Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Laura Mattos

‘Por anos e anos as crianças quiseram ‘mandar um beijo pra minha mãe, pro meu pai e pra você’. Duas décadas após o surgimento de Xuxa -’rainha’ de uma leva de seguidoras loiras-, o público infantil demonstra dar ‘beijinho, beijinho, tchau, tchau’ para a já antiga fórmula apresentadora/auditório/desenhos animados.

Emissoras já admitem um esgotamento da chamada ‘era das loiras’ e quebram a cabeça para tentar descobrir o que poderia substitui-las com o mesmo prestígio e audiência dos áureos tempos.

‘Xuxa no Mundo da Imaginação’, da Globo, perde freqüentemente no Ibope para os desenhos do SBT, que no ano passado pôs fim à seqüência de loirinhas com a saída de Jackeline Petkovic.

Eliana, depois de quase 15 anos à frente de vários programas de sucesso, despede-se dos infantis no próximo 12 de outubro, Dia das Crianças. Em seu lugar, a Record coloca um programa de fofocas com Sonia Abrão e, para os pequenos, reserva apenas as manhãs de sábado e domingo -só com desenhos, sem loiras.

Angélica, grávida, continuará no ‘Vídeo Show’ e não tem planos de voltar a pular para a criançada, o que deixou de fazer em 2001, 18 anos após estrear como substituta de Xuxa na Manchete.

Outras loiras desapareceram da TV, e o que é mais significativo: diferentemente do que ocorreu ao longo de 20 anos, nenhum canal está à caça de novas caras bonitinhas. Enquanto não entendem por que os ‘baixinhos’ se cansaram desses programas, o que gostariam de ver na TV e como atrair os anunciantes desse público, emissoras abertas mergulham num vazio da programação infantil: há pouca inovação e raramente algo consegue despertar o interesse da massa de pequenos telespectadores.

Prova disso é o fato de os infantis quase nunca atingirem dois dígitos no Ibope, o que ocorria no auge do império das loiras, e de as dez maiores audiências da faixa de quatro a 11 anos serem de programas adultos.

Na semana passada, também chamou a atenção de anunciantes e TVs a entrega do Prêmio MídiaQ, da ONG Midiativa, no qual crianças, pais e especialistas escolhem infantis de qualidade. Dos quatro aos sete anos, o vencedor foi ‘Castelo Rá-Tim-Bum’, que sobrevive de reprises na Cultura há quase dez anos. Dos oito aos 11, não houve ganhador. ‘A TV aberta está em dívida com a criança. Precisa achar um rumo e produzir mais’, diz Beth Carmona, presidente da TVE do Rio e da Midiativa e ex-diretora de programação da TV Cultura de São Paulo.

Para ela, felizmente o formato das loiras já se esgotou. ‘O sucesso desses produtos se dava muito em razão dos desenhos. Houve um tempo em que a âncora era necessária para alavancar os enlatados, mas as emissoras perceberam que o desenho poderia ser exibido sozinho, que é mais barato assim. O sucesso da animação é um fenômeno mundial’, afirma.

Na opinião de Carmona, o primeiro sinal de que a fórmula das loiras não seria eterna foi o sucesso de audiência do ‘Castelo’, que, no início dos anos 90, chegou a preocupar as TV comerciais. ‘Isso veio mostrar que as loiras não eram tudo. A TV pública serve muitas vezes para chacoalhar as comerciais. O ‘Sítio do Picapau Amarelo’, por exemplo, foi retomado na Globo, e isso é saudável. Mas é preciso fazer mais’, diz.

Ela admite que a crise financeira das TVs públicas colaboraram para um vácuo nos infantis. ‘Isso deverá mudar a partir do próximo ano, com a retomada de produção na TVE e na Cultura.’

Na opinião de Rita Okamura, diretora de programação da Cultura, as comerciais estão num ‘momento de estagnação’ em relação à programação infantil. ‘A fórmula loiras se desgastou. Tudo se esgota, até a baixaria. Hoje, há mais conscientização do telespectador e do anunciante. A procura passa a ser por qualidade.’

Mentora da ‘rainha dos baixinhos’, Marlene Mattos poderá, contudo, dar sobrevida ao estilo Xuxa. No comando artístico da Band, ela diz que não crê no fim da fórmula, apesar de achar que ‘é preciso experimentar mais formatos’. Sua aposta para a programação infantil é a loira Kelly Key. Atual âncora de desenhos, poderá comandar um auditório em 2005. Resta saber se a criançada ainda engole o ‘baba, baby, baba’.’

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‘Disputa envolve game, internet e TV paga’, copyright Folha de S. Paulo, 26/09/04

‘Em 1983, quando a então modelo Xuxa Meneghel estreou como apresentadora do ‘Clube da Criança’, na TV Manchete, a única preocupação das emissoras eram os canais concorrentes.

A Globo corria atrás da descoberta da Manchete, que era assediada pelo SBT, que tentava contratar a nova carinha da Record. E a programação infantil se resumia à compra de desenhos enlatados e a um vaivém de loirinhas e de seus cachês cada vez mais gordos.

Do tempo em que o Atari chegava ao Brasil até hoje, a fórmula para conquistar a audiência infantil tornou-se bem mais complexa. Para especialistas, a televisão aberta passou a disputar a atenção dos baixinhos e dos anunciantes com internet, canais pagos e a enxurrada de games.

‘Houve uma época em que as manhãs das TVs eram basicamente preenchidas por programas de auditório com loiras. A chegada da TV paga e de outras mídias ajudou a mudar esse panorama. A criança de hoje não é mais a mesma que ficava somente exposta à TV aberta. E esse novo cardápio de mídias pulverizou os anunciantes’, diz Dora Câmara, diretora do Ibope Mídia.

Na Band, Marlene Mattos demonstra estar de olho na mudança de comportamento da nova geração. ‘Tenho muita preocupação com as crianças que já nascem e são apresentadas ao computador, à internet. Elas são bombardeadas por um excesso de informação que é nocivo’, diz.

Luís Erlanger, diretor da Central Globo de Comunicação, afirma que a programação infantil da emissora tem de se modernizar constantemente. ‘Esse público passa por freqüentes mudanças e sofre diferentes influências.’

A Record não fala oficialmente sobre o assunto, mas a concorrência com outras mídias foi um fator decisivo para acabar com o programa de Eliana e restringir a oferta de infantis a desenhos nas manhãs de sábado e domingo.

O faturamento de merchandising da apresentadora é alto, mas a parte repassada à emissora, nem tanto. As loiras faturam por conta própria, com produtos que levam seus nomes, e cobram salários cada vez mais altos. Conseqüentemente, tornam-se negócios não tão atrativos para os canais.

Diante disso, fica cada vez mais difícil fechar a conta da produção dos programas, já que grandes anunciantes de produtos infantis passaram a dividir a verba com outros meios de comunicação.

Na direção da Record, a avaliação é que, apesar de a massa de audiência não ter migrado para os canais pagos, eles têm ‘roubado’ importantes anunciantes da TV aberta. É a minoria dos baixinhos que assiste à TV paga, mas é justamente a fatia dos filhos de quem mais pode comprar brinquedo.

Além disso, a publicidade começa a demonstrar preocupação com a qualidade dos programas de TV. Assim como tem fugido do jornalismo ‘mundo cão’, tornou-se mais seletiva com a programação infantil. Na semana passada, Orlando Lopes, presidente da Associação Brasileira de Anunciantes, em discurso no MaxiMidia, falou sobre a responsabilidade social de investir em bons infantis. ‘Abaixo o custo por mil’, disse, em referência à expressão publicitária que considera o preço do anúncio em relação à quantidade de telespectador que vê o programa. Segundo ele, mais do que se preocupar com números, quem vende produto infantil deve procurar qualidade na televisão.

Desenhos

Os desenhos animados-mesmo os mais antigos- continuam em alta.

O sucesso de audiência dos exibidos nas manhãs do SBT, que, sem âncora loira ou morena, bate até o ibope de Xuxa, ajudou a Record a concluir que não valia mais a pena bancar o infantil de Eliana.

Para Beth Carmona, presidente da TVE do Rio e da ONG Midiativa, as novas animações são mais estimulantes para as crianças acostumadas a games e internet do que às gracinhas das loiras.

‘Se, por um lado, há crítica a desenhos japoneses, por outro sabe-se que eles têm uma linguagem não linear que trabalha muito o raciocínio e a curiosidade das crianças. Utilizam a fragmentação de idéias e exigem que o telespectador faça associações.’

Apesar do sucesso fenomenal da nova safra de desenhos, Carmona acredita que ainda haja espaço para a teledramaturgia infantil, vide o sucesso da regravação do ‘Sítio do Picapau Amarelo’, na Globo. ‘Apesar do ritmo dos videogames, acreditamos na possibilidade de retomar o bom contador de histórias, de lendas’, afirma ela, que prepara na TVE o lançamento de ‘Menino Maluquinho’ para 2005, entre outros produtos de teledramaturgia.

De gente grande

Sintoma ou não da falta de criatividade na programação infantil, as atrações mais assistidas por crianças de quatro a 11 anos, de acordo com o Ibope, são dirigidas a adultos, como o ‘Jornal Nacional’, as novelas e os humorísticos da Globo.

Numa lista dos 30 programas mais vistos por essa faixa etária em agosto, fornecida à Folha pelo instituto, apenas três são realmente dirigidos a crianças: ‘Criança Esperança’, da Globo (11º lugar), ‘Os Flinstones’ (21º) e ‘Festolândia’ (29º), do SBT.

Dora Câmara afirma que o resultado está atrelado ao fato de os pais mandarem no controle remoto durante o horário nobre.’



Leila Reis

‘Infantis retrocedem para avançar’, copyright O Estado de S. Paulo, 26/09/04

‘De férias de seu mundo da imaginação, Xuxa tem sido vítima de vaticínios acerca de sua continuação na Globo por causa de audiência. Dentro de duas semanas Eliana abandona definitivamente o barco do público infanto-juvenil na Record para tentar carreira no mundo dos adultos. Esses dois fatos isolados levam os mais apressados a concluir que depois de duas décadas chega ao fim o reinado das loiras alegres do planeta das crianças.

O fato é que as crianças mudaram, a TV mudou. Em recente entrevista ao Estado, o ator Lima Duarte apontou o aspecto cíclico do veículo citando os programas infantis que ‘deixaram de só se preocupar em vender e hoje contam histórias’. Ele tem razão. Xuxa no Mundo da Imaginação é um lugar onde também histórias são contadas. Da mesma maneira que o Sítio do Picapau Amarelo, criado na gênese da TV brasileira e ressuscitado pela segunda vez na Globo.

E vai longe o tempo do boom dos programas de disputas entre equipes (cujos prêmios eram produtos do patrocinador), apresentação de cantores de gravadoras que pagavam a conta, dos palcos repletos de palhaços, anões, malabaristas, trupes de dançarinos, jardins de plástico e naves espaciais.

Houve uma época em que apresentadoras loiras eram emolduradas por esses cenários em quase todos os canais.

Como as crianças eram mais obedientes, permaneciam dentro dos limites que o mercado lhes apresentava inflando o ibope. A hipótese é que, mais provido de atitude, esse público assume hoje para si programas feitos para adultos, redistribuindo a audiência. Significa que os ‘infantis’ não são mais itens únicos do cardápio dessa nova criança.

Isso pode explicar a queda da audiência de Xuxa e de seus companheiros de programação, Sítio do Picapau Amarelo e TV Globinho. Mas a verdade é que o programa ganhou qualidade. O estímulo ao consumismo infantil foi trocado por uma preocupação quase pedagógica, com historinhas, noções de alfabetização, de higiene e mensagens construtivas.

O ‘retrocesso’ a um ambiente menos feérico e mais bem provido de conteúdo só foi possível por causa de experiências bem-sucedidas. Ao alcançar – há mais ou menos uma década – audiências respeitáveis no horário nobre com Castelo Rá-Tim-Bum, Mundo da Lua, Conto de Fadas, etc., a Cultura abriu uma brecha para a preocupação mais politicamente correta. Apontou o caminho para as emissoras comerciais. Até os programas mais tradicionais passaram a preocupar-se em ser construtivos (lembra a música dos dedinhos da Eliana?).

O mundo da imaginação de Xuxa ainda não é modelo, mas é incomparavelmente mais cidadão do que aquele inventado por Marlene Mattos, povoado por paquitas e paquitos, que ainda não desistiu de produzir para crianças.

Na Bandeirantes, Marlene está preparando a cantora Kelly Key – que apresenta desenhos japoneses – para comandar um programa assim que o filho nascer.

Como as coisas mudaram, dizem que a poderosa diretora está pesquisando muito para entender melhor o universo infantil.

A Rede TV! parece ter percebido a tendência e se prepara para estrear no mês que vem no segmento infantil com Vila Maluca, um seriado com elenco nacional e escrito por autores que passaram pelos programas da Cultura.

É um alívio perceber que não há preconceito no reino da TV onde, segundo Chacrinha, nada se cria, tudo se copia. Ou seja, chega uma hora em que as coisas legais começam a transbordar para a concorrência.’

 



ESCRAVA ISAURA
Carol Knoploch

‘Isaura: ‘Que venham as comparações’’, copyright O Estado de S. Paulo, 25/09/04

‘A partir do dia 18, Bianca Rinaldi estará em evidência como nunca esteve. A atriz, que já fez Malhação, na Globo, e dois papéis simultâneos no SBT, será a protagonista de Escrava Isaura, nova novela da Record. A ex-paquita de Xuxa conta nesta entrevista que está pronta para as comparações com Lucélia Santos, a Isaura da Globo, em 1976. Até porque, Bianca será cópia de Lucélia: segundo o caracterizador e coordenador de maquiagem da novela, Claudinei Hidalgo, a orientação da direção foi a de imitar o figurino, maquiagem e o cabelo da versão original.

‘É para a identificação imediata’, justifica Claudinei. O enredo e o destino de alguns personagens serão modificados, de acordo com Herval Rossano, que comandou a primeira versão e é o diretor da atual.

Estado – Como recebeu a notícia de Herval Rossano de que faria a Isaura?

Bianca Rinaldi – Na hora não acreditei. A ficha não caiu. Fiquei parada, em estado de choque. Recebi um chamado para vir à Record e não sabia de novela nenhuma e muito menos que o Herval estava por aqui. Tinha escutado que a Adriane Galisteu iria sair da emissora e que a Eliana poderia ocupar o lugar dela. Pensei que era um convite para um infantil.

Estado – Ele disse que você nem fez teste…

Bianca – É verdade. Me perguntou o que eu estava fazendo. Eu tinha acabado de falar com o Jayme Monjardim sobre América (próxima novela das 9 na Globo). O Herval fez a proposta. Disse que me queria para o papel, para eu ‘não sorrir mais de boca aberta e para não pegar muito sol; agora você acerta as questões financeiras e muito obrigado’. (risos) Estado – Quando caiu a ficha?

Bianca – Quando acertei o contrato. Ou no dia de testes de figurino. Tive vontade de chorar…

Estado – Por quê?

Bianca – É muita responsabilidade. A história é forte, a primeira versão foi sucesso no mundo inteiro e lerê-lerê… Eu falo lerê-lerê quando trabalho muito, está na boca do povo quando há referências à exploração… Me emocionei muito quando estava caracterizada e vi a Isaura no espelho.

Estado – Qual a expectativa para a estréia?

Bianca – Colegas de outras emissoras e de teatro já comentam sobre a curiosidade em relação a este trabalho. Imagine a gente. Mas estou tranqüila.

Estado – Você viu algo da ‘Escrava Isaura’ da Globo?

Bianca – Não. E nem depois de escalada. Não queria me influenciar. Mas depois quero ver.

Estado – Está preparada para as comparações com a Lucélia Santos?

Bianca – O povo adora comparar e criticar, não é? Mas não tenho a obrigação de fazer a Isaura igual à da Lucélia. Ela fez muito bem e se tivesse de fazer igual, seria uma honra. Mas esta é uma nova versão. O que me tranqüiliza é que eu fui a escolhida para o papel e pronto. Estou confiante.

Que venham as comparações!

Estado – Há dificuldade com o figurino? Você usa aplique, lente de contato…

Bianca – No começo, achei difícil andar com a saia, que é pesada. Mas me surpreendi com a adaptação à lente de contato, que foi feita para mim.

Estado – Está gostando do visual morena?

Bianca – Todos dizem que fiquei mais bonita.’



SONY COMPRA MGM
O Estado de S. Paulo

‘Consórcio liderado pela Sony compra a MGM’, copyright O Estado de S. Paulo, 24/09/04

‘Um consórcio liderado pela Sony dos Estados Unidos e do qual participa a empresa de TV a cabo americana Comcast informou ontem que assinou um contrato de compra dos estúdios Metro-Goldwyn-Mayer (MGM), pagando US$ 12 por ação, o equivalente a US$ 2,94 bilhões em dinheiro. O grupo também assumirá dívidas de de aproximadamente US$ 2 bilhões. Com isso, o negócio foi avaliado em cerca de US$ 5 bilhões.

A compra da MGM é uma importante vitória do consórcio liderado pela Sony, que parecia ter menos possibilidades que sua rival Time Warner. A Sony iniciou negociações com a MGM em abril, e a Time Warner entrou depois na disputa.

Em comunicado, o consórcio disse também que após a conclusão da operação, prevista para meados de 2005, os estúdios MGM continuarão a funcionar com o nome de Metro-Goldwyn-Mayer como empresa de capital fechado, com sede em Los Angeles. E a Sony Pictures deverá distribuir os filmes e programas de televisão da MGM, que detém um acervo de mais de 4 mil unidades.

O consórcio conta ainda com a Providence Equity Partners, com investimento de US$ 525 milhões, a Texas Pacific Group (US$ 350 milhões) e a DLJ Merchant Banking Partners (US$ 125 milhões). A Sony e a Comcast investem cada uma US$ 300 milhões. (Agências internacionais)’