Tuesday, 23 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

Nelson de Sá

‘Lá estava George W. Bush na Globo, posando com cristãos chineses, sorridente, enquanto Pedro Bial anunciava, ‘em Pequim, Bush pediu liberdade política e religiosa’.

‘Pediu’ e todos cobriram. Na BBC, porém, a locução já veio com comentário:

– É sinal da crescente importância da China que até o presidente americano tome cuidado com as palavras… Uma hora depois, uma cena com Bush bem menos confortável.

Estava então com o presidente chinês e uma centena de soldados, cena também destacada na primeira página do ‘New York Times’. No site do ‘NYT’, a tarde toda, a manchete:

– Em Pequim, Bush encara parceiro em alta.

À noite, nova manchete:

– Dia de encontros tensos entre EUA e China.

Na descrição do jornal, é ‘o poder que cresce mais rápido no mundo’ -e o governo americano, agora, ‘debate se deve tentar conter o alcance militar e econômico da China’.

Daí para Paquiçamba, no rio Xingu, de onde o correspondente Larry Rohter anunciou, no ‘NYT’, que ‘o governo brasileiro está forçando a construção de barragem que poderá ser a segunda do mundo’. Fechando o primeiro parágrafo:

– Mas os maiores beneficiários não seriam provavelmente as tribos ou outros habitantes, mas um governo do outro lado do mundo, a China.

No título, ‘Brasil pesa custos e benefícios de se aliar à China’. Rohter ataca represa e aliança -e encerra dizendo que ‘essa política [de aliança à China] vem recebendo críticas, especialmente em São Paulo, capital empresarial, sob o argumento de que interesses do Brasil estão sendo sacrificados’.

Daí ao blog de José Meirelles Passos, ontem na home do Globo Online, dizendo que o Brasil ‘é tema quente nos bastidores de Washington’:

– A voz geral é que Bush voltou satisfeitíssimo com o encontro com Lula. ‘Sabe qual o motivo?’, perguntou-me um representante da Comissão de Relações Exteriores, sexta.

Respondeu o próprio representante, ao blog:

– Realismo. O governo Lula é realista. Sabe que o Brasil precisa dos EUA e que nós precisamos do Brasil. Compreende as diferenças de opinião e dialoga com serenidade, procura construir. Ele tem uma dimensão perfeita do peso do Brasil no mundo e sabe jogar bem com isso. Em suma: dá para fazer negócios sérios com ele.

Fechando o texto, a declaração de outro ‘funcionário’:

– O Brasil é cada dia mais o nosso grande parceiro. Sabemos que não há como resolver os problemas da região sem contar com a cooperação do Brasil.

O problema na América Latina no momento é menos Hugo Chávez e mais Evo Morales -como vêm avisando ‘Financial Times’ e outros.

O favorito na eleição boliviana foi tema de um longo perfil na prestigiosa revista do mesmo ‘NYT’, com a imagem de um político menos extremista do que se costuma apontar:

– Muitos analistas bolivianos dizem que Morales não é nem de longe tão radical quanto sua retórica faz parecer. Lembram que opositores conservadores do presidente esquerdista do Brasil também previam desastre se ele fosse eleito, mas no cargo Lula se mostrou um social-democrata moderado.

No que mais importa aos EUA e aos jornais anglo-americanos -o petróleo- Morales ‘cada vez mais’ fala em ‘parceira com corporações multinacionais’, dando como modelos o Brasil e a China, e não uma estatização ‘à la Fidel Castro’.

Nas palavras do ‘NYT’, repisadas ao longo do texto:

– Quando fala sobre a nacionalização dos recursos naturais bolivianos, central em sua campanha, Morales se esforça em apontar que o modelo que tem em mente é mais próximo do gigante estatal brasileiro, a Petrobras, do que de qualquer coisa que Castro endossaria.

Não por coincidência, Morales esteve com Lula na sexta, em Brasília, e pediu que a Petrobras atue como ‘irmão mais velho’, quem sabe ‘sócio’, das estatais bolivianas de energia.

GENOCÍDIO

A imagem do índio recém-descoberto

Quando Pedro Bial anunciou as notícias do dia, à tarde na Globo, abriu com o seguinte:

– O Brasil comemora o Dia da Consciência Negra. A data marca 310 anos da morte de Zumbi, o líder do maior quilombo de resistência à escravidão.

Depois o ‘Fantástico’ abriu com longa reportagem sobre índios desconhecidos da Amazônia:

– Nada se sabe sobre a origem e a língua desse grupo, que vive isolado em área demarcada do Mato Grosso. Eles estão sendo vítimas de genocídio.

Nada de crise política ou escândalo. No dia anterior, depois de meses, nenhum dos principais telejornais (‘Jornal Nacional’, ‘Jornal da Record’, ‘SBT Brasil’ e ‘Jornal da Band’) fez referência, em suas escaladas, ao escândalo. A primeira manchete do ‘JN’:

– Preso um dos maiores traficantes de maconha do país, acusado de vender 20 toneladas por mês.

Enquanto isso, nos EUA, estourou o que o blog The Huffington Post, o mesmo que derrubou a credibilidade do ‘New York Times’, anuncia:

– Tem potencial para ser o maior escândalo no Congresso em mais de um século.

É o suposto pagamento de congressistas, por lobistas.’



PROPRIEDADE INTELECTUAL
Painel do Leitor, FSP

‘‘Entreatos’’, copyright Folha de S. Paulo, 20/11/05

‘‘Em relação ao artigo ‘Entreatos’, do prefeito Cesar Maia (‘Tendências/Debates’, 17/11), gostaria de dizer que o exercício dos direitos morais do diretor de obra audiovisual não corresponde a ato de censura, mas tão-somente ao natural e indissolúvel reflexo do vínculo do criador com sua obra. O direito de autor é um direito fundamental, já consagrado na Declaração Universal dos Direitos do Homem, adotada em 1948 pela Assembléia Geral da ONU, e respeitado na Constituição Federal na lei 9.610, de 1998. Diante de todas as figuras eleitas por nosso legislador como co-autores de um audiovisual, destaca-se o diretor como sendo o único legitimado ao exercício dos direitos morais sobre a obra. Assim, é o diretor o guardião da integridade e da inviolabilidade da obra pois exerce os direitos morais de autor. Realmente, o autor de obra intelectual não é ‘dono da opinião de pessoas e das interpretações que seu trabalho possa produzir’, porém cabe a ele a decisão de divulgar ou não a obra no tempo e no modo que julgar apropriado. E nisso se inclui o contexto sociopolítico.’ Ivana Có Galdino Crivelli, advogada, primeira vice-presidente da Associação Paulista da Propriedade Intelectual de São Paulo (São Paulo, SP)’



FSP CONTESTADA
Painel do Leitor, FSP

‘Esclarecimento’, copyright Folha de S. Paulo, 21/11/05

‘‘Em relação à reportagem ‘Ex-diretor acusa petistas de aparelhar o Inep’ (Brasil, 20/11, pág. A18), devo esclarecer que a razão que me levou a renunciar à presidência daquele órgão foi a exoneração de uma de suas diretoras, sem que a pessoa nomeada em seu lugar nem sequer tivesse sido apresentada a mim. Somada a essa troca, feita em nome da governabilidade (que, de tão procurada, está tornando este país ingovernável), manifestei, na carta de renúncia entregue ao ministro Cristovam Buarque, meu descontentamento pelo fato de que todas as informações existentes no Inep não eram, e não são, consideradas na elaboração de políticas públicas de educação em nenhuma instância governamental do país, esvaziando a principal função do órgão. Sempre mantive bons relacionamentos com pesquisadores da área de avaliação educacional. Junto com o prof. José Marcelino de Rezende Pinto (cuja indicação não teve nenhuma relação com o ministro Palocci), tomei as providências para que todos os dados do Inep fossem amplamente disponibilizados, o que até então não ocorria, apesar de ser reivindicação daqueles pesquisadores.’ Otaviano Helene, prof. do Instituto de Física da Universidade de São Paulo e ex-presidente do Inep (São Paulo, SP)’