Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Marcelo Bartolomei

‘Estréia na próxima sexta-feira, dia 18, na Globo, a quarta e última temporada da série ‘Cidade dos Homens’, uma jornada que (quase) encerra um ciclo de retratos de descaso nas favelas cariocas -mas que se refletem em todo o país-, projeto que começou antes mesmo do sucesso de ‘Cidade de Deus’ e ainda gerará um filme no ano que vem.

Durante os três últimos anos, dois garotos provenientes das favelas retrataram na TV diversas situações reais dos morros cariocas. Darlan Cunha e Douglas Silva, Laranjinha e Acerola na ficção, respectivamente, viveram no período dois adolescentes ‘sangue bom’, que sobreviveram na favela tão perto e tão longe do tráfico e da criminalidade.

Mesmo recheada de cenas de ação e humor, ‘Cidade dos Homens’ reflete a mais séria crise de segurança no país, na visão de seus produtores e diretores.

Fernando Meirelles, 49, mentor do projeto na TV, diz estar desacreditado em relação ao futuro de crianças da favela. ‘Minha percepção é que em cinco anos tudo piorou muito. Antes, os ‘donos’ do morro eram pessoas nascidas ali e que tinham ligação com a comunidade. Hoje, as facções que controlam já não têm mais essa ligação. A vida nas comunidades piorou muito com isso’, disse o cineasta, por e-mail, à Folha.

Meirelles dirige o quinto episódio da nova temporada, que encerrará a série de uma maneira diferente: será uma mistura de documentário com desenho animado, criado pela dupla de cartunistas Os Gêmeos, conhecidos na grafitagem paulista, e vai falar sobre as percepções do futuro para os atores, não para os personagens. ‘É sobre o futuro dos atores, que agora vão ficar desempregados’, comenta o diretor.

‘Honestamente, se dependermos da eficiência de governos como os dois últimos que passaram [FHC e Lula], não há esperança nenhuma. E a solução existe: educação e distribuição de renda, se possível. Mas quem se interessa por isso? Nosso Congresso só pensa em ficar atacando uns aos outros para ganhar a ‘cenourinha’ do ano que vem. Parece piada. Já há uma geração perdida aí, sem volta. Tudo vai piorar muito mais ainda. Mas pode começar a melhorar daqui a uns 25 anos, se formos rápidos’, analisa o cineasta.

Paulo Morelli, 49, diretor do segundo episódio, compartilha da mesma opinião. Em ‘Tá Sobrando Mês’, o tema é a desigualdade de renda, o desemprego e o emprego informal. ‘Os meninos começam a trabalhar e têm responsabilidades, filho para criar. Daí, mesmo vivendo de bicos ou trabalhando com carteira assinada, o dinheiro é pouco para sobreviver. É bem dramático e tem um final triste’, diz o diretor, que no ano que vem filmará o longa-metragem da série (leia texto ao lado).

‘Decidimos voltar para o início da série, que era mais no estilo de crônica do que de história contínua. Cada episódio desta temporada será diferente’, conta Morelli, para quem a série se assemelha ‘a final de Copa do Mundo nas favelas, quando passa’.

Cada episódio tem um time de roteiristas e diretores diferentes. O primeiro, dirigido por Roberto Moreira e que abordará os conflitos armados nos morros e o mau atendimento na rede pública de saúde, terá muita ação.

No terceiro episódio, uma jovem de classe média sobe o morro para morar com o líder do tráfico local, história baseada num caso real, ocorrido no ano passado no Rio de Janeiro. Será dirigido por Adriano Goldman, que participou também de temporadas anteriores.

Já o quarto será um dos mais inusitados. Escrito pela equipe de redatores do ‘Casseta & Planeta’ e dirigido por Regina Casé, terá humor rasgado e colocará a dupla de atores em novos papéis.

O melhor ano da série em audiência foi o segundo, em 2003, quando obteve 33 pontos no Ibope com cinco episódios exibidos às terças-feiras. Em 2002, ano da estréia, foi exibido em quatro episódios numa só semana, de terça a sexta, e obteve 29 pontos de média no Ibope.

O seriado já foi vendido para mais de 50 países, e o ator Douglas Silva concorre, no próximo dia 21, ao International Emmy.’



AUTO-AJUDA NA TV
Nina Lemos e Bruno Yutaka Saito

‘Televisão vira prateleira de auto-ajuda’, copyright Folha de S. Paulo, 13/11/05

‘Se você não sabe como se comportar em um primeiro encontro, tudo bem, ‘Os Cupidos’ te ensinam a fazer isso. Caso esteja mal porque acabou recentemente um romance, assista a ‘A Volta por Cima’. E, se o problema for se livrar de algumas tralhas (nesse caso, lixo mesmo), escolha o ‘Chega de Bagunça’. Para ‘aprender’ a fazer tudo isso, basta prestar atenção à programação das TVs a cabo, que viraram uma prateleira de auto-ajuda. Hoje, existem cerca de 20 programas no ar que ensinam o telespectador a viver.

Na seção auto-ajuda da TV, existe remédio para emagrecer rapidamente, cuidar dos filhos, ser uma noiva elegante, decorar a casa, virar um homem sofisticado, aprender a se vestir e mais. Em todos os casos, ‘especialistas’, sejam eles babás, ‘estilistas descolados’, psicólogos ou nutricionistas, são convocados para ajudar quem não consegue executar tarefas muitas vezes prosaicas.

A maioria dos programas (veja destaques abaixo) é inglesa e norte-americana, como ‘Minha Casa, Sua Casa’ e ‘Esquadrão da Moda’ (ambos no People+Arts). Mas há também versões nacionais: o ‘Mais D’ (GNT) invade a casa de telespectadores sorteados para melhorá-las; já o ‘Missão MTV’ ajuda jovens a terem estilo.

Segundo a diretora do GNT, Letícia Muhana, a tendência segue um desejo do público: ‘Sempre houve um interesse especial da audiência por programas que abordem de forma prática e objetiva situações do dia-a-dia. A TV por assinatura tem como missão oferecer serviço ao assinante’.

Mas será que os telespectadores têm tantas dificuldades a ponto de precisar da ajuda da TV? De acordo com a psicanalista Diana Corso, a TV reflete um comportamento que vem de fora das telas. ‘Achamos que precisamos ser perfeitos, não acreditamos mais na nossa capacidade de tentar e errar. Quem vai educar os filhos sempre terá erros e acertos. Mas a sociedade pede perfeição’, diz Corso. A psicanalista vê um lado positivo na tendência televisiva. ‘Esses programas servem para percebermos que a grama do vizinho não é mais verde que a nossa, como imaginamos. É bom perceber que o vizinho também não sabe se vestir quando acorda e não sabe o que fazer com os filhos.’

Já o diretor de programação da MTV, Zico Goes, explica que entreter é o objetivo do ‘Missão’. ‘Nossa intenção é mais de entretenimento do que educativa. Pode até acontecer de alguém que esteja assistindo pensar: ‘Pô, que dica legal, vou usar essa roupa’ ou ‘Que bacana, vou colocar tal coisa no meu quarto’. Tem o serviço, que também indicamos, mas não é nossa intenção’, diz.

A tendência é vista com bons olhos pelo jornalista e diretor de TV Gabriel Priolli, presidente da ABTU (Associação Brasileira de Televisão Universitária): ‘Acho melhor que o telespectador seja informado sobre como jogar fora seu lixo do que ficar vendo lixo na TV -que vem sem embalagem. Vejo como um entretenimento saudável’. Mas não seria um exagero ensinar função tão prosaica? ‘Não. Temos que presumir que o nível de conhecimento desses telespectadores é baixo, mesmo que se trate de TV paga, visto supostamente pela elite. Temos, no Brasil, uma elite ignorante, que tem dinheiro, mas que não tem informações. O nível de conhecimento não é proporcional ao nível de riqueza.’ A cabeleireira Helaine Garcia, 32, fã de programas do estilo, concorda: ‘A nossa vida é muita correria, não temos tempo para aprender todas as coisas’.’



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‘‘Os programas e suas dicas me ajudam’’, copyright Folha de S. Paulo, 13/11/05

‘A cabeleireira e empresária Helaine Garcia, 32, não está muito preocupada em elucubrações teóricas sobre o didatismo exacerbado dos programas da TV paga. Com a vida corrida da cidade, ela não tem muito tempo para ficar pensando nisso e está mais interessada é na ação e na praticidade.

‘Acho esses programas bacanas porque todo mundo está tão enlouquecido que não tempo para buscar referências para fazer as coisas’, diz Garcia. ‘Corremos tanto que não temos mais quem nos ajude.’

Ela acha que sempre é tempo de aprender algo, mesmo quando chega em casa à noite, esgotada do trabalho. Como exemplo, cita a importância em sua vida de programas que ensinam a pintar a parede ou trocar o forro do sofá nesses momentos de cansaço.

‘O legal é que você chega em casa, cansada, liga a TV, assiste a um programa como esse e pensa: ‘Isso serve para mim’, afirma Garcia, que sempre pensa no futuro. ‘Acho legal prestar atenção e aprender, porque essas dicas podem ser úteis para mim em algum momento de minha vida.’

A cabeleireira vai mais longe na sua análise prática: ‘A mulher hoje tem tão pouco tempo que aproveita qualquer informação que aparece, rapidinho, entre o intervalo de uma tarefa e outra’.’



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‘‘Televisão não ensina ninguém a viver’’, copyright Folha de S. Paulo, 13/11/05

‘Entre os telespectadores da TV paga, há quem se assuste com o excesso de didatismo de certos programas e se sinta tratado como um incapaz.

‘Não é possível que uma pessoa precise de um programa de TV para aprender a dar um tapa no filho ou fazer sexo. Se alguém chegou a esse ponto, é porque não olhou para o lado, para a família ou para os amigos’, diz Chris Campos, criadora de um site de decoração. Apesar de gostar de algumas das dicas, ela acha ‘melhor ir arrumar a gaveta de uma vez do que ver um programa que ensina a arrumar a gaveta e perder tempo com isso’. Campos assiste aos programas, mas não os leva a sério. ‘É só entretenimento.’

A psicanalista Diana Corso vê nessa onda de atrações um culto ao ‘sabe-tudo’. ‘Existe a tendência do especialista em nossa época, inclusive porque nossos pais não nos ensinaram certas coisas que acharam sem serventia. E nós nos sentimos na obrigação de fazer melhor do que eles’, afirma Corso.

Campos concorda: ‘Antes, as mulheres aprendiam a cuidar da casa e dos filhos vendo a maneira como suas mães e avós faziam’. Por fim, ela vai mais além. ‘Algumas das dicas são até legais. Mas você não pode achar que a TV vai te ensinar a viver.’’



TV CULTURA
Daniel Castro

‘Cultura faz revista virar programa jovem’, copyright Folha de S. Paulo, 12/11/05

‘A TV Cultura e o Grupo Abril fecharam uma nova parceria que irá transformar revistas em programas de TV. Serão cinco programas semanais, com previsão de estréia em janeiro, entre 18h30 e 19h, todos dirigidos ao público jovem _a principal deficiência da programação da Cultura, segundo pesquisa do Datafolha.

Os títulos que ganharão versão televisiva são a relançada musical ‘Bizz’ (na TV, ‘Estação Bizz’, às segundas), a adolescente feminina ‘Capricho’ (‘NoCapricho’, terças), a ‘Mundo Estranho’ (quartas, para garotos curiosos), a ‘Superinteressante’ (quintas) e a ‘Flashback’ (sexta, revista mensal sobre ícones do passado, que na TV terá bastante enfoque nos anos 80, na moda atualmente.

A produção dos programas ficará a cargo da Cultura. As revistas da Abril fornecerão conteúdo informativo. Nesta semana, a Cultura e Abril lançaram juntas no mercado publicitário um plano comercial do projeto, que leva o título de ‘Faixa Jovem’.

São quatro cotas de patrocínio ‘cross media’ _quem anuncia na Cultura também veicula nas revistas e sites da Abril. Ao todo, cada cota custa R$ 665.655.

Segundo Cícero Feltrin, diretor de marketing da Cultura, a prioridade da captação é pagar os custos de produção. A receita líquida será dividida em partes iguais pelas duas empresas. No ano passado, Cultura e Abril acertaram parceria, mas o acordo foi desfeito.

OUTRO CANAL

Troca A Record contratou nesta semana o narrador Éder Luiz, que estava na Band. A Band já deu o troco. Pegou de volta Luciano do Valle, que reestréia em janeiro. Valle vai transmitir a Copa pelo canal pago BandSports, terá um programa sobre o Mundial na Band e transmitirá Fórmula Indy e campeonatos de futebol europeus.

Trave A eliminação de Corinthians, Fluminense e Internacional da Copa Sul-Americana causou um rombo na grade da Globo. A última rodada às quartas-feiras do Campeonato Brasileiro será na próxima quarta, 16. Depois, a Globo não terá mais futebol nesse dia. Colocará filmes no lugar. A programação da Globo previa Sul-Americana em 23 e 30 (duas quartas) de novembro.

É campeão Desde o último dia 30, toda quarta e todo domingo a Globo só tem exibido jogos do Corinthians para São Paulo. Amanhã, mostra o clube contra o Coritiba e quarta que vem, contra o São Caetano. E deve transmitir também Corinthians x Inter, dia 20, mesmo o jogo sendo em São Paulo. Serão sete jogos consecutivos, o maior ‘monopólio’ de um time na TV nesta década (no mínimo).

Pique Silvio Santos anda animado com o ‘reality show’ ‘Casamento à Moda Antiga’ (tanto que gravará o programa na próxima terça, feriado). A atração estréia em dezembro. Ocupará a vaga da novela ‘Xica da Silva’ _que não será substituída por ‘Mandacaru’.’