Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Júri americano decidirá
processo de telepastores


Leia abaixo os textos de terça-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Terça-feira, 23 de janeiro de 2007


MÍDIA & RELIGIÃO
Vinícius Queiroz Galvão


Júri decide hoje se casal da Renascer será processado


‘Hoje, um júri popular decide se Estevam e Sonia Hernandes, líderes da Igreja Renascer em Cristo, são passíveis de processo criminal nos EUA. No Brasil, o procedimento equivale ao juiz aceitar a denúncia [acusação formal] oferecida pelo Ministério Público.


Amanhã o casal enfrenta a primeira audiência na Justiça norte-americana com a perspectiva de terem de cumprir pena nos Estados Unidos.


Se forem considerados culpados pelas acusações de contrabando de dinheiro e depoimento falso, não poderão ser extraditados para o Brasil.


O pedido da acusação, assinado pelo promotor Alexander Acosta, ao qual a Folha teve acesso, prevê a permanência do casal para cumprimento da pena em território norte-americano e posterior deportação.


Segundo Acosta, a medida é baseada na lei dos Estados Unidos e pode ser aplicada porque Estevam e Sonia têm status de residentes legais, com o chamado ‘green card’.


Os líderes da Renascer, se condenados, poderão pegar até cinco anos de detenção.


Eventual punição pode ser abrandada, por exemplo, se ficar comprovada a origem lícita dos US$ 56.467 que o casal não declarou à alfândega -em território norte-americano, declarou ter menos de US$ 10 mil.


O contrário também vale. Se a acusação apontar indícios de que o dinheiro teve origem em supostos crimes de evasão e de lavagem de dinheiro no Brasil, a juíza Andrea M. Simonton pode elevar a condenação.


A primeira audiência na Justiça, amanhã, deve durar cerca de cinco minutos. Nela, a juíza dirá as acusações e definirá um calendário para o andamento da ação. Será informada ainda do pedido de extradição e da prisão preventiva decretada pela Justiça brasileira.


Por terem menos de cinco anos de residência legal nos Estados Unidos, o casal, que está em liberdade condicional, deve perder o ‘green card’ ao fim da ação judicial. O intervalo é uma espécie de período probatório.


Desde que saíram da prisão, na semana passada, Estevam e Sonia carregam no tornozelo um chip monitorado pela polícia. Eles não podem deixar o condado e todos os dias, até as 17h, precisam voltar para a casa deles, em Boca Ratón, Flórida.


Extradição


O ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, assinou na última sexta-feira o pedido de extradição dos fundadores da Renascer.


No mesmo dia, o documento foi enviado ao Itamaraty, que ficou encarregado de enviá-lo à embaixada brasileira em Washington. Segundo a assessoria do Itamaraty, a embaixada já teria remetido o pedido ao Departamento de Estado norte-americano.


Do ponto de vista prático, entretanto, o pedido pode não ter utilidade. O crime de lavagem de dinheiro não consta entre os 32 delitos citados pelo Tratado de Extradição firmado pelo Brasil e pelos Estados Unidos e, portanto, o casal não poderia ser entregue à Justiça do Brasil.


O tratado foi assinado entre os dois países em 1962 e a lei de lavagem de dinheiro só foi promulgada em 1998.


Desde o início, esse foi o argumento utilizado pelo advogado Luiz Flávio D’Urso, que defende o casal Hernandes.


Para o advogado, não existe uma inclusão automática de uma nova lei no tratado. Qualquer mudança teria de ser acordada e formalizada entre países, diz.


A Justiça Estadual de São Paulo rejeitou essa tese.’


TV DIGITAL
Cláudia Dianni


Zona Franca não terá competição em TV digital


‘O governo decidiu manter o diferencial da Zona Franca de Manaus, ao incluir redução de impostos para estimular o desenvolvimento da TV digital no Brasil. O PAC (Programa de Aceleração do Crescimento) inclui redução tributária para equipamentos de transmissão da TV digital, mas os equipamentos de recepção (televisores e conversores), produtos que são fabricados em Manaus, vão ficar fora. Assim, não haverá competição para a Zona Franca.


O PATVD (Programa de Apoio ao Desenvolvimento Tecnológico da Indústria de Equipamentos para TV Digital) vai reduzir a zero as alíquotas do PIS, da Cofins, do IPI e da CIDE (Contribuição de Intervenção de Domínio Econômico) durante dez anos, ou seja, até 2017, período que foi estabelecido para que seja feita a transição do sistema de TV analógico para o sistema digital.


Terão direito ao benefício as empresas que fazem pesquisa e desenvolvimento na fabricação de equipamentos transmissores de sinais por radiofreqüência para televisão digital.


A escolha pelo padrão digital japonês se deu no ano passado, após uma acirrada disputa entre americanos, europeus e japoneses.


Isenção para todos


O governador de Minas Gerais, Aécio Neves, queria que os benefícios tributários da Zona Franca fossem estendidos a todo o país, para estimular investimentos no Estado, mas o líder do PSDB no Senado, Arthur Virgílio (AM), afirmou que, se os benefícios fossem equalizados, a região de Manaus perderia investimentos.


‘Os benefícios da Zona Franca de Manaus ficam como estão. As reduções serão apenas para empresas que adquirirem aparelhos de transmissão’, disse o ministro do Desenvolvimento, Indústria e Comércio, Luiz Fernando Furlan.


De acordo com presidente do BNDES (Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social), Demian Fiocca, uma linha de financiamento para a aquisição dos equipamentos de transmissão passa por um estudo, em fase avançada, mas ainda não existe uma data definida para ser divulgada.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Às dúzias


‘O site do ‘Financial Times’ foi cauteloso, sob o título ‘Lula oferece corte de impostos em plano para acelerar crescimento’, e destacou que ‘os números do pacote são maiores do que se esperava’.


Já o site do ‘Wall Street Journal’ acionou três correspondentes em Brasília e dois em São Paulo, para sete reportagens e um texto de avaliação, com elogios de Jorge Gerdau e ressalvas de operadores financeiros. Seu destaque foi para o meio trilhão de reais projetados como investimento, com atenção ainda à possível redução da meta de superávit, aos investimentos da Petrobras e às áreas mais beneficiadas, como logística e saneamento/habitação.


Nos sites financeiros daqui, o detalhamento foi ainda maior. O ‘Valor’ postou duas dúzias de notícias, a ‘Gazeta Mercantil’, mais de 50. Em destaque, elogios de entidades da indústria, como CNI ou Abinee, e restrições de outros setores, como agronegócio.


O SOCIAL


Os principais jornais europeus, sobretudo aqueles com pendores à esquerda, cobrem abundantemente o Fórum Social Mundial, no Quênia.


O francês ‘Le Monde’ destaca que é o primeiro na África e questiona a ausência de lideranças da esquerda francesa, inclusive José Bové, e também latino-americana.


O espanhol ‘El País’ vai pela mesma linha, cita Lula e outros, mas celebra o sul-africano Desmond Tutu, a queniana Wangari Maathai e o grande afluxo. No título de ontem, ‘Fórum transborda a capacidade hoteleira de Nairóbi’.


E O ECONÔMICO


Os britânicos ‘Observer’ e ‘Guardian’ têm cobertura mais substantiva, como na denúncia da fuga de capitais dos países africanos que é realizada pelos bancos ocidentais.


Nos EUA, o ‘Washington Post’ deu uma pequena nota anteontem, com a crítica de Tutu e Maathai aos governos africanos, que pouco investem em saúde e aprofundam o quadro de calamidade. E só.


Já o ‘New York Times’, bastião liberal dos EUA, nada registra há meses, antes se voltando aos preparativos do Fórum Econômico Mundial, que abre amanhã na Suíça.


ONDE ESTÁ LARRY?


O correspondente do ‘NYT’, Larry Rohter, atravessa o verão com reportagens da Amazônia. Só nas últimas três semanas, escreveu sobre a exploração de diamantes no rio Roosevelt e os efeitos para os índios cinta-larga; sobre ‘a tentativa de Lula de criar a primeira política coerente e efetiva’ do país contra o desmatamento; e agora sobre ‘o primeiro gasoduto da Amazônia’ (acima), da Petrobras, elogiada pelo Greenpeace. Larry Rohter não é mais aquele.


AOS BLOGS


Deu na Reuters, com reprodução nos sites dos jornais dos EUA. Segundo a Nielsen, o Ibope de lá, o número de leitores ou ‘visitantes únicos’ dos blogs dos dez principais jornais, ‘NYT’, ‘USA Today’ e ‘Washington Post’ à frente, atingiu 3,8 milhões em dezembro último, contra 1,2 milhão em dezembro de 2005.


E os blogs já respondem por 13% dos visitantes dos sites -contra 4%, um ano antes.


COMPETIÇÃO, AFINAL


Apesar dos esforços do ministro das Comunicações e de outros, a espanhola Telefônica/TVA surgiu nos intervalos de domingo na televisão, como notou o blog Blue Bus, e anunciou seu ‘combo’ de TV a cabo e acesso à internet em São Paulo, por R$ 69.90.


Ainda não é o ‘jogo triplo’ e ‘agressivo’ da mexicana Telmex/Net, dizia a TVA, ontem no site Teletime, mas o site já anuncia como ‘competição’.’


TELEVISÃO
Laura Mattos


Em queda desde caso PCC, Gugu tenta subir ibope com jornalismo


‘Desde 2003, quando exibiu uma falsa entrevista com a facção criminosa PCC, o ‘Domingo Legal’ (SBT) perdeu um terço de seus telespectadores.


A encenação na qual encapuzados faziam ameaças a autoridades e apresentadores, exibida em 7 de setembro, gerou a mais grave crise de credibilidade vivida por Gugu Liberato, além de processos judiciais, e marcou o início de uma acentuada queda de audiência.


Em 2003, o programa marcou 18 pontos de média no Ibope. O desempenho caiu para 15 em 2004, 14 em 2005 e 12 no ano passado. Isso significa que Gugu perdeu, em três anos, a sintonia de 330 mil domicílios só na Grande São Paulo.


O total de televisores ligados no horário aumentou cinco pontos no mesmo período, o que torna ainda pior o desempenho do SBT. As outras principais redes cresceram aos domingos à tarde nesses últimos anos. Na comparação entre 2003 e 2006, a Globo foi de 23 para 25; a Record, de 5 para 8; a Band dobrou, de 3 para 6, e a Rede TV! triplicou, subindo de 1 para 3 pontos (cada ponto corresponde a 55 mil domicílios na Grande São Paulo).


Mais cratera


Gugu voltou ao ar anteontem. Enquanto ele esteve de férias, o ‘Domingo Legal’ foi exibido gravado e chegou a ficar abaixo dos dez pontos. No primeiro programa ao vivo de 2007, o desempenho melhorou um pouco (12 pontos), sem superar o baixo patamar de 2006.


O apresentador voltará a investir em jornalismo para tentar alavancar a audiência. Anteontem, os picos no Ibope foram registrados com reportagens e plantões da cratera de São Paulo e de acidentes em metrôs de outros países.


Ele também levou ao ar uma entrevista com a mãe condenada por jogar a filha na lagoa da Pampulha, em Belo Horizonte, que havia sido feita há um ano, mas ainda estava ‘engavetada’.


Nesta semana, o apresentador está em Miami fazendo reportagens para o programa. Por essa razão, segundo sua assessoria, não pôde falar à Folha a respeito de sua queda no Ibope.’


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Novo programa da MTV mostra TPM e baladas


‘A MTV vai transformar em ‘reality show’ as férias de seis garotas. ‘As Quebradeiras’, que mostrará baladas, romances, brigas e crises de TPM, estréia 6 de fevereiro, às 23h30.


Selecionadas por produtores da MTV, as meninas passaram dez dias em uma casa alugada em Juqueí (litoral norte de SP), sob vigilância de câmeras.


Serão seis episódios, exibidos de terça a quinta. Todas são amigas de Camile (à esq. na foto ao lado) e têm entre 18 e 21 anos. Há variados perfis, como patricinha, roqueira e fã de micareta. Além de Camile, estão no ‘reality’ Vanessa (vestido laranja), Érica (biquíni), Larissa (língua para fora), Natália (à dir.) e Jaqueline, que fez a foto. Não é um jogo, portanto, não há prêmios.’


MERCADO EDITORIAL
Eduardo Simões


Auto-ajuda tem nova editora no país


‘O mercado de auto-ajuda brasileiro ganha oficialmente nesta semana um concorrente de peso. Numa joint venture com o grupo carioca Ediouro, chega ao país a Thomas Nelson, editora que vende cerca de 25 milhões de livros por ano nos Estados Unidos e cujo faturamento passou de R$ 530 milhões no último ano fiscal. Aqui, o investimento total é de R$ 3 milhões, e cinco dos 48 títulos que a casa pretende lançar no país em 2007 já estão nas livrarias brasileiras.


As maiores apostas são os livros ‘Você Faz a Diferença -0Como Sua Atitude Pode Revolucionar Sua Vida’, de John C. Maxwell, autor que já vendeu 12 milhões de exemplares no mundo, e ‘Derrubando Golias – Descubra como Superar os Maiores Obstáculos de Sua Vida’, de Max Lucado, que já publicou mais de cem livros e vendeu 50 milhões de cópias. A editora pretende trazer Maxwell e Lucado ao Brasil até o ano que vem.


Cristã


A Thomas Nelson surgiu em 1798, na Escócia, com um perfil ligado à religião protestante, e é considerada a maior editora de livros cristãos do mundo, com presença até na China.


Nos últimos 30 anos, nos EUA, a editora ampliou seu leque de títulos para o mercado de auto-ajuda e negócios. Hoje, a companhia publica mais de 600 novos títulos por ano.


No ano passado, a editora emplacou 20 de seus títulos na lista de mais vendidos do jornal americano ‘The New York Times’. Ela já é o sexto maior grupo editorial dos EUA.


‘No Brasil, vamos trabalhar com esse tipo de livro mais focado na auto-ajuda, mas com uma visão cristã de mundo’, adianta o editor Carlo Carrenho, ‘publisher’ da Thomas Nelson Brasil, que também terá a liberdade de publicar no país títulos de outras editoras estrangeiras.


Carrenho conta que haverá um forte investimento em marketing, mas não revela as tiragens iniciais dos primeiros cinco lançamentos. O editor diz ainda que não pretende apenas ‘replicar’ o catálogo da matriz americana, mas também buscar escritores brasileiros já consagrados e investir em novos autores, com foco nas áreas de negócios e desenvolvimento pessoal e profissional.


Além dos best-sellers de Maxwell e Lucado, Carrenho destaca a qualidade literária de ‘Fé em Deus e Pé na Tábua’, espécie de ‘road book’, com toque de espiritualidade, escrito por Donald Miller, de apenas 31 anos. E ‘A Dieta de Jesus e de Seus Discípulos’, uma dieta mediterrânea assinada pelo clínico-geral Don Colbert.’


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O Estado de S. Paulo


Terça-feira, 23 de janeiro de 2007


SEGUNDO MANDATO
Editorial


O novo espetáculo do crescimento


‘Discurso e foguetório não faltaram na apresentação, ontem, do pacote econômico prometido pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva como 1º ato do novo ‘espetáculo do crescimento’. Aberto o embrulho, no entanto, confirmou-se a previsão de um conteúdo medíocre, mal disfarçado pela mistura de investimentos do governo, de estatais e do setor privado – alguns prometidos, outros programados e alguns não mais que desejados. A decisão de inflar o pacote, para torná-lo mais vistoso e mais volumoso – papel aceita tudo -, já bastaria para deixar desconfiados até os otimistas. Mas o conjunto é ainda mais preocupante, porque traz marcas de velhas experiências custosas e malsucedidas.


No domingo, véspera do lançamento, o ex-ministro e deputado eleito Ciro Gomes anunciou à imprensa um programa de R$ 500 bilhões, formado por investimentos do Tesouro, de estatais e de empresas privadas. Ele saía de uma reunião com o presidente e vários ministros no Palácio da Alvorada. Desse total, mais de R$ 300 bilhões sairão do governo e de estatais e serão destinados principalmente ao setor energético. Excluídos os investimentos da Petrobrás – 40% desse total -, ninguém explica onde o governo irá buscar o resto.


No caso da Petrobrás, a novidade não é o valor, mas a sua inclusão no Programa de Aceleração do Crescimento (PAC). Afinal, muito antes a empresa havia divulgado seu plano de longo prazo, com investimentos volumosos no Brasil e no exterior, formulado antes da reeleição do presidente Lula.


No essencial, o pacote não é muito mais que uma compilação de velhos projetos acrescidos de alguns incentivos setoriais e de promessas de investimento. Saneamento, energia e transportes são as áreas definidas como prioritárias para os projetos do governo e das estatais. Estão previstos, além disso, estímulos (desonerações tributárias) para ampliação de capacidade produtiva do setor privado, mas com alcance restrito. Nesse aspecto, o PAC é um prolongamento da política de pequenas facilidades fiscais concedidas de modo mais ou menos arbitrário no primeiro mandato. Mais uma vez o governo do presidente Lula evitou as questões mais importantes e mais complexas. No primeiro mandato não houve nenhuma grande mudança institucional e estrutural – nada comparável à desindexação da economia, à reordenação das finanças estaduais e à aprovação da Lei de Responsabilidade Fiscal, alterações produzidas entre 1994 e 2000.


A reforma tributária, deixada para o governo eleito em 2002, não foi atacada, e o projeto em tramitação no Congresso é muito ruim, segundo especialistas. Mas o ministro da Fazenda limitou-se a anunciar, ontem, a intenção de abrir um debate com os governadores a respeito do assunto. Mantega mencionou, também, a formação de um fórum para discussão da Previdência – mais uma questão crucial jogada para a frente.


O ministro anunciou, além disso, a intenção de manter a meta de superávit fiscal equivalente a 4,25% do Produto Interno Bruto, mas não disse como vai compatibilizar esse objetivo com a elevação do investimento e com a concessão de bondades tributárias. Não há sinal de contenção do gasto corrente – já inflado pelas bondades salariais com reflexos na folha de pessoal e na Previdência.


‘É tempo’, disse o presidente Lula, ‘de acumularmos matéria-prima de sonho e de utopia.’ A conclamação seria mais sedutora se o governo mostrasse coragem para enfrentar as mudanças mais ambiciosas e mais complexas e revelasse, ao mesmo tempo, o realismo indispensável a qualquer bom planejamento. Da coragem não há sinal, e não se pode falar em realismo quando as projeções fiscais do ministro da Fazenda têm como pressuposto um crescimento econômico de 4,5% neste ano e de 5% nos três próximos. E se esse crescimento não se confirmar? A utopia do reformador é uma força propulsora da ação, não um substituto da aritmética e do realismo. No caso brasileiro, estão em falta os três ingredientes – a aritmética, o realismo e o reformador.


Em suma, ao que tudo indica estamos diante de mais um ‘daqueles programas que o governante anuncia, anuncia, anuncia e anuncia e termina o mandato e vocês não vêem’, que Lula – citado em editorial de ontem – dizia que não queria que fosse.’


TV PAGA
Graziella Valenti e Patrícia Cançado


Telefônica e TVA abrem guerra de preços de TV a cabo e internet


‘Começou de vez a guerra de preços de TV a cabo e internet no Brasil. Três meses depois da aquisição da TVA pela Telefônica, as duas empresas iniciaram ontem uma promoção agressiva que marca a primeira experiência comercial conjunta. A Net não apresentou um contra-ataque imediato, mas deve iniciar uma nova campanha de preços em fevereiro.


A aquisição da TVA ainda depende de aprovação da Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). Mas, segundo a diretora-superintendente da companhia, Leila Loria, iniciativas comerciais podem ser adotadas. ‘Todas as informações foram fornecidas à agência’, destacou ela.


O consumidor é quem mais ganhará com a disputa, que só está no começo. As ofertas da Telefônica foram feitas para competir com os últimos pacotes promocionais da Net, anunciados no começo do mês.


No pacote básico de ambas, os preços são idênticos. As características é que mudam de uma empresa para outra. A Telefônica vai cobrar R$ 69,90 pela combinação de Speedy de 256 kbps e TV paga – com 43 canais, incluindo 10 da HBO, e serviço digital. A NET oferece pelo mesmo valor sua TV paga com 29 canais e o Vírtua com velocidade de 200 Kbps, além do telefone Net via Embratel. Quem assina essa linha, faz ligações gratuitas para outro assinante Net e chamadas de longa distância pela Embratel a preço de ligação local.


As duas promoções são válidas por três meses. Depois, no caso da Telefônica, o valor sobe para R$ 89,90 e o total de canais HBO cai de dez para quatro. Na Embratel, o preço fora da promoção é R$ 99,90. Além disso, o consumidor passa a pagar a assinatura da linha telefônica, que é gratuita enquanto vale a promoção.


A competição tem pressionado os preços dos serviços de internet de banda larga. De janeiro de 2004 a junho de 2006, houve uma queda de 12% nos preços dos pacotes que oferecem entre 1 e 2 Mbps de velocidade. Na faixa entre 512 Kbps e 1 Mbps, o preço subiu apenas 1%.


Com a entrada da Telefônica na disputa, a guerra de preços tende a aumentar e causar até impactos negativos nos resultados financeiros das empresas .


A expectativa da TVA é elevar em até 80% a venda diária de serviços. A Telefônica, por sua vez, pretende alcançar a marca de 2 milhões de usuários no Speedy.


No ano passado, a ausência de um pacote combinado com banda larga já limitou o crescimento da TVA, segundo Leila Loria. A TVA fechou 2006 com 328 mil assinantes de TV paga e 62 mil, de banda larga.


CONVERGÊNCIA


A Embratel saiu na frente. Desde que ela começou a participar do controle da Net, a empresa de TV a cabo passou a crescer mais que a TVA. No primeiro trimestre de 2005, ela tinha 1,4 milhão de assinantes. No terceiro trimestre de 2006, esse número estava em 1,7 milhão. Na banda larga, o número de usuários saltou de 217 mil para 630 mil nesse mesmo período.


O objetivo da Telefônica é buscar a comodidade do usuário, explicou a executiva, diante da tendência de convergência. Na Grande São Paulo, região da campanha, apenas 30% da rede da TVA está apta a oferecer banda larga.


Leila Loria acredita que, mesmo sem incluir o serviço de voz, a oferta combinada com a Telefônica é competitiva diante do pacote da Net, que oferece o telefone da marca, em parceria com a Embratel. Na opinião da executiva, a principal procura do consumidor é de banda larga e TV.


Para a operação da TVA no Rio de Janeiro, porém, diante da ausência da rede da Telefônica, a companhia negocia outras parcerias. Até o final deste mês, a idéia é concluir um acordo com a operadora de celulares Vivo para oferecer pacotes.’


TELEVISÃO
Tonica Chagas


Mudanças na Globo


‘Correspondentes têm novas moradias


O diretor-executivo da Globo Internacional em Nova York, Amauri Soares, e sua mulher, a repórter Patrícia Poeta, estão fechando as malas para voltar ao Brasil. Os dois ganham novos cargos a partir de fevereiro. Patrícia vai ter um quadro no Fantástico abordando as diferenças entre os sexos, além de fazer outras reportagens para o programa. Amauri assumirá a área de projetos nacionais e internacionais de entretenimento da Globo.


Nessa posição, ele vai continuar fazendo ponte aérea com os EUA e também vai correr o mundo a fim de imprimir a marca da emissora em eventos como o Brazilian Day, que produz em Nova York em parceria com o jornal local The Brasilians.


Mas essa não é a única movimentação na Globo. O repórter esportivo Pedro Bassan será correspondente na China – já de olho nas Olimpíadas de Pequim. Sônia Bridi sai da China e vai a Paris; Ari Peixoto embarca para Buenos Aires. Dois correspondentes já trocaram de posto: Marcos Losekann, de Israel, foi a Londres, e Alberto Gaspar, ex-Buenos Aires, está em Israel.


Warner estréia série Men in Trees


O Warner Channel traz para o público brasileiro a série Men in Trees, com a atriz Anne Heche – famosa por seu namoro com a comediante Ellen Degeneres. A atração de Jenny Bicks, uma das roteiristas e produtoras de Sex and the City, fala sobre encontrar romance nos lugares mais inusitados. O drama estréia amanhã, às 22 horas. O canal trará ainda este ano a série Studio 60 on the Sunset Strip, com o ex-Friends Matthew Perry (Chandler) e com a atriz Amanda Peet. O Warner ainda não tem data definida para a estréia, que deve ser em julho.


entre-linhas


O programa Tudo É Possível, de Eliana, conquistou sua melhor audiência desde a estréia em agosto de 2005. Anteontem, das 14h16 às 17h42, a atração da Record obteve 12 pontos de média. No horário, o SBT registrou 10 pontos e a Globo, 19.


A Band também comemora a audiência de domingo. A exibição do futebol inglês, às 14 horas, teve média de 4,7 pontos. A partida do Corinthians, pelo Paulista, às 16 horas, rendeu 5,1 pontos. Já o jogo do Sul-Americano Sub-20, às 20h50, conquistou 6,8 pontos. Com a estréia da transmissão do Paulista, quarta, a Band teve 4 pontos de média.’


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O Globo


Terça-feira, 23 de janeiro de 2007


JORNALISMO & IDEOLOGIA
Ali Kamel


O jornalismo


‘O ano que passou foi especialmente indutor de uma discussão que precisa ser enfrentada: o jornalismo é um campo de batalha de ideologias ou é uma forma de conhecimento da realidade? Já com alguma distância das eleições, que acirraram esse debate, a discussão pode ser travada com menos paixão.


No calor daqueles dias, pairou a idéia de que só existe jornalismo de tendências, uma imprensa de direita e uma imprensa de esquerda, uma tentando mais do que a outra impor as suas idéias. Não estavam em questão apenas os editoriais, mas o fazer jornalístico propriamente dito: a produção de notícias. O jornalismo estaria condenado a ser um campo de batalha de ideologias, estaria a reboque delas ou, pior, a serviço delas. Os jornais (impressos, digitais, radiofônicos ou televisivos) seriam feitos de acordo com os valores de seus donos e dos jornalistas que para eles trabalham. Para provar o que seria o óbvio, os partidários dessa tese lançavam mão de postulados filosóficos como se fossem platitudes: a verdade é inalcançável, isenção é uma utopia, não existe objetividade total. Assim, os jornais seriam feitos segundo as suas verdades e de acordo com os interesses de seu grupo. Os fatos seriam escolhidos, não por critérios de relevância mais ou menos reconhecidos por qualquer bom profissional, mas conforme os valores de quem escolhe. E ganhariam pouco ou grande destaque, seriam narrados e analisados dessa ou daquela maneira, segundo aqueles mesmos valores. Como quem pensa assim não se permite dizer ‘e o público que se dane’, o remédio sugerido por eles seria de uma simplicidade atroz: basta que o público conheça claramente a posição de cada jornal para que escolha aquele que melhor representa sua verdade.


Ocorre que, se fosse assim, não existiria jornalismo, mas apenas publicidade. O objetivo dos jornais seria a cotidiana busca de adeptos de uma determinada visão do mundo. Fariam, então, propaganda; propaganda política, mas propaganda.


E os jornais estariam mortos ou definhando. A sociedade não teria como se mexer, como andar: se não há verdade, se só há um relato de esquerda e outro de direita, como falar em fatos? Viveríamos numa sociedade sem referencial, num mundo de versões.


Nada disso. O jornalismo é uma forma de conhecimento, de apreensão da realidade, segundo um método próprio que, se seguido corretamente (e não são muitos os veículos que se esforçam por segui-lo), leva ao relato e à análise dos fatos com fidelidade. Muitos pensadores brasileiros pensam assim, mas, aqui, não quero citá-los, porque, embora concordemos com esse postulado geral, a partir dele os caminhos são bem diversos (e, assim, não quero correr o risco de que o leitor pense que me apóio na autoridade deles para corroborar o que aqui escrevo).


Diante de uma miríade de acontecimentos, os jornalistas são treinados para discernir que fatos têm relevância e narrá-los e analisá-los de maneira lógica e isenta. Isso implica acolher na análise os diversos pontos de vista, pois a pluralidade é regra geral em tudo o que se faz em jornalismo, inclusive nas páginas de artigos, que devem espelhar as tendências da sociedade. Opinião própria, apenas nos editoriais e sem repercussão no noticiário. Pode haver, portanto, jornais de esquerda e de direita, mas no que se refere a suas opiniões expressas em editoriais, jamais contaminando o noticiário, em nenhuma hipótese influenciando o que deve ou não ser noticiado. Como toda obra humana, o jornalismo está também sujeito ao erro, e erra em quantidade. A regra é a transparência: reconhecer o erro e corrigi-lo.


A prova dos nove de que isso é possível é a comparação entre jornais diferentes. Se compararmos o ‘Los Angeles Times’, o ‘Washington Post’ e o ‘New York Times’, que têm linhas editoriais muito distintas, notaremos com facilidade que é muito parecida a cesta de assuntos oferecida aos leitores. Se excluirmos os assuntos locais, a mesma comparação pode ser feita entre os três americanos e o ‘El País’, da Espanha, o ‘La Repubblica’, da Itália, e o ‘Daily Telegraph’, do Reino Unido: a coincidência também será grande. No Brasil, o leitor pode verificar que ‘Folha de S.Paulo’, ‘Estado de S. Paulo’ e O GLOBO, jornais com poucas afinidades e concorrentes ferozes, destacam sempre mais ou menos os mesmos assuntos. Não é falta de criatividade: é que os jornalistas que neles trabalham, profissionais treinados, sabem reconhecer num enxame de fatos o que é relevante e o que não é.


Mesmo o chamado jornalismo de opinião, em que o jornal ou a revista noticia os fatos, opinando todo o tempo sobre eles, se bem-feito, não se confunde com o que chamei de publicidade. Porque, neste caso, os veículos devem procurar ser isentos e plurais no relato e análise dos acontecimentos, mesmo que ofereçam ao leitor, ao lado da informação, o seu próprio ponto de vista.


Sim, se nem a ciência consegue alcançar a verdade e a objetividade total, como o jornalismo faria essa mágica? Não faz. Como a ciência, o jornalismo é uma aproximação da realidade, mas a melhor que se pode obter naquele instante com o instrumental disponível. É certo que um episódio – o apagão aéreo, por exemplo – daqui a 50 anos vai ser contado e analisado por historiadores com acesso a um material que os jornalistas não conhecem hoje: documentos secretos, atas de reuniões, depoimento dos envolvidos dado muito tempo depois. Daí emergirá um relato mais acurado do que o que os jornais conseguem fazer hoje. Mas os próprios jornais serão usados como fonte da História porque eles conseguem o que historiador algum será capaz de fazer sem eles: capturar o sentimento de uma época. A manchete ‘gritada’ sobre o apagão é ela própria, em sua forma, uma informação: dá conta da perplexidade que a sociedade vive naquele instante. A diagramação do jornal, a hierarquização das notícias, as fotos, são todos eles recursos que informam. Que ajudam a conhecer a realidade. E são próprios apenas ao jornalismo.


Como obter o máximo de objetividade e isenção em jornalismo é o que pretendo discutir no meu próximo artigo. ALI KAMEL é jornalista.


E-mail: ali.kamel@oglobo.com.br.’


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