Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Juliana Bianchi

‘Galpões industriais abandonados, ruas largas – muitas de paralelepípedo – quase sem movimento e praticamente nenhum serviço ou comércio por perto. A parte baixa da Vila Leopoldina, zona oeste de São Paulo – mais próxima da confluência entre os Rios Pinheiros e Tietê -, pouco a pouco ganha um agito novo e se transforma em reduto de empresas de mídia e comunicação – um ‘media district’ a 11 quilômetros do centro.


A nova vocação do antigo reduto de chácaras e indústrias, que ainda abriga ícones do século passado como a Ceagesp, tomou impulso há pouco mais de um ano, quando a agência de publicidade Neogama/BBH transferiu para a região as instalações da Vila Olímpia. ‘Estava procurando um lugar amplo em que pudesse construir a agência sem barreiras físicas entre os departamentos’, afirma Alexandre Gama, que derrubou um dos antigos galpões da fábrica de canetas Bic – desativado na década de 90 -, para montar a agência em boa parte do terreno de 16 mil metros quadrados na Avenida Mofarrej.


Estimulados pelo arquiteto André Weiner, responsável pelo projeto de Gama, logo em seguida também vieram para o Espaço Bic o fotógrafo Bob Wolfenson , que instalou ali seu escritório, três estúdios e um laboratório digital; a produtora de vídeo de Suzana Villas-Boas, que com a locadora de equipamentos audiovisuais Broadcasting montou dois outros estúdios de TV e uma ilha de edição; o escritório administrativo da TVA, uma produtora de som, um escritório de web design e um banco de imagens. Logo ao lado, outro galpão, de 3.600 metros quadrados, está sendo reformado para abrigar mais uma agência de publicidade.


A revista Vogue cogita mudar-se para o quarteirão em frente, preenchendo parte do espaço que separará este núcleo de mídia do que será o primeiro meganúcleo de cinema do Estado. Batizado como Complexo de Infra-estrutura de Produção Cinematográfica, o projeto de R$ 15 milhões encabeçado pela empresa de iluminação Quanta abrigará quatro estúdios com tratamento acústico, restaurante, lojas de suprimentos e negativos, camarins, locadoras de equipamentos de iluminação e filmagem, oficina de marcenaria e pintura, e salas de pré-produção, com área total de 13 mil metros quadrados, onde antes funcionava uma empresa de fundição.


‘Só no Rio tem algo parecido, mas lá é subaproveitado por ser longe do centro, no Recreio. Aqui o ponto é estratégico para as produtoras que já estão desde os anos 80 concentradas na região da Vila Madalena e Pinheiros’, afirma Marcelo Fujii, diretor da Quanta.


Apesar de a proximidade não ser explicitamente declarada como ponto de convergência de novos negócios, Alexandre Gama assume que ter profissionais de toda a cadeia de comunicação por perto pode ajudar. ‘Com o trânsito caótico da cidade, é natural que a gente se beneficie disso para não perder tempo’, diz ele.


Por enquanto, os únicos aspectos que favorecem esse movimento midiático são os amplos espaços vazios a preços competitivos, a completa ausência de trânsito e a razoável rede de infra-estrutura de transmissão de dados já instalada.


RESTRIÇÕES


O aspecto atual do entorno, entretanto, não é unanimidade. ‘A Vila Madalena (onde estava antes) tinha muito mais serviços por perto, mas aqui é o futuro’, diz Bob Wolfenson, sem almoçar até as 17 horas, por não haver uma lanchonete próxima na qual pudesse comer rapidamente. Até o fim do ano, um restaurante deverá ser inaugurado no mesmo quarteirão e há a possibilidade de a banqueteira Neka Menna Barreto transferir sua cozinha para o bairro.


Com a proximidade do Cadeião de Pinheiros, a segurança é outro fator de atenção. ‘À noite, as ruas daqui ficam totalmente vazias’, afirma Suzana Villas-Boas. Acostumado a acompanhar trabalhos que entram madrugada adentro, Fujii já se planejou. ‘Teremos circuitos internos de TV, conexão direta com a polícia e um forte controle de acesso.’


Mas o maior problema é mesmo a chuva. Boa parte do bairro, que fica no nível dos rios, acabou submersa na grande chuva de maio. ‘Mas piscinas subterrâneas, barragens e um moderno sistema de drenagem já estão sendo construídos no espaço para que isso não se repita’, diz Sidney Angulo, da imobiliária Imóvel Comercial, dona e administradora do Espaço Bic. Nos estúdios da Quanta, todo o piso foi elevado 1,5 metro. ‘E estamos reavaliando nossa ida para lá. Já pensou investir um bom dinheiro e perder tudo na chuva?’, questiona Ricardo Kowarick, diretor da Vogue.’




PERNAMBUCO
Rosário de Pompéia e Rafael Sampaio


‘Jornalistas protestam contra demissão em jornal de PE’, copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 4/07/05


‘Recife e São Paulo – No dia 21 de junho, o jornalista e editor executivo do Jornal do Commercio Cícero Belmar foi demitido por ter autorizado a publicação de uma reportagem acerca da libertação de 1.200 trabalhadores submetidos a condições análogas à de escravos na Destilaria Gameleira, no município de Confresa, em Mato Grosso. A destilaria pertence ao empresário pernambucano Eduardo Queiroz Monteiro, também proprietário do jornal Folha de Pernambuco (leia matéria ‘Jornalista é demitido por matéria sobre trabalho escravo’). Nesta sexta-feira (01), jornalistas, representantes de organizações não governamentais e de movimentos sociais, advogados e estudantes foram às ruas da capital pernambucana numa manifestação pela liberdade de imprensa no estado. O ato, organizado pelo Fórum Pernambucano de Comunicação e pelo Sindicato dos Jornalistas, aconteceu em frente ao Jornal do Commercio. A direção do veículo assistiu ao protesto pela câmera de vídeo localizada na portaria do jornal, o que inibiu a participação no ato dos repórteres da redação. Poucos se juntaram aos manifestantes e nenhum aceitou comentar a demissão de Belmar.


‘Entendo porque os jornalistas da redação não estão presentes. É muita pressão. É uma ameaça permanente de perda do emprego. Sei que de coração todos eles são solidários à causa, mas a sobrevivência fala mais alto’, explica Ayrton Maciel, presidente do Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco. Para ele, o caso da demissão de Belmar teria mais repercussão se a proposta de criação Conselho Federal de Jornalismo tivesse sido aprovada no Congresso. Na avaliação do Fórum Pernambucano de Comunicação, a demissão do editor executivo do Jornal do Commercio é apenas a ponta do icerberg do que acontece hoje no Brasil em relação à liberdade de imprensa. ‘É o momento de mostrar para a população que ainda existe censura no país, só que agora ela está privatizada’, argumenta Mariana Martins do Fopecom.


Quando era editor da Folha de Pernambuco, o jornalista Beto Rezende foi demitido por Eduardo Queiroz Monteiro por retaliação. ‘Na época, eu lutava pelo pagamento das horas extras e discutia como a entrega dos contras-cheques era feita, apenas cinco minutos antes do banco fechar. Depois de um mês, fui demitido por não me enquadrar na política do jornal’, explica Rezende, que tem 18 anos de profissão e passou pelas principais redações de Pernambuco.


Durante o ato, foi feita a leitura de uma nota de repúdio, assinada por diversas entidades da sociedade civil (leia íntegra abaixo). O texto critica os ‘donos da mídia de Pernambuco, que, numa ação conjunta, violaram o direito humano à comunicação, atacando a liberdade de imprensa e o direito à informação’. Entre as entidades que aassinaram a carta, está o o Centro de Cultura Luiz Freire, que através do blogger Ombuds PE, faz a leitura crítica da mídia pernambucana. O Ombuds PE foi o primeiro veículo a divulgar a demissão de Belmar. ‘Esse tema foi recorde em comentários. As pessoas se sentem mais livres para expressar suas opiniões, principalmente os que trabalham nas redações, porque não precisam se identificar no blogger’, comenta Ivan Moraes, coordenador do Programa de Comunicação do Centro de Cultura Luiz Freire.


Voz calada


Natural do município de Carpina, a 49 km de Recife, José Cândido de Amorim Filho, conhecido como Jota Cândido, produzia, há 19 anos, um programa policial para a Rádio Alternativa. Também era vereador (em seu segundo mandato) pelo PDT, e autor de um projeto de lei municipal contra o nepotismo. Na última quinta-feira (30), Cândido foi encontrado morto, alvejado por dezoito disparos quando entrava no prédio da Rádio Alternativa. Os disparos foram feitos por um rapaz, em uma moto. No dia 22 de maio, o radialista sofreu um primeiro atentado, quando seis tiros foram disparados contra ele. Um atingiu Cândido de raspão embaixo da axila esquerda. Ele já havia solicitado proteção policial, mas não foi atendido.


O prefeito de Carpina, Manoel Botafogo (PSDB), é acusado pelo Sindicato dos Radialistas de Pernambuco e pelo deputado estadual Carlos Lapa (PSB) de ter interesse na morte de Cândido. Lapa é enfático em apontar que Manoel Botafogo tem mais de vinte parentes empregados na prefeitura e por isso vetou a lei contra o nepotismo do vereador do PDT. Seu filho, Josafá Botafogo, é Secretário de Turismo da cidade. Marta Botafogo, sua filha, é chefe do departamento pessoal da prefeitura. Rinaldo Botafogo, também seu filho, é diretor de Transportes da cidade. Eunice Botafogo, outra filha, é Secretária Adjunta da Prefeitura. Júnior Botafogo, seu sobrinho, é Secretário Adjunto. Raquel Botafogo, outra filha, é tesoureira da Prefeitura. E Jacilene Botafogo é diretora de unidade mista das Secretarias.


Lapa ainda acusa a Prefeitura de superfaturar eventos na cidade. A festa junina de Carpina, por exemplo, para cujo orçamento estava previsto um gasto de R$ 150 mil, custou R$ 600 mil para o poder público. ‘Acredito que o crime tem origens políticas. O deputado Antônio Morais (PSDB) chegou a mentir em programa de rádio, à época do primeiro atentado. Disse que Jota Cândido não havia sido alvejado coisa alguma. Que estava fingindo’, disse. Segundo o sindicato, ao assumir o mandato, em janeiro de 2005, Botafogo teria diminuído o salário dos garis e servidores de saúde e aumentado em 90% o salário de cargos comissionados.


Na próxima quarta-feira (6), o Fórum Pernambuco de Comunicação e o Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco continuam o debate sobre a liberdade de imprensa no estado no auditório da Ordem dos Advogados do Brasil, às 9h.


Nota de Repúdio


As entidades, movimentos e redes abaixo assinados vêm a público repudiar a atitude dos donos da mídia de Pernambuco, que, numa ação conjunta, violaram o direito humano à comunicação, atacando a liberdade de imprensa e o direito à informação.


A Agência Carta Maior, dia 17 de junho, noticiou com exclusividade a realização de uma operação do Ministério do Trabalho, onde foram libertadas mais de 1.200 pessoas da Destilaria Gameleira, no município de Confresa (MT). No último dia 18, a Agência Folha, de São Paulo, distribuiu material sobre esse fato que em Pernambuco foi publicado exclusivamente pelo Jornal do Commercio. O texto acrescentava que ‘segundo os fiscais do Ministério Público do Trabalho que investigaram as irregularidades, existem indícios de que o grupo estava sendo submetido a trabalho escravo em uma lavoura de cana-de-açúcar de uma destilaria. As terras são de propriedade de Eduardo Queiroz Monteiro’ (sic).


A publicação da matéria foi autorizada pelo jornalista e então editor executivo do jornal Cícero Belmar e registrou que o empresário Eduardo Queiroz Monteiro, dono do Grupo EQM, ao qual pertence também a Folha de Pernambuco e a Rádio Folha, não deu retorno às ligações da reportagem.


Publicada a matéria, o empresário João Carlos Paes Mendonça, dono do Sistema JC de Comunicação, determinou a demissão sumária do jornalista Cícero Belmar. A justificativa da demissão foi de que ele não devia ter sido publicado, pois isso estremecera a relação de ‘amizade’ entre o dono do JC e o dono da Folha de Pernambuco.


Durante esse processo, os três maiores jornais pernambucanos violaram a liberdade de imprensa e quebraram pelo menos quatro itens dos dez que formam o código de ética da própria ANJ (Associação Nacional dos Jornais).


O Jornal do Commercio, ao demitir o jornalista, não prezou pela própria independência e deixou que interesses de terceiros influíssem nas decisões internas do periódico.


A Folha de Pernambuco, de propriedade do próprio Eduardo Queiroz Monteiro, omitiu a informação divulgada pela agência de notícias, não por considerar o fato sem importância. Mas única e exclusivamente porque a matéria poderia prejudicar os negócios de seu dono.


Aparentemente alheio à seqüência de eventos, o Diário de Pernambuco também errou, ao se omitir durante o processo. O DP restringiu-se de divulgar a matéria para não prejudicar interesses do Grupo EQM.


Embora os jornais sejam empresas privadas, é fato que praticam um serviço público, que é a apuração e distribuição de informações. Para isso, o mínimo que se espera é o cumprimento e um código de ética por eles mesmos criados. Esperamos que essas violações sejam devidamente apuradas e que medidas sejam tomadas para que a população não seja mais uma vez prejudicada em nome dos abusos dessa ‘liberdade de empresa’ inconstitucional vigente no país.


Fórum Pernambucano de Comunicação


Sindicato dos Jornalistas de Pernambuco


Cris Brasil – Articulação Nacional pelo Direito à Comunicação


Centro de Cultura Luiz Freire


Centro Dom Hélder Câmara de Estudos e Ação Social – Cendhec


Ação em Rede pela Criança e o Adolescente


Intervozes – Coletivo Brasil de Comunicação Social


Movimento Nacional de Direitos Humanos


Associação Brasileira de Organizações Não Governamentais – Abong


Centro Nordestino de Animação Popular – Cenap


Centro Josué de Castro


ONG Novo Mundo


Observatório Negro


Grupo Gay de Pernambuco


Sinos


Comissão Pastoral da Terra


Dignitatis


Escola de Formação Quilombo dos Palmares – Equip


Gestos


Ventilador Cultural


Instituto Paulo Freire


Coletivo Mulher Vida


Graúna – Juventude, Arte e Desenvolvimento


Associação de Entidades na Zona da Mata


Oficina de Notícias


Grupo Origem


Gabinete de Assessoria Jurídica a Organizações Populares – Gajop


Movimento dos Trabalhadores Rurais sem Terra – MST


Serviço Ecumênico de Militância nas Prisões – Sempri


Agência de Notícias Esperança – Anote


Movimento Cearense pela Democratização da Comunicação – MCDC


Federação Nacional dos Jornalistas – Fenaj


Executiva Nacional dos Estudantes de Comunicação Social – Enecos


Núcleo Piratininga de Comunicação’




LÚCIO FLÁVIO CONDENADO
Abraji


‘Lúcio Flávio é condenado por danos morais no Pará’, copyright Abraji – Associação Brasileira De Jornalismo Investigativo (Www.Abraji.Org.Br), 29/06/05


‘No dia 24 de junho, o Tribunal de Justiça do Estado do Pará (norte do Brasil) condenou o jornalista Lúcio Flávio Pinto a pagar R$ 8 mil em indenização por danos morais, além de juros e honorários de advogados. A ação foi movida por Cecílio do Rego Almeida, cuja empresa foi acusada em reportagem publicada pelo jornalista em 2000, em seu ‘Jornal Pessoal’, de grilagem de terras.


A empresa de Almeida figura no ‘Livro Branco da Grilagem no Brasil’, editado em 2002 pelo Ministério do Desenvolvimento Agrário, como atuante em ações de apropriação indébita de terras públicas no país. ‘Uma das matérias publicadas no meu jornal quinzenal denunciou essa grilagem, confirmada por todas as instâncias do poder público, que movem ações para anular os registros e transcrições imobiliárias dessa falsa propriedade junto ao cartório de Altamira’, afirma Pinto.


Para o juiz Amílcar Guimarães, que decidiu contra o jornalista, o problema da reportagem está na forma como foi escrita uma das frases da reportagem, que descrevia Almeida como ‘o mais audacioso, esperto e articulado desses piratas fundiários’. Segundo o juiz, essa frase é ‘uma afirmação grosseira, sem qualquer conteúdo jornalístico e que nada de útil acrescentou à matéria publicada’. Lúcio Flávio vai recorrer em instâncias superiores.


O Sindicato dos Jornalistas do Estado do Pará emitiu comunicado esta semana contra a condenação. ‘A entidade considera a decisão judicial um atentado à liberdade de imprensa’, afirma a nota, acrescentando que a atitude desrespeita ‘o direito à informação e se caracteriza como uma agressão à democracia’.


Ações recomendadas:


Escrever ao Tribunal de Justiça do Pará condenando a decisão do juiz de multar o jornalista.


E-mail através do site: http://www.tj.pa.gov.br/portal/paginas/faleConosco.php
Milton Augusto de Brito Nobre


E-mail: des.milton.nobre@tj.pa.gov.br


Escrever ao Ministério Público do Estado pedindo que acompanhem de perto o andamento do pedido de revisão da sentença que será feito pelo jornalista.


E-mail através do site: http://www.mp.pa.gov.br/sitemp/linha-direta.php