Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Milton Coelho da Graça

‘Fonte superconfiável no Senado revela que os senadores mais empenhados em arranjar uma vaguinha para Paulo Marinho, diretor do Jornal do Brasil em Brasília, na nova composição do Conselho de Comunicação Social, são Artur Virgílio Neto (PSDB) e Agripino Maia (PFL). Portanto, quem quiser ajudar a nomear Paulo Marinho só precisa passar um e-mail para esses senadores endossando ou criticando a cabala de votos que eles já estão fazendo, na mais completa moita e naquela base: ‘ajuda minha indicação que eu ajudo a tua’.

Os mandatos do CCS terminaram em 5 de junho e até agora o Senado não designou os novos conselheiros. Para se ter uma idéia de como anda o CCS: um dos mais ativos membros é o sr. José Paulo Cavalcanti, colocado pelo então senador Carlos Wilson, hoje presidente da Infraero e genro de um grande empresário de Pernambuco, Armando Monteiro. Advogado, é permanente candidato ao Supremo Tribunal Federal e encaminhou importante proposta: obrigar as emissoras de TV a transmitir os jogos locais do Campeonato Brasileiro. Que é que você acham?

Estamos mesmo ajudando a criar um ‘véu financeiro’?

Yoshiaki Nakano é professor e diretor da Escola de Economia de São Paulo, da FGV. Foi Secretário da Fazenda de Mário Covas. Num artigo publicado pelo jornal VALOR (31/8, página A11), ele nos alerta que jornais e tevês estão ajudando a encobrir com um ‘véu financeiro’ os verdadeiros problemas da economia.

‘O noticiário e os debates’ – afirma Nakano – ‘focam basicamente a projeção dos índices de inflação, especulações sobre a Selic, a política de juros do FED, o risco Brasil, superávit primário, evolução da dívida pública, fluxo de capital externo etc.’

Tudo isso – argumenta – é muito menos importante do que informações sobre geração e introdução de novas tecnologias, produção e criação de emprego, fixação de preços levando em consideração custos e produtividade, tomada de decisões de investimento em função da demanda real e outros temas, ‘praticamente ausentes dos noticiários e debates’.

O principal exemplo citado do é a fixação da taxa de juros pelo Banco Central. ‘É inacreditável – diz Nakano – mas uma das fontes básicas de informações (do BC) são as famosas reuniões do banco com o mercado, isto é, com o ‘grupo de Fátima’ e a pesquisa semanal Focus. Grandes bancos e uma centena de instituições formam a ‘expectativa de inflação’, fornecem ‘informações’ e são interlocutores para tomada de decisões.’

‘A relação que se estabelece é no mínimo perigosa’ – prossegue Nakano. – ‘O BC adota uma política monetária conservadora, uma taxa real de juros elevadíssima para ter credibilidade junto a seus interlocutores, pretendendo com isso que suas expectativas de inflação convirjam para as metas de inflação. (…) Aos interlocutores interessam juros elevadose principalmente pistas de como se comportará a Selic, pois disto também dependem seus lucros e perdas.’

Se o professor está certo, estamos sendo engabelados – e aí engabelamos os leitores – seguindo o exemplo de como Bush e Blair explicaram a guerra do Iraque a seus jornalistas.

Nakano faz uma porção de perguntas em seu artigo. Existem pressões de custos? Como estão as margens de lucro das empresas? O que tem acontecido com a produtividade do trabalho? Como as empresas reagem a uma redução na capacidade ociosa? E muitas outras, para as quais não encontra respostas no noticiário. E você – prefere só ler sobre finanças, previsões, projeções etc.?

Publicidade ainda mais curta no Rio

A Revista do Globo deste domingo (5/9) só teve nove páginas de publicidade (12 na semana passada, mais de 40 na edição de lançamento há um mês). A queda acarretou também uma redução das páginas em papel couché – agora apenas quatro, em vez de oito.

Choremos junto com os bancários

Em 1980, havia mais de 800 mil bancários no Brasil. Em 1994, esse número havia baixado para 571.285 funcionários e, no final de 2003, 405.453. Nestes nove anos, a redução foi de 29,1%.’



VIVER MENTE&CERÉBRO
Ruy Barata Neto

‘Duetto Editorial lança revista sobre a ciência da mente’, copyright Meio e Mensagem, 6/09/04

‘Com o objetivo de consolidar um grupo de publicações voltada para a área de conhecimento, a Duetto Editorial lançou no dia 31 de agosto a Viver Mente&Cérebro.

Com o objetivo de consolidar um grupo de publicações voltada para a área de conhecimento, a Duetto Editorial lançou no dia 31 de agosto a Viver Mente&Cérebro. A publicação apresenta reportagens que tratam das descobertas e dos avanços nos estudos sobre a mente humana, envolvendo temas ligados à psicanálise, psicologia e neurociência. O conteúdo editorial do produto será adaptado da revista alemã Gehirn & Geist, do Grupo Scientific American. A venda em bancas teve início neste final de semana com uma tiragem inicial de 70 mil exemplares, auditados pelo Instituto Verificador de Circulação (IVC).

‘Com a publicação queremos preencher uma faixa de mercado ainda inexplorada, constituída por revistas voltadas para o público adulto, o que nos diferencia de outros produtos, como a Superinteressante, que trabalha com um público mais jovem’, afirma o diretor geral da Duetto, Alfredo Nastari, ao ressaltar que não terá que se preocupar com concorrência, uma vez que as publicações do segmento são em grande parte produzidas por entidades de pesquisa.

Ainda segundo Nastari, a revista integrará o segmento formado por Scientific American Brasil, lançada em 2002, e História Viva, que chegou ao mercado no final do ano passado. A estratégia da editora é comercializar os produtos em conjunto. Será oferecido um pacote com inserções nas três mídias a partir do índice de tiragem e circulação total, previsto para ser de 250 mil e 140 mil, respectivamente. ‘O anunciante terá a oportunidade de falar com o mesmo público que lê nossas publicações, mas que está dividido de acordo com áreas específicas de interesse’, afirma o diretor geral da editora.

Com 60% do conteúdo editorial adaptado da revista alemã, a primeira edição de Viver Mente &Cérebro sai com reportagem especial de 26 páginas sobre o sono e os sonhos. O restante dos textos será produzido no Brasil. Entre os colaboradores brasileiros que terão artigos publicados na revista estão o médico e escritor Moacyr Scliar e o biólogo Sidarta Ribeiro.’



JB EM CRISE
Milton Coelho da Graça

‘Wilson, símbolo de uma tragédia’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 13/09/04

‘Wilson Figueiredo tem 80 anos de idade e os últimos 46 ele dedicou ao Jornal do Brasil, como redator, editorialista, chefe de redação e, entre outros títulos, até vice-presidente. Agora foi demitido sem receber um tostão. Há muitos anos o jornal não depositava os 8% do FGTS. Nem pagava a parte da empresa ao INSS. E diretores chegaram a responder inquérito policial por apropriação indébita da parte descontada do empregado e não recolhida à Previdência.

Curioso é que, mesmo sem pagar o INSS e o FGTS de funcionários, bem como outras dívidas fiscais e trabalhistas, o ex-presidente do JB, M. F. Nascimento Brito, nunca deixou de receber religiosamente e até sua morte, um dinheirinho bem acima do sonho de qualquer jornalista.

O sr. Nelson Tanure arrendou o título Jornal do Brasil por 60 anos, sem assumir o enorme passivo do jornal – mesma coisa que fez com a Gazeta Mercantil – sem que o poder público tomasse qualquer medida para proteger seus ‘créditos’ nem os direitos dos funcionários.

A Cúria Metropolitana, como não é boba como governo e sindicatos, está despejando o arquivo do JB porque não recebe o aluguel combinado. Aliás, como não se conhece a menor providência para proteger esse precioso acervo histórico, é bem possível que seja jogado no lixo, como já ocorreu com outros jornais desaparecidos.

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Os números são de assustar. Não?

Compare o que ocorreu com a circulação diária dos quatro principais jornais brasileiros nos anos 1996, 1999 e 2004) e do New York Times (1999 e 2004). Os números brasileiros se referem às médias (aos domingos) de junho em cada ano. Os do NYT são médias também dominicais, mas do primeiro semestre.

1996 1999 2004

Folha 924.387 596.519 379.600

Globo 731.383 493.866 352.836

Estadão 655.723 463.990 302.543

JB 136.181 119.244 106.679

NY Times 1.687.959 1.677.003

Como se vê, a queda dos jornais brasileiros não pode ser explicada apenas como parte de um fenômeno mundial – pelo menos, não nas mesmas proporções.

Os números brasileiros são do IVC. E, no caso específico do JB, há indicações de que, em relação a 2004, estão acima da realidade.

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Revista do Globo dá uma melhorada

Com mais oito páginas de publicidade do que na semana passada (total: 18), a revista dominical de O GLOBO ganha novo alento. Aleluia!’



MILLÔR NA VEJA
Millôr Fernandes

‘Retomada’, copyright Veja, 15/09/04

‘Vim de longe. E me parece tão perto. Só nestas páginas, tantos anos. Que me parecem tão poucos.

Daqui fui à vida. Outra. Outras revistas, outros jornais, outros palcos, outras telas. Troca de mecanismos. Da elegante Olivetti, que ainda está ali no canto, ao primeiro computador, muito mais feio e muito mais eficiente, e que a maior parte dos profissionais ainda nem sabia o que era – ‘Vinte megas? Isso é superdimensionado!’. Troca de nominações; já não datilografo mais, digito, e mesmo digitando já não escrevo site, palavra nova, escrevo saite, palavra que ainda nem existe, como pouco escrevi whisky. Ao primeiro gole descobri que era uísque.

Os que me acompanham há anos – maneira de dizer, não acredito que ninguém me acompanhe senão há uns poucos meses e já estou exagerando. Ninguém me acompanha, acho. A não ser, no passado, alguns tiras, sempre incompetentes. Mas nunca me senti sem carinho. Sempre me trataram e me tratam extremamente bem. Na vida particular nunca ninguém me perdoou, pelo simples fato de nunca, que eu saiba, terem me condenado. Não sei se sou amado, mas sou infinitamente suportado. Na vida profissional nunca me cercearam, por um lado, acho, porque nunca se sentiram à vontade para isso. Por outro porque nunca deixei que o fizessem. No dia em que quiseram me dar liberdade eu respondi – com singela petulância – que ninguém podia me dar liberdade. Podia tirar. O escravo quase sempre colabora com sua escravidão.

Mas, é bom dizer, quando cheguei aqui nestas páginas, já tinha estado numa publicação chamada O Cruzeiro (a tevê GLOBO de sua época) e sido amigo de Gago Coutinho, o aviador português que primeiro atravessou o Atlântico Sul, já tinha passado horas conversando, o quê?, nas rampas de um edifício na Rua do Livramento, com o único regicida brasileiro, Manso de Paiva, assassino do quase ditador Pinheiro Machado. Lá está ele, em minha memória, um pobre-diabo chupando gomos de tangerina, ali, na calçada da Rua do Livramento, onde ainda se ouviam os passos de Machado de Assis. Lembro ao acaso o show que fiz com o Zimbo Trio e Elizeth Cardoso (eu no palco, cantando, dizem até que melhor do que ela). Depois foi o fechamento do Pif-Paf, quinzenário juvenil que eu fazia aos quarenta. Depois foi o que foi e o que não foi.

Como já perceberam, tenho mais de dez anos de imprensa. Misturei tudo de propósito para escapar ao ridículo do cronológico e dos detalhes. E se alguém esperava que eu ia falar de agressões, violências, injustiças, sofrimentos e heroísmos, só posso dizer, numa autocrítica apenas honesta, que fui menos agredido do que merecia, menos violentado do que poderia ter sido, e meus sofrimentos maiores foram os dos dias em que não dava praia. E ergo as mãos a Deus por ter sido tantas vezes injustiçado. Meu maior temor em certo momento de nossa história era ser justiçado. Em suma, tenho me divertido muito. E, voltando, é impossível não me sentir um filho pródigo. Se fosse na internet vocês ouviriam minha voz ecoando Nelson Gonçalves: ‘Boemia, aqui me tens de regresso’.’