Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

José Paulo Lanyi

‘Há correspondentes internacionais que se acham antropólogos, e essa é a chave de uma grande confusão. Julgam-se em trabalho de campo. Verificam um fenômeno limitado a um universo de pesquisa e escrevem as suas considerações finais, peremptórias e científicas. O problema é que não se detêm a frações culturais manifestadas por uma sociedade de menor complexidade. Acham-se maiores e devem desprezar aqueles que lhes soariam pouco ambiciosos, como Malinowski e as suas ilhas Trobiand.

Ao menos um deles quer mais: Larry Rohter, o etnógrafo, quer o Brasil- como se sabe, um país gigante, populoso e difícil de explicar.

Depois de concluir, escudado pelos seus editores-confrades, que toda a população nativa tem perdido o sono com as bebedeiras de seu cacique, o cientista do New York Times que-quer-ser-da-Nature-quando-crescer publicou agora mais uma de suas teses: os brasileiros se pelam de medo de sair de casa ao raiar do primeiro dia de agosto. ‘Embora o mês mal tenha começado, os brasileiros já estão se preparando para o pior. Este ano não é apenas o do aniversário do suicídio de Vargas, mas o calendário também possui uma sexta-feira 13, uma conjunção que faz com que muita gente se vista de branco para afastar os maus espíritos’.

A introdução do tratado, ou melhor, o lead da matéria (somente para assinantes do UOL) é este: ‘Não há nada como uma sexta-feira 13 para enervar as pessoas em países de todo o mundo. Mas, entre os brasileiros, o mês de agosto inteiro inspira temor -e para aqueles que acreditam em tal superstição, os augúrios deste ano podem ser especialmente desfavoráveis’.

Tudo bem, mais parece um enunciado de revista astrológica de pimpolhos, mas a intenção científica deve ser preservada. Um professor-doutor-editor do NYT saiu-se bem uma vez mais: ‘Supersticiosos, brasileiros temem mês de agosto. Fatos históricos e crendices abundantes estigmatizam o período’.

É verdade. Eu, por exemplo, escrevo este artigo debaixo do meu cobertor, com o providencial auxílio do lap-top e da minha lanterninha anti-pânico que comprei na Agosto Nunca Mais, aqui perto de casa. Você, leitor apavorado, deve estar em um desses nossos abrigos anti-agosto que construímos na década de 30 do século passado, logo após o suicídio do Pai dos Pobres. Este mês, motoristas e cobradores de ônibus só trabalham devidamente protegidos por armaduras, uma cláusula trabalhista assinada sob a foto de Getúlio. As ruas estão desertas. Quando aparece alguém no horizonte, não dá para saber quem é: o espectro atarantado corre tanto que logo, logo alcança o mês que vem.

‘‘Não é apenas um mito, é algo real’, garante Vanildo Mello, 37, vendedor de materiais esportivos. ‘É um mês durante o qual não se deve viajar, mas ficar em casa, um mês em que os negócios tendem a despencar. Se algo de ruim pode acontecer, é mais provável que ocorra em agosto do que em qualquer outro mês’’.

O Vanildo tem razão. Pensou que ia dar uma entrevista séria, e deu nisso, logo no mês de agosto.

Não, não é justo com o Rohter. Os seus colegas da Sociologia validam-lhe a proposição. ‘Os velhos, os pobres e aqueles nascidos nas áreas rurais são mais propensos a levar o provérbio ao pé da letra e a deixar que ele guie os seus comportamentos, dizem os sociólogos’. Bom, só faltou dizer quem são os sociólogos que dizem.

O correspondente preferiu citar escritores e, claro, a dona Jaci. ‘‘À medida que os dias passam sem que ocorra algum desastre, fico mais e mais tensa, esperando que o pior aconteça’, confessa Jaci Medeiros, 68, uma operária aposentada que nasceu em 2 de agosto, mas que teme este mês porque foi nele que morreram o marido e o irmão. ‘É somente quando chega setembro que eu finalmente começo novamente a relaxar’’.

Essa frase é boa mesmo, tanto é que encerra as considerações do especialista em cultura brasileira.

A esotérica Monica Buonfligio clarifica o tema no portal Terra, em 13 de agosto do ano passado. Ela sugere que esse medão todo tenha vindo de longe.

‘Mês escolhido para homenagear a cultura popular (dia 22/8 é o Dia do Folclore), agosto é conhecido como mês ‘do azar’, ‘do desgosto’, ‘do cachorro-louco’ e ‘de amuleto no bolso’. Segundo o folclorista Mário Souto Maior, a superstição de mês azarento surgiu com os romanos para homenagear o imperador Augustus, ou seja, não tinha nada de aziago – apesar de ele ter sido um dos mais tiranos governantes. A má reputação teria começado em 24 de agosto de 1572, durante uma batalha que ocorreu entre protestantes e católicos matando milhares de pessoas. E assim, ano após ano, uma série de fatos associada a infortúnios marcou este mês, transformando-o no ‘mês do desgosto’. Para as portuguesas, casar em agosto era ‘azar certo’. Elas tinham um motivo para não gostarem deste mês, pois era a época em que os namorados (ou maridos) marinheiros viajavam à procura de novas terras e muitos não retornavam. Uma crença européia explica que no oitavo mês do ano, ‘as bruxas estão soltas’. A professora de Comunicação e Semiótica da PUC de São Paulo, Jerusa Pires Ferreira, acredita que a fama tem relação com a tradição judaica, ocasião onde é celebrado o ‘Dia do Perdão’. Alguns acreditam também, que a idéia de mês azarento começou no início do século XX devido a várias tragédias. A Primeira Guerra Mundial ocorreu em agosto de 1914. A destruição da cidade de Hiroshima em 6 de agosto de 1945. A construção do muro de Berlim teve início em agosto de 1961. Outros acontecimentos fatídicos também marcaram este mês: em 24 de agosto de 1954, o Brasil chocou-se com o suicídio de Getúlio Vargas. Em 1962, uma overdose de calmantes terminou com a vida da musa Marilyn Monroe. Neste mesmo mês morreram Lady Di (1997) e Carmem Miranda (1955)’.

Ela conclui: ‘Devemos lembrar que a superstição está ligada à ignorância…’.

Rohter parece apreciar o jornalismo metonímico, aquele que julga o todo pela parte que analisou. É uma predileção que induz o seu leitor ao estereótipo cultural. Veja o que diz o cientista Carl Sagan (1934-1997) em sua bíblia anti-superstição ‘O Mundo Assombrado pelos Demônios- A Ciência Vista Como uma Vela no Escuro’ (1999, Companhia das Letras):

‘Os estereótipos são numerosos. Os grupos étnicos são estereotipados, os cidadãos de outras nações e religiões são estereotipados, os gêneros e as preferências sexuais são estereotipados, as pessoas nascidas em várias épocas do ano são estereotipadas (astrologia solar) e as ocupações são estereotipadas. A interpretação mais generosa atribui esse modo de pensar a uma espécie de preguiça intelectual: em vez de julgar as pessoas pelos seus méritos e deficiências individuais, nós nos concentramos em uma ou duas informações a seu respeito, que depois inserimos num pequeno número de escaninhos previamente construídos. Isso poupa o trabalho de pensar, embora em muitos casos custe o preço de cometer uma profunda injustiça’.

O negrito é obra deste colunista.

Sagan citou vários exemplos de superstição de seus conterrâneos, mas, pensador sério, foi prudente e verdadeiro: ‘A maioria dos casos que vou relatar neste livro são norte-americanos- por serem os que conheço melhor, e não porque a pseudociência e o misticismo sejam mais proeminentes nos Estados Unidos que em outros lugares’.

Cito um deles:

‘Como foi revelado por repetidas pesquisas de opinião, durante anos, a maioria dos norte-americanos acredita que estamos sendo visitados por seres extraterrestres que se deslocam em UFOs. Numa pesquisa Roper de 1992, que abrangeu quase 6 mil adultos norte-americanos- especialmente encomendada por aqueles que tomam as histórias de rapto (sic) por alienígena ao pé da letra-, 18% informaram terem às vezes acordado paralisados, cientes da presença de um ou mais seres estranhos no quarto. Cerca de 13% relatam episódios estranhos de lapsos de memória e 10% afirmam terem voado pelo ar sem ajuda mecânica. Só por esses resultados, os patrocinadores da pesquisa concluem que 2% de todos os norte-americanos foram raptados, muitos mais de uma vez, por seres de outros mundos. (…) Se acreditarmos na conclusão tirada por aqueles que financiaram e interpretaram os resultados dessa pesquisa, e se os alienígenas não têm preferência exclusiva pelos norte-americanos, o número de raptos em todo o planeta atinge mais de 100 milhões de pessoas. Isso significa um seqüestro a cada fração de minuto durante as últimas décadas. É surpreendente que a maioria dos vizinhos não tenha percebido nada’.

A generalização, ou- como chamo- o jornalismo metonímico, atrapalha a compreensão do que seja o todo em qualquer país- simplesmente porque não se conseguiria descrevê-lo em um artigo de jornal. Conforme as pesquisas endossadas por Carl Sagan, o americano médio teria dificuldade de avançar para além de seu cotidiano.

Concluo eu: matérias preconceituosas ou generalizantes só agravam tendências como a descrita abaixo, na obra do divulgador científico:

‘Em pesquisas de opinião feitas nos Estados Unidos no início dos anos 90, dois terços de todos os adultos não tinham idéia do que fosse a ‘superinfovia’; 42% não sabiam onde se encontra o Japão; e 38% ignoravam o termo ‘holocausto’. Mas a porcentagem subia a 90 e tantos para quem tinha ouvido falar dos casos criminais de Menendez, Bobbit e O. J. Simpson; 99% sabiam que o cantor Michael Jackson teria molestado sexualmente um menino. Os Estados Unidos podem ser a nação com a melhor indústria de entretenimento da Terra, mas o preço pago é muito alto’.

Antes de inflar o peito da Nação, não se esqueça: aqui a situação é parecida (provavelmente pior). Aliás, para não sermos injustos com ‘los hermanos’, a Argentina também foi citada por Rohter, o antropólogo das Américas: ‘O Brasil não é o único país latino-americano no qual se cristalizaram superstições em torno do mês de agosto. Na sua abrangente pesquisa sobre o folclore argentino, por exemplo, Rafael Jijena Suarez escreveu sobre a crença, comum no país, segundo a qual ‘não se deve lavar o cabelo durante todo o mês de agosto porque isso atrai a morte’’. Assim, sem mais…

O augusto Rohter confundiu, em seu teorema, uma porçãozinha do litoral maranhense com a Amazônia, ao citar a explosão em Alcântara: ‘A seguir um foguete explodiu em uma plataforma de lançamento na Amazônia, matando toda uma equipe de cientistas e técnicos e infligindo um golpe devastador sobre o incipiente programa espacial brasileiro’.

Mais uma vez ele prefere o todo. Nada mais ‘todo’ na imaginação do leitor do que a exótica Amazônia. Nada mais ‘brasileiro’ para os americanos do que a Amazônia. O inconsciente rohteriano (não confundir com rotariano) cunhou, no Brasil, uma Amazônia de pautas cientificamente comportamentais. O NYT já foi melhor.

Mudando de assunto: aproveito o espaço para mandar um beijo para a amiga Andrezza Queiroga, que faz aniversário no dia 28…de agosto. Obrigado pelo convite, mas não poderei ir. Você entende, né. Aliás, como se atreveu a nascer e a fazer festa neste mês?’



ENTREVISTA / CARL BERNSTEIN
Le Monde / Folha de S. Paulo

‘‘Imprensa dos EUA é a melhor do mundo’’, copyright Folha de S. Paulo / Le Monde, 15/8/04

‘Trinta e dois anos depois de, ao lado do colega Bob Woodward, ter divulgado o escândalo de Watergate, que acabaria provocando a queda do presidente dos EUA Richard Nixon em 9 de agosto de 1974, o jornalista Carl Bernstein esteve no Festival de Locarno, encerrado ontem. Ali, apresentou ‘Todos os Homens do Presidente’ (de Alan Pakula; 76), na retrospectiva ‘Newsfront’, dedicada aos jornalistas no cinema.

A seguir, Bernstein fala em entrevista coletiva.

Pergunta – Olhando em retrospectiva, o que você acha de ‘Todos os Homens…’ hoje e da maneira como foi representado no filme?

Carl Bernstein – Desde que o filme foi lançado, eu só o revi uma vez, dois anos atrás, e fiquei muito satisfeito por constatar que ele não envelheceu. Acho que a explicação disso não está tanto nos personagens, Bob Woodward e eu, mas na maneira como foi representado todo o processo de uma boa reportagem e como o jornal, como instituição, engajou-se por inteiro naquele grande trabalho de investigação.

Pergunta – Michael Moore disse esperar que ‘Fahrenheit 11 de Setembro’ mude o resultado da eleição presidencial. Você acha que um filme pode ter esse poder?

Bernstein – Acho que esse filme é um bom trabalho, mas não existe nenhuma obra que possua tamanho poder. Se houvesse, Watergate teria mudado o curso das eleições de 1972. Deve-se considerar o processo cultural e político como um todo. ‘Fahrenheit’ é um elemento entre outros. Quanto ao seu conteúdo, há problemas reais de contexto, mas isso não impede que sua demonstração chegue mais perto da verdade do que todas as que Bush fez até agora.

Pergunta – Moore acha que a população não é suficientemente bem informada, especialmente pelas grandes redes de TV. Você acha que ele veio substituir outros meios de comunicação?

Bernstein – Nos últimos 50 anos, os livros, os jornais, as revistas, as TVs e o cinema, todos desempenharam um papel na constituição da informação. ‘Fahrenheit’ exerceu um papel em nossa cultura política; acho que a amplitude dos debates que o filme suscitou se explica por seu sucesso comercial. Para quem se interessa em procurá-la, a informação não falta; o problema está tanto no consumidor da informação quanto entre aqueles que a produzem.

Pergunta – Você acha que a imprensa escrita perdeu influência?

Bernstein – Em primeiro lugar, quero afirmar minha convicção de que a imprensa escrita americana é a melhor do mundo. O jornalismo no Reino Unido vem decaindo há 30 anos, especialmente em razão da influência desastrosa de [Rupert] Murdoch [dono de um império de comunicação]. Na Alemanha, na França e na Itália, o problema é outro: a reportagem verdadeira, à qual chamo de a procura pela ‘melhor versão possível da verdade’, não é algo a que seja dada importância grande, porque os jornais são guiados por considerações ideológicas.

Isso dito, a televisão hoje domina a informação recebida pela maioria dos americanos e dos europeus. As redes de jornalismo 24 horas por dia têm cada vez menos ligações com a informação verdadeira, mais ainda em razão da concorrência para ver quem grita mais alto. As reportagens são quase inexistentes nessas redes.

Pergunta – Como você vê o crescente espírito de contestação do público em relação à mídia?

Bernstein – Talvez não mereçamos mais confiança do que isso, talvez não estejamos fazendo nosso trabalho a contento. Mas é preciso desconfiar dessas generalizações. Criticou-se muito a imprensa americana por não ter investigado Bush suficientemente. Hoje, porém, acho que já sabemos muitas coisas sobre esse presidente e sobre seu governo.

Pergunta – Em que medida você acha que a imagem pode ser vista como fonte de verdade?

Bernstein – A imagem é uma ferramenta que precisa ser completada por entrevistas, comentários, outros elementos documentais. De tempos em tempos, porém, acontece de uma imagem -como as de Abu Ghraib- constituir uma história enorme em si.

Pergunta – Se você tivesse que escolher entre a verdade e a lenda, como John Ford faz James Stewart dizer em ‘O Homem que Matou o Facínora’: ‘Quando a lenda vira realidade, imprima a lenda’…

Bernstein – Sinto muita admiração por John Ford, mas não concordo com essa frase. Acho que ela tem muito a ver com a vitória do trivial sobre o que realmente tem significado, com o reinado da fofoca maldosa, do culto à celebridade. Deixamos de buscar a melhor versão da verdade e nos afastamos dela. O valor da fofoca, do sensacionalismo, é cada vez mais o da nossa profissão. A influência de Murdoch, em especial -que utilizo aqui como metáfora de um movimento mais amplo-, promoveu uma cultura imbecil. Mas, atenção! Nossa profissão não se resume a isso, felizmente. Tradução de Clara Allain’



MORDAÇA NOS EUA
Adam Liptak

‘Juiz dos EUA manda prender repórter que oculta fonte’, copyright Folha de S. Paulo / The New York Times, 11/8/04

‘Um juiz federal de Washington considerou que um repórter da revista ‘Time’ desacatou a autoridade do tribunal, anteontem, e ordenou sua prisão, porque ele se negou a identificar os funcionários do governo que lhe revelaram a identidade de uma agente da CIA. Também foi considerado que a revista cometeu desacato, e ela recebeu ordem de pagar multa diária de US$ 1.000.

O juiz Thomas Hogan, da Corte Distrital dos EUA, suspendeu as duas sanções enquanto a ‘Time’ e o repórter, Matthew Cooper, apelam da decisão, mas ele rejeitou o argumento de que a primeira emenda da Constituição americana confere a jornalistas o direito de recusar-se a responder a perguntas sobre fontes confidenciais formuladas por um júri.

‘A informação solicitada é muito limitada’, escreveu Hogan. ‘Já tendo sido esgotados todos os meios disponíveis para obter essa informação, o testemunho pedido é necessário para que a investigação se complete, e a previsão é que essa informação vá constituir evidência de inocência ou culpa.’

A decisão do juiz envolve uma investigação politicamente carregada sobre a hipótese de funcionários da administração do presidente George W. Bush terem revelado ilegalmente a identidade de uma agente da CIA.

Analistas disseram que a possível prisão de um jornalista talvez seja o mais significativo choque entre promotores federais e a imprensa desde os anos 70. O caso é um dos vários que estão tramitando nas cortes federais, nas quais jornalistas receberam ordem judicial de revelar suas fontes.

As intimações judiciais de Cooper e outros jornalistas foram emitidas por um advogado especial, Patrick Fitzgerald, que queria saber quem revelou ao colunista Robert Novak, cuja coluna é vendida a diversas publicações, a identidade de uma agente secreta da CIA, Valerie Plame.

Plame é casada com Joseph Wilson, ex-diplomata que, em artigo publicado em julho de 2003 no ‘New York Times’, afirmou que o presidente Bush baseou-se em informações desacreditadas quando disse que o Iraque tentara obter urânio da África.

Dias depois, Novak escreveu em sua coluna que ‘‘dois funcionários da administração’ haviam dito a ele que Plame ‘‘é agente [da CIA] que trabalha com armas de destruição em massa’. Revelar a identidade de um agente da CIA pode ser crime. Wilson sugeriu que a Casa Branca poderia ter vazado o nome como vingança por ele ter criticado o presidente.

Não se sabe se Novak foi intimado a comparecer em juízo ou, se o foi, qual foi sua resposta. Seu advogado, James Hamilton, negou-se a comentar o assunto.

Depois de sair a coluna de Novak, a ‘Time’ informou que ‘alguns funcionários do governo’ revelaram a identidade de Plame.

Bush, o vice-presidente, Dick Cheney, e vários funcionários da Casa Branca já foram interrogados no inquérito. Em sua decisão sobre o caso Plame, no mês passado, Hogan disse que uma decisão da Suprema Corte de 1972 requer que Cooper revele suas fontes.

‘[A decisão] deixa claro que nem a primeira emenda nem o direito consuetudinário protegem jornalistas de sua obrigação, que compartilham com todos os cidadãos, de depor diante de um júri quando convocados a fazê-lo.’

O advogado Floyd Abrams, que representa a ‘Time’ e Cooper, disse que a decisão vai dificultar o trabalho de jornalistas.

Referindo-se ao artigo publicado pela ‘Time’, o advogado disse: ‘Esse tipo de matéria, sobre o potencial abuso de poder por parte do governo, é precisamente o tipo de coisa que é impossível fazer sem fontes confidenciais’.’



EUA / MERCADO PUBLICITÁRIO
Meio & Mensagem

‘A nova era da mídia dos EUA’, copyright Meio & Mensagem, 9/8/04

‘Pesquisa anual do banco especializado em mídia Veronis Suhler Stevenson (VSS), divulgada em 2 de agosto, revelou um fato inédito na história da mídia dos Estados Unidos: em 2003, pela primeira vez desde que se tem registro, os consumidores geraram mais receita para a indústria de comunicações do que os anunciantes – US$ 178,4 bilhões contra US$ 175,8 bilhões -, aumentando seus gastos com compra e acesso de conteúdo e entretenimento num ritmo duas vezes mais rápido que o dos investimentos publicitários (6,5% x 3,2%).

Segundo dados preliminares do relatório Communications Industry Forecast & Report, que seria publicado após o fechamento desta edição de Meio & Mensagem, os americanos estão cada vez mais dispostos a pagar por conteúdo personalizado, seja via internet, TV a cabo ou por satélite, DVDs, videogames e outras mídias digitalizadas, em prejuízo de plataformas mais convencionais (e sustentadas por publicidade) como TV aberta, rádio, revistas e jornais. Mais do que isso, acompanhando a multiplicação de novos formatos estão não só gastando uma parcela maior de seu orçamento em informação e entretenimento customizados, mas dedicando mais tempo às plataformas preferidas: até 2008 a verba pessoal de US$ 778/ano deverá crescer para mais de US$ 1 mil/ano, enquanto as 1.598 horas/ano atuais aumentarão em mais de uma hora no período, diz o relatório.

Em 2003, TV a cabo e por satélite receberam a maior parte dos investimentos dos consumidores, num total de US$ 51,1 bilhões que representou avanço de 7,1% comparado ao ano anterior. Vídeos domésticos e internet expandiram em dois dígitos, enquanto o segmento de rádio por satélite foi multiplicado por quatro. Esses segmentos, prevê a VSS, estarão gerando US$ 248,7 bilhões de receita para a indústria de comunicações dos EUA em 2008, um crescimento anual de 6,9%.

Para os grupos de mídia, essas mudanças comportamentais subvertem sua tradicional dependência de receita publicitária. Para os anunciantes e suas agências, significam a necessidade urgente de descobrir novas formas de alcançar os targets de forma precisa, sob o risco de serem simplesmente deletados. Em resumo, sinalizam profundas mudanças no modelo de negócios de todos os players da indústria.’