Wednesday, 24 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Estado de S. Paulo

PCC SEQÜESTRA JORNALISTA
O Estado de S. Paulo

Terror do PCC chega à TV Globo

‘Facção seqüestrou auxiliar técnico e repórter e rede foi obrigada a transmitir vídeo com manifesto para garantir a vida de funcionário. Leia informações atualizadas sobre o caso no Portal Estadão

A TV Globo transmitiu na madrugada de hoje um vídeo com reivindicações do Primeiro Comando da Capital. Esta foi a condição imposta pelo PCC para não matar o repórter Guilherme Portanova, seqüestrado horas antes com um colega, o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado. O assistente foi libertado pela facção por volta das 22h30, perto da sede da Globo, com o DVD e as condições determinadas pelo PCC. Na gravação, com o rosto coberto com uma touca ninja, no estilo de terroristas da Al-Qaeda, um integrante do PCC leu um texto com críticas ao sistema carcerário, particularmente ao Regime Disciplinar Diferenciado ( RDD).

O PCC iniciou a ofensiva terrorista por volta das 8 horas de ontem. Dois homens seqüestraram Portanova e Calado, que saíam da padaria União Fialense, na Avenida Luís Carlos Berrini, no Brooklin, zona sul. Ambos tinham parado no local – a padaria, próxima da emissora, é freqüentada por vários funcionários da Globo – para tomar café da manhã, antes de iniciar uma reportagem.

O motorista Marco Antônio Felipe disse que estava na porta da padaria quando os criminosos saíram levando as vítimas pelo braço. Ele afirmou ter visto dois homens: um mais alto, mulato, de cabelos enrolados, vestindo moletom cinza, e outro de pele morena, cabelo liso, blazer e calça pretos. ‘O mais alto levava a arma na mão, junto ao peito. O outro estava com a arma na calça. Estavam muito tranqüilos.’ Um dos bandidos disse a uma testemunha: ‘Fica quieto. Não é nada contra você. Não crie problema.’

Segundo a polícia, os homens do PCC e os funcionários da Globo saíram da União Fialense num Vectra preto, achado queimado pouco depois na Avenida Portugal, na mesma região. ‘Era um carro roubado. Havia boletim de ocorrência no 15º DP (Itaim-Bibi)’, disse o delegado do 96º DP (Brooklin), Dejair Rodrigues. Uma motocicleta e um Gol vermelho também foram usados no seqüestro. A dupla da moto queimou o Vectra, cujos ocupantes entraram no Gol com os reféns.

Às 22 horas, foi encontrado o aparelho de celular e o rádio de Portanova, jogados em uma rua de Santo Amaro. Também à noite, a polícia fez buscas do cativeiro em uma favela da zona sul, mas nada encontrou.

Depois da veiculação do vídeo, o diretor de Jornalismo da Globo, Luiz Cláudio Latgé, informou que os homens do PCC mantiveram Portanova e Calado juntos, encapuzados, num carro parado e depois numa casa de alvenaria. Por volta das 21 horas, os seqüestradores colocaram Portanova num carro e Calado em outro. Solto logo depois, o técnico chegou, em pânico, à sede da emissora.

Latgé disse que nem Calado, funcionário da Globo há cinco meses, nem Portanova, contratado há oito meses, foram agredidos. O técnico serviu de portador da advertência do PCC: se a fita não fosse divulgada ainda ontem, o colega seria executado, como já aconteceu com jornalistas no Oriente Médio. A Globo então divulgou as imagens, em 3 minutos e 36 segundos. A expectativa da emissora era de que Portanova fosse solto ainda nesta madrugada.

De acordo com o diretor, havia imagens adicionais que não foram ao ar – elas mostravam armas pesadas. ‘Mas o texto com os pedidos da facção foi divulgado na íntegra.’ Latgé disse que a polícia participou das negociações envolvendo o seqüestro, mas a decisão de transmitir a fita foi tomada exclusivamente pela emissora. ‘Foi muito rápido e a gente precisava dar uma resposta. Decidimos pela tentativa de preservar a vida de uma pessoa. Provavelmente a gente vai ter de discutir muito este assunto.’

O Estado procurou o governador Cláudio Lembo na madrugada de hoje, tão logo a Globo levou ao ar o vídeo do PCC. Foi informado por sua assessoria de que Lembo já havia se recolhido e não comentaria o caso.

Auxiliar passou o dia em garagem e não viu o colega

Logo que o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado e o repórter Guilherme Portanova foram colocados no carro dos bandidos receberam a ordem de cobrir a cabeça com a camisa. Até o cativeiro, foram cerca de 20 minutos, disse Calado aos policiais. Na casa de alvenaria, ele passou o dia sem comer e de cabeça baixa em uma garagem, onde havia uma moto e um carro cinza. O auxiliar não viu mais o colega desde a chegada ao cativeiro. Os criminosos se tratavam por ‘Tio’ e ‘João’ e o dia todo tocou funk. Quando ele foi colocado no porta-malas de um carro, os criminosos fizeram a ameaça: ‘Seu colega vai morrer se não passar nossa fita na televisão.’ Calado foi deixado na entrada da Globo, em estado de choque.’



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‘A luta é nós e vocês’, diz fita do PCC

‘Integrante da facção faz série de reivindicações em DVD mostrado durante plantão apresentado por Cesar Tralli

À 0h28 de hoje, o repórter Cesar Tralli entrou no ar em rede nacional em um plantão especial de 3 minutos e 36 segundos na TV Globo para informar sobre a condição imposta pelo Primeiro Comando da Capital para não matar o jornalista Guilherme Portanova, seqüestrado na manhã de ontem: a veiculação na íntegra de um DVD produzido pela facção com reivindicações a respeito do sistema carcerário. A Globo só não veiculou alguns trechos do DVD, em que são mostradas armas pesadas, como fuzis, pistolas e bananas de dinamite, da facção. No DVD, aparece um homem jovem, com uma touca ninja e uma blusão azul e sotaque levemente nordestino, lendo um texto em que, por exemplo troca a palavra Iluminismo (movimento de meados do século 18 que enfatizava a razão e a ciência para explicar o Universo) por ‘ilusionismo’. Ao fundo, aparece a frase pichada ‘PCC luta pela injustiça carcerária. Paz e Justiça’. A seguir a íntegra do plantão da emissora:

Cesar Tralli: ‘O auxiliar técnico da TV Globo Alexandre Calado, seqüestrado hoje (ontem) de manhã junto com o repórter Guilherme Portanova, acaba de ser libertado. Os seqüestradores o deixaram perto da emissora e deram a ele um DVD, dizendo que a condição para libertar com vida o repórter que está em poder deles é a divulgação na íntegra das imagens. O conteúdo é o que segue:

‘Como integrante do Primeiro Comando da Capital (PCC), venho pelo único meio encontrado por nós para transmitir um comunicado para a sociedade e os governantes. A introdução do Regime Disciplinar Diferenciado, pela Lei 10.792 de 2003, no interior da fase de execução penal, inverte a lógica da execução penal. E coerente com a perspectiva de eliminação e inabilitação dos setores sociais redundantes, leia-se clientela do sistema penal, a nova punição disciplinar inaugura novos métodos de custódia e controle da massa carcerária, conferindo à pena de prisão um nítido caráter do castigo cruel.

O Regime Disciplinar Diferenciado agride o primado da ressocialização do sentenciado, vigente na consciência mundial, desde o ilusionismo (sic) e pedra angular do sistema penitenciário nacional, inspirado na escola da nova defesa social. A Lep (Lei de Execução Penal) já em seu primeiro artigo, traça como objetivo o cumprimento da pena e a reintegração social do condenado, a qual é indissociável da efetivação da sanção penal. Portanto, qualquer modalidade de cumprimento de pena em que não haja comitância (sic) dos dois objetivos legais, o castigo é reintegração social com observância apenas do primeiro, mostra-se ilegal e contrário à Constituição federal.

Queremos um sistema carcerário com condições humanas, não um sistema falido desumano no qual sofremos inúmeras humilhações e espancamentos. Não estamos pedindo nada mais do que está dentro da lei. Se nossos governantes, juízes, desembargadores, senadores, deputados e ministros trabalham em cima da lei, que se faça justiça em cima da injustiça que é o sistema carcerário: sem assistência médica, sem assistência jurídica, sem trabalho, sem escola, enfim, sem nada.

Pedimos aos representantes da lei que se faça um mutirão judicial, pois existem muitos sentenciados com situação processual favorável, dentro do princípio da dignidade humana. O sistema penal brasileiro é na verdade um verdadeiro depósito humano, onde lá se jogam os serem humanos como se fossem animais. O RDD é inconstitucional. O Estado Democrático de Direito tem a obrigação e o dever de dar o mínimo de condições de sobrevivência para os sentenciados. Queremos que a lei seja cumprida na sua totalidade. Não queremos obter nenhuma vantagem, apenas não queremos e não podemos sermos (sic) massacrados e oprimidos.

Queremos que as providências sejam tomadas, pois não vamos aceitar e ficarmos de braços cruzados pelo que está acontecendo no sistema carcerário. Deixamos bem claro que nossa luta é com os governantes e policiais, e que não mexam com nossas famílias que não mexeremos com as de vocês. A luta é nós e vocês.’

Tralli: Este é o vídeo enviado pelos seqüestradores. Outras informações sobre o seqüestro do jornalista Guilherme Portanova a qualquer momento.’’



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Polícia teme incentivo a seqüestros

‘Quando foi solto, o auxiliar técnico Alexandre Coelho Calado recebeu um DVD com o manifesto do PCC – eram as mesmas imagens de um DVD deixado na sede do SBT na terça-feira à noite. Na quarta-feira, o jornal Folha de S.Paulo, recebeu o mesmo material. Só que a Globo optou por transmitir apenas a leitura do manifesto, como era exigido pelos seqüestradores, e não mostrou as imagens de armas, que havia no começo da gravação.

Policiais ouvidos pelo Estado disseram que a decisão da emissora de exibir o vídeo pode trazer problemas no futuro. ‘Nós sabemos que foi uma decisão difícil’, disse um delegado da Divisão Anti-Seqüestro (DAS). Os policiais compreendem que a Globo optou por garantir a integridade física de seu profissional, mas teme que a iniciativa incentive outros seqüestros.

Nesse cenário, o maior pesadelo para a polícia é a possibilidade de o PCC capturar um refém para forçar uma troca de prisioneiros com o Estado. Temem, portanto, uma repetição do que aconteceu nos anos 1960 no Brasil, quando grupos de esquerda seqüestraram embaixadores estrangeiros e exigiram a libertação de prisioneiros políticos em troca da vida dos diplomatas.’



ELEIÇÕES 2006
Eduardo Nunomura

Durante propaganda, só metade das TVs ligadas

‘Elemento central para os coordenadores de campanha, o horário eleitoral está em xeque nestas eleições. Especialistas de marketing político têm-se debruçado sobre o poder dos programas gratuitos do rádio e da TV e já discutem se essa fórmula não tem dado sinais de desgaste. ‘Eleição no Brasil está se tornando rotineira e a vitória de Lula em 2002 enterrou a idéia de que haverá uma grande mudança’, diz Luís Felipe Miguel, professor da Universidade de Brasília. ‘E com programas tão pasteurizados pelo marketing, fica difícil surpreender.’

Os dados de audiência do Ibope nas eleições de 2002 e 2004 mostram que três quartos das TVs estão desligadas no horário eleitoral da tarde. À noite, metade fica ligada. Na quinta eleição presidencial consecutiva, debates, entrevistas e a intensa cobertura jornalística viraram alternativas para informar o eleitor e até definir a agenda de campanha dos candidatos.

Para a socióloga Fátima Pacheco Jordão, essa quantidade de informações faz o eleitor ver a propaganda política com olhar mais crítico. ‘Mesmo na baixa renda, o horário eleitoral tem peso importante, mas não tanto quanto no passado. Muitos vão preferir ver os debates.’ Segundo ela, ainda há chances de ocorrer um segundo turno entre o presidente Lula e o tucano Geraldo Alckmin.

Segundo o especialista em marketing político Rubens Figueiredo, o eleitorado tem demonstrado menos interesse nestas eleições, provavelmente saturado com a superexposição dos escândalos do mensalão e dos sanguessugas. E também porque o índice de satisfação do governo está em patamar elevado. ‘O Alckmin vai ter de pintar um Brasil pior do que o brasileiro tem achado, o que é dificílimo’, diz.

Nas eleições de 1998 e 2002, os candidatos que estavam à frente nas pesquisas antes do horário eleitoral acabaram ganhando a disputa. Nesta, Lula entra como favorito. O desafio de Alckmin e Heloísa Helena, do PSOL, será provocar um desgaste na imagem do presidente.

O consultor de marketing político Chico Santa Rita, um pioneiro em campanhas eleitorais, discorda da máxima de que candidato que bate não ganha, lembrando da virada da campanha do ‘não’, feita por ele, no referendo pelo desarmamento de 2005. ‘O eleitor decide o voto quando se conscientiza dos candidatos’, diz. ‘O mesmo político que ele ama hoje, pode passar a odiar .’

A desconstrução do oponente, contudo, vem se tornando cada vez mais difícil. Para Luís Felipe Miguel, o horário eleitoral, embora gratuito, é caríssimo e ainda assim os partidos têm demonstrado dificuldades de expor idéias diferentes. E grande parte da responsabilidade seria dos marqueteiros, que evitam a ousadia. ‘Se para o candidato é tudo ou nada, para o marqueteiro significa não trabalhar nas próximas eleições.’

O jornalista e publicitário Chico Malfitani, outro veterano do ramo, ainda vê chances de mudar o humor do eleitorado nos 45 dias de campanha eletrônica. ‘A importância da TV é proporcionalmente tão grande quanto o desnível social do Brasil’, afirma, lembrando que só uma minoria tem TV a cabo ou acesso à internet. ‘Horário eleitoral não faz mágica de eleger candidato, mas mal feito pode derrubá-lo.’

Para Chico Santa Rita, a tática de Alckmin em apostar numa virada a partir da propaganda pode ter sido um erro. ‘E ainda resolveram há pouco chamá-lo de Geraldo, uma bobagem. Se isso fosse importante, (Juscelino) Kubitschek não seria presidente.’ Fátima Pacheco Jordão acrescenta que o horário eleitoral deste ano vai ser crucial para os candidatos a deputados e senadores. Mais um complicador para Alckmin, que terá de disputar espaço nos spots comerciais com esses candidatos.’

O Estado de S. Paulo

Daqui a 2 dias, corrida entre os presidenciáveis chega à TV

‘Desafio dos candidatos é superar pasteurização de campanhas anteriores e a desconfiança dos eleitores

A partir de terça-feira, os candidatos a ocupar o Palácio do Planalto nos próximos quatro anos transferem para a arena televisiva a briga pelos votos que podem carimbar seu sonho. Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Geraldo Alckmin (PSDB), Heloísa Helena (PSOL), Cristovam Buarque (PDT) – assim como os demais postulantes à Presidência da República – estréiam no horário eleitoral gratuito apostando em fórmulas diferentes.

O desafio é vencer a relativa pasteurização das eleições anteriores e uma crescente desconfiança do eleitor, apontadas por especialistas em marketing político. Em 2002 e 2004, apenas metade dos aparelhos continuava ligada após o início dos programas. Para os especialistas, a propaganda eletrônica tem importância cada vez menor, sobretudo por conta da avalanche de informações propiciada por debates, entrevistas e outras modalidades de exposição na mídia jornalística.

Os candidatos prometem caprichar, apesar do alegado dinheiro curto desta eleição. O programa de Lula quer mostrar ao País realizações que – avaliam os petistas – não foram notadas por conta dos escândalos e da crise política instalada nos últimos dois anos de mandato. Sem o marqueteiro Duda Mendonça, o horário petista deve ser menos emocional e mais pragmático – ainda que embalado pelo baião.

Ao som de forró, a propaganda de Alckmin trará ingredientes para justificar o nome de sua coligação – Por um Brasil decente. Depois dos primeiros programas, que devem apresentar o candidato, a idéia é tentar levar o debate para o campo da ética, relembrando as mazelas do governo Lula. Ao mesmo tempo, Alckmin fará das expressões ‘trabalho e renda’ seu mantra, com idéias para levar desenvolvimento ao interior e assim intensificar o crescimento.

TEMPO CURTO

Heloísa Helena sai na frente, pelo menos na ordem de exibição. É a candidata do PSOL que, na terça-feira, abre o horário eleitoral – depois, em esquema rotativo, os candidatos trocam de ordem, com o último de cada dia iniciando a programação do dia seguinte. Heloísa terá pouco mais de um minuto, contra mais de 7 minutos de Lula e mais de 10 de Alckmin. A senadora também enfrentará o desafio de reciclar a retórica da mudança, desgastada pela trajetória do petista.

No caso de Cristovam Buarque, o tema da propaganda eletrônica não poderia ser outro – educação. O pedetista apronta programas recheados de propostas, em que o principal marqueteiro é ele mesmo, que já chega com textos prontos ou fala de improviso. ‘Educação é tudo’, diz o slogan que inventou.

Serão 45 dias de propaganda eleitoral, com duas edições diárias de 25 minutos, além dos pequenos comerciais no meio da programação regular de rádio e TV. Um cardápio para eleitores de todos os gostos – para alguns, de difícil digestão.’



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No ar, mais um campeão da falta de confiança

‘Duas casas na zona leste paulistana retratam o humor do brasileiro nestas eleições. Na dos Carmo, em Itaquera, a falação dos candidatos da propaganda eleitoral tem vez. Já na dos Perduca, na Mooca, os dois aparelhos de TV estarão desligados. Engana-se quem imagina que os primeiros se deixam levar pelo discurso dos políticos ou que os segundos são meros desinteressados. Para as duas famílias, horário eleitoral serve para vender candidatos como produtos e elas não estão muito dispostas a comprar esse tipo de produto.

‘Se o brasileiro acompanhasse o horário eleitoral, votasse com consciência e depois cobrasse as promessas feitas, o Brasil seria outro’, cobra a corretora Valdete do Carmo, de 54 anos. O marido dela, o advogado Heleno Lauro do Carmo, de 56, com voto já definido para o presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB), quer ver se os políticos não vão entrar de salto alto, se têm propostas para a periferia e se ele vai ter argumentos novos para debater com os amigos. ‘A propaganda tem uma clara intenção de conduzir a escolha dos menos avisados, daqueles brasileiros que saem às 5 da manhã para trabalhar e só voltam às 20 horas.’

A filha deles, a universitária de direito Camila Santos, hoje com 23 anos e eleitora desde os 16, procura no horário eleitoral encontrar políticos novos. Ainda indecisa, como a mãe e a irmã Karine Santos, de 29, seu voto está entre Alckmin e Heloísa Helena (PSOL) e é nos dois que ela vai prestar mais atenção. ‘O problema é que se elegem políticos pela reputação. Mas se essa reputação vira uma simples venda no horário eleitoral, qual o sentido de votar neles?’

Já os Perduca praticamente definiram seus candidatos e não será a propaganda que vai mudar as escolhas. Em vez de ver o horário político, os filhos Natalia, Paola e Pietro, todos eleitores, vão fazer os trabalhos da faculdade ou do cursinho, navegar na internet, assistir a DVDs, jogar cartas. O patriarca Pedro Felice usará o tempo de sobra para conseguir ler o jornal inteiro. ‘Ele é inócuo, nunca apresenta opção de propostas. Parece dizer: na ausência de tu, vai tu mesmo’, critica Perduca.

Moradores da Mooca, bairro tradicional de São Paulo, os Perduca não têm TV a cabo. Descendentes de italianos, eles gostam de reunir a família nos jantares, onde discutem de tudo, inclusive política. O pai acaba, assim, influenciando o voto de todos. Uma de suas visões sobre o horário eleitoral: ‘É um equívoco porque privilegia o Executivo (candidatos a presidente, governador e prefeitos), esquecendo que o Legislativo (deputados e senadores) é tão importante ou até mais.’ Sua filha Natalia acrescenta: ‘É por isso que há tanta gente sem esperança de mudar o País.’

A família, que gosta de participar das atividades do bairro, que neste ano completa 450 anos, tende a escolher os candidatos ao Legislativo pela proximidade com o dia-a-dia deles. ‘Procuro fazer o voto distrital à minha maneira, escolhendo os políticos da nossa região’, explica Perduca.’



TELEVISÃO
Leila Reis

Empregão em NY

‘Se contentar com pouco é para amadores. A frase é de Roberto Justus na apresentação da terceira temporada de O Aprendiz e define o jogo que premiará um profissional com um emprego de R$ 500 mil por ano em uma agência de publicidade nova-iorquina.

O reality show estreou no domingo com 8 pontos de média no Ibope (na Grande São Paulo) e marcou 10 na edição de terça-feira, quando eliminou o segundo dos 16 candidatos ao sucesso. Audiências muito parecidas com as das edições passadas e boas para os padrões da Record. Na estréia de O Aprendiz 3, Justus demitiu uma concorrente da Paraíba e na terça, um rapaz do interior de São Paulo, sem tirar um único fio de cabelo do lugar.

O programa segue a mesma receita das temporadas anteriores, nem poderia ser diferente uma vez que o formato é importado.Jovens ambiciosos e qualificados (pós-graduados, doutorados e com MBAs) são confinados em bom hotel e incumbidos de desenvolverem tarefas na área em que pleiteiam colocação.

Como as crianças que brincam de casinha, eles simulam trabalhar seriamente. É a performance de cada um em equipe – capacidade de interação, habilidade, desempenho, criatividade, etc. – que vai determinar a demissão ou permanência de cada um no vídeo.

É assim que, assessorado por consultores (a vencedora do programa de estréia, um consultor de RH e um executivo da NewCom, agência de publicidade de propriedade de Justus), o apresentador decide qual cabeça rola em cada programa.

Roberto Justus está aperfeiçoando sua atuação imperial. Menos engessado do que há dois anos, ele não tem economizado frases no questionamento do comportamento dos que vão para o cadafalso, emite opiniões pertinentes ao repertório de um chairman e salomonicamente distribui sua sabedoria para os que conseguem permanecer apesar dos defeitos. Como fez com Pedro Hans, quando criticou atitudes antiéticas e o aconselhou a ser menos preconceituoso, comportamento que não combina com um executivo de uma multinacional.

O público se diverte em tomar partido de quem parece ser melhor profissional (ou mais parecido com ele próprio) e também de imaginar que pode ter encontrado uma porta para espionar os bastidores de uma grande corporação. Mas o que pega, e isso ficou claro por ocasião do início da série, é a sensação de estar aprendendo lições de marketing e propaganda pela TV.

Tanto que há dois anos corria que os profissionais de RH andavam recomendando o programa a título de treinamento. Pode ser boato, mas até que faz sentido. A massa telespectadora sabe bem como se comportam presidentes de impérios como Belíssima e Luxus, mas dificilmente teria acesso a um presidente de uma empresa de verdade não fosse O Aprendiz.

Quem gosta dessa história é Tom Cavalcante. Na terça, ele colou o seu O Infeliz no programa de Justus e, com todo o nonsense de sua trupe de circo, conseguiu faturar 8 pontos de média no Ibope.

A paródia – se é que se pode chamar assim toda aquela sandice – é um pretexto para Tom exercitar seus dotes de imitador e colocar em cena um elenco quase exótico. Com Tiririca, anões e outras figuras, o humorista, travestido do galã-publicitário Tompete, comanda uma quase brincadeira de criança que, em alguns momentos, não deixa de ser bem engraçada.’



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Folha de S. Paulo – 1

Folha de S. Paulo – 2

O Estado de S. Paulo – 1

O Estado de S. Paulo – 2

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