Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Laura Mattos

‘‘É competição mesmo, e nós vamos para cima.’ É o que diz Fernando Mitre, diretor de jornalismo da Bandeirantes, sobre o fato de o ‘SBT Brasil’, com Ana Paula Padrão, estrear amanhã no mesmo horário do ‘Jornal da Band’, com Carlos Nascimento.

Padrão -18 anos de Globo- entrará no ar amanhã com o telejornal que promete dar um rumo à bagunçada história do jornalismo no SBT. O seu ‘boa noite’ virá às 19h15, só cinco minutos antes de o ex-colega de emissora Carlos Nascimento -global por 27 anos- iniciar o ‘Jornal da Band’.

Padrão diz que lamenta a coincidência. ‘Acho o Carlos Nascimento um dos melhores apresentadores do país. Seria bom que o telespectador pudesse assistir ao jornal dele e ao meu’, afirma.

Até a semana passada, o noticiário de Nascimento ‘reinava’ sozinho nesse horário nos canais abertos. O SBT optou por colocar Padrão para concorrer com ele e ‘fugir’ de ‘Jornal Nacional’ e ‘Jornal da Record’ (apresentado por Boris Casoy), transmitidos mais tarde, a partir das 20h15.

Ao saber do horário de exibição do ‘SBT Brasil’, a Band se apressou em preparar novidades para seu telejornal (veja quadro nesta página). Até a última quinta-feira (conclusão desta edição), profissionais corriam a fim de tentar concluir um novo cenário a tempo de colocá-lo no ar amanhã, dando ‘boas-vindas’ a Padrão.

Além disso, ampliou o quadro de correspondentes, antes resumido a um repórter em Madri. Fechou acordo para utilizar três jornalistas da BBC Brasil (Londres, Washington e Oriente Médio) e contratou um em Nova York. O ‘SBT Brasil’ entra no ar com quatro (Oriente Médio, Milão, Londres e Nova York).

Em São Paulo, a equipe do ‘Jornal da Band’ é de cem profissionais, segundo Nascimento, contra 60 do ‘SBT Brasil’. Padrão, no entanto, pretende ampliar o staff.

Além de ter de enfrentar todo o investimento de Silvio Santos, a Band terá de encarar uma difícil disputa por audiência, já que o horário do ‘SBT Brasil’ -ocupado até sexta-feira pelo ‘Programa do Ratinho’- marca dez pontos de pontos de média no Ibope. Já é o dobro da melhor média registrada pelo ‘Jornal da Band’ (cada ponto equivale a 52,3 mil domicílios na Grande São Paulo).

‘Eles estão montando uma estrutura grande, e a Ana Paula é uma profissional muito competente. Mas nós não estamos a pé. A Band tem história de credibilidade em jornalismo, equipe forte e conta com uma rede de afiliadas’, afirma Nascimento à Folha.

Mitre diz que o ‘SBT Brasil’ e o ‘Jornal da Band’ disputarão, principalmente, a melhor cobertura dos fatos do dia. Para se diferenciar do concorrente, afirma o diretor, a Bandeirantes irá investir em reportagens especiais.

Além do passado global comum -dividiam a bancada do ‘JN’ aos sábados e comandaram juntos a cobertura do 11 de Setembro-, outra coincidência nas carreiras de Nascimento e Padrão: neste ano, dividiram o Troféu Imprensa de melhor telejornal. Ele com o ‘Jornal da Band’, ela, com o ‘Jornal da Globo’.’



TV / CANAIS ALTERNATIVOS
Fernanda Dannemann

‘Canais ‘diferentes’ têm espectadores fiéis’, copyright Folha de S. Paulo, 14/08/05

‘Gente que é viciada em programa que vende tapetes, jóias e artigos de couro, que assiste à Bloomberg para acompanhar cotações do petróleo, que passa o dia vendo leilão de gado pela TV. São telespectadores com preferências no mínimo esquisitas quando se trata de programas de TV.

Gostam daqueles canais que aparentemente ninguém vê, mas que têm uma audiência fiel, embora na maioria das vezes não seja grande o bastante para que apareça na lista do Ibope dos 19 com maior alcance na TV paga.

Há até quem assista ao Chat TV, transmitido pela Net, que dá informações sobre a programação e exibe uma tela com mensagens enviadas, em sua maioria, por jovens via celular. O estudante paulistano Ricardo Albuquerque, 13, descobriu o Chat TV nas férias. ‘Acompanho os diálogos, são engraçados.’

O carioca Gustavo Freitas, 37, consultor de informática em São Paulo, só dorme depois de olhar as cotações na Bloomberg Television, canal especializado em informações financeiras. ‘Se sobe lá fora, é sinal de que o preço da gasolina vai atrás, então encho o tanque do carro. Economizei muito no governo FHC’, diz.

Pesquisa encomendada pela Bloomberg ao Ibope mostra que 52% dos executivos brasileiros assistem regularmente ao canal, que tem 200 milhões de assinantes no mundo -75% têm entre 25 e 44 anos e 28% têm renda mensal entre R$ 8.000 e R$ 24 mil.

O carioca Fábio de Barros, 19, estudante de relações internacionais, tinha nove anos quando assistiu ao canal de vendas Shoptime pela primeira vez. ‘Chegava da escola e ia ver o Shoptime. É engraçado quando algo dá errado, e o apresentador improvisa.’

Foram tantos telefonemas e e-mails pedindo para conhecer os estúdios que o canal o convidou para participar de alguns programas como assistente de palco e, em 2003, ele bancou o apresentador por um mês durante o ‘reality show’ ‘Loucos por Shoptime’.

TV e política

O jornalista carioca Lédio Carmona, 40, trabalha de olho nas CPIs. ‘Minha televisão fica ligada na TV Câmara como um rádio.’

Paulo José Cunha, diretor da TV Câmara, diz que recebe cerca de 3.000 mensagens via e-mail por mês, número que vem subindo desde que estourou a crise política no país. No período, os acessos à homepage da TV Senado passaram de 800 para até 38 mil.

O mineiro Cristiano Carvalho Lima, 27, estudante de direito em Belo Horizonte e futuro candidato a deputado estadual, sintoniza a TV Assembléia. Seu prazer é ‘vigiar’ os parlamentares para fazer campanhas contra ou a favor. ‘Assim como na Grécia Antiga a democracia era exercida nas praças, hoje a TV permite que o povo se inteire sobre política’, afirma.

O advogado carioca radicado em São Paulo, Leonardo Olinto, 34, também começou a assistir à TV Justiça em 2003 por motivos profissionais. ‘Assisto diariamente e tento convencer minha namorada a ver, mas ela não tem paciência’, diz.’



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‘Recepcionista namora jóias da CNT’, copyright Folha de S. Paulo, 14/08/05

‘A maior diversão da recepcionista paraibana Glória Reis, 23, que mora no Rio há seis anos, é atravessar a noite assistindo aos leilões de jóias, quadros, tapetes e relógios do programa ‘Mil e Uma Noites’, que a CNT leva ao ar diariamente, das 22h às 3h15, e que está entre os cinco programas mais assistidos da emissora -chega a 0,95 ponto percentual no Ibope, segundo informações do canal.

Mas comprar, que é bom, Glória não compra. ‘Está louca? É tudo muito caro!’, diz ela, que vibra ao ver a progressão dos lances. ‘Sempre gostei de leilões e, quando soube desse programa, pedi para o meu marido assinar a Net só por causa da CNT, que aqui no meu bairro não pega direito’, diz.

O marido de Glória, Edgar Feliciano, 27, fez a assinatura certo de que poderia usufruir dos canais esportivos da TV a cabo, mas se enganou.

‘É uma briga danada, porque ele quer futebol, e eu não abro mão do meu leilão’, diz ela, que diariamente tem vontade de comprar alguma coisa. ‘Já me fiz uma promessa: um dia vou comprar uma jóia de lá.’

Jóias e relógios

O diretor do programa, Paulo Calluf, 36, não conta quanto paga pelo horário à CNT -que também prefere manter segredo- e afirma que o programa recebe, em média, 400 ligações e vende 50 peças por dia.

A maior parte das jóias são arrendadas por mulheres acima dos 46 anos. Já o Rolex, relógio de ouro, é a preferência masculina -chega a lances de R$ 100 mil em quatro parcelas. A jóia é entregue mediante consulta cadastral, e o cliente só recebe se tiver a ficha limpa.

Segundo Calluf, os casos de inadimplência são raros. ‘A classe alta gosta do status de ser bem atendida na joalheria, mas os nossos clientes são aqueles que têm medo de carregar uma sacola de grife e correr o risco de serem seqüestrados’, diz ele.’



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‘Programa monta delivery de cavalo’, copyright Folha de S. Paulo, 14/08/05

‘Há pouco mais de cinco anos o empresário carioca Alexandre Todeschini, 33, resolveu levar para a TV os leilões de gado e cavalos que promovia Brasil afora. Comprou espaço no Canal Rural (35 da Net) e fez oito leilões no primeiro ano.

‘No começo temi que os criadores se recusassem a comprar só pela imagem’, diz ele.

Mas o sucesso foi tão grande que hoje os leilões são diários, das 20h30 à 0h, e o negócio já envolve avestruzes e caprinos, deixando a agenda do canal lotada até o fim de 2006.

‘Vendemos cerca de 50 animais por dia, e o faturamento gira em torno de R$ 1 milhão por leilão’, diz Todeschini, que paga R$ 38 mil por programa ao canal, ao explicar que participam simultaneamente telespectadores e pessoas que estão no próprio local do evento.

A raça nelore é a preferida, e o maior lance chegou a R$ 1 milhão, no começo deste ano. ‘O telespectador compra em média 25% dos animais e colabora para aumentar a disputa’, afirma.

O retorno de audiência do Canal Rural é medido pelas ligações para o 0800: em julho foram 15.043 telefonemas.

Sem devolução

A administradora do haras Juliana, em Campo Limpo Paulista, Eliane de Almeida Garcia, 34, comprou seu primeiro cavalo manga-larga no Canal Rural e não parou mais.

‘Pela TV você tem que confiar em quem vende o animal, já que a devolução não é permitida’, diz ela. ‘Mas a grande vantagem é comprar sem sair de casa.’

Segundo Kleber Moura, 49, diretor do canal, Eliane é exceção. Pesquisa da Associação Brasileira de Marketing Rural, realizada em janeiro de 2005, mostrou que o público do canal é 90% masculino, além de estar no interior e captar a programação por antena parabólica.

‘O leilão é a nossa novela’, diz Moura.’



NIP/TUCK
Bia Abramo

‘‘Nip/Tuck’ acerta ao radicalizar a crítica’, copyright Folha de S. Paulo, 14/08/05

‘Pouco menos de um ano atrás, esta coluna fez um julgamento um tanto severo sobre ‘Nip/Tuck’. O seriado, que acabou de estrear sua segunda temporada no canal por assinatura Fox, continua sendo estética e moralmente repugnante, mas tem lá seu interesse.

Em primeiro lugar, a partir de um determinado momento já na primeira temporada, perdeu o tom quase policial que permeava seus primeiros episódios e ganhou em humor e drama. Sorte do seriado, que poderia ter se tornado um cruzamento glamouroso entre ‘CSI’ e ‘Extreme Makeover’ -com tudo que há de esquisito nessa junção.

Do primeiro, ele mantém o hiperrealismo do horror -há cenas explicitíssimas de bisturis cortando carne humana, agulhas costurando pele e coisas amenas do tipo. Mas em vez de transformar a ciência em auxiliar da lei e da ordem como faz a série policial, em ‘Nip/Tuck’ há uma ciência extremamente perversa, uma medicina nada humanista, quase oposta à idéia de bem-estar, completamente servil à uma espécie de perfeição só verificável em coisas e não em pessoas.

Nesse sentido, lida com humor e ironia -pela caricatura, pelo exagero, pela desfaçatez- com os mesmos elementos que ‘Extreme Makeover’, ou seja, obsessão pela forma física e pela beleza, leva a sério. Além disso, enquanto ‘Extreme Makeover’ parece prometer que a perfeição existe em algum lugar de Beverly Hills, é só se submeter às múltiplas torturas físicas e mentais dos procedimentos cirúrgicos que o mais torto dos seres chega lá, em ‘Nip/Tuck’ o drama se faz pela constatação constante e cruel da renitente imperfeição humana.

Na verdade, essa inflexão mais crítica nos roteiros também apareceu a partir do meio da primeira temporada e, ao que tudo indica, será a tônica da segunda. Com os personagens principais, os médicos Christian (Julian McMahon) e Sean (Dylan Walsh), completando 40 anos (tema desse primeiro episódio), a possibilidade de criar situações de conflito que explorem essa contradição se multiplicam.

Além disso, as piadas radicalizaram e melhoraram. Numa daquelas cenas pavorosas de cirurgia, a música de fundo era ‘Eyes Without a Face’ -e era quase que literalmente isso, olhos sem rosto, que se poderia ver na tela…

Mas ainda é preciso ter estômago, tanto para agüentar a brutalidade dos procedimentos cirúrgicos -talvez a plástica seja a mais aflitivas de ser assistida das operações, uma vez que ainda dá para identificar o que está sendo cortado e furado e puxado- como do substrato ideológico que se adivinha em ‘Nip/Tuck’. Ainda que tenha carregado no humor negro e numa certo acirramento do teor crítico, trata-se de um seriado de TV e se mantém na superfície. No fundo, subsistem noções quase eugênicas sobre a aparência e a beleza que, por vezes, também provocam uma certa náusea’