Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mario Vargas Llosa

‘São dois os argumentos principais usados pelos defensores da exceção cultural, a saber:

1) Os bens e produtos culturais são diferentes dos outros bens e produtos industriais e comerciais e por isso não podem ser entregues, como estes últimos, às forças do mercado – à lei da oferta e da demanda -, porque, se forem, os produtos bastardos, inautênticos, toscos e vulgares acabarão tomando o lugar, na opinião pública (ou seja, entre os consumidores), dos mais valiosos e originais, as autênticas criações artísticas. O resultado seria o empobrecimento e a degradação dos valores estéticos na coletividade.

Dependendo só do mercado, gêneros como a poesia, o teatro, a dança, etc., poderiam desaparecer. Portanto, os produtos culturais precisam ser excetuados do crasso interesse comercial do mercado e submetidos a um regime especial.

2) Os produtos culturais devem ser objeto de um cuidado especial por parte do Estado, pois deles depende, de maneira primordial, a identidade de um povo, ou seja, sua alma, seu espírito, aquilo que o singulariza entre os outros e constitui o denominador comum entre seus cidadãos: seus padrões estéticos, sua identificação com uma tradição e um modo de ser, sentir, crer, sonhar, em suma o aglutinante moral, intelectual e espiritual da sociedade. Entregue ao mercantilismo ganancioso e amoral, esta identidade cultural da nação se veria fatalmente manchada, deteriorada pela invasão de produtos culturais forasteiros – pseudoculturais, melhor dizendo – impostos por meio da publicidade e com toda a prepotência das transnacionais, que, mais cedo ou mais tarde, perpetrariam uma verdadeira colonização do país, destruindo sua identidade e substituindo-a pela do colonizador. Se um país quer conservar sua alma e não se transformar num zumbi, deve defender sua identidade protegendo seus produtos culturais da concorrência e da aniquiladora globalização.

Não ponho em dúvida as boas intenções dos políticos que, com variantes mais de forma que de fundo, esgrimem estes argumentos em favor da exceção cultural, mas digo que, se os aceitamos e levamos a lógica neles implícita à sua conclusão natural, estamos afirmando que a cultura e a liberdade são incompatíveis e que a única maneira de garantir a um país uma vida cultural rica, autêntica e da qual todos os cidadãos participem é ressuscitar o despotismo ilustrado e praticar a doutrina mais letal para a liberdade de um povo: o nacionalismo cultural.

Note-se quão profundamente antidemocrático é o primeiro destes argumentos.

Se se respeita a liberdade dos homens e mulheres comuns e corriqueiros, a cultura está perdida, porque, na hora de escolher entre os bens culturais, aqueles escolhem sempre a porcaria: ler O Código Da Vinci, de Don Brown, em vez de Cervantes, e ir assistir a Homem-Aranha em vez de A Má Educação.

Portanto, como o público em geral é tão pouco sutil e rigoroso na hora de escolher os livros, filmes, espetáculos, e seus gostos em matéria de estética são execráveis, é preciso orientá-lo na boa direção, impondo-lhe, de uma maneira discreta e que não pareça abusiva, a boa escolha. Como?

Penalizando os maus produtos artísticos com impostos e tarifas que os encareçam, por exemplo, ou fixando quotas, subsídios e rendas que privilegiem as genuínas criações e releguem as medíocres ou nulas. E quem serão os encarregados de levar a cabo esta delicadíssima diferenciação entre a arte integérrima e o lixo? Os burocratas? Os parlamentos? Comissões de artistas exímios designadas pelos ministérios? O despotismo ilustrado versão século 21, portanto.

O outro argumento traz conseqüências igualmente nefastas. A simples idéia de identidade cultural de um país, de uma nação, além de ser uma ficção confusa, leva inevitavelmente à justificação da censura, ao dirigismo cultural e à subordinação da vida intelectual e artística a uma doutrina política: o nacionalismo. A cultura de um país como a França ou a Espanha não pode se resumir a um cânone ou tábua de valores e idéias das quais todas as obras artísticas e intelectuais produzidas em seu seio fossem expressão e sustentação coerente. Pelo contrário, a riqueza cultural destes dois países está em sua diversidade contraditória, na existência neles de tradições, correntes e criadores e pensadores renhidos entre si, que representam visões do mundo e da arte que repelem umas às outras, e no universalismo que essas obras alcançaram em seus momentos mais altos graças ao fato de ter sido concebidas sem as amarras de um horizonte local ou nacional e – como acontece com o Quixote, Baudelaire, com Tirant lo Blanc, com Proust, com El Greco e Goya e Velázquez e La Tour, Toulouse Lautrec, Matisse, Gauguin e tantos outros – ao fato de ter sido por isso mesmo entronizadas como representações estéticas onde era possível reconhecer os seres humanos de qualquer tempo ou cultura.

Estas obras não teriam sido possíveis dentro das fronteiras nacionais pressupostas pela noção aberrante de uma identidade cultural coletiva.

Nem sequer a língua pode ser considerada um campo de concentração para a vida cultural, porque, por sorte – e, graças à globalização, este processo irá se ampliando cada vez mais -, quase todas as línguas ultrapassam as fronteiras ou várias línguas convivem dentro de uma nação, e há entre artistas uma mobilidade que lhes permite cada vez mais escolher sua própria tradição e seu próprio país espiritual, de modo que pretender transformar uma língua num sinal de identidade cultural de um povo também é outro artifício ideológico. Se a própria idéia de nação – um conceito oitocentista que perdeu a estabilidade e aparece cada vez mais diluído à medida que as nações vão se integrando em grandes blocos – resulta em nossos dias bastante relativa, a de uma cultura que expressaria a essência, a verdade anímica, metafísica, de um país é uma fraude de índole política que, na verdade, tem pouco a ver com a verdadeira cultura e muito, em compensação, com aquele ‘espírito da tribo’ que, segundo Popper, é o grande obstáculo para que se alcance a modernidade.

A França e a Espanha já avançaram demais no que diz respeito à cultura democrática para que seus cidadãos, que às vezes se deixam seduzir pela demagogia e o chauvinismo escondidos nas ilusões da exceção cultural, aceitem o que seriam as conseqüências práticas de semelhante proposta: uma vida cultural regida por burocratas ou artistas e escritores instrumentais, na qual todo o estrangeiro seria considerado um desvalor e todo o nacional, o valor estético supremo. De modo que, em termos práticos, provavelmente todo o alvoroço que nestes dois países rodeia a política da exceção cultural só desembocará em alguns artistas recebendo os subsídios que pedirem e em burocratas, sob o pretexto de proteger os bens culturais, perpetrando mais desperdícios que os conhecidos. Pouca coisa, no fim das contas, se toda a exceção cultural não passar disso, e em ambos os países se respeitar a liberdade, o Estado não se meter a substituir os consumidores na hora de escolher os produtos culturais e estes continuarem submetidos ao jogo da oferta e da demanda com as mínimas interferências possíveis.

É verdade que os produtos culturais são diferentes dos outros. Mas o são porque, diferentemente de um refrigerante ou uma geladeira, em vez de tomar espaço de seus concorrentes no mercado, lhes abrem a porta, os promovem. Uma obra de teatro, um livro, um pintor que têm êxito são a melhor propaganda para a arte dramática, a literatura e a pintura e criam curiosidades e apetites – devoções – que beneficiam os outros artistas e escritores. O mercado não determina a qualidade, e sim a popularidade de um produto, e já sabemos que nem sempre ambas as coisas coincidem, embora às vezes sim. O que o mercado mostra é o estado cultural de um país, o que o homem e a mulher comuns preferem, e o que rejeitam, no exercício de um direito que nenhum governo democrático pode refutar nem cercear. Querer acabar com o mercado dos bens culturais porque o público não sabe escolher é confundir o efeito com a causa, liquidar o mensageiro porque traz notícias que nos desgostam.

É claro que seria preferível que os consumidores às vezes tivessem um gosto melhor na hora de escolher um livro, um espetáculo, um filme, um concerto, e que dessem à cultura uma presença maior em suas vidas. Um governo pode fazer algo a respeito? Muitíssimo. É a educação, não o subsídio, que pode criar um público mais culto. Mas não só os professores ensinam a ler, ouvir boa música, discriminar entre o que é arte e o que é caricatura. Também as famílias, os meios de comunicação, o entorno social em que cada cidadão se forma. E sem dúvida a preservação do patrimônio é uma responsabilidade central do Estado.

Porém, inclusive neste campo, é indispensável que os governos envolvam a sociedade civil, mediante políticas tributárias que estimulem o mecenato e a ação cultural. A maioria, não só os funcionários, deve decidir para onde canalizar os recursos públicos e privados para promover a cultura.

Mas a obrigação primordial de um governo neste âmbito é criar condições que estimulem o desenvolvimento e a criatividade culturais, e a primeira delas é a liberdade, no mais amplo sentido da palavra.

Liberdade não apenas de opinar e criar sem interferências nem censuras, mas também de abrir as portas e janelas para que todos os produtos culturais do mundo circulem livremente, porque a cultura de verdade nunca é nacional, e sim universal, e as culturas, para sê-lo, precisam estar continuamente em cotejo, luta e mestiçagem com as outras culturas do mundo. Esta é a única maneira de elas se renovarem sem cessar. A idéia de ‘proteger’ a cultura já é perigosa. As culturas se defendem sozinhas, não precisam dos funcionários para isso, por mais que estes sejam cultos e bem-intencionados. (Tradução de Alexandre Moschella)’



MÍDIA & CULTURA
Ana Maria Bahiana

‘Contos de inverno’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br) , 27/07/04

‘A notícia, semana passada, de que a DreamWorks estava abrindo o capital da sua divisão de animação parecia quase em resposta aos meus devaneios de churrascaria acerca da importância – cultural, econômica – da animação. Não vi, contudo, maiores registros do fato em nossa mídia cultural ‘normal’, ou seja, fora da Internet.

Adoraria estar errada. O assunto tem cara de tedioso e pertinente apenas às páginas de economia (onde talvez tenha sido enterrado) mas não é: sem muito esforço suas entranhas revelam oráculos poderosos sobre tendências audiovisuais, o fenômeno da cauda, mais uma vez, declarando independência do cachorro (o caso anterior foi a alforria da Pixar), a ascensão de um produto antes destinado à mais baixa das prateleiras. Sem falar no fato interessantíssimo da DreamWorks ser, agora, de direito e de fato, duas empresas, uma controlada por Steven Spielberg e a outra (a de animação), capitaneada por Jeffrey Katzenberg e David Geffen. Pelo menos o fator-fofoca deste fato devia valer alguma coisa.

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O frio leva ao computador e o computador me leva ao Orkut, no qual sou prontamente enjaulada, sem explicação ou cerimônia. Será que o Orkut está sendo treinado juntamente com os agentes da imigração americana?

A comunidade virtual, tomada de assalto pelos brasileiros, sugere algum tipo de reflexão além dos habituais ‘gosto’ e ‘não gosto’ – até novas lendas urbanas ela já gerou, inclusive uma fantástica teoria de conspiração.

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Entre as sub-comunidades orkutianas encontro várias dedicadas exclusivamente a finadas revistas brasileiras de música: Bizz, SomTres e até Rolling Stone brasileira (três integrantes, da última vez que vi) tem lá suas tribos. A fidelidade passional, emotiva, visceral de leitores a essas criaturas de papel e tinta é algo que não cessa de me intrigar e, de certa forma, causar profunda admiração.

Não me parece um fenômeno definido por nacionalidade – a mesma coisa é encontrável com variantes mínimas, pelo mundo afora. Suspeito que seja ‘generacional’ parte da veneração por aquilo que foi importante no momento em que nos definimos como adultos.

Alguma outra publicação, hoje, provocaria tais casos de amor? Provavelmente não – esse tipo de fetiche pertence a uma era em que volumes de papel impresso tinham uma certa dignidade e um certo peso sobre a formação de opiniões e gostos de jovens impressionáveis. É uma tarefa assumida, hoje, pela Internet, cujo ritmo necessariamente veloz e imediato pode não ser conduzido a tão duradouro culto.

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A propósito, bem que diz um grande amigo meu: nada como um presidente safado (ou uma guerra sem sentido, eu acrescentaria) para fazer a Rolling Stone ficar boa de novo. Os dois últimos números encontram a veneranda publicação em sua melhor forma – até Tom Wolfe está de volta! Os (nojentos) bastidores da ‘cobertura’ da ‘guerra’ no Iraque, as últimas horas de vida de Jim Morrison, as sociedades secretas das universidades de elite dos Estados Unidos são algumas das apetitosas matérias desta sobrevivente de idos tempos.’



RODA VIVA / BASTIDORES
Augusto Nunes

‘O copo que atraiçoou Paulo Brossard’, copyright No Mínimo (www.nominimo.com.br), 25/07/04

‘O senador Paulo Brossard entrou gloriosamente na arena improvisada no estúdio. Convidado a estrelar o programa ‘Roda Viva’, lançado semanas antes pela TV Cultura de São Paulo, nosso bravo gaúcho compunha, naqueles idos de 1989, um figuraço. Cabeleira leonina, mirada superior de varão do império, corpanzil dos amigos da boa mesa que todavia não se esquecem dos famintos anônimos, Brossard aproximou-se em passos lentos da cadeira no centro do cenário. Antes de sentar-se, passeou o olhar ao redor, olhou um a um os entrevistadores espalhados pela bancada dois metros acima e tonitruou o cumprimento coletivo: ‘Boa noite, senhoras e senhores’.

‘Boa noite’, responderam em tom reverente senhoras jornalistas e senhores jornalistas, telefonistas incumbidas de recolher perguntas dos telespectadores, diretores da Cultura, gente da produção, iluminadores, penetras e transeuntes. Brossard inspiraria respeito até se aparecesse de pijama. Pois estava nos trinques. E caprichara nos adereços.

Lá estavam o chapéu panamá e a repolhuda gravata borboleta (vermelha). Terno de cashmere inglês talhado por alfaiate dos bons, sapatos de cromo alemão. Sobraçava uma genuína pala gaúcha, em tecido preto e grosso. Sentado, estendeu no piso à frente da cadeira a pala magnífica, sobre a qual depositou o chapéu panamá. Era o quarto ou o quinto capítulo daquele que se transformaria no mais longevo programa de entrevistas da TV brasileira.

(Sem alterações notáveis no formato original, e muito bem de saúde, continua no ar essa grande invenção de Roberto de Oliveira, um dos mais talentosos profissionais da televisão nativa. O ‘Roda Viva’, que apresentei por dois anos seguidos, soube manter ao longo do tempo a qualidade das entrevistas e, mais importante ainda, a independência. Mas esta é outra história. Voltemos àquela noite de segunda-feira em que Paulo Brossard brilharia intensamente.)

Quando o senador cruzou as pernas, percebi que as calças tinham parentesco com bombachas. A curvatura das coxas não era tão arqueada como recomenda a tradicional indumentária gaúcha. Mas sobrava tecido para que os bolsos engolissem o que em outros não caberia. Um copo com água até a borda, por exemplo. Como aquele que estava à direita de Brossard, na cavidade dramaticamente rasa infiltrada na extensão da cadeira.

– Políticos gesticulam muito – murmurei para Roberto de Oliveira quando o programa estava para começar. – Ele vai acabar esbarrando no copo.

– É por isso mesmo que o copo está lá – sorriu Roberto.

O cenário do ‘Roda Viva’ fora concebido para complicar. O convidado se sentia numa arena, cercado por inimigos. Muitas perguntas, feitas por sete jornalistas, vinham literalmente pelas costas. Do teto, exatamente sobre a cabeça do entrevistado, pendia o holofote que parecia colocado ali para desabar a qualquer momento. Se a vítima, distraidamente, girasse a cadeira para um lado só, acabaria enredado na floresta de fios. Isso aconteceu com freqüência. Algum funcionário tinha de arrastar-se pelo solo, abaixo da linha das câmeras laterais, para desenroscar o prisioneiro.

E havia o copo traiçoeiro. No meio do programa, uma jornalista perguntou a Brossard quantos alqueires de terra possuía. Ele não gostava do assunto, achava que queriam apresentá-lo como latifundiário. Mas as respostas já estavam na ponta da língua, deixara de irritar-se com o tema. Começou a resposta no tom do avô que conta histórias a um neto. Só que, no meio da conversa, fez um movimento brusco com a mão direita e o copo emborcou no bolso direito.

Enquanto o senador falava, fiquei contemplando a trajetória da água. Molhava-se mais um centímetro, a voz subia alguns decibéis. Aumentava o volume do fiapo líquido, a irritação crescia. Como os telespectadores não haviam testemunhado o incidente, não compreendiam o que se passava. Por que o homem parecia cada vez mais alterado? O que dera no senador?

Quando o intervalo chegou, Brossard enxugou-se como pôde. Recuperou o equilíbrio. Até voltou a falar, sem exaltar-se, das fazendas no Rio Grande. Só pediu que tirassem dali aquele copo detestável.’



MULHERES, HÁ 50 ANOS
Zuenir Ventura

‘Isso é coisa de mulher’, copyright O Globo, 27/07/04

‘Gosto de ler a seção ‘Há 50 anos’ aqui do GLOBO não tanto para saber como era o Brasil, e sim o que mudou. A de anteontem, por exemplo, noticiava: ‘Duas polegadas tiram o título de Martha’. Quer dizer, um mês antes do suicídio de Getúlio Vargas e um depois da derrota para a Hungria na Copa da Suíça, a nossa mais famosa miss ficava em segundo lugar no concurso universal de beleza. Eram três graves perdas num ano só, mas ao contrário do que viria a acontecer com outros vice-campeonatos, o de Martha Rocha foi comemorado como uma vitória, ainda que lamentado como uma injustiça.

Depois do ‘rude golpe’ sofrido pelo futebol, dizia o jornal, ‘eis que com um par de pernas, um rosto angélico e um busto diante do qual se ajoelha a geometria euclidiana, restaura-se a importância brasileira no concerto das nações’. Baiana, loura de olhos verdes, a Miss Brasil representava o ‘caldeamento de raças’ e era o ideal de beleza feminina. De lá para cá, a seleção conquistou cinco Copas do Mundo, nenhum outro presidente se matou e a mulher brasileira mudou seus padrões de beleza, optando por medidas que às vezes levam à anorexia e à bulimia.

Com 1,70cm de altura, 98cm de busto e 100cm de quadril, Martha não pisaria hoje numa passarela. Em compensação, Gisele Bündchen (1,79cm de altura, 86cm de busto e 85cm de quadril) não passaria na época de uma ‘saracura’, como era chamada na adolescência. Segundo o IMC (índice de massa corporal, que se calcula dividindo o peso pela altura, elevado ao quadrado), Martha tem 19,72 e Gisele 16 pontos (que mesmo assim, diante das anoréxicas modelos dos últimos desfiles de moda, parece uma renascentista).

Alguns atribuem essa mudança aos movimentos de emancipação feminina dos anos 60, que incutiram na mulher o medo de ser objeto sexual. ‘Hoje elas acham melhor ser magras que desejadas’, explicou ao repórter Alexandre Mansur o terapeuta Marco Antônio de Tomaso, das agências Elite e L’Equipe. Têm horror de serem ‘gostosonas’. A conclusão é que, em matéria de corpo, há agora uma enorme distância entre o gosto feminino e o desejo masculino. Quem gosta de magreza é mulher. Os homens em geral preferem as mais rechonchudas: menos Ana Hickmann e mais Juliana Paes, Viviane Araújo, Luma de Oliveira, Daniela Cicarelli.

Portanto, não temos nada a ver com a paranóia das estrias e das celulites, com essa obsessão pela ausência de peso. Podemos ser acusados de muita coisa ruim, mas a ditadura do novo ideal de beleza feminina não foi decretada pelo homem. Nos inclua fora dessa. Como dizia FHC, isso é coisa de mulher.’