Friday, 19 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá

"A primeira página da versão impressa do ‘Financial Times’, ontem no início da noite, já destacava uma grande foto do venezuelano Hugo Chávez, mais a manchete:


– Sucesso de Chávez ajuda a baixar pressão no petróleo.


Como prenunciava a cobertura externa durante a última semana, o presidente venezuelano passou, de uma hora para outra, de pária a foco de estabilidade na economia mundial.


E não só para o ‘FT’. O ‘Wall Street Journal’ destacava, na manchete on line, a ‘forte’ recuperação das ações nos EUA com ‘a queda na preocupação com o suprimento de petróleo’.


O petróleo baixou de preço, segundo o ‘WSJ’, por conta da vitória de Chávez. Não que tenha baixado muito:


– O mercado continua arisco com os conflitos no Iraque.


É como se insinuasse que a instabilidade do mercado se deve, no Iraque e na Venezuela, ao intervencionismo dos EUA.


Mas George W. Bush não quer nem saber. Manchete no site do ‘El País’, até as 22h30:


– EUA evitam reconhecer o resultado do plebiscito.


‘The New York Times’ e ‘Miami Herald’, nos sites, cederam ao plebiscito assim que ‘o ex-presidente Jimmy Carter endossou os resultados’.


Não o ‘Washington Post’. Durante a tarde e avançando pela noite, sua manchete era ‘Chávez parece ter vencido’.


O venezuelano, de sua parte, voltou a se fazer de Fidel Castro em longo pronunciamento, ao vivo na CNN em espanhol.


Sublinhou a repercussão favorável e a queda no preço do petróleo. Mas ao perguntarem do conflito em Caracas, em que chavistas atiraram nos antichavistas, evitou responder.


EM TURNÊ


Em sua ‘turnê da boa vontade’, no dizer da Globo, Lula acompanhou pacientemente, ao vivo na CNN em espanhol, à posse do novo presidente da República Dominicana. Mas o que ‘ocupou os bastidores’, destacou o JN, foi mesmo o plebiscito venezuelano. E Lula tratou de defender ‘a paz e a democracia’, não Hugo Chávez.


Segundo a BBC Brasil, o que importa na turnê de Lula pelo Caribe é a reunião com governantes da região, hoje, para discutir integração. E amanhã ele tem o publicitário ‘jogo da paz’ no Haiti. O técnico Carlos Alberto Parreira falou ‘rapidamente’, também na República Dominicana, qualificando a partida como ‘histórica’:


– O Brasil vai parar uma guerra. Vamos criar um clima gostoso entre as facções que estão guerreando.


O JN, de sua parte, tratou o jogo com inusitada frieza.


Propositiva


Luiza Erundina conseguiu ‘socorro financeiro’ para o horário eleitoral, como queria, mas o peemedebista Orestes Quércia traz muito mais.


Toni Cotrim, o novo marqueteiro, disse a ‘O Globo’ que ‘campanha na TV tem que ser propositiva, é mais importante do que adotar postura crítica’. Ele trabalhou para Lula nas campanhas de 89 e 98.


Sem parar


Marta Suplicy e José Serra não abandonaram de todo as suas campanhas, nos últimos dias antes do horário eleitoral -que abre hoje. Ambos saíram em entrevistas para as rádios, tanto as mais populares, como Globo e Capital, quanto as de notícias, como Band e CBN.


.can


São Paulo foi invadida pela campanha de rua. Mas no Rio foram proibidos ‘galhardetes e cartazes’, segundo ‘O Globo’, o que mudou ‘a forma de fazer política’. Atrás de alternativas, os marqueteiros estariam privilegiando a internet.


A Justiça Eleitoral do Rio baixou uma norma curiosa: os sites têm que usar o endereço .can -o que ninguém acatou.


Chique


Em São Paulo, não param as inaugurações federais. O aeroporto de Congonhas era destaque ontem, no SPTV e rádios, com as reações ‘entusiasmadas’ à obra. Uma delas:


– Que chique!


Mais saúde


De sua parte, o governo estadual comemorava, no SPTV e rádios, a pesquisa Seade que mostra que o índice de mortalidade infantil caiu 40%. Ponto tucano, sempre na saúde.


Aí a Globo ouviu Marta sobre o horário eleitoral. E ela:


– Vamos abordar com clareza a proposta para a saúde.


Cesar faz


No Rio, à mesma questão, Cesar Maia respondeu à Globo:


– A linha é: o que eu fiz, o que estou fazendo e o que farei.


Jogo pesado


Na eleição americana, a baixaria já incomoda os conservadores. Bill O’Reilly, da Fox News, saiu em defesa do democrata John Kerry, contra os ataques à sua ficha no Vietnã, feitos por comerciais pró-Bush.


O’Reilly diz temer o que pode acontecer até a eleição."

***


Folha de S. Paulo, 16/8/04


‘Enquanto ameaça com o controle da cobertura, o governo vai pondo o seu dinheiro na propaganda.

Ontem começou nas redes uma campanha do Banco do Brasil. Segundo o ‘Painel’, serão 43 comerciais para mostrar o estímulo do banco a produtos de exportação.

Por exemplo, algodão. Com a cantora Luciana Mello, filha de Jair Rodrigues, como garota-propaganda:

– Algodão brasileiro na Europa. Mundo pequeno. Ou é o Brasil que está crescendo?

Pergunta, é claro, retórica. Lula já havia respondido pelos eleitores-telespectadores no pronunciamento em rede nacional, outro esforço publicitário de Duda Mendonça:

– Não há mais dúvida, estamos finalmente iniciando um ciclo de crescimento.

‘A data’ do pronunciamento, como observou Franklin Martins na Globo News, ‘foi escolhida a dedo’. A data da campanha do banco, também.

Luciana Mello mostrou a carne brasileira na Bélgica, o algodão na Áustria. E avisou que será assim todo domingo, numa volta ao mundo nos intervalos do Fantástico.

Ambos, Lula e Luciana, surgem às vésperas do horário eleitoral numa campanha que o PT, na manchete de ontem da Folha, quer federalizar.

O governador Geraldo Alckmin, no site da Agência Estado, respondeu que ‘o povo é sábio’ e consciente de que ‘a eleição federal é em 2006’.

É esperar demais do povo.

O horário eleitoral começa amanhã, só com candidatos a vereador. O impacto maior será na quarta-feira, com os candidatos a prefeito.

Mas quarta-feira é também o dia do ‘jogo da paz’, aquele que Lula e Ricardo Teixeira, presidente da CBF, armaram para o Haiti com as maiores estrelas do futebol brasileiro.

Até na cobertura de rádio já se questiona a partida. Wanderley Nogueira, da Jovem Pan, antes elogiava e agora critica a ‘propaganda’. Lula estará lá, ao lado dos jogadores. Dizem que dará até o pontapé inicial. Viajou ontem à tarde para o Caribe, como noticiou a CBN.

Entre voltar sua atenção aos jogadores ou aos prefeituráveis, ‘o povo’ e o Jornal Nacional nem devem titubear.

E vem aí mais federalização. Como escreveu Kennedy Alencar, ontem na Folha Online, ‘Lula aguarda com paciência o resultado do PIB no primeiro semestre’.

Sai no fim do mês, em ‘hora estratégica do ponto de vista eleitoral -segunda semana do horário gratuito’.

E vem mais, no que já parece um cronograma que vai até a eleição. A revista ‘Veja’ noticia que ‘o governo prepara uma supercomemoração’ para o 7 de Setembro. Com menos ordem unida e mais espetáculo, inclusive um carro de Fórmula 1 de Ayrton Senna.

O mesmo Banco do Brasil, da nova campanha iniciada ontem, já foi chamado a ‘colaborar’. Vai ser um show.

VENDAS

Ecoando discursos de Lula, a campanha do Banco do Brasil mistura ‘valores’ com êxito no comércio externo

Serra e Maluf

José Serra inicia o horário eleitoral visando, segundo a Folha, ‘congelar o atual cenário que o coloca no segundo turno’ em São Paulo. Em seu favor, o maior tempo de todos.

O marqueteiro de Paulo Maluf, com um quinto do tempo de Serra, diz não se preocupar porque seu candidato ‘é bastante conhecido’.

Segundo ‘O Globo’, a saúde será prioridade de ambos, na propaganda.

PFL em 2006

O ex-presidente José Sarney, segundo ‘O Globo’, está ‘preocupado’ que o PSDB não consiga passar para o segundo turno em São Paulo, o que enfraqueceria a oposição.

Pelo sim, pelo não, o PFL está em estudos para sua ‘refundação’ após o pleito. Segundo a Agência Nordeste, Jorge Bornhausen quer ‘mudar para permitir que pessoas de qualidade’ entrem no partido e o tornem ‘alternativa de poder, não mais mero coadjuvante’.

Oligarquia

Em destaque no site do PT, ontem, uma foto do venezuelano Hugo Chávez ao receber o apoio de petistas, em Caracas. Lula pode manter distância protocolar, mas seu partido só faz pensar em Chávez, em aposta arriscada de vitória no plebiscito. Uma passagem, por exemplo:

– A oligarquia, a turma do andar de cima parece estar condenada à derrota.

No Brasil, os petistas já esqueceram tal retórica.

Chávez e os EUA

Retórica é o que não falta a Chávez, mas é só conversa. Antiamericano da boca para fora, ele trata a cobertura americana melhor do que todas as outras, com entrevistas exclusivas da CNN ao ‘Los Angeles Times’ e quem mais quiser.

Mas ao menos no Estado da Flórida, no ‘Miami Herald’ e em sua versão em espanhol, ‘El Nuevo Herald’, a cobertura do plebiscito venezuelano, até ontem, foi abertamente contrária a Chávez.’

***

‘Mais liberdade’, copyright Folha de S. Paulo, 13/8/04

‘A Globo fez as contas e disse que, ‘pela terceira vez em uma semana’, vem o governo e anuncia um projeto ‘que trata do controle da informação’.

Primeiro, a Agência Nacional de Cinema e Audiovisual (Ancinav). Segundo, o Conselho Federal de Jornalismo, para ‘orientar, disciplinar e fiscalizar’ a cobertura.

E terceiro, nas manchetes do Jornal Nacional de ontem:

– Governo quer restringir divulgação de informações sobre investigações internas.

A melhor resposta da parte da oposição veio do pefelista Cesar Maia, na Globo On Line, dizendo que o conselho ‘é ridículo’ e citando d. Pedro 2º, para quem:

– Contra abusos da imprensa, mais liberdade de imprensa.

O PFL já havia iniciado o dia com Jorge Bornhausen atacando o conselho e a Ancinav, ‘projetos autoritários’. Em seguida veio o líder na Câmara e ameaçou, na Globo News:

– O PFL não vota nada se a Câmara não devolver o projeto.

Àquela altura, nos sites, o presidente petista da Câmara, João Paulo, já criticava o ‘erro do governo’ ao enviar o projeto do conselho e insinuava que ele não devia ‘insistir’.

Já o ministro Márcio Thomaz Bastos resistia, na Folha Online, dizendo que o conselho não representa um cerceamento à liberdade de imprensa -e recusando ‘a carapuça de censor’.

Com ou sem carapuça no governo, os brasileiros não aceitam mais o autoritarismo.

A ‘Economist’ divulga, na nova edição, sua pesquisa sobre instituições na América Latina, feita em 18 países, anualmente. Em resumo, destaca a revista:

– Latino-americanos não querem um retorno à ditadura.

Em alguns países menores, o apoio à democracia caiu, mas não entre os brasileiros:

– No lado bom, houve um aumento significativo no apoio à democracia no Brasil.

Cresceu seis pontos, como regime preferido dos brasileiros. A revista chega a dizer que ‘o advento de Lula, de origem humilde, parece ter aumentado o apoio à democracia’.

Mal sabe a ‘Economist’ o que ele anda fazendo.

E ASSIM DEVE SER

Ontem foi a vez do mea-culpa do ‘Washington Post’ sobre a cobertura pouco crítica de George W. Bush e sua guerra. O colunista Howard Kurtz mostrou como textos que questionavam a existência de armas de destruição em massa no Iraque eram evitados na primeira página. Editores admitiram ‘erro’. Kurtz relata que foi com apoio de Bob Woodward, de Watergate, que uma rara reportagem venceu a resistência no ‘WP’.

Dias atrás, Woodward foi à CNN falar dos 30 anos da derrubada de Richard Nixon. À pergunta ‘a imprensa pega leve com Bush?’, disse que ‘no último ano não’:

– Tudo o que a Casa Branca faz é questionado. E assim deve ser.

Os federais

Na manchete do UOL e nos telejornais, o presidente da Caixa Econômica Federal qualificou a busca realizada pela Polícia Federal como ação ‘eleitoral’.

A desculpa causa espécie, de tão repetitiva. E agora se trata de dois órgãos, afinal, ‘federais’.

Contradição

Do ‘Valor’, ontem, depois de novo adiamento da votação das Parcerias Público-Privadas:

– Goiás sanciona lei das PPPs e expõe contradição tucana.

Já são três governadores tucanos com suas PPPs estaduais, mas eles não deixam andar, no Congresso, a PPP federal.

‘Eu sou’

Foi TV ao vivo num de seus momentos históricos. Um governador americano que renuncia com a frase ‘eu sou um americano gay’. Ponto para CNN, MSNBC, enfim, os canais a cabo, que estavam em baixa. Só depois entraram as redes e sites.

Paranóia

Tina Brown, célebre jornalista, escreveu no ‘Washington Post’ o que está no ar: os democratas, ao menos a elite do leste, estão afundados em ‘paranóia’ e não crêem na vitória de John Kerry.

Nem os republicanos: Bush e seu vice vêm fazendo piadas com o adversário há dois dias.

VOLDEMORT

Bush e a mulher, Laura, no comercial

Mais um comercial pró-Bush causa reação nos EUA. Nele, o presidente promete ‘trazer um inimigo à Justiça antes que nos machuquem de novo’. Não cita Bin Laden, só ‘um inimigo’. O ‘Washington Post’ levantou que Bush evita o nome há tempos:

– Ele trata Bin Laden como nos livros de Harry Potter, ‘aquele que não deve ser mencionado’.’

***

‘À espera da propaganda’, copyright Folha de S. Paulo, 12/8/04

‘Foi no avião, ‘segundo membros da comitiva’, no registro da Globo On Line e de outros sites. Lula comemorou a pesquisa e saiu dizendo:

– Vocês viram a Marta? Que bela manchete.

É só de manchetes assim que o presidente, o mesmo do Conselho Federal de Jornalismo, gosta. Para ele e para outros, má notícia não é notícia.

Manchete feia não pode.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, em entrevista à rádio CBN, repisou as avaliações que havia feito no dia anterior ao Jornal da Band.

O fato de Marta Suplicy ter sido mais atacada no debate ‘pode ter levado o eleitor a enxergá-la como mais forte’. E, claro, a bela manchete é, ao menos em parte, resultado da ‘maciça campanha nas ruas’.

Mas ele acrescentou:

– A melhora de Marta está relacionada à queda de José Serra, principalmente entre o eleitorado feminino.

Entre as mulheres, Marta subiu 12 pontos, Serra caiu 11.

E a petista quer crescer mais em cima do tucano.

Seu site eleitoral, ontem, trombeteava que o candidato teria declarado à mesma rádio CBN que não vai mais construir nenhum CEU.

É o marketing do medo, tão usado por Duda Mendonça em favor de Paulo Maluf, em anos passados. E tão questionado pelos petistas, ano após ano, até elegerem Lula.

O novo site do tucano, de sua parte, preferia destacar ontem que a ‘pesquisa Datafolha/Band revela que Serra é imbatível na disputa pela Prefeitura de São Paulo. No segundo turno, vence Marta por 52% a 38%.

O próprio candidato pouco depois destacava, para a Globo On Line, que continua ‘com vitória nos simulados para o segundo turno’.

Antes, porém, ele vai ter que chegar lá. Sobre horário eleitoral, por exemplo, diz Serra que ele ‘nem precisa reverter [o quadro revelado no Datafolha], apenas manter’.

Manter, no caso, a dianteira sobre Maluf.

De volta a Mauro Paulino, do Datafolha, ele sublinhou que o eleitorado está muito ‘volúvel’ e as duas primeiras semanas do horário eleitoral, que começa na terça-feira, são fundamentais para definir o voto.

‘YO QUIERO’

Saiu no Jornal Nacional e nos canais de notícias, rádios, sites, mas vale reproduzir a versão da agência cubana Prensa Latina. Lula, em discurso na Bolívia:

– Yo quiero terminar mi vida viendo la América del Sur transformada em una nación sudamericana.

A imagem de Lula ecoa o gesto do chanceler Celso Amorim, dois dias antes, hasteando com seu colega da Argentina a bandeira do Mercosul, na embaixada em Buenos Aires. Dúvida do ‘Clarín’:

– Podem os gestos se traduzir em feitos conjuntos?

E saiu a ironizar que ‘o próximo passo seria um hino’ e ‘não faltou quem apontasse que o mais difícil seria a criação de uma seleção de futebol’. O ‘Clarín’ não sabe, mas Lula já andou sondando Ricardo Teixeira, da CBF.

De todo modo, talvez as palavras e gestos possam estar se traduzindo em algo mais concreto a partir de amanhã, com a instalação do Tribunal do Mercosul.

Lula vai. O presidente do Chile, também. Já Néstor Kirchner, segundo um site argentino, só responde hoje.

A mais alta

Nada de manchete feia, quer Lula. O Jornal Nacional, ao que parece, não gostou e saiu com esta, ontem:

– A conta do telefone sobe. A conta de luz sobe. E a inflação de julho é a mais alta dos últimos 15 meses.

Vitória

Mas Lula pode esperar muitas belas manchetes daqui para a frente, com os Jogos Olímpicos de Atenas. Do Jornal da Band, por exemplo:

– Seleção feminina de futebol estréia com vitória.

E do próprio JN:

– Dois dias para a abertura oficial dos Jogos. E o Brasil estréia com vitória.

Bode

Segundo a Globo, ‘tanto para o governo como para a oposição, a CPI do Banestado se tornou o bode na sala’.

Governo, oposição e Alexandre Garcia pensam o mesmo. Dele, na Globo:

– CPI e eleições são uma mistura explosiva.

Tarde demais

Mas o também comentarista Franklin Martins, na Globo, acha que pode ser ‘tarde demais’:

– Será que pessoas fora da CPI, por exemplo, integrantes do Ministério Público, não tiveram acesso à papelada? Quem assegura que os vazamentos não vão continuar?’

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‘Reviravolta’, copyright Folha de S. Paulo, 11/8/04

‘Não é à toa que Lula andava feliz como pinto no lixo desde o fim de semana, com os números das pesquisas de Duda Mendonça à mão.

Os números tornados públicos ontem mostraram, em manchetes por todo lado, do Jornal da Record ao UOL, que a aprovação de seu desempenho saltou nove pontos.

Causou impacto até no mercado financeiro, segundo avaliações diversas, como na agência Bloomberg:

– A Bovespa, do Brasil, teve o maior ganho entre as principais bolsas do mundo, com uma pesquisa que mostrou apoio crescente ao governo.

É a primeira vez que a avaliação sobe, após um ano em queda constante. No ensinamento do marqueteiro americano James Carvile, ‘é a economia, estúpido’.

Mas havia mais números para Lula e seus petistas comemorarem. Da manchete do Jornal da Band, ontem:

– Pesquisa Datafolha/Band mostra reviravolta na disputa pela Prefeitura de São Paulo, cinco dias depois do debate da Band.

Depois do debate, mas também depois de um esforço publicitário pelas ruas de São Paulo, pela internet e ultimamente pelas rádios, Marta Suplicy deixou para trás José Serra e Paulo Maluf.

Já mal se recorda, provavelmente, do susto que tomou e deu em Lula e seus petistas, no mesmo Datafolha, um mês e meio atrás.

De todo modo, lá estava em destaque, no Jornal da Band, o eventual resultado de um segundo turno entre Marta e Serra: o tucano venceria por 52% a 38%.

Duda Mendonça e os milhões do PT têm um longo caminho a percorrer.

FINALMENTE Demorou, mas surgiu ontem o site de campanha de José Serra, reunindo os três partidos da coligação. No dia em que o tucano era ultrapassado na pesquisa Datafolha, o site destacava um levantamento do instituto GPP, com o título ‘Serra lidera’

Periferia

Na dianteira, Marta Suplicy e José Serra não saem da periferia.

Em destaque no site petista, ontem, ‘prefeita visita obra em parque da zona oeste’. E o tucano, no site do PSDB, dizia que ‘a zona norte ficou abandonada nos três últimos governos’.

O detalhe vai para a crítica de Serra, não só ao atual, mas ao governo de Paulo Maluf -que ameaça a ida ao segundo turno.

Marta e o metrô

Já Marta, em entrevista à CBN, foi ao ataque contra o governo estadual. Citou Bilhete Único, do Passa-Rápido, suas ‘marcas’ em transporte, e bateu:

– Mas o mais importante é o metrô, que foi pouco construído nesses 12 anos de PSDB.

Atacou mais e repetiu, como sempre, que vai ajudar a construir o metrô. E passou perto de prometer que, num governo de Marta, seria diferente.

Bolsos vazios

Luiza Erundina, sem dinheiro do PMDB quercista, vai ter ainda mais dificuldade para preencher os seus cinco longos minutos de horário eleitoral.

O ‘Valor’ destacou ontem que ‘a empresa que prestava serviços de comunicação’ à candidata socialista foi-se embora.

Nova moda

O deputado federal Delfim Netto, da base governista, em seus comentários ontem no UOL News e ‘Valor’, tripudiou sobre PSDB e PFL.

No site, falou em ‘inveja’ do desempenho da economia. No jornal, atacou a ‘nova moda da oposição’, referência à defesa, por FHC, de uma ‘pedagogia democrática’ para a dívida, o que Delfim acha pouco sério.

Ironizou as táticas da oposição para ‘reorganizar-se depois de ter fracassado no esforço de fazer implodir o governo Lula’.

BATISMO

Quem leu ‘Batismo de Sangue’, de frei Betto, entende a emoção na lembrança da tragédia de frei Tito. Ontem se completaram 30 anos do suicídio na França, perseguido pelas imagens da tortura que sofreu aos 28 anos, acusado de dar suporte a Carlos Marighela.

Tito foi lembrado em Fortaleza, onde o presidente da Comissão Pastoral da Terra e outros abriram o Instituto de Educação para os Direitos Humanos Frei Tito. Foi lembrado em Brasília, onde a comissão de desaparecidos votou uma reparação, segundo ‘O Globo’. E é lembrado há três anos pelo diferenciado site noticioso Adital, ou Agência de Informação Frei Tito para a América Latina.’



O DIA
Robert Galbraith

‘De volta ao estilo Ary de Carvalho’, copyright Meio & Mensagem, 9/8/04

‘A morte de Ary de Carvalho em julho do ano passado pegou o mercado de surpresa, mas o processo de sucessão de comando no grupo O Dia parecia clara: a primogênita Ariane, que se preparava para o posto, assumiria. Porém dez meses depois de ocupar o cargo de diretora-presidente, ela cedeu o posto à irmã Lígia de Carvalho, conhecida como Gigi, num processo que culminou em rumores de desentendimentos entre as três irmãs e também de uma possível venda ao empresário carioca Ronald Levinson, dono do centro universitário UniverCidade. Em entrevista ao Meio & Mensagem, Gigi nega que tenha intenção de vender o grupo, mas reconhece que as diferenças de pensamento com Ariane – agora presidente do conselho de administração – provocaram a mudança no comando. O fato, garante Gigi, não tem impedido que as três discutam juntas os rumos do grupo. Eliane, que passa boa parte do ano em Boston (EUA) como correspodente, vem regularmente ao Brasil para essas reuniões de conselho. Dentre as mudanças que pretende implementar, Gigi diz que quer retomar o estilo de gestão do pai e, para isso, recontratou o diretor administrativo-financeiro Ronaldo Carneiro, que deixou a empresa junto com o presidente executivo Fernando Portella em agosto do ano passado. Marcos Cruz, por sua vez, assumiu o posto de diretor executivo no lugar de Fernando Teles.

Meio & Mensagem – A Ariane sempre foi apontada como a provável sucessora de Ary de Carvalho no grupo O Dia. Quais foram as reais razões que levaram à troca no comando operacional menos de um ano após ela assumir o posto?

Gigi Carvalho – Eu e a minha irmã Eliane sempre tivemos uma forma um pouco diferente de pensar e conduzir as coisas em relação à nossa irmã mais velha, a Ariane. Acredito que somos mais parecidas com o estilo de nosso pai, mais inovador. Mas ela foi realmente a pessoa ideal para conduzir a empresa naquele momento em que todos foram surpreendidos pela morte do meu pai e também na transição até que as diretrizes da companhia fossem definidas. Porém, ao longo desse processo decidimos de comum acordo entre nós que houvesse um rodízio no comando. A Ariane, presidente do conselho, continua se reunindo conosco pelo menos uma vez por mês para discutir os rumos da empresa. Os objetivos continuam sendo vender cada vez mais.

M&M – Fernando Portella foi o homem de confiança de Ary de Carvalho no comando operacional do grupo e acabou saindo após sua morte. Fernando Teles, o substituto, foi demitido menos de seis meses depois de sua chegada. A volta de Ronaldo Carneiro para a diretoria admistrativa-financeira, que também deixou a empresa na ocasião, teria por objetivo retomar o estilo da gestão anterior?

Gigi – Estamos apostando no que já deu certo. Quando mudamos muito, corremos o risco de errar. O meu pai foi uma pessoa que começou do nada e chegou onde chegou por ser uma pessoa extremamente ousada. Sempre nadava contra a maré e dava certo. Não que eu pense que devemos agir dessa forma, pois somos três e precisamos atuar em consenso, enquanto ele decidia sozinho. O lugar do Portella está hoje plenamente preenchido com o Marcos Cruz, diretor executivo e porta-voz político do grupo. O Portella, um grande profissional de marketing, soube vender e representar O Dia muito bem, tanto no Rio quanto em São Paulo e Brasília. O Marcos, por sua vez, desempenhará a função da mesma maneira, como o meu pai gostaria. Eu acho que nem eu nem o Marcos vamos conseguir resolver sozinho todas as questões políticas ou de marketing, administração e finanças. É por isso que contamos com uma equipe de executivos que tem Ronaldo Carneiro, Paulo Fraga (comercial), Fábio Pinto (circulação) Sérgio Costa (redação) e Mário Reis (rádios). Todos conheciam meu pai e são pessoas muito afinadas com o que é o jornal O Dia.

M&M – Assim que a senhora assumiu a condição de diretora-presidente surgiram boatos de que o empresário Ronald Levinson estaria comprando o grupo O Dia. Houve negociações?

Gigi – Não. O Ronald é um amigo da família e freqüenta muito o jornal, pois ele participou do processo da compra do mesmo em 1981. Como ele tem vasta experiência, sempre conversamos muito sobre os negócios e ele nos aconselha, além de ter dado grande apoio nesse meu início na função e me apresentado a muitas pessoas do mercado. Isso provavelmente motivou os comentários que diziam que ele estaria comprando o jornal. Ele até costuma dizer que jornal é um negócio maluco, pois se compra em dólar (papel e tinta) para se vender em real. Até brincamos sobre as cifras divulgadas, dizendo que ainda não tínhamos recebido o cheque. Nesse ponto, todas concordamos. Não queremos vender o jornal.

M&M – E um sócio investidor estrangeiro? Vocês também pretendem continuar preparando o grupo para poder ter um sócio estratégico, como fez recentemente o Grupo Abril?

Gigi – Propostas boas sempre ouviremos, mas não estamos procurando. O que fazemos e que nos parece ideal é a parceria que temos com a Rede Bandeirantes de TV, com quem trocamos conteúdo jornalístico no Rio de Janeiro – como a eleição em vários municípios do Rio. Acreditamos que ela poderá crescer no futuro, sem que haja fusão.’