Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Ministro convida japoneses
para anúncio da TV Digital


Leia abaixo os textos de quarta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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O Globo


Quarta–feira, 31 de maio de 2006


TV DIGITAL


Mônica Tavares


Japão virá para anúncio de TV digital


‘BRASÍLIA. O Brasil convidou representantes do governo do Japão para participarem da solenidade de anúncio do padrão de TV digital a ser implantado no país, que deverá ocorrer antes do início da Copa do Mundo, de acordo com fontes da Esplanada dos Ministérios. A proposta ao Japão, segundo o ministro das Comunicações, Hélio Costa, já foi enviada e sugere que os japoneses designados cheguem a Brasília até meados da próxima semana. A Copa começa no dia 9.


Costa contou que o Itamaraty enviou uma carta ao governo do Japão, conforme ficou estabelecido nas reuniões do Comitê de Desenvolvimento do Sistema Brasileiro de TV Digital. Segundo a assessoria do padrão japonês, a carta já foi recebida, mas não havia resposta por causa da diferença de fuso horário.


– Pedimos que, na realidade, eles tentassem estar aqui do fim desta semana ao começo da próxima – disse Costa.


O ministro, porém, não quis confirmar se o governo se decidiu pelo padrão japonês de TV digital, o ISDB. O governo estudou e analisou os aspectos técnicos e comerciais de três tecnologias: a japonesa, a européia (DVB) e a americana (ATSC). Hoje, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva recebe José Manuel Durão Barroso, presidente da Comissão Européia, o órgão executivo da União Européia (UE). Um dos temas do encontro será a TV digital.


Costa vai lutar por fábrica de semicondutores em MG


Porém, as assessorias de imprensa do padrão de TV digital europeu e da UE no Brasil disseram desconhecer qualquer convite para que autoridades da Europa compareçam à cerimônia de anúncio da tecnologia escolhida. Os representantes do padrão americano não foram encontrados.


Um dos objetivos brasileiros na escolha do modelo de TV digital é instalar uma fábrica de semicondutores ( chips de computador) no país. A comitiva de ministros brasileiros que foi ao Japão há dois meses assinou protocolos de intenção nesse sentido.


– Não tem nada decidido ainda nestes termos. Porém, evidentemente, estamos seguindo aquilo que nos propusemos a fazer dentro do memorando de entendimentos que firmamos no Japão. Tínhamos de encaminhar um procedimento, fizemos isto. Tínhamos de comunicar ao governo japonês que agora estamos prontos para tocar para a frente as conversações sobre intercâmbio científico, comercial, industrial – disse Costa.


Segundo o ministro, o documento firmado com o Japão é muito amplo, e é preciso identificar exatamente o que será feito. Ele disse, por exemplo, que a troca de informações científicas tem de ser feita pelo Ministério de Ciência e Tecnologia e seu similar japonês. Já o intercâmbio industrial ficará a cargo do Desenvolvimento. Outras negociações serão desenvolvidas por empresas privadas, disse ele, entre elas a Toshiba, que teve ‘o melhor entendimento’.


A Toshiba, segundo uma fonte do governo, apresentou proposta para instalar uma fábrica de semicondutores no país. Mas, para isso, solicitou informações econômicas, a fim de saber como viabilizar o empreendimento. A falta de dados pode estar atrasando o anúncio do padrão de TV digital no Brasil, na avaliação de alguns interlocutores do governo.


Ainda não foi decidido onde ficará a fábrica, mas, no que depender de Costa, será em Minas Gerais. Ele já manteve contatos com o governador Aécio Neves (PSDB) a fim de levar o empreendimento para o estado, sua base política.’


CASO IVANDEL GODINHO
Flávio Freire


Polícia de SP encontra ossos que podem ser de jornalista


‘SÃO PAULO. A polícia localizou ontem uma ossada humana no terreno apontado pelo seqüestrador Miguel José dos Santos, o Juninho, como o local onde teria sido enterrado o corpo do jornalista Ivandel Godinho, seqüestrado em 22 de outubro de 2003. O criminoso levou a polícia ao lugar onde teria sido enterrado o corpo, no Capão Redondo, periferia de São Paulo. Não foi encontrado o crânio.


Três seqüestradores presos há um ano disseram que, depois de uma briga no cativeiro com o jornalista, queimaram o corpo e cortaram sua cabeça. O material recolhido será levado para exame de DNA no Instituto de Criminalística, mas as autoridades acreditam que terão dificuldade para reconhecer o corpo, já que ele foi queimado.


Juninho foi preso sexta-feira na cidade de Itanhaém, no litoral sul de São Paulo. Algemado, ele acompanhou os trabalhos de legistas do Instituto Médico-Legal (IML), que, com a ajuda de um trator, vasculharam o terreno em busca de ossos. Juninho confessou à polícia ter participado do seqüestro.


De acordo com o seqüestrador, o jornalista foi morto a coronhadas por um comparsa. Ele teria tentado escapar do cativeiro e foi agredido. Por causa dos ferimentos, morreu 72 horas depois de seqüestrado. A família pagou o resgate, mas não recebeu notícias do jornalista.’


INTERNET
Gilberto Scofield Jr.


China cria multa contra ‘download’ na internet


‘PEQUIM. Cedendo finalmente às pressões das maiores gravadoras do mundo – Sony BMG, Warner Music, EMI Group e Universal Music – o governo chinês anunciou a criação de uma multa de cem mil yuans (US$ 12.500) para os sites que permitirem que os usuários baixem músicas, fotos e vídeos na internet do país. Para executar a decisão, o governo já pediu a todos os provedores de acesso do país que entreguem uma lista com o nome de todos os sites que permitem downloads na rede chinesa.


As multas poderão ser aplicadas aos usuários e aos sites, na proporção de cada download executado. Mas a lei prevê também o confisco do equipamento usado para a transferência de arquivos, o que engloba não apenas os microcomputadores pessoais dos internautas, mas os servidores dos provedores de acesso. Não está claro a partir de quando a nova lei passa a valer.


Num país onde milhões de internautas desconhecem o que é ir ao cinema ou comprar um CD porque já se acostumaram a baixar gratuitamente músicas e filmes na rede, para assisti-los em micros ou ouvi-los em tocadores de MP3, a decisão provocou surpresa.


– Eu não sei o que vou fazer – disse o estudante universitário Jing Xie, de 20 anos. – Vou continuar baixando tudo normalmente, mas se eu perceber que as pessoas estão sendo apanhadas, então talvez eu volte a comprar os DVDs e CDs piratas nas lojas.


Pressão de EUA e Europa para combater pirataria


O maior site de buscas da China, o Baidu.com, será certamente um dos mais afetados. O Baidu permite o acesso a sites de download ilegais na rede e ainda tem um mecanismo pelo qual ajuda usuários a compartilharem arquivos de música sem pagar direitos autorais.


Ironicamente, se a legislação for aplicada seriamente, a China pode se tornar o primeiro país a reduzir a pirataria na internet a níveis mínimos. Por causa de um sistema político autoritário e de uma Justiça que funciona sob as determinações do Partido Comunista, não há como recorrer da decisão, ao contrário de países ocidentais, onde as leis protegem a privacidade dos cidadãos, e mesmo as tentativas das grandes gravadoras de fechar sites que permitam a pirataria podem levar anos num tribunal.


A China vem sofrendo uma grande pressão dos EUA e da União Européia (UE) para que trabalhe mais eficazmente no combate à pirataria, especialmente na indústria de entretenimento.


Nas grandes cidades do país, mercadorias piratas, de DVDs a bolsas Louis Vuitton, são vendidas em lojas e mercados normalmente. O governo de Pequim teme que uma ação mais rigorosa contra a pirataria possa levar a um problema social grave, já que muitos dependem dessas indústria para sobreviver.’


TELEVISÃO
Luísa Alcântara e Silva


A partir de hoje começa a fase final de ‘Ídolos’


‘A partir de hoje a adrenalina vai aumentar em ‘Ídolos’: começa a última etapa do reality show musical do SBT. Nas últimas quatro semanas, o público escolheu dez concorrentes de um total de 38. A partir de agora, a cada quinta-feira, até 27 de julho, um participante será eliminado.


Embora Angel Duarte, Davison Batista, Giovana Félix, Leandro Lopes, Lucas Poletto, Osnir Alves, Paulo Neto, Pollyana Papel, Thaís Moreira e Vanessa Oliveira não assumam a rivalidade, todos sabem que estão disputando um contrato com a gravadora Sony/BMG.


Para a nova fase, que será gravada horas antes de ir ao ar, a atração ganhou um cenário mais moderno.


– O projeto é inspirado no programa similar da Nova Zelândia, mas há toques do nosso país – conta o diretor-assistente de ‘Ídolos’, Ricardo Mantoanelli, referindo-se ao chão do palco, onde há uma bandeira do Brasil estilizada.


Nesta etapa, o tempo de ensaio será mais curto, mas os participantes poderão escolher as músicas que cantarão. E o piano que os acompanhava será substituído por uma gravação de instrumentos.


Outra novidade são os convidados. Foi construída uma arquibancada para 350 pessoas, e cada concorrente terá direito a cinco parentes na platéia e a uma torcida de 15 componentes. Conforme os candidatos forem sendo eliminados, a duração das músicas, que até então é de um minuto e meio, irá aumentar.


– Quanto mais cantarmos, melhor será a escolha do telespectador – aposta Thaís Moreira, uma das finalistas.


Sobre os jurados, os finalistas foram unânimes ao afirmar quais eram os mais rígidos. Entre Cynthia Zamorano, Thomas Roth, Arnaldo Saccomani e Carlos Eduardo Miranda, os votos foram para os dois últimos. Todos afirmam, porém, que os comentários são necessários.


– Eu só cresci com as críticas – diz Leandro Lopes, apontado como favorito.


*Do Diário de São Paulo’


Artur Xexéo


Dona Candoca ganha espaço de colunista


‘Estou à beira da aposentadoria. Esta semana, dona Candoca recebeu mais e-mails do que eu. E olha que eu fui no Faustão. Mas nada diminui a popularidade da boa velhinha que já era velhinha quando Carmen Verônica e Iris Bruzzi ainda faziam parte do grupo de certinhas do Lalau. Dona Candoca, aliás, não se lembra muito desta fase das duas vedetes. Ela sempre foi noveleira e de Iris Bruzzi, por exemplo, lembra-se de seu desempenho dramático em ‘Almas de pedra’, novela em que a Guida Guevara de ‘Belíssima’ interpretava uma irmã de Glória Menezes, que, por sinal, fazia o papel de um homem com cavanhaque e tudo… Mas isso é história para outra coluna. Na de hoje, que, já prevendo minha aposentadoria, passo para dona Candoca, o tema são os mistérios de ‘Belíssima’ que intrigam nossos leitores. Eles buscam explicações para o inexplicável. E superlotaram a caixa postal de dona Candoca, a única espectadora que tem respostas.


Comecemos com o leitor Fernando Gonçalves: ‘Será que dona Candoca sabe por que o Toninho, filho do Alberto Sabatini, sempre está atrasado para a escola? Não seria melhor esta criatura estudar no turno da tarde?’


Se estudasse à tarde e não se atrasasse mais para a escola, o que Toninho teria para fazer na novela? Ele era praticamente um dos protagonistas antes de Mônica casar-se com Alberto, mas agora, sem conflito, o que o menino tem para fazer na trama? Só atrasar-se para a escola. E torçamos para que, com a separação de Mônica e Alberto, ele não volte a aparecer em muitas cenas porque, com todo o respeito ao trabalho infantil, Toninho é muito mala.


Irani da Silveira, uma especialista em economia doméstica, é a próxima consulente:


‘Por favor, pergunte para dona Candoca se ela sabe por que, no capítulo de segunda-feira da semana passada, no açougue do Fladson, o acém estava anunciado por R$ 8,50. Para se ter uma idéia, tenho comprado o delicioso corte de segunda (??!?) por R$ 3,90 o quilo.’


Só há uma explicação: Tosca, já prevendo que levaria um beiço de Bento, superinflacionou os preços de seu açougue para poder pagar o empréstimo que fez no banco. Mas, só entre nós, de R$ 3,90 para R$ 8,50 é um pouco demais. Acho que Sílvio de Abreu não compra acém há muito tempo.


O leitor Júlio Cunha escreve para dar um palpite:


‘Creio ter uma possível explicação para o peculiar figurino do tio Gigi. Na era das vedetes, das quais é amiguinho, tio Gigi era um travesti famoso e fez uma cirurgia, inovadora então, de implante de silicone nos seios, que foi malsucedida. Daí houve uma deformação e os peitinhos ficaram caídos. O casaco e o blazer escondem essa deformação intolerável.’


Reproduzo, literalmente, a resposta de dona Candoca: ‘É bem possível. Tio Gigi nunca me enganou.’


Agora sou eu, à beira da aposentadoria, quem quer consultar dona Candoca. Achei muito estranho o empréstimo que Tosca conseguiu no banco. Afinal, ela deu como garantia o sobradinho onde funciona o açougue que ela mantém no núcleo pobre em Campos Elíseos. Deixa eu explicar: no começo da novela, quando Bia Falcão quis comprar a casa de Murat para construir a nova fábrica da Belíssima, o que se disse é que todos os proprietários das redondezas já tinham vendido seus imóveis para a Belíssima. Só faltava a casa de Murat. Tosca e todos os outros moradores da área (com exceção de Murat) eram inquilinos. E seriam despejados, se Murat também vendesse seu imóvel, para a vila vir abaixo. Como é que agora ela virou proprietária do açougue? E se é proprietária e não vendeu seu imóvel para a Belíssima, por que cargas d’água fica tão preocupada com o fato de Murat perder a sua casa?


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Durante um bom tempo, os leitores do Segundo Caderno ficarão livres desta coluna. Mas, infelizmente, se o leitor se descuidar, acabará reencontrando o colunista nas páginas do caderno Copa 2006. Pior ainda: a coluna alhures será diária. Portanto, todo cuidado é pouco. Durante os próximos 40 dias, este colunista estará na Alemanha acompanhando a trajetória da seleção. Como todo mundo sabe, este colunista, assim como Cafu, é pé-quente. Seleção com Cafu e com o colunista é garantia de presença na final da Copa do Mundo. Tem sido assim desde 1994. Vai ser assim em 2006.


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Por falar em Alemanha, o colunista agradece a todos os leitores que deram sugestões para que ele arrumasse a mala de maneira ideal. Mas o resultado foi uma triste constatação: não há maneira de se arrumar uma mala para a Alemanha. Teoricamente, o país vive o fim da primavera e prepara-se para entrar no verão. Roupas leves, camisetas e bermudas, então. Só que chove no país inteiro. Galochas, guarda-chuva, meias grossas. A temperatura em Frankfurt – nossa primeira cidade na maratona da Copa – está variando entre 12 e 5 graus. Casacos, ceroulas, gola rulê. A solução seria muita roupa de inverno para enfrentar os primeiros dias e muita roupa de verão para aproveitar o resto da temporada. Acho que o jeito é levar duas malas.’


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O Estado de S. Paulo


Quarta–feira, 31 de maio de 2006


CRISE POLÍTICA
Luiz Weis


Cultura cívica de papelão


‘Pode não parecer, mas o fato político mais importante dos últimos tempos no Brasil – expresso em dezenas de cartas aos jornais, comentários na internet e numa infinidade de conversas – foi a unânime reação da opinião pública à prisão do advogado do PCC Sérgio Wesley da Cunha na CPI do Tráfico de Armas, por desacato ao Congresso.


Provocado pelo belicoso deputado Arnaldo Faria de Sá, que lhe disse que ele ‘aprendeu bem com a malandragem’, o advogado deixou de lado a prudência, retrucando com uma frase a que decerto não resistiu e nem podia imaginar que o incluiria na crônica destes tempos bandidos.


Ele foi preso por ter respondido ‘a gente aprende rápido aqui’ – o que o povo inteiro gostaria de dizer ‘àqueles senhores de Brasília’, como os qualificou um leitor sarcástico. Desde os célebres 300 picaretas a que Lula reduziu o Legislativo federal – dez anos antes de seu partido se aliar a tipos iguais ou piores – não se tem memória de um ataque tão certeiro e tão aplaudido ‘àqueles senhores’.


O endosso geral à acusação de que malandragem se aprende rápido na Casa das Leis era previsível. Pelo Datafolha, entre dezembro de 2003 e agora mais que dobrou o contingente que considera o Congresso ruim ou péssimo (de 22% para 47%), enquanto caiu à metade (de 24% para 12%) a minoria dos que o julgam bom ou ótimo.


Em sites e blogs, a campanha pelo voto nulo para deputado se propaga como um vírus. Corre e é aceita por muitos como verdade a lenda de que, se os votos nulos superarem 50% mais 1, nenhum dos candidatos à reeleição poderá participar do pleito seguinte.


As causas da rejeição maciça aos políticos são notórias. Não é preciso falar do divórcio entre o que interessa ‘àqueles senhores’ e aos 180 milhões de brasileiros do lado de cá do balcão – ou assim lhes parece. Mas na miséria da política brasileira, no sentido em que Marx falava da ‘miséria da filosofia’, alguns comportamentos são mais miseráveis do que outros.


O que terminou de poluir a imagem do Congresso não foi nem a revelação de que uma vintena de deputados fazia parte ou se beneficiava da ‘sofisticada organização criminosa’ citada pelo procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza. Foi a absolvição de 9 dos 12 mensalônicos que o Conselho de Ética pediu que fossem cassados. O deboche ofendeu mais que o delito.


Antes da pizza, porém, o desgosto com a politicalha já havia dado um salto com a eleição de Severino Cavalcanti na Câmara e, depois, com a denúncia de que ele extorquia um concessionário de restaurantes, o que o obrigou a renunciar para não ser cassado.


A vitória de Severino – efeito e agravante de uma conjuntura política peculiar – pode ou não dar razão aos que pensam que esta é a mais aviltada legislatura desde o fim da ditadura. De todo modo, o que vale é a convicção difusa de que a qualidade moral do político brasileiro entrou em queda livre – se não irreversível.


Sem saber que o pai de todos os americanistas, o francês Alexis de Tocqueville, já dizia o mesmo dos políticos dos Estados Unidos de há 160 anos, há quem tenha uma explicação sumária para o decaimento ético dos seus semelhantes no Brasil de hoje: vai para a política quem não dá para outra coisa.


Nas palavras de um leitor do blog Verbo Solto, deste jornalista: ‘Em 1970, quando estava no segundo grau, perguntávamo-nos o que cada um queria ser na vida. O pior, mas o pior mesmo aluno da classe disse: ‘Vou ser político’.’


É verdade que a composição social da Câmara vem mudando. Em parte graças ao aumento continuado da bancada petista, o Terceiro Estado (o povo) ganhou novas cadeiras, em detrimento da nobreza (o capital) e do clero (a cultura). Nada indica, no entanto, que por causa disso a corrupção tenha crescido, como se a ética cívica da velha guarda fosse por definição uma fortaleza.


A rigor, tampouco se sabe se a corrupção cresceu, ou se o que cresceu foi a percepção de suas manifestações, graças à crescente aptidão das instituições que lhe dão combate, a começar da Polícia Federal e de seu rival, o Ministério Público, e à maior competência da mídia para flagrar corruptos.


É claro que a corrupção entre os políticos varia também de acordo com o caráter, as motivações, as ligações e os compromissos pessoais – em suma, o perfil – da maioria daqueles que, tendo entrado para o ofício, nele se deram bem.


Mas cada qual fará o que fizer por ser quem é – e por suas circunstâncias, já dizia Ortega y Gasset. Inerente à política, a corrupção varia de país para país e com o tempo, conforme um vasto arsenal de circunstâncias.


Uma delas, decisiva, é o desempenho do sistema político – a articulação entre o governo e o Congresso, entre os partidos e dentro deles, conduzida por lideranças legitimadas. Quando funciona bem, tende a operar como freio e contrapeso aos sanguessugas, limitando a níveis ‘normais’, que não arrastam à lama a instituição parlamentar inteira, a prática de corrupção.


Não bastasse o convite à barganha próprio do presidencialismo de coalizão, as coisas desandaram de vez no atual governo quando o Planalto perdeu o controle sobre o jogo político – apesar ou por causa do mensalão – e as bancadas passaram a viver em clima de vaca não conhecer bezerro. Deu em Severino e na Pizzaria Plenário; na paralisia das votações e no corporativismo sem arreios.


Outra circunstância crucial é a resposta da sociedade às bandalheiras dos seus representantes. Os deputados não ousam mostrar os seus distintivos quando circulam por aí, o povo xinga-os por suas lambanças – e isso é tudo. Como é que fica? Não fica.


Nesta nossa cultura cívica de papelão, ‘os bandidos estão triunfando na vida pública’, constata o deputado Fernando Gabeira na Folha de S.Paulo. Eles ‘não só tomaram conta de tudo, mas também tomam café ao seu lado, riem para você, falam sobre o tempo e reclamam da dureza da vida política’.


Como perguntava o cineasta Sérgio Bianchi no seu filme desesperançado: Quanto vale ou é por quilo?


Luiz Weis é jornalista’


MEMÓRIA / DANIEL HERZ
O Estado de S. Paulo


Jornalista Daniel Herz morre vítima de câncer


O jornalista gaúcho Daniel Herz morreu ontem em Porto Alegre, vítima de um câncer de medula, aos 51 anos. Ele ficou conhecido nos anos 80 pelo livro A História Secreta da Rede Globo. ‘Herz dedicou a vida à democratização da comunicação’, disse o presidente do Sindicato dos Jornalistas do RS, José Carlos Torves. Herz foi dirigente da Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj).’


DANTAS vs. MÍDIA
Rodrigo Pereira e Paulo Baraldi


Dantas diz à Justiça que é vítima do MP e da imprensa


‘O dono do Banco Opportunity, Daniel Dantas, não convenceu ontem, ao depor na 5ª Vara Criminal Federal em São Paulo. Nas cinco horas de depoimento, Dantas se limitou a responder apenas ao juiz Silvio Luis Ferreira da Rocha, desmerecendo as acusações das procuradoras da República Anamara Osório Silva de Sordi e Ana Carolina Yoshi Kano, autoras dos dois processos que o denunciam por crimes como formação de quadrilha e divulgação de segredo no chamado caso Kroll. Durante todo o tempo, o banqueiro se apresentou como vítima do Ministério Público Federal e da imprensa.


Dantas é acusado de contratar a agência de investigações Kroll para espionar executivos da Telecom Itália durante o processo de privatização da Brasil Telecom, a terceira maior empresa de telefonia fixa do Brasil. Nas investigações, a Polícia Federal e o Ministério Público concluíram que a Kroll fez escuta ilegal de conversas telefônicas de empresários, membros do governo federal e jornalistas. Além disso, teria se utilizado de servidores para obter informações sigilosas em bancos de dados da administração pública, que teriam sido utilizados para chantagear adversários.


Segundo a procuradora Anamara, Dantas teria dito à Justiça Federal que ‘o processo é um absurdo’ e a repercussão do caso na imprensa estava sendo feita para prejudicá-lo. ‘Ele seria vítima dessa teia de conspiração’, contou Anamara.


‘Ele fala, fala, fala e não diz nada. Se diz vítima, mas não diz exatamente por quê’, protestou ela. ‘Por quê? Quanto de dinheiro está envolvido nisso? Quanto vale o controle dele na Brasil Telecom?’, questionou Anamara, lamentando o fato de não poder fazer essas perguntas diretamente a Dantas, que determinou no início da audiência que não responderia a nenhum questionamento do MPF ou dos advogados de acusação.


‘Ele agiu como era o esperado de um réu em um depoimento’, avaliou a assistente de acusação Maria Elizabeth Queijo, que foi contratada pelo jornalista Paulo Henrique Amorin e pelo ex-sócio de Daniel Dantas, Luis Roberto Demarco, para processar o banqueiro. ‘Ele negou todas as acusações. Admitiu que a Kroll foi contratada, mas pela Brasil Telecom, e não por ele. E que por isso não sabia das atividades da empresa’, explicou Maria Elizabeth.


LINHA DE DEFESA


Anamara reclamou da linha de defesa de Dantas, que contestaria o levantamento de dados e a lógica da acusação, colocando-se como vítima de uma disputa comercial envolvendo o controle da Brasil Telecom. ‘E aí estariam todos: os órgãos de acusação, o Ministério Público Federal, a Polícia Federal, eventualmente o Poder Judiciário, estariam as vítimas, todos os desafetos dele’, ironizou. ‘Ele diz que é vítima e conseqüentemente todos aqueles que estão contra ele são seus algozes.’


O depoimento de Dantas ontem foi o último da primeira fase do processo do caso Kroll, de instrução dos réus. Entre o dia 3 de maio e ontem, 26 pessoas foram ouvidas pela Justiça, entre elas a ex-presidente da Brasil Telecom Carla Cicco, no dia 16. Apontada como braço direito de Dantas na operadora, Carla também negou o uso de interceptações telefônicas.


A Justiça Federal Cível espera a decisão da Justiça Criminal para analisar outro pedido do Ministério Público, o de dissolução da filial da Kroll no País.’


CASO NOSSA CAIXA
O Estado de S. Paulo


TCE cria auditoria para Nossa Caixa


‘O relator do Tribunal de Contas do Estado (TCE), Renato Martins Costa, determinou a abertura da auditoria especial nos contratos de publicidade da Nossa Caixa. A fiscalização foi pedida pelo deputado estadual Renato Simões (PT) e aprovada pela Comissão de Finanças e Orçamento da Assembléia. O TCE dá 15 dias para a formação do grupo de auditoria. As agências Full Jazz e Colucci receberam mais de R$ 44 milhões entre 2003 e 2005 sem contrato com o banco. Além disso, há suspeitas de que o banco direcionou publicidade para veículos de comunicação de parlamentares ou indicados por eles.’


TV DIGITAL
Editorial


A TV digital e o padrão japonês


‘Às vésperas do prazo fixado para a definição do modelo tecnológico da TV digital brasileira, o governo anunciou, informalmente, a opção pelo padrão japonês. Embora a divulgação oficial da decisão só deva ser feita após a passagem por Brasília do presidente da União Européia, José Manuel Durão Barroso, que veio esta semana ao País com o objetivo de defender o padrão europeu, o Itamaraty já encaminhou às autoridades e empresas japonesas do setor de comunicações ofício no qual pede a elas que definam a data da cerimônia de assinatura do acordo.


A idéia do governo é apresentar um documento enxuto, definindo o padrão tecnológico e as regras que disciplinarão a transição do sistema analógico para o digital. Elaborada no final da semana passada, a primeira minuta do texto estabelece apenas as diretrizes do padrão adotado, deixando para o Congresso a responsabilidade de definir os detalhes da legislação a ser adotada. Em troca da escolha do padrão digital japonês, o governo brasileiro afirmou que pedirá contrapartidas econômicas. No entanto, o acordo a ser anunciado com o Japão só deverá mencionar a continuidade de estudos sobre a viabilidade de investimentos para a instalação de uma fábrica de semicondutores no País.


A definição do padrão e do sistema a ser adotado pelo Brasil se arrastava desde 1999. Como a implantação da TV digital no Brasil é um negócio estimado em R$ 100 bilhões, o País foi alvo de forte pressão dos lobbies das três tecnologias digitais, dos investidores e das indústrias de telecomunicações. Há quatro meses, a imprensa chegou a noticiar que o presidente Lula se inclinaria pelo padrão japonês, em detrimento dos padrões americano e europeu, mas a notícia foi desmentida pelo governo.


A escolha de um padrão digital entre as alternativas existentes é uma decisão estratégica, uma vez que permite ao Brasil agregar à tecnologia escolhida um conjunto de vantagens e oportunidades industriais, financiamentos, apoio à pesquisa e avanços no campo da inclusão digital.


Outro ponto importante é o incentivo à participação de pesquisadores brasileiros no desenvolvimento de softwares e de padrões que complementem a tecnologia adotada, adaptando-a às condições do País. Várias pesquisas já foram concluídas com êxito por 22 consórcios formados com a participação de mais de 90 cientistas da indústria e de importantes instituições de ensino superior. Financiadas pelo governo, essas pesquisas custaram mais de R$ 50 milhões.


No Brasil, a exemplo do que aconteceu no resto do mundo, o processo de escolha de um modelo tecnológico de TV digital opôs interesses das redes de televisão e das operadoras de telecomunicações fixas e móveis. As primeiras desejam a adoção do modelo japonês porque ele não permite que as segundas transmitam conteúdo – o que é possível com o modelo europeu. Esse problema foi agravado em julho de 2005, com a nomeação do senador e jornalista Hélio Costa para o Ministério das Comunicações. Ex-repórter e sócio de emissora de rádio, em várias ocasiões ele pareceu agir menos como ministro e mais como lobista de redes de tevê, defendendo o modelo japonês e sendo acusado de não ter a isenção necessária para liderar as discussões sobre o padrão e o sistema mais adequado aos interesses nacionais.


Além disso, o anacronismo da legislação de rádio e televisão, que é baseada num texto legal de 1962 e em vários decretos editados pela ditadura militar, dificultou o entendimento entre as redes de tevê e as operadores de telecomunicações. Diante dos problemas causados por essa legislação obsoleta e cartorial, ficou clara a necessidade de uma moderna Lei Geral de Comunicações, que estabeleça novas diretrizes para a radiodifusão brasileira, sob orientação de uma agência reguladora de ação muito mais abrangente, que contemple a chamada convergência tecnológica, harmonizando os múltiplos segmentos do setor de comunicações.


Sem uma lei como essa, os conflitos no setor só tendem a se multiplicar e a agravar, dificultando a implantação do padrão que, após oito anos de discussão, for escolhido pelo governo para a TV digital no País.’


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Governo quer anunciar TV digital antes da Copa


‘O governo brasileiro quer fechar na semana que vem com autoridades japonesas o acordo para a implantação de TV digital no Brasil. O ministro das Comunicações, Hélio Costa, informou que a sugestão da data para o encontro entre representantes dos dois países foi feita em carta enviada pelo Itamaraty ao governo de Tóquio. O Palácio do Planalto aguarda a disposição dos japoneses em vir a Brasília, mas a idéia é assinar o acordo até 4ª-feira próxima, para que o anúncio do padrão digital seja feito antes da Copa do Mundo, que começa no dia 9.’


TELEVISÃO
Renato Cruz e Marina Faleiros


Cade decide hoje sobre exclusividade no futebol


‘Depois de aprovar na semana passada a fusão da Sky e da DirecTV, com restrições, o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) deve julgar hoje outro caso importante para o setor de TV por assinatura, que pede o fim da exclusividade nos direitos de transmissão de eventos esportivos, como campeonatos de futebol. Quem entrou com o processo foi a Associação Neo TV, que reúne 54 empresas que não fazem parte do sistema Net/Sky, para compra de conteúdo.


Em maio, a procuradoria do Cade recomendou a condenação da Globosat, programadora das Organizações Globo, e da holding Globopar. O processo começou em 2001, quando a Neo TV entrou com representação na Secretaria de Direito Econômico do Ministério da Justiça. A representação questionava principalmente a exclusividade do Campeonato Brasileiro e dos campeonatos regionais para os canais SporTV e Première Esportes, produzidos pela Globosat e vendidos pelo sistema Net/Sky.


‘A exclusividade dos canais na TV por assinatura já foi reduzida historicamente’, diz Jorge Nóbrega, diretor de Gestão Corporativa da TV Globo. Ele explica que o SporTV faz parte de um pacote de canais que a Globo oferece com exclusividade aos seus franqueados, no caso a Net/Sky, e que só a decisão do Cade poderia reverter isso.


Para Johnny Saad, presidente do Grupo Bandeirantes, mesmo que o Cade obrigue a Globosat a vender os canais esportivos para terceiros, o problema não será resolvido. ‘A decisão perpetuaria o monopólio e ainda iria liberá-la dos contratos, sem nenhum ônus jurídico.’


Ele citou como conseqüência da exclusividade o tumulto ocorrido no jogo em que o Corinthians perdeu para o River Plate, na Copa Libertadores, recentemente. ‘O jogo não passou na TV aberta, o que obrigou as pessoas a irem ao estádio.’ Segundo Saad, as partidas acontecem cada vez mais tarde para não atrapalharem a grade da concorrente Globo, prejudicando os torcedores.


O dono da Bandeirantes sugere que seja adotada uma legislação como a da Argentina, em que, se a detentora dos direitos não transmitir os jogos de ‘interesse nacional’, o sinal fica aberto para todas as outras emissoras. Ou como a dos Estados Unidos, em que os direitos das partidas esportivas são negociadas em blocos, e não o campeonato todo.


Nóbrega, da Globo, diz que a transmissão de jogos é um direito privado adquirido pela TV Globo junto aos clubes, como ocorre no resto do mundo: ‘O telespectador brasileiro é o que mais tem acesso ao futebol na TV aberta no mundo. Em outros países, transmissões deste tipo só são feitas pelos canais de assinatura. Se outro canal quiser reclamar da programação, que procure a Justiça.’’


Adriana Del Ré


Trama Virtual vira programa de tevê


‘Iniciativa bem-sucedida na internet, a Trama Virtual, homepage criada pela gravadora Trama para divulgar o trabalho de bandas independentes brasileiras, vai colocar à prova a fórmula também na televisão. A parceria foi firmada com o canal por assinatura Multishow e a primeira série do programa Trama Virtual, com 13 episódios, começa ir ao ar a partir do dia 2 de julho. ‘Foi um caminho natural ir para a TV’, acredita André Szajman, um dos sócios da gravadora. ‘Se a repercussão é tão boa na internet, achamos bacana mostrar um pouco a cara dessa cena independente na televisão.’


Segundo ele, o Trama Virtual não estava previsto na pauta de uma reunião que teve com o Multishow. Naquela ocasião, o assunto era a veiculação de outro projeto da gravadora, o Trama Universitário. Mas Szajman acabou comentando sobre o Trama Virtual. ‘Estávamos com um piloto pronto. Mostrei para o pessoal do Multishow, que ficou motivado com a idéia.’ Para a gerente de Marketing do canal, Daniela Mignani, não é de agora que o Multishow dá espaço para novas bandas. ‘Fomos o primeiro a exibir o Skank, quando eles ainda não estavam no topo’, diz Daniela. ‘Já tivemos programas do gênero, como Radical Livre, e cobrimos festivais de bandas novas. O Trama Virtual veio de encontro com nosso objetivo’


Hoje, a gravadora Trama já tem captado material suficiente para abastecer os 13 programas previstos. ‘A gente tem uma equipe aqui na gravadora com essa cultura da imagem, por causa dos DVDs’, conta João Marcello Bôscoli, outro sócio da Trama e apresentador do programa.


O formato já chegou pronto para a direção do canal. Com uma linguagem dinâmica e meia hora de duração, a versão para a TV é feita de cinco quadros fixos: o Ao Vivo, que mostra a performance ao vivo dos artistas, além de uma entrevista; o Banho de Estúdio, em que uma banda de garagem tem oportunidade de entrar num estúdio profissional pela primeira vez; o Arquivo, que resgatará trechos de antigas entrevistas e apresentações (muita coisa pinçada do programa Ensaio, da TV Cultura); o Reportagem, cujo forte são matérias diversas sobre o cenário independente; e o Visitando a Cena, que abrirá espaço para a cobertura de eventos, shows e festivais. Haverá ainda curtinhas com a equipe de conteúdo do site Trama Virtual dando dicas sobre o que ocorre de interessante na cena independente.


Assim como no site, a idéia é que o programa seja uma vitrine para gente desconhecida, em que os famosos aparecerão ‘o mínimo possível’, comenta João Marcello Bôscoli. Se for para aparecer, será dentro do contexto. Bôscoli, que já apresentou programas como Cia. da Música e Música Brasileira, diz estar acostumado com esse tipo de formato, voltado para novos talentos. ‘Quem são essas pessoas? Será que vai dar audiência? Já estou acostumado com esse tipo de questionamento.’


O programa na TV acaba sendo uma projeção do que é a Trama Virtual na web. Inclusive no quesito escolha dos participantes da versão para a televisão, apontada pelo interesse dos internautas ou mesmo pela equipe do site. Há dois anos no ar, o www.tramavirtual.com.br nasceu com a vocação de ser uma gravadora virtual e uma ferramenta destinada exclusivamente à cena independente. Nele, artistas de todo canto do Brasil podem divulgar, gratuitamente, músicas, história e shows, além de trocar informações. Até hoje, o site reúne mais de 26 mil artistas e 67 mil músicas.


A página chegou até a ser mencionada numa reportagem publicada pelo jornal The New York Times, ao entrar numa lista dos 11 sites internacionais mais bacanas que distribuem MP3 legalmente pela internet. Sem contar que lançou alguns grupos, entre eles, o queridinho Cansei de Ser Sexy. ‘Nossa função é acelerar processos artísticos, não somos de criar ídolos’, sentencia Szajman.


O Trama Virtual deve ganhar um formato para rádio também, ainda sem previsão de estréia. No Multishow, será exibido todos os domingos, a partir das 18 horas, com reapresentações ao longo da semana.’


Keila Jimenez


Aprendiz 3 em NY


‘Roberto Justus começa a gravar O Aprendiz 3 amanhã. O empresário/apresentador embarcou ontem para Nova York para gravar seis chamadas da atração em pontos ligados ao mercado financeiro americano, como Bolsa de Valores e Wall Street. Nessa viagem pode ocorrer mais um encontro entre o Justus e Donald Trump, pai do Aprendiz americano.


Justus retorna no domingo e no dia 17 deve começar a gravar ao lado dos 16 participantes escolhidos. A escolha dos EUA para as gravações iniciais tem a ver com o prêmio da edição.


O vencedor de o Aprendiz 3 vai trabalhar na Wunderman, em Nova York, uma das empresas do grupo publicitário de Roberto Justus. A melhor parte do prêmio: o vencedor terá salário anual na casa dos R$ 500 mil, o dobro da edição anterior, que era de R$ 250 mil anuais. Isso explica os mais de 24 mil inscritos no programa na Record.


A Casablanca será responsável pela produção, que deve estrear em 3 de agosto. A data inicial de estréia era abril.


Faz parte da estratégia da Record – e das outras emissoras – esperar a Copa do Mundo passar para apostar em novas atrações.’


Cristina Padiglione


Estátua de Marinho rende preces


‘Não que Roberto Marinho tenha sido santo – longe disso. Mas uma estátua feita como singela homenagem ao pai das Organizações Globo no Projac – complexo de estúdios de Jacarepaguá – tem sido alvo de pedidos e orações de quem passa.


Funcionários e visitantes se curvam diante do monumento, certos de que alguém que conseguiu tantas façanhas na vida pode muito bem inspirar milagres. Há até quem arrisque uma mandinga, um despacho contra mau-olhado, e pede a bênção de doutor Roberto. Não custa tentar.’


TV JUSTIÇA
Laura Diniz


Juiz libera transmissão pela TV do júri de Suzane e dos Cravinhos


‘O julgamento de Suzane von Richthofen, que participou do assassinato dos pais em 2002, e dos irmãos Daniel e Christian Cravinhos, marcado para segunda-feira no 1º Tribunal do Júri, será o primeiro do Brasil exibido ao vivo pela televisão. Decidido a dar ao julgamento o acesso que a população cobrava, o juiz do caso, Alberto Anderson Filho, autorizou que os meios de comunicação façam a captação de áudio e vídeo no plenário e transmitam o material em tempo real. ‘O júri é público. Se a pessoa pode sair de casa para ver no plenário, tudo bem que veja em casa’, afirmou.


O site criado pelo Tribunal de Justiça para receber inscrições dos interessados em assistir ao julgamento no plenário, de 150 lugares, entrou em colapso pouco depois de ir ao ar, na sexta-feira. Ele recebeu cerca de 5 mil acessos em duas horas.


A idéia de Anderson é que o julgamento seja transmitido, em tempo integral, pela TV Justiça, do Supremo Tribunal Federal (STF). Nesse caso, a TV Cultura, emissora pública, captaria as imagens e as geraria para um satélite, no qual a TV Justiça e demais emissoras pegariam o sinal. O aval para o uso da TV Justiça depende da presidente do STF, Ellen Gracie.


A assessoria do STF confirmou ontem que está em estudo a possibilidade de colocar à disposição das emissoras o sinal com imagens do júri. Mas a TV Justiça não poderá transmitir o julgamento ao vivo. Isso porque sua programação é o resultado de uma parceria com 32 colaboradores e uma transmissão dessa natureza exigiria complicada negociação. Caso a transmissão não seja feita por meio da pela TV Justiça, as outras emissoras poderão instalar as câmeras no plenário. Além disso, o site da Escola Paulista de Magistratura (EPM) terá o apoio de um provedor de internet para transmitir o júri online.


A defesa e a acusação aprovaram a decisão do juiz. ‘Isso garante a transparência do processo e a responsabilidade das outras Cortes quando houver recurso’, disse o promotor Roberto Tardelli. ‘Eu sou absolutamente favorável, até para que haja vigilância da sociedade. A imprensa tem de fiscalizar’, afirmou o advogado de Suzane, Mário de Oliveira Filho.


PRECEDENTES


O advogado Luiz Fernando Pacheco, de 32 anos, vê aspectos positivos e negativos na transmissão: ‘É interessante pelo aspecto da publicidade (no sentido de tornar público), mas me preocupa que haja uma certa espetacularização.’


Para o criminalista José Luís Oliveira Lima, a decisão é inadequada, pois fere o direito à privacidade do réu. ‘Não vejo com bons olhos. O julgamento deve demorar alguns dias e isso pode criar um sensacionalismo inadequado’, afirmou.


O desembargador José Renato Nalini acredita que a decisão pode ter um aspecto pedagógico. ‘As pessoas poderão ver como é um júri e quais os argumentos apresentados.’.


Os advogados de Suzane entraram ontem com recurso no Tribunal de Justiça. Eles pediram a retirada do processo do crime de uma fita contendo a gravação da entrevista ao Fantástico, da TV Globo, na qual Suzane foi flagrada recebendo de seus defensores a orientação de posar de menina inocente e desamparada.


A primeira manhã de Suzane desde que deixou o presídio em Rio Claro pareceu tranqüila ontem para quem observou de fora a movimentação no apartamento do advogado Denivaldo Barni, onde ela cumpre prisão domiciliar.


COLABORARAM MARIÂNGELA GALLUCCI, CAMILLA RIGI, THÉLIO DE MAGALHÃES E NATÁLIA ZONTA’


PUBLICIDADE
Carlos Franco


O Garoto Bombril de Carlos Moreno está de volta


‘A marca Bombril é tão forte que resiste a disputa entre sócios, guerra de dossiês e ações na Justiça. Sob administração judicial desde julho de 2003, a Bombril tem, segundo os dados mais recentes, 72% do mercado de lãs de aço no País, bem à frente de sua principal concorrente, a Assolan. A empresa quer reforçar ainda mais sua marca.


Ontem, executivos da Bombril anunciaram, ao lado do publicitário Washington Olivetto, da W/Brasil, o retorno do garoto-propaganda Carlos Moreno, que passou uma temporada de um ano na Fininvest, financeira do Unibanco. Ele volta domingo, ao som da música ‘Outra Vez’, sucesso na voz de Roberto Carlos. Durante 23 anos, Moreno ajudou a fixar a marca Bombril e foi parar no Guinness, o livro dos recordes, como o garoto-propaganda mais longevo da publicidade mundial.


A volta de Moreno ocorre no momento em que a Assolan tem investido mais num novo segmento, o de detergente em pó, com a marca Assim.


O diretor-superintendente da Bombril, Cláudio Del Valle, diz que a força da marca tem garantido não apenas a liderança de mercado, ‘mas também acordos com fornecedores, distribuidores e a presença de destaque nos pontos-de-venda’.


Além da lã de aço, diz Del Valle, a empresa é líder no segmento de saponáceos, com a marca Radium, e disputa segmentos importantes de mercado com o amaciante Mon Bijou e o detergente líquido Limpol.


As marcas não foram afetadas por três anos de guerra pelo controle da empresa. A disputa começou quando a Bombril fazia parte do império do italiano Sergio Cragnotti, que chegou a ser preso em seu país, acusado de sonegação fiscal.


O antigo dono da Bombril, Ronaldo Sampaio Ferreira – filho do fundador da companhia – alega não ter recebido de Cragnotti pela venda de sua participação na empresa.


A Bombril sofreu intervenção da Justiça. Mas Sampaio tem brigado para voltar ao controle. No início do mês, a Justiça chegou a determinar o fim da administração judicial, atendendo a recurso de Sampaio Ferreira.


A decisão do desembargador Adilson Andrade, no dia 17, acatou o mandado de segurança impetrado pela Bombril S.A. e suspendeu a decisão do desembargador Enio Zuliani, que determinava o fim imediato da administração judicial.


O leilão de venda, forma encontrada pela Justiça para pôr fim à disputa entre acionistas e assegurar o pagamento a credores, virou alvo de recursos, assim como a própria administração judicial. Del Valle procura se manter longe das discussões. ‘O nosso papel é o de administrar a empresa.’


Com três fábricas – em São Bernardo do Campo (SP), Abreu e Lima (PE) e Sete Lagoas (MG) -, a empresa emprega 1,7 mil pessoas. No ano passado, a Bombril registrou lucro líquido de R$ 99,1 milhões ante prejuízo de R$ 483,7 milhões em 2004. A receita bruta foi de R$ 883 milhões.’


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Folha de S. Paulo


Quarta–feira, 31 de maio de 2006


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Tá na Copa


‘A culpa é do Blue Bus, de Júlio Hungria, que postou ontem às 8h30, de início com simpatia:


– Apesar dos anos de sucesso, sob o monopólio da Globo, Galvão Bueno é o eterno Judas. Sei que é um poço de lugares-comuns e micos, mas da Globo, na Alemanha, ele é o único indispensável. Sem Galvão, a Copa não teria graça, não é mesmo?


O vídeo se espalha na rede


Por aí foi o blog, até entrar no que importava:


– Quem mais encarnaria de forma tão arrebatadora um personagem criado em SP? Veja no You Tube.


Começou então o que os publicitários e ultimamente os políticos chamam de ação viral. O próprio Blue Bus se encheu de internautas opinando sobre o ‘Bobueno’.


E logo o blog do Nomínimo, com Xico Sá, trazia os ‘fins terapêuticos: aliviar as tensões durante os jogos da seleção’.


De lá passou para a home do iG, sob o título ‘Tá com raiva do Galvão, temos a solução’… E não parou mais.


No You Tube, as versões do vídeo se amontoavam quando Galvão Bueno surgiu na Globo para o amistoso.


Com os lobbies de sempre, por exemplo, ‘que time do mundo teria o Juninho como reserva?’, o locutor berrou ‘goooool’ oito vezes, contra a incrível seleção de Lucerna.


Só se conteve depois que o técnico avaliou, afinal, que foi ‘bom treino, independente da qualidade do adversário’.


Ainda assim, Galvão Bueno não deixou de conclamar, ao fechar a tarde:


– É apenas um aperitivo, ensaio. Domingo tem mais, vá preparando a sua camisa… O Brasil inteiro já vai se ligando na Globo. Já está todo mundo com a cabeça na Copa. Tá na Globo, tá na Copa.


NA SALIVA


Na home page dp NYT.com, ‘Rã de árvores pode enriquecer tribo da Amazônia’


Na capa do caderno de economia do ‘New York Times’ e anunciada na capa do jornal, longa reportagem noticiou ontem a ‘riqueza’ de uma tribo: saliva de rã. É usada por ‘xamãs como um remédio ancestral para tratar doenças, dores, até preguiça’. A ministra Marina Silva deu ‘todo o apoio do governo’, e o ‘NYT’ explicou:


– Os brasileiros não se esquecem do caso da jararaca, cujo veneno foi usado pela gigante Squibb para lançar em 1975 o Captopril, que foi seu remédio de maior vendagem.


BAIRROS POBRES


Demorou, mas Larry Rohter noticiou os atentados em São Paulo, ontem, sob o título ‘Polícia é criticada em onda de violência de gangue’. Relatou que ‘as forças policiais de São Paulo se viram superadas’, ‘fizeram concessões’ e conseguiram ‘um cessar-fogo’:


– Depois disso, várias dezenas de pessoas, a maior parte jovens de bairros pobres, foram mortas a tiros.


COMO VOTAR


O ‘Daily Telegraph’ diz em editorial que ‘a Colômbia mostrou, à América do Sul, como votar’ ao eleger Álvaro Uribe, ‘um pró-americano’ bem diverso dos ‘populistas’. O editorial repercutiu na BBC Brasil e daí para a cobertura eletrônica brasileira.


O QUE FAZER


Na mesma linha vai o novo correspondente do ‘FT’:


– O Brasil precisa crescer e há poucos sinais de que Mr. Lula entenda como. Alckmin sabe e fala em cortar gastos -embora sem dizer ao eleitor que cortará suas pensões, que é o que precisa ser feito.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Globo aposta na Copa para erguer ‘Cobras’


‘A Copa do Mundo será a grande chance da Globo de recuperar a audiência perdida na faixa das 19h para a Record.


A cúpula da emissora avalia que, por causa da Copa, alguns milhões de telespectadores que não vêem a novela das sete passarão a ‘degustar’ ‘Cobras & Lagartos’. Isso por dois motivos. Primeiro, as transmissões de jogos da Copa só se encerrarão por volta das 17h50. Como a Copa atrai audiência, parte desse público continuará ligado na emissora (que seguirá exibindo ‘Malhação’ e ‘Sinhá Moça’ em capítulos mais compactos).


O outro fator favorável a ‘Cobras & Lagartos’ é o ‘Jornal Nacional’, que tende a ter muito mais audiência. Em vez de se beneficiar da novela das sete, será a novela das sete que irá tirar proveito do ‘JN’, servindo de ‘aperitivo’ aos telespectadores que aguardam o noticiário direto da Alemanha.


Por outro lado, a cúpula da Globo avalia que a Record terá dificuldades pela troca de novela das 19h. Em 17 de julho, uma semana após a Copa, ‘Prova de Amor’ (que vem dando 20 pontos em SP) dará lugar a ‘Bicho do Mato’. A Globo torce para que o telespectador da concorrente rejeite a novidade.


‘Cobras & Lagartos’ ainda não recuperou o ibope das 19h perdido com ‘Bang Bang’. Sua média até agora é de 32 pontos. Mas está subindo: sua audiência, que foi de 31 pontos nas três primeiras semanas, já subiu para 34 na semana passada.


AGORA VAI Na próxima segunda, quando faltarão 25 dias para a metade do ano, a TV Cultura finalmente estréia sua programação de 2006, o que deveria ter ocorrido em abril. A novidade é que a revista cultural ‘Metrópolis’ deixará de ser programa _diário ou semanal. Entrará apenas em blocos nos telejornais.


AGORA SAI 1 Será o programa ‘Casos de Família’, e não o ‘Charme’ de Adriane Galisteu, que antecederá os telejornais do SBT a partir de segunda-feira. O ‘Charme’, que hoje termina às 18h15, entrará bem mais cedo.


AGORA SAI 2 O ‘Casos de Família’, que quando sai do ar marca até 15 pontos, irá até às 18h, entregando para o ‘SBT São Paulo’, com Carlos Nascimento.


QUEM SERÁ? Silvio Santos gravou ontem o piloto de um novo programa, que tem o título provisório de ‘Quem É o Chefe?’.


MAIS MISTÉRIO O SBT tentará causar algum impacto com ‘Dançando com as Estrelas’, novo ‘reality show’ que estréia no segundo semestre. Os ‘famosos’ que dançarão no programa já foram selecionados. Assinaram contrato em que são proibidos de divulgarem suas participações. Silvio Santos apresentará.


ADEUS, ÉTICA Em badalado leilão de gado de raça no final de semana, o apresentador Carlos Massa, o Ratinho, vendeu a vaca Étika, da qual era sócio, para Álvaro Garnero (Rede TV!) e Walter Zagari (superintendente comercial da Record), por R$ 104 mil.’


Marcelo Coelho


Série realça o lado positivo do velho ‘jeitinho brasileiro’


‘Celulares à vontade nos presídios, ambulâncias superfaturadas, acordões no Congresso e toda a ginga da deputada Ângela Guadagnin: o mundo da mutreta, da impunidade e do caixa 2 não tem muito por que despertar orgulho nos brasileiros, e nossa célebre complacência com o ‘jeitinho’ bem que poderia estar com os dias contados. Talvez pensando nisso, alguém teve o cuidado de frisar, no título da nova série de documentários do canal Futura, que é do ‘O Bom Jeitinho Brasileiro’ que se trata. Com direção geral de Antônio Andrade, os 13 episódios destacam pessoas comuns, capazes de ensinar que ‘a criatividade não nasce junto de quem tem dinheiro ou instrução’, como diz o antropólogo Roberto da Matta, consultor do programa. No primeiro programa, quarta passada, o sr. Gildásio da Silva Santos foi um exemplo disso. Ele tem 57 anos, dentes em mau estado, nunca conheceu o pai e a mãe, e está há bom tempo sem emprego fixo. Mas não se aperta. Aproveita peças usadas de computador, desmonta e remonta monitores e gabinetes e revende o que pode numa feira carioca. Não tem um violão nem ‘uma nega chamada Teresa’, mas carrega a mercadoria num Fusca laranja de assoalho tão precário como sua atividade. O espectador não fica indiferente ao seguir a longa jornada de seu Gildásio, que sai de casa às 4h para armar sua barraca na feira de São Cristóvão -o ‘shopping do cacareco’, segundo um comerciante. Ou o ‘Breshopping’, como atesta a carteirinha da associação dos vendedores. Roupas velhas, telefones do tempo de Carmem Miranda, peças de ventilador e maquinaria obsoleta estão ali como atestado de que o brasileiro ‘sabe se virar’ na adversidade. A boa trilha de Rodrigo Lima, com flauta, violão e ritmos de chorinho reciclados em timbres eletrônicos, contribui para o clima de brasilidade não muito exaltada do programa. Jeitinho? Há vários exemplos no cotidiano de Gildásio. Hábil na eletrônica, conseguiu evitar que sua cadela pulasse o portão quando estava no cio: um fio eletrificado deu conta, bem à brasileira, da situação. O que não impediu um caso de improviso e de mestiçagem bem ao gosto de algum Gilberto Freyre do mundo canino. A cachorrinha, pequena, cruzou com um enorme mastim de provável ascendência alemã. Chamar tudo isso de ‘o bom jeitinho brasileiro’ não deixa de ser, como no caso dos computadores de Gildásio, uma forma simpática de reciclar, em tempos difíceis, o velho material de Gilberto Freyre. Que talvez também fosse um modo de rearranjo intelectual, para o ‘bem’, de antigos preconceitos. Tingido de verde-amarelo, um cotidiano de precariedade, bricolagem e subdesenvolvimento universais se torna especialidade de um povo que não se aperta e sempre sorri, desde que não seja abatido por fuzilamento. Também no programa, sobram sorrisos e faltam dentes.


O BOM JEITINHO BRASILEIRO


Quando: quartas, às 22h30


Onde: Futura’


CEBRAP NA WEB
Rafael Cariello


Cebrap põe seus clássicos na internet


‘‘A situação é péssima, excelente para fazer uma revista’ (uma coisa que Roberto Schwarz tem sabido fazer é escrever textos que não perdem a atualidade; culpa da sociedade brasileira, quem sabe).


A frase do crítico literário conclui o texto introdutório à primeira revista ‘Novos Estudos’, de 1981, editada pelo Cebrap (Centro Brasileiro de Análise e Planejamento), publicação que viria, nos anos seguintes, a reunir a nata da intelectualidade num objetivo comum: pensar, a quente, o país.


Artigos importantes reunidos ali, e sem edição posterior, de gente como o próprio Schwarz, os sociólogos Francisco de Oliveira e Fernando Henrique Cardoso, o filósofo José Arthur Giannotti, os economistas Celso Furtado e Paul Singer, o crítico Antonio Candido e outros, estavam perdidos junto com as revistas, esgotadas, especialmente as do seu período mais combativo, de fins da ditadura e transição para a democracia, nos anos 80.


Voltam agora a público com a digitalização e acesso possível na internet, no site do Cebrap (www.cebrap.org.br). A leitura da íntegra dos textos só é permitida aos assinantes da ‘Novos Estudos’, privilégio que custa R$ 45 anuais.


O atual editor do periódico, Flávio Moura, explica que o trabalho de digitalização de números antigos começou a ser divulgado no site do Cebrap em fevereiro passado. A publicação ‘eletrônica’ de todos os números só deve ficar pronta, no entanto, daqui a três meses.


De certa maneira, o acesso pela internet cumpre, com atraso, um dos objetivos daquela revista que surgia em 1981. Filhos da antiga ‘Estudos’, os ‘Novos’ pretendiam ser mais acessíveis, em textos mais curtos, ligados mais diretamente à conjuntura do país, projeto que se refletia no formato, mais leve, com cara de revista ‘comum’, grampeada.


‘Achamos que a revista devia interferir mais no debate, ser mais ágil’, explica Francisco de Oliveira, responsável direta ou indiretamente pela sua edição de 1981 a 1987. ‘Mas ela não conseguiu ir para as bancas, custava muito caro. Não conseguimos ter uma penetração maior do que tínhamos antes.’


De toda forma, suas páginas, naquele período, reuniram artigos que já podem ser considerados clássicos, como a análise que Antonio Candido fez da relação entre intelectuais, produção cultural e o Estado brasileiro sob Getúlio Vargas, em ‘A Revolução de 1930 e a Cultura’, de 1984. Ou ‘Complexo, Moderno, Nacional e Negativo’, também de Schwarz, um desenvolvimento de seus estudos sobre a obra de Machado de Assis, do primeiro número.


No segundo, além de um ‘dossiê’ sobre ‘A Literatura e a Pobreza’, que reuniu expoentes da crítica literária do país (entre outros, Silviano Santiago, Alfredo Bosi e Modesto Carone), há a colaboração -hoje impensável- de Oliveira e FHC, no texto ‘Partidos, Estados e Movimentos Sociais’. Como se sabe, os dois antigos colaboradores seguiram caminhos políticos distintos.


Essas reuniões e certa amizade foram também elas possibilitadas pela conjuntura política e social do país e, desfeitas, ajudam a explicar o momento áureo que a revista viveu e as mudanças pelas quais passou depois.


Num texto a ser publicado no próximo número da ‘Novos Estudos’, Rodrigo Naves, que foi seu editor entre 1987 e 1995, analisa dois aspectos cruciais na mudança de feição do Cebrap -e que tiveram conseqüências indiretas para a revista. A divisão de seus pesquisadores entre PT e PSDB, acirrada na década de 90, e a mudança de perfil das produções da casa, que, como no restante do país, passaram a se apoiar ‘em pesquisas empíricas metódicas e extensas e em questões específicas de recorte claro’.


Francisco de Oliveira lembra que a ditadura, de certa maneira, os uniu, e a chegada de FHC ao poder terminou por desunir muita gente. No entanto, mais de uma década depois-e muitos bons artigos continuaram a ser editados nesse período-, a nos fiarmos nas palavras de Schwarz, as condições para se fazer uma boa revista continuam ótimas.’


INTERNET
Folha de S. Paulo


Página brasileira que agrega notícias é atração na internet


‘O Google News Cloud (fserb.com.br/newscloud) é a nova sensação da internet. A ferramenta usa material do Google News (news.google.com) para criar uma página com um conjunto das palavras-chave mais citadas nas matérias dos principais sites de notícias da internet.


Na semana passada, a solução criada pelo programador brasileiro Fernando Serboncini ganhou destaque em conceituados sites, como o Journalism.co.uk (www.journalism.co.uk/news/story1859.shtml) e o Digg (www.digg.com), e alcançou a marca de 17 mil visitas diárias.


Um dos motivos do sucesso do Google News Cloud é a forma como ele apresenta as palavras-chave ligadas às notícias. Ao passar o cursor do mouse sobre os termos, o sistema destaca as palavras que estão ligadas entre si e que dão a idéia, mesmo que superficial, de quais são os assuntos mais discutidos no mundo.


‘O site tem um bom apelo visual e organiza de um jeito diferente o que está acontecendo no mundo’, diz Serboncini. ‘Mas, do ponto de vista da tecnologia, não é nada muito complicado. Levei poucas horas para desenvolver o site por completo.’


Ao entrar no página, é possível escolher versões da página em português ou em inglês. Feito isso, pode-se navegar por editorias como negócios, ciência, esportes, diversão e saúde.’


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Clipping FNDC


Quarta–feira, 31 de maio de 2006


MEMÓRIA / DANIEL HERZ
Carlos Eduardo Zanatta


Morre Daniel Herz, idealizador da Lei de TV a cabo


‘Morreu na tarde desta terça-feira, 30, em Porto Alegre, o jornalista Daniel Herz, um dos principais militantes da luta pela democratização das comunicações no País e um dos idealizadores e negociadores da Lei de TV a cabo. Nascido em 1954, formado em jornalismo pela Unisinos, Herz foi diretor da Federação Nacional de Jornalistas, Fenaj, e membro do Conselho de Comunicação Social, órgão auxiliar do Congresso Nacional. Há cerca de dois anos Herz sofria de leucemia. Fez pelo menos dois auto-transplantes de medula em hospital especializado nos Estados Unidos. Na última semana, a família trouxe-o de volta ao Brasil, uma vez que os médicos americanos consideravam que nada mais podia ser feito.’


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Daniel Herz – 1954-2006


‘Daniel Herz foi um dos principais líderes da história de lutas pela democratização das comunicações no Brasil. Mas é na discussão da televisão por assinatura, especialmente a televisão a cabo, onde o nome do jornalista surge como um personagem histórico, sendo um dos responsáveis pela viabilidade da democratização das comunicações no setor.


Em 1974, quando ainda era estudante de jornalismo na Universidade Rio dos Sinos – Unisinos, Herz participou da criação da Associação de Promoção da Cultura, em Porto Alegre, entidade na qual, sob a inspiração do professor de Engenharia Elétrica da UFRS Homero Simon, começou-se a discutir a questão da cabodifusão, tendo inclusive elaborado uma proposta piloto (que não foi aceita pelo Ministério das Comunicações) de TV a cabo em Porto Alegre.


Professor e pesquisador


Formado pela Universidade do Vale do Rio dos Sinos – Unisinos em 1977, posteriormente Daniel tornou-se professor no curso de comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina, UFSC, onde foi o primeiro chefe do departamento de Comunicação. Em 1980, deu início a um mestrado em comunicações na Universidade de Brasília. Na opinião de Salomão Amorim, na época professor naquela universidade, ‘ao contrário de muitos alunos da pós-graduação, que chegam sem saber muito bem o que estudar, Hertz tinha claro seu foco de pesquisa em políticas de comunicações’. ‘Ele era uma espécie de superaluno, que chegou à graduação precisando apenas colocar no papel o que já estava pensando’, lembra Amorim. Orientador de mestrado de Herz na UnB, o professor Murilo Ramos observa que o primeiro volume da dissertação de Herz foi transformado no livro ‘A história secreta da Rede Globo’, trabalho que, destaca o professor, o tornou conhecido em nível nacional.


Militância política


Integrando o pesquisador e o ator político, Herz nunca deixou de participar dos movimentos e entidades que tinham como objetivo viabilizar as teorias que discutia na academia. Daniel fez parte do grupo que passou a controlar a Federação Nacional dos Jornalistas, a Fenaj, até então dominada pelos chamados ‘sindicalistas pelegos’. Para Armando Rolemberg, que encabeçou a chapa de oposição, Herz é reconhecido como o catalisador das discussões sobre novas tecnologias de comunicação, especialmente a televisão a cabo. ‘Ele foi um dos personagens importantes na luta pela democratização das comunicações no momento da redemocratização do País que culminaram com a promulgação da Constituição Federal de 1988’. Este movimento deu origem, posteriormente, ao Fórum Nacional Pela Democratização das Comunicações, o FNDC. Rollemberg destaca ainda a capacidade de organização e a disciplina de Daniel, em oposição à desordem tão características de movimentos sociais.


Fundamentos teóricos


Para o professor Salomão Amorim, um dos primeiros presidentes da Associação Brasileira de Pesquisa e Ensino de Comunicações, Herz era um pesquisador nato: ‘Ele sempre viveu absolutamente antenado, não apenas como militante político, mas como observador contínuo da realidade, uma atitude essencial para quem quer juntar teoria à prática’. Mas Amorin considera que o mais importante foi a persistência de Herz em relação à militância. ‘Ele não desistia nunca. Quando alguma coisa não ia bem, ele reformulava, mudava alguma coisa no rumo, mudava os nomes das coisas, e recriava a ação’.


Conselheiro


Quando ainda se discutia o capítulo das comunicações para compor a nova Constituição Federal, uma das propostas mais caras ao movimento pela democratização era a criação de um conselho de comunicação social com caráter deliberativo. Durante as negociações, a Assembléia Nacional Constituinte acabou aprovando o Conselho de Comunicação Social – CCS apenas com caráter consultivo. Uma vez promulgada a constituição, o senador pelo Distrito Federal e também jornalista Pompeu de Souza apresentou um projeto de lei criando o CCS. Efetivamente, a lei que criou o CCS somente foi aprovada em dezembro de 1991. Onze anos depois, em junho de 2002, a primeira composição do CCS foi aprovada pela Mesa do Congresso Nacional. Indicado pela Federação Nacional dos Jornalistas, Daniel Herz tornou-se um de seus primeiros conselheiros e permaneceu no Conselho até meados de 2006, quando afastou-se definitivamente para tratamento de saúde.


Lei de TV a cabo


Sem dúvida, o principal projeto ao qual Daniel Herz se dedicou foi a lei de TV a cabo. Como ele gostava de dizer ‘a única lei brasileira totalmente negociada pelas bases da sociedade, representada pela militância do Fórum Nacional pela Democratização das Comunicações, e pelo empresariado, sem interferência dos deputados ou senadores’.


Na opinião de Samuel Possebon, editor de PAY-TV NEWS, ‘desde o princípio, Herz enxergou o cabo, e depois as demais tecnologias de TV paga, como uma ferramenta efetivamente capaz de democratizar a comunicação brasileira’. A lei de TV a cabo, acusada por muitos de ter engessado o setor, foi na verdade a garantia do parlamento brasileiro para que os investidores, inclusive estrangeiros, pudessem apostar neste novo mercado. Se o mercado não cresceu tanto quanto se previa nos primeiros momentos, o defeito certamente não foi da lei, mas talvez da sua regulamentação, como aliás, o próprio Daniel Hertz denunciou em entrevista concedida a Samuel Possebon para a revista Pay-TV (Nº 110, de novembro de 2003). De qualquer forma, o grande legado da lei de TV a cabo para a cultura e democracia brasileira foi a criação das TVs de caráter público: as tevês legislativas (Câmara, Senado, Assembléias Legislativas e Câmaras Municipais) e os canais universitários.


Veja a entrevista de Daniel Herz concedida a Pay-TV no link www.paytv.com.br/revista/110/entrevista.htm’


Zero Hora


Morre o jornalista Daniel Herz


‘Jornalista, escritor e empresário, o porto-alegrense Daniel Herz, 51 anos, morreu na tarde de ontem, no Hospital Moinhos de Vento, na Capital. Herz sofria de câncer de medula e se submetia a um tratamento nos EUA. Graduado pela Unisinos, obteve o título de mestre na Universidade de Brasília, numa das ocasiões em que realizou sua grande paixão, a pesquisa em comunicação. O estudo para o mestrado resultou no livro A História Secreta da Rede Globo. Herz coordenou o Departamento de Comunicação da Universidade Federal de Santa Catarina, onde passou a lecionar. Desde o início da carreira, engajou-se no Sindicato dosJornalistas do Rio Grande do Sul e na Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj), instituições das quais era um dos diretores. – O Daniel dedicou a vida dele à democratização dos meios de comunicação. Foi decisivo na implementação da ‘Lei do Cabo’, que instituiu que a TV a cabo no Brasildestinaria canais a TVs públicas e comunitárias – recorda José Carlos Torves, presidente do Sindicato dos Jornalistas do Rio Grande do Sul. Ultimamente, Herz representava a Fenaj no Conselho de Comunicação Social, órgão vinculado ao Congresso. Também presidiu o Conselho Deliberativo da Fundação Cultural Piratini (TVE e FM Cultura), na qual conviveu com Ercy Pereira Torma, presidente da Associação Rio-grandense de Imprensa (ARI). – O que eu admirava no Daniel era a sua enorme capacidade de conviver com pessoas de comportamento e de ideologia diferentes. Perdemos um dos camaradas que, embora jovens, mais conheciam as questões de TV comunitária e de TV pública – afirma Torma. Em 1997, o jornalista iniciou um breve período afastado de sua área de atuação para dirigir a rede de lojas Ferramentas Gerais, então presidida por seu pai, Walter Herz, falecido há três anos. Herz havia vendido sua parte na empresa e era proprietário da EPCOM – Instituto de Estudos para a Comunicação. Ele tinha a mãe, Ada Herz, e os irmãos Sérgio e Walter Filho (falecido). Era casado com Célia Stadmik e pai de Fernando – do primeiro casamento -, Guilherme e Ada Jaqueline.’


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