Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá

‘‘Não agradou’, dizia ontem a Globo, sobre a portaria do Ministério do Planejamento que determina que o IBGE mostre as suas pesquisas estruturais 48 horas antes de divulgar para a mídia.

O ministro interino foi até manchete do JN, anteontem, negando ‘censura prévia’, mas não conseguiu frear a reação de ‘muitos políticos’, no dizer da Globo. Por ‘muitos políticos’, entenda-se o PFL.

Foram pefelistas que entraram com projeto de decreto legislativo para suspender a portaria. E foi o líder pefelista José Carlos Aleluia que, algo solitário, continuou com a pressão ontem na Jovem Pan e outras.

Do lado tucano, o pouco de barulho saiu do blog E-agora, que vem cobrando mais ‘oposição’ do PSDB. Eduardo Graeff, ex-secretário de FHC, qualificou o governo Lula, que ‘insiste em nos impingir esse tipo de coisa’, de ‘burro demais’.

Em breve comentário, o ‘Financial Times’ escreveu que a ordem para as pesquisas do IBGE serem ‘filtradas pelo Ministério do Planejamento’ é resultado do ‘embaraço’ com o levantamento sobre obesidade, semanas atrás:

– Estranhamente, Lula não questionou os números recentes do IBGE, apontando queda no desemprego. Surpreende?

O IMPENSÁVEL

O blogueiro pró-republicano Matt Drudge ironizava ontem um ‘colunista liberal’ americano que estaria perguntando ‘a seus amigos o impensável’:

– O presidente George W. Bush poderia estar certo sobre o Iraque desde o começo?

Era um colunista do ‘Chicago Sun-Times’, mas outros pelos EUA pareciam se questionar na mesma linha, diante do sucesso da eleição no Iraque. Christopher Hitchens, por exemplo, ‘liberal’ mas favorável à invasão desde o princípio, também foi cortante em seu texto na revista on-line Slate, intitulado:

– Repitam depois de mim: o Iraque não é o Vietnã.

O ‘Washington Post’ destacou a reação -no ar- do radialista Rush Limbaugh, o mais célebre dos ‘formadores de opinião’ pró-Bush. Ironizando ‘a surpresa da mídia com o comparecimento’ às urnas, ele disse que a cobertura não viu antes o ‘sentimento pró-liberdade no Iraque porque não procurou’.

Folhetim

O assalto à residência dos apresentadores do Jornal Nacional correu avidamente por rádio e web, em enunciados retumbantes de que não estariam no telejornal etc. O Jornal da Record deu manchete:

– Ladrão entra na casa dos apresentadores do JN. William Bonner reage e é ferido.

O JN não deu manchete, mas o primeiro bloco foi voltado à interpretação dramática, pelo apresentador substituto, de uma nota do próprio Bonner.

Mais eleição

No rastro do êxito iraquiano, os sites do ‘New York Times’ e outros noticiavam ontem que vem aí votação no Haiti, onde estão os soldados brasileiros das tropas da ONU.

As eleições municipais serão em outubro e as nacionais, inclusive a presidencial, em novembro. Quase cem partidos se inscreveram, até o do ex-presidente Jean Bertrand Aristide. Ontem à noite, um despacho de agência dizia que o próprio Aristide talvez participe.

CELEBRIDADES

Para o ‘El País’, reproduzido por UOL e Jovem Pan, Lula desencadeou ‘um furacão de mídia’ no Fórum Econômico de Davos e ‘é o único que consegue competir com as estrelas de Hollywood.’ O texto, ontem, foi parte dos esforços de ironia com Davos, tomada por Sharon Stone e outras celebridades.

A novidade, no rescaldo da cobertura, foi que também o Fórum Social de Porto Alegre recebeu seu quinhão. O alvo do ‘Los Angeles Times’ foi o ministro da Cultura, Gilberto Gil, ‘retratado recentemente na revista ‘Vanity Fair’ e sempre à disposição para dar brilho de celebridade às conclamações contra a miséria e a devastação’. Não só ele: a seu lado, como sublinhou a cobertura, o letrista do Grateful Dead, John Perry Barlow.

Porta-bandeira do software livre, Gil protagonizou textos do ‘Le Figaro’ ao ‘La Vanguardia’, de Barcelona, que se perguntava, já no enunciado, ‘o que tem a ver batucada com internet?’. Uma longa reportagem da agência Reuters, também ontem em vários sites, lembrou que Gil pôs músicas ‘de graça’ na web -e anunciou que ‘O Brasil dá nova forma ao debate sobre a propriedade intelectual’.’

***

‘Troca-troca’, copyright Folha de S. Paulo, 3/2/05

‘No dizer da Globo, é ‘temporada de troca-troca’.

A atração do dia foi o anúncio do deputado Inocêncio Oliveira, ‘fundador do PFL e líder na Câmara em três ocasiões’, segundo o UOL. Ele vai para o PMDB. Segundo o Globo Online, sai ‘magoado’, mas na Jovem Pan o próprio foi confuso:

– Todo homem político tem que se renovar para fazer mudanças, para melhorar.

Também ontem, o deputado Pauderney Avelino disse aos canais de notícias que ele e outros podem seguir Inocêncio e deixar o PFL ‘mais à frente’.

E tem mais. Anteontem na Globo News, a senadora Roseana Sarney não confirmou se está de saída do PFL para o PMDB, mas deu todas as pistas de que aceita, sim, um ministério.

Inocêncio e Avelino falaram em deixar o PFL após encontro com o senador peemedebista José Sarney, pai de Roseana. Mas o ex-presidente não está sozinho nas conversas com os deputados sequiosos de reforçar, por assim dizer, o PMDB.

O próprio site da legenda anuncia que Anthony Garotinho vai ‘fortalecer a bancada com novos deputados’.

Dois seriam do PP, o que levou o líder pepista a se dizer ‘indignado com a atitude enojante’ de Garotinho, em declaração ao Congresso em Foco.

São sites assim, de bastidores políticos, que andam mais mobilizados com o ‘troca-troca’ às vésperas do Carnaval.

Ainda presidente da Câmara, João Paulo era destaque no site da Agência Nordeste, ontem, garantindo não ver ‘ameaça’ para o PT no crescimento da bancada do PMDB.

E tem mais, agora no PSDB. O site da legenda trazia em manchete, ontem, que ‘Gustavo Fruet anuncia filiação’ e ‘aumenta a bancada tucana na Câmara’. Ele era do PMDB.

Mas não era Fruet o destaque nas filiações tucanas do dia.

Até pelo inusitado, as páginas iniciais do UOL e dos demais portais anunciavam, com fotos, a transferência da ‘Dra. Havanir Mimtz’, que é deputada estadual em São Paulo, do folclórico Prona para o PSDB.

Segundo a Folha Online, ‘o governador Geraldo Alckmin deu as boas vindas à mais nova integrante’. Em entrevista ao iG, ela já foi dizendo que, ‘no geral, o PSDB é um partido sério’.

Mas também tem tucano de saída -ao menos segundo o site de Claudio Humberto, que apostou ontem na mudança para o PDT do governador do PSDB Cássio Cunha Lima.

CONTRA A GORDURA

Por aqui, Lula chegou às manchetes do Jornal da Band e Globo Online ao comparar FHC ao ‘vendaval na Ásia’.

No exterior, o que recebeu a atenção -ou as piadas- foi o anúncio de que ele será garoto-propaganda na campanha nacional contra a obesidade. No título do britânico ‘Guardian’, ‘Lula luta contra a gordura’. No espanhol ‘El País’, incrédulo, ‘a notícia já é oficial’. E o correspondente Larry Rohter tripudiou no ‘New York Times’, dizendo que, ‘após criticar estudo que apontou excesso de peso nos brasileiros, Lula concordou em liderar a campanha’, até em ‘comerciais de rádio e TV’.

JUROS, JUROS

Em longa entrevista à Globo News, ontem, o prefeito José Serra criticou a política econômica, mas com atenuantes:

– Eu acho que está havendo uma overdose nos juros. Não se dá nem tempo para ver o que está acontecendo. A minha preocupação é com o país. Eu quero que a economia cresça, que os empregos cresçam, independentemente de quem fature isso politicamente.

Mais para a frente:

– Eu acho que o Palocci está na linha certa no que se refere à política fiscal, só que está exigindo dela um componente drástico por causa da política errada de juros.

Sobra

Em entrevista ao ‘El País’, reproduzida por UOL e BBC, a ministra de Minas e Energia, Dilma Roussef, garantiu que ‘no Brasil sobra energia’ e ‘na realidade nunca faltou energia’.

Para ela, 12 milhões de pessoas só ‘não têm luz’ porque ‘não têm acesso a ela’.

Chávez, não

O Fórum Social rachou. O site Carta Maior deu que parte da direção, vale dizer, Oded Grajew e Francisco Whitaker, não tem ‘simpatia pela idéia’ de levar o evento à Venezuela.

Já outra parte, a começar do próprio site, não esconde a paixão por Hugo Chávez.

Cyberdemocrata

Nos EUA, a manchete do ‘NYT’ ontem foi a ‘provável’ escolha do ex-presidenciável Howard Dean como ‘chefe’ do Partido Democrata.

Mais do que uma opção ‘liberal’, Dean levaria aos combalidos democratas a experiência de organização a partir de uma rede de sites e blogs -que sustentou sua candidatura a ponto de ameaçar o preferido da direção em 2004, John Kerry.

Às vésperas

Em dia de estiagem noticiosa, um dos destaques da ‘escalada’ do Jornal Nacional:

– Iemanjá recebe preces e muitos presentes.’

***

‘Quem avisa’, copyright Folha de S. Paulo, 4/2/05

‘A ‘Economist’, quem diria, se juntou ao grande esforço nacional para convencer o Banco Central a parar de aumentar os juros.

Na nova edição, o farol do liberalismo elogia Antônio Palocci e Henrique Meirelles, cujas políticas fiscal e monetária ‘pavimentaram o caminho para o melhor desempenho da economia brasileira em uma década’.

Mas a revista chama a atenção, já no título, para os ‘novos riscos’ e se pergunta:

– Para o seu próprio bem, a política monetária está dura demais?

O texto observa que ‘até os defensores’ ou, ainda, ‘os amigos’ de Palocci e Meirelles dizem agora que eles estão ‘zelosos demais’, ‘exagerando’.

O executivo de um banco comercial surge para dizer que prefere não ver mais aumentos nos juros. Avisa a ‘Economist’, amiga que é:

– Os próximos movimentos do Banco Central podem ser cruciais para o seu futuro.

Podem até ajudar a aprovar a independência da instituição, ‘que não vai acontecer se a rigidez do BC abortar a recuperação econômica’.

Em suma, diz a revista, ‘parece haver um novo consenso: o banco deve aceitar um pouco mais de inflação’ em 2004, o que não traria custo ‘decisivo’ de credibilidade. E um último aviso, amiga que é:

– O presidente Lula não vai dizer, mas ele provavelmente espera que Meirelles esteja ouvindo.

Para ajudar no argumento, a manchete da Folha Online, ontem:

– Inflação recua em janeiro.

ENTRE A REFORMA E A REVOLUÇÃO

Do italiano ‘Corriere Della Sera’ ao argentino ‘La Nación’, prosseguia ontem a aparentemente interminável repercussão do confronto alegórico entre Lula e Hugo Chávez, no Fórum Social Mundial.

O britânico ‘The Guardian’ partiu logo para a gozação, em texto intitulado ‘Hugo Chávez superstar’. Ele ‘roubou a cena do presidente esquerdista do Brasil, o pragmático Luiz Inácio Lula da Silva,’ e agora é ‘um Simon Bolívar de sua época, engajado num gigantesco experimento populista’. O jornal sublinhou que ‘precisa ser dito que pelo menos metade dos que foram a Porto Alegre’ não era pobres, mas jovens urbanos atrás do acampamento e dos shows de rock.

Até a ‘Economist’ abraçou o confronto ‘entre a reforma e a revolução’, entre o brasileiro e o venezuelano, expresso no fórum. Para a revista, ‘Lula mantém muito de sua popularidade: os aplausos prevaleceram sobre as vaias e não só porque seu partido ocupou o ginásio’. Mas ‘o verdadeiro herói parecia ser um líder que não se manchou de realismo’, Chávez.

Forte pressão

De uma hora para outra, dois petistas, postulantes ao governo paulista em 2006, se insurgiram contra os impostos.

Por toda a cobertura, o senador Aloizio Mercadante dizia que vai combater ‘o aumento da carga tributária no país’.

Ato contínuo, em entrevista à Jovem Pan, o deputado federal João Paulo Cunha declarou que a medida provisória 232 ‘precisa mudar para ser aprovada no Congresso’.

Ele previu ‘forte pressão de entidades empresariais’. Em especial, paulistas.

Só o começo

Correu mundo, do espanhol ‘El País’ aos americanos ‘Washington Post’ e ‘Wall Street Journal’, a decisão do Brasil de realizar um estudo sobre doenças cardíacas ‘usando células-tronco’. Do ‘El País’:

– É a maior pesquisa clínica com células-tronco até agora, no mundo.

Mas não é o bastante, cobrava ontem uma pesquisadora da USP, na rádio Bandeirantes. Para ela, é preciso desenvolver experiências também com células do cordão umbilical, não só da medula óssea.

O ORÁCULO

‘Salam Pax existe mesmo’, brincava ontem o site de literatura Portal Literal, de Ferreira Gullar e outros. Trata-se do criador do Blog de Bagdá, que entrou para a história com a cobertura da invasão do Iraque pelas tropas americanas, na capital ainda dominada por Saddam Hussein.

Em entrevista ao site de vídeos ZeD, discorreu sobre o futuro. Entre outras avaliações de Salam Pax, quanto aos blogs e seu efeitos sobre o jornalismo, tema que domina sites -e conferências- sobre mídia desde o impacto que tiveram na guerra e na eleição nos EUA:

– Eu não acho que os blogs substituirão a imprensa, [mas] os blogueiros oferecem uma visão particular, deixam as notícias mais reais… Nunca acredite somente em um lado. O ideal é ter várias fontes de informação, da Al Jazira ao ‘New York Times’, passando pelos blogs. Todos têm uma agenda, eu inclusive.’



MERCADO DE TRABALHO
Eduardo Ribeiro

‘A difícil arte de cobrar’, copyright Comunique-se (www.comuniquese.com.br), 2/2/05

‘Uma das áreas que mais se desenvolveram nos últimos quinze anos, no mercado da comunicação, foi o das agências e assessorias de imprensa e comunicação. Foram anos seguidos de crescimento, com uma pausa em 2003, um início de retomada em 2004 e, a se confirmarem os prognósticos, muita aposta num 2005 ótimo. As notícias, no setor, aliás brotam de todos os cantos – novas contas, contratações, parcerias etc.

Uma coisa, no entanto, está tirando o sono de muitos dos que hoje comandam essas agências, até por não vislumbrarem uma saída, ao menos no curto prazo: o aviltamento do mercado pela prática de preços predatórios.

O problema, longe de ser novo, hoje é mais complexo: com a profissionalização das empresas, com os investimentos em tecnologia, administração, pesquisa, marketing, desenvolvimento profissional etc, o mercado passou a contar com empresas de maior qualificação e, por extensão, a comprar e a vender serviços de maior refinamento.

Sem uma remuneração compatível, portanto, não se pode pensar em desenvolvimento, em bons salários, em novos investimentos, enfim, no fortalecimento da própria atividade.

Como esse sempre foi um segmento dos mais competitivos, integrado por um grande número de empresas de pequeno, médio e grande porte, mesmo cobrando bem as agências nunca se descolaram totalmente da realidade, praticando preços compatíveis com o que o mercado podia e estava disposto a pagar. Valiam-se sobretudo da qualidade, confiabilidade e respeitabilidade adquiridas para garantir e ampliar suas carteiras de clientes, muitas vezes sem a necessidade de participar de concorrências, ou quando elas haviam dentro de parâmetros em que o preço era apenas um dos componentes.

Comunicação não é commoditie e erra quem compra e quem vende tendo esse como principal parâmetro. E é caso típico, na grande maioria dos casos, em que o barato sai caro.

Uma coisa é mais do que certa e todos nós já vivemos isso algum dia na vida: jornalista não sabe cobrar, não foi preparado para cobrar e não tem qualquer talento (com raras exceções) para lidar com dinheiro. Tanto que muitos dos profissionais que montaram seus negócios ainda pensam como empregados na hora de cobrar, associando a remuneração muito mais a um salário do que ao chamado fee.

Outros aprenderam. Aprenderam que para sobreviver, crescer, contratar e pagar bons salários é preciso investir e saber cobrar. Aprenderam que é preciso agregar valor aos produtos e serviços de modo a poder pleitear uma remuneração maior. Aprenderam que do lucro sai os recursos para novos investimentos e – claro – para a justa remuneração do trabalho e do capital investido. Aprenderam, enfim – a duras penas -, que é assim no regime capitalista e que sem isso não há desenvolvimento possível, empresarialmente falando.

Se tomarmos o setor de publicidade como parâmetro, vamos notar claramente as diferenças. Lá a concorrência é tão grande quanto aqui, mas as agências exigem ser bem remuneradas e não têm vergonha de cobrar por tudo. Jornalistas, ao contrário, até projeto de graça às vezes entregam na esperança de ganhar um cliente. E vivem desrespeitados e ludibriados, sem ter depois a quem reclamar.

Acabar com o problema é uma utopia, até porque essa é a lógica do mercado. Mas isso pode e deve ser melhorado. É preciso um trabalho forte de um lado na conscientização de todos para práticas saudáveis de concorrência e de outro de formação mesmo, ação, aliás, que já vem sendo desenvolvida pela própria associação das agências, a Abracom, através de cursos, seminários, cartilhas etc.

O caminho é longo, mas é o mais seguro para o fortalecimento do setor e para a valorização de quem nele atua, sejam patrões ou empregados.’