Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Marcelo Camacho

‘Em rota de fuga após seqüestrar o bebê de Isabel, a vilã Nazaré prepara-se para a maldade das maldades: jogar-se para a morte do alto da cachoeira de Paulo Afonso, no Rio São Francisco. Com o bebê no colo, naturalmente. Isabel – a filha postiça de Nazaré, também seqüestrada quando era bebê – implora para que ela não cometa essa loucura. E reconhece que Nazaré lhe deu, sim, amor de mãe. Comovida, a malvada entrega o bebê a Isabel e se atira do penhasco. Taí o que os 45 milhões de brasileiros que acompanham, hipnotizados, a novela ‘Senhora do Destino’ tanto queriam saber – como será a punição da pior vilã televisiva dos últimos tempos.

‘São seqüências muito difíceis’, diz Aguinaldo Silva, o autor da trama. ‘Depois disso, eu ainda havia imaginado uma cena, quilômetros adiante, na beira do Rio São Francisco, em que o telespectador veria os sapatos vermelhos de Nazaré sobre uma pedra e pegadas feminina na lama’, conta ele. A idéia de sugerir que a bandidona não morreu foi abandonada. ‘Minha inspiração para fazer a Nazaré sempre foi o gato Tom, do desenho ‘Tom & Jerry’. Ele sempre se dá mal, mas está sempre pronto para outra. Não dava, porém, para deixar a Nazaré viva. O público não toleraria tal impunidade’, continua Aguinaldo.

‘Senhora do Destino’, que chega ao fim no dia 11 de março, é a novela das oito de maior audiência da Rede Globo nos últimos dez anos. Tanto sucesso faz do pernambucano Aguinaldo Silva, 60 anos, o mais importante autor de novelas da atualidade. Homossexual assumido, ex-preso político, ex-militante gay, ele se declara um morador do Rio de Janeiro acuado pelo medo da violência. Trancado em sua mansão de dois andares num condomínio de luxo na Barra da Tijuca, de onde raramente sai, Aguinaldo surpreende quem conhece seu passado de esquerda. ‘Falta um Carlos Lacerda hoje em dia. Falta alguém que diga: ‘Não pode isso, isso e isso’. Por força das circunstâncias, fica até parecendo que virei conservador. Pago meus impostos e cumpro todas as leis. Por que é que vou compactuar com quem não faz o mesmo? Sou uma pessoa séria, não um conservador’, diz.

Na tarde da última segunda-feira, poucas horas depois de botar o ponto final em ‘Senhora do Destino’, Aguinaldo Silva recebeu NoMínimo para a seguinte entrevista.

Quem é, hoje, o melhor autor de novelas da Globo? Você?

Essa é uma pergunta terrível. Porque se eu disser que não estou, neste momento, preocupado em ser o melhor, estarei sendo hipócrita. Quando resolvi escrever ‘Senhora do Destino’, queria algo que me deixasse feliz. Ou seja, uma ótima novela, um trabalho que apresentasse inovações do ponto de vista de roteiro e de estilo. E foi o que consegui fazer. Não diria que sou o melhor autor, eu estou o melhor autor. É claro que o próximo pode se sair bem melhor que eu, mas, neste momento, essa é, sim, a melhor novela dos últimos dez anos.

Que inovações de roteiro ‘Senhora do Destino’ apresentou?

As outras novelas têm um começo emocionante, depois toda uma trajetória em velocidade de cruzeiro, e, nas últimas três semanas, voltam a ser emocionantes. Essa novela foi emocionante do começo ao fim. Aconteceram várias novelas dentro de ‘Senhora do Destino’. Pensei em cada capítulo da trama como se fosse o penúltimo, que é sempre mais emocionante que o último. Isso só aconteceu porque me preparei muito antes de começar a escrever. Só a primeira temporada de ‘Os Sopranos’, eu vi mais de 20 vezes. Acho aquilo perfeito, genial, redondo, completo. É uma lição de roteiro, de contemporaneidade, de como se pode tratar de qualquer assunto na TV. Também vi muitos filmes, li muitos livros. Foi uma preparação intensa.

Os autores de novela não costumam fazer essa preparação?

Não. Eu mesmo não fazia. Nós, os autores mais antigos, os chamados dinossauros, criamos uma coisa que chamamos de estilo, mas que, na verdade, são vários truques e muletas que usamos para contar sempre a mesma história, apenas com algumas variações. A verdade é essa. Lá vem a novela do Aguinaldo Silva, a do Benedito Ruy Barbosa, a do Gilberto Braga. Você reconhece na hora, porque os truques são sempre os mesmos. Eu fazia isso, mas era algo que, nos últimos tempos, me deixava profundamente insatisfeito. Eu ligava o piloto automático e fazia a mesma porcaria de sempre. Já tinha até pensado em parar de escrever novelas por causa disso… Para fazer ‘Senhora do Destino’, precisei rever as minhas técnicas de fazer televisão. E tratei de esquecer todas elas. Tudo que pudesse lembrar uma novela de Aguinaldo Silva, eu descartava imediatamente.

Por exemplo?

O realismo mágico, que era uma característica minha, foi totalmente descartado. Eu costumava reunir todos os personagens numa única cidadezinha, mas isso acabou. Também evitei certos vícios de linguagem meus, como alguns cortes de cenas, encadeamentos de seqüências. Por fim, tentei não fazer um roteiro de novela, mas um roteiro mais cinematográfico, na medida do possível. Acho que funcionou.

Esse vai ser o seu estilo a partir de agora?

Não sei como vai ser minha próxima novela. Mas posso afirmar que o realismo mágico é uma coisa totalmente superada. Outro dia, peguei na estante o ‘Cem Anos de Solidão’, do Gabriel García Márquez, que eu li em 1970. Na época, achei uma obra-prima. Pois agora, mais de 30 anos depois, comecei a reler o livro e achei tudo um saco, uma coisa falsa, idiota, infantil. O realismo mágico está ultrapassado. A realidade já ficou tão intensa, tão avassaladora, que ela mesma se tornou mágica. Viver a vida real é que é mágico.

Em 1987, na época em que escrevia ‘O Outro’, você freqüentava um forró em São Conrado para ouvir o que as empregadas domésticas e os operários da construção civil falavam sobre a novela. Eram essas as opiniões que lhe interessavam. Você ainda faz isso?

Faço. Nunca deixei de manter contato com o público que realmente me interessa, que é esse público apaixonado por novela. Hoje, porém, como o Rio de Janeiro virou uma Bagdá, eu me tranquei dentro de casa. Fiz um QG para mim. Se alguém tentar entrar aqui, o sistema de segurança é tão eficiente que, em instantes, chega todo o exército de Israel. Mas tem um supermercado aqui do lado, com uma entrada exclusiva para o condomínio. Então, vou lá todos os dias, inclusive para fazer compras. Os empacotadores e as caixas sempre me param, falam da novela, fazem comentários. Sou a figura mais conhecida de lá.

É para essas pessoas que você escreve suas novelas?

É, é para o brasileiro. As pessoas das classes mais favorecidas conseguem manter um certo distanciamento diante da novela. Já as pessoas das classes menos favorecidas se entregam totalmente. Acontece com elas o que acontece comigo na hora de escrever. Eu me entrego. Para mim, o mundo real passa a ser a novela. E para parte do público também. Hoje, a minha empregada, que é pentecostal, falou assim do Naldo (o prefeito corrupto vivido por Eduardo Moscovis em ‘Senhora do Destino’): ‘Seu Aguinaldo, aquele Naldo é um filho da puta!’ E ela é pentecostal! O envolvimento é muito grande.

Quem é o brasileiro, na sua opinião?

O brasileiro é essa criatura média, são esses 45 milhões de pessoas que assistem à novela todo dia. O brasileiro é a Maria do Carmo (personagem de Suzana Vieira em ‘Senhora do Destino’). É aquela senhora que trabalha, que é matriarca, que controla a família inteira, que é autoritária, mas que, ao mesmo tempo, tem um coração de ouro, cuida dos filhos, ajuda os vizinhos. É uma pessoa que é solidária, que rala, que é extrovertida, que quer agradar o outro. Esse é o brasileiro. Seguramente, o brasileiro não era o Paulo Francis, que era europeu, e também não é o Arnaldo Jabor, que é árabe.

Você acredita que o melhor do Brasil é mesmo o brasileiro, como diz a campanha do governo federal?

Acho que vale a pena acreditar nisso, já que a gente não tem outra saída, senão ser brasileiro. O que não adianta é ter esse espírito altamente negativo que muitas pessoas têm, no sentido de reclamar que aqui é o fim do mundo, que aqui é uma droga. Ora, vá fazer alguma coisa, em vez de ficar se lamentando.

O Brasil tem jeito?

Estava lendo uma matéria da ‘Veja’ sobre como a mudança do sistema educacional transformou a Coréia do Sul. Acho que esse é o único jeito para qualquer país, a educação. O brasileiro tem um espírito de competitividade muito alto, mas é algo inteiramente voltado para coisas inúteis. Até o surfista brasileiro preso com drogas na Indonésia era o melhor do mundo! Se a gente conseguisse canalizar essa competitividade para a educação, como os coreanos fizeram, seria uma coisa fantástica. Mas não, o brasileiro comemora o fato de o casamento do Ronaldo no castelo de Chantilly ter sido o mais caro de todos os tempos… Isso interessa a quem? E nem casamento foi! A única bênção que eles receberam foi a da mídia.

Esse tipo de Brasil que adora celebridades não lhe interessa?

Não mesmo. E, na verdade, esse tipo de Brasil é imposto às pessoas. E aí, a gente entra num assunto muito delicado, que é a responsabilidade da mídia. Existe uma preocupação, cada vez maior, de transformar certos assuntos e eventos em acontecimentos que, na verdade, não são nada de mais. Só que, ao público, não resta nada a fazer, a não ser aceitar isso como fato consumado. Se você lê em todas as revistas que o camarote da Brahma é o grande acontecimento do carnaval carioca, você acaba acreditando nisso. Não tem saída.

Você já foi ao camarote da Brahma? Gostaria de ir?

Não. E vou responder isso de uma maneira bem clara: respeito é bom e eu gosto. Portanto, façam-me um favor, não me convidem.

No seu livro de memórias ‘Lábios que Beijei’, de 1992, você descreve sua vida no submundo da Lapa, no Rio de Janeiro, no final dos anos 60 e início dos 70, época em que conviveu com travestis, cafetões e todo tipo de malandro. Em certo trecho, você diz: ‘É notória, para quem me conhece, a minha resistência a eventuais ligações com pessoas da classe média, todas tão iguais em seus tediosos desejos e interesses’. Por que esse sentimento?

O meu pai era frentista de posto de gasolina e minha mãe, dona-de-casa. Minha família era muito pobre. Mesmo assim, meu pai fez uma coisa estranhíssima, que foi gastar todo o dinheiro que tinha para me matricular em colégios caros, tanto em Carpina, no interior de Pernambuco, onde nasci, quanto em Recife, onde nós fomos morar quando eu era adolescente. Só que, aos 14 anos, tive que trabalhar. Meu pai avisou que, dali em diante, eu é que pagaria o meu colégio. Fui trabalhar como datilógrafo numa agência de navegação e, depois, num cartório. Nunca parei de trabalhar. Então, sempre tive a noção de que sou working class.

Mas agora você é da classe média…

Mas nunca perdi aquela noção. Embora eu tenha todo um aparato de classe média, acabo me identificando mais com as pessoas da classe trabalhadora do que com as da classe média. Talvez seja uma limitação minha, mas acho essas pessoas muito mais interessantes. Acho que os grandes dramas da existência acontecem nos subúrbios, na working class. Nelson Rodrigues, aliás, já mostrou isso de maneira genial.

Você não se sente um ‘traidor’ da classe trabalhadora? Não vive em conflito?

Não, porque nunca ganhei dinheiro do governo. Na época da ditadura, passei 70 dias preso na Ilha das Flores, por ter escrito o prefácio dos ‘Diários de Che Guevara’. Também fui processado duas vezes pelo Ministério da Justiça, por delito de opinião, já que eu era jornalista. Mesmo com tudo isso, eu ficaria profundamente ofendido se alguém me sugerisse pedir uma dessas pensões especiais que o governo dá para quem foi preso político durante a ditadura. O que eu fiz na época, o que eu pensava na época, não tem preço. Não quero esse dinheiro, seria uma desonestidade querer. Todo o dinheiro que ganhei foi com o meu trabalho, foi por merecimento. Então, não vivo conflito nenhum por ter ganho esse dinheiro.

É verdade que você ganha 1 milhão de dólares – entre salário, luvas e merchandising – para escrever uma novela?

Não vou falar em números porque acho de mau gosto. Mas é claro que, em termos de Brasil, um autor de novelas ganha imoralmente bem. Não há a menor dúvida. Por outro lado, são pouquíssimas as pessoas que escrevem novela das oito, esse produto avassalador, que atinge 45 milhões de pessoas e que sustenta o maior canal de televisão do país. Então, é preciso ver também o que esse trabalho rende para a emissora. Nessa comparação, o autor de novelas ganha pouco. É isso: o salário é imoral, mas, ao mesmo tempo, não é tão justo quanto deveria ser.

Como você gasta o seu dinheiro?

Evidentemente, eu penso no futuro. Embora, aos 60 anos, o meu futuro seja cada vez mais curto. Mas não quero ter que viver da minha aposentadoria de jornalista, que é de 493 reais. Foi feito um cálculo errado e eu, que sempre paguei as maiores contribuições, recebo apenas isso. Não que eu precise desse dinheiro, mas é uma questão de justiça. Não penso apenas em mim. Na novela, o personagem Seu Jacques (Flávio Migliaccio) enfrenta esse mesmo problema da aposentadoria com cálculo errado. O Seu Jacques sou eu – e um monte de outros brasileiros na mesma situação.

Mas, além guardar, você também gasta, não?

Gasto com obras de arte. Sou apaixonado por art nouveau e art deco, gosto de tudo que vai de 1870 a 1930. Tenho cerca de 100 peças. Minhas preferidas são as esculturas e as porcelanas. Sou viciado em leilões, aqui e no exterior. Vou sempre. Minha intenção é, um dia, comprar uma das poucas casas no estilo art nouveau que ainda existem no Rio de Janeiro, reformar, e tornar minha coleção acessível ao público.

Qual a obra de arte mais cara que você já comprou?

Teve um leilão em que disputei uma escultura do ‘Beijo’, de Rodin. Cheguei a oferecer 300 mil reais, mas não consegui levar. A peça mais cara que tenho em casa é a escultura de uma valquíria, em bronze e marfim, de uma artista chamada Colinet, que custou 90 mil reais. Comprei essa peça em novembro do ano passado, em um leilão, em São Paulo. Praticamente não saio de casa, mas tenho um museu aqui dentro. Sou capaz de ficar horas observando minhas obras de arte.

Você também tem um apartamento em Paris, não? Na Place de Fürstenberg, que é um endereço muito elegante…

É um apartamento modesto, mínimo, não é nenhuma cobertura. Quase todos os autores de novela têm apartamento em Nova York. Prefiro Paris. Gosto muito de viajar.

Você viaja de primeira classe?

Ai, é chato falar disso. Bom, o meu contrato com a Globo inclui passagens e essas passagens são, sim, de primeira classe.

Quantos livros você escreveu?

Tenho treze livros publicados, mas acho que só quatro ou cinco realmente deviam ter sido publicados. O resto, não. De todos, o que mais vendeu foi ‘O Homem que Comprou o Rio’, com 12 mil exemplares.

Um autor que mobiliza 45 milhões de pessoas em torno de uma novela não deveria ser também um best-seller nas livrarias?

Meus livros fazem com que os leitores os leiam de uma sentada só, não dá para parar de ler. Mas não têm muita profundidade. Esse é um defeito do jornalista que eu era quando os escrevi. Se bem que acho que o grande problema da literatura brasileira, hoje, é o excesso de profundidade. Todos os livros têm subtextos interessantíssimos a oferecer. Ficou tudo muito cifrado. O Bernardo Carvalho, por exemplo, faz uma literatura de intenções. É uma intenção debaixo de outra intenção, debaixo de outra intenção. E você tem que descobri-las, senão não é inteligente. Ora, bolas! É por isso que ninguém lê. As pessoas lêem o Paulo Coelho, mas o Paulo Coelho não é exatamente o João Gilberto Noll, que é um autor de que gosto muito.

Quando lançou seu primeiro livro, aos 16 anos, você se candidatou a uma vaga na Academia Brasileira de Letras. Por quê?

Minha candidatura foi fruto de uma aposta. Justino Martins, editor da revista ‘Manchete’, queria que eu me candidatasse. Eu disse que o faria se ele conseguisse um fardão para me fotografar vestido com ele. E não é que ele conseguiu? Tive que cumprir minha parte da aposta. Me candidatei e deu a maior confusão, foi um escândalo. A Academia teve que anular aquela eleição e abrir novas inscrições. Aí, não me candidatei mais, claro. Mas saí vestido de fardão, numa página inteira da ‘Manchete’, como o Justino queria.

O Eduardo Moscovis, que interpreta o prefeito corrupto Naldo em ‘Senhora do Destino’, teria dito que sua interpretação é uma ‘homenagem’ ao casal Rosinha e Anthony Garotinho. Você também se inspirou neles?

Minha inspiração foi ‘Macbeth’, de Shakespeare, naturalmente. O Du está fazendo um excelente trabalho na novela, mas eu faço uma crítica ao que ele disse. Acho que ele diminuiu muito o meu casal. Passou de Shakespeare para Garotinho. Isso é diminuir muito.

Como morador do Rio de Janeiro, você diria que se tornou um cidadão assustado com a questão da (in)segurança pública?

Muito assustado. Não dá para brincar com isso. Não dá para tecer teorias sociológicas em torno dessa questão. Não dá para dizer que as pessoas roubam porque são pobres. Isso é conversa fiada! Vai andar num trem da Central para ver o que os pobres fazem. Os pobres ralam! Trabalham feito loucos! E não dá para ficar tecendo teorias sociológicas porque o perigo é real e evidente demais. Você põe o nariz na rua e leva uma bala perdida. Existe no Rio de Janeiro uma situação de guerra. É preciso agir e, depois, tecer teorias.

Você tem carro blindado?

Tenho, um Volvo.

Anda com seguranças?

Não.

Onde o Estado falha na questão da segurança?

Todo mundo sabe que eu fui um esquerdista fanático, fui preso, fiz passeata, participei de todos aqueles movimentos. Mas, cada vez que alguém me faz essa pergunta, eu me lembro de uma figura que, na época, era execrada e odiada pela esquerda, que é o Carlos Lacerda. Acho que falta um Carlos Lacerda hoje em dia. Falta alguém que diga: ‘Não pode isso, isso e isso’. Desde mijar na rua, avançar o sinal de trânsito, até deixar o morro virar território dos traficantes. Alguém que comece de baixo, das coisas mínimas, até resolver a questão da segurança. É disso que a gente precisa. E quem está aí – prefeito, governadora, juízes – não está fazendo o suficiente. Vivemos num clima de total anarquia.

Você virou um homem conservador, de direita?

Por força das circunstâncias, fica até parecendo que virei conservador. Sou uma pessoa séria, não um conservador. Pago meus impostos e cumpro todas as leis. Por que é que vou compactuar com quem não faz o mesmo? Isso não é ser de direita, isso é ser sério.

O que você achou da eleição do Severino Cavalcanti para a presidência da Câmara dos Deputados?

Acho que foi uma brincadeira de mau gosto, não foi? Só pode ter sido. Fiquei perplexo! Se bem que o PT, às vezes, merece. É evidente que o Greenhalgh jamais seria eleito. O Greenhalgh é um esnobe! E aqueles deputados mais modestos, mais humildes, com quem ele nunca falou, jamais votariam nele. Não dá para o PT ser suicida assim. O Virgílio tinha muito mais chances. E agora o Severino Cavalcanti pode vir a ser, um dia, o presidente do Brasil! É uma piada com a qual a gente vai ter que conviver.

O Severino Cavalcanti é contra o aborto. Qual é a sua posição?

Acho que tudo tem que ser legalizado. O aborto já existe. Ninguém vai conseguir fazer com que ele não exista. Então, é importante que ele seja legalizado, que as pessoas possam fazê-lo com garantias. Essas posições que o Severino Cavalcanti defende não são só absurdas, são irracionais.

Você já declarou que se arrependeu de ter sido militante gay. Por quê?

O ativismo gay, da maneira que foi encaminhado no Brasil, se tornou muito fundamentalista. Para o ativismo, ou você aceita incondicionalmente que os gays existem, e podem se impor a você publicamente, inclusive trocando carícias, ou você está errado. Eu, quando vejo um casal heterossexual se beijando num restaurante, fico chocado, acho uma coisa horrorosa. Dois homossexuais que façam a mesma coisa em público também estarão incomodando as pessoas. Mas os ativistas acham que não, eles querem esse direito. É como se todas as pessoas que não são gays estivessem erradas. É como se o prazer gay fosse melhor que qualquer outro. Não gosto disso.

O Luiz Mott, do Grupo Gay da Bahia, disse, certa vez, que o fato de você ser um militante gay arrependido o desqualifica a ficar na história da liberação homossexual…

Mas eu seria a última pessoa do mundo a querer ficar na história da liberação homossexual! Os homossexuais não precisam ser liberados. Eles são livres, nunca foram algemados ou acorrentados. Isso é uma bobagem! Uma vez, o Luiz Mott falou que eu não contribuía para a causa homossexual porque havia criado um personagem na novela ‘Suave Veneno’ que era cheio de trejeitos. Agora, ele falou a mesma coisa sobre o Ubiraci (o carnavalesco vivido por Luiz Henrique Nogueira em ‘Senhora do Destino’). Pois eu pus na novela um homossexual cheio de trejeitos porque eu sou um homossexual cheio de trejeitos. O personagem existe!

Jennifer e Eleonora, as personagens lésbicas de ‘Senhora do Destino’, darão um beijo na boca?

Elas já deram vários selinhos, dormiram juntas e disseram ‘Eu te amo’. Mas beijo de língua não vai acontecer. O que é que o brasileiro médio vai pensar vendo duas mulheres dando um beijo de língua na TV? Vai ficar chocado. Eu também não estou preparado para ver esse beijo.

Algum dia esse beijo vai existir?

‘Senhora do Destino’ já foi até onde se poderia ir nessa questão. Tenho certeza de que nos próximos 150 anos nenhuma outra novela vai mais longe que isso.

Ser homossexual, hoje, é mais fácil do que na época da sua juventude?

Uma das pessoas mais estranhas que já conheci é a Isabelita dos Patins. E não existe festa no Rio de Janeiro se ela não estiver lá. O ‘Jornal do Brasil’, mesmo sendo o jornal mais conservador do Rio de Janeiro, publicou uma foto de página inteira do casal André Ramos e Bruno Chateaubriand. O Jean, do ‘Big Brother’, virou o queridinho do Brasil. O Calvin Klein vem para cá e fica maravilhado com a maneira liberal como o Brasil lida com esse assunto. Então, não se pode dizer que hoje seja difícil ser homossexual. Pelo menos, ninguém mais leva pedrada na rua, como a coitada da Geni.

Você conheceu alguma Geni da vida real que, literalmente, levou pedrada na rua?

Eu já levei pedrada. Foi no Recife, quando eu tinha 16 anos.

Por quê?

Porque era homossexual, as pessoas percebiam, eu tinha trejeitos. Foram adolescentes da minha escola, um pouco mais velhos que eu, que me atiraram as pedras. Por puro preconceito. Mas, antes de acontecer uma tragédia maior, o pastor do colégio interferiu e a situação que estava prestes a ficar fora de controle se resolveu.

Você se machucou?

Profundamente.

Sua novela anterior, ‘Porto dos Milagres’, foi ao ar em 2001. Já ‘Senhora do Destino’ estreou em 2004. O que você fez nesse intervalo de três anos?

Escrevi uma minissérie de dezesseis capítulos que não foi ao ar, e que, provavelmente, nunca será produzida. Porque agora as minisséries precisam ter 40 capítulos, o que acho um erro. Às 11 e meia da noite, ninguém acompanha uma minissérie desse tamanho. É muito dinheiro gasto à toa, são minisséries milionárias que não servem para nada.

Você assistiu a algum capítulo de ‘Mad Maria’?

Estou vendo, sim. É uma coisa penosa, porque alguns capítulos vão pro ar às 11 e quarenta e cinco.

Gostou do que viu?

‘Mad Maria’, o livro, tem um defeito básico: por causa de uma deformação de esquerda, ele destrói um personagem que foi muito mais fascinante do que o livro dá a entender, que é o Percival Farquar, um homem que foi dono de metade do Brasil. Para a esquerda, é conveniente dizer que veio um americano para cá fazer da construção da Madeira-Mamoré um genocídio. Mas isso é muito simplista. No que se refere à minissérie, ela tem uma lentidão… E isso é um problema de direção. Os diretores brasileiros têm uma tendência a achar que todo trabalho de época precisa ser lento. Sinal de que não viram o filme ‘Gladiador’. Então, ‘Mad Maria’ é lenta, cheia de uma coisa gestual… Aí, vem o Fagundes e faz uma cara de quem comeu e não gostou que dura cinco minutos na tela! O telespectador não agüenta e vai embora. É uma pena.

A Globo ficou melhor ou pior depois da saída do Boni?

A Globo, hoje em dia, é muito mais empresa do que na época do Boni. Não porque o Boni tenha saído. A Globo é que se organizou mais. Mas acho que na época do Boni havia mais espírito de aventura, apostava-se mais na criatividade, as coisas eram menos planejadas. Para mim, era muito estimulante. Sinto falta daquele espírito.’



TODA MÍDIA
Nelson de Sá

‘Lula e FHC’, copyright Folha de S. Paulo, 25/02/05

‘No Jornal Nacional, foi a quarta manchete:

– O presidente Lula disse que abafou casos de corrupção do governo anterior.

No Jornal da Band, também:

– Lula diz que não permitiu a divulgação de atos de corrupção que aconteceram durante a gestão de Fernando Henrique.

No Jornal da Record, foi a primeira manchete:

– Lula afirma que, logo após assumir, ouviu denúncias de corrupção no governo Fernando Henrique e pediu silêncio. Líderes do PSDB anunciam processos contra Lula por não mandar investigar o caso.

A Folha Online foi além, em seu enunciado complementar, dizendo que ‘PSDB já fala em impeachment’. Mais precisamente, o que disse o líder do PSDB no Senado:

– É inaceitável e até sujeito a impeachment um comportamento como este.

Outro líder do PSDB, na Câmara, surgiu num enunciado da Globo Online:

– PSDB: culpa de Lula é tão grande quanto a do corrupto.

FHC, o próprio, foi surgir por volta das 22h, no site da BBC Brasil, com respostas a críticas de Lula mas não, ao que parece, em referência direta à acusação. Do ex-presidente:

– Acho que ele [Lula] está meio mordido porque eu disse que havia uma espécie de confusão entre o privado e o público, da parte do PT, e ele então agora resolveu colocar o feitiço contra o feiticeiro.

De sua parte, também por volta das 22h, Lula já soava mais conciliador. Ao menos segundo Tereza Cruvinel, da Globo News, citando fontes palacianas:

– O presidente quis dizer que o auxiliar referiu-se a irregularidades nas privatizações e não a corrupção.

E mais, ‘Lula não é dado a corrigir-se, mas desta vez pode ser produzido um esclarecimento’.

RUMO ÀS ELEIÇÕES

Garotinho no programa de Ciro Moura, ontem

Enquanto Lula e FHC se digladiam, Anthony Garotinho segue em campanha. Ontem, além dos comerciais que o governo do Rio faz a cada intervalo na Globo News, lá estava o ex-governador no programa em rede nacional da legenda de Ciro Moura, conhecido das últimas eleições em São Paulo.

O programa abusou das ‘imagens de dinamismo’ do Rio desde ‘1999, quando Garotinho assumiu o governo do Estado’. Estaleiros, montadoras etc, ‘tudo isso porque há seis anos Garotinho montou um grande projeto’, no momento ‘prosseguindo com Rosinha’. Para encerrar, Ciro Moura, o próprio:

– Iniciamos hoje nossa caminhada rumo às eleições de 2006.

Ricos e pobres

Ao que parece, os dois dias de antecedência garantiram ao governo federal uma recepção da mídia, à última pesquisa do IBGE, com títulos como ‘Distância entre ricos e pobres diminui’ e ‘Diferença entre ricos e pobres cai no Brasil’.

Nada mal, à primeira vista, na internet, para o primeiro ano de Lula no poder.

Mas não demorou para outros títulos começarem a aparecer nos próprios sites e depois nos telejornais. Coisas como, no JN, ‘IBGE: queda na renda dos trabalhadores e na desigualdade entre ricos e pobres’.

Amarrados

De todo modo, durante o anúncio formal da nova pesquisa, ontem no Rio, ‘funcionários do IBGE protestaram, com lenços amarrados à boca’, segundo a Globo Online, contra a ordem de avisar o governo federal com dois dias de antecedência.

Outra OAB

Severino Cavalcanti segue coletando apoio ao aumento dos salários dos deputados. Ontem foi a OAB, de larga história, mas cujo presidente atual defendeu o aumento -e saiu a ‘ponderar’, na Jovem Pan, que ‘bons vencimentos evitam corrupção’.

A LUZ NO FIM DO TÚNEL?

Jovem Pan e Band News destacaram de bate-pronto que a ata do Banco Central ‘sugere mais aumentos de juros’. Não era bem assim. Logo começou, na mesma rádio, no mesmo canal de notícias e por toda parte, a ecoar a novidade. Da Folha Online:

– Banco Central indica alta de juros perto do fim.

Ato contínuo, ‘ata é bem recebida no mercado’. Na Bloomberg, um analista de Boston, nos EUA, saiu comemorando, ‘finalmente, a luz no fim do túnel’. Por fim, a manchete no Jornal da Record:

– A ata do Copom tranqüiliza o mercado sobre os juros: dólar e Bolsa disparam

No enunciado da Globo News:

– Bolsa registra a maior pontuação da história.

No enunciado da Folha Online:

– Dólar fecha com a maior alta em nove meses.

Tudo efeito da ‘ata benigna’. Em dia de bondades da equipe econômica, não demorou para o ministro Antônio Palocci surgir em discurso, nos canais de notícias, dizendo que ‘o Brasil é vocacionado a ser um dos principais países do mundo’ etc.’

***

‘Sem solução’, copyright Folha de S. Paulo, 24/02/05

‘O caso da freira Dorothy Stang, ontem pela manhã, bem que parecia resolvido, ‘praticamente’.

O Bom Dia Brasil anunciou que, além da Polícia Federal, também a polícia paraense dizia estar com ‘o quebra-cabeça montado’ -e o episódio ‘encerrado’.

Os jornais americanos, ‘New York Times’, ‘Washington Post’, ‘Los Angeles Times’, ‘Miami Herald’, nas edições impressas, já se limitavam a breves notas com os passos finais da investigação.

Por fim, o site Carta Maior afirmou em manchete que ‘Movimentos sociais dão aval ao pacote ambiental do governo Lula’ no Pará.

Não demorou e a Globo News acabou com a paz:

– Mas o conflito agrário está longe de solução.

Por exemplo, ‘em Santarém foram presos [anteontem] dois fazendeiros que ameaçavam trabalhadores acampados em uma área destinada pelo Incra à reforma agrária’.

Não demorou e a CBN também ouviu da senadora paraense Ana Júlia, por outro lado, que ‘o crime [de Stang] tem mais de um mandante’.

Mais tarde, no Jornal Nacional, uma manchete já falava da ‘suspeita de que um consórcio de fazendeiros tenha encomendado o crime’. E tome novas manchetes, nos telejornais:

– CPI quebra sigilo de produtores rurais da região de conflitos agrários.

Além do ‘produtor rural’ que mandou matar a freira, segundo a Band, a lista inclui ‘outros oito pecuaristas’.

Longe do Pará, outro ambientalista foi morto, destaque nos três principais telejornais. Foi na Baixada Fluminense e, embora aqui e ali se observasse que pode ser crime comum, a cobertura foi de ação política.

A seqüência seria aquela do Pará, pelo menos para a Globo: ele resistiu aos exploradores da mata, sofreu ameaças -e levou um tiro na cabeça.

COMO SE FOSSE No blog Narrativas de Niil, sobre a novela ‘Senhora do Destino’ de anteontem: – Melhor cena da teledramaturgia mundial: o personagem de José Wilker [à esq.] e o de Heitor Martinez Mello [à dir.] passam ‘back and forward’ uma cigarrilha como se baseado fosse. Lá pelas tantas, os dois começam a falar mole e Heitor está com os olhos mais puxados do que sua ascendência indígena já sugere. É o morro no poder!

Austeros

A manchete do JN:

– Deputados aceleram a aprovação do aumento para os próprios salários.

Na cobertura indignada em todos os telejornais e canais de notícias, o melhor foi ouvir de Inocêncio Oliveira, sempre ele, agora no PMDB:

– A nossa missão, como a do presidente Severino Cavalcanti, chama-se austeridade.

Ao lado da declaração anterior de Severino (‘a sociedade quer o aumento, ela está aceitando’), é para nunca esquecer.

O antiLula

Nem FHC nem Cesar Maia nem Geraldo Alckmin.

Com o avanço do secretário e ex-governador do Rio sobre o PMDB, a Folha Online noticiou ontem que ‘investidor estrangeiro já teme Garotinho como o antiLula em 2006’. Um relatório do banco londrino HSBC avaliou assim:

– Apesar de estar ainda longe de ser um forte desafiante, seus movimentos devem ser acompanhados com atenção… É o único que pode sacudir os mercados como fez Lula.

‘NYT’ X BLOGS

No embate cada vez mais furioso entre a grande mídia e os blogs, nos EUA, o blogueiro Jeff Jarvis, um dos que causaram a queda do diretor da CNN, há duas semanas, e o editor do ‘New York Times’, Bill Keller, iniciaram uma inusitada correspondência na web.

Está nas páginas do BuzzMachine, blog de Jarvis. Ele escreveu primeiro, questionando a cobertura do ‘NYT’ sobre blogs e pedindo um encontro. Keller respondeu por e-mail, louvando o diálogo, mas questionando com demolidora ironia as paranóias, a auto-indulgência, a falta de humor, a ‘blogorréia’ (diarréia de digressão) etc. Jarvis fez a tréplica, mas não se saiu bem.’

***

‘O ‘imbatível’’, copyright Folha de S. Paulo, 23/02/05

‘Sites e blogs de bastidores políticos, como o de Claudio Humberto, vêm batendo nos últimos dias que Lula ‘ameaça’ não concorrer no ano que vem. É comédia, claro.

O presidente e seus assessores fazem o ‘spin’, espalham, mas é só aparecer uma pesquisa de popularidade para Lula se esvair em campanha.

Ontem foi a pesquisa CNT/ Sensus, na qual Globo Online, Jovem Pan, Band News e vários outros destacaram as projeções eleitorais favoráveis ao petista. Num título mais descontrolado, do site global:

– Lula continua imbatível para a eleição de 2006.

Diante do ‘imbatível’, não adiantou a Folha Online e depois o Jornal da Record avisarem, em destaque, que ‘a aprovação do governo sofreu uma pequena queda’.

Ele sozinho, Lula, não sofreu queda e até ‘oscilou’ para cima. Então, tome discurso fingindo não ser candidato, na Globo News e outros:

– A oposição está doida para fazer campanha já. Da minha parte, meus caros, a eleição só vai entrar na minha cabeça no momento certo. 2005 é um ano de fazer o Brasil crescer e gerar os empregos de que este povo tanto precisa.

E tem mais, de um segundo discurso eleitoral:

– Geramos em 2004 o maior volume de empregos em dez anos. Eu garanto: vamos crescer 5% de novo.

A insistência no bordão dos empregos para o povo coincide com a apuração, pela mesma pesquisa CNT/Sensus, de que o desemprego continua sendo, de longe, a maior preocupação dos brasileiros.

MAIS DOIS

Mais até que a pesquisa, o que parece animar Lula é o encaminhamento da crise no Pará, que começa a saciar a cobertura externa. O ‘El País’ publicou longa reportagem com elogios às prisões ‘fulminantes’ e à ‘determinação’ de Lula, sob o título:

– Fim da impunidade na Amazônia.

Na seqüência, à tarde, o site do ‘New York Times’ e outros traziam a notícia de que ‘o Exército brasileiro’ havia ‘capturado’ o terceiro envolvido.

Num de seus discursos, Lula se empolgou e saiu bradando, até no Jornal Nacional, contra ‘alguns empresários do setor madeireiro’ e em defesa dos ‘trabalhadores rurais’, garantindo que ‘a impunidade acabou’.

Parecia o Lula dos velhos tempos, em nova campanha. E não importa que outra manchete do JN tenha citado ‘dois novos assassinatos’ no Pará.

NO AR

Da esq. para a dir., imagens das redes americanas ABC, PBS (pública) e NBC nos últimos três dias, na cobertura da investigação do assassinato da freira americana naturalizada brasileira Dorothy Stang

Mais um

E foi assassinado ontem mais um menor de idade na Febem, agora em Bauru. No destaque da Globo News, à tarde:

– Febem lamenta quarta morte de interno neste ano.

Quatro mortos depois, além de mais uma rebelião na capital, o SPTV e até o Jornal Nacional ainda cobrem a seqüência de horrores na instituição como se tudo estivesse caminhando para a normalidade.

E tome o governador e seu presidente da Febem, dizendo que são só ‘reações’. Que vai dar tudo certo.

Nova história

Talvez por desinformação, uma comentarista da CBN -e do blog de Ricardo Noblat- saiu dizendo ontem:

– Volta e meia circulam boatos sobre deputados que teriam vendido o voto. Na emenda da reeleição, no governo Fernando Henrique, falou-se muito que a cotação de alguns chegou a R$ 200 mil. Ninguém quis apurar, ninguém cobrou.

De bate-pronto, o também blogueiro Maurício Fernandes citou a cobertura da Folha em 97 e criticou a ‘singela’ tentativa de ‘reescrever a história’.

CAMPANHA Os blogs de Jeff Jarvis e, por aqui, Tiago Dória convocavam ontem ao esforço virtual para libertar dois bravos blogueiros iranianos. É a primeira campanha da Comissão de Proteção aos Blogueiros’



FSP CONTESTADA
Painel do Leitor, Folha de S. Paulo

‘Cartas de leitores’, copyright Folha de S. Paulo

24/02/05

Saúde municipal

‘A Folha publicou, no sábado passado, a reportagem ‘Aperto fiscal na prefeitura bloqueia até repasses federais para a saúde’ (Cotidiano), na qual endossa plenamente declarações do Conselho Municipal de Saúde, segundo as quais a prefeitura estaria bloqueando repasses federais para a área da saúde. A reportagem está repleta de equívocos. Assim, cumpre esclarecer alguns pontos: 1 – Não é fato que o ajuste fiscal imposto pelo prefeito José Serra congelou quase a metade dos recursos destinados à Saúde. Essa hipótese é absurda, pois o Orçamento de 2005 mal começa a ser executado e, portanto, tudo aquilo que tiver de ser feito pela Saúde o será, dentro do Orçamento e com parcimônia; 2 – Nas áreas de investimentos e de custeio para o exercício de 2005, que são de responsabilidade da atual gestão, não há nenhum atraso. As secretarias das Finanças e da Saúde estão buscando até mesmo antecipar pagamentos a fim de ajudar os prestadores que sofreram pesados calotes em 2004 durante a gestão Marta Suplicy. Esses calotes parece não terem preocupado o conselho à época, o que nos faz duvidar de sua isenção política hoje; 3 – Em relação às despesas de 2004, que, portanto, deveriam ter sido pagas pela gestão anterior, está sendo feita uma negociação. Se assumíssemos de imediato um passivo de tal tamanho, estaríamos comprometendo todo o exercício de 2005, esse, sim, de nossa responsabilidade; 4 – Diferentemente do que o jornal publica em relação aos parceiros, a atual prefeitura tem procurado realizar pagamentos mesmo de despesas de 2004 que não foram pagas na época. Lembramos mais uma vez que a gestão Marta Suplicy não deixou recursos em caixa para esses pagamentos. Mesmo assim, em condição de excepcionalidade, estamos pagando várias contas, como no caso do Hospital de Vila Maria, que, nesta semana, receberá recursos relativos a outubro e novembro de 2004 (já pagamos o mês de dezembro); 5 – Ao contrário do que afirmou o jornal, o secretário Claudio Lottenberg não fez nenhum pedido à Secretaria de Finanças para descongelar nada, até porque o Orçamento da Saúde não está congelado. Ele, de fato, tem tido tratativas diárias com a Secretaria das Finanças para equacionar o verdadeiro caos herdado da gestão anterior, que, lamentavelmente, gerou não somente um enorme endividamento mas inadimplências e um clima muito ruim com os prestadores de serviço e os parceiros da área de saúde.’ Luís Casadei, assessoria de imprensa da Secretaria Municipal de Saúde (São Paulo, SP)

Resposta do repórter Conrado Corsalette – Documento da própria Secretaria de Saúde diz que 46,4% das verbas orçamentárias da área estão congeladas, incluindo repasses do governo federal. As informações de atrasos na gestão plena foram repassadas por técnicos da própria pasta. A reportagem relatou a versão da Secretaria de Finanças, segundo a qual os recursos da União estão sendo liberados assim que chegam aos cofres municipais. O secretário de Saúde mostrou sua insatisfação com o congelamento na última quinta-feira, durante reunião do Conselho de Saúde.’