Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá


‘Semanas depois de abraçar a campanha contra a medida provisória 232, Severino Cavalcanti reencontrou as câmeras com bandeira nova, mas a recepção dos telejornais não foi a mesma. Nas manchetes do Jornal Nacional:


– Uma idéia do presidente da Câmara: tirar do Banco Central o controle exclusivo da taxa de juros.


Palavras do próprio, para a Folha Online:


– Ele [Henrique Meirelles, do BC] não pode ficar como o todo-poderoso. Quem tem que opinar é a Câmara e quem tem que controlar é o plenário.


Não demorou e ganhou apoio do vice de Lula. Na seqüência da manchete do JN, evidenciando seu espanto:


– E o vice-presidente José Alencar apóia.


Ele defendeu, no telejornal, que a decisão sobre a taxa tem de incluir, além do ‘plenário’, ‘o setor primário, de produção agrícola, o setor secundário, que são as indústrias, assim como o terciário’. Para encerrar, mais do vice de Lula:


– Eu concordo com o presidente Severino.


Curiosamente, enquanto líderes governistas engasgavam nas primeiras reações nos canais de notícia, era o líder do PSDB, Alberto Goldman, quem defendia o Poder Executivo:


– Não é caso de tirar do Copom ou do Executivo.


Em suas declarações, Alencar argumentou que a elevação da taxa ‘é inócua, porque não consegue combater o consumo de quem não consome’.


É inócua contra a inflação, mas não por falta de consumo, segundo longa reportagem da Bloomberg, ontem.


Novamente, foi um tucano que opinou do outro lado, agora o ex-ministro Luiz Carlos Mendonça de Barros, apontando a ‘grande onda’ de novos tomadores de crédito.


Mais um tucano, ou ao menos ex-integrante do governo FHC, Luiz Fernando Figueiredo, saudou como ‘mudança estrutural na economia’ -e avaliou que é o motivo de se mostrarem ineficazes as seguidas elevações de juros pelo BC.


É o tal ‘crédito consignado’, de taxas menores por conta do desconto em folha. Os dois avisam que é uma mudança que não tem volta.


Outro site de economia no exterior, do ‘Wall Street Journal’, entrou ontem com longa reportagem sobre a política de juros no Brasil e na América Latina -e avaliação oposta à de Severino e Alencar.


Segundo o texto, ‘depois de meses de aperto monetário’, a região toda estaria mudando o ‘câmbio’ do carro para ‘ponto morto’. Citou o Brasil, que elevou menos do que nas oito vezes anteriores, e o México, que não elevou a taxa pela primeira vez em dez meses.


Dois analistas, dos bancos de investimento Barclays e HSBC, deram o aumento da semana passada como o ‘fim do ciclo’ no BC brasileiro.


CONDI E A ESPERANÇA


A secretária Condoleezza Rice se despediu dizendo, no título que surgiu por todo lado, a começar dos sites do ‘New York Times’ e do ‘Washington Post’:


– Rice à América Latina: ‘não percam a esperança’.


Referia-se à esperança na democracia, ameaçada no Equador, Nicarágua, México e, certamente para ela, na Venezuela. Na tradução da Globo News, ela disse aos brasileiros algo como ‘a democracia leva tempo e os países não podem dar marcha-à-ré’.


O que Rice deixou foi a certeza de que a democracia está, sim, ameaçada. A Globo foi buscar, ontem de manhã, uma velha pesquisa da ONU para falar em ‘crise da democracia na América Latina’. Do ‘Los Angeles Times’ ao site da ‘Business Week’, o tema foi recorrente na cobertura americana da visita. E o britânico ‘Financial Times’ foi além e deu editorial, dizendo:


– A crise equatoriana é lembrete das fraquezas institucionais generalizadas na região. Em toda a América Latina, sete presidentes eleitos deixaram o governo prematuramente no mesmo número de anos.


Para o ‘FT’, ‘no longo prazo a melhor forma de enfrentar o venezuelano Hugo Chávez é erguendo instituições e pressionando por reformas sociais’, o que seria tarefa para a secretária de Estado e os EUA.


‘Condi’ Rice deixou para trás, além do pessimismo com a democracia, sua aura de celebridade. Para a Globo, ‘ela esbanjou simpatia’. A Globo News, de sua parte, se estendeu sobre o humor da secretária.


Nos EUA, o ‘Miami Herald’ relatou como ela brincou com a ginasta Daiane dos Santos, que descreveu como ‘minha amiga’ e com quem teria falado ‘em russo’. A agência AP foi além: distribuiu um longo perfil descrevendo seu ‘estilo’ como o de ‘uma estrela de rock’, ocupando as primeiras páginas por onde passa.’



FSP CONTESTADA


Painel do Leitor, Folha de S. Paulo


‘Raça’, copyright Folha de S. Paulo, 28/04/05


‘‘Em relação ao artigo ‘Pardos’ (Opinião, 21/4), informo que, a cada ano, o Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep-MEC) agrega a seus produtos -como o Sistema Nacional de Avaliação da Educação Básica (Saeb), o Censo da Educação Superior e o Censo Escolar- questões importantes que ajudam o brasileiro a conhecer em profundidade cada vez mais o seu universo educacional. Em 2005, o item cor/raça foi incluído no Censo Escolar. Com base na coleta desse dado, até hoje desconhecido, os gestores de educação do país poderão definir ações e políticas afirmativas e de promoção da igualdade na comunidade escolar. O processo de inclusão desse item ocorreu de maneira completamente democrática. No ano passado, o Inep-MEC organizou seminários para discutir e explicar como seria feita a coleta. Participaram desses encontros representantes de secretarias estaduais e municipais de Educação. A orientação era que, a partir de 2005, as fichas de matrículas de escolas de educação básica contivessem espaços para a indicação autodeclarada da cor do aluno. Quem tivesse 16 anos ou mais declararia sua raça/cor. No caso dos mais novos, pais ou responsáveis responderiam. Para escolher os termos de classificação de raça ou cor, os técnicos do Inep-MEC ouviram grupos de movimentos sociais ligados à questão racial no Brasil. Foram consultados também representantes da Secretaria Especial de Políticas de Promoção da Igualdade Racial (Seppir-PR). Encerradas as discussões, a equipe do Inep-MEC optou por seguir os critérios adotados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), que, desde o Censo 2000, utiliza, nas pesquisas sobre cor e raça da população brasileira, os termos amarela, branca, indígena, parda e preta. Segundo os critérios do IBGE, o quesito é denominado de ‘cor ou raça’, e não apenas de ‘cor’ ou apenas de ‘raça’, porque as categorias que englobam podem ser entendidas pelo entrevistado de forma muito diversa. Todas essas precauções foram tomadas visando a que a coleta do dado cor/ raça viesse a qualificar ainda mais o universo de informações de que pesquisadores, educadores e gestores públicos já dispõem, ajudando na formulação de políticas para a educação básica em nosso país com base em dados cada vez mais precisos.’ Eliezer Pacheco, presidente do Inep (Brasília, DF)


Resposta do colunista Demétrio Magnoli – O Inep finge que o Censo Escolar 2005 tem finalidades apenas estatísticas. Não é verdade. Ao contrário do Censo Demográfico, que está cercado pela regra do sigilo estatístico, o que se faz é associar a cada estudante uma ‘raça’, classificando nominalmente todas as crianças e jovens do país.


Pixinguinha


‘A nota ‘Prefeitura do Rio tomba obras de Pixinguinha’ (Ilustrada, pág. E3, 21/ 4) recai em imprecisão ao afirmar que, ‘além do tombamento, a prefeitura pretende reunir todo o acervo do músico guardado pela família em um mesmo local, ainda não definido’. Cabe esclarecer que, em 1999, os herdeiros legais de Pixinguinha confiaram ao Instituto Moreira Salles, mediante contrato, a guarda do acervo do músico -formado por fotografias, objetos pessoais e partituras-, fato amplamente divulgado pela imprensa. Desde então, esse conjunto foi aberto para consultas. Em texto publicado na Folha Online em 20/4, Fernando Vianna, neto de Pixinguinha e responsável pelo projeto, informou que, com o tombamento, foi criado também um catálogo que irá mostrar aos interessados os lugares que abrigam informações sobre Pixinguinha, como o IMS, que concentra a maior parte dos documentos, e outras instituições e acervos particulares. O referido acervo, em processo final de organização e digitalização nas instalações do IMS no Rio de Janeiro, será futuramente disponibilizado para pesquisa pública. Além do acervo documental, de propriedade dos herdeiros, o IMS possui em seus arquivos gravações raras de Pixinguinha, em parte já disponíveis para audição gratuita no site www.ims.com.br. Até o final de 2005, o site permitirá a consulta de 100 mil músicas digitalizadas e restauradas.’ José Luiz Herencia, coordenador da área de música do IMS e Marcelo Vianna e Fernando Vianna, netos de Alfredo da Rocha Vianna, o Pixinguinha (Rio de Janeiro, RJ)


Nota da Redação – A Secretaria das Culturas da Prefeitura do Rio informou que pretende reunir documentos e objetos alusivos a Pixinguinha que ainda estão em poder de familiares, admiradores e pesquisadores em um local a ser definido em breve. Segundo a secretaria, esse material não integra o acervo do Instituto Moreira Salles.’