Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá


‘Inflação recorde, bradavam as rádios CBN e Bandeirantes, ontem à tarde, sobre a taxa apurada em São Paulo pela Fipe. Foi manchete no Jornal Nacional, depois:


– Inflação dá salto no início de abril em São Paulo.


Já a Globo News evitou a exclamação:


– O IPC avançou para 0,98%, mas a maior pressão é localizada. Sem o aumento das passagens de ônibus, o índice teria ficado em 0,28%.


Também para a Folha Online, ‘a maior alta foi do grupo transporte, que continua influenciado pelo reajuste’.


O problema é que ‘o trauma da inflação’, para um economista ouvido pela Globo, pode animar o Banco Central a ‘nova elevação’ dos juros.


Para o blog tucano E-Agora, o aumento no preço das passagens, um mês atrás, foi responsável por outro ‘salto’ em outra pesquisa -a da rejeição ao prefeito José Serra.


O blogueiro Eduardo Graeff sublinhou que, ao reajustar as passagens pela primeira vez, a rejeição da ex-prefeita Marta Suplicy também subiu.


Em resumo, não ‘é a economia, estúpido’, nem a cultura nem a política:


– É a tarifa.


ATOS DE CORAGEM


Um dos principais colunistas do ‘New York Times’, Bob Herbert dedicou seu último texto aos ‘esforços heróicos’ de dois diplomatas, um brasileiro e um português, que salvaram centenas de judeus do nazismo. Destacou o brasileiro, dizendo que o português ‘já foi amplamente reconhecido’.


Chamado de ‘Schindler do Brasil’, Luiz Martins de Souza Dantas, embaixador na França durante a guerra, ‘ajudou pelo menos 800 judeus a escapar’, distribuindo vistos para, entre outros, o ex-diplomata americano Felix Rohatyn, nascido na Polônia. Ele e a família fugiram de Paris e passaram por Marselha, Lisboa, Casablanca e pelo Brasil, até alcançarem os EUA. Para Rohatyn, detalhando a fuga, ‘foi um milagre’.


No site da fundação Raoul Wallenberg, indicada pelo colunista, a biografia de Souza Dantas reproduz outros depoimentos, destacando o do ator e diretor polonês Zbiginiew Zimbienski, que descreve Dantas como ‘um Quixote’. Bob Herbert encerra o texto noticiando um tributo em Nova York e acrescentando:


– Num tempo de guerra, tortura, terror e confusão moral -o presente- pode ser de ajuda olhar para um tempo não tão distante, que foi muito pior, e para os seus atos de coragem sem alarde.


PM vs. PM


Na Globo, mais chacina:


– Nova linha de investigação. O motivo pode ter sido a disputa entre grupos de extermínio formados por policiais que fariam segurança para comerciantes, bicheiros e traficantes.


Sobre a conversa, lançada no início, de que a chacina era efeito da ‘insatisfação com a disciplina imposta’, nem palavra.


Aliás, o ex-secretário de Segurança Anthony Garotinho ‘não quis comentar a violência no Rio’ e disse que ‘é problema’ de seu sucessor.


Contra


Garotinho não foi a Brasília tratar de violência no Rio. Foi posar com o presidente do Senado, Renan Calheiros, e a seguir declarar, para Globo Online e outros, que não apoiou a indicação do peemedebista Romero Jucá a ministro -e não quer saber do governo.


Logo depois, noticiou o JN, a bancada do PMDB no Senado soltou nota de apoio a Jucá.


Desejos


Os senadores peemedebistas queriam ação. Manchete no Jornal da Record:


– Insatisfeitos com a ministra das Minas e Energia, senadores rejeitam indicação para Agência Nacional do Petróleo.


Ou melhor, segundo a Globo Online, foi porque ela ‘colocou irmão de Antônio Palocci em diretoria da Eletronorte desejada pelo PMDB’. Ou ainda, por Ney Suassuna.


Discriminação


Canais e sites noticiosos especularam o dia todo sobre ‘o projeto que proíbe o nepotismo’. Severino Cavalcanti apareceu, mas ‘evitou o assunto’. E assim, segundo o JN:


– A Câmara adiou mais uma vez a votação do projeto.


Mas ao menos houve debate -e a Globo flagrou um deputado tucano cearense e um verde paulista argumentando contra a ‘discriminação’.


Um em seis


O site Congresso em Foco contou as denúncias de parlamentares no Supremo:


– Um em seis responde a algum tipo de investigação.


São acusações de crime contra a administração pública (25%), eleitoral (13,5%), contra a ordem tributária (10,2%), o patrimônio (8,5%) etc.


Disputa


O ‘New York Times’, sob o título ‘Disputa política põe cidade no escuro’, relatou o corte da energia em prédios paulistanos -e a acusação da prefeitura tucana de que seria resultado de pressões do BNDES petista sobre a Eletropaulo.


Sob ameaça


O americano ‘Boston Globe’, com enviado ao ABC, e o francês ‘Libération’ sublinharam que no país de d. Cláudio Hummes o catolicismo está ‘ameaçado’ pelo pentacostalismo.’





MUDANÇAS NO NYT
Helena Celestino


‘‘NYT’ altera página de artigos depois de 30 anos’, copyright O Globo, 13/04/05


‘É uma pequena reforma, mas mexeu com o coração do jornal. Pela primeira vez desde que foi criado em 1970, o espaço dos artigos do ‘The New York Times’, o jornal mais influente dos EUA, cresceu e ganhou, no último domingo, mais uma página. Agora a editoria de opinião tem duas páginas de artigos e uma de editoriais, em lugar das duas tradicionais.


A mudança, que só vale nas edições dominicais, foi acompanhada de uma mexida no time de articulistas e abriu lugar para o ombudsman se manifestar sobre as edições do jornal. Uma carta do editor, assinada por Gail Collins, explicou que o espaço dos artigos é chamado de ‘Op-ed’ porque apareciam na página oposta à dos editoriais. A partir de agora, pelo menos aos domingos, isso não será mais verdade.


‘Mas o papel da seção de opinião do Times continua a ser o mesmo’, disse Gail. A editora explicou que os editoriais, redigidos por um grupo de 16 pessoas, refletem valores defendidos pelo jornal há um século. Já os artigos visam a mostrar a pluralidade de opiniões.


Há outras pequenas mudanças. O caderno de Negócios ganhou novas seções e a contratação do ex-editor do Fortune Magazine Joe Nocera. O espaço da programação de TV também aumentou. A partir de amanhã, a página de Estilo será mais centrada em moda, beleza, comportamento e sugestões de compras.


– É um primo do popular ‘Sunday Styles’ (o caderno dominical de Estilo) que passa a ser publicado nos dias de semana – conta a porta-voz do jornal, Diane McNulty.’