Thursday, 18 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1283

Nova TV pública não será chapa-branca, diz Lula


Leia abaixo os textos de sexta-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Sexta-feira, 30 de março de 2007


GOVERNO LULA
Eduardo Scolese e Ranier Bragon


Rede de TV pública não será ‘chapa-branca’, afirma Lula


‘Ao encerrar ontem a primeira reforma ministerial após a reeleição, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou que uma das plataformas de seu segundo mandato será a criação de uma rede pública de rádio e televisão. A idéia, segundo o petista, é que essa TV nacional adote um modelo de jornalismo imparcial. ‘A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la’, disse.


Lula, que passou seu primeiro mandato alternando fortes críticas e alguns elogios à imprensa, disse que a idéia é criar uma ‘coisa séria’, distante, segundo ele, do chamado jornalismo ‘chapa-branca’. Ou seja, daquele modelo estatal apenas de noticiário pró-governo.


‘Eu sonho grande. Sonho com uma coisa quase 24 horas por dia. Não sei se a gente vai conseguir construir. E que não seja uma coisa chapa-branca, porque a chapa-branca parece bom, mas enche o saco. Gente puxando o saco não dá certo’, disse, no Planalto, na cerimônia de posse de ministros.


Lula deu posse ontem a Alfredo Nascimento (Transportes), Miguel Jorge (Desenvolvimento), Franklin Martins (Comunicação Social), Luiz Marinho (Previdência) e Carlos Lupi (Trabalho). Marinho trocou o Trabalho pela Previdência mesmo com a pressão feita um dia antes por centrais sindicais, lideradas pela CUT, para que permanecesse no cargo.


Num discurso de improviso, recheado de piadas e exaltações históricas a seu governo, a citação à idéia de uma rede pública de TV ocorreu no momento em que colocou a ‘tarefa gigantesca’ que Franklin Martins terá na nova Secretaria de Comunicação Social, da qual a Radiobrás (rede estatal de comunicação) será subordinada.


‘Temos que fazer uma coisa séria, não é uma coisa para falar bem do governo ou para falar mal do governo, é uma coisa para informar. A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la’, disse, citando a TV Cultura, do governo paulista, como exemplo de boa programação.


Ainda sobre o tema, Lula disse que o objetivo é criar uma opção diante das redes privadas, oferecendo oportunidade de assistir a programas educativos em diferentes horários. ‘Se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa.’


Para Franklin, a britânica BBC e a francesa TV5 podem servir de exemplos. ‘Ela [rede pública] pode fazer programações e pode entrar em áreas que outras TVs abertas muitas vezes não podem entrar porque trabalham em uma escala de concorrência muito grande.’


Fim da reforma


Ontem, cinco meses depois da reeleição, Lula concluiu a primeira reforma ministerial deste mandato. O presidente mexeu em 11 pastas e ampliou de 34 para 36 os cargos com status de ministro, incluindo as secretarias de Comunicação Social e de Portos, que ficará com Pedro Brito (PSB).


Na segunda-feira, no Planalto, Lula reunirá todo o primeiro escalão do governo. Entre eles, estarão os petistas Waldir Pires (Defesa) e Guilherme Cassel (Desenvolvimento Agrário).


No caso do primeiro, Lula deseja substituí-lo mais para frente, a qualquer sinal de esfriamento da crise aérea. O presidente não quer carimbá-lo como o ministro responsável pelo apagão no aeroportos.


Já o segundo foi confirmado ontem pela manhã. Cassel permanece pela falta de opção do presidente, que não conseguiu convencer Miguel Rossetto (PT-RS) a retornar ao Desenvolvimento Agrário.


O novo mapa político da Esplanada mostra o PT com o mesmo número de pastas (16), seguido por PMDB (5) e PSB (2). PC do B, PDT, PP, PR, PTB e PV têm um ministro cada um. Outros sete titulares não têm filiação partidária.’


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Franklin quer ‘normalizar’ relação com mídia


‘Momentos depois de assumir a Comunicação Social da Presidência da República, Franklin Martins afirmou que governo, oposição e imprensa passaram por uma ‘crise política monumental’ e que agora é hora de estabelecerem uma ‘relação menos defensiva’.


Ao declarar que Luiz Inácio Lula da Silva dará entrevistas coletivas ‘em um momento ou outro’, o novo ministro rebateu a afirmação de que o governo tenha intenção de ‘ideologizar’ a imprensa.


‘Ao contrário, saímos de uma crise política monumental na qual as instituições funcionaram plenamente e a imprensa publicou absolutamente tudo o que quis’, afirmou, acrescentando: ‘A relação do governo com a mídia deve ser mais fluída, mais tranqüila, mais profissional, menos defensiva. Essa disposição existe no governo.’


Franklin, que nos últimos anos foi comentarista político de redes de TV, disse que as eleições serviram como um ‘freio de arrumação’ nos lados envolvidos. ‘A campanha eleitoral deixou claro que o povo brasileiro quer um debate qualificado das questões públicas, não quer um debate de baixo nível, de acusações. Toda vez que um candidato tentou baixar o nível na campanha, caiu nas pesquisas; toda vez que um candidato recusou um debate na campanha [Lula faltou ao último realizado pela TV Globo no primeiro turno], caiu nas pesquisas’, afirmou.


O novo ministro disse ainda que não cuidará ‘de cotidiano de publicidade, de agência, de licitação’ e que, agora passou de ‘estilingue a vidraça’.


Depois da posse, Franklin recebeu a transferência da função do até então secretário de imprensa e porta-voz André Singer. ‘Me sinto orgulhoso de ter feito essa relação melhorar [com a imprensa]. Tenho orgulho, enquanto cidadão, enquanto militante político, de ter dado uma modesta contribuição para um governo que ajudou o Brasil a se tornar mais justo’, disse Singer.’


FRIAS HOMENAGEADO
Folha de S. Paulo


Publisher da Folha é homenageado no Prêmio Senai de Reportagem


‘O empresário e publisher da Folha, Octavio Frias de Oliveira, foi homenageado anteontem à noite na cerimônia de entrega do Prêmio Senai de Reportagem de 2006, realizada em Brasília.


O prêmio Senai existe há cinco anos e incentiva reportagens sobre educação profissional e tecnológica em favor do desenvolvimento de todas as áreas produtivas, em especial da indústria. Na edição deste ano, pela primeira vez, foi escolhida uma personalidade da mídia para ser homenageada.


O Prêmio Especial Senai de Reportagem para Octavio Frias de Oliveira foi entregue pelo presidente da CNI (Confederação Nacional da Indústria), o deputado Armando Monteiro Neto (PTB-PE). O troféu foi recebido pelo diretor de Redação da Folha, Otavio Frias Filho.


Monteiro Neto descreveu a homenagem a Octavio Frias de Oliveira como um reconhecimento a ‘grandes nomes da imprensa brasileira, que se notabilizaram pelas suas trajetórias de vida dedicadas à defesa da liberdade de imprensa e da democracia’.


Na solenidade, foi exibido um vídeo de sete minutos abordando a carreira do empresário. Personalidades e jornalistas deram depoimentos. Falaram, entre outros, Antônio Ermírio de Moraes, Abílio Diniz, João Roberto Marinho e Janio de Freitas.


O Senai (Serviço Nacional de Aprendizagem Industrial) integra um sistema da CNI e das Federações das Indústrias dos Estados. O prêmio principal escolhido entre 140 trabalhos inscritos neste ano foi para ‘Educação sem fronteiras’, reportagem produzida pelo site JC Online, ligado ao grupo de comunicação Sistema Jornal do Comércio, de Pernambuco.


A reportagem é de Inês Calado e Gustavo Belarmino, que receberam um prêmio de R$ 20 mil. Eles fizeram uma viagem de 3.000 km por Pernambuco e retrataram iniciativas educacionais que colaboram para o crescimento dos pólos de desenvolvimento do Estado.


Foram premiados outros cinco trabalhos nas categorias impresso, televisão, fotojornalismo, radiojornalismo e universitária.’


TODA MÍDIA
Nelson de Sá


Exuberância irracional?


‘‘Besieged’, sitiado, segundo a ‘Economist’, George W. Bush reage com comédia ‘stand-up’. Em destaque do ‘New York Times’ à BBC Brasil, fez até ‘piada sobre etanol’ no tradicional jantar dos correspondentes. Já abriu a cena dizendo que ‘há muito álcool sendo consumido aqui hoje’ e, ‘quando falei em reduzir a dependência de petróleo, me referia ao etanol’. Bem que ele preferia tratar de álcool e não, por exemplo, dos procuradores que demitiu. Até porque na frente econômica, só ontem na home do ‘Wall Street Journal’, dois destaques tratavam do ‘boom do etanol’. E o blog Energy Roundup já se perguntava se a ‘euforia dos investidores com o etanol brasileiro’ não é uma ‘exuberância irracional’, de ‘alturas ilógicas’.


A capa de ontem do ‘Granma’, tomada pelo editorial


À MORTE


Sob o título ‘Condenadas à morte prematura por fome e sede mais de 3 bilhões de pessoas no mundo’, Fidel Castro, de volta às ‘reflexões do comandante’, usou seu jornal para atacar a prioridade de Bush ao etanol e ao biodiesel, a partir de despacho da AP, citado extensivamente. Ecoou dos americanos ao ‘Guardian’ e à Folha Online, mas o ditador tratou de resguardar Lula ao dizer que a ‘tragédia’ vai ser evitada em Cuba, ‘independentemente da excelente tecnologia brasileira para produzir álcool’. Evitou citar Hugo Chávez, seu inspirador. Não por acaso, a Reuters Africa noticiou ontem que o ‘Banco Mundial vai ajudar o Brasil a exportar tecnologia de etanol’.


CONCESSÕES


Não se restringe ao etanol a conversa em Camp David. De Londres, em despacho da Dow Jones, o ministro Gordon Brown já cobrou dos EUA ‘mais concessões em política agrícola’ para o sucesso da rodada Doha.


‘PARA VALER’


Bill Rhodes, do Citibank e ex-negociador da dívida externa brasileira, volta a avisar, agora no ‘Financial Times’, que ‘uma correção do mercado mundial está para acontecer, desta vez para valer’.


1 TRILHÃO


De repente, o Brasil e sua economia voltam a maravilhar o mundo. Reportagem da correspondente Annie Gasnier, ontem no ‘Le Monde’, trouxe por título ‘O Brasil no clube dos países com mais de US$ 1 trilhão de PIB’.


8 MILHÕES


Não mais que de repente, também Juan Arias, do ‘El País’, aparece com o título ‘Oito milhões de brasileiros saíram da pobreza extrema no ano passado’. Foram ‘do inferno à classe média baixa’.


No ‘WP’, carro leva corpo de miliciano morto


INFLUÊNCIA POLÍTICA


Em duas colunas na primeira página do ‘Washington Post’ de anteontem, ‘Nas favelas do Rio, milícias estimulam a violência que querem sufocar’. A longa reportagem de Monte Reel abre com a execução de um policial ‘líder de unidade das milícias’ -e retrata uma cidade onde os milicianos avançam ‘seguidos pela violência’, cobrando por uma proteção ilusória e compulsória. Entre outros registros, à semelhança da Colômbia, eles ‘estão construindo influência política conforme se expandem’.


BEREZOVSKY LÁ


Foi destaque no ‘Guardian’. O milionário exilado ‘Boris Berezovsky será ouvido por detetives russos’ sobre a morte de um ex-espião da KGB. ‘Arquicrítico do presidente Vladimir Putin’, ele só concordou após os russos aceitarem ser revistados antes atrás de ‘veneno’.


E AQUI


O tablóide ‘Daily Express’ especula se Berezovsky, Badri Patarkatsishvili e outros investidores querem comprar o clube Arsenal, que nega. O tablóide traz, como frase de Patarkatsishvili: ‘Nós investimos, com Berezovsky, num clube maravilhoso no Brasil, Corinthians’.’


ESPANHA
Folha de S. Paulo


Em sabatina, Zapatero erra preço de cafezinho, mas tenta se corrigir


‘O senador Eduardo Suplicy (PT-SP) e o presidente do governo espanhol, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, têm pelo menos uma coisa em comum: enroscaram-se, diante das câmeras de TV, em perguntas sobre trivialidades do cotidiano de mortais comuns.


Suplicy caiu em 1985, em debate durante a campanha para a Prefeitura paulistana. O mediador, Boris Casoy, quis saber o preço do pãozinho. O petista não tinha idéia ou tinha idéia errada.


A vez de Zapatero foi quarta-feira. Em sabatina no Canal 1 (estatal) da TV espanhola, com perguntas feitas por cem cidadãos comuns, o corretor de imóveis Jesús Cerdán, 51, perguntou o preço do cafezinho. ‘Oitenta centavos [de euros]’, não titubeou Zapatero (o equivalente a R$ 2,24).


‘Esse era o preço no tempo do avô Patxi, hoje não’, contestou Cerdán, irônico.


Mas as semelhanças entre homens públicos brasileiros e espanhóis terminam aí. Os governantes na Europa em geral são compelidos a prestar contas ao público, por meio de entrevistas ou sabatinas como a de quarta-feira.


Essa cultura é tão arraigada que Zapatero não se conformou com o erro. No dia seguinte, foi à cafeteria do Parlamento espanhol, pediu um café e pagou 70 centavos.


Deu-se até ao luxo de ironizar: ‘Em León (sua cidade natal), custa menos ainda’.


Aí, é razoável supor que voltem a se cruzar os hábitos espanhóis e brasileiros: a cafeteria das Cortes certamente goza de subsídios, porque o preço mais corrente do cafezinho tomado no balcão, nas cafeterias frequentadas por mortais comuns, é de 1,20 euro (ou R$ 3,36), 50% a mais do que era no ‘tempo do avô Patxi’.’


TELECOMUNICAÇÕES
Folha de S. Paulo


Internet sem fio deve ter nova licitação, afirma Anatel


‘A Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) deverá fazer um novo edital para licitação do serviço de provimento de acesso à internet em alta velocidade sem fio (tecnologia WiMax). O processo anterior estava paralisado pelo TCU (Tribunal de Contas da União).


Em entrevista ao noticiário especializado ‘TelecomUrgente’, o presidente da agência reguladora, Plínio de Aguiar Júnior, afirmou que o edital estava com complicações e precisava ser refeito. A assessoria de imprensa da Anatel confirmou o teor da entrevista, mas ressaltou que era uma opinião do presidente, e não uma decisão do conselho diretor.


Em setembro de 2006, a licitação foi interrompida durante a sessão de entrega de proposta por determinação do TCU. O tribunal apontou erros nos critérios para formação de preço mínimo de venda das freqüências. Por causa desses erros, segundo o tribunal, o preço mínimo teria ficado R$ 23 milhões inferior ao que deveria ser.


Além da restrição do TCU, a Anatel mantinha a licitação em suspenso por conta de uma decisão liminar da Justiça que garantia às concessionárias de telefonia fixa o direito de participar do leilão, comprando faixas de freqüência em sua área de atuação.


No edital que estava suspenso, as empresas de telefonia fixa local estavam proibidas de apresentar propostas de compra de faixas de freqüência nas áreas onde atuam como operadoras fixas. Ou seja, pelas regras do edital, a Telefônica, por exemplo, não poderia comprar freqüências para oferecer acesso à internet em banda larga sem fio no Estado de São Paulo. A tele estaria liberada, no entanto, para comprar freqüências em outros locais.


O ministro Hélio Costa (Comunicações) disse que a agência reguladora deveria esperar pelos novos diretores (embaixador Ronaldo Sardenberg, já aprovado no Senado, e Antônio Bedran, que ainda será sabatinado) para analisar a questão.


Segundo o ministro, no novo edital, a agência poderá reservar um espaço na faixa de freqüência para que o governo possa fazer programas de universalização do acesso à internet. ‘Nós estamos empenhados para que a nova licitação seja lançada o mais rapidamente possível. A nova licitação vai corrigir os vícios de origem que existiam na primeira proposta’, disse Costa.


Ele afirmou não saber se, com a mudança, as concessionárias de telefonia fixa poderão oferecer o serviço de banda larga sem fio em sua área de concessão. Ainda de acordo com ele, caso a Anatel não dê ao governo um pedaço das faixas de freqüência, o governo vai buscar outra solução.’


CRÔNICA
Carlos Heitor Cony


Redundância e chatice


‘TENHO UM amigo, o Artur da Távola, que durante anos manteve uma coluna diária sobre televisão, muito lida por sinal, não era informativa, mas opinativa, comentava o que hoje chamam de ‘conteúdo’, desprezando o dia-a-dia das fofocas, quem estava dando para quem, quem ia dar para dar quem etc.


Eu admirava a sua onisciência sobre as novelas em exibição, nunca menos de três, nos vários canais das TVs abertas de então. Tinha a impressão de que ele acompanhava todos os capítulos de todas elas.


Um dia, perguntei-lhe se ele assistia a uma e gravava as outras para assistir depois, quando tivesse tempo para isso. Não, não tinha tempo, além de jornalista, era político, chegou a senador. Mas explicou como dava conta do recado. Em média, uma vez por semana assistia a um capítulo da novela tal e assim ficava atualizado não apenas com as tramas mas com os desempenhos.


Do Távola e das novelas passo para mim mesmo e para a paisagem geral do nosso tempo, que inclui uma variedade espantosa de tramas e desempenhos tanto no setor nacional como no internacional. Um problema de saúde que se agravou de repente impediu-me, durante mais de três meses, de ler jornais e revistas, ver noticiários da TV; fiquei completamente por fora, embora nunca tenha estado muito por dentro de nada, por falta de tempo e de interesse.


Quando retornei à atividade, por Júpiter!, nada havia mudado. O presidente da República era Lula tentando se reeleger. Três meses depois, era Lula já reeleito. A guerra civil no Iraque continuava, com Bush mandando mais soldados para lá. Os ministros, que antes pareciam provisórios, continuavam provisórios até a semana passada. A violência urbana, mortos e feridos, as balas perdidas, as taxas do crescimento nacional, o volume das exportações, o papa repetindo o que a igreja diz há 20 séculos, os novos caminhos das diversas bandas em atividade, mais uma vitória da Beija-Flor no Carnaval, a polêmica sobre a necessidade de penas mais severas para crimes hediondos e os próprios crimes hediondos -tudo parecia o mesmo.


Lembrei lá em cima o Artur da Távola e lembro agora o finado Rubem Braga, cronista maior de nossa imprensa. Ele passou uns meses fora do Brasil e, quando voltou, a única novidade que encontrou foi o cigarro Hollywood com filtro. Na minha volta, nem isso encontrei; pelo contrário, encontrei menos cigarros com ou sem filtro, eu próprio deixei de fumar -o que pelo menos foi uma novidade no plano pessoal.


Mesmo assim, por necessidade profissional, voltei a ler jornais e a ver noticiários, mesmo sabendo que as coisas continuavam mais ou menos as mesmas. As mudanças são pontuais, caras substituídas por outras, mas os discursos são os mesmos, os veículos da mídia acabam redundantes, não por gosto ou incapacidade técnica, mas para serem fiéis ao que está acontecendo, que na realidade é a mesma coisa que aconteceu antes e acontecerá depois.


Se nas novelas há sempre o filho que não é filho daquela mãe, se há o pai que não sabe ser o pai, se há herança para ser disputada e segredos que não serão revelados, na vida real as coisas podem não ser iguais, mas se repetem com uma monotonia que, além da redundância, caem na chatice institucional.


De várias formas e estilos, lê-se que o Brasil não tem jeito, somente aqui acontecem essas coisas, a classe política é despreparada, a corrupção é premiada e esquecida, o Caetano Veloso acha isso, um dossiê está sendo preparado para botar o Maluf outra vez na cadeia, Romário está em busca de seu milésimo gol.


A redundância se estende aos formadores de opinião, que se manifesta em análises e prognósticos que pouco variam. Outro dia, um aluno de comunicação colocou um grave e impossível problema para mim. Se eu fosse dono de um jornal e tivesse de dar uma manchete na capa, qual seria esta manchete? A cura do câncer? A paz universal? Elvis Presley não morreu? Foram encontrados os ossos de Dana de Teffé?


Meditei bastante antes de dar a resposta. A hipótese – ser dono de um jornal- era mais do que improvável. Mas o desafio fora lançado e eu saí com esta novidade: ‘O Titanic acaba de afundar’.’


TELEVISÃO
Daniel Castro


Público reprova sexo e pede mais vilania em ‘Paraíso’


‘Pesquisa realizada pela Globo em São Paulo nesta semana, com cinco grupos de discussão, mostra que os telespectadores rejeitaram as cenas de sexo de ‘Paraíso Tropical’, novela das oito que registra a mais baixa audiência do horário _anteontem, marcou só 35 pontos.


No geral, a receptividade à novela ‘foi ótima’, segundo Ricardo Linhares, que divide a trama com Gilberto Braga. Não houve rejeição à escalação do elenco nem à temática da prostituição e do turismo sexual. ‘Elas [as telespectadoras] acham o tema pertinente, porque a novela as ajuda a entender o assunto’, conta Linhares.


O público gostou inclusive da atuação de Camila Pitanga como a prostituta Bebel (‘uma batalhadora, guerreira’), mas pediu para a Globo não mostrar cenas de intimidade entre casais. ‘Adoraram o bordel, mas só o salão. Não gostaram de ver Bebel em cenas de sexo com clientes, tirando o sutiã.’


A pesquisa também mostrou que a Globo errou ao repetir a paisagem de ‘Páginas da Vida’. ‘[As telespectadoras] acham o Rio lindo, mas gostariam de variar de cenário’, diz Linhares.


Outra decepção foi com a demora para a entrada da gêmea má, Taís (Alessandra Negrini), na história. ‘Elas gostariam de ver a novela centrada nas gêmeas desde o início. A disputa entre duas mulheres empolga mais do que a de dois homens [Daniel/Fábio Assunção contra Olavo/Wagner Moura].’


O encontro de Taís e Paula só irá ao ar no capítulo 40. Mas Linhares e Braga resolveram antecipar um triângulo entre Taís, Daniel e Paula. Taís irá disputar Daniel com a irmã. Como será rejeitada, depois tentará se passar por Paula.


Outra mudança na história, a pedido dos telespectadores, será o aumento de cenas cômicas, principalmente entre os moradores do edifício Copamar.


Os autores da novela ficaram impressionados com o pedido do público por mais vilania. ‘Há uma torcida maior pelos vilões do que pelos mocinhos. Acham que os vilões esquentam a novela. Mas, no final, são moralistas e conservadores: o mal tem que ser punido, e o bem, triunfar’, diz Linhares.


TUNING O Discovery Channel está gravando em São Paulo, em um salão de acessórios para carros, um episódio da série ‘Rides’, que mostra a transformação de veículos. No episódio, que só irá ao ar em novembro, um Chevrolet Astra será ‘tunado’.


SEM LIMITE Rendeu 9,3 pontos ao SBT, anteontem, a estréia do constrangedor ‘Sem Controle’, com atores de filmes pornôs. Já a estréia do ‘reality show’ ‘Ídolos’ marcou 7,6. E ‘Maria Esperança’ ‘reagiu’: deu 4,7.


LIQUIDIFICADOR A novela ‘Luz do Sol’, da Record, nem bem entrou no ar e já está tendo seus capítulos reeditados, numa tentativa de melhorar sua audiência. Anteontem, foram ao ar cenas que só seriam exibidas hoje.’


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O Estado de S. Paulo


Sexta-feira, 30 de março de 2007


GOVERNO LULA
Tânia Monteiro e Leonencio Nossa


Lula quer TV pública que não piche


‘Ao dar posse a cinco novos ministros, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva definiu em discurso modelo que deseja para a TV pública de seus sonhos: que não ‘piche’ e trate de educação e informação, sem perfil ‘chapa-branca’ e que funcione initerruptamente. E anunciou sua próxima meta: ‘Uma rádio nacional’, preparada ‘para falar as coisas para o Brasil inteiro’.


Dirigindo-se ao novo ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social, Franklin Martins, Lula pediu empenho no desenvolvimento da proposta de uma TV pública educativa – cuja implantação deve custar R$ 250 milhões – e afirmou que ela fará o que a TV privada não faz, operando ininterruptamente. ‘Eu sonho grande. Eu sonho com uma coisa quase 24 horas por dia’, e ‘que não seja chapa-branca’, disse. ‘Chapa-branca parece bom, mas enche o saco. E gente puxando saco não dá certo. A gente tem de fazer uma coisa séria. Não é uma coisa para falar bem do governo ou falar mal, é uma coisa para informar.’


Lula, que teve o primeiro mandato marcado por divergências com os meios de comunicação, disse que a política que será desenvolvida por Franklin deve tratar a informação com seriedade: ‘A informação tal como ela é, sem pintar de cor-de-rosa, mas também sem pichá-la.’


POSSE


Na solenidade de ontem, além de Franklin Martins, na Comunicação Social, o presidente empossou Luiz Marinho, na Previdência; Carlos Lupi, no Trabalho; Miguel Jorge, no Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, e Alfredo Nascimento, nos Transportes.


No discurso, Lula se referiu à proposta de criação de uma rádio nacional como um novo objetivo. ‘Eu também sonho que a gente possa até ter uma rádio nacional’, comentou. ‘É mais difícil, mas vamos tentar, não custa nada, falar as coisas para o Brasil inteiro.’


Lula disse que a TV pública deve atuar em parceria com emissoras de outros Poderes, como a TV Senado e a TV Câmara, as educativas dos Estados e as públicas já espalhadas pelo País. ‘Não vamos inventar a roda’, afirmou ele, explicando que a proposta é garantir que as pessoas possam fazer cursos de inglês, matemática, espanhol e português ao meio-dia, 9 horas da manhã, e não de madrugada, e possam também assistir a uma peça teatral pela TV, por exemplo.


AUDIÊNCIA


‘Se vai ter meio ponto de audiência ou zero, não me interessa. O que interessa é ter uma opção para quem quiser ter acesso a uma coisa de muita profundidade’, ressaltou, informando que o objetivo dessa TV não é competir. ‘Só queremos somar, só queremos criar oportunidade para que, do Oiapoque ao Chuí, as pessoas possam ver as coisas.’


O presidente contou que ‘precisava renovar o setor de comunicação’. ‘Franklin, eu estou depositando uma expectativa muito grande, porque nós vamos criar coisas diferentes, além da publicidade, além dos patrocínios, além de cuidar da imagem do governo, além da Radiobrás, que estará subordinada a todo o esquema.’’


Tânia Monteiro


‘Não é chapa branca, é TV plural e para o Brasil se ver’


‘O novo ministro-chefe da Secretaria da Comunicação Social, Franklin Martins, informou ontem que não há um projeto acabado para a nova TV pública, mas adiantou que ela não será partidária e não terá comerciais. Ele espera que em até 90 dias o tema comece a ser debatido com a sociedade e, até o fim do ano, A TV entre em funcionamento. Franklin rebateu críticas sobre a decisão do governo de colocar imprensa e publicidade sob a mesma administração, lembrando que isso existe nos jornais e não há interferência. A seguir, os principais trechos da sua entrevista:


Como é o projeto da TV pública?


Não existe ainda um projeto formatado, pronto e acabado. Há uma discussão de governo, com princípios gerais de que a TV pública, não é uma TV do governo, é uma TV plural, não é uma TV partidária, é uma TV que busca ir além do que uma TV comercial vai, porque esta busca lucro e escala de audiências, não entra em uma série de áreas onde a TV pública pode entrar. A TV pública é algo que vai ser feito partindo do que já existe, evidentemente qualificando, vitaminando, robustecendo o que já existe. Espero que, nos próximos 60 dias, 90 dias, o governo tenha uma posição para que se comece a discutir com a sociedade. O presidente deixou claros alguns conceitos: é TV pública, não estatal, é TV que não é chapa branca, é TV plural e para o Brasil inteiro se ver nela.


Vai ter integração com as TVs existentes? A base será a Radiobrás?


A idéia é partir delas. O que existe é muito pouco, mas é importante, é uma base. Agora, exatamente como vai ser o formato, não está definido. Você tem Radiobrás, tem TV Nacional, TVs educativas, um sistema de várias TVs estaduais, culturais educativas, que atingem regiões restritas, mas farão parte deste projeto. A partir disso aí, discutindo, vai se formatar o caminho. Existe uma definição conceitual, filosófica, de fundo, sobre o que queremos, mas como vamos chegar lá vai ser discutido agora.


Quando começaria a funcionar?


Não tem prazo marcado, mas acredito que a gente pode estar trabalhando em algo ainda para este ano, final deste ano.


Como fazer para não ser TV chapa branca?


Discutindo. No formato chapa branca, o governo decide tudo. No mundo todo, existem TVs públicas que chegaram ao formato que não são chapa branca. Vamos aproveitar as experiências existentes no mundo.


Ela vai ter financiamento público?


Terá. Provavelmente terá financiamento também de apoios vendidos junto à iniciativa privada. Mas não é comercial, porque ela não terá comercial. Agora, tudo isto está em discussão.


O governo, Lula, às vezes, é acusado de ideologizar a questão da imprensa…


Precisa primeiro dizer o que é ideologizar a imprensa. A imprensa goza de absoluta liberdade. Fala o que quer e deve ser responsável pelo que ela fala e isso é da lei. Não vejo por parte do governo Lula nenhuma tentativa de ideologizar a imprensa. Ao contrário.


Como pretende acabar com o ruído que existe com a imprensa?


Isso é outra coisa. Eu acho que saímos de uma crise política brutal e, em alguns momentos, selvagem. Isso deixou traumas no governo, na oposição e na imprensa. Acho que a relação do governo com a imprensa deve ser mais fluida, mais tranqüila, mais profissional, menos defensiva e acho que esta disposição existe no governo. E acho que a imprensa, da mesma forma que o governo, a oposição, todo mundo sofreu um freio de arrumação com a campanha eleitoral. Esta campanha não apenas elegeu o presidente, mas deixou claro que o povo brasileiro quer um debate qualificado das questões públicas. Ele não quer debate de baixo nível e de acusações.


Imprensa e publicidade juntos não é divergente?


Como diz Guimarães Rosa, viver é perigoso, tem risco. Agora, publicidade e imprensa juntos existe nos jornais. O seu jornal, por exemplo, tem área de redação e área comercial, respondem a um mesmo dono, a uma mesma diretoria e não estão misturados. Sei disso porque conheço. Nós jornalistas sempre pulamos quando há interferência ou pretensão de interferência da área comercial na redação. Aprendemos a fazer isso e eu quero fazer isso.


TV Pública é dinheiro bem gasto?


Espero que vocês cobrem depois se foi bem gasto. Isso é sempre relativo. Muita gente diz que com este dinheiro dava pra construir 400 quilômetros de estrada. Pode ser verdade, mas será que cultura não tem importância? Democracia é importante, pluralidade é importante. Isto não tem preço.’


Renato Cruz


Ex-ministro rebate críticas de Costa à privatização no setor de telecomunicações


‘O ex-ministro das Comunicações, Juarez Quadros do Nascimento, discorda do atual responsável pela pasta, Hélio Costa, para quem o governo vendeu a rede pública de telecomunicações ‘a preço de banana’ na privatização do Sistema Telebrás em 1998. ‘Talvez o ministro não esteja bem assessorado’, disse Quadros, que esteve à frente do ministério no último ano do governo Fernando Henrique Cardoso.


Quadros lembrou que os ativos ligados à concessão não pertencem às empresas privadas, pois são reversíveis à União. ‘O governo concedeu o direito de explorar o serviço, mas não abriu mão da propriedade das redes’, explicou o ex-ministro.


Na segunda-feira, Costa disse à Comissão de Ciência e Tecnologia da Câmara: ‘Quando vendemos a preço de banana as nossas companhias na privatização, vendemos nossa rede pública. Em uma emergência, se o presidente quiser fazer rede nacional, temos que pedir licença no México.’ A Embratel, que pertence à mexicana Telmex, preferiu não comentar as declarações.’


TELECOMUNICAÇÕES
Gerusa Marques


Anatel prepara nova licitação de WiMax


‘O ministro das Comunicações, Hélio Costa, informou ontem que a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) fará uma nova licitação das licenças de banda larga sem fio (WiMAX). Segundo ele, as novas regras devem atender às exigências feitas pelo Tribunal de Costa da União (TCU), que, em setembro do ano passado, suspendeu a licitação em curso. O TCU encontrou defasagem no preço mínimo das licenças, o que poderia causar prejuízo de R$ 23 milhões à União.


‘Nós estamos, primeiro, empenhados em que realmente a nova licitação seja lançada o mais rapidamente possível’, disse Costa, depois de assinar acordo de cooperação com o Ministério do Meio Ambiente para levar internet a 150 aldeias indígenas. ‘Já estamos há vários meses aguardando uma decisão, e ela, certamente, vem corrigir os vícios de origem que existiam na primeira proposta e que acabaram levando o TCU a praticamente impedir a realização da licitação como ela foi feita.’


O ministro não soube dizer o que será modificado nas novas regras – se será apenas o preço mínimo ou se haverá outras novidades. Também não informou quais serão as condições de participação das concessionárias de telefonia fixa. Pelo edital anterior, as teles estariam impedidas de concorrer às licenças nas suas áreas de concessão. Elas recorreram à Justiça e obtiveram, no ano passado, liminar para participar amplamente da licitação.


Costa defendeu que, na nova licitação, algumas das freqüências que serão leiloadas sejam reservadas para programas do governo de inclusão digital. ‘O que estamos propondo é que na faixa de 3,5 gigahertz a gente possa ter um espaço reservado para políticas públicas.’


TELEVISÃO
Cristina Padiglione


Ritmo inibiu ibope


‘Em busca de um diagnóstico que explique a baixa audiência – para o padrão Globo, bem entendido – de Paraíso Tropical, a emissora realizou esta semana rodadas de pesquisa com grupos de discussão de telespectadores.


Não se denunciou então qualquer rejeição a tema, personagem ou música – uma das suspeitas era de que o telespectador antes entediado com Páginas da Vida não dissociava uma novela da outra porque a trilha sonora e o cenário têm semelhanças.


Deu-se, sim, o contrário: as pessoas habituadas à lenta narrativa de Manoel Carlos não assimilaram o ritmo acelerado de ações em Paraíso.


‘De modo geral, as reuniões mostraram que a primeira semana da novela pareceu rápida demais à maior parte das participantes, o que justifica a audiência abaixo do que esperávamos’, conta-nos o autor Gilberto Braga. ‘Pouco a pouco, no entanto, elas foram se interessando cada vez mais. Portanto, nada parece precisar de correção.’


Paraíso estreou com 41 pontos e chegou a despencar para 36, mas esta semana bateu nos 42. Braga conclui: ‘Não há rejeição nem a temas nem a personagens. Continuamos, portanto, a contar nossa história, como previsto.’


Record é líder entre mesas-redondas


Apesar de não ter os direitos de transmissão dos campeonatos Paulista e Brasileiro de futebol, a Record permaneceu na liderança entre as mesas-redondas de domingo com o programa Terceiro Tempo, de Milton Neves. A atração fechou o mês de março com 5 pontos de média de audiência. O concorrente Por dentro da Bola, da Band, registrou 3 pontos de média. Já os programas Mesa-Redonda, da Gazeta, e o Bola na Rede, da RedeTV!, encerraram o mês empatados com 2 pontos de média. Os dados são do Ibope e refletem a audiência na Grande São Paulo.


entre-linhas


Nova York está nos planos de gravação da próxima minissérie da Globo, sobre Maurício de Nassau. Não a cidade, mas sim um navio de época que lá está aportado e servirá de cenário para a produção.


Estréia amanhã na Band, às 12h40, o Olhar Oriental. Apresentado pela jornalista Mii Saki, o programa vai exibir uma série de documentários produzidos por emissoras japonesas sobre tecnologia, ecologia, esporte e cultura.


A Rádio Gaúcha entra hoje na NET Digital em São Paulo, Rio e Porto Alegre no canal 351.’


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