Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Luiz Antonio Ryff

‘Visto quase três anos após sua realização e oito meses após sua estréia, o documentário ‘Entreatos – Lula a 30 Dias do Poder’, de João Moreira Salles, envelheceu precocemente. Não que tenha perdido seu valor. Ele adquiriu outros. Quando foi feito, capturou um breve momento de felicidade, esperança e leveza. As imagens são as mesmas, mas hoje o filme é incapaz de reviver essas sensações nos espectadores.

Realizado durante o último mês da campanha presidencial de 2002, o documentário registra os bastidores da reta final da longa caminhada de Luiz Inácio Lula da Silva e do PT até a Presidência. São as cenas não públicas, os ‘entre atos’. Quando o filme começou a ser rodado, já estava claro que Lula seria eleito – a não ser que ocorresse uma reviravolta absolutamente inesperada. A grande dúvida era se ele ganharia no primeiro turno ou no segundo.

Isso é importante porque o filme acompanha um protagonista e seus coadjuvantes que têm a certeza absoluta da vitória. Ninguém questiona essa possibilidade – embora ninguém apareça cantando vitória antes do tempo. Por isso, o filme transcorre sem tensões ou dramas. É só felicidade. Lula aparece fazendo piada, rindo, brincando. É o ponto culminante do personagem ‘Lulinha Paz e Amor’. Lula se comporta menos como se estivesse em uma campanha política e mais como se estivesse em um passeio.

Quando foi rodado, ‘Entreatos’ era um filme alegre, esperançoso. Hoje é melancólico, triste. É curioso que, em certas passagens, brincadeiras que provocavam risos só causariam, hoje, espanto e desconsolo. Como na primeira reunião após a vitória, em que a cúpula da campanha ri dizendo que José Dirceu não vai deixar Lula governar.

Em outros momentos, se dá o inverso. São cenas sérias que adquirem um amargo tom irônico. Por exemplo, quando Lula diz que deveria medir melhor as palavras antes de falar. O futuro ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência, Luiz Dulci, interrompe: ‘Você é um improvisador nato.’ No filme, muito do que era engraçado perdeu a graça. O que era sério virou piada.

Mas a melancolia está presente de outras maneiras. ‘Entreatos’ é um filme cheio de fantasmas e sombras. É interessante notar como vários de seus coadjuvantes simplesmente desapareceram. Pessoas chegadas a Lula deixaram de sê-lo. Alguns dos poucos auxiliares próximos de Lula se afastaram do governo. Os assessores especiais Oded Grajew e Frei Betto e o assessor de imprensa Ricardo Kotscho são os mais conhecidos. Os dois últimos eram dos mais íntimos do presidente eleito. Outros continuam, mas são uma sombra do que foram. O ex-ministro de Segurança Alimentar, José Graziano, é o caso mais emblemático. Há também as lideranças do PT que não eram próximas do ‘núcleo duro’ do partido, comandado à época por José Dirceu. Nesse caso, estão Fernando Gabeira, Luciana Genro e Heloisa Helena. Todos expurgados.

É curioso que, no documentário, enquanto Lula, quase sempre relaxado, ri, brinca e se diverte entre um compromisso e outro – transmitindo essa leveza que o filme tinha -, quatro pessoas aparecem arregaçando as mangas e trabalhando duro, seja preparando ou revisando um discurso, fechando acordos, fazendo alianças ou definindo estratégias. São os ex-ministros José Dirceu e Luiz Gushiken, o publicitário Duda Mendonça e o senador Aloizio Mercadante. Os dois primeiros estão no olho do furacão das denúncias contra o governo. Já perderam os cargos em função disso. O terceiro não faz parte do PT, mas também aparece no escândalo. Contra o senador, o único que não tem vínculos formais com o governo, até agora nada.

Fora eles, há outros fantasmas assombrando ‘Entreatos’, como os protagonistas do escândalo do mensalão, o ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, o ex-secretário-geral do PT, Sílvio Pereira, o ex-presidente nacional do PT, José Genoíno, o ex-presidente da Câmara, João Paulo Cunha. Os três primeiros estão afastados por conta das denúncias. Sílvio Pereira tem direito até a fala no filme. E não é uma fala qualquer. Ele conversa com Lula sobre como devem ser as relações entre partido e governo.

É verdade que a grande qualidade do filme é que ele permite diversas leituras. Provavelmente isso se deve em parte à montagem equilibrada. O documentário não é uma peça de propaganda, nem contra nem a favor. Mas essa característica aberta da obra se deve também ao fato de ‘Entreatos’ captar, com essa isenção, a véspera do início de um processo em andamento, a Presidência de Lula. Somente alguns anos após a saída de Lula da Presidência, quando a poeira baixar, o filme estará decantado e poderá ser analisado de forma menos passional e mais histórica. Até lá, será um filme novo a cada revisão.

Sua interpretação e a relevância de determinadas cenas ou passagens irão variar conforme o calor dos acontecimentos políticos. Se, na época do lançamento nos cinemas, no final de novembro do ano passado, o foco caía em trechos que associavam Lula à bebida, por causa da reportagem de Larry Rother em ‘The New York Times’, hoje isso é irrelevante.

Mas, a despeito das interpretações variáveis, o filme envelheceu, e continua envelhecendo. De certa maneira, ‘Entreatos’ repete a triste sina de ‘Dorian Gray’. Na obra de Oscar Wilde, o jovem queria conservar para sempre a bela imagem que tinha de si mesmo. Para que isso fosse possível, seu retrato na parede envelhecia com o tempo. Pelos discursos e pela postura na Presidência, Lula parece querer crer que o governo não o mudou, que ele continua o mesmo líder sindical do passado. Pena que ‘Entreatos’ mostre quão envelhecido e enrugado ele e seus amigos ficaram.

Relembre a seguir uma seleção de cenas de ‘Entreatos’ que adquirem especial interesse no momento político que o país atravessa.

José Dirceu, a voz das sombras

‘Entreatos’ começa com a cena de uma manifestação filmada do meio da multidão. As imagens são confusas e a câmera treme enquanto tenta se aproximar de Lula. Mas o primeiro elemento que se sobressai e pode ser reconhecido é uma voz em off. É a voz de José Dirceu. Emblematicamente, o filme sobre Lula começa com José Dirceu. Ele organiza os militantes e cobra mobilização para ganhar a eleição no primeiro turno.

O privilégio dos eleitores

Na reta final da campanha de primeiro turno Lula vai a um barbeiro de bairro em São Bernardo. Na saída, vira-se para quem o atendeu e dispara:

– Veja qual o seu privilégio… Imagina o que pode acontecer com você… Segunda-feira eu posso vir aqui às 9h da manhã como Presidente eleito. Já pensou?

Quem faz a cabeça de quem

Em coletiva para a imprensa estrangeira, um repórter pergunta a José Dirceu o que ele ‘aprendeu de bom e de mau no tempo em Cuba e pode aplicar no Brasil’.

– Nós também estamos querendo saber – diz Lula, provocando gargalhadas gerais, puxadas por ele mesmo e Dirceu.

– Veja bem… esses dias, uma revista publicou no Brasil um matéria sobre a minha vida e colocou como título ‘O homem que faz a cabeça de Lula’. Eu quero dizer a vocês que quem fez a minha cabeça foi o Lula. Quem me mudou, me mostrou que havia todo um outro caminho, e à toda a minha geração, foi o PT. E quem fundou o PT foi o Lula.

Quem procura, acha

Cena seguinte. Sala VIP do aeroporto de Congonhas: estão presentes Lula, Ricardo Kotscho (então futuro assessor de imprensa; hoje, fora do governo), Antonio Palocci (futuro ministro da Fazenda), Luiz Dulci (futuro ministro-chefe da Secretaria Geral da Presidência), Oded Grajew (futuro assessor especial da presidência, também já fora do governo), Gilberto Carvalho (futuro chefe-de-gabinete da Presidência). Em diálogo com Kotscho, Lula volta ao tema anterior, reproduz a pergunta feita sobre a experiência de José Dirceu em Cuba e conta sua resposta ao jornalista estrangeiro:

– Não pergunte o que nem nós do PT sabemos como foi… – diz Lula rindo.

– De repente, você descobre alguma coisa… – completa Kotscho, bem-humorado.

Governo engraçado

Num avião, estão presentes Lula, Dulci, Palocci e José Alencar (vice-presidente). Após elucubrar em voz alta sobre as mudanças que teria na vida após a vitória eleitoral, Lula se queixa da comida de bordo e recusa o sanduíche. Já havia recusado a cerveja, provocando risos. Comentário de Dulci:

– Eu não sei como vai ser o governo desse moço, mas que vai ser engraçado vai…

Lula, um improvisador nato

Na mesma viagem, Lula discorre sobre as diferenças entre a oposição e o governo no que diz respeito à responsabilidade:

– Quando a gente não tem responsabilidade, você não tá pra ganhar nada, você não mede as palavras que fala no discurso. Agora, qual é o problema? Você tem que medir cada palavra…

– Você é um improvisador nato – emenda Dulci.

– Eu deveria me mancar e parar de falar, mas eu não paro – finaliza Lula.

Lula, um Didi que não deu certo

Ainda na mesma viagem de avião, a conversa escapa para um dos assuntos prediletos do futuro presidente, o futebol. Lula diz que era bom de bola e que poderia ter sido profissional. E se compara a Didi, campeão do mundo em 1958 e um dos maiores jogadores que o país já teve. Didi inventou a ‘folha seca’ (jeito de chutar a bola) e foi considerado, embora jogasse com Garrincha e Pelé, o maior jogador da Copa do Mundo 1958.

– Eu batia falta igual ao Didi – diz Lula sério.

– Batia falta igual a Didi… – repete, rindo, Palocci, entre risos dos outros passageiros.

O estrategista político

Preparação para debate na Rede Globo: Luiz Gushiken (futuro ministro da Secretaria de Comunicação) comanda a reunião em que estão presentes o marqueteiro Duda Mendonça, que explicará as regras para Lula e definirá a postura do candidato. Gushiken será o responsável pela estratégia política do confronto.

Não existe confiança em política

Ainda na reunião, mas em outro cômodo, José Dirceu aparece falando ao telefone com ‘Silvinho’ (será Sílvio Pereira, secretário do PT, hoje envolvido no escândalo do mensalão?). Estão presentes Guido Mantega (futuro ministro do Planejamento e presidente do BNDES), José Graziano (futuro ministro da Segurança Alimentar, já deixou o posto), Gilberto Carvalho e Duda Mendonça. José Dirceu termina o telefonema e diz que Vicente Fox (presidente mexicano) quer falar com Lula no domingo após a votação (havia a possibilidade de Lula ganhar no primeiro turno).

– Porque a informação que o Fox tem do Fernando Henrique… – começa Dirceu, que interrompe a frase ao se tocar da presença de uma equipe de filmagem.

Contrariado, pergunta:

– Você está gravando isso aí, gente? De quem é esse pessoal?

José Dirceu tira os óculos, passa a mão na cara, vira o rosto e faz uma careta, enquanto Gilberto Carvalho se aproxima para explicar. Duda Mendonça tenta intervir para desanuviar o ambiente.

– Vamos deixar para discutir o que for altamente sigiloso depois. Eles vão fazer uma cena e vão embora, não é isso? – propõe Duda.

– Eles são de confiança – retruca Gilberto.

– Eles são de confiança… – repete Dirceu em tom irônico.

– Absoluta – completa Gilberto.

– Não existe confiança absoluta – corta Dirceu, ríspido.

E exemplifica:

– A fita do Lula sobre Pelotas (em que Lula fazia piada com a fama de gays dos habitantes da cidade dizendo que Pelotas era ‘um pólo exportador de viados’) acabou nas mãos do nosso inimigo.

– A fita é guardada num cofre todo dia – responde Gilberto.

– Vai nessa… Vai nessa… Se você soubesse o que eu tenho das outras campanhas, você não falaria isso. Gilberto Carvalho… pára com isso.

A autoridade que Deus quer

Cena na sacada da casa de Lula, domingo, 6 de novembro, dia do primeiro turno e aniversário do candidato: estão presentes Lula, a esposa, Marisa, membros da família e o dominicano Frei Betto (futuro assessor especial da Presidência, já deixou o cargo). Em homenagem a Lula, Frei Betto lê o Salmo 72: ‘A autoridade que Deus quer’.

– Concede, ó Deus, a teu governante, a tua sabedoria. Tua integridade esteja com ele. Que ele governe o teu povo com Justiça. E que seja um juiz justo para os teus pobres. Então. haverá paz estável como as montanhas. Viveremos na Justiça, sobre as colinas de nossa terra. Que o teu governo defenda os direitos dos pobres e promova os miseráveis.

A última esperança

Lula vai para o comitê de campanha. No trajeto, um motoqueiro emparelha com o carro e diz:

– Lula, vai lá! A gente acredita em você. A última esperança. Acabou você a gente não acredita mais em nada.

A discrição de Delúbio e Silvio Pereira

A cena se passa comitê de campanha do PT em São Paulo, durante a apuração dos votos no primeiro turno. Aparecem nas imagens a então prefeita de São Paulo, Marta Suplicy, Luis Favre (marido da prefeita), Marco Aurélio Garcia (futuro assessor especial da Presidência), José Dirceu, Duda Mendonça, Antonio Palocci, Ricardo Kotscho, Luiz Gushiken e Aloizio Mercadante (futuro senador). Em uma das tomadas, os futuros secretário-geral e tesoureiro do PT, Sílvio Pereira e Delúbio Soares, aparecem pela primeira vez. Estão no fundo da sala, misturados aos dirigentes do partido. Delúbio veste uma camiseta vermelha em que está estampada: ‘100% Lula’.

Risos de alegria

Gravação do programa político do segundo turno, reunindo todas estrelas do partido e aliados da nova coligação, como Ciro Gomes. É curioso notar como o leque de apoio de Lula mudou de lá pra cá: o primeiro close é em Miro Teixeira (futuro ministro das Comunicações, que já deixou o governo). O segundo é em Luiza Erundina (do PSB, crítica do governo) e o terceiro em Fernando Gabeira (rompeu com o governo e deixou o PT). Luciana Genro e Heloísa Helena aparecem risonhas (ambas foram forçadas a sair e estão hoje no PSOL). Benedita da Silva (futura ministra da Ação Social, que também já deixou o governo) está na primeira fila, bem em frente ao palco.

O que está por detrás de Lula

Em um jatinho, cinco dias antes do segundo turno, Lula conversa com Silvio Pereira, com o assessor de imprensa Wilson Timóteo Júnior e com José Graziano e diz:

– No Brasil, hoje, a única figura política de dimensão nacional sou eu. Mas por que eu cheguei aonde eu cheguei? Porque eu tenho por detrás de mim um movimento. Eu tenho por detrás de mim uma grande parte da Igreja Católica, da base da Igreja Católica. Eu tenho por detrás de mim uma grande parte dos estudantes, o PT, a CUT. É muita coisa. Aliás, nenhum político brasileiro teve o alicerce que eu tenho.

A diferença entre Lula e Lech Walesa

Lula continua a conversa e explica a diferença dele para Lech Walesa, líder operário que chegou a presidente da Polônia, fez uma administração mal avaliada e deixou o governo com baixíssimos índices de popularidade. Em tom de desprezo, Lula se refere a Walesa como um ‘pelegão’.

– Ele deu no que deu porque ele não tinha porra nenhuma. Ele não tinha partido. Não tinha nada.

PT deve ser consciência crítica do governo

No jatinho, com os mesmos interlocutores, Lula analisa como será sua a relação com o PT quando chegar à Presidência. Essa viagem é o único momento do filme em que Lula mostra algum tipo de reflexão política. Até por isso tem os trechos mais propícios à interpretação. Diz Lula:

– O PT vai passar por uma nova experiência, que é ser um partido que tem a Presidência da República, que tem um programa aprovado num congresso. Eu acho que é me cobrando que o partido pode ajudar a gente a fazer as coisas que a gente quer. Obviamente que o partido tem que ter a sensibilidade para entender se a gente pode fazer ou não pode.

– O Olívio Dutra tem uma frase que é: ‘Relação entre partido e governo deve ser necessariamente tensa.’ Usou exatamente esse termo que você está colocando. O partido tem que estar sempre empurrando… – interpreta Sílvio Pereira.

– Não precisa ser sempre tensa – corrige Lula.

– Tensa, não é uma briga interna. No sentido de… – Silvio tenta se explicar.

É cortado, no entanto, por uma voz fora de quadro (provavelmente Graziano, que estava atrás da câmera):

– O partido não pode querer ser governo. Esse é o segredo.

– O partido tem que exercer o papel de partido e ser uma espécie de consciência crítica do governo diante da sociedade. Mas o partido não pode abandonar o seu governante porque o governante não está fazendo aquilo que o partido, dez anos atrás, colocou no programa que era pra ser feito. Até porque cada dirigente do partido, como eu, não consegue cumprir os compromissos que a gente faz com a mulher da gente, com os filhos da gente a vida inteira. E nem por isso a gente é mau pai, mau marido, sei lá… – encerra Lula.

O defensor dos interesses de Lula

No Hotel Glória, preparando-se para o último debate, na Rede Globo, Lula se arruma e discute a gravata a usar. José Dirceu assiste, sentado no sofá. Lula puxa conversa:

– E aí Zé, tudo bem?

– Luiz Inácio, excelente. Tive um dia produtivo. Defendi os seus interesses corretamente – sorri Dirceu.

O partido está atrapalhando o governo

No hotel Meliá, em São Paulo, poucas horas após o encerramento da votação. É a primeira reunião após a vitória, ainda não anunciada oficialmente. Na sala estão Lula, Luiz Dulci, Gilberto Carvalho, Luiz Gushiken, Aloizio Mercadante e José Dirceu. A equipe de filmagem entra, com a conversa andando. O clima é descontraído e as pessoas riem, falando sobre uma situação hipotética no futuro. Não fica claro o que motivou o diálogo, que é todo dito em tom brincalhão.

– Eu sou o presidente. Eu quero governar, mas essa turma não deixa – diz Lula, se referindo às pessoas presentes.

– O Zé Dirceu está interferindo muito no governo – diz uma voz que não aparece na imagem (pode ser de Gilberto Carvalho, Dulci ou Mercadante).

– Está atrapalhando o governo – continua outra voz (que pode ser Gilberto Carvalho, Dulci ou Mercadante).

– O partido está atrapalhando o governo – corrige José Dirceu.

– O partido está atrapalhando o governo, porra – concorda Lula.

– Não deixa eu tomar decisões – diz José Dirceu, como se fosse Lula.

Se as duas horas de filme têm tantas interpretações possíveis e surpreendentes, dá para imaginar a que leituras se prestam as outras 238 horas de fitas não usadas na edição.’



Evandro Éboli

‘Duda Mendonça será alvo de Valério na CPI’, copyright O Globo, 6/08/05

‘O publicitário Duda Mendonça, responsável pela campanha eleitoral do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, será um dos alvos de Marcos Valério Fernandes no depoimento que ele irá prestar amanhã na CPI do Mensalão. Depois de depor duas vezes na Procuradoria Geral da República, onde entregou a lista dos beneficiários dos repasses feitos por suas empresas e de revelar a existência dos empréstimos ao PT, Valério volta ao Congresso Nacional disposto a falar do dinheiro que teria enviado ao marqueteiro oficial da campanha do presidente Lula.

Valério vai reafirmar que as movimentações financeiras destinadas a Duda foram feitas por pessoas indicadas pela principal assessora do marqueteiro: Zilmar Pimentel. Valério vai confirmar que os R$ 6,16 milhões que o policial David Rodrigues Alves sacou foram para Duda.

– Os únicos saques de dinheiro oriundo dos empréstimos feitos ao PT em agências de Belo Horizonte e que não envolveram pessoal do Marcos Valério foram os destinados ao Duda Mendonça. Ou seja, ele indicou as pessoas que receberam para ele – disse ao GLOBO Marcelo Leonardo, advogado de Marcos Valério.

Os parlamentares da CPI dos Correios querem aproveitar o depoimento de Valério na comissão do Mensalão para esclarecer uma série de dúvidas dos depoimentos anteriores. O deputado Gustavo Fruet (PSDB-PR), sub-relator do setor financeiro da CPI, disse que é preciso cobrar de Valério qual o total, de fato, dos empréstimos feitos ao PT, qual a origem e para quem o dinheiro foi destinado.

Fruet afirmou que as contas não estão fechando e que há uma movimentação de R$ 10 milhões ainda não identificada. Ele disse que há pelo menos cem cheques com valores superiores a R$ 100 mil, nas contas das agências de Valério, sobre os quais a CPI não descobriu quem sacou ou quem eram os beneficiários.

– Virou um campeonato de mentiras. Tudo que o Valério fala está sob suspeição. Ele tem de explicar muita coisa ainda – disse Fruet.

Valério não deverá revelar novos nomes na CPI

O publicitário mineiro irá reafirmar que David Rodrigues nunca foi à SMP&B entregar o dinheiro sacado no Banco Rural, como o policial afirmou na CPI dos Correios em seu depoimento, na semana passada. Em seu depoimento na CPI dos Correios, a diretora financeira da SMP&B, Simone Vasconcellos, disse que David era quem entregava o dinheiro para Zilmar Pimentel.

Valério vai contar que novas investigações feitas em Belo Horizonte apontam para a existência de um doleiro como o intermediário que entregava o dinheiro sacado pelo policial nas mãos de Duda Mendonça. Valério irá citar o nome do doleiro mineiro Jader Kalid Antônio, que já estaria sendo investigado pela polícia de Belo Horizonte.

Valério não deverá revelar novos nomes de políticos beneficiados com os empréstimos que fez para o PT. Segundo seu advogado, não há mais novidade e todos os nomes já foram encaminhados ao Ministério Público na lista de 31 pessoas que receberam esses recursos.

O publicitário também vai entregar um CD com todas as movimentações e balanços fiscais, contábeis e bancários de suas empresas. É um farto material. Um desses livros contábeis tem cerca de 40 mil folhas.

Marcelo Leonardo negou que o total dos empréstimos realizados por Marcos Valério nos últimos anos totalize R$ 210 milhões, como foi noticiado na edição desta semana da revista ‘IstoÉ’. O advogado reafirmou que o total deste valor é mesmo de R$ 55 milhões.

O advogado de Valério explicou que, como o publicitário irá depor na condição de investigado, não irá requisitar hábeas-corpus no STF. Como investigado, ele não tem o compromisso de falar a verdade, pode ficar em silêncio e não precisa responder a perguntas que julgue que possam comprometê-lo.’



Joaquim Ferreira dos Santos

‘O povo quer saber’, copyright O Globo, 8/08/05

‘Jornalista é o sujeito regiamente mal pago para fazer, com pompa e sem cerimônia, o que o sujeito no bar da esquina faz de graça batendo com a mão na barriga do que está encostado no balcão: ‘E aí, gente boa, quais são as novidades?’.

O Brasil nunca se perguntou tanto pelo seu destino, chovem interrogações em todas as orelhas e – cadê o herói que estava aqui? quem pegou da minha castanha? – nunca se teve tão poucas respostas. Se pergunta não ofende, se o povo quer saber, como brincam os bordões do humorismo, então segura na mão de Deus que lá vai mais um punhado delas: que desgraçados somos nós? que vocação maldita é essa para a roubalheira e a pouca vergonha geral?

Tempos atrás um político qualquer candidatou-se com o slogan de ‘o nome dele é trabalho’. Eu anuncio diferente. O meu nome é pergunta.

Outros carregam pedras morro acima. Eu passo o dia inteiro fazendo perguntas em busca das novidades. Cutuco o próximo com o telefone. Há quem tenha estudado mais e possua as respostas. Não foi o meu caso. Como de pouco sei, o resto pergunto. Caço afirmações. Atiro ?????, tento recolher !!!!!. A carteira profissional assinada me absolve da curiosidade. Às vezes tenho sorte, outras não. Faz parte e me conformo. É do ofício de carregar pedras. Pergunto pra um, pergunto pra outro. Como ao fim do dia vejo que as mãos permanecem limpas e a conta no Banco Rural zerada, continuo. Já vi trabalhos piores. Sigo.

Quando a repórter perguntou ao Lula, ‘presidente, há males que vêm para bem?’, eu fui o único que não riu. Lembrei que os homens de bem estão carregando todos nossos bens – mesmo assim não ri. Até o presidente, sempre chegado a uma frase fofa que possa ser escrita no pára-choque do caminhão, deu um risinho constrangido com a aparente ingenuidade. Eu me calei em silêncio solidário com a pergunta da moça. Primeiro, porque gosto das moças. Sempre que querem saber de uma preferida, me embaralho. Todas. Segundo, porque gosto das perguntas. Sei, desde o estágio no ‘Diário de Notícias’, que não existem as boas e as más. Todas. Feito as moças. Atrás das interrogações mais tímidas podem vir interjeições surpreendentes. Exato. Como as moças.

O jornalismo é um álibi privilegiado para os que não sabem e são autorizados a confessar sem culpa essa ignorância. É o meu caso. Ganho para isso. Conjugo o verbo não sei o dia inteiro, com a maior sinceridade e sem qualquer parcimônia. Além de jornalista, não sou jovem o suficiente para achar que sei de tudo. Perguntar é meu elixir de inhame e alcatrão de São João da Barra – o conhaque do milagre.

Aprendi com a profissão que o espanto, o olho esbugalhado de quem procura algo novo para se surpreender e contar, é fórmula e biotônico fontoura da eterna juventude. Por isso não concordo com aquela piadinha de que o Super-Homem e o jornalista humilde são iguais – os dois não existiriam. Mentira. Maldade de publicitário. Nada sei. Os leitores que me viram na semana passada escrevendo ‘trilhar’ e não trilar o apito, que me viram colocando a maçã na cabeça de Einstein e não na de Newton, esses leitores me disseram em dezenas de e-mail terem ficado surpreendidos por notarem que sei menos ainda do que eu próprio imaginava. Peço-lhes, como me é da classe, humildes desculpas.

Vivo das dúvidas, das interrogações e sei que meu trabalho é transformá-las em afirmações. Séculos atrás, em busca de estilo serelepe no texto, eu gostava de escrever colocando perguntas no meio das matérias, como se estivesse conversando com o leitor. Elio Gaspari, meu editor, cortava aquilo tudo com infinita paciência e ainda me dava de troco algumas pílulas de sua farmacopéia de sabedorias. ‘Garoto, você faz a pergunta para o entrevistado. O leitor te paga para saber as respostas’.

Do questionário de Marcel Proust à pergunta que não quer calar do Artur Xexéo, eu sei que qualquer maneira de indagar vale a pena. ‘Senhor presidente, é verdade que em casa de ferreiro, o espeto é de pau?’ ‘Senador, o senhor brinca como eu brinco?’ A dúvida, por mais inteligente e arguta que seja soprada no ouvido do entrevistado, pode morar sozinha e emburrecer. Pergunte e preste atenção. O ouro da mina mora na resposta.

Recolhi tempos atrás uma coleção de perguntas clássicas do telejornalismo, todas feitas por Antonio Maria durante o programa ‘Noite de Gala’ na TV Rio:

‘Senhor Jânio Quadros, o senhor é estrábico porque tem um olho em Moscou e outro no capital americano?’.

‘Senhor Alziro Zarur (um religioso pioneiro em usar o rádio e iludir pessoas), se Jesus está chamando, por que o senhor não vai logo?’

‘Senhor Tenório Cavalcanti (um político da Baixada que andava com uma metralhadora), o senhor mata para viver ou vive para matar?’

Sempre perguntamos muito, mas o Brasil de 2005 é um país cercado de questões por todos os lados, desde as engraçadas atiradas pela repórter fofinha que entrevistou o Lula às dos senadores pseudo-espertalhões na CPI. Infelizmente, até o final desta edição, não havia qualquer resposta esclarecedora que nos definisse o destino.

É o José Dirceu perguntando ao espelho se ele é arrogante, é o relator perguntando quem pegou o mensalão, é o medo perguntando se o Lula sabia. É um país inteiro na frente da televisão e atrás da resposta-mãe de todas as perguntas, aquela que pode sair ao final da interrogação de um suplente de senador ou do presidente da comissão. Quem? Onde? Por quê? Quando? Quanto e quantos mamaram nas nossas já tão moxibinhas tetas?

Nunca choveu tanto canivete e ignorância no céu da nação, nunca se perguntou tanto, essa operação cotidiana do jornalista que o país incorporou ao seu cotidiano. Já vieram algumas pepitas misturadas ao cascalho, mas a sensação geral é de que tem mais caroço nesse angu. A pergunta, seja qual for, está certa. Continuemos. Dois anos depois de carregar a esperança ao poder, infelizmente temos apenas uma única e trágica resposta. Há bens que vêm pra males.’



Zuenir Ventura

‘As meninas do Jô’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 2/08/05

‘Elas são como as meninas do vôlei, as meninas do Jô – todas craques, que se revezam sem se saber qual é a melhor. Têm-se apresentado às quartas-feiras e, na semana passada, estavam lá, em torno do Gordo, Zileide Silva, Lúcia Hipólito, Lílian Witte Fibe e Ana Maria Tahan. Na quarta anterior, havia ainda Cristiana Lobo e Tereza Cruvinel, entre outras. Elas fazem hoje o mais instrutivo e divertido programa político da televisão brasileira. Depois da CPI, claro. Mas neste costuma haver baixaria.

Cada uma com seu estilo. Zileide é uma bem informada repórter da televisão, mas discreta e econômica em seus comentários. Sabe mais do que diz. Lúcia tem um olhar teórico, mas também prático. É íntima da história, da mesma maneira que acompanha o dia-a-dia político. Lílian, que já apresentou o ‘Jornal Nacional’ e o ‘Jornal da Globo’, hoje tem seu próprio programa. Quando resolveu deixar a televisão, Luis Fernando Verissimo e eu pensamos em endereçar-lhe um abaixo-assinado pedindo para ficar. Além da política, conhece economia como poucos. Com Ana Maria, tive o privilégio de trabalhar no ‘JB’ e na ‘Época’. É uma fera na rede, ou melhor, na redação. Cristiana desmistifica a política com a naturalidade e o humor de quem comenta um jantar social. Tereza, bom, essa, se deixarem, fala o tempo todo. É tão ágil de raciocínio quanto fluente de palavra.

Não adianta procurar aqui algum defeito para alguma delas, porque não encontrarão: sou fã igualmente de todas e, se fosse o Jô, nunca mais levava jornalista marmanjo para falar de política. Se alguém quiser saber quem é a Paula Pequeno, não me pergunte porque consegui um habeas corpus me garantindo o direito de não dizer nada que me comprometa.

Elas tricotam, fofocam, se atropelam falando às vezes ao mesmo tempo e se autodebocham, não se levando muito a sério. Não queria estar no lugar do Jô. Não deve ser fácil mediá-las, porque nem sempre atendem à ordem de ‘uma de cada vez’. Nos momentos de insubordinação, lembram pelo alarido o recreio de um colégio interno de freiras. Disciplinadas, bem comportadas e até solenes em seus habituais comentários e colunas, aproveitam a informalidade e a descontração do programa do Gordo para se soltarem.

Sei que posso ser mal compreendido. Em tempos de politicamente correto, qualquer elogio à inteligência feminina corre o risco de ser tachado de machismo. Outro dia mesmo vi na CPI um deputado recriminando o colega que se surpreendera favoravelmente com o depoimento da mulher do Marcos Valério: ‘Isso é porque V. Excia. subestima a inteligência feminina’. Pois digam o que disserem, acho que se a política tivesse a cara delas, a graça, a inteligência e a sensibilidade, seria um tema bem mais agradável e popular.

Aliás, um dos aspectos positivos da crise atual é levar o debate político para as ruas e os bares. Assiste-se às sessões da CPI e discute-se o desempenho dos participantes com o interesse de quem vê um espetáculo como o futebol, por exemplo. Isso não basta para uma sociedade se politizar, mas como o interesse é o começo de qualquer aprendizado, pessoas interessantes falando para todo mundo entender têm papel pedagógico. Funcionam como o que na minha época se chamava de curso propedêutico, ou seja, de introdução. É isso aí: além do mais, as meninas do Jô são propedêuticas.’



Pedro Dória

‘A terceira geração da blogosfera’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 06/08/05

‘A blogosfera brasileira chegou a sua terceira geração – e ficou melhor. O primeiro sinal, mais que comentado, veio quando o blog do jornalista Ricardo Noblat foi citado pelo deputado Roberto Jefferson em seu primeiro depoimento à Comissão de Ética da Câmara. Era só sintoma. A mostra de que blogs transformaram-se em fonte essencial de informação se deu nesta última semana, quando pelo menos um político importante, o prefeito carioca Cesar Maia, lançou mão do seu.

Nos EUA o movimento foi semelhante. Primeiro veio a turma de informática, gente que sabe ler código de computador como quem lê quadrinhos, e inventou os blogs como maneira de apresentar aos amigos as páginas que vinha acessando. Então veio a segunda leva, com os adolescentes e uns tantos adultos que transformaram o serviço em diário do cotidiano.

A terceira geração, de blogs informativos, surgiu aos poucos – havia os especializados em informática, claro, mas então vieram blogs para profissionais de arqueologia, economia – não há na blogosfera que fala inglês um assunto ao qual alguém não tenha dedicado um blog. Mas só é possível falar de uma terceira geração a partir dos preparativos para a Guerra do Iraque. É quando surgiram blogueiros, gente comum, fuçando informação, cruzando dados, cobrindo por vezes melhor que a imprensa o lento avanço até o estouro da guerra e, depois, até a tomada de Bagdá.

Na guerra, houve o susto dos veículos tradicionais com a nova concorrência. Um ano depois, ao longo do processo eleitoral que reencaminhou George W. Bush à Casa Branca, aqueles que se destacaram falando sobre a guerra se profissionalizaram, alguns fizeram dinheiro e vivem disso. Os blogueiros da política divididos nos campos ideológicos, da esquerda à direita, terminam sendo procurados por deputados que querem divulgar um discurso aqui, uma votação importante ali. São a maneira mais eficiente, lá, de travar contato com os eleitores com filtros mínimos.

Também no Brasil foi assim, primeiro a turma que já se sentia confortável na Internet fazia muitos anos, então a trupe dos diários e, aqui e ali, alguém preocupado em informar. A nossa Guerra do Iraque é a Comissão de Ética da Câmara e a CPMI dos Correios. O primeiro em evidência foi Ricardo Noblat. Ele mistura a transcrição do principal noticiário de vários jornais (não gosta muito de links, copia e cola), com a colaboração de gente ligada ao ramo e informação exclusiva sua.

Noblat não está nem de longe sozinho. O colunista Jorge Bastos Moreno, de ‘O Globo’, faz o mesmo, uma análise aqui, informação de bastidores ali. Seu blog é tão indispensável quanto o do colega mais manjado. Não são os únicos jornalistas: repórter e colunista do ‘Valor’, tarimbado nas coisas de Brasília, Sérgio Léo é um terceiro que complementa a notícia com o olhar de quem conhece como política e imprensa se entrelaçam.

Mas o blog de Cesar Maia faz particular diferença. Porque é natural que jornalistas, que já estão no negócio de informar, busquem a blogosfera. Quando um político o faz – e Cesar bloga a sério, escreve com freqüência – é porque parte do princípio de que será lido por quem lhe interessa. Um blog permite ao político lidar direto com o eleitor sem o intermédio de um jornalista.

Neste momento em que há um punhado de blogs acompanhando e interpretando o escândalo de corrupção que varre a pátria, as coisas se misturam um pouco e volta a questão – blog é jornalismo ou não? Mais que nunca, a reposta é: depende. Não do blog mas de qual a definição de jornalismo. Em boa parte de sua existência moderna, do século 18 para cá, o jornalismo foi partidário e, muitas vezes, panfletário. É um conceito recente, e não de todo praticado, o jornalismo imparcial.

Ao mesmo tempo, os leitores não estão habituados a se informar direto com os políticos a respeito da política. Isto é ruim. Mas é bom que se acostumem. Quando um político como Cesar passa a escrever direto para quem quiser lê-lo, ele tem intenções distintas das de um repórter. Prefeito carioca no terceiro mandato, vice-presidente nacional do PFL e pai do líder do partido na Câmara, Cesar tem suas próprias ambições políticas. O jogo ainda está aberto: pode ser candidato à presidência, juntar-se a uma chapa como vice ou disputar o governo do Estado. Se não sobrar nada, talvez lhe caiba uma cadeira no Senado.

Quando Cesar analisa a CPMI, portanto, está dando não apenas sua visão pessoal do que ocorre, mas principalmente a versão que espera colar. Ele é esperto. Enquanto faz pouco da juíza Denise Frossard, uma deputada com quem pode vir a concorrer na política local, não se incomoda de apontar o crescimento político da senadora Heloísa Helena, com quem jamais disputará votos, mesmo que ambos calhem de estar na mesma eleição. É natural: quem vota num, não vota no outro, e vice-versa.

A existência do blog de um político como Cesar é para celebrar. Quer dizer que, como veículo, a Internet ficou importante o suficiente e já tem gente querendo se informar por ela. É fonte para saber o que se passa na cabeça de um político e, principalmente, de um grupo político. Taí a terceira geração da blogosfera.’