Friday, 26 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1285

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2006
Sônia Filgueiras


Direção do PT pagou por dossiê de Vedoin contra Serra, diz preso à PF


“O dinheiro destinado a comprar material para tentar acusar candidatos
tucanos de ligação com a máfia dos sanguessugas veio de um representante da
direção do PT em São Paulo. A informação foi passada à Polícia Federal nos
depoimentos dos dois intermediários presos anteontem – o empresário petista
Valdebran Padilha e o advogado Gedimar Passos.


Segundo a PF, eles não revelaram o nome do representante, mas deram uma
descrição física detalhada do emissário petista, das circunstâncias do encontro
e até das roupas que ele usava na ocasião. Gedimar disse que foi contratado por
integrante da Executiva Nacional do PT para checar a autenticidade do
material.


O PT não comentou ontem o conteúdo dos depoimentos. Nota de seu presidente,
Ricardo Berzoini, afirma apenas genericamente que o partido não se surpreende
com episódios ‘com o objetivo de conturbar a disputa eleitoral’, no momento em
que sua candidatura presidencial está ‘consolidada’ (leia íntegra nesta
página).


Os dois intermediários foram presos num hotel de São Paulo na manhã de
anteontem com R$ 1,75 milhão, em notas de dólar e real. Eles tinham agendado
encontro com Luiz Antônio Vedoin e o tio dele, Paulo Roberto Trevisan, que
trariam dossiê supostamente capaz de relacionar o candidato tucano ao governo,
José Serra, e o candidato à Presidência, Geraldo Alckmin, com o esquema de venda
superfaturada de ambulâncias a prefeituras.


Vedoin é um dos donos da Planam, empresa que funcionava como pivô do esquema,
e foi detido na sexta-feira em Cuiabá após a prisão dos intermediários em São
Paulo. Ele soube que era procurado, se refugiou em um motel, mas foi localizado
pela PF. Vedoin já havia sido preso quando a PF deflagrou a Operação
Sanguessuga, em maio, mas foi solto após acordo para colaborar com a
investigação em troca de pena menor.


O intermediário Gedimar Passos, que é ex-policial federal, deu uma descrição
detalhada do dirigente petista que lhe entregou o dinheiro. Ele e Valdebran
Padilha informaram à PF que caberia a eles avaliar a qualidade do material
oferecido por Vedoin e também divulgá-lo, visando a prejudicar as candidaturas
tucanas.


No depoimento, eles contaram que houve dificuldade em levantar o dinheiro e
que, inicialmente, Vedoin pediu R$ 20 milhões. Depois de negociação, o negócio
teria sido fechado em R$ 2 milhões, segundo Passos.


O tio de Vedoin, Paulo Trevisan, havia sido posto em liberdade anteontem,
após depor à PF. Ontem, ele voltou a ser preso, por determinação da Justiça. Os
intermediários devem ficar detidos por cinco dias.


EXPLORAÇÃO ELEITORAL


As ramificações eleitorais do dossiê Vedoin têm ficado mais claras desde a
quinta-feira à noite, quando surgiram as primeiras informações de que a revista
IstoÉ publicaria entrevista com os donos da Planam acusando Serra e seu sucessor
no Ministério da Saúde, Barjas Negri, de facilitar a ação da máfia entre 2000 e
2004. ‘Na época deles o negócio era bem mais fácil’, disse à revista Darci, pai
de Luiz Antônio Vedoin.


A PF descobriu o plano de vender o material por meio de investigações e
escutas, que levaram aos receptadores em São Paulo. Detalhe: um deles,
Valdebran, é filiado ao PT, foi tesoureiro da campanha petista à prefeitura de
Cuiabá e chegou a ser indicado para diretoria da Eletronorte durante o governo
Lula.


A investigação da PF sobre o dinheiro apreendido trabalha com várias
hipóteses. Uma das alternativas é que pudesse ter vindo de caixa 2 do PT – a
Justiça Eleitoral também acompanhará as investigações – e se detinasse à compra
do dossiê dos Vedoin.Outra é que a quantia se destinasse a recompensar a
entrevista dada pelos Vedoin à IstoÉ – para policiais federais de Mato Grosso, o
material apreendido é ‘velho’ e já havia sido divulgado pela mídia. Com o tio de
Luiz Antônio Vedoin, foram aprendidos uma fita de vídeo, um DVD, uma agenda e
seis fotos. As imagens mostram a entrega de 40 ambulâncias da Planam para
prefeituras do Mato Grosso, quando Serra era ministro da Saúde. Algumas fotos
também mostram Alckmin.


A direção da IstoÉ indicou o redator-chefe, Mário Simas Filho, que fez a
entrevista com os Vedoin, para falar sobre o caso anteontem. Ele afirmou não ter
‘a menor idéia’ se haveria um esquema entre Vedoin e o PT e que,
jornalisticamente, fez seu trabalho, reproduzindo o que foi dito. ‘Sei que não
participei de nenhum esquema’, disse.


COLABORARAM BRUNO WINCKLER, VANNILDO MENDES e PAULO BARALDI”


Alexandra Penhalver


Quércia mostra denúncia de revista em seu horário na TV


“O candidato do PMDB ao governo de São Paulo, Orestes Quércia, foi quem tomou
a decisão de colocar no horário eleitoral gratuito de sua campanha a entrevista
publicada na edição desta semana da revista IstoÉ. A reportagem traz acusações
de Luiz Antonio Vedoin, dono da Planam, empresa que era o pivô da máfia dos
sanguessugas, de que o candidato ao governo de São Paulo pelo PSDB, José Serra,
está envolvido no caso.


Segundo o coordenador da campanha de Quércia, Marcelo Barbieri, a revista foi
comprada na manhã de sexta-feira e levada ao candidato, que decidiu usar o
material em seu programa de TV. ‘A decisão foi tomada para levar à população as
informações mostradas na revista, mas não teve caráter de denúncia, e sim
informativo’, disse Barbieri.


Exibido no horário eleitoral na sexta à noite, o programa mostrou a capa da
revista e as páginas da reportagem. O locutor leu o conteúdo em que os donos da
Planam, Darci e Luiz Antonio Vedoin, alegam que o esquema existiu também quando
Serra foi ministro da Saúde de FHC.”


Tânia Monteiro


Dossiê contra Serra é ‘abominável’, diz Lula


“O envolvimento de filiados do PT na compra de um suposto dossiê acusando os
candidatos do PSDB José Serra (que disputa o governo de São Paulo) e Geraldo
Alckmin (que concorre à Presidência) de envolvimento na máfia dos sanguessugas
levou o presidente Luiz Inácio Lula da Silva a classificar a ação de
‘abominável’. Depois de lamentar ser comum o uso desta ‘prática absurda’ em
época de eleição, Lula saiu em defesa de Serra. ‘E se amanhã o Serra não tiver
culpa no cartório, quem é que vai dizer: olha, erramos. Se sair erramos, vai
sair numa letrinha pequenininha que ninguém vai conseguir saber’, disse. ‘No
Brasil, nós vivemos um momento em que as pessoas têm uma facilidade imensa de
condenar e uma timidez muito grande de perdoar.’


A declaração de Lula é ambígua porque se presta a desqualificar o dossiê
contra Serra, mas também abre uma porta à absolvição de petistas e outros
integrantes da base aliada efetivamente suspeitos, segundo o Ministério Público
e a Polícia Federal, de envolvimento com a máfia dos sanguessugas, que vendia
ambulâncias superfaturadas a prefeituras com dinheiro do Orçamento da União
liberado por meio de emendas de parlamentares.


‘Quem quiser fazer bandidagem, por favor, não queira o Lula como parceiro
porque não aceito esse tipo de coisa. Acho que essas denúncias, faltando dias
para as eleições, não ajudam’, disse. ‘Você só pode fazer uma denúncia dessa
magnitude quando tem provas’. E acentuou: ‘Você provou por A mais B que a pessoa
tem culpa, então tudo bem, manda para a polícia, manda prender, manda para o
Judiciário. Agora, levanta a coisa e depois não acontece nada; no outro dia
levanta outra, não acontece nada; você vai dizer para o povo que política é
isso. Eu acho que isso presta um desserviço aos amantes da democracia no
Brasil.’


Lula disse desconhecer a prisão, em São Paulo, de Valdebran Padilha,
ex-tesoureiro do PT de Mato Grosso, acusado de tentar comprar o suposto dossiê
do empresário Luiz Antônio Vedoin contra os tucanos. O presidente não quis
comentar as acusações contra Serra, ressalvando que não faz julgamentos sobre
acusações deste tipo. ‘Há muito sensacionalismo. Nessa época do ano, as
denúncias aparecem como vendavais. Acho que, se saiu alguma coisa, o Serra tem
experiência política, história política para explicar o que aconteceu.’


Para o presidente, ‘um dossiê contra o Serra é um dossiê igual a tantos
outros que circulam por esse País.’ Lembrou que, quando foi candidato em 89, 94
e 98, ‘eram fartas as vezes em que aparecia gente dizendo ‘temos uma denúncia
contra o fulano’. ‘Não uso isso porque acho abominável.’


NADA DE COMPRAS


Depois de tirar fotos com turistas hospedados no mesmo hotel em que estava em
Aracaju, Lula não atendeu a uma senhora que insistia para que ele comprasse
paninhos tradicionais do Nordeste para ajudá-la. ‘Um candidato não pode comprar,
meu amor. Sabe por quê? Porque se não vão dizer que estou comprando voto.’”


João Ubaldo Ribeiro


Não boto fé nessas urnas


“Às vésperas de exercer o estranho direito obrigatório de votar, tenho notado
que algumas pessoas com quem converso estão nervosas com estas eleições. Mas não
pelas razões habituais, ou seja, por entusiasmo, vibração, esperança, ou o que
lá seja. Isso não vi em ninguém, a não ser nuns poucos que encaram a política
como uma espécie de religião de bases imutáveis, com seus deuses e santos
incriticáveis e infalíveis. Esses são de lascar, porque, como com outros
fanáticos, não adianta apresentar fatos ou argumentos, pois contra a fé estes
não adiantam nada. Mas mesmo eles ficam na defensiva, preferindo não provocar
ataques e seguir o exemplo de Nosso Guia, que é não debater nem responder a
perguntas inconvenientes ou irrespondíveis.


Para mim e, tenho descoberto, para bem mais gente, reapareceu, com a cara
piorada, a desconfiança em relação ao nosso moderníssimo sistema de votação
eletrônica, tão moderno que, como já disse aqui, diversos países, inclusive
vários do famoso Primeiro Mundo, o estudaram e nem pensaram em adotá-lo. Os
defensores do sistema, notadamente os oficiais, dirão que estou dando palpites
de absoluto leigo – e leigo burro, por sinal. Até não me incomodo com nenhum dos
dois qualificativos, pois bem posso ser merecedor, mas a verdade é que muita
gente capacitada concorda comigo.


Tudo em informática é inseguro. Claro, nada, em área nenhuma, é absolutamente
seguro, mas a informática é um terreno onde tudo se passa vertiginosamente.
Lembro-me quando os bancos se consideravam à prova de fraudes eletrônicas e eu
mesmo fui tungado através de um banco cujos funcionários me torciam o nariz, me
dizendo como o comandante do Titanic que os seus sistemas eram à prova de
invasão. Não adiantava argumentar que, se entram até em sistemas como o do
Pentágono, entrariam num tamborete brasileiro com um pé nas costas, como já
aconteceu.


Nosso sistema, em primeiro lugar, não é inviolável nem à prova de erros,
muitíssimo pelo contrário. Segundo me informam, as urnas podem perfeitamente ser
invadidas sem necessidade de remoção do lacre. A alteração de uma ou duas linhas
num programa de milhões e milhões de linhas pode gerar a eleição ou não-eleição
de muitos candidatos. O anonimato, que dizem ser garantido, de fato não é. Em
rigor, pode-se dizer (os técnicos do governo vão comentar que eu sou mais leigo
burro ainda do que eles pensavam, mas é verdade) que, ao menos tecnicamente, o
voto secreto acabou.


O rol de males que um sistema vulnerável, inverificável e, se não danoso ou
perigoso como creio, é pelo menos objeto de controvérsia entre especialistas,
não pode deixar de causar apreensão. E os que não estão comprometidos com,
digamos, o esquema, de modo geral desaprovam o sistema. Ou seja, mesmo que o
sistema fosse tudo o de perfeito que se diz dele, a mera controvérsia técnica
traz perigos adicionais, agora, por exemplo, que assistimos ao problema do
México, o qual, ao contrário de nós, ainda pode conferir os votos.


E quem pode fraudar as urnas eletrônicas? Ah, neste nosso Brasil varonil onde
a bandidagem medra em ritmo febril, imagino (sim, sou paranóico – cartas de
protesto ao editor, por caridade) poder haver já quadrilhas montadas em vários
Estados importantes, não inspiradas por motivos ideológicos ou partidários, mas
por grana mesmo, como costuma ser o caso aqui, para prestar serviços tipo
‘converta 10% dos votos nulos ou em branco para você’. As urnas podem, na
verdade, ser fraudadas por qualquer um que tenha qualificação, notadamente
alguém com acesso, direto ou indireto, a algum ponto do sistema. Sim, eu sei,
por ética e honestidade, ninguém faria esse tipo de coisa – só tem feito muito
ultimamente porque é uma espécie de fase passageira, como esses vírus de sete
dias. Já foram publicadas diversas suspeitas quanto ao funcionamento das urnas e
nada foi explicado satisfatoriamente.


Somente pensar se, por acaso, a eleição presidencial, contrariando as
pesquisas até agora, for a segundo turno, não tenho dúvida de que, a depender
das circunstâncias, a questão das urnas pode aparecer logo, começando pelo fato
de que as pesquisas se terão revelado extraordinariamente erradas. ‘Pesquisa não
vale nada’, dirá o vencedor. ‘As urnas foram fraudadas’, dirá o perdedor. A
depender das circunstâncias, como já disse, a questão das urnas pode logo
centralizar a discussão e multiplicar acusações de lado a lado.


E, vamos pensar só por hipótese, pois afinal tudo é possível nesta vida, que
a decisão seja mesmo no segundo turno e apertada. Em toda parte do mundo,
inclusive nos Estados Unidos, a solução é apelar para a recontagem, mas aqui ela
ou é impossível ou não significa realmente uma recontagem, mas uma reprodução em
disquete de algo que já está lá da forma fraudada. A depender de quem vença e
quem o esteja apoiando, notadamente fora da esfera governamental, o povo pode
sair às ruas, para mostrar que está verdadeiramente ao lado do vencido e que o
resultado se terá devido às urnas eletrônicas. Quanto ao vencedor, dirá que nada
merece mais confiança que as urnas e que o vencido quer reverter a escolha
popular, claramente expressa, através do sistema mais moderno. ‘Golpe’, dirá um
lado. ‘Golpe’, dirá o outro.


Tenho mais material comigo, mas acho que todo mundo considera essas minhas
preocupações mais uma das muitas esquisitices que nunca cometi mas que me
deixaram famoso pela – digamos bondosamente – excentricidade. Ninguém, a não ser
os quatro ou cinco gatos-pingados em que me incluo, dá a menor importância. Bom,
pensando melhor, talvez tenham razão. Não parece haver lá muito interesse no que
dirão as urnas, como se todos soubessem que o que vem aí é a lesma lerda, que a
gente encara como sempre encarou.”




NYT vs. PAPA
O
Estado de S. Paulo


‘NYT’ cobra desculpas de Bento XVI


“Em meio à crescente tensão entre católicos e muçulmanos por causa das
declarações do papa Bento XVI, duas igrejas católicas de Nablus, na Cisjordânia,
e um templo da Igreja Ortodoxa Grega, de Gaza, foram atacadas ontem com bombas
incendiárias. Embora os ataques tenham causado apenas danos materiais, o grupo
que assumiu a autoria dos atentados, o até então desconhecido Leões do
Monoteísmo, prometeu mais ações em resposta ao discurso do papa.


Também ontem, o papa recebeu a primeira crítica de um alto líder cristão: o
chefe da Igreja Copta, do Egito, Shenouda III, declarou que ainda não tinha
ouvido o discurso, mas ressaltou que ‘qualquer ofensa ao Islã ou aos muçulmanos
é contrária aos ensinamentos de Cristo’.”




INTERNET
Renato Cruz


Inclusão digital vai além do acesso


“Rodrigo Bering Fabrício, de 22 anos, participou de um projeto para
identificar, com coordenadas geográficas, os elementos que compõem a rede de
distribuição de gás de Curitiba, num mapa eletrônico. ‘Antes, eles usavam mapas
de papel, o que dava muito trabalho na hora de fazer manutenção’, explica. ‘A
gente recebeu um desenho digital e colocou todas as informações com coordenadas
corretas no Autocad (programa de computador para desenho técnico). Cada válvula,
por exemplo, foi registrada num banco de dados. Eles passaram a ter um mapa
inteligente.’


Rodrigo faz parte da Cooperativa de Logística Urbana (Cooplurb), em que
jovens do Jardim São Luiz, na zona sul de São Paulo, trabalham em projetos de
georreferenciamento. A cooperativa foi criada por Cleodon Silva, de 56 anos,
ex-metalúrgico que militou por 20 anos no movimento sindical em São Paulo. A
Cooplurb tem uma proposta diferente de inclusão digital, em que, além de
aprender a mexer com o computador, o jovem aprende a aplicar esse conhecimento
em uma atividade prática, capaz de gerar renda.


O acesso à internet começa a aumentar na periferia dos grandes centros.
Segundo pesquisa da IT Data, feita para a Associação Brasileira da Indústria
Elétrica e Eletrônica (Abinee), 835 mil brasileiros compraram seu primeiro micro
entre janeiro e junho deste ano. O número de pessoas com acesso à internet em
casa subiu de 18,9 milhões em 2005 para 21,2 milhões em agosto deste ano, de
acordo com o Ibope NetRatings.


O computador se tornou mais acessível por fatores como redução de impostos e
câmbio favorável. ‘Em qualquer grupo de jovens aqui, pelo menos metade acessa a
internet’, afirma Maria de Fátima Gomes Rodrigues, de 23 anos, que faz parte da
Cooplurb. ‘Se não tem computador em casa, acessa na casa de um amigo, de um
parente, na escola ou num telecentro. Todo mundo, mesmo na periferia, tem e-mail
e tem Orkut.’


Por isso, são importantes esses projetos de inclusão digital. O Cooplurb é só
um exemplo. Outro é a Eletrocooperativa, que ensina tecnologia e música no
Pelourinho, em Salvador. ‘A proposta é humanizar a inclusão digital’, explica
Reinaldo Pamponet, de 34 anos, fundador da Eletrocooperativa e ex-executivo da
Microsoft. Em três anos, já passaram pela organização não-governamental (ONG)
mais de 500 jovens. A Eletrocooperativa produziu oito CDs e tem mais 10 em fase
de produção.


Semana passada, a Eletrocooperativa fechou um acordo com o Centro Incubador
de Empresas Tecnológicas (Cietec), da Universidade de São Paulo (USP). A
tecnologia desenvolvida pelos incubados do Cietec será empregada no site da ONG.
‘A ligação entre o Pelourinho e a USP é no mínimo interessante’, destaca
Pamponet. ‘Queremos montar uma ferramenta de difusão de música que seja
competitiva mundialmente.’


A indústria fonográfica passa por um momento de ruptura, causado pelas
tecnologias digitais. Segundo pesquisa da Ipsos Insight, feita para a Associação
Brasileira de Produtores de Discos (ABPD), 2,9 milhões de brasileiros baixaram,
de forma ilegal, 1,1 bilhão de canções da internet no ano passado.


Além do problema da pirataria, a digitalização criou um novo modelo de
negócios. Em fevereiro, o iTunes, site da Apple, comemorou a venda de 1 bilhão
de canções digitais. A Microsoft apresentou, semana passada, o Zune, tocador de
música digital concorrente do iPod, da Apple. O MySpace, da News Corp., decidiu
permitir a venda de canções por meio do site. ‘Nesse cenário, como fica a música
de raiz, como os blocos afro da Bahia?’, questiona o fundador da
Eletrocooperativa.


Jorgeilton Purificação, de 22 anos, participou da primeira turma da
Eletrocooperativa, há 3 anos. Vindo do bloco Cortejo Afro, ele agora grava bases
usadas por outros músicos do projeto. ‘O que a gente aprende na Eletro não é
apenas para quem quer viver de música, mas serve para qualquer coisa que exija
informática’, explica. Há um ano e meio ele dá aulas particulares de
informática, na vizinhança.


As músicas produzidas na Eletrocooperativa são licenciadas em Creative
Commons. ‘Existem três modelos de licença, mas 90% dos artistas liberam cópias
para fins não comerciais’, explica Pamponet. ‘Com as faixas na internet, fica
mais fácil fazer contato para shows’, diz Jorgeilton.


SOLUÇÃO


‘Os jovens precisam ser vistos como solução, não como problema’, afirma
Cleodon Silva, da Cooplurb. A cooperativa nasceu do trabalho que ele começou a
desenvolver no Instituto Lidas, que trabalhava com saúdo do trabalho, ainda em
1988. ‘Criamos um programa ainda em Clipper (linguagem de programação
pré-Windows), que espacializava as informações sobre hospitais públicos e postos
de saúde na cidade de São Paulo’, explica Silva.


A partir daí surgiu a idéia de se trabalhar com georreferenciamento. O
primeiro projeto foi com um grupo de jovens em Taboão da Serra, na Grande São
Paulo. Em 1999, Silva fechou um acordo com a Casa dos Meninos, ONG do Jardim São
Luiz. O objetivo da Cooplurb é que os jovens levantem informações ao redor de
suas casas, formando bancos de dados que depois podem ser vendidas a empresas e
governo.


Com apoio da Fundação Banco do Brasil, a abrangência deve ser ampliada de 30
para 120 jovens. ‘Queremos formar jovens qualificados e donos dos meios de
produção’, afirma Silva. No caso, os meio são um computador com banda
larga.”


Valéria França


Mães espionam os filhos pelas páginas do Orkut


“As mães resolveram contra-atacar. Após ver os filhos passarem horas no
computador, trocando mensagens, combinando baladas e encontros, elas decidiram
participar: cadastraram-se no Orkut. O maior site de relacionamento da internet,
com mais de 27 milhões de integrantes no mundo, é formado por jovens. A maioria
(61,23%) tem de 18 a 25 anos e se diverte ao ver a própria mãe no meio da
galera. Surgiram assim comunidades bem-humoradas, como Minha Mãe Está no Orkut,
a mais disputada do gênero, com 5.700 participantes, e Até Minha Mãe Está no
Orkut, mais tímida, com 107 integrantes.


‘Há um ano, entrei no Orkut porque estava preocupada com meus filhos’, diz a
dona de casa Claudia Nochi de Carvalho, de 48 anos, mãe de Camila, de 17, e
Daniel, de 21. Ela queria saber exatamente com quem eles falavam e sobre o quê.
‘No Orkut, fica muito fácil mentir e inventar uma identidade falsa’, diz
Claudia. Depois de receber denúncias de racismo, nazismo, pornografia infantil,
tráfico de drogas e até venda de medicamentos proibidos , o Ministério Público
Federal de São Paulo abriu investigação sobre o site.


No início, Claudia fazia praticamente uma varredura na página dos filhos. Lia
os scraps (recados) e o perfil dos amigos. Até que, um dia, Daniel avisou que
iria viajar com um amigo. A mãe desconfiou. Depois que ele saiu com as malas de
casa, abriu a página no Orkut e viu que era mentira. ‘Ele foi a Manaus encontrar
uma garota que tinha conhecido pelo site’, conta Claudia, que ficou com medo de
o filho cair numa armadilha. Nada de ruim aconteceu, mas Daniel ouviu um sermão
na volta.


‘As mães não percebem, mas elas também perdem a privacidade ao entrar no
Orkut’, afirma Erik Itakura, psicólogo do Núcleo de Estudos em Psicologia e
Informática da PUC de São Paulo. ‘Às vezes, também dou uma olhada no Orkut de
minha mãe’, diz Daniel. Apesar de ter entrado no sistema por causa dos filhos,
hoje Claudia também se diverte no site. ‘Achei amigos da época em que estudei no
Colégio Bandeirantes.’


‘O Orkut é uma ferramenta capaz de diminuir a angústia e os medos maternos’,
diz a antropóloga Mirian Goldenberg, professora da Pós-Graduação em Sociologia e
Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Sociais da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Há duas gerações, os pais controlavam a rotina
familiar com autoridade. Hoje, os filhos têm muita liberdade e os pais, mais
motivos para se preocupar.


Mãe de Camila, de 21 anos, e Edu, de 22, Maria Aparecida Pereira não dorme
sem antes ver os filhos chegarem a salvo em casa. ‘É impossível não se preocupar
numa cidade assim violenta e por isso pego mesmo no pé’, diz. Maria Aparecida
não permite que eles desliguem o celular quando estão fora de casa. Se saem para
encontrar algum amigo, deixam o endereço onde vão estar. Agora a mãe zelosa
também está de olho no Orkut. ‘Me cadastrei para participar mais da vida deles e
conhecê-los melhor.’


No Orkut, popularidade conta muito. Ter centenas de amigos é status.
Preocupados mais com a quantidade do que com a qualidade, muitos acabam anexando
desconhecidos. ‘Quando surge um nome estranho na página de um dos meus filhos,
leio tudo o que está disponível para saber de quem se trata’, diz Maria
Aparecida.


O empresário Ricardo Carielo não deixa o filho Matheus, de 10 anos, entrar no
Orkut sozinho. ‘Eu fico com ele no computador, porque tem muita pedofilia na
internet’, diz Carielo, que cadastrou o filho depois de o menino insistir muito.
Mas o interesse foi passageiro. A fase dele ainda é dos games.


Desde 22 de abril, os usuários do Orkut contam com uma nova ferramenta, que
permite ao usuário identificar quem acessou sua página. Quando as mães aparecem
para xeretar, os filhos têm como saber. Se antes ninguém costumava apagar os
scraps, que se transformavam numa espécie de diário moderno, muitos agora
deletam tudo rapidamente. Tem página do sistema praticamente vazia.


A estudante de educação física Juliana Martusceli ajudou o pai a se cadastrar
no Orkut. Ele estava empolgado de tanto os amigos falarem das comunidades. ‘Nós
somos muito amigos e companheiros’, diz Juliana. ‘Às sextas-feiras, quando saio
do trabalho, costumo fazer um programa com meus pais.’


Nessa família, no entanto, os papéis se inverteram. O pai quase nunca entra
na página da filha, mas Juliana não agüenta de curiosidade. Ciumenta, quer saber
sempre com quem o pai está trocando mensagens. ‘Se aparecer mulher na página,
ele sabe que vai levar bronca.’


As 10 maiores comunidades do orkut


1.º- Eu Odeio Acordar Cedo – de 23/5/04 – 2.633.238 pessoas


2.º – Eu amo a minha mãe! – 16/7/04 – 2.368.289 pessoas


3.º – Eu amo fim de semana! – 28/11/04 – 1.738.227 pessoas


4.º – A gente se f… mas se diverte – 15/5/04 – 1.709.662 pessoas


5.º – Eu amo Chocolate! – 15/4/04 – 1.682.756 pessoas


6.º – Sua inveja faz a minha fama – 30/7/04 – 1.519.121 pessoas


7.º – Eu Acredito e Confio em Deus – 29/8/04 – 1.429.826


8.º – Só mais 5 minutinhos… – 28/5/04 – 1.425.246 pessoas


9.º – Eu odeio cigarro – criada em 27/5/04 – 1.332.154 pessoas


10º – Te incomodo?? Que peeena !! – 8/4/05 – 1.303.237


Consulta realizada em 12/09/06”




TELEVISÃO
Keila Jimenez e
Cristina Padiglione


Sem dublê de corpo


“O profissionalismo que se imprimiu às campanhas eleitorais de 1989 para cá
beneficia cada vez melhores negócios para publicitários (ou marqueteiros),
músicos, jornalistas, produtoras de audiovisual, artistas gráficos, etc. O ramo
só não se mostrou bom negócio para atores. Quem acessar o site de vídeos youtube
verá que a constelação de estrelas presentes no jingle Lula-lá, em 1989, está
longe (ou seria inalcançável?) de se repetir hoje. A prática de dar a cara a
bater, assim de graça, por pura ideologia, foi se mostrando inversamente
proporcional ao aumento dos cachês em busca da militância bem encenada.


Negócio lucrativo e arriscado, e mais ainda para novatos. Uma coisa é subir
no palco da ficção, atuar no plano do entretenimento e voltar a ser quem é
quando a cortina se fecha. Outra é o ator alugar voz, rosto e discurso a um
candidato em um veículo em que toda a imagem parece carregar um sentimento, uma
intenção, uma mensagem poderosa ao telespectador. A TV marca, e muitos acreditam
que fazer campanha política nela tem efeito de tatuagem.


Caso clássico é o da atriz Samantha Monteiro, que em 2000 apresentou o
programa eleitoral de Paulo Maluf, então candidato à Prefeitura de São Paulo.
Cria do diretor teatral Antunes Filho, Samantha já tinha feito muitas campanhas
publicitárias, participado de atrações infantis e da novelinha Malhação, da
Globo, quando aceitou um gordo cachê para fazer campanha política. A reação foi
imediata. Ela foi hostilizada nas ruas e no meio artístico e perdeu boas
oportunidades de emprego. O Estado procurou pela atriz e por sua mãe, Acrísia,
proprietária de uma agência de atores em São Paulo, para falar sobre o assunto,
mas não houve retorno.


‘Como você fala para um cara que está sem trabalho, sem grana, que ele não
deve aceitar um cachê recheado para trabalhar em um programa político? É difícil
demais’, diagnostica o preparador de atores Beto Silveira. ‘Mas aviso para os
meus alunos que é uma via de duas mãos. O dinheiro pode ser bom, mas o risco de
ficar marcado e sem trabalho por um tempo é gigante. Todo mundo lembra da
história da Samantha’, continua Beto. ‘Por outro lado, a arte é bem maior que
qualquer política partidária. Se você for talentoso de fato, não vai importar se
fez campanha política ou não’, completa.


Diretor de elenco do SBT, Fernando Rancoletta endossa a tese na prática. Em
2001, então na Record, ele convidou justamente Samantha Monteiro para a novela
Roda da Vida. ‘Ela estava de partida para os Estados Unidos quando a chamamos.
Antes de assinar o contrato ela até me perguntou se não havia problema por ter
feito campanha’, lembra Rancoletta.


O especialista em cast conta que nunca foi orientado para recusar atores que
tenham feito campanha política, ‘embora ache que é um risco o artista vincular
sua imagem à de políticos’. ‘Mas tanto na Record, quando o meu superior (diretor
de teledramaturgia) era o Atílio Riccó, como na Bandeirantes, com o Nilton
Travesso, quando convidamos a Helen Helene para Meu Pé de Laranja Lima, o que
prevaleceu foi a adequação da atriz à personagem’, diz.


Torcida contra


Helen Helene, garota-propaganda de Maluf em 1992, tira essa história de
letra. Acredita que a torcida para que o ator seja hostilizado é maior do que o
preconceito que ele realmente enfrenta. Com uma carreira que inclui trabalhos em
teatro, TV e de locução, ela garante que apesar dos comentários na época terem
sido massacrantes, o mercado não se fechou para ela.


‘As pessoas acharam que nunca mais eu conseguiria fazer teatro e TV. Na
verdade, torciam para isso. Não parei de trabalhar. Enfrentei sim protesto de
alguns, mas segui em frente’, conta Helen, que há tempos é a voz do canal pago
Cinemax e tem um grupo teatral com Rosi Campos. ‘Fiz um trabalho como atriz,
recebi muito bem para isso e faria de novo, claro, se me pagassem o que eu
quero. Tenho meus ideais políticos e já sabia naquela época que político é como
sardinha: só muda de lata.’


Helen conta que a mãe de Samantha chegou a ligar para ela perguntando como a
filha deveria lidar com a situação. ‘A menina estava assustada com a reação das
pessoas. Eu disse para a Samantha ir estudar fora, viajar um pouco que isso logo
passava. Não me vendi, sabe? Só sou menos ingênua que os que criticam quem faz
campanha’, avalia a atriz. ‘As pessoas não entendem que não foi o Maluf que veio
bater na porta da minha casa para me contratar, nem o conheço. Fui contratada
pelo Duda Mendonça, fiz um trabalho como se fosse uma campanha publicitária.
Cheguei a gravar coisas para PT e PSDB na mesma época. Tudo é trabalho. Correr
riscos a gente corre em qualquer tipo de exposição, basta calcular quanto esses
riscos valem e cobrar por isso.’


Mas há quem garanta que por dinheiro algum toparia defender um candidato na
TV. Figurinha de grandes campanhas publicitárias, Rafael Primo integra esse
time. Ator em ascensão, já fez participações em novelas da Globo, faz teatro e
hoje está em Cidadão Brasileiro, da Record. Conta que já disse muito ‘não’ para
polpudos cachês de campanhas políticas.


‘Estou construindo uma carreira, começando em TV e temo ficar marcado.
Conheço muitos colegas que fizeram e depois perderam trabalhos’, conta Rafael.
Nesta campanha, quando soube que havia mais um convite do gênero, pediu que nem
lhe comunicassem o cachê. ‘Era melhor nem saber quanto eu estava perdendo’, ri
Rafael. O ator, por sinal, estrela em São Paulo uma peça de teatro que leva o
espectador a questionar se a classe política é reflexo da sociedade que a elege.
Pente Fino aborda a corrupção que se revela cotidianamente.


Outro ator que navega na linha de resistência a botar o carão no horário
eleitoral e que também está em cartaz num espetáculo que mexe com a consciência
política do espectador, é Sidnei Oliveira. No Tucarena, ele contracena com
Marcelo Tas no espetáculo A História do Brasil Segundo Ernesto Varela – Como
Chegamos Aqui? Conta-nos Sidnei que é comum encontrar em fichas de inscrição
para testes destinados a trabalhos diversos a fatídica questão: ‘Já participou
de campanhas eleitorais?’ Esta pergunta, diga-se, também é feita pela TV Globo a
atores que estão ingressando na emissora.


‘Como a política queima o filme, paga-se muito bem’, endossa Sidnei. ‘Mas
prefiro ganhar menos, sempre, a ganhar muito de uma vez só e ficar meses sem
trabalhar. Depois a gente ainda gasta tudo no psiquiatra, não compensa’, resume
o ator.


‘Não é que a gente pergunte se o ator já fez campanha política’, ressalva a
proprietária da agência de atores Cia. 2, Neusa Caldas. ‘É que tem gente que
quer um rosto inédito. Normalmente, se o ator está rotulado por um produto, que
pode ser a imagem de um político ou de uma marca, isso é levado em conta’,
explica. José Lobato, da agência Totem, confirma. Fala que só as pessoas que
ficaram muito marcadas por determinadas campanhas – eleitorais ou não – podem
sofrer restrições.


Lobato conta que alguns atores, mesmo diante de cachês de R$ 20 mil, fazem
ressalva a este ou àquele candidato. ‘Além do cachê, o sujeito tem lá sua
ideologia’, fala. E, ao encomendar a contratação de um ator com perfil
predeterminado, os marqueteiros não comunicam qual será o conteúdo da campanha.
‘Eu sei de casos em que a pessoa foi contratada para determinada campanha
política e, quando chegou na hora de gravar não quis, porque o conteúdo continha
agressões pessoais, por exemplo’, fala Neusa.


Custo-benefício


Para o especialista em marketing político Chico Santa Rita, o preconceito com
artistas que fazem campanha é muito menor do que se imagina. Idealizador de mais
de 100 campanhas políticas, entre elas, a de Fernando Collor de Mello à
Presidência da República em 1989, e a da ‘Não’ no plebiscito sobre o
desarmamento, Santa Rita acredita que o público sabe separar o artista da
ideologia política dele.


‘No passado, o Milton Gonçalves chegou a me procurar preocupado que ninguém
mais iria convidá-lo para trabalhos na Globo, caso ele fizesse campanha. Eu
disse que isso não ia acontecer. Como podem dispensar um cara com o talento do
Milton Gonçalves? E realmente não aconteceu’, conta o marqueteiro. ‘O público
pode adorar a Fernanda Montenegro, mas não vai votar em alguém só por que ela
falou. Anunciar política é diferente de anunciar produto. É por isso que cada
vez menos se usa artistas em campanha. Antes as campanhas eram estreladas. Essa
prática se mostrou cara e sem resultado.’


Se o público sabe separar o artista da política, as emissoras não se atrevem
a tanto.


SBT e RedeTV! liberaram seus profissionais para participar de propagandas
eleitorais desde que peçam permissão antecipadamente. Só se afastam do
expediente os que forem candidatos. No manual de ética da Globo, determina-se
que, em caso de campanhas eleitorais, artistas saiam de licença e comuniquem a
decisão com três meses de antecedência. Já os jornalistas devem se desligar da
emissora. Diretor de alto escalão da líder garante que medalhões como Antônio
Fagundes não sofrem nenhum tipo de pressão por fazerem campanha, mas é fato que
entre os novatos a prática não é bem vista.


Na Band, funcionários não podem se envolver em campanha eleitoral. Para isso,
os profissionais têm de se desvincular da emissora. Na Record, não há
regulamentação para a prática.”




***


O custo do apoio ideológico


“Pois é, esse é o problema: todo mundo lembra. Quem empresta prestígio a
políticos por ideologia, como as atrizes citadas, ou como Antônio Fagundes e
Paulo Betti (PT), Hebe Camargo (Paulo Maluf) ou Marília Pêra (Collor), também
paga seu preço pela militância. E a patrulha da classe não costuma ser
branda.


Claro que nomes como Marília Pêra e Antônio Fagundes não perderam chances
profissionais por conta de seus ideais políticos. Mas Marília sentiu na pele o
preconceito do meio por ter apoiado Collor em época que a classe artística punha
a cara no ar por Lula.


Há pouco tempo, Cláudia Raia admitiu, em entrevista ao Estado, que o trauma
por ter apoiado Collor serviu para aprender a não se meter mais com política.


Fagundes, que botou a cara no vídeo pelo PT em várias ocasiões, abandonou o
apoio público ao partido há mais de 10 anos. Já em 1993 ele alegava que, uma vez
o candidato eleito, o ator não tem mais os dois minutos que teve no horário
político para eventualmente dizer: ‘com isso que ele está fazendo eu não
concordo’.


Com Regina Duarte o impacto foi maior. Pelo PSDB, a atriz foi à TV na véspera
do 2º turno de 2002 para dizer que tinha ‘medo’ de um governo Lula. No dia
seguinte, Paloma Duarte se ofereceu para responder ao temor pelo horário do PT.
Nem Regina nem Paloma perderam prestígio por isso. E nem se pode apontar
incoerência em qualquer uma delas: Paloma fez jus a campanhas anteriores, e
Regina já em 89 apoiava o PSDB, então na figura de Mário Covas. Era uma das
raras ausências estelares no coro de Lula-lá.


Um pouco por receio em dar a cara a bater, um pouco pelas regras impostas
pelas emissoras de TV, o fato é que o palanque eletrônico, este ano, sobrevive
sem maiores estrelas.”


Leila Reis


Experiência na TV


“Estamos na época do movimento. Ao contrário de duas décadas atrás, quando só
os ricos podiam contratar retratistas para documentar sua história familiar,
hoje o avanço tecnológico tornou os cidadãos urbanos videomakers e cineastas. A
parafernália eletrônica dos nossos dias – câmeras fotográficas, webcam,
telefones celulares, computadores de mão – estimula o usário a registrar cenas
do cotidiano em filminhos.


Assim, com a facilidade à disposição dos que podem comprar esses objetos de
desejo, surgem diretores improvisados que, com a ajuda de atores também
improvisados, acumulam microdocumentários sobre festas de aniversários,
casamentos, encontro de amigos em volta da mesa do bar, cenas do escritório,
pelada dos filhos etc. Essa nova vocação acabou suprimindo a palavra do registro
da memória. Os filminhos tomam lugar dos álbuns de fotos que em determinada
época deram lugar aos slides que, por sua vez, já haviam substituído os diários
pessoais, hábito disseminado em décadas mais remotas.


Era natural que esse hábito chegasse à universidade. Hoje nem o mundo
acadêmico se contenta mais com papel e tinta. Os trabalhos de fim de curso não
tentam mais imitar livros. O formato da apresentação de resultado do
conhecimento adquirido é o de documentário, filme ou programa.


É essa produção que chega ao vídeo da TV Cultura no programa Campus, exibido
nas manhãs de sábado (9h30) e reprisado às terças-feiras (7 h). Fruto de um
acordo com a Fundação Armando Álvares Penteado – Faap, Universidade Mackenzie e
Universidade Estadual de Minas Gerais, o programa pretende, entre outras coisas,
ser uma vitrine do que acontece intra-campus, difundir os trabalhos de pesquisa
e revelar novos talentos.


Não deixa de ser um projeto ambicioso, mas ao se propor a revelar novos
talentos ele reafirma uma das principais vocações da TV Cultura: ser um
laboratório para a entidade televisão como um todo.


É por causa da Cultura que a programação infantil tomou outro rumo, digamos
menos consumista e mais preocupado com o pedagógico (Bambalalão, Catavento,
Castelo Rá-Tim-Bum, Mundo da Lua). Que o adolescente passou a ser considerado um
ser pensante (Matéria-Prima, que acabou revelando Sérgio Groisman).


Esse tipo de ousadia – de abrir espaço para produções ‘amadoras’ – só cabe na
Cultura. É sabido e notório que a chamada TV comercial não é dada a
experimentalismo. Ela não pode desperdiçar tempo e nem perder dinheiro com
programas que não arrebatem logo de cara a audiência prometida ao anunciante.


Isto quer dizer que, com raríssimas exceções, só entram no vídeo das redes
fórmulas absolutamente testadas e aprovadas (no Ibope) em outros cantos da
programação (delas e das concorrentes).


Ao lançar Campus, a emissora mostra coragem, pois banca a abertura de espaço
(mesmo para uma manhã de sábado) para a exibição de uma produção heterogênea.
Não há por que se esperar que saia da leva de realizadores universitários apenas
Spielbergs, Antonionis e Meirelles.


Programas bons e ruins cabem no projeto. Bons como o documentário Do Horror à
Memória, sobre a sangrenta ditadura argentina, feito pelos alunos da
Universidade Mackenzie, e a encenação do conto Passeio Noturno, de Rubem
Fonseca, pelos alunos da Faap. Sofrível como Fim de Semana, em cima do perfil de
uma inspetora de alunos da própria faculdade, e pretensioso como a discussão
sobre a arte de Ensaio Sobre o Invisível.


A irregularidade da produção deixa de ser defeito porque mostra visões
diferentes (estética e conteúdo) de uma geração que está prestes a entrar na
maturidade.”




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