Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Manuel da Costa Pinto

‘‘Não bastam a lógica e a moral para enfrentar com eficácia o absurdo e as aberrações da comunicação? Por que estas se mostram tão indefesas e despreparadas diante da agressão ‘massmidiática’? Por que a comunicação conseguiu obscurecer as mentes e extinguir as consciências? O que fez para herdar todos os poderes da religião, da política e da economia a ponto de corroer suas bases?’

Essas perguntas aparecem em ‘Contro la Comunicazione’, de Mario Perniola, lançado há pouco na Itália. Com um título publicado no Brasil (‘Pensando o Ritual’) e outro a ser lançado em breve (‘O Sex Appeal do Inorgânico’) -ambos pela Stúdio Nobel-, Perniola é um dos mais agudos pensadores de seu país.

O livro tem o tom de um panfleto. Seu alvo é a sociedade midiática, invadida pela ‘comunicação’, vista aqui como discurso homogeneizador em que tudo é reduzido à aparição pura, à dissolvição de qualquer conteúdo vital ou reflexivo na espetacularização e na performance.

Mas, à diferença da maior parte das catilinárias contra a pós-modernidade, normalmente associada às idéias de superficialidade e cinismo, Perniola vê na efetivação do transitório (representado pela estética) uma forma de resistência ao massacre do efetivo (a anexação de toda forma de existência à lógica segundo a qual ‘o que aparece é bom, o que é bom aparece’, nas palavras de Guy Debord em ‘A Sociedade do Espetáculo’).

A novidade de ‘Contro la Comunicazione’, portanto, está em não demonizar a tecnologia ou as novas modalidades do capitalismo que mercantilizam o saber e a produção artística. Para boa parte dos teóricos de esquerda, a ‘new economy’ surgida a partir dos anos 70 industrializou a cultura, transformando a ciência em ‘know-how’ e a criação em esfera de eficácia mercadológica.

Para Perniola, porém, a existência de um ‘capital intelectual’ aponta para uma ‘sociedade cognitiva’ em que cada indivíduo pode ser, potencialmente, sujeito de suas ações, criador de seu mundo. Nesse sentido, são justamente as modalidades ultrapassadas e predatórias de capitalismo que mobilizam o ‘despotismo comunicativo’ para aplainar toda possibilidade de expressão intelectual ou artística.

Há, obviamente, uma ambigüidade que percorre ‘Contro la Comunicazione’, pois o mesmo sistema que criou os instrumentos de emancipação do artista e do intelectual também engendra formas de cancelamento de sua ação no fluxo amorfo da comunicação -da qual Perniola nos dá um retrato um tanto abstrato.

Para ele, a comunicação difere das antigas ideologias (socialismo, liberalismo etc.) e das ‘sensologias’ (que apelam para mensagens afetivas). Um programa partidário, um manifesto ecológico ou uma peça publicitária guardam resquícios de realidade, podem ser contrastadas com o mundo concreto. Já a comunicação é o reino da performance populista, da recepção desenfreada e acrítica de informações contraditórias.

Se até mesmo a propaganda (normalmente vista como supra-sumo da mídia massificada) está aquém do poder dissolvente da ‘comunicação’, é porque Perniola vê nesta menos uma ‘superestrutura’ (no jargão marxista) do que uma espécie de ‘Zeitgeist’, um ‘espírito do tempo’ que aponta para a ‘abolição de toda distinção’.

Por isso boa parte do livro consiste numa genealogia do binômio ‘identidade e diferença’ desde Baudelaire, Nietzsche e Freud até Heidegger, Derrida e Lacan (cuja definição de psicose como ‘catástrofe da significação’ é usada por Perniola para descrever o ‘caos comunicativo’ como patologia).

Diante do poder ‘homologante’ da comunicação, porém, esses utensílios conceituais são impotentes para produzir diferença. Por isso a única saída possível é a estética, que pode estender sua ‘finalidade sem fim’, seu ‘interesse desinteressado’, às formas de convívio social. ‘Contro la Comunicazione’, enfim, começa em tom apocalíptico e termina com uma aposta otimista na ‘economia dos bens simbólicos’.

Manuel da Costa Pinto escreve quinzenalmente neste espaço’



MEMÓRIA / WALER POYARES
O Globo

‘Walter Poyares, professor, 89 anos’, copyright O Globo, 1/04/05

‘Com um currículo de encher os olhos, o jornalista e professor Walter Ramos Poyares teve contribuição significativa para o desenvolvimento da comunicação social no Brasil. Autor de oito livros e de inúmeros trabalhos ligados à área, fundou nos anos 50 o curso de comunicação social da Pontifícia Universidade Católica (PUC), além do ensino de relações públicas em nível superior, o primeiro do país.

Convidado em 1952 pelo jornalista Roberto Marinho para trabalhar com ele no GLOBO, Poyares implantou o primeiro departamento de relações públicas e promoções da imprensa brasileira. Foi responsável pela criação de eventos que se integraram à vida do país, como a campanha do Operário Padrão e a escolha dos cariocas honorários. Nos 50 anos em que trabalhou no GLOBO, o assessor da presidência manteve grande amizade com Roberto Marinho.

Poyares é responsável pelo costume brasileiro de comemorar o Dia dos Pais, que, nos quatro cantos do Brasil, reúne famílias no segundo domingo de agosto. Por sugestão de Poyares, a data, que já era festejada nos EUA, foi incorporada ao calendário brasileiro, há 50 anos. Fora do país, Poyares também teve destaque, sendo o primeiro jornalista brasileiro a discursar no parlamento inglês.

A vida de Poyares foi tema de teses acadêmicas. Em 2002, ele recebeu o título de professor honoris causa do curso de relações públicas da Faculdade de Comunicação do UniFIAM FAAM – Centro Universitário de São Paulo. Também trabalhou no mercado publicitário e atuou como consultor de empresas de grande porte, como H. Stern.

Walter Poyares deixou quatro filhos do primeiro casamento, quatro enteados no segundo, 13 netos e seis bisnetos. Aos 89 anos, morreu de falência múltipla dos órgãos. Será velado hoje na sala 1 do Memorial do Carmo, a partir das 8h30m. O sepultamento será às 14h, no Cemitério São Francisco Xavier, no Caju.’



MEMÓRIA / RÉGIS CARDOSO
O Estado de S. Paulo

‘Morre, no Rio, o diretor de TV Régis Cardoso’, copyright O Estado de S. Paulo, 4/04/05

‘O diretor de TV Régis Cardoso morreu ontem, aos 70 anos. Ele estava internado desde dezembro na Unidade Coronariana do Hospital Barra D Or, na Barra da Tijuca, no Rio. O estado de saúde do diretor, que teve um ataque cardíaco, foi agravado por uma pneumonia e um acidente vascular cerebral. Filho dos atores Norah Fontes e Dario Cardoso, ele dirigiu mais de 30 novelas no País e foi o primeiro brasileiro a comandar obras de teledramaturgia em Portugal, na rede RTP-1. Estreou em 1959, na TV Tupi, onde dirigiu, em 1964, O Direito de Nascer, marco da teledramaturgia nacional. Trabalhou na Globo desde que a emissora entrou no ar, em 1965, e comandou novelas como Eu Compro Essa Mulher Esta Mulher (66), O Bem Amado (73), Anjo Mau (76) e Estúpido Cupido (77).’