Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Billi

‘O prefeito da pequena Itapagipe, interior de Minas Gerais, diz ter asfaltado grande número de ruas desde 2001, quando assumiu a administração do município. Os carros de som da campanha do agora candidato à reeleição circulam pela cidade, tocando para os cerca de 11 mil habitantes: ‘poeira, poeira, aqui não tem poeira’.

O refrão é só um pouquinho diferente do da música ‘Sorte Grande’, interpretada por Ivete Sangalo. A melodia, claro, é a mesma. A música, diz quem faz jingles para os candidatos, é provavelmente o hit das eleições 2004. Ora o ‘levanta poeira’ sai para ‘levantar’ algum aspecto da administração local. Ora sai a ‘poeira’ e entra o nome do candidato.

Jeitinho

O uso da música sem pagamento de direitos autorais é ilegal. Mas, fora dos grandes centros, onde a utilização chamaria a atenção de gravadoras e dos artistas, impera o jeitinho brasileiro, e cada candidato tem sua parodia de uma música de grande sucesso.

Jeitinho brasileiro porém moderno. A internet facilitou a vida dos candidatos. Não é necessário sequer um estúdio para fazer uma versão de ‘Sorte Grande’. Com apenas um computador e alguns programas para música é possível trocar Ivete Sangalo pela cantora ou cantor que exaltará as qualidades do candidato local.

Rápido, fácil e barato. Um jingle próprio, feito ‘sob medida’, pode custar de R$ 5.000 a R$ 20.000. É difícil calcular o custo de uma paródia quase caseira, mas produtores estimam que ele chegue no máximo a R$ 500, correndo risco de superestimar o preço.

No cardápio

Quem não quer infringir a lei de direitos autorais tem outras opções. Em poucas horas dá para entrar na internet, ouvir um cardápio de jingles já prontos, encomendar, pagar com cartão de crédito, trocar nomes do candidato e da cidade e sair tocando. Afinal, ‘São Paulo, São Paulo, é tempo de renovação’ e ‘Cubatão, Cubatão, é tempo de renovação’ valem para a oposição das duas cidades.

Marqueteiros e produtores, claro, desaconselham o uso de jingles padronizados. Seria mais ou menos como tentar vender a Nova Schin com o jingle novo da Brahma. Quase uma ofensa ao consumidor.

A diferença é que os ‘consumidores’ que os candidatos estão querendo convencer moram em cidades diferentes. É improvável que eles saibam que a música tocada lá é tema de campanha de dúzias de candidatos pelo Brasil inteiro. E, claro, os temas são os mais genéricos possíveis. Exaltam sempre a honestidade, a confiança, a capacidade de trabalho e liderança dos candidatos.

Pechincha

Também na internet há espaço para pechincha. É possível solicitar entrega rápida e economizar algum dinheiro encomendando vários jingles. A Musikcity (www.musikcity.mus.br) oferece um por R$ 1.300, dois por R$ 2.000 e três por R$ 2.500. O candidato pode escolher entre vários estilos, do axé ao hip hop, passando pelo rock e o samba.

Para os candidatos, resta então apenas escolher o estilo. Quem tem dinheiro tem também um séqüito de publicitários escolhendo letras e estilos, mensagens e tipo de divulgação mais adequadas à imagem que o candidato quer transmitir. Os demais apostam mesmo no que sugere o gosto popular. Vão de forró onde há quem goste de forró e de hip hop onde há quem é afinado com o rap.

Há, claro, quem tenha suas próprias preferências musicais. Como um candidato a vereador de Bebedouro, município de 76 mil habitantes do interior de São Paulo. Ligado ao movimento hip hop local, Newton Sader escolheu o ritmo para o jingle: ‘Vinte e cinco meia meia meia, se você não vota nele a coisa fica feia’. Por via das dúvidas, ele também tem um jingle cantado por dupla sertaneja que sempre o apoiou.

Quem faz um trabalho mais sofisticado para candidatos com cacife financeiro tem oportunidade de ganhar um bom dinheiro. Ricardo Garay, compositor e sócio da Jinga, de Porto Alegre, diz que em anos de campanha eleitoral o faturamento adicional corresponde a um mês de vendas. Ele fez jingles para as campanhas dos hoje governadores Germanno Riggoto (RS) e Aécio Neves (MG).

Mercado grande

A procura pelos serviços é imensa. O trabalho geralmente é feito pelas mesmas produtoras que criam os jingles que vendem sabão e eletrodomésticos. Em alguns casos, são montados estúdios temporários apenas para atender as campanhas políticas. Eles surgem e desaparecem com as eleições.

Quem não trabalha para as grandes campanhas tenta ganhar na escala, aproveitando– se de um mercado promissor: são milhares de candidatos concorrendo a 5.563 prefeituras e 51.796 vagas para vereadores. Com um computador e um site na internet é possível oferecer jingles a todos.

Conhecer um pouco os hábitos e gírias regionais ajuda. Em João Pessoa, os eleitores ouvem sem problemas o jingle, em ritmo de forró, do candidato do PT à prefeitura: ‘Eu vou Avenzoar, tu vais Avenzoar, ele vai Avenzoar, nós vamos Avenzoar’. O nome do candidato? José Avenzoar.

Sem zoeira

Um marqueteiro paulista alerta: pensaria duas vezes e pesquisaria um pouco antes de liberar o jingle para os paulistanos, que poderiam escutar algo como ‘Ah, vem zoar’. Explica– se: para parte dos paulistanos jovens, a gíria ‘zoar’ significa ‘caçoar’.

A regra, como na maior parte dos jingles publicitários, é usar temas alegres. Mesmo o hoje sério Henrique Meirelles, presidente do Banco Central e responsável pela política monetária brasileira, já teve o seu jingle. ‘Henrique Meirelles deputado federal, é Goiás arrebentando no cenário nacional’ tocavam os carros de som em ritmo acelerado de marchinha . Eleito em 2002, Meirelles abriu mão do cargo para tornar– se banqueiro central.

Em São Paulo, não falta dinheiro para que os três candidatos a prefeito mais bem colocados nas pesquisas de intenção de voto comprem jingles próprios. No site da campanha da prefeita Marta Suplicy (www.martaprefeita.com.br), é possível ouvir três versões diferentes de jingles. Paulo Maluf (www.maluf11.com.br) tem seis versões. O campeão é José Serra (www.serra45.org.br), que disponibiliza nada menos do que 13 versões diferentes de jingles no site da campanha. Para o segundo turno, mais uma fornada de jingles está em preparação.

Como em São Paulo, a disputa segue agitada em Itapagipe. Na última semana, os eleitores começaram a receber cartas anônimas sobre supostos casos extraconjugais de assessores de candidatos. Diz– se que ninguém acredita, porque em toda a eleição as cartas proliferam. O comentário é que a poeira realmente não incomoda tanto quanto no passado. Há mais asfalto. Há caminhões– pipa acabando com o pó onde o asfalto não chegou. E o carro de som tocando: ‘poeira, poeira, aqui não tem poeira’.’



Contardo Calligaris

‘Elogio das eleições’, copyright Folha de S. Paulo, 30/9/04

‘Em época de eleições, sempre ouço comentários sarcásticos: votar é participar de um processo idiota, em que um monte de sujeitos desinformados escolhem administradores e representantes segundo critérios que nada têm a ver com as questões e os valores em jogo.

Responder o quê? É um fato: em sua maioria, os eleitores são desinformados. Eis um exemplo americano (sem ufanismo: a situação no Brasil não deve ser melhor): o Program on International Policy Attitudes (programa que estuda as opiniões dos cidadãos sobre política internacional), da Universidade de Maryland, nos EUA, quis saber o que pensam os americanos em matéria de ajuda a países estrangeiros. Resultados: em 2002, a maioria dos americanos queria que os EUA gastassem US$ 1 em ajuda a países estrangeiros a cada US$ 3 destinados à defesa nacional. De fato, os EUA gastam US$ 1 em ajuda internacional a cada US$ 19 investidos na defesa.

Portanto você poderia imaginar que os ditos americanos quisessem gastar menos em armamentos e mais em ajuda internacional. Nada disso: em sua maioria, os ditos americanos pensavam que os EUA investiam demais em ajuda internacional. Como pode? Simples. Eles não conheciam as alocações orçamentárias: acreditavam que os EUA gastassem 24% de seu Orçamento em ajuda a países estrangeiros (um disparate; na realidade, a ajuda internacional absorve 1% do Orçamento dos EUA).

O que aconteceria na hora de esses cidadãos votarem? Aclamariam o candidato que prometesse diminuir a ajuda a países estrangeiros. No entanto, se conhecessem o tamanho real dessa ajuda, eles prefeririam aumentá– la.

Não me diga que esses sujeitos seriam informados graças ao debate entre partidos e candidatos. Sob a névoa das campanhas eleitorais, é provável que ninguém aprenda coisa alguma. Você, eleitor paulistano médio, depois de semanas de horário eleitoral, sabe mesmo quem começou as obras daquela estação de metrô que lhe interessa?

O eleitor desinformado, então, escolhe baseando– se em quê?

Nosso interlocutor desabusado dirá que o voto é efeito de marketing, de interesses privados imediatos e de simpatias irracionais. Nada a ver com a idéia do bem público. Ele concluirá: não seria melhor desistir da democracia e confiar o governo a quem sabe das coisas? (Detalhe: quem pensa assim, em geral, inclui– se na elite dos que sabem das coisas.)

Sem chegar a tanto, é banal considerar que o funcionamento democrático seria ‘dos males o menor’. Entende– se por quê: nossa cultura valoriza a consciência crítica dos indivíduos. As decisões coletivas nos parecem fadadas ao erro por serem paixões da massa manipulada ou médias estatísticas, consensos numéricos sem argumentação e sem complexidade.

Ora, acaba de sair um livro divertido, perfeito para uma época de eleições, ‘The Wisdom of Crowds’ (a sabedoria das multidões), de James Surowiecki. O livro é uma mina de exemplos, nos quais aparece que as coletividades chegam a decisões parecidas com as dos mais sábios. As experiências relatadas funcionam mais ou menos assim: reúne– se um grupo de sujeitos com grandes competências específicas para a solução de um problema. Para resolver o mesmo problema, reúne– se outro grupo de sujeitos com competências menores e muito menos específicas. Comparam– se os resultados. Misteriosamente, os resultados do segundo grupo (menos homogêneo e menos competente) são parecidos com os do primeiro (ou, então, são melhores). Não me pergunte por quê; o fato é que a diversidade dos sujeitos que compõem o segundo grupo parece valer tanto quanto a competência dos especialistas, se não mais. Os chutes e os palpites dos desinformados competem com as decisões argumentadas dos ‘experts’.

A misteriosa sabedoria das multidões não é o único argumento a favor da prática democrática. Há outro, talvez mais importante. Para introduzi– lo, uma anedota. Zombei de um amigo inglês, pelo fato de a Grã– Bretanha ser ‘ainda’ uma monarquia. Ele me respondeu que eu não entendia a beleza do sistema: a cada semana, o primeiro– ministro, homem inteligente e escolhido pelo voto popular, deve prestar conta a um rei ou a uma rainha ignaros, eventualmente arrogantes e escolhidos pela roleta genética. A humildade necessária para essa prestação de contas seria, segundo meu amigo, a suprema virtude democrática inglesa.

Adaptemos essa anedota ao funcionamento das eleições. Os que sabem das coisas (nós, não é?) devem tolerar que a escolha de representantes e governos esteja nas mãos de uma massa, da qual eles fazem parte, mas que lhes parece ser composta, em sua maioria, de sujeitos que decidem Deus sabe segundo qual critério.

O exercício democrático, nota Surowiecki em sua conclusão, é a ‘experiência de não ter tudo o que a gente quer. É a experiência de ver nossos opositores ganharem (…) e de aceitar essa situação’. Acrescento que é também a experiência de ser apenas um entre outros.

Nisso, as eleições são terapêuticas, pois não há cura para a dor de viver que não peça justamente que desistamos de considerar que somos extraordinários, onipotentes e únicos.’



Dayanne Mikevis

‘Na internet, candidatos ignoram eleitor’, copyright Folha de S. Paulo, 29/9/04

‘Neste ano, cresceu o número de candidatos que passaram a usar a internet em suas campanhas, mostrando na rede propostas e até buscando recursos. Mas é pequena a importância que dão aos internautas, a julgar pelo resultado de teste feito pela Folha.

No dia 15 de setembro, a reportagem perguntou como eleitor se o candidato já havia mudado de partido e quantas vezes via o item ‘Fale comigo’ ou semelhante. Apenas 5 dos 23 candidatos consultados responderam em 48 horas. Dois mandaram resposta depois desse prazo e 16 ignoraram a consulta. O teste envolveu os três principais aspirantes às prefeituras das dez capitais mais populosas.

O silêncio dos candidatos surpreendeu Rosângela Giembinsky, 48, da ONG Voto Consciente. ‘É ainda mais preocupante que não respondam em momento de campanha, porque depois vai ser pior.’ Mas ela ressalva que ‘não se tem o hábito de responder porque poucas pessoas cobram’.

‘Grande falha’

O professor Carlos Bottesi, 52, do Laboratório de Media e Tecnologias da Comunicação da Unicamp classificou como ‘uma grande falha’ deixar o eleitor internauta sem resposta.

‘O problema é que se faz site porque é bonitinho, e não porque é uma mídia para divulgar o programa de governo ou o candidato’, afirmou. Bottesi, que visita sites por razões profissionais e também usou a internet para conhecer melhor os candidatos de sua cidade, Campinas, diz que encontrou plano de governo apenas no site de um dos candidatos.

‘A internet é uma faca de dois gumes. Se o site não for bem utilizado, acaba virando contra o candidato.’ Ele disse que falta conhecimento a respeito das possibilidades do meio para uso na campanha eleitoral. ‘Hoje, é como se entregassem um santinho para você. Mas vai melhorar.’

O chefe do Departamento de Relações Públicas, Propaganda e Turismo da ECA/USP, professor Ivan Santo Barbosa, 53, também acredita em uma melhora no futuro, mas credita o desempenho decepcionante de interatividade à proximidade com as eleições, que leva os assessores a reforçar a estratégia do corpo– a– corpo. Barbosa também aponta ‘falta de cultura política em relação ao suporte’.

Alfabetização digital

‘O político tradicional não está alfabetizado digitalmente.’ Assim, na opinião do professor, são os assessores que devem pensar em uma estratégia, como uma equipe para responder os e– mails, mas devem tomar o cuidado de não querer filtrar todas as mensagens para que ele seja eficiente.

No imaginário político, afirma Barbosa, o eleitor que busca informação pela internet é o de classe alta e mais politizado, que estaria entre os 30% dos que são fiéis a alguma ideologia. O restante, diz ele, é influenciado por fatores como aparência e comportamento superficial do candidato.

Não são apenas políticos e assessores que derrapam no uso da rede. Barbosa também indica que ‘não caiu a ficha direito para os marqueteiros’ sobre as possibilidades on– line. Ele também ressalta que parte do telemarketing político poderia migrar para a internet, até por uma questão de custo.

Sobre o uso eleitoral futuro dessa mídia, Bottesi coloca que um melhor aproveitamento é necessário para aprimorar conhecimentos e aproveitar melhor a chegada da TV digital, cuja previsão de implementação no Brasil é em 2009.’



Daniela Name

‘NO AR: Adeus, meus amores, eu vou partir’, copyright O Globo, 01/10/04

‘Hoje os vereadores mandaram beijinho, beijinho e tchau, tchau da TV, igual à Xuxa. Eles fizeram a alegria da coluna durante todo o tempo em que estiveram no ar… Valeu, candidatos! Amanhã a gente promete os melhores momentos da galera bizarra espalhada pelo país. Agora, com vocês, a retrospectiva da nossa ‘Família Adams’ fluminense… E, por ‘Família Adams’, olha só o que uma candidata à Câmara mandou para a coluna… Só me resta imitar o Paulo Silvino no programa do Bittar: ‘Depois quem faz piada sou eu…’

Ninguém abala a Srta. Suely (Prona) neste título. Ela começou a campanha comportada, de rabo– de– cavalo e blusa fechada, adotou um decote generoso e um visual Mulher Aranha e fez suas últimas aparições com franja picotada e até chapinha! Tem gente que aposta que ela vai ser convidada para um ensaio no ‘Paparazzo’: ‘Veja aqui os segredos da urna de Srta. Suely’…

Paulo Cintura, ET garotão no sisudo PL, mostrou que ‘Saúde é o que interessa, o resto não tem pressa’. Viva a alegria dos anos 80! Issssssaaaaaaa!

MUSA OFF NO AR Zefa (PFL), a socialite emergente de São João de Meriti, aparecia com visual à la Almodóvar e um telefone de galinha emborrachada para o qual gritava suas promessas. Tuuuuuudo de bom!

FILHINHOS NO AR: Cristiane Brasil (PTB), Jefferson Reis (PMDB), Diogo Cuoco (PL) e André Luiz Filho (PMDB) apareceram no ar pedindo votos e pegando carona na fama de seus pais. Ai, ai, ai, crianças: é preciso ter vida própria!

ATORES NO AR: Claudio Cavalcanti (PFL) e Antonio Pitanga (PT) começaram com campanhas constrangedoras, você lembra? O primeiro chegou a cantar uma versão politicamente correta de ‘Atirei o pau no gato’ e a beijar um cachorro na boca. E terminava com a frase ‘É isso aí, bicho!’. Pitanga fez jogralzinho vergonhoso com um bando de crianças. Mas se recuperou e passou a levar para a TV convidados especiais, como o cartunista Ziraldo e a filha– atriz Camila Pitanga. A aparição de Martinho da Vila foi espontânea e chiquérrima! Volta pro cinema, Pitanga!

MARANHÃO NO AR: Ciça Guedes reparou: em São Luís, se houver 2 turno, ele será disputado por um Tadeu Palácio (PDT) e um João Castelo (PSDB). É ironia com o miserê de um dos estados mais pobres do país?

ARARUAMA NO AR: O leitor Luiz Carlos Ribeiro de Morais apresenta candidatos bizarros da cidade: ‘Há um com o apelido de Caroço e todos dizem que não votarão nele. Quem quer se candidatar, tem que ser árvore, e não Caroço. E outra tem o nome de Léa Peroca. Imagine como é chamada…’ Nem quero imaginar, Luiz!’