Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

José Sarney


‘Quando eu tinha 17 anos, concorri em um concurso de reportagem dos ‘Diários Associados’ do Maranhão.


Ganhei e não sei se melhor não seria se tivesse perdido. Iniciei-me no jornalismo. Como se começava naquele tempo, fui contratado como repórter do setor policial, o conhecido ‘foca’. Por dois anos peregrinei por delegacias, cobrindo acidentes e crimes, acompanhado do fotógrafo Azoubel, que está na glória de Deus.


Foi o jornalismo que me abriu as portas da política. Fiz carreira. De repórter passei a redator, de redator a secretário de redação, editorialista, organizador de suplemento literário e cronista que criticava tudo.


Contraí a paixão do jornal que até hoje me fascina.


Daí foi um passo para a política. Iniciei essa penosa vida de disputar: no Centro Liceísta, no Colégio Estadual, na Umes -União Maranhense de Estudantes-, na UNE e, de repente, estava na militância política, combatendo o Getúlio, o interventor do Maranhão e agitando colegas contra o que julgava errado. Era o nobre sonho da juventude.


Quando faço um retrospecto de minha vida, paro para ter saudades do meu tempo de repórter policial. Nenhuma preocupação com as razões de Estado nem depressão ou problemas existenciais. Tinha a revolta do testemunho da vida, a tragédia pessoal dos envolvidos no crime.


Meu lado poeta levou-me a escrever uma série de reportagens sobre um ladrão que morrera numa armadilha e cuja vida era uma gangorra entre a regeneração e o crime. ‘Zé Tereza, entre o bem e o mal.’ Foi um sucesso.


Hoje, 60 anos depois, estou em Paris e sou o orador, na Academia Francesa, da Academia Brasileira. Tenho três livros aqui publicados e muitos amigos entre os escritores.


Quem nasce no Maranhão nunca pensa na Presidência da República. Mas somos obstinados por academias. O Maranhão tem seu deus maior na cultura. Na Academia Brasileira, tivemos dez maranhenses, que vão de Graça Aranha a Josué.


As parteiras, ao ouvir o choro das crianças, já sabem seu desejo: aca aca de de mia de mia.


E é por isso que tenho vaidade desse encontro. A Academia Francesa foi fundada em 1635, 23 anos depois da invenção do Maranhão pelos franceses. No Maranhão, guardamos o imaginário dessa nossa ligação com a França.


Este ano é o ano França-Brasil. O Brasil está na moda. Por todo lado há manifestações culturais com temas do nosso país. Leio o jornal ‘Le Figaro’, que traz a notícia do mensalão e traduz: ‘pot-de-vin’. Na Itália chamam de ‘bustina’ (envelope).


Tudo vergonha.


Eu sou o repórter que vem ver a Europa dividida entre os que querem uma unidade política e os que desejam -Blair, cavalo de Tróia dos EUA- apenas uma área de livre comércio.


Procuro entrevistar Richelieu e ele me diz por que fundou a Academia Francesa: ‘A cultura’. E eu, repórter por um dia, vejo Paris e lembro Gilberto Amado, quando uma vez me disse em Nova York: ‘Todos nós temos duas pátrias. A nossa e Paris’.


Eu, cá comigo, reafirmo: minha pátria começa no Maranhão e, ao lado de Pessoa, ‘é a língua portuguesa’, sem mensalão nem ‘bustina’.


Brasil, bem brasileiro, da cultura da alegria, da praia, do futebol, da mulata, do botequim e do homem cordial, aquele que o pai de Chico Buarque cantou e ele também.’



NYT APÓIA BRASIL


Folha de S. Paulo


‘‘NYT’ defende que Brasil quebre patentes de remédios anti-Aids’, copyright Folha de S. Paulo, 24/06/05


‘A quebra de patentes de remédios anti-Aids pelo governo brasileiro é defendida pelo ‘The New York Times’ em um editorial publicado na edição de ontem. O posicionamento do jornal recebeu a aprovação da organização Médicos Sem-Fronteiras e foi considerado ‘importante’ pelo Ministério da Saúde.


A publicação elogia o programa do Brasil de combate à Aids e ressalta que as patentes devem ser respeitadas, mas que a justificativa brasileira tem respaldo legal nos acordos internacionais e merece o apoio de Washington.


O programa, que fornece tratamento gratuito para quem precisar, é viável graças à fabricação dos remédios, a partir da cópia da fórmula original, por laboratórios brasileiros. No entanto, diz o editorial, novos remédios ainda são importados e custam muito caro.


O governo estuda agora medidas que permitiriam que laboratórios brasileiros pudessem copiar a fórmula desses remédios, como o licenciamento voluntário. No entanto, segundo o texto, grupos de direita e a indústria farmacêutica nos EUA classificaram a atitude de roubo e congressistas americanos pediram sanções contra o Brasil. O ‘NYT’ diz ainda que apenas um punhado de países quebra as patentes, pois os demais ‘são intimidados, principalmente pelos Estados Unidos’.


O editorial sugere, por fim, que as autoridades comerciais dos EUA declarem publicamente que o Brasil não sofrerá retaliações, ao quebrar as patentes, ‘por exercer o seu direito de salvar vidas’.’



O Estado de S. Paulo


‘‘NY Times’ defende plano brasileiro de combate à aids ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 24/06/05


‘O programa brasileiro de combate à aids recebeu elogios do jornal The New York Times. O editorial publicado ontem, com o título de O direito do Brasil de salvar vidas, afirma que o País tem um modelo de esforço para prevenção e é o primeiro entre as nações em desenvolvimento a oferecer tratamento gratuito a todos os que dele necessitam.


Segundo o jornal, é legítima a intenção do governo brasileiro de adotar medidas para que os laboratórios nacionais copiem novos medicamentos, que são importados e caros. Após recusa da indústria de ceder licenças, ‘o Brasil ameaça quebrar as patentes e pagar aos donos um royalty razoável’, explica o texto. ‘Embora os direitos de propriedade mereçam respeito e não devam ser violados sem cuidado, o que o Brasil faz é legal e merece o apoio de Washington.’


Segundo o editorial, o governo brasileiro joga segundo as regras da Organização Mundial de Comércio e o programa é considerado exemplar pela Organização das Nações Unidas.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘A mão estendida’, copyright Folha de S. Paulo, 24/06/05


‘Hugo Chávez, nas agências, chegou a confirmar a visita de Lula. Mas vieram os telejornais e noticiaram que o presidente vai dar folga ao Aerolula e ao venezuelano.


Ficou para conversas com o PMDB, em meio à reforma e ao tão adiado pronunciamento em rede, sobre ações federais contra a corrupção.


O discurso dirigido por Duda Mendonça foi precedido ainda ontem por nova ação da PF, agora ‘na carne’, no destaque da Globo à tarde:


– O delegado federal chegou à meia-noite a Belo Horizonte e iniciou a busca no escritório de contabilidade do publicitário Marcos Valério.


Depois, na escalada de manchetes da Band:


– PF apreende documentos do contador de Valério.


Daí para Lula, que elogiou seu ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, e proclamou, na rede nacional:


– Nunca a Polícia Federal foi tão livre.


Como adiantou Kennedy Alencar à tarde na Folha Online, o presidente usou ‘tom sereno’ e evitou a teoria do complô de mídia. Até elogiou:


– Feliz do país que tem uma imprensa livre e democrática, para fiscalizar.


Por outro lado, não faltou ‘a mão estendida’ ao Congresso -que ‘saberá apurar todas as denúncias’.


Mas Lula tinha concorrência. Foi a primeira manchete no ‘Jornal da Record’:


– José Dirceu depõe a portas fechadas, nega denúncias sobre o ‘mensalão’, mas admite que conhece Valério.


Mais concorrência.


Foi um dia todo de Valério, na verdade. Abrindo a escalada do ‘Jornal Nacional’:


– Exclusivo! Marcos Valério quebra o silêncio. Nossos repórteres ouvem o primeiro depoimento do homem acusado de distribuir o ‘mensalão’ a parlamentares. E o Ministério Público Federal quer investigar os contratos da agência dele com os Correios.


Na longa entrevista, o publicitário mineiro, tenso, até chorou -ou ‘se emocionou’.


A exemplo de sua ex-secretária, a atuação não foi das mais convincentes, mas deixou no ar o que queria:


– Roberto Jefferson mente. Esperei para responder porque estava reunindo provas de que, na primeira quinzena de julho de 2004, ele não poderia ter se encontrado comigo.


Foi a quinzena das ‘malas de dinheiro’.


A TERRA DA PROPINA


No título sarcástico, ‘Democracia Jeffersonia, estilo tropical’. É a nova edição da ‘Economist’, num trocadilho com os nomes de Thomas Jefferson, um dos ‘pais fundadores’ da democracia americana, e Roberto Jefferson, o deputado brasileiro.


O texto ecoou de imediato no Brasil, com atenção para a solução proposta pela revista -dizendo que, ‘se Lula quisesse mesmo limpar o Estado, ele o emagreceria… mas ele e o PT não esperaram um quarto de século para presidir um governo menor’.


A ‘Economist’ sublinhou, na abertura e por todo o texto, que ‘pouco foi provado e quase tudo foi negado’ e não se sabe o que é ‘verdadeiro ou não’. Mas, ‘mesmo que as acusações sejam falsas, elas são tantas que podem tomar meses até serem desacreditadas’:


– Até lá, o governo está em ‘crise permanente’.


Na capa do ‘Miami Herald’, em três colunas:


– A terra da propina enfrenta a conta.


DOS SONHOS


Agricultor brasileiro, ontem no ‘FT’


Ontem, no alto da capa do ‘Financial Times’, um sinal de que o Brasil não é só terra da propina mas também ‘campo de oportunidades’ ou, no sobretítulo interno do longo texto, ‘campo dos sonhos’. E o título era ‘Agricultores brasileiros fazem tremer o mundo da agricultura’.


E tome ‘agenda positiva’, no exterior. No editorial ‘O direito do Brasil de salvar vidas’, o ‘New York Times’ defendeu uma eventual decisão de quebrar patentes de medicamentos contra Aids.’