Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Marcelo Gutierres e Simone Harnik


‘Em mais uma etapa da disputa contra a xerox nas universidades, as editoras anunciaram ontem que vão oferecer 40% de desconto no preço de todos os livros do ensino superior para as bibliotecas das faculdades.


Para obter o desconto, as bibliotecas deverão assinar um contrato com a ABDR (Associação Brasileira de Direito Reprográfico), que reúne 161 editoras, em que se comprometem a coibir a cópia indevida pelos estudantes do ensino superior. Com a promoção, a entidade espera que as bibliotecas aumentem seus acervos para que os alunos não tirem cópias.


Desde 2004, a xerox nas faculdades é alvo de polêmica. As editoras tentam limitar a prática por considerarem que descumpre a lei de direitos autorais. Alunos e professores afirmam que o uso de xerox é indispensável para o ensino e que a lei de direitos autorais é vaga. A lei prevê que reproduzir ‘pequenos trechos’ de uma obra não é violação, mas não deixa claro quantas páginas ou capítulos poderiam ser copiados.


O desconto não parece agradar às universidades nem resolver o problema das copiadoras. O professor Walter Colli, da USP (Universidade de São Paulo), afirma que as cópias sempre serão necessárias, apesar de a USP ser contra a pirataria. ‘Não dá para as instituições comprarem mais de um exemplar de livros de referência, de coleção, porque eles são caríssimos’, diz Colli.


De acordo com a diretora-técnica do Sistema Integrado de Bibliotecas da USP, Adriana Ferrari, a universidade investiu R$ 6 milhões durante os últimos quatro anos na aquisição de obras. Para ela, não adianta oferecer desconto se as publicações não forem de interesse da USP. ‘Temos de saber exatamente quais são os livros e se eles têm vínculo com a pesquisa, ensino ou extensão’, afirma.


O chefe-de-gabinete da reitoria da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo), Guilherme Simões, afirma que o problema das cópias é ‘educacional e cultural’, e não de pirataria. ‘As bibliotecas estão aquém do que deveriam, mas mesmo se existissem bibliotecas ultra-equipadas, a cópia continuaria sendo necessária, pois a população dos leitores é grande’, diz. Ele ainda não recebeu a proposta da ABDR e preferiu não opinar sobre ela.


Perdas


A ABDR estima que, em 2005, as editoras perderão R$ 400 milhões com a xerox indevida de livros universitários. O valor é maior do que o faturamento das editoras em 2004, de R$ 346 milhões.


Desde 2004, a ABDR aciona a Justiça e a polícia para coibir a xerox nas instituições de ensino superior. Neste ano, ocorreram 20 ações civis e 150 ações policiais em todo o país.


A iniciativa da ABDR irá até o dia 31 de março de 2006. Além do desconto, as editoras irão custear o frete e oferecerão prazos maiores para pagamentos.


O presidente da associação, Enoch Bruder, disse que será possível às instituições pedirem livros cujo conteúdo reunirá trechos de diversas obras, os chamados de ‘custom publishing’ ou por encomenda. ‘A tiragem mínima deve ser de 3.000 exemplares e o valor será negociado de acordo com o volume requisitado.’’



 


MANDRAKE


Flávia Guerra


‘Na TV paga, as aventuras do detetive Mandrake ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 27/10/05


‘Um advogado criminalista sedutor, bonito, cínico, perspicaz, irreverente, que transita com desenvoltura entre o submundo e a dita alta sociedade, sempre acompanhado de seu charuto e de belas garotas. Poderia ser mais um clichê policial não fosse o advogado um típico carioca bon vivant, símbolo das idiossincrasias do brasileiro. Mais ainda, se esse advogado não fosse Mandrake, o célebre personagem criado em 1967 por Rubem Fonseca, que deu fôlego à literatura policial brasileira e se tornou modelo do gênero. Com o altruísta e, ao mesmo tempo, cínico Mandrake, Fonseca inaugurou a moderna literatura urbana no Brasil, retratando de forma perspicaz a violência e revelando as entranhas da sociedade brasileira.


São essas entranhas que José Henrique Fonseca, filho de Rubem, revela agora. Zé Henrique, como é chamado, é responsável pela direção geral da série Mandrake (Marcos Palmeira em sua melhor forma), da Conspiração Filmes, que a HBO exibe a partir do domingo para toda a América Latina. A estréia marca o primeiro projeto brasileiro produzido pela emissora a cabo. O mesmo já acontece em países como Argentina, mas o Brasil teve de esperar até 2003 para começar a tocar projeto semelhante. Valeu a espera. Mandrake foi filmado em película 16 mm, mas tem a linguagem da TV. É TV, mas tem o charme do cinema.


Além dos desafios de produção, Zé Henrique confessa que sentiu a responsabilidade dupla de adaptar para a TV a obra de um grande escritor e de seu pai. ‘Há este peso. Mas estávamos falando de TV. E a saída era não levar tão a sério assim a obra literária, no melhor sentido disso’, comenta ele, que contou com a ajuda de Tony Bellotto e Felipe Braga para transformar três contos e dois romances nos oito episódios da série. Os três primeiros são adaptações diretas de O Caso de F.A., Dia dos Namorados e Mandrake. Os outros cinco são originais inspirados em A Grande Arte, Do Meio do Mundo Prostituto, Só Amores Guardei ao meu Charuto. ‘Mandrake é um personagem que foi amadurecendo ao longo do tempo. Optamos por filmar o advogado dos primeiros anos, mais irreverente, divertido. Nos livros mais recentes, ele já é um cara mais filosófico e literário’, explica Braga.


A idéia de levar o personagem para as telas surgiu em 1998, quando Zé Henrique filmava Cachorro!, um dos três episódios do longa Traição, inspirado em Nelson Rodrigues. ‘Há anos tínhamos o projeto. Chegamos quase a fechar com a Globo. Tínhamos quatro escritos. Quando a HBO nos procurou pedindo 13 episódios, vimos que não conseguiríamos fazer tudo a tempo. Então, propusemos um meio-termo e escrevemos outros novos quatro’, explica ele, que assina a direção da história de estréia, A Cidade não É Aquilo Que se Vê do Pão de Açúcar.


O convite foi irrecusável, mas exigiu jogo de cintura. Com orçamento de cinema, R$ 6,7milhões, foram dois anos para desenvolver o roteiro, quatro meses de filmagem, 200 locações e 400 pessoas envolvidas . ‘Para cumprir o prazo e enxugar as despesas, escalamos duas equipes de direção. Enquanto uma filmava, a outra fazia a pré-produção dos seguintes’, conta o produtor Leonardo Monteiro de Barros.


Cinema, literatura e TV ao mesmo tempo, a série, possui o mérito de dessacralizar não só o texto de Rubem Fonseca, mas o ‘Rio de Janeiro de cartão postal’. Cair no gosto médio ‘para inglês ver’ seria a saída mais óbvia. A trupe da Conspiração conseguiu o difícil objetivo de revelar um Rio verdadeiro, sem mitificar a violência. O Rio de Mandrake é o rio do cidadão comum, que toma uma vitamina na casa de sucos da esquina, toma um táxi na praia de Copacabana e vê da janela do carro a beleza do Aterro do Flamengo. A câmera passeia com Mandrake pelas ruas, como um amigo que o segue. ‘A cidade sempre foi muito presente na obra do meu pai. Na TV, ele também tem de dialogar com o espectador. Por isso, optamos por usar poucas cenas em estúdio e muitas de rua. Filmamos todas as tomadas de rua com câmera na mão. Para cenas internas, ou com a câmera apoiada em algum móvel. Nada de tripé, que deixasse o ponto de vista muito distante do personagem’, explica Fonseca.


Manter a unidade visual foi outro desafio. Afinal, são seis cineastas contando a história. Além de Zé Henrique, Lula Buarque de Hollanda, Toni Vanzolini, Claudio Torres, Carolina Jabor e Arthur Fontes tocaram o projeto. ‘Foi complicado. Cada um imprime seu estilo, mas os cenários, as locações e os personagens fixos dão unidade visual necessária’, diz Zé Henrique.


Por falar nos personagens fixos, a série marca a estréia da jovem Érika Mader. Sobrinha de Malu Mader, Érika é Bebel, uma das namoradas de Mandrake. Destaque também para Maria Luísa Mendonça (Berta, que tem um caso com Mandrake), Marcelo Serrado (Raul, seu melhor amigo) e Luiz Carlos Miéle (Wexler, com quem divide o escritório). Mandrake. Estréia domingo, 23h. Exibição sempre aos domingos, 23h (reapresentação, às terças, 23h). HBO (TVA, 62; Directv, 521; NET, 71)’



TV & INFÂNCIA


Daniel Castro


‘Governo quer limitar publicidade infantil ‘, copyright Folha de S. Paulo, 27/10/05


‘Antes restrita a deputados, procuradores de Justiça e ONGs, a ‘causa’ da restrição da publicidade infantil na TV foi abraçada pelo governo federal. No início de 2006, o Ministério da Justiça pretende elaborar um projeto de lei regulamentando a ‘propaganda que induz a criança ao consumo’.


Emissoras e anunciantes são contra. Argumentam que, além de inconstitucional, a limitação da publicidade inviabilizará programas infantis, hoje restritos apenas a Globo, SBT e Cultura (emissora pública que exibe comerciais nos intervalos infantis).


O assunto vem sendo discutido em audiências públicas, promovidas pelo Ministério da Justiça, para definir a nova classificação indicativa de programas de TV _hoje haverá uma audiência em São Paulo. Representantes do ministério têm se manifestado a favor de restrições de horários para propaganda dirigida a crianças.


No ministério, discute-se encomendar ao professor de jornalismo Laurindo Lalo Leal Filho, da USP, especialista em TV, um estudo para quantificar e qualificar a publicidade infantil na TV aberta, para embasar a regulamentação.


Os ‘inimigos’ da propaganda infantil irrestrita avaliam que ela dá ‘superpoderes’ a crianças e as induzem ao consumo precoce e não-saudável. Para alguns, até estimula a violência, porque crianças pobres, sem acesso aos produtos anunciados, podem crescer com o desejo de roubá-los.


OUTRO CANAL


Dispensa Atriz que a Globo apostou em 2004, como protagonista da novela ‘Começar de Novo’, Gisele Itiê já não é mais da emissora. Vai trabalhar agora para a Record. Integrará o elenco da série ‘Avassaladoras’, com Márcio Garcia. Gisele foi apontada, injustamente, como responsável pelo fracasso de ‘Começar de Novo’. No teste para ‘Avassaladoras’, foi muito bem.


Loira Pelo segundo mês consecutivo, Flávia Alessandra, a vilã da novela das seis, ‘Alma Gêmea’, foi a atriz que mais recebeu cartas na Globo. Em setembro, ela bateu Fernanda Vasconcelos e Marjorie Estiano (‘Malhação’), Monique Alfradique (‘A Lua me Disse’) e Bruna Marquezini (‘América’).


Mito ‘América’ é realmente uma novela sem limites, embora se classifique como realista. Segundo uma das versões de seu final, o touro Bandido nunca existiu. Seria apenas uma ‘miragem’. Nessa versão, o animal desaparece, como se fosse um espírito ou ET.


Performance O Ballet Stagium participará da festa de lançamento de ‘Belíssima’, próxima novela das oito da Globo, que acontece neste sábado na Oca (Ibirapuera, São Paulo). Vestidos de manequins, os bailarinos dançarão músicas do Chico Buarque do lado de fora do prédio. Para quem estiver na festa, aparecerão em ‘janelas’, como se dentro de uma TV.’