Tuesday, 16 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Luiz Carlos Merten

‘Há três semanas, houve o que os americanos chamam de ‘red carpet’ de Dark Water em Nova York. O filme de Walter Salles, que vai se chamar Água Escura no Brasil, estréia no mês que vem no País. Nos EUA, no fim de semana de estréia, ficou atrás somente dos blockbusters do verão na bilheteria. Salles tem motivos para comemorar. Fez o filme que queria e teve êxito, mas ele ainda não quer falar sobre Água Escura. Promete falar bastante quando estiver mais próximo da estréia. Em Berlim, em fevereiro, já havia confidenciado o que o repórter do Estado pôde conferir depois – mais do que um remake do terror japonês, o filme filia-se à vertente do terror psicológico de Roman Polanski em Repulsa ao Sexo.

Salles pisou no tapete vermelho, na pré-estréia nova-iorquina de Água Escura, mas não ficou para as entrevistas que a distribuidora Buena Vista promoveu, a seguir. Do cinema, naquela noite, ele voou para Paris, onde co-dirige, com Daniela Thomas, um episódio para o filme coletivo Paris Je t’Aime. E foi da capital francesa, por e-mail, que Salles respondeu às perguntas do repórter do Estado. A primeira, você vai ver, refere-se a outro projeto parecido. Nos anos 1960, diretores e críticos franceses foram convidados a dar sua visão de Paris. O filme, produzido por Barbet Schroeder e Patrick Bauchau, chamava-se justamente Paris Vu par… (Paris Vista por…) e os episódios eram assinados por Jean Douchet, Jean Rouch, Jean-Daniel Poullet, Éric Rohmer, Jean-Luc Godard e Claude Chabrol.

Cada um teve inteira liberdade para fazer o que queria. Douchet filmou uma anedota sobre sexo entre estudantes em Saint Germain-des-Près. Godard mostrou uma mulher que tinha dois amantes em Montparnasse Levallois. Rouch contou, com rigor etnográfico, a tragédia de um suicida em Gare du Nord. E Chabrol assinou o mais virulento dos esquetes, La Muette, sobre garota que tapa os ouvidos para não ouvir as brigas dos pais e termina perdendo o som desesperado que a mãe, transtornada, emite ao cair da sacada. O novo Paris Vu par…, agora Paris Je t’Aime, reúne diretores de vários países e tendências. Salles e Daniela Thomas são os únicos brasileiros na lista de 20 e o filme no qual trabalham não se liga aos eventos que marcam o ano do Brasil na França.

Você sabia da existência do filme antigo? E chegou a assistir a Paris Vista por…?

Sim, sabia da existência do filme, mas nunca cheguei a vê-lo. Por coincidência, Emmanuel Benbihy, que é o produtor de Paris Je t’Aime, conseguiu um vídeo do filme antigo e ficou de me enviar.

Como surgiu a idéia de Paris Je t’Aime? De quem é a produção?

Por ser um produtor jovem, que está começando, Emmanuel levou mais de quatro anos para conseguir levar o projeto adiante. Pelo que nos contou, ele estava interessado em convidar diretores de diferentes latitudes desde o início, para propor uma visão polifônica.

Que lugar (ou recorte) de Paris vocês escolheram? Ou o projeto já veio direcionado, com o tema fechado?

Como fomos convidados bem no início do processo, Daniela e eu tivemos total liberdade de escolha, a começar pela escolha do bairro. O único que já estava tomado era a Bastilha, pelo Godard, que também esteve no projeto Paris Visto por… Escolhemos um bairro chamado Belleville, pelo fato de ser um ponto de encontro (e de colisão) de imigrantes que vêm da Ásia, da África e da América Latina.

Como vocês desenvolveram o roteiro?

A quatro mãos. Partimos da idéia de falar de desterritorialização, mas também de cinema .

Filmaram em digital ou película?

Todos os filmes serão rodados em 35 mm, mas o nosso tem cenas que foram filmadas em Super-8. Já rodamos algumas tomadas em Super-8 no cemitério Père Lachaise, ao redor do túmulo de Jim Morrison. A segunda parte da filmagem será realizada em setembro.

Quem está no elenco?

Trabalhamos com vários não-atores que moram em Belleville, mas o Gael (García Bernal) e José Laplaine, de Terra Estrangeira, também estão no elenco.

Para quando, o lançamento?

No início do ano que vem, com estréia em um dos grandes festivais europeus que se realizam no primeiro semestre.

Paris é uma referência cultural e histórica forte na vida brasileira, mas hoje a garotada está americanizada e prefere Nova York e a Disney e o inglês ao francês. Qual é a sua relação com Paris?

Morei na França dos 6 aos 13 anos e, para falar a verdade, não gostava daquilo. Tinha saudades do Brasil, me sentia deslocado e a sala de cinema acabou virando uma tábua de salvação, um refúgio. Foi quando eu descobri o neo-realismo italiano, a nouvelle vague, o Wenders e os primeiros filmes do novo cinema alemão. Foi por essa relação com o descobrir cinema, aliás, que eu resolvi participar da série. Há pouco tempo, tinha recebido um convite para participar do filme sobre o 11 de setembro de 2001. Naquele momento, preferi recusar, por achar que ainda não havia suficiente recuo histórico para olhar aquele evento com a necessária verticalidade.

Qual é a sua Paris? A boêmia, a intelectual?

É a dos anos 60, marcada pela efervescência estudantil e por Maio de 68, que revi, recentemente, nos documentários reeditados de William Klein. E, finalmente, a cidade dos anos 70, menos turbulenta e também menos interessante do que a da década anterior.

E a trilha é de música francesa?

Não… Ninguém vai falar francês neste curta que ainda estamos preparando.’



$$$ NA TELONA
Fabiana Ribeiro

‘Mídia de cinema gira R$ 150 milhões’, copyright O Globo, 18/7/05

‘Filme, pipoca e propaganda. Uma combinação que, nos últimos anos, tem agradado às empresas que apostam no poder da publicidade no cinema. E já não são poucas. Na lista, clientes gigantes como TIM, Oi, Unibanco, Sadia, Telemar e Petrobras — e pequenos como a franquia de comida italiana Spoleto — que fizeram o segmento movimentar, em 2004, R$ 150 milhões, segundo estimativas da Associação dos Profissionais de Propaganda (APP).

É no escurinho do cinema que a Kinomaxx, que presta serviço de publicidade para Cinemark e UCI, assiste ao aumento de 20% dos ganhos com essa mídia no primeiro semestre deste ano, em comparação com o mesmo período de 2004.

— Houve um salto de qualidade nas salas de projeção brasileiras, no que diz respeito a imagem e som. Isso estimula as empresas a olharem mais para a mídia — disse Marcelo Silveira, diretor da Kinomaxx.

Cinema digital reduz custos e atrai mais anunciantes

Para André Porto Alegre, presidente da APP e diretor geral da Promocine, responsável pela publicidade do Grupo Severiano Ribeiro, esse ‘salto de qualidade’ se traduz em cinema digital, que traz redução de custo na produção para o cinema. Para adaptar o comercial da televisão para o cinema, explicou ele, há um custo de ao menos R$ 5 mil. Salas novas, no entanto, não exigem esse investimento.

— Menos gastos, mais anunciantes — disse Porto Alegre.

A regra, porém, não vale para o custo da veiculação. Os 30 segundos de propaganda ao longo de uma semana não custam mais os R$ 1.500 de cinco anos atrás. Valem R$ 2.500 — um aumento de 66%. Ainda assim a mídia no cinema continua barata quando comparada à da televisão.

— É mais barato porque seu poder de alcance é menor. Uma semana no Cine Leblon, por exemplo, atinge, em média, 10 mil pessoas. Só que o cinema tem um poder de impacto: ele fala diretamente com seu público — explica Porto Alegre.

O publicitário André Lima, da agência NBS, concorda. Na sala de cinema, é possível notar as reações do consumidor.

— O cinema é uma enorme sala de pesquisa. Principalmente quando se trata de jovens. E isso permite criar campanhas específicas — disse Lima, que já produziu várias peças para o cinema.

Propaganda só aparece em 10% das salas de cinema

A abertura de novas salas — como a Arteplex em Botafogo — e o lançamento de filmes nacionais também contribuem para o aumento de anunciantes de peso. Que hoje são principalmente empresas de telefonia, e bancos. Mas, alerta Flávio Conti, diretor-geral da DPZ, essa mídia não é para qualquer produto:

— Cinema não é para vender produtos de limpeza. É para vender imagem. E o interesse aumenta porque não há risco de o expectador mudar de canal.

Porto Alegre acrescenta que ainda há espaço para essa mídia crescer. Das atuais 1.997 salas de cinema no Brasil, apenas 10% delas veiculam propaganda antes dos filmes.’



CINE BR EM NY
O Globo

‘‘Doutores da alegria’ vence festival em NY’, copyright O Globo, 18/7/05

‘Encerrou anteontem, em Nova York, a terceira edição do Brazilian Film Festival, que contou com exibições no Tribeca Cinemas. O festival é uma versão do que acontece em Miami há nove edições e que este ano teve como vencedor ‘A dona da história’. Na edição de Nova York, quem venceu foi o documentário ‘Doutores da alegria’, de Mara Mourão

Entre os 15 filmes apresentados este ano no Tribeca Cinemas, constaram ‘Redentor’, de Claudio Torres; ‘Feminices’, de Domingos de Oliveira; e ‘Meu tio matou um cara’, de Jorge Furtado. Alguns são inéditos no Brasil, como ‘O vestido de noiva’, de Joffre Rodrigues (filho de Nelson); ‘Doutores da alegria’; ‘Cafundó’, de Paulo Betti e Clóvis Bueno; e ‘O cinema é meu jardim’, de Sérgio Rezende. A maioria dos diretores ou envolvidos com os filmes prestigiaram o evento, que tem patrocínio da Petrobras.

Filme registra trabalho de palhaços em hospitais

No festival, os filmes concorrem a um único prêmio: o de melhor filme segundo o público. ‘Doutores da alegria’, que levou o prêmio Lente de Cristal em Nova York, registra o trabalho do grupo homônimo de palhaços junto a crianças hospitalizadas em todo o Brasil, assim como faz o médico americano Patch Adams, que já foi biografado num filme com Robin Williams.

—- Trouxemos para o festival profissionais da indústria audiovisual americana e criamos oportunidades de negócios para o Brasil. Este festival tem como principais objetivos promover um intercâmbio cultural, fortalecer a formação de novas platéias e dar visibilidade à cultura brasileira nos Estados Unidos — disse a diretora-geral do festival, Adriana Dutra.’