Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Mario Cesar Carvalho e Guilherme Barros


‘A agência de publicidade que mais cresceu no ano passado foi a DNA Propaganda, que tem entre seus sócios o publicitário Marcos Valério, apontado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) como um dos ‘operadores’ do ‘mensalão’ pago pelo PT. O faturamento da agência de Belo Horizonte aumentou 203% entre 2003 e 2004, segundo o relatório ‘Agências & Anunciantes’, do jornal ‘Meio & Mensagem’.


O faturamento da DNA saltou de R$ 23,263 milhões em 2003 para R$ 70,535 milhões no ano passado. Com esse aumento a agência passou a ocupar o 25º lugar no ranking das 50 maiores agências, segundo o investimento publicitário feito por meio delas -em 2003, ela ocupava a 46ª posição.


Uma das contas do governo federal a que a DNA atende é o maior anunciante público do país, o Banco do Brasil. No ano passado, o Banco do Brasil gastou R$ 151,886 milhões em publicidade. No ranking das empresas privadas, o banco ocuparia o quinto lugar em 2004, logo atrás da operadora de celular Vivo (R$ 153,055 milhões). O maior anunciante do país, segundo ‘Agências & Anunciantes’, é a Casas Bahia, com R$ 713,169 milhões.


Outras duas agências cuidam da publicidade do BB, além da DNA.


O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza, que transportava em mala o dinheiro para pagar deputados, segundo Jefferson, é sócio da DNA Propaganda e da SMP&B Comunicação.


A SMP&B cuida de outra conta que está entre as dez que mais gastam nos três níveis de governo: a dos Correios, oitava do ranking, com R$ 39,881 milhões. A DNA atende ainda a Eletronorte e o Ministério do Trabalho. Na área privada, essa agência cuida das contas da Telemig Celular e da Amazônia Celular, duas operadoras do empresário Daniel Dantas.


A Duda Mendonça ficou em terceiro lugar no ranking das agências com maior aumento de faturamento no ano passado (a Africa, de Nizan Guanaes, ocupa o segundo posto).


A empresa do publicitário que dirigiu em 2002 a campanha à Presidência do então candidato do PT cresceu 141% no ano passado. O faturamento passou de R$ 32,652 milhões em 2003 para R$ 78,593 no ano passado.


Só para comparar: a maior agência do país, a Young & Rubicam, teve um aumento de faturamento de 63% entre 2003 e 2004.


A terceira agência no ranking de crescimento, a Duda Mendonça, presta serviços à segunda maior anunciante pública do país, a Petrobras.’



Hudson Corrêa


‘Procuradoria pede informações de contratos de publicidade a estatais’, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘Em dois procedimentos administrativos civil e criminal abertos para apurar suposta irregularidade em licitações envolvendo o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e o publicitário Marcos Valério de Souza, o MPF (Ministério Público Federal) pediu informações sobre contratos de publicidade aos Correios, Caixa Econômica Federal, Banco do Brasil, Petrobras, INSS, BNDES e Subsecretaria de Administração do Planalto.


Ao apurar a acusação, a partir da mesma ‘denúncia’ anônima que deu origem aos procedimentos administrativos no MPF, a CGU (Controladoria Geral da União) arquivou o processo no dia 18 de agosto de 2004.


A ‘denúncia’ feita à CGU em 17 de fevereiro de 2004 relatava que uma licitação da Caixa para contratação de empresa de publicidade favoreceram a Fischer América Comunicações Total e a SMP&B, da qual é sócio Marcos Valério.


Em entrevista à Folha publicada no domingo, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) disse que Marcos Valério operava o esquema do ‘mensalão’ junto com Delúbio.


Segundo Jefferson, Valério fazia distribuição da mesada de R$ 30 mil em malas a deputados do PP e PL. O dinheiro, diz ele, saía de empresas estatais e privadas.


A assessoria do MPF disse que os ofícios, enviados pelo procurador Bruno Acioli, pedindo dados de contratos de publicidade, já chegaram aos órgãos. Não foi divulgado, porém, a data da emissão dos documentos. Acioli também investiga suposto esquema de pagamento de propinas nos Correios, envolvendo Jefferson.


Os procedimentos administrativos e a ‘denúncia’ à CGU são baseados em relato de um suposto encontro de Delúbio com publicitários dias antes de sair o resultado da licitação da Caixa. Na reunião, o tesoureiro teria recebido um pacote. Acioli disse, por meio da assessoria, que as investigações ainda não comprovaram a entrega de dinheiro a Delúbio. O MPF não informou se Valério estava no encontro, registrado nas câmeras internas do hotel Blue Tree Towers em São Paulo.


A fita foi requisitada pelo procurador, mas ele não informou o que o vídeo mostra exatamente.


A Folha não conseguiu contato com a assessoria de Valério ontem à noite nem com Delúbio. Por meio de nota divulgada à tarde, a assessoria de Valério informou que ele está ao ‘inteiro dispor do Ministério Público’.


O relato sobre o suposto esquema nos contratos de publicidade chegou primeiro ao MPF em São Paulo, que encaminhou o procedimento administrativo a Brasília no primeiro semestre de 2004.


Além dos procedimentos no MPF, a CGU investigou o caso, mas determinou o arquivamento quatro meses após a ‘denúncia’.


A CGU concluiu, com base em dados da Caixa e da secretaria de comunicação da Presidência, que a SNBB Novagência, TBWA Brasil e Fischer América Comunicações Total venceram legalmente a licitação. Sobre ‘as ingerências políticas’ e ‘lobby externo’ para contratações de empresas de publicidade, a CGU concluiu que não havia ‘elementos fundamentados’ a respeito das acusações.


Colaborou JOSÉ MASCHIO, da Agência Folha, em Londrina’



 


Paulo Peixoto


‘Valério não assina por empresa, afirma sócia ‘, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘Margareth Queiroz, sócia da DNA Propaganda, disse ontem que Marcos Valério Fernandes de Souza, apesar de ser ‘sócio capitalista’ da empresa mineira, não tem nenhuma função executiva ou administrativa e sequer pode assinar documentos ou cheques pela agência de publicidade.


‘Temos um sócio capitalista, sim, chamado Graffiti Participações. É uma holding que tem sócios e um deles é o Marcos Valério, isso nós não vamos negar nunca. O que nós não podemos aceitar é quando dizem que o Marcos Valério tem uma atuação na DNA. Hoje tem o presidente, que é o Chico Castilho, e tem eu, que sou vice-presidente’, disse.


Ela afirmou que Marcos Valério raramente vai à agência. ‘Estamos abertos para qualquer investigação. Os cheques na DNA são assinados por mim e pelo Chico, ele [Valério] não pode assinar.’


A vice-presidente da DNA disse ainda que as três contas que a agência tem no governo federal são anteriores ao governo Lula. A do Banco do Brasil, disse, a DNA detém desde 1994 (gestão Itamar Franco); as contas da Eletronorte (1998) e do Ministério do Trabalho (1996), no governo FHC.


Conforme disse, ela e Castilho ‘nunca’ tiveram nenhum contato com as pessoas citadas por Jefferson na entrevista: Delúbio, Sílvio Pereira (secretário-geral do PT), José Genoino (presidente do PT) ou mesmo José Dirceu (ministro da Casa Civil). Disse que a única pessoa do governo com quem a agência tem contato é Luiz Gushiken (Comunicação de Governo).


Queiroz disse que a DNA acompanha o desenrolar das denúncias e frisa não haver provas até agora. ‘Se lá na frente a gente descobrir que há algum fundo de verdade, é óbvio que vamos rever nossa posição na empresa’, disse ela.


Engenheiro de formação, Marcos Valério entrou para o meio publicitário em 1996, com o hoje vice-governador de Minas, Clésio Andrade (PL), na SMP&B Comunicação. Era sócio minoritário (10%). Com a saída de Clésio, em 1998, passou a ter maior participação na agência, e adquiriu também as cotas de Clésio na DNA.’



Maria Lima, Valderez Caetanoe Isabel Braga


‘Jefferson levou 17 meses para fazer a denúncia’, copyright O Globo, 15/06/05


‘O presidente do PTB, Roberto Jefferson, admitiu que deixou que se passassem 17 meses entre a primeira vez que ouviu falar do mensalão, em agosto de 2003, e o dia em que levou ao presidente Lula, em janeiro deste ano, a denúncia do pagamento de mesada a deputados de partidos aliados. Segundo Jefferson, Lula estava blindado por seus assessores e não era possível ter acesso direto ao presidente. O Palácio do Planalto informou, porém, que há registros de 14 encontros do presidente Lula com Jefferson, inclusive num jantar na casa do deputado.


Perguntado ontem pela deputada Angela Guadagnin (PT-SP) se não teve nem um ‘segundinho’ para denunciar o mensalão no jantar, Jefferson respondeu:


– Na ocasião, não tratei de política com o presidente. Ele estava feliz, tranqüilo, relaxado. Dona Marisa estava presente. Por que eu iria envenenar um jantar na minha casa com um assunto deste? É uma questão de gentileza – alegou o presidente do PTB.


Jefferson disse que o primeiro a lhe falar sobre o mensalão foi seu antecessor na presidência do PTB, José Carlos Martinez, falecido em outubro de 2003. Segundo Jefferson, Martinez lhe perguntou o que achava do pagamento de mesada:


– Devemos ser contra. Isso escraviza – disse.


O deputado foi pródigo nas acusações dos envolvidos no chamado mensalão de R$ 30 mil que jura não ter aceito por princípios, mas usou grande parte de sua exposição para falar com naturalidade do acordo de R$ 20 milhões, de caixa dois, que ele diz ter feito com o PT para financiar campanhas do PTB em 2004.


Jefferson também tratou com naturalidade da negociação de cargos em postos-chave nas estatais e admitiu ter tentado até o fim um acordo com o governo para pôr fim ao escândalo e evitar a CPI dos Correios. E logo após o depoimento, ouviu o desmentido do líder do PTB, José Múcio Monteiro, que negou ter sido coagido pelos líderes do PP, Pedro Henry (MT), e do PL, Valdemar Costa Neto (SP), para aceitar o mensalão. Múcio também negou que o presidente Lula tivesse chorado quando foi avisado do mensalão.


Valdemar pôs José Múcio contra Jefferson:


– Quem mente? O Múcio está aqui num jornal de Pernambuco dizendo que nunca recebeu proposta de Mensalão, que Roberto Jefferson havia se confundido.


– Faça a pergunta a ele. Eu falo por mim – reagiu Jefferson.


José Múcio reagiu:


– Perplexo fiquei, como o Brasil ficou, quando ouvi essas denúncias. Delúbio me procurou, mas não tocamos em dinheiro. Não discuti mensalão com Valdemar. Participei do encontro com Lula, ele ficou perplexo, mas não chorou.


Em janeiro de 2004, o tesoureiro do PT, Delúbio Soares, procurara José Múcio para que o levasse até Jefferson.


– Chegou lá um homem simples, fumando um charuto, com aquele jeitão de goiano do interior e disse: eu gostaria de ajudar a desencravar uma unha de algum companheiro aí que esteja precisando. Eu disse: Delúbio, obrigado. Eu quero participar da formulação do governo, mas mensalão eu não quero não! – contou Jefferson, informando que depois toda a bancada rejeitou por unanimidade.


Logo em seguida Jefferson passou a relatar como negociou o acordo com o PT para receber dinheiro para campanha. Acertou tudo, segundo seu relato, em várias reuniões, na sede do PT em Brasília, no Edifício Varig, com o presidente José Genoino, o tesoureiro Delúbio Soares e Marcelo Sereno, atual secretário de Comunicação do PT.


– Aprovaram os R$ 20 milhões para as campanhas do PTB em todo Brasil. Mas só cumpriram a primeira parcela em julho.


Segundo ele, o dinheiro foi levado em duas ocasiões pelo publicitário Marcos Valério à sede do PTB em Brasília.


Mais tarde, perguntado sobre a contradição de rejeitar o mensalão mas aceitar doação ilegal, Roberto Jefferson respondeu que todo mundo está cansado de saber como as campanhas são financiadas no Brasil: com dinheiro da iniciativa privada, de empresários que fazem negócios nos governos, disse.


O deputado Orlando Fantazzini (PT-SP) quis saber por que a doação dos R$ 4 milhões não foi registrada na Justiça Eleitoral. Ele respondeu que recebeu como pessoa física, caindo em nova contradição:


– Recebi a doação como cidadão Roberto Jefferson, não como presidente do PTB. Não quero envolver meu partido, não posso envolver meu partido. Quero prestar conta como o cidadão Roberto Jefferson.’



 


Leonardo Souza


‘DNA foi multada em mais de R$ 9 milhões ‘, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘Acusado pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) de ser o ‘operador’ do ‘mensalão’, o empresário Marcos Valério Fernandes de Souza tem problemas com a Receita e a Previdência Social.


A agência de publicidade DNA Propaganda, da qual é sócio, tem pelo menos sete processos na área tributária e dois na previdenciária pelo não-recolhimento de tributos, segundo entendimento dos órgãos federais. Em apenas três dos nove processos, as autuações contra a DNA superam R$ 9 milhões. A empresa contesta todas as ações, tanto na Justiça quanto na esfera administrativa.


O engenheiro Marcos Valério é sócio de uma holding que controla as agências DNA e SMP&B Comunicação. Com sede em Belo Horizonte, o grupo detém cinco contas do governo federal: Correios, Banco do Brasil, Eletronorte, Ministério do Trabalho e Ministério do Esporte.


Em entrevista à Folha, Roberto Jefferson disse que a suposta distribuição de ‘mensalões’ a parlamentares seria realizada por Marcos Valério, sob o comando do tesoureiro do PT, Delúbio Soares.


Segundo o entendimento de fiscais da Receita, a agência foi autuada por irregularidades no recolhimento de Imposto de Renda da Pessoa Jurídica, IR retido na fonte, PIS e Cofins.Segundo um técnico da Receita ouvido pela reportagem, o auditor responsável pela autuação deve ter entendido que a empresa cometeu algum crime previsto na lei 8.137.


De acordo com a lei, é crime contra a ordem tributária suprimir ou reduzir tributo ou contribuição social mediante determinadas condutas, como omitir informação ou prestar declaração falsa às autoridades fazendárias; fraudar a fiscalização tributária, inserindo elementos inexatos, ou omitindo operação de qualquer natureza em documento ou livro fiscal; falsificar ou alterar nota fiscal, fatura, duplicata, nota de venda, ou qualquer outro documento relativo à operação tributável. A pena prevista é de dois a cinco anos de reclusão e multa.


‘Invasão’


Entre os casos enfrentados pela DNA aos quais a Folha teve acesso, o de maior valor envolve o INSS (Instituto Nacional do Seguro Social). Em valores atualizados no dia 31 de março, soma R$ 8,46 milhões. A agência de publicidade consta na lista de devedores da dívida ativa da Previdência Social.


Um dos argumentos da DNA para tentar invalidar a multa é que o INSS teria obtido documentos da empresa de forma irregular.


No processo, os advogados da agência de publicidade dizem que a fiscalização do INSS invadiu as dependências da empresa, com a ajuda de quatro policiais federais, sem mandado judicial, o que seria inconstitucional. Essa ação teria ocorrido no dia 14 de dezembro de 1999. ‘Portanto, tendo em vista que os Ais [autos de infração] lavrados pelo INSS decorrem de provas ilícitas, sendo por isso destituídos de eficácia jurídica, deverão os mesmos serem anulados’, afirmaram os advogados.


Um dos problemas apontados pelo INSS é que sócios-gerentes da empresa teriam feito retiradas e tomado adiantamentos como se fossem distribuição de lucros, o que, em tese, reduziria os tributos a serem pagos. A empresa alega que os recursos se referiam sim à distribuição de lucros.


Colaborou CHICO DE GOIS, enviado especial a Brasília’



 


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‘Agência diz que a causa das multas é a ‘bitributação’’, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘A vice-presidente da DNA Propaganda, Margareth Queiroz, disse que as autuações da Receita não são exclusividade da agência, pois se estendem a todas as empresas do setor. Segundo ela, isso se deve a uma divergência entre as agências e a Receita sobre forma de recolhimento de tributos relacionada às operações de publicidade.


Segundo Margareth, a Receita entende que certos impostos têm de incidir sobre 100% do faturamento das empresas. Já as agências defendem que essa interpretação não é correta, pois grande parte da receita que obtêm com os contratos de publicidade é repassada a seus fornecedores, como as empresas de comunicação em que os anúncios são veiculados.


Ela disse que a Abap (Associação Brasileira das Agências de Publicidade) já teve ganho de causa em uma ação sobre o tema. ‘É um caso claro de bitributação, pois nós teríamos de pagar os impostos e nossos fornecedores também’, disse ela.


Quanto à determinação de um dos auditores fiscais para que parte dos supostos débitos fosse inscrita na dívida ativa da União, Margareth disse que esse procedimento é comum em muitas autuações da Receita, mas que a empresa contesta tal interpretação. Segundo ela, se a agência tivesse débito na dívida ativa da União, não poderia mais ter contas no governo.


Sobre a representação fiscal para fins penais, disse que o auditor pode ter esse entendimento, mas que a DNA também recorreu da ação.


Por meio de seu advogado, Marcos Valério de Souza pediu ao STF que interpele Roberto Jefferson para que ele confirme em juízo as declarações que deu à Folha. O pedido foi feito com o objetivo de preparar ação em que acusará Jefferson de crime contra a honra.’



 


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‘Publicitário pede que STF interpele deputado federal ‘, copyright Folha de S. Paulo, 14/06/05


‘O publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza pediu ao STF (Supremo Tribunal Federal) que interpele o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ), para que ele confirme em juízo as declarações que deu à Folha.


O pedido foi formulado pelo advogado de Marcos Valério, Paulo Sérgio Abreu e Silva, com o objetivo de eventualmente preparar ação em que acusará Jefferson de praticar crime contra a honra. Na entrevista publicada anteontem, Jefferson disse que Valério era quem levava o dinheiro do ‘mensalão’ a deputados do PP e do PL.


Na petição, o advogado diz: ‘Os fatos levados ao conhecimento do público não retratam a verdade, constituindo as afirmativas feitas pelo interpelado [Jefferson] delitos contra a honra do requerente [Marcos Valério], que teve ofendidos a sua reputação, sua dignidade e seu decoro’.


Cabe ao Supremo interpelar Jefferson, por causa do foro privilegiado assegurado a deputados, senadores, ministros de Estado e ao presidente.’



 


Folha de S. Paulo


‘Denúncias de Jefferson’, copyright Folha de S. Paulo, 15/06/05


‘Na defesa verbal que apresentou ontem ao Conselho de Ética da Câmara, o presidente do PTB, Roberto Jefferson, reafirmou o conteúdo das entrevistas concedidas a esta Folha, nas quais denunciou o suposto pagamento de ‘mesadas’, por representantes do PT, a parlamentares de partidos aliados.


Jefferson reiterou o que dissera sobre os supostos operadores desse esquema. Ressalvou a bancada do PT, mas voltou a citar o tesoureiro petista, Delúbio Soares. Também dirigiu acusações ao ministro da Casa Civil, José Dirceu, ao presidente do partido, José Genoino, ao secretário-geral da agremiação, Silvio Pereira, e ao publicitário Marcos Valério.


Ao referir-se à denúncia de que ele, Jefferson, comandava a intermediação de negócios nos Correios, sugeriu que havia focos de corrupção no departamento de informática da estatal e no correio aéreo noturno. E estranhou que as investigações não tenham chegado a esses órgãos, dando a entender que têm sido mantidos à margem por interesse do PT.


Como adiantara à Folha, Jefferson negou que tivesse provas, mas afirmou que seu testemunho era uma ‘preliminar’ do que dirá quando convocado pela CPI dos Correios.


O deputado declarou que o ‘mensalão’ era amplamente comentado na Câmara e insistiu que o ministro da Fazenda, Antonio Palocci Filho, recebera informações acerca do esquema. Ao comentar a doação de dinheiro do PT a seu partido, o PTB, o depoente insinuou que o ministro José Dirceu atribuíra o não-pagamento de uma parcela a dificuldades em trazer recursos do exterior.


São denúncias que devem ser tomadas com cautela, mas que não podem de forma alguma ser descartadas, como gostariam alguns. O depoimento reforçou as desconfianças acerca do comportamento da cúpula petista, colocou em xeque partidos e parlamentares e levantou questões sobre o procedimento de ministros.


É preciso que o teor das declarações do deputado, bem como seu suposto envolvimento com a corrupção nos Correios, sejam objeto de investigações mais aprofundadas para que o país possa conhecer os fatos.’



 


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‘Petebista diz que imprensa ‘julga e pune’ ‘, copyright Folha de S. Paulo, 15/06/05


‘O presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), atacou a imprensa ontem em seu depoimento no Conselho de Ética da Câmara, afirmando que ela ‘investiga, julga e pune em uma semana’.


Jefferson acusou ainda o governo de ter usado a imprensa para atacá-lo. Segundo ele, houve ‘dedo do governo’ na reportagem da revista ‘Veja’ que originou a atual crise. Ele também qualificou as Organizações Globo como ‘veículos oficiais’.


O petebista afirmou ter escolhido a Folha para conceder a entrevista em que revelou o suposto esquema do mensalão porque o jornal ‘O Estado de S.Paulo’ também teria embarcado no ‘linchamento’, sem lhe dar ‘direito de defesa’.


Procurada pela Folha, a direção da ‘Veja’ preferiu não se manifestar. A direção das Organizações Globo não respondeu até o fechamento desta edição. No ‘Jornal Nacional’, a apresentadora Fátima Bernardes disse que os veículos da organização apenas cumpriram com o dever de informar. O jornal ‘O Estado de S.Paulo’ não se manifestou.


Isolamento


Jefferson voltou a dizer, a exemplo do que declarara na entrevista à Folha, que José Dirceu prometeu a ele interceder ‘por cima’ no jornal ‘O Globo’ para que as notícias contra ele arrefecessem. A ‘Veja’, por sua vez, seria ‘tucana’ para Dirceu, segundo o relato do petebista.


‘Quando me senti isolado, no dia 6, com aquela matéria covarde do ‘diário oficial’ que é ‘O Globo’, ‘diário oficial’ do governo, como diz o Zé Dirceu: ‘Esse eu controlo’, e quando me senti atingido pela revista que acompanha o ‘diário oficial’, a revista ‘Época’, que expõe a mãe dos meus filhos, avó dos meus netos de baby doll, e abre a porta do meu banheiro e me coloca sentado na privada, numa matéria desconstrutiva da minha imagem, eu falei aos meus companheiros de partido: o governo vai botar o cadáver no colo do PTB, olha a imprensa oficial como está vindo’, disse Jefferson.


‘Disse a ele [Dirceu]: ‘Você tem como me ajudar na ‘Veja’? Ele disse ‘Não, a ‘Veja’ é tucana’. Disse a ele: Tem como me ajudar no ‘Globo’? Ele falou ‘esse eu tenho, por cima, eu seguro’. E não segurou’, afirmou Jefferson.


O deputado disse ter sido surpreendido com o noticiário no domingo em que concedeu a primeira entrevista à Folha.


‘A mãe dos meus filhos me liga porque o ‘diário oficial’ de domingo [se referia a ‘O Globo’] sai no sábado à tarde no Rio. ‘A matéria tem oito páginas para te destruir’ e me mostrou a matéria da revista ‘Época’, de três páginas, ‘para te destruir’.’



 


O Globo


‘O deputado que se diz perseguido pela imprensa’, copyright O Globo, 15/06/05


‘Alvo de denúncias desde que a revista ‘Veja’ revelou, em reportagem de capa, o escândalo da fita com sua participação no esquema de corrupção montado nos Correios, o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) atacou os principais veículos da imprensa brasileira durante o depoimento de ontem. Por isso, explicou, escolheu o jornal ‘Folha de S. Paulo’ para dar as entrevistas em que apontou a existência do esquema do mensalão.


Na visão de Jefferson, o GLOBO, a TV Globo, a Rádio Globo, as revistas ‘Veja’ e ‘Época’ e o jornal ‘O Estado de S. Paulo’ estão determinados a destruí-lo para atender a interesses do governo. Segundo ele, a ‘Folha’ é a única que não está no seu ‘linchamento’. Jefferson voltou a citar uma conversa em que teria pedido a ajuda do ministro da Casa Civil, José Dirceu, para tentar evitar o noticiário negativo.


Dirceu, segundo Jefferson, teria dito que não poderia intervir na ‘Veja’ porque a revista era tucana, mas que teria como fazê-lo no GLOBO, conversando ‘por cima’. Chamando o jornal de ‘ Diário Oficial do governo’, ele se contradisse, entretanto, ao reclamar que o bombardeio continuou implacável, mesmo depois da suposta promessa do ministro, tendo dito que Dirceu ‘não segurou’ o GLOBO. E voltou a dizer que só fez as denúncias do mensalão depois de ler o GLOBO do domingo retrasado, 5 de junho, que publicou em manchete a extensão de seu poder na máquina federal:


– No fim de semana seguinte persiste o linchamento brutal, em especial do GLOBO, da TV Globo, da rádio Globo e da revista ‘Época’ contra mim. Eu disse a meus companheiros: matéria encomendada. O GLOBO me atribuiu fatos que não existem para desconstituir minha imagem – disse Jefferson.


Em outro trecho do depoimento voltou ao ataque ao GLOBO, por causa da reportagem ‘Todos os homens de Roberto Jefferson’.


– Dia 5 veio a matéria covarde do Diário Oficial do governo – disse Jefferson.


O deputado reclamou, então, que Dirceu não teve qualquer ingerência no jornal:


— Não segurou, porque o enfraquecimento do PTB recrudesceu a ação da PF contra o partido — concluiu Jefferson.


O presidente do PTB explicou, então, por que escolheu a jornalista Renata Lo Prete, do jornal ‘Folha de S. Paulo’, para conceder as duas entrevistas em que faz as acusações do mensalão. Disse que no sábado, dia 4, quando O GLOBO de domingo já estava nas bancas, a mãe de seus filhos ligou do Rio para Brasília avisando que o jornal tinha ‘oito páginas com matérias para lhe destruir’. A ‘Época’ estava na mesma linha, disse.


Então Jefferson contou que ligou para a jornalista da ‘Folha’, que foi de São Paulo para Brasília para entrevistá-lo. O deputado esbanjou deboche ao se referir ao jornalista Expedito Filho, do jornal ‘O Estado de S. Paulo’, órgão também descartado para as entrevistas de Jefferson.


– Podia ser o ‘Estadão’, mas o jornal embarcou no linchamento para me destruir. Olha Expedito! Troglodita passa. General da tropa de choque do Collor passa, mas metrossexual, Expedito? Isso não! – disse o deputado.


Ele concluiu os ataques à Imprensa dizendo que o governo vai colocar o cadáver no colo do PTB, usando o que chamou de ‘imprensa oficial’.


Os veículos citados por Roberto Jefferson não quiseram se pronunciar.’