse morto. ‘A vida do teu colega está na tua mão’, escutou dos seqüestradores, segundo a Globo. Ouviu mais: caso o vídeo não fosse exibido, Calado e a família morreriam.


A emissora interrompeu a programação e exibiu o vídeo à 0h28. Nele, um homem, com a sigla do PCC ao fundo, lia um manifesto com críticas ao sistema penitenciário.


O assistente técnico foi deixado na ponte do Morumbi, a cerca de 300 metros da sede da Globo, na avenida Luís Carlos Berrini (zona sul de São Paulo). Estava no porta-malas de um carro pequeno, não-identificado, disse a polícia. Em seguida, saiu do carro e andou até a portaria da emissora.


Aos familiares e à polícia, Alexandre Calado disse ter ficado ‘apavorado’ durante o seqüestro. Estava em choque ao ser encontrado. Ele foi levado para um hotel, pela Globo, em local não divulgado. Ontem, a mãe dele, Terezinha, foi acompanhá-lo.


‘Ele está muito abalado’, disse a irmã, a operadora de telemarketing Jéssica Coelho Calado, 25.


Calado é o mais velho de três irmãos. Namora há cerca de cinco anos com Ester. Vive com a mãe, as duas irmãs, o cunhado e uma sobrinha num sobrado simples, ainda em construção, na periferia.’


Vinicius Abbate


Estou disposta a trocar de lugar com ele, diz a mãe do repórter seqüestrado


‘Em depoimento à Folha, a mãe de Guilherme de Azevedo Portanova fez um apelo para que os seqüestradores entrem em contato com os familiares. De acordo com Maria Elizabeth Lacerda Azevedo, 58, as únicas informações que tinha, até o final da noite de ontem, foram dadas pela televisão.


O jornalista é o único filho da advogada. Emocionada, diz temer pela vida dele. ‘O que estou vivendo é uma angústia indescritível. A única coisa que posso fazer é apelar para o sentido de humanidade dessas pessoas, para que devolvam o meu filho’, disse. Leia a seguir alguns trechos da entrevista.


Folha – Há quanto tempo o Guilherme trabalhava na Globo?


Maria Elizabeth – Ele começou a trabalhar lá em janeiro de 2006, mas desde, na realidade, somente a partir de março passou a ser um trabalho fixo.


Folha – Como a senhora definiria seu filho?


Maria Elizabeth – Ele é inteligente, é um filósofo. O que existe de brilhantismo, de humanidade, eu enxergo no Guilherme. O que eu temo é que uma pessoa com todas essas qualidades esteja na mão desse pessoal. Eu não sei nem se ele está vivo ou morto. Estou disposta até a trocar de lugar com ele, se isso fosse possível.


Folha – O seu filho alguma vez reclamou de ameaças?


Maria Elizabeth – Ele foi assaltado com uma equipe da Globo em junho deste ano. O carro da emissora parou num posto de gasolina e alguns bandidos armados prenderam a equipe, ele e o frentista num dos banheiros do posto. Também levaram o equipamento. Mas não houve nenhum tipo de agressão física.


Folha – Você imagina o motivo que levou ao seqüestro?


Maria Elizabeth – Não há explicação. Ele não tem nada contra ninguém.’


Kleber Tomaz, André Caramante e Regiane Soares


Saulo tentou evitar a divulgação do vídeo


‘O secretário da Segurança Pública de São Paulo, Saulo de Castro Abreu Filho, tentou evitar, anteontem à noite, que a Rede Globo exibisse o vídeo com o manifesto do PCC.


Abreu Filho, segundo a Folha apurou, procurou dois diretores da Globo por telefone. Ontem, sua assessoria de imprensa disse que ‘a secretaria não iria comentar o assunto’. Policiais envolvidos na operação para localizar o repórter Guilherme Portanova confirmaram a ligação de Saulo.


O delegado Osvaldo Nico Gonçalves, coordenador do Garra (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos), também defendeu a não exibição da fita. Ele argumentou que a exibição abriria um precedente arriscado, porque significaria atender, sob ameaça, a uma exigência do PCC. ‘Isso vai abrir um precedente grande’, afirmou Gonçalves, que esteve na sede da emissora. Ele foi enviado pela secretaria para falar com a Globo.


Na avaliação da polícia, ao ceder a um pedido, abre-se a possibilidade de que outras reivindicações sejam feitas da mesma maneira. A determinação de transmitir o vídeo partiu dos seqüestradores de Portanova como condição para que ele não fosse assassinado.


Pela sugestão dos policiais, a ação da Globo deveria seguir a negociação de um seqüestro convencional: 1) procurar não ceder ‘facilmente’ às exigências dos captores -’Não pode ceder facilmente, senão vira rotina’, disse um delegado da cúpula da polícia, sob anonimato. 2) exigir uma prova de vida, como uma foto do repórter acompanhada de um jornal do dia.


Embora tenha tentado pressionar a emissora, a cúpula da polícia paulista reconheceu que a decisão de veicular o vídeo ficou restrita à Globo.


Lembo


Assim como o secretário da Segurança, o governador de São Paulo, Cláudio Lembo (PFL), optou por não se pronunciar ontem. Eles não participaram de eventos públicos.


O ministro Tarso Genro (Relações Institucionais) foi um dos raros integrantes da cúpula do governo federal a se manifestar sobre a mais recente ação do PCC. Disse que demonstra uma ‘ousadia inaceitável’ por parte do crime.


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) acompanha o caso desde sábado por relatos do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), que, por sua vez, se manteve em contato com Lembo.


Tarso Genro considerou ‘correta’ a decisão da Globo de cumprir a exigência feita pelos seqüestradores.’


***


De acordo com especialistas, emissora agiu corretamente ao exibir gravação


‘A decisão da Globo de exibir um vídeo atribuído ao PCC foi defendida por especialistas em segurança e representantes da imprensa ouvidos pela Folha.


Eles consideraram a medida compreensível diante do risco de vida do repórter seqüestrado, mas divergem sobre a possibilidade de ela abrir um precedente para ações desse tipo.


‘Hoje é o repórter, amanhã pode ser o governador. Nesse novo terrorismo não há mais escrúpulos’, diz o major André Luís Woloszyn, especialista em terrorismo pelo Colégio Interamericano de Defesa (EUA).


Muitos elegem a exigência de exibição do vídeo pela facção como um marco que consolida os métodos do PCC como os de grupos terroristas -embora alguns ressaltem as diferenças nas motivações ideológicas.


‘E se a TV não mostra as imagens e ele morre?’, questiona Guaracy Mingardi, diretor do Ilanud (instituto das Nações Unidas que estuda a violência).


Para ele, essa exigência atribuída ao PCC é algo ‘pontual’, que não tende a se repetir em larga escala. ‘Eles mudam as táticas, sempre inovam’, diz.


Paulo Mesquita Neto, do Núcleo de Estudos da Violência da USP, afirma que ‘veicular ou não a mensagem não é o fator determinante para saber se vamos ter mais ou menos ações’. ‘Determinante será a reação das autoridades’, avalia.


Denis Mizne, do Instituto Sou da Paz, diz que a resposta para evitar a abertura de precedentes tem de ser dada pelo Estado. Ele questiona o discurso da facção. ‘Não se pode acreditar que a luta do PCC é contra a opressão carcerária. Eles falam isso para ganhar apoio’, diz.


Essa também é a opinião de Sérgio Mazina, vice-presidente do Instituto Brasileiro de Ciências Criminais. ‘Não estamos lidando com o terror político ou ideológico. Claro que eles tentam ir nessa direção, tentam se apresentar como tal ao levantar a bandeira das condições carcerárias. Mas essa bandeira é inconsistente. O caráter é exclusivamente criminoso.’


O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, diz achar a atitude da Globo correta. ‘Ela não poderia deixar a vida do profissional em risco’, afirma. Para ele, embora sem métodos legítimos, a reivindicação do PCC por um tratamento mais humano nos presídios é justa.


O jornalista Alberto Dines, do ‘Observatório da Imprensa’, diz que ‘a Globo foi sensível ao aspecto humano’. ‘Alguma hora chegaria a vez da mídia. Cabe ao jornalista não se deixar intimidar’, afirma.


A Abraji (Associação Brasileira de Jornalismo Investigativo) informou haver indicadores de que os governos ‘já não garantem as condições mínimas para o exercício irrestrito da liberdade de imprensa’.


A ANJ (Associação Nacional de Jornais), a ANER (que agrupa os editores de revistas) e a Abert (das empresas de rádio e televisão) informaram que ‘os meios de comunicação e seus profissionais não são e nunca serão instrumentos a serviço de quem quer que seja’.’


Daniela Tófoli


Globo consultou 2 entidades internacionais antes de decidir por exibição de imagens


‘A decisão de veicular a fita com o manifesto do PCC foi tomada pela Globo após consultas a duas entidades internacionais de controle de riscos e segurança, além da polícia, afirma a emissora. As instituições orientaram a favor da divulgação e a polícia, contra.


‘A polícia entendia que era uma decisão dramática que cabia à TV Globo, embora recomendasse mais tempo para a investigação’, informou a emissora. ‘Para não correr o risco de perder o repórter, a Globo decidiu colocá-la no ar.’ A recomendação dada pelo PCC era que fosse veiculada a parte em que um integrante lê um manifesto. Por esse motivo, segundo a Globo, foi cortado o início, que mostrava armas.


A TV Globo afirma ter consultado a International News Safety Institute (INSI), entidade de segurança que assessora grupos de comunicação, e conversado com Luiza Rangel, coordenadora para a América Latina. Segundo a emissora, ela atestou que em situações de extrema emergência, quando os prazos são exíguos e quando não se têm dúvidas sobre o descompromisso dos bandidos para com a vida humana, a postura correta é ceder às exigências.


A Globo também teria entrado em contato com Tim Crocket, chefe do escritório de Atlanta do The AKE Group, empresa especializada em gestão de riscos. Crocket deu a mesma orientação que Luiza. A emissora resolveu, então, cumprir a exigência e veiculou a fita no Estado de SP, já que o problema diz respeito apenas à essa região, disse a assessoria.


Na Globo, ontem, as equipes foram às ruas acompanhadas por seguranças. Outras redes de TV estudam procedimentos de segurança. Tanto a Record como a Bandeirantes negaram ter recebido o CD. Já o SBT recebeu cópia da fita na quarta. A direção optou por não divulgá-la. A rádio CBN transmitiu a íntegra do áudio do CD na madrugada de ontem e na abertura do ‘Jornal da CBN’.’


Folha de S. Paulo


Leia íntegra do manifesto do PCC


‘‘Como integrante do Primeiro Comando da Capital, o PCC, venho pelo único meio encontrado por nós para transmitir um comunicado para a sociedade e os governantes.


A introdução do Regime Disciplinar Diferenciado [RDD] pela lei 10.792/ 2003, no interior da fase de execução penal, inverte a lógica da execução penal. E coerente com a perspectiva de eliminação e inabilitação dos setores sociais redundantes [sic], leia-se ‘a clientela do sistema penal’, a nova punição disciplinar inaugura novos métodos de custódia e controle da massa carcerária, conferindo à pena de prisão o nítido caráter de castigo cruel.


O Regime Disciplinar Diferenciado agride o primado da ressocialização do sentenciado vigente na consciência mundial desde o ilusionismo [sic] e pedra angular do sistema penitenciário, a LEP [Lei de Execuções Penais].


Já em seu primeiro artigo, traça como objetivo do cumprimento da pena a reintegração social do condenado, a qual é indissociável da efetivação da sanção penal. Portanto, qualquer modalidade de cumprimento de pena em que não haja constância dos dois objetivos legais, castigo e a reintegração social, com observância apenas do primeiro, mostra-se ilegal, em contradição à Constituição Federal.


Queremos um sistema carcerário com condições humanas, não um sistema falido, desumano, no qual sofremos inúmeras humilhações e espancamentos.


Não estamos pedindo nada mais do que está dentro da lei. Se nossos governantes, juízes, desembargadores, senadores, deputados e ministros trabalham em cima da lei, que se faça justiça em cima da injustiça que é o sistema carcerário, sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada.


Pedimos aos representantes da lei que se faça um mutirão judicial, pois existem muitos sentenciados com situação processual favorável dentro do princípio da dignidade humana.


O Regime Disciplinar Diferenciado é inconstitucional. O Estado Democrático de Direito tem a obrigação e o dever de dar o mínimo de condições de sobrevivência para os sentenciados. Queremos que a lei seja cumprida na sua totalidade. Não queremos obter nenhuma vantagem.


Apenas não queremos e não podemos sermos [sic] massacrados e oprimidos. Queremos que: 1 – As providências sejam tomadas, pois não vamos aceitar e não ficaremos de braços cruzados pelo que está acontecendo no sistema carcerário.


Deixamos bem claro que nossa luta é contra os governantes e os policiais. E que não mexam com nossas famílias que não mexeremos com as de vocês. A luta é entre nós e vocês.’’


***


‘Aguardamos a liberação do repórter’


‘Leia abaixo o comunicado divulgado pela Rede Globo:


‘Enquanto a TV Globo aguarda com ansiedade a libertação do repórter Guilherme Portanova, seqüestrado ontem [sábado], divulga as seguintes informações:


Tão logo a TV Globo tomou conhecimento da exigência dos seqüestradores na noite de sábado, fez consultas ao International News Safety Institute (INSI), com sede em Bruxelas, ao qual a emissora é filiada desde que o instituto foi fundado.


Luiza Rangel, de Caracas, coordenadora do INSI para América Latina, atestou que em situações de extrema emergência como a que a TV Globo viveu, quando os prazos são exíguos e quando não se têm dúvidas sobre o descompromisso dos bandidos para com a vida humana, a postura correta é ceder às exigências, dando antes ciência à polícia sobre o conteúdo do que irá divulgar. Segundo ela, situações assim foram vividas recentemente na Índia e no Oriente Médio.


Orientada por Luiza Rangel, a emissora também entrou em contato com Tim Crocket, chefe do escritório de Atlanta do The AKE Group, uma empresa especializada em gestão de riscos e segurança, que presta serviços à INSI, e tem escritórios nos Estados Unidos, Reino Unido, Austrália, Paquistão e Iraque. Tim Crocket deu a mesma orientação que Luiza Rangel: nas condições em que nos encontrávamos, não havia alternativa. Ele recomendou que entrássemos em contato ainda com Tom O’Neil, consultor do escritório no Líbano, especializado neste tipo de ação. O’Neil repetiu as mesmas recomendações.


A idéia inicial da TV Globo era tomar uma decisão em conjunto com as entidades de classe do setor. Mas como tudo se deu na noite de sábado, foi impossível esperar até que o setor se pronunciasse.


Diante do que vem acontecendo em São Paulo nos últimos meses, não havia dúvida sobre até onde as ações dos bandidos podem chegar: basta dizer que os mortos já se contam às centenas. Inexistindo dúvida sobre o risco real que o repórter Guilherme Portanova sofre, e não havendo tempo para uma decisão em conjunto com seus pares, a TV Globo mostrou o conteúdo do DVD à polícia e decidiu exibir o vídeo no Estado de São Paulo.


No mesmo instante, porém, decidiu também convocar as entidades do setor para que a situação seja discutida por todos e que os próximos passos sejam decididos em conjunto.


A TV Globo espera que o jornalista Guilherme Portanova seja libertado imediatamente e possa voltar à convivência de sua família e de seus colegas de trabalho. Agradece a solidariedade que vem recebendo de seus telespectadores e de seus pares e manifesta a confiança de que a nação brasileira saberá encontrar caminhos para pôr fim a esse quadro de insegurança pública.


Central Globo de Comunicação


São Paulo, 13/8/2006’’


ELEIÇÕES 2006
Fábio Zanini e Silvio Navarro


Sem a presença de artistas, público em comícios mingua


‘A nova lei eleitoral transformou os comícios, que já foram considerados a alma das disputas presidenciais, em eventos frios, rápidos e pequenos.


No primeiro mês de campanha nas ruas, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Geraldo Alckmin (PSDB) tiveram dificuldades para atrair público.


Acabaram optando por muitos eventos fechados e recorreram ao que é chamado eufemisticamente de ‘mobilização estimulada’ -desde passar ônibus arrebanhando militantes a, no caso de aliados dos tucanos em Brasília, dar lanche.


A média de público dos sete primeiros comícios de Lula ficou em 3.600 pessoas, de acordo com levantamentos da Polícia Militar. Os petistas prometiam tirar o atraso em uma série de eventos neste final de semana. Anteontem, Lula reuniu 3.500 pessoas em Salvador e 5.000 em Fortaleza, segundo a PM. Alckmin se saiu melhor, com média de 9.600 até agora.


São sombras distantes dos números registrados em 2002. Lula chegou a colocar 150 mil pessoas em Salvador. José Serra, o tucano de então, pôs 120 mil em Ananindeua (PA).


Há consenso entre os partidos de que a responsável pela decadência dos comícios é a proibição de artistas. Para baratear campanhas, a nova legislação vetou showmícios.


Em 2002, os megacomícios de Lula pelo Brasil eram ‘escada’ para shows da dupla sertaneja Zezé di Camargo & Luciano, que entrava no palco após os discursos políticos. Serra arrebanhava multidões com o grupo adolescente KLB.


Entre os coordenadores das campanhas de Lula e Alckmin, o discurso é de que a nova lei eleitoral é positiva. ‘O fim do showmício favorece candidatos mais pobres, é mais discussão’, diz o coordenador da campanha tucana, Sérgio Guerra.


Mas existe a preocupação, entre tucanos e petistas, em levar mais gente para os comícios, que costumam ser vistos como termômetros das campanhas. ‘Temos o desafio de bolar novas estratégias de atingir a militância’, diz João Felício, responsável pela mobilização na campanha de Lula.


Para o cientista político David Fleischer, da Universidade de Brasília, os showmícios atraíam um público ‘artificial’, mas que ainda assim acabava assimilando algo da mensagem política. ‘Ainda que o comparecimento fosse devido à música, o recado dos candidatos era recebido.’ Ele prevê um teto de no máximo 30 mil pessoas, com a nova realidade. ‘Em cidades do interior, os comícios continuarão a ter certa importância, até como evento social’, diz.


Em 24 de julho, prevendo problemas com o quórum de um evento em Brasília com Lula, o PT do Distrito Federal correu ônibus pelas cidades satélite com o modesto objetivo de arrebanhar 5.000 pessoas. Conseguiu só 2.800.


A campanha de Alckmin tem optado por reuniões em auditórios e caminhadas em locais que atraem público, como feiras livres e praças. Dois grandes comícios ocorreram no Distrito Federal, onde o tucano deparou-se com multidões de 30 mil pessoas: em Taguatinga, com militantes do ex-governador Joaquim Roriz (PMDB), e no Parque da Cidade, no ato com José Roberto Arruda (PFL). Nos dois casos, os militantes ganharam lanche e transporte.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


No mundo e na cidade


‘Aos 28min de ontem, como relatou o ‘Fantástico’, entrou sobre o filme a imagem das câmeras rodando em torno do logo da Globo. Em ‘Plantão’ da redação quase às escuras, a notícia de que ‘o auxiliar técnico da Globo Alexandre Calado acaba de ser libertado’.


A seguir, o anúncio de que ‘os seqüestrados deram a ele um DVD, dizendo que a condição para libertar com vida o repórter em poder deles é a divulgação na íntegra das imagens’. Veio então o porta-voz do PCC.


Nem antes, na cobertura do ‘JN’ de sábado, nem ao longo das notícias de ontem se ouviu ‘PCC’. No lugar, ‘homens armados’ e ‘seqüestradores’. À tarde, após a notícia, o registro do ato em São Paulo que pediu ‘pela paz no mundo e pelo fim da violência na cidade’.


NO AR


Algumas horas e o ‘Plantão’ com o PCC surgia no You Tube, site de compartilhamento de vídeos. Depois, também no portal Terra.


Antes, a CBN reproduziu o áudio. E a Folha Online deu a íntegra da mensagem.


+ LIDOS


Ao longo do dia na Folha Online, na lista dos ‘+ lidos’, os destaques foram sempre para ‘Globo aguarda libertação de repórter após exibir vídeo do PCC’ ou ‘Veja a íntegra do comunicado’.


A única notícia que dividiu um pouco a atenção dos internautas tratava do ator Édson Celulari, comentando um papel de telenovela.


CRÍTICA


Por toda a cobertura eletrônica, até abrir o ‘Fantástico’, a única crítica que se ouviu à decisão da Globo de transmitir o comunicado veio do coronel José Vicente da Silva, ex-secretário nacional de Segurança, à Jovem Pan:


– A emissora ter cedido à pressão dos bandidos é o ponto mais extremo. Trata-se de um órgão de comunicação que tem concessão do Estado. Sempre que há um seqüestro existe risco, mas há espaço para a negociação.


ORDENA


O canal de notícias da BBC registrou no correr do domingo a veiculação da mensagem pela TV e o seqüestro.


Nos sites, a notícia surgiu na home do ‘Washington Post’, em despacho da AP, e na do ‘Le Monde’, em despacho da France Presse. Outros davam menos atenção, nos EUA e Europa, com as mesmas agências ou a Reuters. No WSJ.com, ‘Grupo criminal seqüestra repórter; ordena transmissão de vídeo’.


APELO


Nas páginas iniciais dos argentinos ‘La Nación’ e ‘Clarín’ e outros sul-americanos, enunciados como ‘São Paulo: um jornalista é seqüestrado pelo crime organizado’.


No site do canal Al Jazira, do Qatar, que reproduz vídeos da Al Qaeda, reportagem e o título equivocado ‘Jornalista em apelo de TV no Brasil’.


MASSACRE


Antes do domingo, três grandes jornais, ‘New York Times’, ‘Guardian’ e ‘Financial Times’, publicaram reportagens sobre a expectativa na cidade para o dia.


No título algo alarmista do ‘FT’, traduzido no UOL, ‘São Paulo se prepara para um massacre dos Dia dos Pais’.


GRANDE SATÃ


Estreou na última sexta o inusitado blog de Mahmood Ahmadinejad, presidente do Irã. Com ataques ao ‘Grande Satã EUA’, o primeiro post foi longo demais e fechou com o blogueiro prometendo que o seguinte seria menor. O blog tem links para o site do aiatolá Khamenei e para a agência Irna e até uma enquete sobre o ataque ao Líbano, se visa ‘puxar o gatilho de uma outra guerra mundial’.


A Reuters sublinhou que, com versões em persa, árabe, inglês e francês, ele ‘pode estar buscando ganhar apoio’.’


OSESP EM CRISE
Folha de S. Paulo


Em meio a polêmica, concurso da Osesp dá início a provas


‘As provas para o Concurso Internacional de Piano Villa-Lobos, promovido pela Osesp, têm início hoje, às 10h, na Sala São Paulo, e se estendem até sábado, quando haverá apresentação dos dois finalistas e o anúncio do ganhador.


O concurso teve participação de candidatos de 31 países, que enviaram material por CD. Do total, foram escolhidos 20, que participarão das provas finais.


A iniciativa foi cercada de polêmica com a saída do israelense Ilan Rechtman e de um dos dois jurados responsáveis pela seleção dos finalistas, o norte-americano Jeffrey Moidel.


Em 16 de maio, quando foi divulgada lista dos 20 candidatos selecionados, Rechtman afirmou que havia apenas nove dos 24 concorrentes de sua escolha anterior. Ficaram de fora gente como o do chinês Wen Yu Shen; em contrapartida, apareceram nomes como Olga Kopylova, pianista da Osesp.


Iniciativa do Itamaraty, o concurso tem orçamento de US$ 3,2 milhões. As provas são abertas ao público. Ingressos (de R$ 10 a R$ 40) podem ser comprados pelo site www.ticketmaster.com.br ou nas bilheterias da Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nº, SP; tel. 0/ xx/ 11/ 3337-5414).’


TELEVISÃO
Daniel Castro


MTV atira mais ovos e tomates nos políticos


‘A MTV estréia amanhã uma nova etapa de sua ‘campanha eleitoral’, que manda a audiência atirar ovos e tomates nos políticos e vem sendo acusada de estimular o voto nulo.


Com o início do horário eleitoral gratuito, a emissora passará a exibir programetes em que seus VJs farão comentários de protesto contra a corrupção e o ‘blá-blá-blá’ dos candidatos Äsem citar nenhum, porque isso é proibido por lei.


Zico Goes, diretor de programação, afirma que os drops serão editorais da MTV (Grupo Abril). Além de usar seus VJs (que são a ‘cara’ da emissora), terão os cenários e a linguagem dos programas da MTV.


Assim, haverá uma ‘parada dos políticos mais corruptos do Brasil’, uma tentativa de tradução do ‘politiquês’ e discussões do tipo ‘quem é melhor de política: o homem ou a mulher?’ ou se ‘desânimo com a política causa impotência sexual’.


Além disso, todos os dias às 21h20, após o horário eleitoral, irá ao ar por dez minutos uma seleção de videoclipes com músicas políticas, que vão de John Lennon e Sex Pistols a Charlie Brown Jr., Cazuza e Titãs.


Ainda fará parte da campanha ‘MTV Ovos e Tomates -Eleições 2006’ uma série de debates nas três semanas que antecedem ao 1 de outubro.


Mas não haverá políticos neles. ‘A gente não está convidando ninguém a agredir os políticos. A gente só quer que o jovem fique indignado’, diz Goes.


ARMA SECRETA 1 O fato de Silvio Santos ter tirado do ar na semana passada o telejornal local ‘SBT São Paulo’ não quer dizer que seu apresentador, Carlos Nascimento, esteja em baixa no SBT. Pelo contrário, a rede tem planos mais nobres para o jornalista.


ARMA SECRETA 2 Depois da curta estadia de Nascimento na faixa das 18h, executivos do SBT ficaram convictos de que ele é muito atraente ao anunciante.


REAÇÃO LOIRA A Globo resolveu reforçar os desenhos do ‘TV Xuxa’, que vem perdendo quase todo dia para a programação infantil do SBT. A partir de hoje, ataca de novos pacotes de ‘Os Padrinhos Mágicos’, ‘Power Rangers’ e ‘Dragon Ball Z’ As produções tops entre as crianças.


VITRINE As entrevistas que a TV Cultura fará com os principais candidatos à Presidência terão meia hora cada. Serão duas, ambas no mesmo dia (uma às 19h50 e outra à 0h40), ao vivo ou gravadas. Irão ao ar na semana de 11 a 15 de setembro.


REGIONALIZAÇÃO 1 O canal SporTV deu início a um projeto que chama de ‘descentralização de produção’. Pela primeira vez, um programa, o ‘Fora do Eixo’, está sendo produzido fora do eixo Rio- SP: em Recife. Trata de corridas de jangadas e de trator.


REGIONALIZAÇÃO 2 No final deste mês, estréia o segundo programa ‘regional’, o ‘Brasil em Campo’, uma mesa-redonda sobre a Série B do Campeonato Brasileiro produzida em Belo Horizonte’


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