Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Nelson de Sá

‘Franklin Martins fechou a semana passada com ironia, na Globo News:

– Não existe o menor risco de dar certo o esforço concentrado no Congresso.

Alexandre Garcia abriu ontem a semana cobrando na Globo, para a Lei de Biossegurança que não vai ser votada, uma ‘medida provisória com urgência e relevância mesmo’.

Mas não era em torno de esforço concentrado ou medida provisória, propriamente, que Brasília se consumia.

Sites e rádios anunciavam que o jantar de Lula com ACM, Roseana Sarney, Siqueira Campos e o restante da ‘oposição light’, expressão de Boris Casoy, ‘agita a semana’ na capital.

Estaria a caminho um novo partido, para abrigar parte da Frente Liberal, 20 anos depois da sua formação para sustentar Tancredo Neves no Colégio Eleitoral -ou, dizem outros, para enterrar as diretas.

ACM e Jorge Bornhausen, presidente do PFL, não escondem que é o desejo de ambos. Há mais de mês eles vêm falando de mudanças na legenda para depois das eleições -e fazendo acusações um ao outro. Não foi diferente, ontem.

A novidade foi José Sarney, presidente do Senado e pai de Roseana, defender o encontro na Agência Nordeste, dizendo que ‘Lula pode jantar com quem quiser’.

Outra novidade foi Delfim Netto declarar à Jovem Pan que, se vier mesmo um novo partido, terá ‘satisfação em participar’ -ou, o que é mais provável, em receber ACM no seu.

Duas décadas depois, outra frente liberal para apoiar outro governo. E fazer votar o que Franklin Martins e Alexandre Garcia tanto reclamam.

Além do centrão de direita, diz ‘O Globo’, está em articulação um centrão de esquerda, com objetivos semelhantes:

– Os líderes do PSB, do PC do B, do PPS, do PV e do PDT estão negociando a formação de um bloco… As conversas incluem, caso ocorra a reforma política, a formação de uma ‘federação partidária’ para 2006.

Para 2006 e, é claro, para ter ‘maior influência no governo’.

CANDIDATOS TRABALHANDO

No SPTV, túnel da prefeita contra farmácia do governador

Nada como uma eleição para fazer os governos trabalharem. Duas notícias do SPTV, ontem:

– Hoje foi o primeiro dia útil de funcionamento dos dois sentidos do túnel sob a Faria Lima. O excesso de veículos congestionou a avenida Rebouças, mas nos túneis, que facilitam o acesso à Eusébio Matoso e à Marginal Pinheiros, o fluxo foi normal.

– A partir de hoje, quem precisar de remédios vai poder retirar de graça no metrô. Serão distribuídos 40 tipos nos postos da farmácia Dose Certa, em dez estações. São medicamentos para hipertensão, analgésicos e outros.

Em tempos eleitorais, basta pressionar um pouco. Foi o que fez José Serra há quase um mês, sobre as obras do metrô. Dele, em discurso, como noticiou a Folha:

– Na minha opinião, já deveria começar o trabalho. Porque tudo demora, quando se decide fazer, vai demorar um ou dois anos para fazer. Desde já.

Não demorou e lá estavam as obras, no SPTV. Aliás, lá estavam elas de novo, ontem no horário eleitoral tucano.

Autômato

Dos telejornais da Record e Band aos sites do baiano ‘A Tarde’ e Bloomberg, foi destaque ontem o novo acesso de José Dirceu, dizendo que não é ‘robô’ de Lula e criticando o eventual aumento de juros.

Conseguiu tirar de cena as críticas à mesma elevação dos juros feitas pelo vice José Alencar, o deputado Delfim Netto e sobretudo o governador tucano Geraldo Alckmin.

Horas depois, ele recebia Lula em casa, para jantar.

Em breve

Não demorou e a Globo On Line entrou com outra manchete, ontem à tarde, sobreposta ao acesso de José Dirceu:

– Antonio Palocci quer Banco Central autônomo em breve.

Ao ataque

Marta Suplicy, ontem no horário eleitoral, dispensou o intermediário João Manuel e foi ela mesma ao ataque contra José Serra, citado pelo nome.

E ouviu ataques, por outro lado, cada vez mais específicos do pseudocandidato Ciro Moura.

Bolão

A BBC Brasil traduziu o britânico ‘The Guardian’ e daí foi para os demais sites:

– Lula continua a jogar um bolão para o Brasil.

Mas não era bem assim o título do jornal, segundo a Globo News. Em vez de ‘bolão’, era ‘jogo bonito’, em referência a um filme sobre Pelé.

De todo modo, era uma reportagem elogiosa à política externa de Lula -com ressalvas.

TELEVISÃO

AR DA GRAÇA Rodrigo Santoro, que se prepara para gravar a microssérie ‘Hoje É Dia de Maria’, voltou a circular pela Globo; na foto, de sexta passada, ele posa ao lado do diretor Rogério Gomes.’

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‘História oficial’, copyright Folha de S. Paulo, 13/09/04

‘Finalmente, no sábado o Jornal Nacional encerrou a série sobre seus 35 anos. E a revisão de sua história.

Foi com uma reportagem sobre ataques terroristas desde o ETA e o IRA nos anos 60 -e sem tratar como terror o que se fazia por aqui, na época.

Foram duas semanas que editaram um JN bem diverso daquele que se viu por três décadas. No meio do caminho, a revisão contou com um muito bem realizado Linha Direta sobre Wladimir Herzog.

Mas não, ainda havia mais, na madrugada de ontem. Foi no programa Altas Horas. Fátima Bernardes entrou ao vivo e ouviu perguntas do auditório.

Uma foi sobre as diretas. A apresentadora repisou, uma vez mais, que o JN cobriu o comício de São Paulo -e que o problema foi a ‘cabeça’ da reportagem, que tratou o ato como parte do aniversário da cidade. Não mencionou que os questionamentos sempre foram muito além daquele comício.

Segunda pergunta, sobre a campanha de 89. Ela repisou que ‘houve erro no jornal Hoje… e um erro também no Jornal Nacional’. O erro do JN foi ‘quando acabou dando muito mais tempo [para Collor], os melhores momentos de um e os piores de outro’. Novamente, para ela as críticas à cobertura se limitavam à edição do debate.

Até aí, sem novidade na história oficial. Mas Fátima Bernardes falou mais, sobre 89:

– Eu não participava ainda do jornal, nesse momento.

E sobre as diretas:

– Eu não estava aqui, aliás, ainda nem trabalhava.

Em suma -e nisso a jornalista está absolutamente certa: o tempo passou, as diretas foram há 20 anos, a eleição há 15.

Mas, afinal, o que ela tira disso tudo, do passado distante?

– Dá para a gente refletir, avaliar se houve erros, que erros eram esses e o que a gente pode fazer de diferente. E eu acho que a última cobertura, em 2002, provou que é completamente possível… Hoje dá para saber o seguinte: é possível fazer uma cobertura isenta, correta, informativa e levando para o público aquilo que a gente tem que levar, que é informação para ajudar na decisão. Isso foi feito em 2002, e eu fico muito orgulhosa.

Ok, é bonito, mas também a história do JN de hoje ainda está para ser escrita, pelo futuro. Com a garantia de uma versão oficial para a Globo -e outra para quem mais quiser contar.

JEANS

Do estúdio do Jornal Nacional, a apresentadora da Globo Fátima Bernardes dá entrevista à Globo, ao vivo no programa Altas Horas, para jovens

Mais um

Já nem é manchete, agora que as primeiras mortes estão para completar um mês. Mas UOL, Band News, CBN e outros insistem em não esquecer o horror:

– Mais um morador de rua é morto em São Paulo.

Foi ‘espancado’ e ‘carbonizado’. Outro também, no sábado, mas não morreu. Sem punição, virão outros mais, como rotina.

Qualquer um

Da capa da revista ‘Época’ para os jornais, rádios, blogs, a entrevista de Lula serviu para ele afirmar, dias depois de Marta Suplicy ter dito o contrário:

– Qualquer um que seja eleito não trará dificuldades.

Não trará, acrescentou, ‘crise institucional’. Marta que conte outro conto, para assustar.

Em espírito

Do major Curió, que prendeu José Genoino no Araguaia e hoje é da base de Lula, para o ‘New York Times’ de Larry Rohter:

– [Os guerrilheiros] eram movidos pelos mesmos objetivos, o mesmo espírito social do Exército, apesar de nossos caminhos terem sido diferentes.

É proibido proibir

Como na TV, onde Boris Casoy se debate contra as restrições à cobertura eleitoral e ganhou o apoio do ministro Márcio Thomaz Bastos (Justiça), também a web clama por liberdade.

Segundo o UOL, a Justiça Eleitoral estendeu as restrições da TV à internet. Coisas como o veto à difusão de qualquer ‘opinião favorável ou contrária a candidato’. É proibido cobrir.

ABATIDA NO AR

A denúncia que surgiu na CBS dias atrás, de fraude no histórico militar de George W. Bush, foi abatida pela dúvida -e pela web. A coluna The Note, que é mais ou menos como esta Toda Mídia, fez a cronologia. A CBS transmitiu às 20h, o blog Freerepublic (logotipo acima) levantou a primeira dúvida às 24h, seguido pelo Littlegreenfootballs às 8h30, o Allahpundit às 10h30, o Drudgereport às 15h, o site da ‘Weekly Standard’ às 17h, a Fox News às 18h e daí para ‘Washington Times’ e a grande mídia. Na corrente, notou a The Note, só sites, canais e blogs conservadores. Eles venceram a CBS.’

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‘Medo de ser feliz’, copyright Folha de S. Paulo, 10/09/04

‘- A economia do Brasil floresce.

Era o título da reportagem de jornais como ‘Miami Herald’ e ‘San Jose Mercury News’, que formam a maior cadeia dos EUA, a Knight Ridder.

Seguiam-se dados de exportações, indústria etc., mais o comentário de que até os furacões na Flórida ‘certamente vão beneficiar os brasileiros’.

E havia mais, ontem. O ‘Financial Times’ destacou que a agência Moody’s ‘elevou a nota do Brasil’. O analista de um fundo disse que ‘o Brasil é um crédito excelente’.

Na Globo, Míriam Leitão relatou conversa com o presidente do Banco Central:

– Henrique Meirelles me disse que o mais importante, na venda dos títulos [anteontem], é que mostra que o país está entrando no crescimento sustentado, no círculo virtuoso.

E o Valor On Line anunciou que o risco Brasil caiu de novo. A Jovem Pan deu que o ‘emprego na indústria tem o melhor resultado desde 95’. Nas manchetes do Jornal Nacional:

– Indústria cresce pelo quinto mês seguido.

E do Jornal da Record:

– Emprego, produção e vendas crescem na indústria.

Se parasse por aí, este poderia parecer um país que vai para a frente. Mas o ‘Financial Times’ avisou, em outro texto:

– Inflação em alta faz sombra à recuperação do Brasil.

Citava os últimos números, mas faltou um que saiu depois. Boris Casoy, na Record:

– Inflação pelo IGP sobe mais que o esperado e faz subir aposta de alta nos juros.

O Valor On Line jogou a pá de cal no fim da tarde, avisando que boa notícia nenhuma pôde ‘reverter o mau humor no pregão’. A Bolsa caiu com ‘a perspectiva de aumento da inflação’ -e dos juros.

No dizer do ‘Miami Herald’, ‘se há uma mosca na história, é que os juros devem subir para segurar a inflação’.

Nada de ser feliz, portanto.

O IMPLICANTE

Nos sites brasileiros, o encontro passou quase despercebido. Mas na Argentina parecia não existir outro assunto. A presença do ministro Roberto Lavagna em Brasília foi manchete o dia todo no ‘La Nación’, ‘Clarín’, ‘Ámbito Financiero’. Falava-se de Lavagna, do ministro brasileiro Luiz Furlan, das declarações diplomáticas de ambos -e, paralelamente, lia-se que o presidente Néstor Kirchner voltou ontem a cobrar um desenvolvimento ‘igualitário’, discursando a empresários.

Enquanto Furlan acenava com dinheiro do BNDES, segundo a BBC Brasil e o Valor On Line, Kirchner e sua ‘implicância’ -expressão da Globo- repisavam a ‘decisão de defender nossa indústria e nossa produção’.

Duda e o guaraná

Lula posou com os atletas, mas a cerimônia e a cobertura pela televisão, praticamente restrita à Record, foram contidas.

O nacionalismo ‘à la Duda Mendonça’, de chuteiras, estava em outra parte. Segundo a Globo On Line, a Ambev contratou o marqueteiro de Lula para o seu guaraná, que patrocina Ronaldo e a seleção de futebol.

No ar, fritura

Foi a primeira manchete do Jornal Nacional, em tom crítico -e ganhou até comentário acusatório de Franklin Martins.

O amontoado de más notícias e opiniões sobre o ministro Patrus Ananias, sobretudo na Globo, prenuncia o que sites como o abcpolitiko.com.br começam a dar como quase certo: ele está para perder o cargo.

LIBIDO ELEITORAL

Depois da rede CBS, ontem o ‘New York Times’, ‘Washington Post’, ‘Los Angeles Times’, ‘USA Today’, CNN e até a Fox News destacaram o controverso histórico militar de George W. Bush, com provável impacto na campanha.

Vem mais por aí. O ‘NYT’ noticiou que a Casa Branca montou uma operação para conter a cobertura do lançamento de um livro sobre a família Bush (capa acima), assinado pela biógrafa de celebridades Kitty Kelley. Já ligaram para o presidente da NBC e distribuíram instruções a radialistas pró-republicanos. Pelo que corre na internet -e o ‘NYT’ mencionou-, o livro traz detalhes ‘libidinosos’ do clã na Casa Branca.’

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‘Um mês, praticamente’, copyright Folha de S. Paulo, 9/09/04

‘Marta Suplicy federalizou, afinal. Longe da paz e do amor de Duda Mendonça, ela soltou o verbo, que correu por sites e rádios -mas não pelos telejornais. Ela, na Folha Online e na Jovem Pan:

– O que está em jogo vai além [de São Paulo]. O objetivo da candidatura de oposição é usar a prefeitura como instrumento contra o governo federal.

Há dois caminhos, diz:

– União e aprofundamento da atual política econômica… Ou o estado de crise política se alastrando por dois anos.

A ameaça da ‘crise’ levou o tucano a reagir de imediato, em campanha na periferia:

– Ela tentou fazer chantagem e disse bobagem. A população não vai se deixar levar.

A ameaça de Marta foi bater em Brasília, onde o líder tucano Alberto Goldman soltou nota. Ele, na Globo On Line:

– É um ato de terrorismo eleitoral [da prefeita].

É também o marco da entrada do governo federal, coincidente com a estréia de Antônio Palocci na propaganda (abaixo).

No fim de semana, o senador Aloizio Mercadante já havia dito que, se o governo estadual anuncia seu apoio só a Serra, o governo Lula apóia Marta.

Agora foi mais um passo, em volume mais elevado.

Na resposta de Serra, ficou no ar uma observação:

– Ela parece pessimista quanto às suas chances.

Ironizou que a prefeita ‘tem um mês, praticamente, para se viabilizar’. É o tempo que falta para o primeiro turno.

Seja lá o que os dois tenham vislumbrado em suas pesquisas, Paulo Maluf e Luiza Erundina também identificaram.

Maluf, pelas ruas, ‘não citou Marta em nenhum momento’, disse a Agência Estado, e caiu matando sobre o tucano:

– A saúde está podre porque Serra foi ministro e nada fez… O país cresce como rabo de cavalo pela política que ele introduziu, de favorecer banqueiro.

Erundina, na entrevista ao SPTV, também evitou ataques à petista. E no horário eleitoral castigou o tucano:

– Quando ele era ministro do Planejamento, o Brasil entrou na maior recessão da história. Até hoje o povo paga -e o Serra finge que não tem nada a ver com o passado.

Três contra um, com um mês pela frente, ‘praticamente’.

FAZENDA

O ministro da Fazenda, por acaso médico, Antônio Palocci, foi à TV insinuar que não faltam recursos federais para Marta. Dele, no comercial petista:

– Um dos compromissos de Lula com o povo é melhorar o atendimento à saúde, dando mais rapidez e apoiando projetos inovadores. É isso que o CEU Saúde de Marta vai fazer. É um projeto excelente, moderno e de baixo custo. Tenha certeza: a Marta fez o CEU educação, o Bilhete Único e vai fazer o CEU Saúde.

Só faltou anunciar a transferência do dinheiro.

Ambiente

Segue a pressão pelas Parcerias Público-Privadas. O Bom Dia Brasil mostrou que os tucanos as apóiam nos seus governos.

Mas na CBN Franklin Martins avisa que ‘ambiente é de briga’ e o Senado está em ‘paralisia’.

No caso, juntos

O caso Banestado foi parar no ‘El País’, ontem, com destaque curioso sobre a investigação que envolve ‘mais de cem políticos’:

– O governo e a oposição consideram que investigadores atuam com fins eleitorais.

Pela cadeira

Sites japoneses informam que chega semana que vem a Brasília o primeiro-ministro do Japão. Está em turnê, ele também, por vaga no Conselho de Segurança.

Pode contar

Não é só para São Paulo que o governo Lula promete ‘apoio’. Em evento realizado e coberto pelas Globos, ‘Revitalização do Rio’, ao lado de Míriam Leitão, o ministro José Dirceu anunciou que os cariocas ‘podem contar’ com a administração petista.

O homem certo

Carlos Lessa, presidente do BNDES, ‘revelou’ no evento que vêm aí duas ‘novas usinas siderúrgicas’ com recursos da União, no Rio. Ao lado dele, o presidente da Firjan, a federação das indústrias, falava que ‘é o homem certo no lugar certo’.

E Lessa voltou a afirmar, em ataque indireto ao ministro e empresário paulista Luiz Furlan:

– Do presidente da República só recebo estímulo. É o escalão superior a que eu me reporto.’

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‘O circo passou’, copyright Folha de S. Paulo, 8/09/04

‘A Globo não foi a emissora para quem queria ver a ‘grande festa popular’, no dizer da própria Globo. Rede TV! e até Cultura entraram ao vivo, além dos canais de notícias.

Mas a Globo, rede dominante, não faltou à festança nacional popular dos petistas.

No Bom Dia Brasil e durante toda a manhã, nos intervalos, entravam imagens da Esplanada dos Ministérios. Nos telejornais, mais ainda, com destaque para o ‘herói’ Vanderlei Cordeiro, no Jornal Nacional.

E de manhã lá estava Xuxa. A animadora abriu seu programa infantil com desfile, ela também, e todas as brincadeiras foram com o tema do dia.

Não faltou nem uma disputa das crianças com um jipe militar de controle remoto.

E um bloco foi só para Supla, filho da prefeita Marta Suplicy, cantar ‘Marcha Soldado’, com a bandeira tremulando ao fundo e uma animação para ilustrar a letra da música.

A festa ‘à la Duda Mendonça’, na expressão de Boris Casoy, foi encenada para exaltar.

Um grande circo, contou com o atleta Vanderlei Cordeiro e sua grande bandeira, mais dança, capoeira, tiro de canhão, tanque de guerra, pirâmide de moto e esquadrilha da fumaça.

Segundo a Globo, ‘o governo quis aproveitar para aumentar a auto-estima do brasileiro’ e ‘montou estratégia para atrair mais gente à Esplanada’.

Segundo a rádio Bandeirantes, o desfile tinha até ‘tema’, como no Carnaval, no caso o mesmo da campanha publicitária com Ronaldo: ‘O melhor do Brasil é o brasileiro’.

Passado o circo, na Globo News e na CBN, o ministro José Dirceu deu a chancela:

– O 7 de Setembro ficou mais bonito, popular.

E saiu com um discurso mal improvisado, louvando ‘o povo brasileiro, o melhor que temos’, esse povo ‘mundializado’, de brancos, negros e índios, esse povo ‘bravo’ etc.

Aqui e ali, o ministro repisava o Lula do Café com o Presidente, sublinhando que ‘o brasileiro tem o que comemorar’ e ‘o país está melhorando’.

Para além dos desfiles pelo Brasil, o patriotismo global abriu um dia antes com cenas do Brazilian Day em Nova York, inclusive a atriz Deborah Secco, e avançou ontem com imagens turísticas ao vivo.

Foi do ‘maior sucesso’ com as cachoeiras de Visconde de Mauá até o ‘belo cenário’ das cataratas do Iguaçu.

Em meio à apoteose midiática, além de manchetes patrióticas da TV, o presidente petista pôde comemorar, em destaque na home page do UOL:

– Lula é aplaudido.

Fazia tempo.

Enquanto isso, críticas e mais críticas ao governo Lula, nas manifestações nada circenses do Dia dos Excluídos, lembravam nos telejornais que o Brasil não vive só de circo.

PLIM-PLIM

A Rede Globo apelou para a bandeira nacional nas entradas sobre o desfile durante a programação

DESFILE

O programa de Xuxa foi ‘totalmente verde, amarelo, azul e branco’, até nas brincadeiras

MARCHA

‘Marcha, soldado/ Cabeça de papel/ Se não marchar direito/ Vai preso pro quartel’, cantou Supla, de manhã na Globo

Aos tapas

A Globo On Line deu que a campanha de Marta Suplicy vai recorrer ao TRE para saber dos gastos da propaganda estadual. O governador Geraldo Alckmin respondeu que gasta menos do que a prefeita Marta. E o site de Marta retrucou que ele esconde os números. E ontem, no SPTV, lá estavam os dois, lado a lado.

Martaxa

O SPTV entrevistou Marta e perguntou se vai derrubar as tais taxas. E ela, sem outra resposta:

– Eu não vou falar mentira.

Mais de mil

A agência Associated Press fez as contas, a CNN destacou e à noite já era a principal notícia na campanha eleitoral nos EUA, até nos sites dos grandes jornais: passaram de mil os militares americanos mortos no Iraque.

E os ataques não param, como mostrava a manchete do site do ‘New York Times’, ontem.

Poucos noticiaram a resposta retórica do vice de Bush -de que, com John Kerry, o terror atacará de novo no país.

Não foi destaque nem nos sites pró-republicanos, a não ser no tresloucado Drudge Report.’



FSP ABSOLVIDA
Frederico Vasconcelos

‘Ação contra Folha não procede, decide juiz’, copyright Folha de S. Paulo, 14/09/04

‘O juiz Caio Marcelo Mendes de Oliveira, da 23ª Vara Cível de São Paulo, julgou improcedente ação de indenização por danos morais movida contra a Empresa Folha da Manhã S/A, que edita a Folha, pelo desembargador Paulo Theotonio Costa, afastado do TRF-3 (Tribunal Regional Federal da 3a. Região), com sede em São Paulo.

Em 1999, o jornal revelou os sinais de riqueza do desembargador, que contrastam com o padrão comum dos juízes brasileiros. ‘Nos autos consta prova documental convincente sobre ter o autor patrimônio considerável, que não é ordinário do magistrado brasileiro, recrutado normalmente das classes média e média baixa’, afirmou o juiz Oliveira. Segundo a sentença, ‘os próprios desembargadores federais ouvidos nos autos como testemunhas concordam que não é comum o patrimônio do autor, constante da matéria jornalística’.

O juiz entendeu que o jornal ‘exerceu somente direito constitucionalmente assegurado de informação’, pois ‘não trouxe ao público fatos inverídicos e nem imputou fato criminoso ao autor’. A Folha foi defendida pela advogada Taís Gasparian. Cabe recurso da decisão.

Reportagem publicada na edição de 11 de julho de 1999 revelou o patrimônio dos desembargadores Paulo Theotonio Costa e Roberto Luiz Ribeiro Haddad, então na Primeira Turma do TRF-3. Posteriormente afastados do cargo, ambos são alvo de processos criminais no Superior Tribunal de Justiça, denunciados por falsificação de documentos e suspeitos de enriquecimento ilícito.

A reportagem revelou que Theotonio Costa é sócio do empreendimento imobiliário ‘Morada dos Pássaros’ (MS), residencial de sete prédios com 112 apartamentos, lançado pela Kroonna Construção e Comércio Ltda. Os sócios são o juiz Theotonio Costa e sua mulher, Marisa Nittolo Costa, procuradora do Estado de SP.

Theotonio Costa alegou que teria sido ‘gravemente ofendido, caluniado e difamado’. A reportagem citou decisões controversas, como a suspeita de manipular a distribuição de habeas corpus para liberar um narcotraficante com prisão preventiva decretada.

O mesmo texto ainda revelou que Theotonio Costa havia determinado a devolução de toneladas de mercadorias e documentos apreendidos do chinês Law Kin Chong, considerado um dos maiores contrabandistas do país e alvo da ‘Operação Anaconda’.

Na petição inicial, o desembargador alegou que o jornal ‘teria faltado com a verdade’.

A Folha recorreu, no Tribunal de Justiça do Estado de São Paulo, em outra ação de indenização por causa da mesma reportagem.’