Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá

‘Telejornais e canais de notícias passaram o fim de semana num desfile de petistas.


Em meio ao choque da capa da ‘Veja’, com as assinaturas do presidente do PT, José Genoino, e do publicitário Marcos Valério lado a lado, surgiu o presidente da CPI, Delcídio Amaral, calmo, ontem na Globo News:


– Na semana teremos uma agenda longa de trabalho. Na quarta, o senhor Valério, dono das agências de publicidade, a SMPB e a DNA, e a ex-secretária, senhora Somaggio…


Era a resposta de um petista sereno, quase sorridente. Já Eduardo Suplicy, face crispada, ontem na Band News:


– É um fato muito sério -que o senhor Valério tenha obtido um volume de contratos tão extraordinário com diversos organismos do governo.


Outro petista, Chico Alencar, incontido no ataque, no ‘Jornal Nacional’ de sábado:


– Ele [José Genoino] deve se licenciar do partido.


Para não falar do presidente da República, na escalada do ‘Jornal da Record’:


– Lula reafirma que vai ser implacável com os adversários e os aliados corruptos.


Não parou aí. No ‘Fantástico’, o líder Arlindo Chinaglia:


– A esta altura, não há uma afirmação nem uma acusação que não deva ser investigada. É a posição do presidente e deve ser a posição da base aliada.


E José Eduardo Cardozo:


– Nós temos que enfrentar com absoluta transparência. Se algum petista estiver envolvido, nós teremos que ser ainda mais implacáveis do que fomos com os nossos adversários.


Outros petistas reagiram de outras maneiras. Jorge Bittar:


– É legítimo que um partido recorra a empréstimo e busque avalistas. Não vejo nenhum ato ilícito ou até mesmo imoral.


E Marcelo Sereno, ouvido no Rio pelo ‘Jornal da Band’:


– Quem está respondendo a essas questões é o companheiro Genoino, em São Paulo.


Quanto a Genoino, declaração dele era manchete da Folha Online ontem no meio da tarde, ‘Assinei sem ler o contrato’.


E ele voltou depois, no mesmo tom, para o ‘Fantástico’:


– A relação [com Valério] veio de antes, na campanha, no próprio PT. E eu não participava da campanha eleitoral.


Entra então a apresentadora Gloria Maria, fechando o caso na cobertura de domingo:


– Em meio às denúncias e à crise no PT, ontem o presidente e a primeira-dama organizaram arraial na Granja do Torto.


Teve procissão com sermão, fogos, a fogueira etc.


Eduardo Suplicy (à esq.) e Delcídio Amaral no desfile de petistas ontem na TV, para tratar de Marcos Valério


Mais Fernanda


A ex-secretária voltou a dar entrevista, num restaurante, ao ‘Fantástico’. E voltou baterias contra José Borba, o líder do PMDB na Câmara, para quem teria telefonado diversas vezes a pedido do publicitário. Dela, Fernanda Karina:


– Eles conversavam e depois ele avisava ao doutor Delúbio que estava indo para Brasília, encontrar o senhor José Borba.


Mais Jefferson


Ele voltou à ribalta ontem à noite, agora no ‘Canal Livre’, da Band. Até quando foi possível acompanhar, usou o programa para preparar o ambiente contra o adversário José Dirceu.


Sublinhou a ‘gravidade’ do encontro do ex-ministro com diretores do BMG, relatado pela revista ‘Veja’. E disse que tem ‘coisas’ guardadas para o duelo tão aguardado.


LÁ E CÁ


Dois repórteres, de ‘New York Times’ e ‘Time’, estão para cumprir 18 meses de prisão por não dizer o nome de uma fonte. O da revista cedeu e entregou notas e e-mails. E sexta veio o ‘furo’, curiosamente dado pelo produtor da série ‘West Wing’, tornado blogueiro: a fonte seria Karl Rove, principal assessor de George W. Bush.


No dia seguinte a revista ‘Newsweek’ deu reportagem repisando que o subchefe da Casa Civil é uma das fontes. Ouviu até o advogado, que confirmou conversas, mas se recusou a dizer se Rove revelou o nome de um agente da CIA, a razão da investigação. Se o fez, insiste o produtor/ blogueiro, o ‘guru’ de Bush vai para a cadeia.


Em momento de revelações, lá como cá, o colunista do ‘New York Times’ Frank Rich destacou mensagem que recebeu de William Goldman, o roteirista de ‘Todos os Homens do Presidente’, dizendo que não foi Garganta Profunda, Mark Felt, mas ele, Goldman, quem cunhou a máxima do jornalismo atual, ‘siga o dinheiro’.


Em tempo, também não seria de José Genoino, mas do comentarista esportivo Juarez Soares, a máxima petista ‘uma coisa é uma coisa, outra coisa é outra coisa’.’




ÉPOCA & JB
Milton Coelho da Graça


‘Falcão reconhece: afobado come cru’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 28/06/05


‘Aluízio Falcão cortesmente me enviou farto material para demonstrar que a área editorial de ÉPOCA nunca fez corpo mole em relação à Schincariol. E seus argumentos são totalmente convincentes, como também o impecável currículo acumulado em todas as redações onde trabalhou. Na verdade, a ele eu só tinha feito uma leve crítica – a de que teria se apressado demais em negar as acusações feitas pelo publicitário Luís Lara e gravadas pela Polícia Federal. Aluízio também deu uma boa explicação para isso: ‘Pô, Milton, o Guilherme de Barros, da Folha, me telefona no sábado e me diz o que estava na gravação. Uma acusação tão incrível que não tive dúvida em negar na hora.’


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Um possível meio alívio para o JB


Nelson Tanure estaria passando a direção operacional do JB para o seu principal executivo, Hélio Tuchler, segundo a Rádio Corredor do jornal.


Tentei falar com ambos, não foi possível no fim de semana. Mas Nilo Dante, um dos nove diretores de Redação que passaram pelo JB desde que Tanure assumiu o jornal (abril de 2001), vê com otimismo essa hipótese:


‘Não sei se é verdade. Se for, é bom para o Nelson e ótimo para o jornal. Por dois motivos. Primeiro: ele não gosta de jornal. Não lê jornal. Nem os dele. Ao deixar o dia-a-dia do JB, se deixar, ficará desobrigado de tocar um negócio que lhe faz mal à saúde. O Nelson teve o mérito de evitar que o Jornal do Brasil fechasse as portas, quando comprou o título e o manteve circulando. É um empresário envolvente e bem sucedido em outras áreas, mas não em jornal. Segundo: ele não gosta de jornalista. Seu ideal, na boa frase do Ricardo Boechat, é fazer um jornal sem jornalistas. Há tempos, entregou a chefia da Redação do JB a uma assistente burocrática, sem qualificação profissional nem currículo para o cargo. Adiante, nomeou um diplomata diretor de conteúdo do JB e da Gazeta Mercantil.’


‘Mas entregou a reforma da Gazeta a você’ – argumentei.


‘Não foi uma reforma, apenas simples atualização da Gazeta, baseada no modelo de cores que o americano Mario Garcia criou para o Wall Street Journal, em 2002, e que é uma obra-prima. Mas o trabalho que o Jacques Nogueira e eu fizemos não é o que está saindo. Curiosos andaram mexendo no projeto, à nossa revelia, e o resultou é esse híbrido duvidoso que está circulando.’


Nilo explica melhor por que o afastamento do Nelson afetaria o JB:


‘Porque baixa o nível de estresse dos profissionais que estão fazendo enorme esforço para tocar o barco. O mercado não seria afetado, nem tomaria conhecimento. Continuará essa paisagem triste, cada jornal se beneficiando não de seus atributos, mas da fraqueza do outro. E todos eles sendo fortemente rejeitados pelo mercado. O Globo e o Dia perderam 50% dos leitores em poucos anos. A propósito, a debilidade do JB é péssima para o Dia, cada vez mais fragilizado entre o Globo e o Extra, amparados no poder de fogo da TV Globo. Mas o Dia pode reagir. Eles têm garra e contrataram um dos melhores editores de jornal em atividade, se não o melhor de todos, que é o Eucimar Oliveira.’


Nilo só vê uma saída para essa crise.


‘Nossos jornais precisam deixar de ser feitos para editor. Voltar o foco para o leitor, como nos tempos do doutor Roberto, do Ary Carvalho, do Evandro Carlos de Andrade, do Alberto Dines, do Walter Fontoura e outros. A não ser o Globo, que corre sozinho, devem adotar urgentemente a fórmula tablóide, que avança nos Estados Unidos, na Inglaterra, e tem a preferência dos mais jovens e do público feminino. Até o Wall Street Journal vai virar tablóide nas edições da Europa e da Ásia. E devem acabar com a mania de importar o know how castrador dos espanhóis, que se tornou moda contratar, ao primeiro sintoma de crise. É como se o Real Madrid cometesse a tolice de importar jogadores venezuelanos e não os craques do Brasil. Aliás, desde que esses espanhóis passaram a circular por aqui, a circulação dos nossos jornais só fez desabar. Com ou sem trocadilho.’


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Um número simples talvez explique


Revendo a história de O GLOBO e O DIA, pode-se facilmente comprovar que O DIA sempre sofreu queda de circulação, quando seu preço em banca superava a metade do preço do competidor. O GLOBO custa hoje 2 pratas enquanto O DIA exige 1,30 do leitor. Ou O GLOBO está usando a sutil tática da asfixia (o EXTRA completa o sanduíche custando só um real) ou O DIA erra nos seus cálculos.’




MERCADO EDITORIAL
Ana Paula Lacerda


‘Final feliz faz o sucesso das Sabrinas’, copyright O Estado de S. Paulo, 3/07/05


‘Paixões inesperadas, obstáculos e um final feliz para o casal protagonista.


O roteiro pode parecer simples, mas são histórias como esta – com pitadas de suspense e sensualidade – que fazem o sucesso de um ramo editorial no Brasil: o de romances vendidos em banca.


A editora Nova Cultural vende mensalmente 350 mil exemplares de suas oito coleções, entre elas as famosas Sabrina, Julia e Bianca.


A editora Record entrou em abril nesse mercado, com Jéssica e outras quatro coleções, em parceria com a Harlequin Books, e estima vender, no curto prazo, dez mil exemplares mensais de cada uma delas.


‘Nossas leitoras são muito fiéis, compram 3 ou 4 livros todos os meses’, conta Daniela Tucci, gerente de Marketing dos romances da Nova Cultural.


Segundo ela, a série Sabrina – há 26 anos no mercado – é o carro-chefe dos romances, com vendas de até 100 mil exemplares por mês.


Com características pitorescas.


‘Elas buscam sair da realidade.


Histórias com xeiques árabes, por exemplo, vendem mais.


‘ Os romances – que custam de R$ 4,90 a R$ 11,90 – correspondem a 40% do faturamento da editora.


Para o presidente da Record, Sérgio Machado, o fato de os livros serem pequenos e terem enredos descomplicados favorece a venda.


‘A leitora pode estar no ônibus ou na fila do banco e ler.


É uma literatura puramente de lazer, que estimula a leitura em geral’, diz.


As leitoras concordam.


‘Apesar do preconceito que muitas pessoas têm, acho as histórias bonitas e cativantes’, diz a estudante de eletrônica Cristiane Lins, de 18 anos.


‘Você sai de uma semana estressante e pega um desses livros para relaxar porque não demora pra ler.


O problema é que algumas histórias são muito parecidas.


‘ Para a estudante Elaine Cordeiro, de 39 anos, os romances são leitura leve antes de dormir.


‘Prefiro quando são mais próximos da vida real.


Se o homem é o mais lindo e o lugar é o mais paradisíaco, perde um pouco a graça.


‘ Já a assistente administrativa Leide Jales prefere as que se passam em lugares distantes.


‘Quando leio, imagino como seriam esses lugares.


Meu grande prazer é a leitura.


‘ Ela costuma comprar livros toda semana.


‘Esses romances eu leio desde os 11 anos, hoje tenho 33.


‘ Depois que lê os romances, Leide troca com as amigas ou vende em sebos.


Na região central de São Paulo, é possível encontrar edições antigas a partir de R$ 1 em sebos.


‘Somos grandes concorrentes de nós mesmos’, comenta Daniela, sobre o comércio de segunda mão.


A Nova Cultural espera este ano aumentar as vendas de 10% a 15 %.


Os romances vão aparecer nas sacolinhas distribuídas em bancas e marcadores de livro.


Já a dupla Record/Harlequin apostou em outdoors, aproveitando que as leitoras do gênero conhecem os livros da Harlequin – há alguns anos, era a empresa canadense que fornecia os romances para Sabrina e suas irmãs.


‘Estamos na fase de criação de leitorado e trazer um produto que já é conhecido pelas mulheres nos favorece.


Há espaço neste mercado, e quanto mais gente lendo, melhor’, diz Machado.


Para cada leitora, há um estilo de livro.


Dentre os editados pela Harlequin, Desejo é o mais romântico, enquanto Paixão traz homens e lugares maravilhosos.


Destinos conta a história de uma família e Jéssica descreve paixões arrebatadoras.


A Nova Cultural oferece Sabrina para a mulher romântica, Julia para a moderna e Bianca para a bem-humorada.


Mirella e Sabrina Sensual são mais picantes e os Clássicos Históricos ocorrem em séculos passados.


‘Livros sem violência e com delicadeza atraem mulheres e até homens, curiosos em saber o que elas lêem’, opina Gladys Posmik, uma das poucas brasileiras que escrevem romances para a Nova Cultural.


‘É um primeiro degrau.


No futuro, ela vai buscar Shakespeare e outros.’’