Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Leila Reis

‘Terça-feira, na cidade de Rio Claro, Rubens de Falco mergulha de cabeça na história de Escrava Isaura, que está sendo regravada pela Record com direção de Herval Rossano. Na nova versão da novela que encantou o mundo – e lidera o ranking das mais exportadas pela Globo – Rubens fará o papel do Comendador Almeida, pai do vilão Leôncio (que interpretou há 28 anos). Com mais 30 novelas, muitos filmes e espetáculos no currículo, o ator está animado com a perspectiva de voltar à trama adaptada do romance de Bernardo Guimarães. Nesta entrevista, Rubens, de 72 anos, diz que o mais importante é estar trabalhando e lamenta a escassez de bons personagens para atores ‘que sustentam as novelas’.

Estado – É bom voltar a fazer ‘Escrava Isaura’?

Rubens de Falco – É fantástico voltar como pai do protagonista que fiz há 28 anos. Essa volta é fruto de uma grande amizade profissional com Herval Rossano. Ele me disse que eu fui a primeira pessoa em quem pensou quando decidiu fazer a novela. Que bom que a vida me deu esta oportunidade.

Estado – ‘Escrava Isaura’ é a sua melhor novela?

Rubens – Não, é a que fez mais sucesso. As mais marcantes foram em O Grito (1975), Os Imigrantes (81), o Drácula (Um Homem Muito Especial, na Bandeirantes, em 80), e A Sucessora (78).

Estado – Até onde ‘Escrava’ levou você?

Rubens – À Polônia, Tchecoslováquia. Só não fui à China porque estava trabalhando.

Estado – A que você atribui o tremendo sucesso da novela?

Rubens – O tema liberdade é universal, mas nos anos 70 tinha grande apelo aqui e no Leste Europeu. Lucélia Santos era uma menina de 17 anos, mas era de uma verdade muito grande. Eu tinha cara de 25, mas tinha 45 e tive que lutar muito com a Lucélia. O embate foi ótimo porque houve uma sintonia incrível entre o vilão e a mocinha.

Estado – Quem será Isaura?

Rubens – Não tenho idéia e não quero saber. Como tenho na cabeça a primeira versão, quero entrar limpo em cena, sem expectativa alguma. Vou trabalhar como um desgraçado até o capítulo 50, quando meu personagem morre para dar vez ao Leôncio.

Estado – Há quanto tempo você está fora da TV?

Rubens – Faz uns seis anos porque tudo que veio a mim não me interessou. Quando estamos em idade avançada, acho que temos o direito de escolher.

Estado – A idade pesa?

Rubens – Quando estou no palco sinto a mesma energia que tinha há 50 anos. Idade pesa para quem está com a cabeça ruim.

Estado – O que fez no período em que esteve fora da TV?

Rubens – Fiz teatro ou fiquei em casa. Há 10 anos viajo com A Lírica, de Cecília Meireles, espetáculo em que também trabalham Maria Fernanda e Luiz Fernando Galon, filha e neto de Cecília. Agora estou em cartaz no Teatro dos Arcos (Bela Vista) com a peça gay Galeria Metrópole, escrita por Mário Viana.

Estado – Como você está se preparando para voltar?

Rubens – Estou embranquecendo o cabelo, não vou mais pintar. O resto está por conta do meu talento.

Estado – A TV trata bem os veteranos?

Rubens – Comecei no TBC em 1951. Cheguei na Globo em 1966, para fazer par com a Nathalia Timberg na novela A Rainha Louca. Acho que gente como ela e eu voltamos quando a TV precisa de talento. Sem atores experientes, a novela não se segura. E o que se vê hoje são muitos corpos e rostos bonitos e mais nada.

Estado – Mas não foi sempre assim? Atores experientes e novatos em cena?

Rubens – A diferença é que a renovação era feita com gente que vinha do teatro e que, portanto, sabia representar. Existe hoje uma ditadura da beleza e da juventude. Sobra lugar para as carinhas bonitas e faltam bons personagens para os atores tarimbados.’



PERDIDOS NA NOITE
Laura Mattos

‘Datena arma volta do ‘Perdidos na Noite’’, copyright Folha de S. Paulo, 9/7/04

‘Apresentador do policial ‘Brasil Urgente’, José Luiz Datena propôs para a direção da Band a volta do ‘Perdidos na Noite’, agora sob seu comando. O primeiro piloto (programa teste) pode ser gravado ainda na próxima semana.

Com clima de ‘esculhambação’ e cenário desordenado, ‘Perdidos’ consagrou Fausto Silva como apresentador. Começou em 1982, na Record, e migrou para a Band em 86, quando passou a ser o sucesso das noites de sábado.

Datena quer o mesmo título, com poucas mudanças no formato. ‘Eu quero me divertir’, diz ele, insatisfeito com o policial, que tem dado três pontos no Ibope.

Se aprovada, a nova versão de ‘Perdidos’ poderá ir ao ar nas noites de sexta ou sábado, dependendo de que dia será ocupado por Preta Gil e seu ‘Caixa Preta’.

O comando de um programa de variedades semanal noturno foi uma promessa da direção da Band a Datena. A negociação ganhou força nesta semana, quando o ‘Brasil Urgente’ perdeu 50 minutos para a ‘baba baby’ Kelly Key e a série animada ‘Cavaleiros do Zodíaco’. Irritado, ele chegou a discutir com o diretor de jornalismo, Fernando Mitre, e a diretora artística, Marlene Mattos.

Com a mudança, reclama ele, passou a entrar no ar 15 minutos após o ‘Cidade Alerta’ (Record), o que prejudicaria sua audiência. Também vê como problema o fato de Kelly Key e ‘Brasil Urgente’ terem públicos-alvo diferentes.’



GLOBALIZAÇÃO & FUTEBOL
Jornal do Brasil

‘Uma atípica teoria sobre a globalização’, copyright Jornal do Brasil, 10/7/04

‘Franklin Foer, renomado jornalista do The New republic, acredita que o futebol é um ótimo e eficaz instrumento para se discutir a globalização. Ao menos, é o que ele pretende mostrar em seu mais recente livro How soccer explains the world: an unlikely theory of globalization (Como o futebol explica o mundo: uma teoria atípica da globalização), publicado pela Harper Collins (261 páginas, US$ 24,95).

Em cada capítulo do livro, ele parte do esporte mais popular no mundo para fazer uma análise do impacto da globalização em determinadas identidades e culturas.

Para os brasileiros, o jornalista conta a história de como a cultura da corrupção nos clubes cariocas atrapalha o investimento internacional em jogadores brasileiros. E ainda a utiliza como uma parábola sobre as limitações do neoliberalismo.

Em outro capítulo, os dias violentos dos hooligans ingleses, antes de o futebol se tornar um grande jogo do mercado empresarial, foi lembrado. Foer associa a atitude dos hooligans à ideologia antiglobalizante e à hegemonia do McDonald’s way of life (McDonald como estilo de vida).

Mas a melhor parte do livro é a dedicada ao Red Star Belgrade, um clube sérvio, cujos torcedores eram os ultranacionalistas do governo Milosevic. Infectados pela retórica de Milosevic, de torcedores eles se transformaram em agentes do genocídio.

Uma seção do livro foi reservada para o que Foer chama de ‘the hooligan-heavy section of the book’, em que ele reconta suas viagens à Irlanda, onde encontrou, na torcida do Glasgow Rangers , os mais virulentos homens contra o fervoroso catolicismo do Sul do país. E, ainda, seu encontro com um grupo de neonazistas, também torcedores, que gritavam ‘Judeus nojentos, gás neles’.

Nos últimos capítulos, Foer sugere que ser um fanático por futebol não transforma ninguém em xenófobo. Na verdade, ele acredita que há casos em que o futebol incorpora uma postura política. O que o jornalista, que se autodenomina um yuppie liberal, chama de ‘o discreto charme da burguesia nacionalista’.

O capítulo sobre o futebol iraniano, por exemplo, não mostra evidência alguma de que Foer esteve no país. Talvez, para compensar a fraqueza deste relato, o jornalista sai pela tangente, ou melhor, cai numa hipérbole. Ele chega a dizer que o futebol é a chave para o futuro do Oriente Médio. E ainda complementa afirmando que a história moderna do Irã pode ser contada por meio da história do futebol local.

Mas esse não foi o único momento em que o jornalista extrapolou nas interpretações. Ele caracteriza a rivalidade entre os Glasgow Rangers (anticatólicos) e os Celtics (católicos), da Irlanda, como uma interminável luta contra a Reforma Protestante. É possível que os exageros do jornalista sejam resultados de um olhar sobre o mercado futebolístico como um simples reflexo da situação econômica e social.

Em How soccer explains the world: an unlikely theory of globalization, o jogo mais popular do mundo tornou-se nas mãos do jornalista Franklin Foer um esporte extremamente intelectualizado e de suma importância para a política internacional.’