Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

Nelson de Sá


‘A primeira cena se desenrolou à vista de Daniel Dantas, nas CPIs, pelos canais de notícias. A TV Câmara, mal começou o choque, cortou para outra transmissão.


Um petista e dois ex-petistas se estapeavam. Um ‘tumulto’, um ‘bate-boca’, descreviam rádios e sites, de início.


Entrou o policialesco ‘Brasil Urgente’, no fim da tarde na Band, explorou as imagens repetidamente e narrou ‘socos’, ‘agressões’ etc.


Na seqüência, o ‘SBT Brasil’ também falou em ‘socos’ e o ‘Jornal da Record’ apontou, desde as manchetes, a ‘tentativa de agressão’.


Foi ‘um dia de vexame’, no dizer de Ana Paula Padrão, e não parou por aí.


José Luiz Datena, na Band, também exibiu repetidamente a segunda cena, das galerias, assim que se encerrou o discurso de Severino:


– Não pode, na casa do povo, o povo ser tratado a gravatas, chutes e pontapés… É truculência dos gorilões…


Como destacavam os blogueiros brasilienses, ontem em esforço de ‘live blogging’, sobrou ‘xingamento’ e ‘desaforo’ para Severino.


Isso, nas galerias e nos próprios comentários dos blogs, como nas quatro centenas que postaram ‘mensagens de despedida’ no Globo Online.


As cenas que ridicularizaram ainda mais a Câmara abriram, segundo o ‘Jornal Nacional’, ‘oficialmente a guerra’ pela vaga de Severino:


– Os partidos falam em consenso, mas nos bastidores todos trabalham para disputar quem vai ser o juiz nos processos de cassação e o terceiro na linha sucessória.


Com sorrisos beirando o sarcasmo, os postulantes se amontoavam na cobertura, de Luiz Fleury a José Thomaz Nonô, em campanha aberta.


O comentarista Franklin Martins, na CBN, já não acredita em dias melhores:


– Não há perspectiva, pelo que deu para sentir, de que a Câmara tenha aprendido com a lambança que fez com a eleição de Severino. A disputa está comendo solta e não tem a lógica de salvar a instituição.


A lógica é só ‘como fortalecer a minha banda’:


– A oposição acha que pode ferrar o governo. O governo acha que pode dar o troco. E um monte de deputados quer aproveitar a divisão para ver se sobra para eles.


Pelas contas do blog do UOL, já são 20 os candidatos. E José Sarney opina:


– Vai ser uma guerra campal.


Alguns já abriram torcida. O blog do iG saiu anunciando o favoritismo do pefelista Nonô, vice de Severino, que assumiu até a semana que vem.


E agora até o ‘Financial Times’ dá opinião sobre a sucessão de Severino:


– A eleição de Cavalcanti em fevereiro foi uma derrota humilhante para o governo, que vai querer evitar um revés semelhante. Mas está enfraquecido… O eclético PMDB, neutro durante a crise, seria menos prejudicial do que um candidato de oposição.


INTELIGENTE, CONVINCENTE


Daniel Dantas falou horas sem fim, mas nada. Foi mais curioso pelos comentários que estimulou do que pelo que declarou, ele que nem precisava dizer a verdade. Por exemplo, Míriam Leitão, no ‘Bom Dia Brasil’:


– Ele é muito inteligente e dificilmente será apanhado dizendo o que não quer dizer.


E depois, na rádio CBN:


– Ele virou uma figura mitológica. Existe um pouco de fantasia em torno de Daniel Dantas. Ninguém pode estar em todos os lugares ao mesmo tempo.


A comentarista não gostou das perguntas:


– Essas coisas todas pertencem ao governo Fernando Henrique… coisas que não têm nada a ver com o que está sendo discutido agora. Se for para discutir toda a vida do Daniel, aí é outra coisa.


Sobre o valerioduto, propriamente:


– Ele foi convincente.


Queda ou não


Na escalada do ‘JN’:


– Ibope confirma queda acentuada na popularidade do presidente Lula.


Já no site Carta Maior, próximo da esquerda:


– A mídia diz que a popularidade caiu. Os números indicam estabilidade.


É que, ‘segundo os novos números CNI/Ibope, o governo é aprovado por 45% dos brasileiro, a mesma taxa da pesquisa TV Globo/Ibope divulgada no dia 23 de agosto’.


A maioria


De todo modo, na escalada da Record, ‘a maioria já não confia no presidente’.


Por quê?


A apuração no PT segue lenta, mas pelo que se lê no Carta Maior parte da esquerda já prepara o desembarque.


Também no site, Leonardo Boff, referência da Igreja Católica e da esquerda no Brasil e pelo mundo, postou um texto intitulado ‘Por que ficar no PT’. No trecho destacado:


– Tudo o que é sadio pode ficar doente. A parte sadia pode curar a parte doente. Saúde não é ausência de danos, mas sim a força de viver com os danos e aprender com eles.


Ele apresenta sete razões para não sair do PT e menciona até o ‘crédito consignado’.’



PUBLICIDADE


Mirelle de França


‘Especialistas analisam evolução da publicidade’, copyright O Globo, 22/09/05


‘O jornal, um dos mais antigos meios de comunicação de massa do mundo, continuará a ter, no futuro, a importância que tem hoje para o leitor. E, por que não, para anunciantes e publicitários. Foi esta a conclusão dos participantes do quarto evento da série ‘Encontros O GLOBO/Especial 80 anos’, realizado na última terça-feira, que teve como tema ‘Publicidade em jornal: criação, tendências e perspectivas’. Estiveram reunidos no auditório do jornal os publicitários Adilson Teixeira, Lula Vieira, Fábio Fernandes e Mauro Mattos. O colunista Artur Xexéo foi o mediador do debate.


– O jornal vai ser a maneira de ver todo esse volume de informações que recebemos arrumado, organizado e com credibilidade. Ao contrário do que as pessoas imaginavam, cresce cada vez mais a importância do jornal. E assim também serão os anúncios: verdadeiros e com informação – disse Lula Vieira, fundador da agência V&S há 21 anos.


Durante o encontro, patrocinado pela Fecomércio e pela Brasil Telecom, o diretor nacional de Criação da Giovanni, FCB e presidente da Associação Brasileira de Propaganda (ABP), Adilson Xavier, disse que, quando o assunto é publicidade, o jornal é o meio de comunicação mais flexível:


– O jornal não consegue ser extinto, porque é o meio de comunicação que tem mais intimidade com o consumidor. Ele participa da vida das pessoas como nenhum outro meio participa. Por isso, a comunicação inserida no jornal tem menos o efeito de ruído do que o que acontece nos outros veículos, como na televisão, onde o comercial é chamado de break (quebra) – lembrou.


Num dos mais concorridos encontros já realizados pelo GLOBO, cerca de 200 pessoas, entre estudantes e profissionais do setor, assistiram a vídeos e reproduções de anúncios que fizeram parte da história do jornal. O representante da Giovanni, FCB apresentou campanhas recentes do próprio jornal, como a ‘Faz Diferença’. Já Mauro Mattos, presidente de Criação da Contemporânea, lembrou anúncios publicados no jornal que ficaram na memória dos leitores, como o das Óticas Fluminense, que tirava o foco das reportagens publicadas e, no pé da página, trazia um pequeno quadrado com o nome da rede de lojas.


– O GLOBO inovou. Lançou um verdadeiro manual de novos formatos (de anúncios) em 1996 e o deixou à disposição das agências – frisou o publicitário.


Exposição de anúncios termina dia 6 outubro


Para o executivo, a quantidade de informações recebidas diariamente também faz com que seja cada vez mais importante o papel do jornal. Segundo ele, o veículo seleciona e aprofunda as informações para o leitor.


– O jornal é importantíssimo. Antes era o principal elo de ligação das pessoas com o mundo, hoje não é o principal, mas certamente é a melhor maneira de você entendê-lo – ressaltou Mattos.


Já Fábio Fernandes, sócio-presidente e diretor de criação da F/Nazca Saatchi & Saatchi, desafiou quem considera que o jornal tem vida curta como veículo de propaganda.


– Entende-se erroneamente que o jornal tem vida curta. As pessoas têm a tendência de restringir o tempo (de vida) do jornal, como o período dedicado à leitura. Mas o certo é ver qual foi o tempo do impacto que um anúncio de jornal tem. Se o anúncio for bem-feito, vai durar em qualquer mídia – explicou.


Fernandes acrescentou, ainda, que jornal tem grande credibilidade e é importante como instrumento de sustentação e construção de marcas. O publicitário também exibiu campanhas inovadoras publicada no jornal, como a da Petrobras, que interferiu no título das editorias. Xexéo, então, o questionou o limite da criatividade publicitária dentro do jornal.


– Essa é a grande vantagem do jornal. Se de um lado não existe tanta interferência no conteúdo, por outro criamos uma necessidade de sempre fazer alguma coisa renovadora e inovadora, diferente das demais. O ponto de equilíbrio é fazer tudo com bom gosto – disse o executivo.


Depois de cantar jingles para a platéia, Lula Vieira disse que, em um futuro próximo, os jornais vão representar a terceirização da hierarquização das informações, ou seja, mostrar para o leitor o que é importante.


– Conseqüentemente ele (o jornal) vai mudar de cara, de tamanho e de modelo de circulação. As máquinas serão capazes de fazer quase um jornal diferente para cada pessoa – afirmou, brincando que sua teoria não é caso de ficção científica.


Lula também é curador da exposição ‘Do reclame ao anúncio – 80 anos de propaganda no GLOBO’, que começou esta semana e vai até o próximo dia 6 de outubro vai mostrar vários momentos da história da publicidade no jornal desde a sua criação. A exposição acontece no Centro Cultural Telemar, que fica na Rua Dois de Dezembro, 63, no Flamengo. A mostra poderá ser vista das 11h às 20h.


– O evento a que assistimos serviu para mostrar que, assim como os leitores, os publicitários são grandes parceiros de um jornal – declarou Xexéo no encerramento.’