Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Ministro da Justiça quer regulamentar internet


Leia abaixo a seleção de sexta-feira para a seção Entre Aspas.


 


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 14 de maio de 2010


 


INTERNET


Célia Froufe


Ministro quer regulamentar internet


‘O ministro da Justiça, Luiz Paulo Barreto, defendeu ontem a criação de uma ‘Constituição da internet’ no País. ‘Poderemos contar, no Brasil, com uma Constituição da internet, como uma Constituição de 88, uma Constituição cidadã’, afirmou.


Barreto, que participou do seminário Marco Civil da Internet no Brasil, realizado pelo Instituto Brasiliense de Direito Público (IDP), afirmou que é preciso dar mais suporte à internet. O primeiro passo, segundo ele, é lidar com as questões civis, como discutir sobre as responsabilidades de quem usa esse meio. ‘A internet nasceu e se desenvolveu sob a liberdade. Não podemos tolher a internet do que lhe é mais peculiar, onde ela é mais genuína, a liberdade’, disse.


O ministro ressaltou também que a internet ainda está em uma área nebulosa de insegurança jurídica. ‘Vemos a judicialização dessas questões com decisões contraditórias, criando dificuldades jurídicas e não deixando claro o que pode e o que não pode ser feito’, considerou.


Segundo Barreto, de outubro a dezembro do ano passado, a consulta pública realizada na Justiça para debater o anteprojeto que estabelece o marco civil da internet no Brasil recebeu mais de 800 contribuições. ‘Até abril deste ano, recebemos mais de 35 mil visitas com mais 750 comentários’, contabilizou.


Ele ressaltou que o tema é muito amplo, mas que o amadurecimento é fundamental antes de o ministério encaminhar ao Legislativo o anteprojeto de lei para a criação de um marco civil. ‘O projeto chegará ao Congresso legitimado pelo debate social.’


Preocupação. No mesmo seminário, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Gilmar Mendes mostrou-se preocupação com a possibilidade de excesso de judicialização no Brasil em função do estabelecimento de um marco civil da internet no País. ‘Este já é um severo problema que nos afeta. Quanto de judicialização é necessária? Este é o único meio? Me preocupo com judicialização excessiva’, disse.


Para ele, quando se fala em marco regulatório, é preciso ter a ideia exata do que se está falando e de quem é competente para o quê. ‘Não podemos cometer erros do passado’, acrescentou o ministro do STF.


Minuta interativa


A minuta do anteprojeto de lei que estabelece o Marco Civil da internet tem 33 artigos, que podem ser comentados após cadastro no site http://culturadigital.br/marcocivil/debate/’


 


 


Bernard Kouchner, Global Viewpoint


Liberdade é direito fundamental na internet


‘Em 2015, 3,5 bilhões de pessoas – o equivalente a metade da humanidade – terão acesso à internet. Nunca houve tamanha revolução na liberdade de comunicação e na liberdade de expressão. Mas como este novo meio será utilizado? Quais serão as novas distorções e obstáculos inventados pelos inimigos da internet? A tecnologia moderna nos proporciona o melhor e o pior. Sites e blogs extremistas, racistas e difamatórios disseminam discursos de ódio em tempo real. Eles transformaram a rede numa arma de guerra e intolerância. Páginas na internet são atacadas e usuários da web são recrutados para complôs destrutivos por meio de salas de bate-papo.


Movimentos violentos estão se infiltrando nas redes sociais para divulgar sua propaganda e informações falsas. Para as democracias, é muito difícil controlá-los. Não me incluo entre os ingênuos que acreditam que uma nova tecnologia, não importa o quão poderosa e eficiente, leva necessariamente a um avanço da liberdade em todas as frentes.


Seja como for, as distorções são a exceção, e não a regra. A internet é, acima de tudo, o mais fantástico meio para derrubar os muros e limites que nos isolam uns dos outros. Para os povos oprimidos que foram privados do seu direito de expressão e escolher o próprio futuro, a internet proporciona um poder que vai além de suas mais ousadas esperanças. Em minutos, notícias e imagens gravadas num telefone podem ser disseminadas por todo o mundo no ciberespaço. É cada vez mais difícil esconder uma manifestação pública, um ato de repressão ou uma violação dos direitos humanos. Em países autoritários e repressivos, celulares e internet abriram espaço para a opinião pública e a sociedade civil. Também deram aos cidadãos um meio fundamental de expressão, apesar de todas as restrições impostas.


Entretanto, a tentação de reprimir a liberdade de expressão está sempre presente. O número de países que censuram a internet, que monitoram os usuários da rede e os castigam por suas opiniões, cresce a um ritmo alarmante. A internet pode ser usada contra os cidadãos. Ela pode ser uma formidável ferramenta para a coleta de informações sigilosas para localizar dissidentes em potencial. Alguns regimes já estão adquirindo tecnologia de vigilância cada vez mais sofisticada.


Se todos aqueles que se dizem defensores dos direitos humanos e da democracia se recusassem a abrir mão de seus princípios e usassem a internet para defender a liberdade de expressão, a ocorrência deste tipo de repressão seria muito mais difícil. Não me refiro à liberdade absoluta que abre as portas para todo tipo de abuso. Ninguém está sugerindo a promoção desta ideia. Estou me referindo a uma liberdade real, que tenha como base o respeito à dignidade humana e aos direitos do homem.


União. Nos últimos anos, instituições multilaterais, como o Conselho da Europa, e organizações não-governamentais, como a Repórteres Sem Fronteiras, junto com milhares de indivíduos de todo o mundo, mostraram-se fortemente comprometidos com esses temas. Isso é prova – se é que uma prova ainda era necessária- de que a questão não coloca o Ocidente contra o restante do mundo. Reunidos para a Cúpula Mundial sobre a Sociedade da Informação, 180 países reconheceram que a Declaração Universal dos Direitos Humanos aplica-se integralmente à internet, especialmente no que se refere ao Artigo 19, que estabelece a liberdade de expressão e a liberdade de opinião. Ainda assim, 50 países mostram-se incapazes de honrar o compromisso estabelecido.


Por ocasião do Dia Mundial da Liberdade de Imprensa, na semana passada, reuni especialistas, líderes de ONGs, jornalistas, empresários e intelectuais. Os debates entre eles confirmaram minha convicção de que o rumo que desejamos seguir é o mais correto. Acredito que devemos criar um instrumento internacional para monitorar cada país no cumprimento do compromisso estabelecido entre os governos, responsabilizando-os quando este não for honrado. Acho que devemos oferecer ajuda aos dissidentes cibernéticos, que devem receber o mesmo tratamento dispensado às outras vítimas da repressão política e, numa colaboração estreita com as ONGs que trabalham com tais temas, demonstrar publicamente nossa solidariedade para com eles. Acho que devemos debater a sabedoria de se adotar um código de conduta em relação à exportação de tecnologias de censura à internet e de rastreamento dos usuários da rede.


Questões como estas, além de muitas outras – como a proteção dos dados particulares na internet e o direito de anistia digital irrestrita, defendido pela minha colega Nathalie Kosciusko-Morizet -, devem ser abordadas num contexto que reúna governos, sociedade civil e especialistas internacionais.


Há outro projeto que admiro muito. Implementá-lo será uma tarefa demorada e difícil, mas crucial. A ideia é conferir à internet um status legal de reflita sua universalidade – que a reconheça como espaço internacional, para que seja mais difícil que os governos repressivos usem o argumento da soberania contra as liberdades fundamentais.


A questão é fundamental. Acho que a batalha das ideias teve início com os defensores de uma internet aberta e universal de um dos lados e, do outro lado, aqueles que querem transformar a rede numa multiplicidade de espaços isolados uns dos outros para servir aos desígnios de um regime, da propaganda e de todos os tipos de fanatismo.


A liberdade de expressão é ‘o alicerce de todas as outras liberdades’. Sem ela, não há ‘países livres’, disse Voltaire. Este espírito universal do Iluminismo deve ser transmitido à nova mídia. A defesa das liberdades fundamentais e dos direitos humanos elementares deve ser prioritária para a governança da internet. Trata-se de algo que diz respeito a todos nós.


Tradução de Augusto Calil


Bernard Kouchner é ministro francês das Relações Exteriores e fundador da ONG Médicos Sem Fronteiras’


 


 


ITÁLIA


James Mackenzie – Reuters


Documentário italiano satiriza Berlusconi em Cannes


‘A comediante Sabina Guzzanti lança um ataque à moda de Michael Moore contra o sistema político italiano em documentário exibido no Festival de Cinema de Cannes, traçando um retrato alarmante de erosão democrática e mentiras oficiais.


‘Draquila: Italy Trembles’ (Draquila – A Itália treme) examina o que aconteceu após o terremoto que devastou a cidade medieval de L’Aquila no ano passado, motivando uma grande operação governamental de limpeza e reassentamento da população comandada pelo primeiro-ministro Silvio Berlusconi.


Ex-satirista da televisão e adversária vitalícia de Berlusconi, Guzzanti emprega algumas das técnicas cômicas usadas por Moore, embora seu estilo seja mais comedido que o do cineasta norte-americano independente.


Misturando clipes de TV, entrevistas e uma ou outra charge, a diretora critica a versão dos acontecimentos que apresenta Berlusconi como salvador de L’Aquila, sugerindo que, em lugar disso, o premiê teria aproveitado o desastre para reforçar seu poder e solapar a democracia.


‘Eu estava trabalhando sobre outra coisa, mas alguém me contou umas histórias bizarras sobre coisas que estavam acontecendo em L’Aquila’, contou Guzzanti à Reuters Television em entrevista. ‘Fiquei realmente chocada. Era algo muito grande, e ninguém estava sabendo de nada.’


Antes mesmo de ser exibido, ‘Draquila’ – um trocadilho, juntando o nome do vampiro ao da cidade – provocou controvérsia na Itália. O ministro da Cultura, Sandro Bondi, tachou o filme de ‘propaganda política que ofende a verdade e todo o povo italiano.’


Ele declarou que deixaria de comparecer ao festival de Cannes, em protesto, mas o filme recebeu uma grande divulgação graças à investigação aberta na sexta-feira sobre casos suspeitos de corrupção em contratos públicos fechados na esteira do desastre.


SIGILO


‘Todo o mundo disse ‘por que fazer esse filme, já que o terremoto terá sido esquecido no ano que vem?’, disse Guzzanti. ‘Mas ele é o assunto do momento agora, porque neste terremoto é possível enxergar todos os elementos de nossa crise.


Berlusconi – que no ano passado promoveu uma cúpula do G8 na cidade, a título de gesto de solidariedade com as vítimas – apontou para a resposta imediata à crise como um dos maiores êxitos de seu governo.


Mas Guzzanti o acusa de tentar criar uma estrutura de poder alternativa, enorme e sigilosa, através do abuso e ampliação dos dispositivos constitucionais que permitem que a Autoridade de Proteção Civil italiana a passar por cima das normas democráticas usuais, em casos de emergência.


‘A gente não espera fazer uma descoberta tão enorme: que existe algo como um exército totalmente livre para criar leis e gastar tanto quanto quiser sem qualquer tipo de controle, dependente diretamente do primeiro-ministro’, disse ela.


Depois do terremoto, a população da cidade devastada foi transferida para hotéis de beira-mar e acampamentos de barracas, onde sua gratidão inicial deu lugar a fúria com as restrições impostas, à medida que os meses se passaram e suas casas continuaram fechadas.


Reportagem adicional de Tessa Unsworth’


 


 


 


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 14 de maio de 2010


 


LUTO


Ruy Castro


Fernando


‘‘Ué, vocês ainda se falam?’, perguntou Paulo Francis, ao me ver chegar com nosso amigo comum, o jornalista Fernando Pessoa Ferreira, ao lançamento de um livro seu, nos anos 90. Para Francis, num meio como a imprensa, as pessoas sempre teriam um motivo -político, profissional ou pessoal- para se desentender e cortar relações. Acontecera muitas vezes com ele próprio.


Mas não entre mim e Fernando. Conhecemo-nos em 1979, em São Paulo, quando fui trabalhar na ‘Playboy’, onde ele já estava. Ali começamos uma conversa que só se encerrou nesta quarta-feira, quando ele se foi, depois de longa luta contra um câncer. Nesses 31 anos, estivemos juntos em várias redações, inclusive na Folha, fomos vizinhos por muito tempo e viajamos, com mulheres e namoradas, para praias e Carnavais.


Era um profissional à antiga, adepto da rua, e extraía uma boa história de qualquer besteira. Mas era também inestimável na cozinha: escrevia com humor, era craque em editar entrevistas e insuperável em titular matérias. ‘Curitiba, onde Jânio Quadros comia moscas’, sapecou, numa revista dirigida por Francis. O qual o adorava e, com típica brutalidade amorosa, o chamava de ‘o analfabeto mais culto do Brasil’. Fernando, monoglota assumido, gostava da definição.


Era pernambucano de Olinda, passara pelo Rio nos anos 60 e se fixara em São Paulo -conhecia a cidade como poucos e fez dela o cenário de um livro de contos, ‘O Umbigo do Anjo’, e do romance ‘Os Demônios Morrem Duas Vezes’. No hospital, na véspera da morte, assinou o contrato para a publicação de um novo romance, ironicamente intitulado ‘O Assovio da Foice’, que não verá impresso.


Não nos falaremos mais. Embora nos telefonássemos quase todos os dias, faltou dizer muita coisa.’


 


 


A carreira de um escritor e jornalista pernambucano


‘O corpo do jornalista e escritor Fernando Pessoa Ferreira foi cremado ontem, em São Paulo. Ele morreu na quarta-feira, aos 78, no Hospital do Câncer Octavio Frias de Oliveira, após sofrer uma parada cardiorrespiratória.


Pernambucano de Olinda, Ferreira morava em SP havia pouco mais de 40 anos. Na cidade que adotara, fez praticamente toda a sua carreira de jornalista, com passagem por esta Folha, nos anos 80.


Autor do livro de contos ‘O Umbigo do Anjo’ e do romance ‘Os Demônios Morrem Duas Vezes’, começou a carreira em Curitiba (PR), onde morou na década de 50.


De lá, veio para o Rio. Trabalhou no ‘Correio da Manhã’, como repórter, e na gravadora Elenco, como divulgador. Pela ligação com a mais moderna gravadora da época, fez amizades no meio artístico, diz o amigo Ruy Castro.


‘Ele me adotou como seu irmão mais novo. Não tinha um dia que a gente não se falasse. Peguei dele expressões, a maneira de falar, a maneira de encarar as coisas’, conta o escritor e colunista da Folha.


Castro e Ferreira conheceram-se na ‘Playboy’, em 1979. Depois foram juntos dirigir a concorrente ‘Status’.


Ferreira também foi colaborador do semanário ‘O Pasquim’ e da revista ‘Senhor’.


Nos anos 90, assessorou políticos do PMDB e do PSDB.


Em 2006, tratou, com sucesso, de um câncer na bexiga. A doença voltou recentemente. Dois dias antes de morrer, havia assinado do hospital um contrato para o lançamento de seu sexto livro. Deixa três filhos e neta.’


 


 


INTERNET


Andreza Matais e Elvira Lobato


Ministério adia pregão de projeto para internet sem fio gratuita


‘O Ministério das Comunicações adiou por tempo indeterminado pregão para levar internet sem fio gratuita a 163 cidades de 25 Estados justificando que várias empresas questionaram o edital que prevê investimento de R$ 100 milhões. A decisão ocorreu depois que a Folha revelou que o edital excluiu prefeituras administradas pela oposição.


Dos 163 municípios escolhidos pelo ministério para receber o programa Cidade Digital, 61 têm prefeitos de PMDB e 36 do PT. A lista inclui apenas dois municípios administrados por DEM e PSDB -Divinópolis (MG) e Fernandópolis (SP).


Minas Gerais, reduto eleitoral do ex-ministro Hélio Costa e do atual titular da pasta, José Artur Filardi, terá o maior número de cidades digitais (17).


O ministério nega critério político e diz que o adiamento ‘visa garantir a resposta a todos os questionamentos encaminhados pelo mercado’.


Segundo o edital, as cidades foram escolhidas com base em ‘características sociais, econômicas e culturais, voltadas para o turismo, para a polarização de negócios e para o ensino’.


O pregão estava previsto para anteontem e será retomado ‘a partir do momento em que todas as dúvidas forem analisadas e dirimidas e o mercado estiver satisfeito com as respostas’, diz o comunicado oficial.


É a segunda vez que a licitação é suspensa. Em setembro de 2008, quando Costa ainda era ministro, o Tribunal de Contas da União determinou mudanças no edital. O relançamento ocorre agora, a dois meses da campanha eleitoral.


Na época, a Controladoria-Geral da União também contestou o fato de Costa ter assinado portaria que transferiu da Secretaria de Telecomunicações para a secretaria-executiva da pasta a função de coordenar o projeto.


Na prática, a medida repassou para José Vicente Santos, então assessor parlamentar do ministério, a tarefa de definir os municípios atendidos. Entre as atribuições dele estava a de fazer a ponte entre congressistas e o ministério. A alteração de competência, no entendimento da CGU à época, não poderia ser feita por portaria.


José Vicente foi indicado por ele para assumir a Secretaria de Telecomunicações, pasta estratégica por tratar da concessão de rádio e TV. Procurado ontem, o ex-ministro não ligou de volta à Folha.’


 


 


TODA MÍDIA


Nelson de Sá


Pressiona e negocia


‘Na manchete da BBC Brasil à noite, do chanceler Celso Amorim, ‘Ninguém pode ter certeza, mas acho que temos os elementos para conseguir um acordo’.


Já na Associated Press, de Washington, ‘Governo se movimenta para barrar esforço turco-brasileiro’.


A secretária Hillary Clinton ‘enviou mensagem brusca’ ao ministro do exterior turco e o presidente Barack Obama ligou para o presidente Dmitri Medeved sobre o tema, antecipando-se à reunião do russo com Lula em busca de apoio. Falaram por uma hora e meia.


Por outro lado, também via AP, a embaixadora dos EUA na ONU, Susan Rice, anunciou ‘avanço’ nas sanções e disse que ‘talvez fortaleça Lula quando ele levar aos iranianos, espero, a mensagem de que a pressão está crescendo’.


E ‘um funcionário sênior do Departamento de Estado, sob anonimato’, falou às agências todas que Lula é ‘a última chance’ do Irã.


AMBIÇÃO E GOL CONTRA


Com a foto, o ‘Guardian’ destacou a análise ‘Lula faz jogo arriscado no Irã’, de seu especialista Meir Javedanfar. Em suma, ‘a visita é politicamente ambiciosa, mas pode ser gol contra se ressaltar aspirações nucleares do próprio Brasil’


SOB FOGO


Ontem no site da instituição conservadora Heritage, de Washington, o ex-diplomata e especialista em América Latina Ray Walser insinuou que, com a viagem ao Irã, ‘Lula pode estar de olho num prêmio Nobel da Paz’ e tentando ‘marginalizar a liderança global dos EUA’.


No Huffington Post, Steve Clemons, do blog de política externa Washington Note, destacou que ‘Lula não pode minar a chance do Brasil de ser nação indispensável’. Lembrou que ele é cotado para secretário-geral da ONU.


Em sua coluna no ‘Wall Street Journal’, Gerald Seib questionou a viabilidade do esforço ‘pessoal’ de Lula, junto ao Irã, e arriscou que as sanções estão próximas.


O PODER MUDA


Em análise cética do encontro União Europeia-América Latina, a ‘Economist’ avisa para não esperar avanço na ‘parceria estratégica’, pois o comércio vem crescendo pouco e tende a crescer menos, com a crise. ‘Mas’, avisa no subtítulo, ‘o equilíbrio do poder diplomático mudou para o Brasil’, como mostrou o veto feito a Honduras.


E em análise do efeito da vitória conservadora no Reino Unido sobre a política externa, o ‘WSJ’ diz que a ‘relação especial’ Londres-Washington deve declinar ‘conforme a economia britânica deixar o palco global’, abrindo lugar para a Índia, o Brasil e outros emergentes junto aos EUA.


VENCEDORES


A ‘Economist’ saiu com um encarte sobre os bancos dos Brics, com a manchete ‘Eles podem ser gigantes’.


Em suma, ‘saltaram à frente’ e trazem um novo quadro às finanças mundiais. ‘O Estado joga um papel cada vez mais ativo. Ele detém a maior parte do sistema bancário na China, na Índia e na Rússia e uma crescente porção no Brasil.’ No editorial ‘O dilema dos vencedores’, sobre seu caderno, a revista avisa para riscos futuros como possíveis ‘empréstimos ruins’, próprios das economias de rápido crescimento.


SHOPPING NA FLORESTA


Na capa do ‘Wall Street Journal’ de papel, abaixo da manchete, ‘Na Amazônia, florestas dão lugar a ratos de shopping’. De Rio Branco, John Lyons mostra o avanço dos shoppings nas maiores cidades, parte da ‘ascensão do consumidor amazônico’, que sublinha ‘o tamanho do boom interno’.


Na Amazônia, ‘Lula fez chover dinheiro no esforço de elevar o padrão das classes pobres’, com Bolsa Família, crédito subsidiado às empresas e projetos hidrelétricos. Agora ‘o desafio, diz o ex-governador Jorge Viana, é criar o modelo sustentável de desenvolvimento’.


‘MINHA CASA’


Com a foto, a AP ecoou por Yahoo, Google e o site do ‘NYT’, entre outros, com um longo relato do ‘ambicioso’ programa brasileiro ‘My Home My Life’, tornado ‘modelo’ para África e outras regiões.’


 


 


VENEZUELA


Radialista venezuelano se passa por auxiliar de Hugo Chávez após invadir palácio


‘Nem os supostamente rígidos mecanismos de segurança da Presidência venezuelana foram capazes de impedir que um locutor de rádio do país entrasse nas instalações onde trabalha Hugo Chávez e roubasse selos e papéis oficiais para depois aplicar um golpe: apresentar-se nos quartéis venezuelanos oferecendo serviços de reforma.


Thyber Raimundo Chacón Hernández, do Estado de Táchira, na fronteira com a Colômbia, foi preso acusado de falsidade ideológica e ‘ofensa ao Despacho da Presidência’, entre outros crimes. A informação foi publicada ontem pelo ‘Últimas Notícias’, jornal mais vendido no país.


Questionado, o Ministério de Comunicação disse ontem apenas que não tinha informação oficial sobre o tema.


Chacón visitou várias vezes o Palácio Miraflores, sede da Presidência, oferecendo planos de melhora de infraestrutura. A cada uma das visitas, acumulava papéis timbrados.


Depois, fingindo ser um tenente, ele criou para si o cargo de presidente da inexistente ‘Comissão Presidencial de Planejamento e Desenvolvimento Estratégico’, encarregada de ‘modernização de todos os quartéis do país’, continuou o jornal.


Chacón apresentou-se em várias unidades do Exército dizendo ser um enviado do próprio presidente do país.


A farsa começou a ter fim quando um militar desconfiou de sua patente. Por que um tenente teria a direção de tal órgão estratégico? Então, verificaram-se registros militares, e não havia nenhum tenente com aquela atribuição.


O impostor quase fechou contratos de reforma, afirma o procedimento judicial.


Chávez afirma que é vítima constante de ameaças de morte e planos de magnicídio. Por isso, dá especial atenção aos mecanismos de segurança do palácio presidencial.’


 


 


CAMPANHA


Ranier Bragon


Na TV, Lula atribui ‘sucesso’ a Dilma e a compara a Mandela


‘No programa em que o PT espera alavancar a pré-candidatura de Dilma Rousseff, o presidente Lula atribuiu ontem à petista, em cadeia de rádio e TV, a responsabilidade por ‘grande parte’ do sucesso de seu governo e a comparou ao líder sul-africano Nelson Mandela.


Ao falar que parte da história da petista o lembra da luta de Mandela contra o apartheid, Lula trouxe à tona a primeira estratégia de marketing da campanha do PT para tratar um dos pontos cruciais da biografia de Dilma, a sua participação em grupos que defendiam a luta armada durante a ditadura militar (1964-1985).


Lula e Dilma dominaram a maior parte dos dez minutos da propaganda partidária do PT, produzida com o intuito de informar e fixar no eleitor a ideia de que a ex-ministra é a candidata de Lula, tem luz própria e grande capacidade gerencial.


Nas palavras de Lula, que a apresentou como idealizadora do Luz para Todos, o programa para levar energia elétrica aos rincões do país: ‘É a história de uma mulher que viveu tudo muito intensamente, com muita coragem e competência e que chegou onde está com seus méritos próprios. É uma tremenda história de vida’.


Lula aparentava conversar com um interlocutor oculto enquanto falava. Ocupou, sozinho, 2min43s do programa. Dilma apareceu em 3min46s.


‘Ela simplesmente foi exuberante na coordenação do meu governo. Eu digo, sem medo de errar: grande parte do sucesso do governo está na capacidade de coordenação da companheira Dilma Rousseff.’


Produzido pelo marqueteiro João Santana, o mesmo de Lula, o programa do PT explorou comparações entre o petista e Fernando Henrique Cardoso (95-02), mencionando a gestão tucana sempre como ‘FHC e Serra’, em referência ao principal adversário de Dilma, José Serra, que foi ministro do Planejamento e da Saúde de FHC.


‘Ascensão social dos brasileiros: com FHC e Serra, insignificante. Com Lula e Dilma, 31 milhões entraram na classe média e 24 milhões saíram da pobreza absoluta’, dizia o locutor.


A comparação Dilma-Mandela veio quando a petista disse que não fugiu da luta contra a ditadura e que usou ‘os meios e a concepção’ da época. ‘Eu lutei sim. Lutei pela liberdade e pela democracia. Lutei contra a ditadura do seu primeiro ao seu último dia. Com os meios e as concepções que eu tinha.’


Nesse momento, Lula a comparou a Mandela: ‘Uma parte da história da Dilma me lembra muito a do Mandela. Lembro-me uma vez que o Mandela me contou que só foi para o confronto porque não deram outra saída pra ele. O tempo passou e o que aconteceu: ele virou um dos maiores símbolos da paz e da união no mundo’.


Mandela foi sentenciado à prisão perpétua nos anos 60, acusado de participação na luta armada. Libertado em 90, presidiu a África do Sul de 94 a 99.


Para suavizar a imagem de ‘durona’ de Dilma, Lula lançou mão dos Estados em que sua ex-ministra nasceu e se formou politicamente para tentar vender a ideia de uma Dilma ‘sensível’ à mineira e ‘intrépida’ à gaúcha. ‘É uma bela mistura que certamente será muito importante para o Brasil’, disse.


Também apareceram, sempre elogiando Dilma, os ministros Fernando Haddad (Educação), Guido Mantega (Fazenda) e Paulo Bernardo (Planejamento), e o presidente do PT, José Eduardo Dutra.’


 


 


TELEVISÃO


Jairo Marques


Fim de novela une atores a quem dribla diferenças


‘Para quem acompanha ‘Viver a Vida’, não há surpresas em ver o galã Marcos (José Mayer) rodeado por beldades.


Mas ele, em um sofá redondo, de couro branco, ouvindo piadinhas como ‘Pare de ser pedófilo, Zé!’, foi para poucos, que estavam na gravação do final da trama, que vai ao ar hoje.


A ideia era registrar uma confraternização entre os atores com gente de cadeira de rodas, gente meio tortinha, que deu um drible nas diferenças.


Tudo embalado pela música da orquestra Bachiana Jovem e do coral de crianças de Carapicuíba. Artistas sob o comando do maestro João Carlos Martins, que tem movimentos restritos nas mãos.


O ator Mateus Solano -intérprete dos gêmeos Miguel e Jorge- estava radiante. Tirou fotos e abraçou quem pediu.


Mas vibrante foi a presença da jornalista Flávia Cintra, que inspirou a personagem Luciana, incorporada por Alinne Moraes. Tetraplégica, ela aplaudia com os punhos, carregando no colo o filho Mateus, 3, irmão gêmeo de Mariana.


Cintra ficou no gargarejo, ao lado de Lilia Cabral (Tereza), Paloma Bernardi (Mia) e Adriana Birolli (Isabel).


Este repórter ficou ao lado de dona Virgínia Diniz Carneiro, 86, ‘com cabeça de 68’, vítima da paralisia infantil. Ela deu seu relato no primeiro capítulo.


Não poderia haver local melhor. Ela sabe muito bem o que é viver a vida, sem pleonasmos.


O autor, cadeirante, faz o blog ‘Assim como Você’, na Folha Online, e viajou a convite da Globo’


 


 


PUBLICIDADE


Mônica Bergamo


Comida não é brinquedo


‘A Promotoria do Consumidor de SP está processando Nestlé e Kellogg’s para que as empresas deixem de fazer publicidade para crianças. Quer proibir também a distribuição de brindes junto com alimentos e questiona o fato de as duas companhias possuírem sites infantis, com jogos eletrônicos, para divulgar seus cereais.


FRÁGIL


O promotor Paulo Sérgio Cornacchioni, autor da ação, diz que toda publicidade para crianças é irregular, por elas serem indivíduos ‘vulneráveis’ e sem experiência.


JÁ PRA RUA!


A Kellogg’s afirma que sua comunicação incentiva a alimentação equilibrada e a prática de esportes e que seu site de jogos exibe, a cada 15 minutos, uma mensagem mandando o usuário ‘desligar o computador e ir brincar’. A Nestlé não se manifestou.’


 


 


 


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