Thursday, 28 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

Nelson de Sá

‘Na primeira página do ‘Washington Post’, nos EUA, e na programação das TVs abertas, no Brasil, começou sábado a campanha do referendo sobre desarmamento.

O destaque nos EUA foi curioso. Estava lá, no alto da página, só abaixo do logotipo:

– Brasil estuda banir armas nacionalmente. País é o primeiro a votar a questão.

O texto abre na favela da Rocinha, seguindo uma mulher que vai pelas vielas, acompanhada por traficante armado que, diz ela, ‘faz o que a polícia não faz’, protege os moradores. A cena é parte das ‘realidades invertidas do país’, diz o ‘WP’.

Sublinhando que no Brasil a alternativa ao Estado é o crime organizado e que ‘o país tem a maior proporção de mortes por armas de fogo no mundo’, o jornal americano mal esconde de que lado está.

Mais importante, explica tal atenção ao referendo:

– Internacionalmente, defensores do controle de armas e oponentes estão monitorando a campanha brasileira de perto, estudando a possibilidade de ser copiada em outros países.

Rebecca Peters, que dirige uma ONG global:

– Se o veto passar, o Brasil vai mandar uma mensagem a outros países influenciados por poderosos lobbies de armas, de que é possível vencê-los.

O ‘WP’ registrou como a Globo abraçou a campanha até em suas ‘soap operas’.

A mesma Globo, porém, procura desde sábado certa distância da campanha. É que o horário político do ‘sim’, que defende o fim do comércio, mais parece novela global.

Em dois dias, passaram pelos programas e comerciais, entre outros, os atores Lázaro Ramos, Fernanda Montenegro, Wagner Moura e Maitê Proença, entremeados por um ‘motoboy’, um ‘aposentado’ etc.

Do lado do ‘não’, deputado, jornalistas, artista nenhum. E com argumentação esdrúxula, em meio ao ‘marketing do medo’ tão conhecido:

– O movimento diretas-já foi um marco na reconquista dos nossos direitos e liberdade. Agora, querem mexer nos nossos direitos novamente. Querem tirar a liberdade de escolha de comprar ou não uma arma.

De volta ao ‘WP’, o jornal entrevistou Flávio Bolsonaro, deputado estadual ‘que está liderando o esforço contra o veto’ no Rio. É filho do deputado federal Jair Bolsonaro.

O que os Bolsonaros têm a ver com as diretas-já?

Um símbolo da campanha apareceu na Globo. Do apresentador Zeca Camargo:

– A polícia encontrou um fuzil banhado a ouro, durante operação na favela da Rocinha, no Rio. O fuzil HK G3 estava com um traficante.

NO AR Na TV aberta, programas à tarde e à noite e comerciais ao longo do dia inteiro jogam o país na campanha pelo ‘sim’ (o ator Lázaro Ramos) ou pelo ‘não’ à proibição do comércio de armas

A TRANSPOSIÇÃO

Engajada na luta contra as armas, a Globo andou perto de abraçar também a transposição das águas do rio São Francisco, tema de reportagens do ‘JN’ por vários dias. Encerrando a série, deu os dois lados, mas entremeou observações como ‘o São Francisco também vai matar a sede de nordestinos que moram longe dele’ etc.

O fim à vista

Ontem, de um enunciado do ‘Financial Times’:

– O fim para a crise brasileira está à vista.

Melhor, diz o ‘FT’, só se o ‘moderado’ Ricardo Berzoini vencer o ‘esquerdista crítico da política econômica’ Raul Pont, no domingo, no PT.

Expectativas

O mesmo ‘FT’ entrou ontem com uma entrevista com o chanceler Celso Amorim reconhecendo, sobre a China:

– Precisamos avaliar o que o Brasil obteve em termos de investimento e não temos a avaliação ainda. Mas as nossas expectativas eram maiores.

3.500 ANÔNIMOS

A Polícia Federal investiga por suspeita de evasão de divisas e lavagem de dinheiro, entre 3.500, Xuxa, Daniel Dantas e Romário. Mas no registro do ‘JN’, anteontem, nem Xuxa nem ninguém:

– Na lista estão jogadores, artistas, empresários.

Aliás, ontem no ‘Fantástico’, uma ‘dramatização’:

– É show! A fã alucinada pela Xuxa. ‘Xuxa!’’



ECOS DA GUERRA
Dorrit Harazim

‘De Abu Ghraib ao site pornô’, copyright O Estado de S. Paulo, 02/10/05

‘Correram mundo as fotos dos abusos e torturas praticados pelas forças americanas na prisão de Abu Ghraib. A pirâmide de detentos iraquianos nus, a soldado Lynndie England puxando um deles, também nu, por uma coleira, a exposição de genitais, a humilhação escrachada – o pacote gráfico foi um choque que ainda reverbera. Mas há pior.

Há quase um ano soldados dos Estados Unidos aquartelados no Iraque e Afeganistão enviam para um site da internet fotos de ‘inimigos’ decapitados, decepados, mutilados, crivados de balas ou esmagados. Quanto mais desfigurados, melhor. Em troca, obtêm acesso gratuito ao material pornográfico do site, especializado em veicular fotos eróticas amadoras.

Tudo começou quando Chris Wilson, um jovem empreendedor de Lakeland, na Flórida, se lançou na internet solicitando a interessados que contribuíssem com fotos e vídeos eróticos de suas mulheres ou namoradas. Queria fazer um site pornô com material estritamente amador, pessoal, real e caseiro. Foi um sucesso. Em pouco tempo tinha cerca de 150 mil participantes, um terço dos quais ligado às Forças Armadas.

Segundo Chris Wilson declarou em entrevista a um jornal da Califórnia, a soldadesca apenas reclamava da dificuldade em pagar pelo acesso ao serviço. Daí nasceu a idéia de lhes oferecer acesso gratuito em troca de fotos da guerra igualmente amadoras, pessoais, reais e caseiras. E o que começou como um fórum de material genérico recebido da frente de combate acabou se desdobrando em outro, intitulado Fotos Escabrosas. Descrição para o desavisado: ‘As fotos deste fórum são enviadas por soldados americanos servindo no Iraque e Afeganistão. São um tanto sangrentas. Por isso, se você se choca facilmente ou tem problemas com terroristas mortos, não entre nesta página’.

A partir daí se entra num universo demente, onde é difícil saber qual a aberração maior – se as imagens ou as legendas que as acompanham. Ao lado do que resta de uma cabeça estraçalhada por uma arma calibre .50, o comentário ‘Entrei nesta página para me masturbar’. Observação do soldado que transmitiu a foto de um cadáver com os miolos expostos: ‘É assim que todo iraquiano deve acabar’. Títulos de outras cenas indescritíveis: ‘Morra, haji, morra’, ‘Iraquiano fervido’, ‘Não se meta com os americanos’, ‘Mais alguns insurgentes despachados para se explicar com Alá’. Comentário para a foto de seis fuzileiros navais se divertindo com os restos carbonizados de um cadáver a seus pés: ‘Esse cara teve um dia ruim’. Enquanto um dos freqüentadores do fórum reclama da falta de ‘cadáveres frescos’, outros participam de concursos para ver quem dá o melhor título às cenas mais perversas. A foto de uma jovem caída na rua, com a perna arrancada por uma mina e a vagina exposta, perfeitamente enquadrada, rendeu um trocadilho. Não se tem notícia de escambo semelhante em guerras passadas.

Mas no passado também não existia a fusão entre câmera digital, internet e culto ao reality show, que hoje incentiva qualquer soldado a alimentar eventuais desvios, fantasias ou taras. Não existe dado confiável quanto ao número de recrutas americanos que fornecem imagens para a galeria de horrores do site Nowthatsfuckedup.com. Mas, mesmo que seja apenas um punhado de desajustados em meio aos 130 mil homens e mulheres das forças de ocupação americana no Iraque, o caso NTFU (sigla pela qual o site é conhecido) não brotou do nada. A rigor, ele pode ser visto como a manifestação mais aberrante e perversa da cruzada patriótico-maniqueísta fabricada pelo presidente George W. Bush para justificar sua guerra contra o eixo do Mal.

Um governo que proclama seu direito de empreender uma faxina moral no resto da humanidade acaba produzindo faxineiros à altura do desvio original. O sinal de que, nesta guerra, as Forças Armadas dos Estados Unidos se consideram acima da lei foi dado logo na partida, com o encarceramento totalmente irregular de suspeitos na base de Guantánamo. Daí para as obscenidades praticadas por militares americanos nos porões de Abu Ghraib foi um passo. E um incentivo para que soldados psicologicamente desestruturados vejam em cada iraquiano um pedaço de carne a ser abatido.

Para o presidente Bush e a mais alta hierarquia militar dos Estados Unidos, a Convenção de Genebra, que há 55 anos regulamenta o tratamento a ser dado a prisioneiros de guerra, não se aplica às centenas de suspeitos de Guantánamo, seqüestrados pelas tropas americanas na primeira fase da guerra. Por que, então, um recruta do interior do Idaho despachado para a fornalha iraquiana deveria conhecer e respeitar os artigos 15 e 17 da Primeira Convenção de Genebra, além do artigo 34 do Protocolo Adicional de 12 de agosto de 1949, que trata da Proteção às Vítimas de Conflitos Armados Internacionais?

Os textos da Convenção claramente proíbem a publicação desrespeitosa e dessacralização de imagens dos mortos. E foi o próprio secretário de Defesa americano, Donald Rumsfeld, quem recorreu a esses textos para denunciar a TV árabe Al-Jazeera por divulgar imagens de três fuzileiros navais capturados e mortos em 2003. Mas foi o mesmo governo Bush que produziu e divulgou o videoteipe dos cadáveres seminus e crivados de balas de Uday e Qusay, filhos de Saddam Hussein, em julho daquele ano. Detalhe mostrado no videoteipe: um saco plástico com a perna inferior de Uday, com os pinos e grampos metálicos de uma cirurgia antiga expostos.

Na época, Rumsfeld defendeu a divulgação das imagens por se tratar de ‘indivíduos particularmente cruéis. E para que o povo iraquiano possa ver que estão mortos’. O caso gerou indignação mundial e levou o jornal inglês Daily Mail, conservador e partidário da guerra, a indagar: ‘É esse o comportamento de uma nação civilizada? A exibição como troféu de um inimigo vencido não seria uma manifestação de triunfalismo indecente, que evoca barbarismos medievais?’

No caso das fotos enviadas ao site pornográfico, é bastante improvável que ninguém no Pentágono tenha conhecimento dos horrores circulando pela internet. Mas, até agora, a única advertência oficial sobre veiculação de material digital omite o essencial. Segundo memorando do chefe do Estado-Maior do Exército, Peter Schoomaker, distribuído no mês passado, soldados que trocam fotos do Iraque pela internet põem em risco a ‘opsec’, ou ‘segurança operacional’ da guerra. A divulgação de ‘táticas, técnicas, procedimentos e vulnerabilidades do sistema de armamento’ usados pelas Forças Armadas abriria uma brecha ao inimigo. Nenhuma menção ou reprimenda ao rompimento de normas fundamentais de civilidade.

A brecha temida por Schoomaker é irrelevante para o curso da guerra. O que existe é um conjunto de comportas mal represadas que estão prestes a ser arrebentadas com fúria maior do que as águas de New Orleans. Dois dias atrás, o juiz Alvin Hellerstein, de Nova York, encerrou longa batalha jurídica envolvendo fotos ainda inéditas de abusos em Abu Ghraib. Pela argumentação do chefe do Estado-Maior das Forças Armadas, Richard Meyers, a divulgação desse material representaria o risco de inflamar o mundo islâmico e levar hordas de jovens muçulmanos a se juntar às fileiras terroristas da Al-Qaeda. Hellerstein deliberou pela liberação do material, afirmando que terroristas não precisam de pretextos para aderir ao terror.

Por enquanto, a caixa-preta dos porões de Guantánamo permanece fechada. Mas é inevitável que seja aberta algum dia, somando-se a outros Abu Ghraibs e à multiplicação de sites semelhantes ao NTFU, que já começam a pipocar. O retrato que emerge desse mosaico de imagens é o de uma nação afundada no esforço de guerra mais neurastênico de sua história. De um lado proíbe a divulgação de fotos de seus soldados mortos ou gravemente feridos, tornando-os quase clandestinos. Nem sequer os já quase 2.000 caixões cobertos com a bandeira americana podem ser mostrados ao povo americano, ‘em respeito aos sentimentos da família e da nação’. De outro lado, leva os recrutas despachados para a guerra a querer furar o bloqueio da higienização do horror a qualquer custo.

Um dos grandes atrativos do site criado por Chris Wilson é convidar os recrutas a mostrar a guerra como eles a vêem, ‘e não pelas lentes da CNN ou coisa que o valha’. Até agora, mais de 1 milhão de cidadãos americanos já serviram no Iraque e Afeganistão. Destes, estima-se que 341 mil já tenham tido de servir duas vezes na frente de combate. E correm o risco de uma terceira convocação, à média de dois mortos por dia. O general Michael Rochelle, comandante do Recrutamento do Exército, admite que o país está passando pela sua mais grave crise de reposição de pessoal uniformizado desde que o serviço militar passou a ser voluntário, em 1973.

Segundo levantamento feito pelo próprio Exército, o número de irregularidades no sistema de recrutamento já chega a 1.118 e explica parte dos desvios de comportamento registrados pelos soldados na frente de combate. Um em cada cinco agentes de recrutamento que percorrem as regiões mais atrasadas do país altera fichas policiais, atestados de doenças mentais e impedimentos físicos de seus recrutados, para poder preencher a cota necessária. ‘Hoje em dia, as únicas pessoas que querem se alistar têm problemas – ou de saúde, ou com a polícia, ou com drogas’, admitiu um recrutador entrevistado pelo New York Times. Ao longo de todo o verão americano, encerrado este mês, equipes de recrutamento varreram localidades rurais e escolas do interior, acenando com a oportunidade de um sonhado acesso à universidade em caso de alistamento. Envergando uniformes de campanha, botas de combate e boinas pretas, fascinaram jovens em concertos de rock, rodeios, corridas Nascar. Ainda assim, o esforço conseguiu preencher apenas 77% das vagas necessárias.

Segundo pesquisa feita por Robert Cushing, professor aposentado da Universidade do Texas, são os brancos de pequenas localidades rurais, predominantemente pobres, que representam o grosso das baixas americanas na guerra. São filhos e filhas de operários sem emprego, imigrantes e mães solteiras – um exército arregimentado em trailers, ranchos modestos e estradas secundárias. É um dique pronto para arrebentar.’



MÉXICO
O Estado de S. Paulo

‘Jornal no México tem suas contas congeladas’, copyright O Estado de S. Paulo, 01/10/05

‘O jornal Notícias de Oaxaca, do México, que vive um polêmico conflito sindical há mais de três meses, enfrenta agora o bloqueio de suas contas bancárias. A denúncia foi feito ontem à organização francesa Repórteres Sem Fronteiras (RSF).

A organização disse que as contas foram congeladas no dia 12 e enviou uma carta ao governador de Oaxaca, Ulises Ruiz, para que ele intervenha para preservar a liberdade de expressão em seu Estado.

O conflito dentro do Notícias de Oaxaca começou em junho, quando a seção local da Confederação Revolucionária Operária e Camponesa (CROC) – um sindicato ligado ao Partido Revolucionário Institucional (PRI) – declarou uma greve que os 102 funcionários do diário se negaram a acatar.

Permaneceram dentro do jornal 31 funcionários, que em 18 de julho foram desalojados a socos pelos membros do CROC.

Em sua carta ao governador de Oaxaca, o RSF pede para que ele ‘cuide para que a Comissão de Conciliação e Arbitragem local se pronuncie rapidamente e de modo objetivo sobre a legalidade da greve’ enfrentada pelo Notícias de Oaxaca.

‘Segundo uma informação do Centro Nacional de Comunicação Social (CNCS), vários jornalistas do Notícias de Oaxaca são freqüentemente ameaçados e insultados e alguns são até alvo de chantagem de políticos ou funcionários locais que lhes oferecem dinheiro para que ‘mudem de lado’, destacou o RSF. A sede do jornal está atualmente sob custódia da Procuradoria federal e o CNCS disse que o bloqueio bancário ameaça a sobrevivência do diário.’



LIBERTY & CABLECOM
O Estado de S. Paulo

‘Liberty compra a Cablecom por US$ 2,2 bi’, copyright O Estado de S. Paulo, 01/10/05

‘A companhia Liberty Global, que fornece serviços de televisão a cabo, anunciou ontem ter fechado um acordo para a aquisição da empresa suíça Cablecom Holding AG, em uma operação avaliada em cerca de US$ 2,2 bilhões. A Cablecom é o maior operador de serviços de televisão e internet a cabo de banda larga na Suíça, e sua propriedade passará totalmente às mãos da Liberty com esta transação, que deve estar finalizada no próximo mês.

Mike Fries, presidente e diretor-executivo da Liberty Global, disse em um comunicado que conseguir uma maior penetração no mercado europeu ‘é um objetivo estratégico central’ para sua companhia. ‘Completada a transação, seremos o maior operador a cabo de banda larga em onze de nossos quatorze mercados europeus, e contaremos com cerca de 17 milhões de clientes no mundo’, acrescentou o executivo.

A Cablecom reúne mais de dois milhões de clientes em serviços de vídeo, telefonia e internet, e tem uma posição dominante em alguns dos mercados de telecomunicações mais atrativos da Europa, segundo a empresa compradora. Além da Europa, a Liberty Global opera na Ásia e no continente americano. Se forem levadas em conta suas filiais e associadas, é o maior operador a cabo de banda larga fora dos Estados Unidos por número de clientes, segundo informações da empresa.’