Saturday, 20 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

No Mínimo

COPA 2006
Ricardo Calil

Globo bane palavrões da leitura labial, 3/07/06

‘A Globo conseguiu transformar o futebol em um esporte mais comportado que um chá da tarde entre senhoras. No quadro de leitura labial do ‘Fantástico’ de ontem, rebatizado como ‘Jogo Falado’, os palavrões foram banidos pela emissora dos dicionários de futebol.

Os ‘porra’ de Parreira foram substituídos por suaves ‘pô’, o caipira Roberto Carlos apareceu gritando a gíria carioca ‘caraca’, Felipão deixou os esporros de lado e mostrou seu lado religioso, repetindo ‘ave Maria’ como se fosse um mantra pessoal.

Parreira nem precisava ter escondido a boca para não ser flagrado soltando impropérios. Depois de pedir desculpas ao técnico, a Globo decidiu amenizar o quadro e evitar qualquer tipo de excesso. O tom crítico foi notado apenas em um comentário narrado por Cid Moreira: ‘Quase no final do jogo, entra quem o Brasil inteiro pedia: Robinho.’

No resto do ‘Fantástico’, porém, a Globo pegou pesado com Parreira e os jogadores. Em sua crônica semanal, Pedro Bial disse que o Brasil confundiu auto-estima com soberba e chamou o técnico de arrogante e vaidoso. Depois, um repórter disse que o candidato a melhor time do mundo não conseguiu ser um time, que a postura da seleção foi apática e acomodada, que o quadrado não foi mágico e que Ronaldinho Gaúcho teve atuações apagadas.

Agora, o novo xodó da Globo é Portugal. Com a derrota da nossa seleção, a emissora já decidiu que Felipão é o Brasil na Copa. A primeira frase de Moreira no ‘Fantástico’ foi: ‘O coração do Brasil bate por Portugal’. Bial mais tarde reforçou: ‘A língua portuguesa continua na Copa!’

Daqui em diante, Galvão Bueno nos convencerá de que os portugueses estão comendo a bola, que Figo deu a volta por cima, que d. Sebastião finalmente retornou na figura de Felipão. Para a Globo, não somos Portugal desde criancinha. Somos Portugal desde 1500.

No balanço final, a cobertura da Globo foi incrivelmente parecida com o desempenho da seleção brasileira na competição. Começou burocrática e engessada, como o Brasil nos jogos contra a Croácia e Austrália. Foi ousada e criativa quando colocou no ar o quadro Leitura Labial, como Parreira ao barrar medalhões contra o Japão. Tornou-se pequena e envergonhada ao pedir desculpas ao técnico, refletindo a forma com que o time jogou contra Gana e França. Tentou mostrar um pouco de equilíbrio no finalzinho, como Parreira ao colocar Cicinho e Robinho nos últimos 15 minutos do jogo. Mas aí era tarde demais. O resultado já estava definido: como a própria seleção, a cobertura da Copa deixou muito a desejar.’

Tutty Vasques

O debate que a Globo calou, 1/07/06

‘Afora o papelão de pedir desculpas ao Parreira – muito já se disse a respeito aqui em NoMínimo -, a TV Globo perdeu a oportunidade de botar no ar uma boa discussão sobre em que circunstâncias a leitura labial pode caracterizar invasão de privacidade. Não é, positivamente, assunto para se levar com técnico de futebol, ainda mais com um que não gosta de ‘show’. Jornalista adora, não existe reportagem de resultado.

O gol do Fantástico em cima do Parreira no jogo contra Gana ganhou repercussão espetacular por derrubar o mito da imagem dissimulada que o ‘professor’ cultiva há décadas. Não que ele tenha dito nada de mais. O Felipão dispensa intérpretes surdos para se fazer entender em expressões bem mais cabeludas, ninguém é engraxado como o Parreira no mundo do futebol. Diz a propaganda na TV que toda aquela tranqüilidade deve-se ao plano de saúde que o treinador escolheu para a sua família. Ou seja, o Parreira deve ser calmo daquele jeito por força de contrato com o patrocinador.

O garoto-propaganda da Gonden Cross tem dito absurdos de cara lavada. Tipo ‘a História não fala de times que deram shows, só dos campeões’, tentando fazer de bobo quem guarda na memória a Hungria de 54, a Holanda de 74 e o Brasil de 82. Os companheiros Clóvis Rossi, da ‘Folha de S. Paulo’, e Fernando Calazans, do ‘Globo’, mais o José Trajano, da ESPN, já se indignaram o suficiente com isso, mas não o bastante para contaminar a cobertura bem comportada da Seleção na Alemanha. Estamos vivendo o que Renato Maurício Prado definiu genialmente como ‘a era Dunga dos jornalistas’.

Aceitar a tese da invasão de privacidade no banco de reservas, cercado por câmeras, microfones e 60 mil pessoas, francamente… Um técnico no estádio de futebol é uma pessoa pública no exercício da sua função, tanto quanto um deputado no plenário da Câmara. Diferente, por exemplo, de um flagrante roubado do movimento labial de Marcos Paulo ao pé do ouvido de Nivea Stellman nas arquibancadas da Arena de Munique, onde o casalzinho assistiu a Brasil 2 x 0 Austrália de bochechas coladas.

A fronteira entre o jornalismo e a invasão de privacidade na televisão é claramente demarcada pelo uso da câmera oculta, o que, no caso de Parreira, não deixa dúvida que o ‘Fantástico’ fez reportagem sem qualquer recurso eletrônico cafajeste. Diferente do que a Globo fez em 1982, quando instalou um microfone na lapela do juiz José Roberto Wright – hoje comentarista de arbitragem da emissora – para captar as reações dos jogadores em campo na decisão da Taça Guanabara de 1982, entre Vasco e Flamengo. Pior que a gravação de conversas às escondidas, alguns jogadores foram provocados o tempo todo por Wright em busca de material bombástico para o ‘Globo Esporte’ do dia seguinte.

É uma longa discussão, devo inclusive estar completamente equivocado no que digo, mas a Globo decidiu encerrar rapidinhO o assunto. Pediu desculpas, abafou a crise interna na emissora e avisa que o quadro Leitura Labial vai continuar no ‘Fantástico’. Quem sabe o Parreira não diz umas coisas bonitas hoje em campo para a gente ouvir no programa de amanhã!’



TELEVISÃO
Ricardo Calil

Clodovil constrange a TV, 2/07/06

‘Entra ano, sai ano, e o pessoal da TV não aprende: não dá para convidar Clodovil para um programa ao vivo. Mas foi isso que Fausto Silva fez. Chamou o colega para ser jurado do quadro ‘Dança dos artistas’, no ‘Domingão do Faustão’ de ontem.

Clodovil conseguiu deixar constrangidas todas as candidatas com seus comentários. Para Nívea Maria, disse: ‘Seu seio apareceu na dança. Isso foi muito importante para lembrar das mulheres que morrem de câncer nesse sistema de saúde socialista e chinfrim do Brasil.’

Para Babi Xavier: ‘Seus namoros não deram certo, Babi. Mas você dá.’ Depois: ‘A Babi esconde o seio porque é muito volumoso. Isso é mania de adolescente.’

Ele ainda ironizou Hortência por suas plásticas: ‘Nossa, Hortência, você ficou mais bonita com o tempo. Você precisa contar o segredo pro povo. O que você fez?’

Mas o momento mais constrangedor aconteceu em um diálogo com Faustão. O apresentador do programa disse: ‘Às vezes a cantora não pode cantar porque está menstruada.’ Ao que o convidado respondeu: ‘Só se ela cantar com a outra boca.’

Por fim: Faustão fez propaganda eleitoral gratuita para Clodovil, ao anunciar que o colega vai sair candidato a deputado federal pelo Partido Trabalhista Cristão. Clodovil, cristão?’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

O Globo – 1

O Globo – 2

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