Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Matinas Suzuki Jr.

‘O governo de Luiz Inácio Lula da Silva, em atitude retrógrada, excluiu a possibilidade de sites jornalísticos da internet fazerem perguntas na entrevista coletiva que dá à imprensa brasileira nesta sexta-feira.


O governo Lula demonstra não estar atualizado com as mudanças de hábitos da população no que diz respeito ao jornalismo digital, uma vez que ele se tornou uma das fontes primárias e mais baratas de acesso às informações do cidadão brasileiro.


Lembre-se que, recentemente, a Casa Branca credenciou um jornalista americano proprietário de um blog para participar livremente dos briefings e das regulares entrevistas coletivas do presidente Bush. O presidente Lula levou 850 dias para entender a importância para a democracia das entrevistas coletivas de um máximo mandatário da República.


Esperamos que ele e seus assessores não levem mais uma infinidade de tempo para se atualizarem sobre a importância da mídia digital para o mundo contemporâneo.


Mesmo sendo discriminado por um inaceitável anacronismo em relação à evolução histórica dos veículos de comunicação, o Último Segundo, o mais inovador e principal veículo do jornalismo digital no Brasil, não deixa de transmitir, ao vivo e on-line – como desejam parcelas expressivas da sociedade brasileira que precisam responder à velocidade do mundo contemporâneo – a coletiva do Presidente da República aos veículos tradicionais da imprensa brasileira. Transmitimos, mas lamentamos a oportunidade perdida por Lula para mostrar que é um homem atualizado com o seu tempo.’



Cristiane Jungblut e Gerson Camarotti


‘Temendo ‘agenda negativa’, Lula dá 1ª coletiva’, copyright O Globo, 29/04/05


‘No Salão Oeste do Palácio do Planalto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva concederá, às 10h30m de hoje, sua primeira entrevista coletiva em dois anos e quatro meses de governo. Será a primeira vez que Lula responderá, num mesmo encontro, a perguntas de representantes dos principais segmentos da mídia: jornais, rádios e emissoras de televisão. Ontem, Lula passou o dia em reunião com ministros e assessores se preparando para a entrevista. A maior preocupação dos assessores e do próprio Lula é com a ‘agenda negativa’ que tem se ampliado nos últimos dias.


A ‘agenda negativa’ é composta por temas difíceis que afetam o governo, como juros altos, denúncias contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, e pressão dos militares por reajuste salarial, além da polêmica ligação de Lula com o presidente venezuelano Hugo Chávez.


A preocupação com o episódio Jucá ficou clara com o fato de o ministro da Previdência ter sido chamado ontem pelo presidente para uma conversa na Granja do Torto, onde Lula passou a manhã. O presidente ainda se encontrou ao longo do dia com os ministros do núcleo de coordenação: José Dirceu (Casa Civil), Luiz Gushiken (Comunicação de Governo), Antonio Palocci (Fazenda) e Luiz Dulci (Secretaria Geral da Presidência).


O próprio Lula admitiu, nas conversas, que este era o ‘pior momento’ para fazer uma coletiva, mas disse que não voltaria atrás. Nas conversas preparatórias, chegou a treinar respostas para explicar a sua maior polêmica da semana: o discurso em que disse que o brasileiro tem que ‘levantar o traseiro’ contra os juros altos. Ele foi aconselhado por assessores a pedir desculpas e explicar a expressão infeliz. Essas explicações poderão ser dadas por Lula logo no início da coletiva, no curto pronunciamento que fará na abertura.


Duda Mendonça assessorou Lula


Lula também teve a ajuda do publicitário Duda Mendonça e do porta-voz da Presidência, André Singer, para se preparar para a coletiva. Os dois estiveram com o presidente na Granja do Torto. Duda, segundo integrantes do governo, também acertou com o presidente que haverá um pronunciamento oficial no domingo, em comemoração ao 1 de Maio, Dia do Trabalho. Em cadeia nacional de rádio e TV, enfatizará o aumento do salário-mínimo para R$ 300. O presidente, confirmaram seus auxiliares, conversou ontem com assessores e ministros sobre os temas que dominam a agenda e a mídia diariamente.


Num clima de expectativa e tensão, integrantes do Planalto avaliavam que a coletiva deve mesmo se pautar pela chamada ‘agenda negativa’ do governo nos últimos dias. Preocupados com as denúncias contra Jucá, setores petistas chegaram a defender sua demissão. Mas a proposta foi rejeitada no Planalto. Um ministro petista lembrou que o PMDB de Jucá foi fundamental, no Senado, para barrar a CPI do caso Waldomiro Diniz.


Esta está sendo considerada a primeira entrevista coletiva porque será a primeira vez que o presidente falará, ao mesmo tempo, para todos os tipos de mídia. Até agora, Lula só tinha concedido entrevistas setoriais: a emissoras de rádio duas vezes e a colunistas de jornais uma outra vez. O presidente também já falou com correspondentes estrangeiros.


AO VIVO: A entrevista será transmitida a partir das 10h30m pela GloboNews e pela Rádio CBN. A empresa de comunicação do governo federal, a Radiobras, também fará a transmissão ao vivo, tanto pelo canal de televisão, TV Nacional, como pela Rádio Nacional.’



***


‘Itamar e FH recebiam mais os jornalistas’, copyright O Globo, 29/04/05


‘Antecessor de Luiz Inácio Lula da Silva, o tucano Fernando Henrique Cardoso foi um dos presidentes mais acessíveis nos últimos tempos. Deu diversas coletivas, costumava conceder rápidas entrevistas nas viagens nacionais, atendia os jornalistas durante visitas ao exterior e algumas vezes falava com a imprensa no fim de cerimônias no Planalto.


Fernando Henrique também costumava receber grupos de jornalistas, como colunistas e editores, para conversas não gravadas, prática que também adotava o ex-presidente José Sarney. Ele dava coletivas e costumava ir ao comitê de imprensa para conversas informais.


Itamar Franco também não gostava muito de grandes entrevistas coletivas, mas concedeu algumas. Privilegiava os jornalistas que faziam a cobertura diária do Planalto, os chamados setoristas. Sempre que estava de bom humor, parava para uma conversa com os setoristas quando saía do Palácio, pelo andar térreo. Já Fernando Collor preferia dar entrevistas a colunistas ou diretores de jornais e emissoras de rádio e TV. Mas também concedeu coletivas.


As regras


O presidente Luiz Inácio Lula da Silva fará um curto pronunciamento de cinco a dez minutos e depois responderá a um total de 14 perguntas. Das 14 perguntas, nove serão feitas por jornalistas de veículos de comunicação que fazem a cobertura diária do Palácio do Planalto. Foram escolhidos os jornais O GLOBO, ‘Estado de S.Paulo’, ‘Folha de S.Paulo’, ‘Valor Econômico’, ‘Jornal do Brasil’ e ‘Correio Braziliense’, além da TV Globo, da TV Record e da TV Bandeirantes. Para selecionar este grupo foi considerado o critério de acompanhamento de viagens nacionais e internacionais do presidente.


As quatro perguntas restantes serão feitas por representantes de outros veículos credenciados na Presidência, como órgãos regionais, TVs a cabo e correspondentes estrangeiros.’



Toni Marques


‘Em 4 meses, Bush deu 5 entrevistas’, copyright O Globo, 29/04/05


‘O presidente Luiz Inácio Lula da Silva está muito atrás do presidente americano que menos deu entrevistas coletivas, Ronald Reagan. Em dois mandatos, o americano deu uma média de 5,8 coletivas por ano (num total de 46 ao longo de 96 meses, incluídas entrevistas conjuntas com autoridades estrangeiras, por exemplo).


O levantamento americano é da cientista política Martha Joynt Kumar, professora da Universidade Townson, pesquisadora de comunicação presidencial. O atual presidente, George W. Bush, não é dos mais afeitos ao mecanismo das entrevistas coletivas. A fechada estrutura de comunicação de seu governo já foi apelidada, por um jornalista da revista ‘The New Yorker’, de ‘Fortaleza Bush’. Mesmo assim, comparado a Lula, é um falastrão. Ontem deu a quinta coletiva de seu segundo mandato, que começou em janeiro; no primeiro, dera 12, ou três por ano, contando-se somente aquelas em que não estava na companhia de outra autoridade.


Quando estava no terceiro mês do terceiro ano de seu primeiro mandato, isto é, na iminência da guerra no Iraque, em 2003, Bush deu sua oitava entrevista solo. Segundo o levantamento da professora Martha Joynt Kumar, à mesma altura de seus respectivos governos, Clinton já concedera 30 coletivas solo, enquanto o pai de Bush dera 58.


Nos seus dois anos de mandato, Clinton concedeu 62 entrevistas coletivas sozinho, duas com outros integrantes do governo e 129 com líderes estrangeiros. Total: 193. Bush pai deu 142 ao todo.


Falso jornalista causou escândalo


As coletivas solo têm duração de 45 minutos. Quarenta e cinco minutos são suficientes, em geral, para mais de 20 perguntas, mas o universo de jornalistas na Casa Branca chega a cem repórteres. O presidente escolhe seus interlocutores. Como acontece com as coletivas americanas, não importa quem esteja sendo entrevistado, o jornalista que deseja fazer nova pergunta a partir da resposta dada tem de anunciar que se trata de tréplica, dizendo follow-up (‘subseqüente’). O presidente então decide se concede a tréplica. Não conceder faz parte do jogo.


As coletivas de Bush filho causaram polêmica quando comentaristas políticos na internet descobriram que um novato que fora escolhido pelo presidente para uma pergunta numa coletiva em janeiro deste ano se apresentava sob pseudônimo, não é jornalista e pertencia a uma organização de ativismo direitista, tendo reescrito notas do Partido Republicano à guisa de reportagens. O porta-voz de Bush, Scott McClellan, negou que o pseudojornalista tenha sido plantado pelo governo nas coletivas presidenciais.’



Kennedy Alencar e Catia Seabra


‘FHC concedeu coletiva formal ao menos oito vezes’, copyright Folha de S. Paulo, 29/04/05


‘Nos dois mandatos presidenciais do tucano Fernando Henrique Cardoso, ele concedeu pelo menos oito coletivas formais no Palácio do Planalto. Foram cinco no primeiro mandato (1995-1998) e três no segundo (1999-2002). Na média, FHC deu uma coletiva clássica por ano no Planalto. Lula, em dois anos e quatro meses de gestão, dará hoje a sua primeira entrevista desse tipo.


Antes mesmo da posse, FHC falou à imprensa. Foi logo após a eleição, em 6 de outubro de 1994, no Teatro Nacional, em Brasília, quando respondeu a 22 perguntas, uma por veículo.


Sua primeira coletiva oficial, porém, foi em 16 de fevereiro de 1995, após apresentar ao Congresso o primeiro lote de propostas de reforma constitucional. FHC fez apresentação de 35 minutos. Depois, respondeu a 20 perguntas.


Na ocasião, só perdeu a calma na última pergunta, da Folha, sobre o que faria se ganhasse R$ 70, o salário mínimo da época. ‘Não sobreviveria’, respondeu ele, dizendo que, ‘por isso’, defendia a reforma da Previdência. ‘Temos que ser sérios e não engraçadinhos’, afirmou depois.


No período FHC, não havia restrições a réplicas dos jornalistas, imposição adotada pelo atual governo e que restringe a atividade de imprensa ao impedir contra-argumentação.


Apesar de não haver proibição a réplicas, FHC decidia se respondia novamente ao jornalista ou se seguia adiante. Em 8 de março de 2001, FHC, respondendo a réplica da Folha, fez ataque bem-humorado ao então aliado e senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), envolvido em duelo na época com o presidente do Senado, Jader Barbalho (PMDB-PA).


‘A posição do senador Antonio Carlos é igual à do Requião [Roberto Requião, crítico do tucano e ainda hoje governador do Paraná]. Um trombone isolado na orquestra’, afirmou FHC.


Nos anos tucanos, o limite máximo e usual de perguntas era 20. O limite mínimo eram 12 perguntas, como na entrevista coletiva dada em 17 de janeiro de 1996.


Devido ao grande número de jornalistas credenciados, a assessoria de FHC fazia sorteio entre os veículos que mantinham cobertura diária e com assento no comitê de imprensa. Na coletiva de 21 de agosto de 1995, o Planalto limitou a 15 o número de perguntas. Na ocasião, grandes veículos de comunicação não foram sorteados e, assim, não perguntaram.


Na comparação com Lula, FHC era mais amistoso com os jornalistas e concedia coletivas rápidas em maior número nas viagens domésticas e internacionais. Em suas viagens, Lula, muitas vezes, não falou com a imprensa.


Em dias de notícia de muito impacto, FHC também ia à sala de briefings para responder a perguntas específicas e acabava falando de tudo. Em algumas visitas de autoridades estrangeiras, FHC deu coletivas, algo que Lula evita.’



Vera Rosa


‘Presidente passa o dia treinando para entrevista ‘, copyright O Estado de S. Paulo, 29/04/05


‘Na primeira grande entrevista coletiva que dará hoje, depois de dois anos e quatro meses de governo, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva pretende fazer uma prestação de contas de sua administração com base numa agenda positiva, que considera pouco divulgada. O presidente abrirá o encontro com um pronunciamento e foi orientado por assessores a evitar o costumeiro tom triunfalista.


Lula repassou ontem, com seus auxiliares, vários temas que devem ser abordados na entrevista marcada para as 10h30, no Salão Oeste do Palácio do Planalto, com transmissão pela Radiobrás. Fez uma espécie de ‘treinamento de mídia’ para as 14 perguntas que responderá, sem direito a réplica dos jornalistas. O publicitário Duda Mendonça aconselhou-o a dizer que foi mal-interpretado quando afirmou que o brasileiro é incapaz de ‘levantar o traseiro’ para procurar um banco com taxas de juros mais baixas.


Na lista dos assuntos árduos que a Secretaria de Comunicação do Governo lhe apresentou estão ainda as denúncias contra o ministro da Previdência, Romero Jucá, reforma ministerial, rebeldia dos aliados, excesso de medidas provisórias e até a posição do Brasil em relação à Alca. Jucá municiou Lula com mais explicações, ontem pela manhã, na Granja do Torto.


Para fazer contraponto às perguntas com potencial de impacto negativo, Lula encomendou aos principais ministérios um levantamento de dados para mostrar que o Brasil melhorou desde sua posse, em 2003. Se questionado sobre a alta produção de MPs, deverá responder que sua média mensal de MPs (4,93) é bem menor que a dos últimos dois anos da gestão Fernando Henrique (6,8).’



Fabiano Maisonnave


‘Nos EUA, coletiva à imprensa é hábito ‘, copyright Folha de S. Paulo, 29/04/05


‘Enquanto Luiz Inácio Lula da Silva ensaiava para sua primeira entrevista coletiva como presidente, o norte-americano, George W. Bush, concedia na Casa Branca a 21ª oportunidade para ser formalmente questionado por jornalistas desde que chegou ao poder, há quatro anos e três meses.


Parece bastante, mas o presidente eleito da Associação dos Correspondentes da Casa Branca, Mark Smith, reclama que ele concede menos entrevistas coletivas do que seus últimos dois antecessores, Bill Clinton e George Bush.


‘Ele se defende com um bom argumento, de que responde a perguntas freqüentemente em ocasiões informais, como sessões de foto, quando aceita duas questões do dia’, disse Smith à Folha, por telefone, enquanto se preparava para a coletiva, às 20h.


‘Mas, como presidente da associação, afirmo que não há substituto para sessão na qual nos reunimos com ele para que responda a diversas questões sobre vários temas. Ou apenas um tema aprofundado, quando os repórteres têm a oportunidade da réplica.’


Smith disse que Bush melhorou após assumir o segundo mandato, em janeiro. Desde então, tem dado uma coletiva por mês.


De acordo com levantamento feito por Martha Khumar, da Universidade Townson, com os últimos oito presidentes, o campeão de coletivas concedidas é o democrata Bill Clinton (1993-2001), com 117 encontros com a imprensa em oito anos. O último colocado é o republicano Gerald Ford (1974-1977), que assumiu após a renúncia de Richard Nixon: 22.


Segundo Khumar, o costume das coletivas presidenciais teve início com o presidente Woodrow Wilson, no dia 19 de março de 1913. Desde então, todos seus sucessores repetiram a prática.’



Folha de S. Paulo


‘Lula recebe Jucá e proíbe réplica na sua 1ª coletiva ‘, copyright Folha de S. Paulo, 29/04/05


‘Na véspera de conceder sua primeira entrevista coletiva oficial no Palácio do Planalto em dois anos e quatro meses de poder, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebeu por duas horas na Granja do Torto o ministro Romero Jucá (Previdência), alvo de uma série de acusações de desvios de verbas públicas.


O Planalto anunciou no início da noite que serão proibidas eventuais réplicas dos jornalistas, mas a Folha apurou que o presidente pode fazer esclarecimentos em caso de dúvida. Marcada para as 10h30, a entrevista terá 14 perguntas -nove dos veículos que fazem a cobertura jornalística diária do presidente e cinco de outros meios de comunicação.


A presença do ministro na residência oficial da Presidência não estava prevista na agenda oficial de Lula, divulgada anteontem. Na reunião com Jucá, também estiveram presentes os ministros José Dirceu (Casa Civil) e Luiz Gushiken (Secretaria de Comunicação de Governo).


O publicitário Duda Mendonça também esteve reunido com Lula nos dois dias para ajudá-lo. Duda, marqueteiro de sua campanha em 2002, é homem de confiança de Lula na área de comunicação. Ele preparou todos os pronunciamentos oficiais de Lula e dos ministros desde o início do governo.


Jucá esteve reunido com o presidente para responder a um dos tópicos da ‘agenda negativa’ preparada por auxiliares. Foram feitas a Jucá virtuais perguntas que Lula terá de responder hoje à imprensa a respeito das acusações contra o ministro do PMDB.


Lula passou o dia de ontem reunido com assessores e ministros mais próximos numa sabatina para a entrevista de hoje. Os assessores fizeram a Lula perguntas do que consideram a ‘agenda negativa’. Um dos tópicos principais foram as acusações que pesam sobre Jucá.


Será a primeira vez que Lula dará coletiva no Planalto reunindo todos os tipos de mídia -jornais, rádios, TVs e agências internacionais e de notícias on-line.


A Secretaria de Imprensa e Divulgação da Presidência informou ontem que, na entrevista, os jornalistas não terão direito a réplica. Ou seja, se o jornalista perguntar sobre o PMDB, e Lula responder sobre PT, não haverá oportunidade de contrapor, a seguir, a declaração do presidente.


Desde que assumiu o governo, o presidente Lula já deu entrevista, separadamente, para alguns veículos, colunistas de jornais, emissoras de rádio e correspondentes internacionais.


Em 28 meses de gestão, a relação entre Lula e a imprensa já teve momentos tensos, como na época em que o Planalto enviou ao Congresso a proposta de criação do Conselho Federal de Jornalismo, que visava ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ o exercício da profissão e das atividades de jornalismo.’



***


‘Resultado vai definir futuras entrevistas ‘, copyright Folha de S. Paulo, 29/04/05


‘A primeira entrevista coletiva formal de Lula está sendo tratada pelo Planalto como um ‘ponto de partida’ para futuras e eventuais entrevistas. Segundo a Folha apurou, a intenção é que esse tipo de contato com a imprensa se transforme em algo periódico. No Planalto, porém, ninguém confirmou que o presidente planeja transformar as entrevistas coletivas em eventos periódicos.


Dependendo do resultado obtido hoje, pode se fortalecer a posição de assessores do presidente de que as entrevistas coletivas têm que ser mais freqüentes como forma de estreitar a relação com a imprensa e se transformar em uma forma de prestação de contas.


Lula vinha resistindo a conceder uma entrevista coletiva até aqui, nesses dois anos e quatro meses de governo. O ex-secretário de imprensa de Lula Ricardo Kotscho defendia esse tipo de entrevista. Somente agora, porém, Lula foi convencido pelo sucessor de Kotscho, André Singer, e pelo ministro Luiz Gushiken (Comunicação de Governo).


Caso a avaliação do Planalto seja a de que Lula se saiu bem hoje, o presidente deverá também começar a atender o que os assessores classificam como ‘demandas reprimidas’, que são pedidos de veículos de imprensa para entrevistas exclusivas.’



O Estado de S. Paulo


‘E o besteirol continua ‘, Editorial,copyright O Estado de S. Paulo, 29/04/05


‘Esta página, antes de mais nada, pede a compreensão dos leitores para os freqüentes comentários – como este, que infelizmente não será o último – sobre os despautérios do presidente Lula, aos quais, como se já não fossem suficientemente desmoralizantes para o País, se deve acrescentar a assustadora escalada de opiniões oposicionistas do seu vice José Alencar a respeito da cruzada nacional que supõe possível e desejável contra a política de juros do Banco Central. Mas o Estado pecaria por omissão se deixasse de se manifestar, ainda uma vez, em relação aos desatinos verbais do chefe do governo e do seu primeiro substituto eventual. Especialmente no caso do primeiro – com a sua grosseira teoria da maléfica influência dos traseiros acomodados sobre o custo dos empréstimos pessoais -, o besteirol ultrapassou esta semana limites que se imaginariam insuperáveis.


Nada, porém, segura este presidente quando ele trata de desfilar a sua robusta desinformação sobre ampla gama de assuntos de interesse público. Na segunda e na terça-feira, o tema dessa contínua exibição de despreparo foram as taxas de juros. Na quarta, foi o projeto do biodiesel – a adição de 2% de óleos vegetais ao derivado de petróleo. O projeto é elogiável, mas só por um completo descolamento da realidade se poderia dizer, como fez Lula, em mais um de seus arroubos, que o biodiesel será ‘a redenção do País’: primeiro, ao dispensar as importações de petróleo e criar enormes excedentes exportáveis do produto; e, depois, quando a mistura substituir, no Brasil e no mundo, o petróleo em extinção. Por perto, sintomaticamente, o marqueteiro Duda Mendonça, o media trainer para a sua primeira conferência de imprensa formal em 28 meses de governo, marcada para esta manhã.


Enquanto o presidente, em Belém, cantava a auto-suficiência brasileira em matéria de combustível para toda a frota brasileira de ônibus e caminhões, em Brasília outros contribuíam entusiasticamente para a cota diária de sandices que o oficialismo impõe à sociedade. O presidente da Câmara dos Deputados, Severino Cavalcanti, a quem o Criador parece ter poupado do sentimento de autocensura, anunciou que irá criar uma comissão para descobrir como subtrair do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, a prerrogativa de fixar a taxa básica de juros da economia. A Selic seria definida, a cada vez, por uma versão nativa – e única no mundo – dos Estados gerais da França pré-revolucionária. No caso, a nobreza, o clero e o povo seriam o Copom, mais a Câmara, mais o Senado, mais representantes da sociedade. Enfim, ‘uma coisa ampla que atinja todos os setores’, arrebatou-se Severino.


Ele também apresentou projeto de lei para obrigar o presidente do Banco Central a explicar ao Congresso as decisões do Copom. Esse é um direito do Legislativo, embora, como observou o vice-líder do governo, Beto Albuquerque, do PSB, para saber por que o Copom muda ou mantém a taxa Selic, basta a ata que se segue às suas decisões. ‘É só ler com atenção’, alfinetou, ‘que entende.’ Sobre o coletivo proposto para manejar esse instrumento de política monetária, nunca antes adotado em parte alguma, o deputado comentou que ‘a continuar assim, o próximo anúncio de Severino poderá ser um projeto revogando a lei da gravidade’. Por isso mesmo, não há que se espantar com os disparates severinos. A coisa muda de figura, no entanto, quando a enormidade recebe imediatamente o aval do vice-presidente da República. ‘Eu concordo com o presidente Severino’, afirmou Alencar. ‘É preciso que haja um novo jeito.’


A primeira reação de qualquer brasileiro com a cabeça no lugar decerto será dar de ombros. Assim como Lula, diga o que disser, não revolucionará o mundo com o biodiesel, o máximo que a dupla Alencar-Severino conseguirá fazer é barulho inconseqüente. Nenhum parlamentar dotado de senso de responsabilidade – por mais crítico que seja da patente inadequação das altas dos juros – levará a sério a extravagante idéia do conselhão, que sujeitaria à politicagem e a interesses setoriais uma questão eminentemente técnica. Ainda assim, preocupa que o presidente, dia após dia, pense tanto na reeleição e diga tantas inconveniências, e o vice não se canse de investir rombudamente contra o que lhe parece a causa de todas as dificuldades do Brasil. Sabe-se lá onde isso pode desembocar.’