Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Mino Carta

‘Pergunto aos meus pacientes botões: quem é Fernando Barros e Silva? Em silêncio, encaram-me entre atônitos e perplexos. Aprendi que um Fernando Barros e Silva existe ao ler, na página 3 da Folha de S.Paulo, artigo da lavra do próprio a respeito do acima assinado. Sexta-feira 10 de setembro.

O texto em questão compara-me a Odorico Paraguaçu, malandrinho da política provinciana, imortalizado no horário nobre das novelas da Globo. Corrupto do arrabalde, matreiro, sorrateiro, velhaco, hipócrita. Não é comparação edificante.

Fernando Barros e Silva desconheço. Conheço, porém, a Folha de S.Paulo, mesmo porque acolheu a minha assinatura em diversas ocasiões e, continuadamente, por dois longos períodos. Primeiro, quando me demiti da direção da Veja, em fevereiro de 1976.

Claudio Abramo, amigo fraterno, dirigia a redação da Folha e me convidou a assumir o posto de redator-chefe. Imaginei que fosse bom momento para pensar na vida, e só aceitei colaborar com dois artigos semanais. Saíam com destaque, às vezes com direito a chamada na primeira página.

Recordo que Octavio Frias de Oliveira, o patriarca que se dizia ‘perito em Claudio Abramo’, gostava da minha ‘subliteratura rocambolesca’ (tomo emprestada a definição aplicada pelo misterioso Fernando). A tal ponto que, convidado por Claudio a ajudá-lo no fechamento do jornal, passei a atendê-lo com certa regularidade, e o próprio dono da casa aproveitou minha presença para encomendar reportagens e até editoriais.

Um ano depois, IstoÉ, fundada como anódino mensário em maio de 1976, tornou-se semanal e faltou-me tempo para prosseguir na colaboração à Folha. Voltei, e com atuação mais marcante, em fevereiro de 1981, ao ser demitido da direção da IstoÉ por seu mais recente patrão, Fernando Moreira Salles.

O filho do lendário Walter, exatos 15 dias depois de ter-me oferecido a oportunidade (recusada com cortesia) de comprar, em parceria com ele, um sítio nos arredores de São Paulo, apontou-me a saída ao alegar três motivos.

Primeiro: na vida dele eu acabava por ocupar o papel reservado ao pai, e isso não digeria. Segundo: eu me aproximara demais ao movimento operário do ABC e ao PT enquanto, na opinião dele, conveniente era aliar-se ao PMDB. Terceiro: um grupo conspícuo de redatores, entre os quais figuravam professores universitários esquerdistas da gema, viam em mim um ditador. Estavam com o príncipe contra o plebeu.

A convocação de Octavio Frias de Oliveira para colaborar estavelmente no seu jornal confortou-me bastante. Escrevi cinco textos semanais, entre reportagens, resenhas e análises políticas, até março de 1982, chamado então por Domingo Alzugaray para dirigir a redação da revista Senhor, que pela mão dele virava semanal.

Sim, a Folha conheço, assim como me defrontei, ao longo de quase 55 anos de vida profissional, com críticas dos mais diversos calibres, pró e contra, e algumas destas merecidas, se não forem muitas. De fato, errei várias das minhas avaliações, interpretações e previsões. Nunca sofrera, no entanto, até 10 de setembro passado, um ataque contra a minha honradez de profissional honesto. Recheado por entrechos de pura ficção apresentados como fatos.

Não nego, está claro, o deslize inicial, confessado inúmeras vezes. E no outro dia fui ao Programa do Jô, e ele pediu-me para contar a história da minha rendição ao jornalismo. Pois eu, adolescente, não pretendia seguir os passos de meu pai e meu avô, ambos jornalistas de excelente qualidade. Entreguei os pontos por razões mercenárias, é forçoso reconhecer.

Jô conhece o enredo de cor e salteado, mas se diverte ao ouvi-lo pela enésima vez. E foi assim. Meu pai, Giannino, radicado há algum tempo no Brasil, e mais importante para a história da imprensa verde-amarela do que se possa imaginar, surge diante de mim com a expressão das ocasiões cruciais. Diz: ‘Querem meia dúzia de reportagens sobre a organização do próximo Mundial de Futebol’.

O Mundial de 1950, aquele encerrado no Maracanã em prantos. Quem pede são os ex-colegas do meu pai, do Il Messaggero de Roma e do Il Secolo XIX de Gênova, jornais da mesma empresa. Não completei ainda 16 anos, não decidi se quando crescer serei pintor ou escritor, gosto de futebol e o pratico no campo do Corintinha de Pinheiros. Armador.

Giannino detesta futebol. De sorte que invoca: ‘Escreve você’. Pergunto, com a devida frieza: ‘Quanto vale?’ Diz ele que vale ‘xis’, e eu calculo que mais ou menos corresponde ao valor de um terno azul-marinho, de casimira inglesa, confeccionado por alfaiate da rua Marconi. Sétimo andar do mesmo prédio que, ao rés-do-chão, ostenta as vitrines da célebre Old England. Agrada-me citar o nome do mestre do corte: Nicola Canonico, napolitano.

Naquele remotíssimo tempo íamos aos bailes do sábado de terno e gravata, e o azul-marinho é, sem discussão, rei dos ternos. Topei escrever, e logo deslisava pelos salões a envolver as damas em uma espécie de auréola navy-blue.

Entendi que, pelos caminhos do jornalismo, a felicidade ficava ao meu alcance, e me profissionalizei por conta própria, com aprendizado primeiro na revista Anhembi, de Paulo Duarte, depois na redação da Agência Ansa em São Paulo, enfim na Itália, no La Gazzetta del Popolo, de Turim, e no Il Messaggero de Roma.

Na Itália li Antonio Gramsci, fascinado por suas idéias, ditadas pelo espírito agudo de quem consegue ser ‘pessimista na inteligência e otimista na ação’. E lá votei no PCI, já herético depois da revolta de Budapeste.

Sou tão marxista, contudo, quanto inúmeras pessoas em cuja fala Marx decanta sem que se dêem conta disso. Desde então declino, isto sim, crenças anarco-sindicalistas, muito mais anarco do que sindicalistas. Tendo basicamente a concordar com o professor Delfim Netto, que me considera irrevogável natural da anarquia.

De todo modo, como recomendava o Marquês de Sade, é preciso botar ordem nesta orgia. E esclareço que, a despeito das novas fontes de inspiração, prossegui com espírito mercenário no exercício da profissão. E com inegável coerência regressei para o Brasil, onde as perspectivas econômicas pessoais eram infinitamente melhores, e assumi a direção de uma revista de automóveis. A Quatro Rodas lançada em 1960 pela Editora Abril na esteira do surgimento das primeiras montadoras.

Anote-se que não sei dirigir e jamais me preocupei com isso. Que andar de Mercedes ou Fusca para mim dá na mesma. E que, no meu entendimento, uma biela não se diferencia de uma bronzina. Talvez tenha sido esta a razão do extraordinário êxito de Quatro Rodas, publicação que vive honrosamente até hoje, 44 anos depois.

Lembro com prazer maligno que naquele tempo, possivelmente fortalecido por uma razoável experiência poquerística, mantinha caudalosas conversas com os engenheiros das fábricas de automóveis, muitos estrangeiros, nas quais meus argumentos, a julgar pelas reações, não causavam espanto. Talvez os engenheiros fossem vocacionados para a compaixão dos santos.

Devo dizer que, ao contatar então os precórdios, ao percorrer a zona miasmática situada entre o fígado e a alma, a esquerda brasileira não me comovia. Pelo contrário. Excluídas umas tantas figuras excepcionais, heróis da fé e do destemor, percebi no esquerdismo nativo o toque do oportunismo, amiúde condimentado, em doses largas, pela ignorância.

Não via ali adversários à altura dos tradicionais donos do poder, a chamada elite, minoria exígua de predadores ferozes, imprevidentes, irresponsáveis. Confiava no tempo: caberia à invenção do homem conduzir o processo lento, porém inexorável, do resgate do povo sofrido em um país destinado à grandeza. Enquanto isso, cuidava de encomendar mais um terno azul-marinho.

Minha confiança foi esmigalhada na esquina da fatídica rua Marconi com a Barão de Itapetininga, centro de São Paulo, pelas solas da Marcha da Família, com Deus e pela Liberdade, dia 13 de março de 1964. Fiquei ali, espectador da passagem da procissão da arrogância e da hipocrisia. Ouvi, por dentro, o som longínquo e insondável que ecoa no Jardim das Cerejeiras, conforme Tchecov.

O som, entre as ramas do jardim, antecipa uma revolução. Aquele que sibilou na esquina anunciava o golpe. A tragédia cujos efeitos ainda perduram. Começa no instante, e se consolida na direção da redação da Veja, a partir de 1968, a minha opção pelo Brasil. Digo, opção consciente, precisa, irrecorrível.

Sem temor de ser tachado de cultor da retórica, ou praticante de ‘subliteratura rocambolesca’, opção pelo povo desvalido à espera de ser nação. Pelos humilhados e ofendidos do Oiapoque ao Chuí. A escolha é pelo País e pelo jornalismo, um não vinga, na minha consciência, sem o outro. Pois se a terra é esta, a profissão passa a ter serventia autêntica. Nítida, empolgante razão de ser.

Haverá quem, entre os mais condescendentes, enxergue em mim, e em outros iguais a mim, o idealista sonhador, obviamente iludido. A estes digo apenas que o meu primeiro alvo são eles mesmos, e todos os capacitados a entender por que, na minha visão, o Brasil não é o que poderia ser.

Erro a meu ver cometido por jornalistas brasileiros de ótima fé e indiscutível competência foi ter pretendido dirigir-se diretamente a camadas populares que ainda trazem no lombo as marcas do chicote da escravidão. O mesmo gênero de profissionais, militantes da esquerda européia, tiveram melhor êxito porque contavam, juntamente com seus partidos, com a audiência do proletariado. O qual almeja ser burguês e encontra sua força nessa aspiração.

Na Itália, por exemplo, o Partido Comunista foi fator determinante de progresso democrático e capitalista. Quando começou a definir-se a liderança do metalúrgico Lula à testa de um novo sindicalismo e, mais até, da primeira forma eficaz de resistência à ditadura fardada, acreditei assistir a fenômeno similar àquele ocorrido na Itália.

Deixada a direção da Veja, que cedera às pressões do ministro Armando Falcão, da Justiça de Ernesto Geisel, o qual exigia a minha cabeça em troca de um empréstimo de US$ 50 milhões à Editora Abril por parte da Caixa Econômica Federal, inventei meu emprego na IstoÉ, fundada juntamente com Domingo Alzugaray e Luis Carta.

IstoÉ ousou bastante. Gritou na sua capa ‘Abaixo o AI-5’, bateu-se pela anistia ‘ampla, geral e irrestrita’, apoiou a OAB de Raymundo Faoro e as greves do ABC, evocou o assassínio de Vlado Herzog em outubro de 1977 sem deixar de pôr os pingos nos is, colocou Lula na capa em fevereiro de 1978.

Iludiu-se quanto ao PT? Em parte, sim, mas não pelo partido. Faltou foi o proletariado, e mais ainda se iludiu o Jornal da República, surgido à sombra da IstoÉ. Não chegou a durar cinco meses. A ilusão, de todo modo, não costuma ser o refúgio dos canalhas, ao contrário do patriotismo, segundo o doutor Samuel Johnson.

Tenho é fama de brigão, de impulsivo, de irascível. Nem por isso me indispus com todos os patrões. De Octavio Frias de Oliveira já disse, acrescento os senhores da família Mesquita. Saí do Jornal da Tarde com um bilhete de Ruy Mesquita no bolso, dizia: ‘Você regressará quando quiser, será sempre o filho pródigo’.

Perderam-me, creio eu, aos olhos dos Mesquita, as idéias políticas que não pudera manifestar no Estadão. Onde tive, sem queixa alguma, autonomia profissional absoluta e nenhuma ideológica. Este era o jogo, e eu o aceitei de bom grado.

Ao contrário do que se deu em outras casas, inclusive na última, antes de CartaCapital, a Editora Três. O rompimento com um velho e caro amigo como Domingo Alzugaray me dói até hoje, 11 anos passados, mas era inescapável.

A tudo antepus a minha dignidade e, portanto, o jornalismo que respeita a verdade factual, exerce o espírito crítico e fiscaliza o poder. Nem sempre acerto, com já disse e repito, mas sei à perfeição onde estão os responsáveis pelos males do País e onde estão as suas vítimas.

O libelo de Fernando Barros e Silva não me espanta. E, de resto, este senhor terá de provar em juízo as suas acusações. Sinto, porém, a urgência de dar satisfação aos leitores de CartaCapital que também lêem a Folha de S.Paulo. Digo, os verdadeiros leitores.

Aqueles que, mesmo ao discordar, não alimentam a mais leve dúvida em relação à nossa boa-fé. Aqueles que, no tempo certo, entenderam por que CartaCapital apoiava em editorial o candidato Lula e hoje entendem por que critica o seu governo, sem meios-termos mas sem maniqueísmo e histeria, sobre temas diversos, a começar pela política econômica.

Maniqueus não somos. Esta é doença humana, vai e vem tempos adentro, e ensombrece vastas quadras da história. Com suas conseqüências: prepotência, terror, milenarismo, fanatismo do Apocalipse. Aniquilamento da razão.’

***

‘Resposta ao senhor Fernando’, copyright Folha de S. Paulo, 20/09/04

‘Críticas variadas recebi na minha vida de jornalista, nem todas a favor, muito pelo contrário. À parte as generosas palavras de bons amigos, aquele que reputo o elogio mais valioso veio do inimigo. Ou seja, o general-presidente da ditadura fardada João Baptista Figueiredo. Que antes fora chefe do SNI e sabia da vida de todos e de cada um.

Já de pijama, fim da década de 80, Figueiredo gravou um depoimento só divulgado depois da sua morte. Ao me comparar a alguns patrões da mídia, não sei por que, pois não pertenço à categoria, insistiu no meu papel de opositor do regime militar a ponto de ser detestado por Ernesto Geisel, incluiu-me entre os ‘chatos’, dispostos até ‘a reescrever os Evangelhos’, mas me definiu como o único a não ter ‘rabo preso’.

Neste mesmo espaço, deste jornal que acolheu textos meus em duas diferentes ocasiões, e por períodos longos, pela primeira vez alguém atingiu a minha honradez de profissional, de cidadão e de indivíduo. Ao contrário de Figueiredo, o senhor Fernando de Barros e Silva me compara com personagem novelesco, Odorico Paraguaçu, escroquezinho da política provinciana, corrupto, mentiroso e hipócrita.

Sei perfeitamente que muitas vezes, no exercício do jornalismo, falhei nas minhas avaliações, interpretações e previsões. No entanto ninguém me havia acusado, até hoje, de agir em má-fé. Sem a mais pálida sombra de retórica, afirmo que a honradez é o único patrimônio consistente de um profissional remediado nas posses, sempre dependente do salário para sobreviver com um mínimo de dignidade.

Às vezes foram salários gordos, com o contorno daquilo que na Editora Abril chamava-se de ‘fringe benefit’. Não hesitei em renunciar a eles para me encarar, em paz comigo mesmo, na hora de fazer a barba. A bem da verdade factual, nunca temi perder o emprego, sabia que poderia inventar outro. Na pior das hipóteses, seria lenhador no Canadá, qualificado para tanto pelas camisas de flanela quadriculadas que figuravam no meu enxoval.

Li no livro ‘Notícias do Planalto’ que fui demitido da Redação da revista ‘Veja’. O autor enganou-se. Mandei-me alegremente, com o propósito deliberado de evitar a indenização devida por quem cedia às pressões do então ministro da Justiça (justiça?) Armando Falcão, o qual vetava um empréstimo de US$ 50 milhões (em valores de 1975) solicitado pela Abril à Caixa Econômica Federal. Em troca, pedia minha cabeça. Quem tiver dúvidas a respeito consulte o doutor Karlos Rischbieter, que então presidia a Caixa. Saí da ‘Veja’ e comigo saiu a censura. Entrou o empréstimo.

Isso tudo me leva a dizer que, lá pelas tantas, fui avaliado em US$ 50 milhões. Mas não estamos à sombra das oliveiras do Getsêmani, embora o senhor Fernando de Barros e Silva, quando encontrava gente da ‘CartaCapital’, por exemplo o redator-chefe, Bob Fernandes, tecesse desbragados louvores à revista.

Demiti-me da ‘IstoÉ’, recomprada por Domingo Alzugaray em 1988, por não concordar com a linha pretendida pelo velho amigo que se tornara patrão. Fui demitido da primeira ‘IstoÉ’, em fevereiro de 1981, por Fernando Moreira Salles, que verberava, entre outras coisas, minha simpatia pelo PT. Demiti-me da TV Record, onde mantive por dois anos e meio o programa ‘Jogo de Carta’, para facilitar a vida de Paulinho Machado de Carvalho, de quem guardo ótima lembrança. Ele sofria as pressões do então ministro das Comunicações, Antonio Carlos Magalhães, que não apreciava o programa, crítico atento e desabrido do governo Sarney. Fui demitido da TV Bandeirantes, onde conduzia o programa ‘Cartão Vermelho’, em dezembro de 1981, depois de ter entrevistado Miguel Arraes e, pasmem, Ulysses Guimarães.

Não parece ser esse o currículo de um sem-vergonha. No momento, há quem não perdoe o prestígio crescente da ‘CartaCapital’ e a isonomia que goza em relação à publicidade governamental, depois de ter sido vergonhosamente discriminada pelo governo tucano. Ao longo de oito anos não tivemos nada, ou quase nada, e todos se calaram.

O fato de que a revista, em editorial, tenha tomado posição a favor da candidatura oposicionista, há dois anos, e contra a falsa isenção da mídia em geral hoje serve à afirmação leviana de quem a apresenta como fiscal de Lula. Verdadeiros leitores sabem que ela discorda do governo, e profundamente, em relação a vários temas, a começar pela questão central da política econômica.

Quanto ao senhor Fernando de Barros e Silva, ele terá de provar em juízo suas acusações contra um jornalista honrado. Mino Carta, jornalista, é diretor de Redação da revista ‘CartaCapital’.’



CARTA CAPITAL, 10 ANOS
Lula Miranda

‘Parabéns, Carta Capital!’, copyright Agência Carta Maior (www.agenciacartamaior.com.br), 13/09/04

‘Nesse mês de agosto passado, a revista Carta Capital completou 10 anos de existência. Então, aproveito aqui o espaço e o ensejo para parabenizá-la, na linha do ‘louvando o que bem merece, deixando o ruim de lado’. E o ‘ruim’, aí no caso, são praticamente todas as outras revistas semanais: Veja, Isto É e Época. Se você ainda é asssinante de uma dessas revistas, não perca mais tempo e dinheiro, cancele sua assinatura velha e faça uma nova da Carta Capital. Conselho de amigo.

Não que revista semanal seja lá uma grande e definitiva leitura. Não é isso. Afinal, uma revista serve apenas para aquela leitura despretensiosa, tipo ‘passatempo’, para aqueles momentos solitários e ociosos no metrô, no ônibus ou no consultório do médico, do dentista, ou mesmo do psicanalista. Mas a Carta Capital oferece um pouco mais que isso. Algo mais do que aquela leitura que é mero entretenimento, aquela leitura inconsistente, estéril e/ou ‘alienante’ das outras revistas.

‘Tocada’ pelo experiente jornalista, Mino Carta (na foto), de extenso currículo no jornalismo mais à esquerda, digamos assim, a revista conta ainda com excelente profissionais: jornalistas, colabores e editores. Gente ‘das antigas’ , de um tempo em que se fazia um jornalismo crítico, informativo, ético e de qualidade. Gente como Bob Fernandes (seu redator-chefe e repórter nas matérias mais emergenciais), o próprio Mino Carta, Luiz Gonzaga Belluzzo (ex-colaborador da Agência Carta Maior e hoje consultor e sócio na Confiança), Maurício Stycer, Ana Paula Souza etc. Tem colabores como Luis Antonio Fiori, um dos grandes e mais respeitáveis intelectuais brasileiros da atualidade, e colunistas como Nirlando Beirão, Nicolau Sevcenco e outros. É certo que também tem umas poucas colunas desprezíveis e descartáveis, para alguns, é claro, como a do Delfim Netto e a de um ou outro ‘boleiro’. Mas, qualquer coisa, questão de ‘gosto’, se vocês também não gostam desses citados, façam como eu, literalmente descartem a coluna extirpando a página em questão, ou até mesmo, gesto mais simples, menos brusco e destrutivo, simplesmente ignorando-as. Cá para nós, dar vez e voz ao Delfim, tenha dó. É demais para a cabeça. Só pode ser coisa do tal ‘pluralismo democrático’, ou porque, como acreditam alguns, Delfim é um dos ‘grandes intelectuais da direita’.

Recentemente, não sei se vocês tiveram o prazer de acompanhar, tivemos uma gostosa polêmica envolvendo Fernando de Barros e Silva, jornalista da Folha de S. Paulo, e o próprio Mino Carta. Na edição 307 de Carta Capital, Mino Carta, em sua coluna, responde ao artigo de Fernando de Barros publicado na Folha de 01/09 e intitulado ‘O trapézio de Lula’. Porém , na última sexta-feira, 10/09, o jornalista da Folha volta à carga, de modo mais virulento, fazendo acusações que não deveriam ficar sem resposta. Agora, espera-se a tréplica de Mino Carta ou o seu silêncio. O que vai ser? Espero que vocês tenham tido a oportunidade de acompanhar essa verdadeira esgrima entre essas duas verves. De um lado o jovem Fernando, do outro o provecto Mino. Uma polêmica espetacular que fez lembrar os tempos em que a imprensa era palco para debate de idéias e não somente para desfile de vaidades. Sim, tá bom, reconheço que também há uma certa dosagem de vaidade no embate dos dois jornalistas. Decerto que há.

Também recentemente, há coisa de três semanas, foi digna de nota a postura da revista ao dar espaço aos polêmicos debates sobre a criação do Conselho Federal de Jornalismo e da Ancinav, de modo imparcial e elucidativo, dando pleno espaço à posições diversas, antagônicas, à ‘figura’ do contraditório. A Carta Capital foi exemplar ao dar à questão o tratamento necessário, pois ponderado, sem o parcialismo e sensacionalismo dos outros veículos.

Portanto, meus caros e caras, é por essas e outras que faço questão de aqui, nesse modesto espaço, registrar e louvar os 10 anos da Carta Capital. Vida longa aos veículos que se constituem numa verdadeira alternativa à pasmaceira, à vulgaridade, ao superficialismo e adestramento da nossa imprensa em geral. Vida longa à Carta Capital! Vida longa à Caros Amigos! Vida longa à Carta Maior!’