Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo


‘Chocante é o termo politicamente correto para definir a reação de qualquer cidadão brasileiro diante das filmagens feitas pelo governador de Rondônia, Ivo Cassol (PSDB), nas quais ele aparece como vítima de extorsão de seus interlocutores, todos mandatários do povo na Assembléia Legislativa de seu Estado. O primeiro grupo que apareceu nas imagens reproduzidas pelo programa dominical Fantástico, da Rede Globo de Televisão, era formado pelos deputados Ellen Ruth (PP), Ronilton Capixaba (PL) e Daniel Nery (PMDB). Estes pediram ao governador um pagamento mensal de R$ 50 mil, dizendo representar um grupo de dez deputados estaduais, e apresentaram um argumento forte para obter o que pleiteavam: ou o governador cedia ou ele não teria como governar. Apareciam ainda na fita os deputados Emílio Paulista (PPS), Amarildo Santos (PDT), João da Muleta (PMDB) e o vice-presidente da Assembléia, Kaká Mendonça (PTB).


A simples enunciação das siglas a que os interlocutores do governador pertencem serve para demonstrar que se trata de um bloco de partidos políticos (sete deputados de seis bancadas), todos com o objetivo comum de se locupletarem de seus mandatos de representação popular para enriquecer à custa do Erário. O cinismo do diálogo torna-se patente em observações como a que o deputado Capixaba fez para rebater a negativa do governador Cassol (que evidentemente sabia que estava sendo filmado, uma vez que era ele quem filmava) de que ele também estaria ‘levando o seu’. ‘Mas aí alguém leva como executor. Porque é de praxe. Você não vai consertar o mundo’, disse o deputado. E contrasta com o fervor cívico (e ético) com que os protagonistas dessa fita discursavam na tribuna da Assembléia, o que também foi exibido na reportagem da tevê.


A repercussão da atitude do governador provocou duas reações nos outros Poderes naquele Estado nortista. O Legislativo defendeu seus membros mandando a acusação de volta, como um bumerangue. Segundo os denunciados, o governador começou a ameaçar divulgar as gravações no fim de 2003, sempre que era contrariado pela Assembléia, mas só procurou a imprensa para isso depois de 21 de março, quando 20 deputados autorizaram o Superior Tribunal de Justiça (STJ) a processá-lo por formação de quadrilha e por fraudar licitações em favor de empresas ligadas a ele entre 1997 e 2002, quando era prefeito municipal de Rolim de Moura. Na denúncia, apresentada ao STJ pelo Ministério Público Federal, empresa que não tivesse alguma conexão com o então prefeito não vencia licitação nenhuma no município. Isso foi confirmado por adversários do governador que não aparecem na fita, caso do petista Nereu Klosinski, que denunciou: ‘Essas mesmas empresas continuam vencendo todas as licitações no governo. Cassol não se emendou.’ O governador atribuiu tais acusações a armações dos adversários.


No meio desse imbroglio, em que todos denunciam todos e apresentam argumentos aparentemente sólidos, levando a crer que esta não é uma história de mocinhos e bandidos, mas apenas destes, o Poder Judiciário também deu uma mãozinha à confusão geral: liminar concedida pelo desembargador Gabriel Marques proibiu a Rede Amazônica, afiliada da Globo na região, de levar ao ar as imagens e diálogos sobre o escândalo. A censura (além de tudo discriminatória, uma vez que se limitou a Rondônia), classificada de ‘lamentável’ pelo procurador-geral da República, Cláudio Fonteles, foi o estopim que inflamou a indignação popular. Na noite de domingo, manifestantes arriaram as bandeiras do Brasil, de Rondônia e da capital, Porto Velho, hasteadas à frente da Assembléia e jogaram ovos em sua fachada. No dia seguinte, repetiram-se os protestos naquele local e diante do Tribunal de Justiça. Na terça-feira, a primeira sessão da Assembléia Legislativa após as denúncias foi interrompida por uma tentativa de invasão do plenário pela população irada. Um manifestante jogou uma bomba de fabricação caseira. A polícia teve de dar tiros para o alto e recorrer a bombas de gás lacrimogêneo.


A censura à tevê foi derrubada e a pressão popular levou a Assembléia a abrir sindicância e afastar os sete envolvidos, mas a indignação é tal que nem isso impediu novas manifestações. Rondônia é o primeiro Estado da Federação onde o povo chamou a si o combate à corrupção. Já imaginou se a moda pega no resto do Brasil, hein?’



GESTÃO SERRA


Folha de S. Paulo


‘Para sindicato, prefeitura faz ‘escandalização’’, copyright Folha de S. Paulo, 20/05/05


‘Levantamento feito por auxiliares do prefeito José Serra (PSDB) aponta um crescimento de mais de 1.000% no número de licenças médicas de até sete dias tiradas por servidores municipais, na comparação entre 2002 e 2004.


O salto ocorreu após a edição de decreto em julho de 2002 que tornou válidas licenças emitidas por qualquer médico da capital, desde que o período de afastamento não ultrapasse sete dias.


Antes, os funcionários da prefeitura só podiam justificar suas faltas em caso de doença com licenças emitidas pelo DSS (Departamento de Saúde do Servidor), antigo Desat, ou pelo Hospital do Servidor Público Municipal.


O número de tais licenças variava entre 5.000 e 7.000 até 2001. Em 2002, ano da edição do decreto, foram tiradas 9.010 licenças de até sete dias por razões médicas, segundo números da administração Serra. Em 2003, as licenças saltaram para 47.689. No ano passado, o número chegou a 105.539.


Na rede municipal de ensino, o número de professores que tiraram licenças médicas até sete dias passou de 6.359 em 2002 para 84.949 no ano passado -a rede tem 54 mil professores.


Por conta desse aumento, Serra estuda anular o decreto da antecessora, Marta Suplicy (PT). Não pretende, porém, adotar o modelo anterior ao decreto, pois a limitação dos locais autorizados em emitir as licenças causava filas e demora para os servidores.


As licenças de mais de sete dias -para as quais ainda só são aceitas receitas do antigo Desat e do Hospital do Servidor Público- também aumentaram, mas não na mesma proporção, levando em conta todos os servidores.


Em 2002, foram tiradas 16.258 licenças com período superior a sete dias. No ano passado, 32.476.


‘Escandalização’


Segundo o presidente do Sinpeem (sindicato dos profissionais de educação do município), Cláudio Fonseca, a prefeitura está fazendo uma ‘escandalização’ ao tornar públicos tais números.


‘Se há qualquer tipo de fraude na emissão dessas licenças, é preciso apurar’, disse Fonseca. ‘No caso dos professores, as licenças podem ter crescido por causa da deterioração do ambiente de trabalho’, disse o sindicalista, citando o caso dos profissionais que trabalham nas ‘escolas de lata’.


A assessoria de imprensa de Marta criticou a divulgação. ‘Um levantamento criterioso deveria apontar o número de dias de licença tirados por servidores e compará-los com os dias trabalhados’, disse a assessoria.


A equipe de Marta afirmou ainda que o número de servidores aumentou em 24 mil na gestão passada -18 mil só em professores. ‘Há aumento de licenças, mas há base maior de servidores’. O município conta atualmente com 130 mil servidores na ativa.


Os assessores de Marta argumentam ainda que ‘o padrão implantado na prefeitura é o mesmo da iniciativa privada, que, para um intervalo de até 15 dias, aceita atestado médico particular’. ‘Boa parte dos afastamentos verificados [na gestão Marta] é de um dia de licença’, afirmaram.’



TODA MÍDIA


Nelson de Sá


‘O clima ‘, copyright Folha de S. Paulo, 20/05/05


‘Na manchete do ‘Jornal da Record’:


– Deputados do PL e do PP retiram assinaturas.


Foram apenas cinco, segundo a escalada do ‘Jornal Nacional’, mas um sinal de que o governo ‘conseguiu avançar em sua tática de esvaziar a CPI’, no dizer da Folha Online.


Quem ‘iniciou a operação’ foi o ministro José Dirceu, com certa ajuda do senador Renan Calheiros. Este marcou a leitura do requerimento para quarta, deu tempo à operação -e revoltou o tucano Alberto Goldman, no ‘Jornal da Band’.


De todo modo, segundo o ‘JN’, o governo ‘acha difícil’ e ‘trabalha para ter o controle da comissão’. No comentário de Franklin Martins:


– O clima é de jogo jogado.


A CPI deve sair e ‘vem aí um período de intranqüilidade’ em Brasília.


Ao fundo, ontem, a novela Alexandre de Moraes, o presidente da Febem que saiu por um cargo na capital.


O cargo caiu no Senado -e o presidente do Supremo, Nelson Jobim, disse à rádio Jovem Pan que não dá mais para mandar o mesmo nome.


Sempre atento, Severino Cavalcanti falou à Globo Online que ‘o lugar é da Câmara e vamos indicar outro’.


Mas líderes oposicionistas se revezavam nos canais de notícias para dizer que, até ‘a base consertar a bobagem que fez’, não votando em Alexandre de Moraes, a oposição vai obstruir os trabalhos.


Para a Globo, o ‘clima tenso’ iniciou a ‘troca de ameaças’ de mais CPI.


Enquanto isso, só fazem crescer as notícias político-policiais pelo país.


No Rio, Garotinho declarou à rádio CBN que vai interpelar o ex-candidato que o denunciou -e depois voltou atrás- para saber dele:


– Quem da imprensa o procurou e ofereceu dinheiro para falar mal de mim?


Em Rondônia, na escalada do ‘Jornal da Record’, ‘a Assembléia iniciou o processo que pode levar ao impeachment do governador’.


Em Alagoas, na escalada da Band, ‘prefeitos visitam colegas presos, acusados de desviar dinheiro público’.


Em Pernambuco, na Globo, ‘quatro presos após investigação sobre irregularidades com dinheiro público’.


Por fim, o horror. Também na Globo, à tarde:


– No Ceará, acaba em confusão a sessão para ouvir testemunhas que acusam ex-prefeito de atentado violento ao pudor contra dois adolescentes.


O MASSACRE DA SERRA ELÉTRICA


Reprodução


Os deputados do PV aproveitaram a deixa para sair da base do governo Lula.


Mas o site do Greenpeace, aliás em eco com a ministra Marina Silva no ‘Jornal da Band’, escolheram como alvo preferencial o governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, não o governo federal, nas suas críticas à ‘segunda maior devastação da história’, na Amazônia. O canal BBC e o site da ‘Economist’ também abraçaram os ataques ao ‘maior produtor de soja do mundo’, ‘o rei da soja’ que agora é ‘o rei da devastação’. Mas sobrou para Lula, aqui e ali. Da revista, por exemplo:


– A prioridade de Lula e seu governo é cortar pobreza. Conservação vem em segundo lugar.


É boa vontade da revista. Nem segundo nem terceiro…


Centro


A partir do Bom Dia Brasil, a Globo acompanhou o dia todo, no Rio, o fórum da direita global -ou do Centro Democrático. Organizado pelo PFL, sobrou ataque ao ‘populismo’ regional, de Hugo Chávez ao ditador Fidel Castro, mas Lula curiosamente até que escapou.


Suspeito


Na Globo, Fátima Bernardes sorriu ao anunciar que ‘o estado de saúde do ex-ditador Pinochet evoluiu favoravelmente’. Já a BBC não gostou e, sem parar, tratou como ‘suspeita’ a nova internação, dizendo que ele tem um recurso em dias:


– E já fez isso antes.


O CONTRA-ATAQUE


O erro da ‘Newsweek’ e do repórter Michael Isikoff, ao dizer que cópias do Alcorão eram jogadas no vaso, levou a ataques excessivos do governo Bush e de órgãos como Fox News. E o que se vê agora é um contra-ataque tão ou mais violento. Do escritor Norman Mailer, em blog, ao colunista conservador do ‘New York Times’, David Brooks, a grita é geral contra a paranóia republicana. A reação chegou ao auge na coletiva do porta-voz da Casa Branca, em que os repórteres cobraram sua demissão.’