Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Estado de S. Paulo

ELEIÇÕES 2010
Julia Duailibi, Ana Paula Scinocca, Liege Albuquerque e Anne Warth

Serra defende uso da imagem de Lula no seu programa no horário eleitoral

O candidato do PSDB à Presidência, José Serra, defendeu ontem a exibição de imagens suas com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva no horário eleitoral gratuito. ‘Não sei por que estão se incomodando’, reagiu o tucano.

‘Só dissemos que eu e Lula somos políticos experientes, é uma verdade. Que nossos nomes têm história, outra verdade. Por último, que eu tenho mais vivência do que Dilma, mais uma verdade indiscutível’, afirmou Serra, em entrevista ontem em Manaus (AM), depois de almoço com empresários.

No programa na televisão exibido na noite de quinta-feira, foi mostrada uma imagem de Serra, então governador de São Paulo, ao lado do presidente. A locução da peça dizia que os dois eram ‘líderes experientes’ e ‘homens de história’.

A aparição do presidente no programa tucano alimentou polêmica entre integrantes do PSDB e legendas aliadas, que questionaram a eficácia de colocar a imagem no ar. Mas para o núcleo mais próximo do tucano a exibição atende à estratégia de mostrar que Serra é o candidato do pós-Lula. O alvo, dizem, é a adversária do PT, Dilma Rousseff, e não um presidente muito bem avaliado pela população.

Os testes feitos com eleitores pela campanha tucana também mostraram que as pessoas não teriam achado confusa a aparição de Lula no programa de Serra. Durante cinco segundos, foram exibidas fotografias que, no entender dos estrategistas do partido, mostram que, embora de partidos diferentes, Lula e Serra teriam mais coisas em comum, como história e liderança, do que Lula com Dilma.

Os advogados do PT informaram que entrarão com representação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) contra o uso das imagens de Lula. Para os petistas, o artigo 54 da Lei Eleitoral vedaria a exibição de Lula no programa.

A lei diz que poderá participar no horário eleitoral gratuito de determinado partido ‘qualquer cidadão não filiado a outra agremiação partidária ou a partido integrante de outra coligação’. De acordo com essa lógica, o presidente Lula, filiado ao PT, não poderia aparecer no programa do PSDB, seu adversário.

Os tucanos questionaram o argumento legal. Informaram que trata-se de uma foto do presidente da República com um então governador. Exibi-las seria diferente de colocar Lula pedindo votos a Serra, o que seria ilegal.

Tropa. Apesar de algumas críticas no bastidor, a tropa de choque serrista saiu publicamente em defesa do programa. O coordenador da campanha, senador Sérgio Guerra (PE), disse que a aparição de Lula reflete a verdade. ‘Ambos têm trajetória parecida, experiência e liderança comprovada’, disse. ‘Já a candidata Dilma não tem.’

Segundo Guerra, a aparição de Lula é ‘algo momentâneo’ e sem a relevância que a imprensa dá. ‘Essa discussão está mais na cabeça das pessoas iluminadas do que na do povo’, minimizou. ‘Não é um fato de campanha.’

Para o deputado Jutahy Júnior (BA), um dos principais aliados de Serra, a cena mostra ‘civilidade’ entre os dois políticos. ‘Não existe mentira ou ilegalidade na cena. Mostra uma relação civilizada e institucional’, disse. ‘Não tem trucagem nem texto mentiroso.’

Sucessor de Serra no Palácio dos Bandeirantes, o governador Alberto Goldman (PSDB) afirmou que o uso das imagens não configura crime eleitoral, pois mostram apenas o presidente ao lado do então governador. ‘Qual é o mal disso?’, questionou, durante a inauguração do campus de Sorocaba da Universidade Federal de São Carlos.

‘A legislação proíbe que alguém vá a alguma apresentação na TV ou em lugar de um outro candidato. Não proíbe a apresentação de fotografia. Isso é o fim do mundo’, disse, em referência ao anúncio do presidente do PT, José Eduardo Dutra, de que entrará com representação contra Serra. Sobre as declarações de Dilma, que classificou de patética a tentativa de Serra de associar seu nome ao de Lula, Goldman alfinetou: ‘Ela é patética.’

O senador Cícero Lucena (PSDB-PB) também defendeu o uso da imagem de Lula. ‘A imagem é para mostrar que vamos olhar o Brasil para frente, que não vamos acabar com os bons projetos feitos. Não vai haver rupturas. Isso é importante para esclarecer o eleitor’, defendeu.

Empresários. Serra reuniu ontem cerca de 500 empresários do Amazonas em evento do grupo Lideranças Empresariais (Lide). O candidato fez uma visita à fábrica da Honda, no Distrito Industrial de Manaus. No fim da tarde, houve uma caminhada no centro comercial, na qual Serra foi acompanhado do senador Arthur Virgílio (PSDB).

Durante o almoço, Serra conseguiu aplausos ao defender a perenização do modelo de isenção de tributos da Zona Franca de Manaus. Buscou desmentir boatos no Estado onde o PSDB tem historicamente as piores votações em eleições à Presidência.

‘Além desse boato antigo de que sou contra a Zona Franca de Manaus, que só posso repetir que é mentira sempre, hoje vieram dizer que sou contra o Prosamim (programa de saneamento ambiental dos igarapés de Manaus, do governo estadual). Nem sei direito o nome do projeto e não sou contra, meus aliados dizem que é um bom projeto.’

Na palestra aos empresários, Serra criticou o aeroporto e o principal porto da região, anunciando que seu projeto de governo inclui obras nesses locais. ‘A estrutura do aeroporto pode ser considerada indecente, principalmente para uma cidade que vai ser uma das sedes da Copa em 2014’, declarou o candidato.

 

MÍDIA E POLÍTICA
Ana Paula Scinocca

Guerra: Franklin ameaça liberdade de expressão

A guerra entre o Planalto e o PSDB em torno da liberdade dos meios de comunicação esquentou ainda mais ontem. O senador pernambucano Sérgio Guerra, presidente nacional do partido e coordenador da campanha de José Serra (PSDB), acusou o ministro Comunicação Social, Franklin Martins, de ameaçar a liberdade expressão.

Guerra divulgou nota pela manhã, na qual classificou como ‘falsa e nociva’ a manifestação da véspera de Franklin Martins.

Em reação às declarações de Serra, que anteontem acusou o governo Lula e o PT de tentar intimidar e manipular a imprensa, o ministro da Comunicação Social havia afirmado que era ‘grave e descabida’ a acusação do presidenciável e que o tucano ‘falta com a verdade’, além de ‘contribuir para arranhar a imagem internacional do Brasil, dando a entender que nossas instituições são frágeis’.

Sérgio Guerra advertiu que ‘as liberdades de imprensa e de informações não são dádivas de governo, mas sim conquistas da sociedade brasileira, imperativos constitucionais indissociáveis do Estado Democrático de Direito’.

Em nota, o dirigente do PSDB prosseguiu: ‘O PT tem investido contra elas desde o início do atual governo. As ações do ministro Franklin Martins as têm ameaçado desde o início de sua gestão.’

Guerra lembrou que ‘se a imprensa no Brasil é livre e cumpre sua missão’, como diz Franklin, ‘deve isso não ao governo e a seu partido, o PT, mas à derrota e à rejeição das ameaças contra a liberdade de expressão expostas no Plano Nacional de Direitos Humanos III e no primeiro da série de programas de governo registrados pela candidata do PT, Dilma Rousseff, no Tribunal Superior Eleitoral’.

Guerra também citou as ‘conferências nacionais, em que um punhado de militantes pretendendo falar em nome da sociedade, que não lhes deu tal delegação, propõem o ‘controle social da mídia’ e a criação de instâncias punitivas para os que não se submetam aos seus ditames’. Acrescentou: ‘Jornalista, o ministro Franklin Martins já manifestou publicamente seu entusiasmo pelas teses que conspiram contra os fundamentos mais elementares de sua profissão.’

Ontem, Franklin preferiu ficar fora da polêmica. Mas, em nota à imprensa, o ministro Luiz Dulci, da Secretaria-Geral da Presidência, rebateu Serra, dizendo que o candidato ataca a ‘promoção da participação social na elaboração e fiscalização das políticas públicas’. Afirmou que, ao fazer esses ataques, o tucano defende o retorno de ‘uma concepção elitista de democracia’, na qual a população não tem o direito de ser ouvida nas decisões de governo. ‘As acusações descabidas do candidato Serra contra a participação social desconsideram a trajetória de lutas e conquistas da sociedade civil brasileira e a sua contribuição para o enriquecimento da democracia representativa.

 

CONGRESSO BRASILEIRO DE JORNAIS
Glauber Gonçalves

Editor acusa Google de ‘cleptomaníaco’

A utilização do conteúdo produzido por jornais, revistas e outros veículos de comunicação por mecanismos de busca dos grandes portais da internet esquentou as discussões do segundo dia do 8.º Congresso Brasileiro de Jornais, ontem, no Rio. O presidente da Associação Mundial de Jornais e Editores de Mídia, Gavin O’Reilly, acusou o Google de ‘cleptomaníaco’ por não pagar pelo conteúdo produzido por terceiros.

‘Acusei o Google de cleptomaníaco, pois a empresa desenvolveu um modelo genial que não depende do pagamento do conteúdo que utiliza’, afirmou ele sobre a ferramenta de busca de notícias utilizada também por outros portais como o Yahoo.

O dirigente fez um mea-culpa do setor por não ter agido para barrar o modelo de mecanismos agregadores de conteúdo criados pelos portais. ‘Nós, enquanto jornais, deixamos de proteger e de valorizar nosso conteúdo. Não podemos culpar os outros’, declarou.

As críticas ao modelo foram rebatidas pelo presidente do Yahoo Brasil, André Izay. Para ele, esses mecanismos apenas simplificam o acesso dos internautas às notícias. ‘Nosso objetivo é localizar e facilitar o acesso à informação, e não se apropriar de nenhum conteúdo’, disse.

Segundo O’Reilly, nos últimos dois anos, os grande portais têm tentado firmar acordos individuais de acesso a conteúdo com alguns donos de jornais.

Ele defendeu, no entanto, que um novo mecanismo de controle do conteúdo seja utilizado por todo o setor, permitindo que os jornais possam restringir o que vai ser exibido pelos portais de busca. ‘Se eles não fizerem isso, vão perceber que mais e mais publishers vão retirar seus conteúdos’, afirmou.

Demonização. O diretor de Desenvolvimento e Novos Negócios do Google para a América Latina, Rodrigo Velloso, afirmou que a empresa está aberta a discutir maneiras de trabalhar junto aos jornais. ‘A existência da mídia passa hoje pelos serviços agregadores de conteúdo e ela não precisa dominar essa tecnologia’, comentou.

Ele criticou o que chamou de ‘demonização’ da gigante da internet. ‘Está na moda demonizar o Google, como esteve, há um tempo, fazê-lo com a Microsoft’, declarou.

Gavin O’Reilly confirmou a disposição das empresas em dialogar com os jornais, mas cobrou ações. ‘Estamos trabalhando com Google, Microsoft e Yahoo no nosso painel técnico. Mas eles não podem simplesmente dizer que defendem os direitos autorais; precisam demonstrar que realmente fazem isso’, disse o presidente da Associação Mundial de Jornais e Editores de Mídia.

Segundo ele, não é complicado resolver a questão. ‘É simples, só precisam pedir nossa permissão (para usar o conteúdo). Nós pagamos salários. Eles reproduzem o conteúdo e não recebemos nada por isso’, afirmou.

 

Felipe Werneck

Jornais veem entraves para criar conselho de autorregulamentação

A proposta de criação de um conselho de autorregulamentação, aprovada pela diretoria da Associação Nacional de Jornais (ANJ), provocou discussão e polêmica ontem no 8.º Congresso Brasileiro de Jornais, no Rio.

O debate expôs eventuais dificuldades para implementar o órgão e comparações críticas à abortada tentativa de criação de um Conselho Federal de Jornalismo.

Nelson Sirotsky, um dos vice-presidentes da ANJ, citou o caso da censura ao Estado como um ‘exemplo objetivo’ ao defender o novo conselho. ‘Fernando Sarney, um dono de jornal, entrou com uma ação e censurou o jornal O Estado de S. Paulo. Todos os associados (à ANJ) têm que sustentar a liberdade de expressão. Nós temos os valores, mas não temos um rito, por isso vamos nos regulamentar’, disse ele, citando a proposta de se aplicar sanções – aos jornais, não aos jornalistas, segundo Sirotsky. A punição máxima seria a desfiliação da entidade.

O editor de Opinião de O Globo, Aluizio Maranhão, disse que o fato de a autorregulamentação entrar na agenda é importante e um sinal positivo, mas ressalvou ter ‘sérias dúvidas sobre a possibilidade de a ANJ fazer um conselho nos moldes do Conar (Conselho de Autorregulamentação Publicitária)’. Frisando que fazia uma avaliação pessoal e política, ele disse que se sentia desconfortável ao criticar uma ação ‘corporativista-sindical-paraestatal’ como a tentativa de criação de um CFJ e, ao mesmo tempo, defender a proposta da ANJ.

Controle. ‘Quero radicalizar esse ponto porque, não tenho dúvida, se sou governo, aproveito a comissão da ANJ e proponho que façamos juntos um conselho paritário, com representantes da sociedade civil, e, se a ANJ não aceitar, a denunciaremos como refratária ao controle social’, discursou Maranhão.

O aspecto que ele disse considerar mais grave se refere ao objeto do que deve ser regulamentado. ‘É muito mais fácil identificar o desvio numa publicidade do que o desvio numa reportagem’, afirmou Maranhão, que tem assento no Conar, indicado pela ANJ. ‘Qual código poderá abranger o universo de 140 jornais num País disparatado como o nosso, onde se tem caciquias políticas, crime organizado com um pé na política, Bangladesh e Nova York?’

Sidnei Basile, vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Abril e vice-presidente da Associação Nacional de Editores de Revistas (Aner), também citou a tentativa de criação do CFJ. ‘Precisamos de menos tribunais de ética e de mais práticas de uma cultura de convivência de boa fé’, disse Basile. ‘Isso (a autorregulamentação) é mais ou menos como carregar uma carga de dinamite. Dá para ser feito, mas com um enorme cuidado, porque o risco é imenso.’

O presidente da Aner, Roberto Muylaert, disse que a entidade deverá caminhar com a ANJ na discussão do tema. Para a advogada Taís Gasparian, a autorregulação proposta pela ANJ é difícil e complicada, mas ‘parece ser a única saída’. ‘Deveria ser adotada por toda a mídia. Só assim a imprensa vai conseguir se proteger de regulamentações que venham de fora’, disse ela.

Sirotsky explicou que o atual código de ética da entidade, que tem dez preceitos a serem cumpridos pelos jornais filiados, será a base para o trabalho de criação do conselho. O documento prevê a liberdade de imprensa, a defesa dos valores da democracia e a preservação do sigilo das fontes, entre outros pontos.

 

ARGENTINA
Oposição reage à ação de Cristina contra o ‘Clarín’

Líderes da oposição à presidente argentina, Cristina Kirchner, e associações de defesa dos consumidores criticaram ontem a decisão do governo de suspender a licença do Grupo Clarín para operar a empresa Fibertel, que atende um de cada quatro usuários de internet na Argentina. A líder da Coalizão Cívica, deputada Elisa Carrió, disse que o confronto do governo com o Clarín ‘é um instrumento para privar a sociedade de uma imprensa livre’. Segundo Elisa, o governo Kirchner pretende ‘silenciar todas as vozes opositoras e silenciar a sociedade’.

A Cablevisión, empresa do holding Clarín que controla a Fibertel, afirmou ontem que recorrerá à Justiça para impedir o que denominou de ‘medida ilegal e arbitrária’. Segundo os diretores da empresa, a medida ‘é parte de uma escalada cada vez mais totalitária’, pois pretende impedir que a população ‘escolha livremente seu provedor de internet’.

O ministro do Planejamento, Julio De Vido, braço direito da presidente Cristina no setor econômico, sustentou que a licença da Fibertel já havia caducado. ‘A Fibertel já não existe’, disse. A medida deixará mais de um milhão de usuários de internet – o equivalente a 25% dos clientes argentinos – sem sua atual conexão daqui a três meses. Além disso, os usuários perderiam suas contas de mail registradas na Fibertel.

Os usuários contam com um prazo de 90 dias para mudar de servidor. Essa determinação do governo favorece dois pesos pesados multinacionais, a Telefónica (da Espanha), que já conta com 1,4 milhão de usuários, e a Telecom (italiana, com presença de empresários argentinos alinhados com o casal Kirchner), que possui 1,2 milhão de clientes. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

 

MERCADO EDITORIAL
Fernando Scheller

Na era do e-book, indústria aposta no livro de papel

A Suzano Papel e Celulose fez este mês sua primeira grande ação de marketing voltada para o mercado editorial: foi a feiras literárias e contratou uma atriz para ler por horas a fio para promover um tipo de papel que proporcionaria uma experiência agradável aos olhos. A estratégia sinaliza uma maior atenção das papeleiras ao segmento de livros, que se refletirá em uma expansão de até 30% na oferta de produtos para impressão neste ano.

As ações da Suzano na Feira Literária Internacional de Paraty (Flip) e na Bienal do Livro, em São Paulo, serviram para promover o papel Pólen, variedade off-white, de cor amarela, que a empresa diz ser mais adequada aos livros de lazer do que o similar branco. A empresa disputa o mercado editorial nacional principalmente com a MD Papéis, que oferece o Chamois, na mesma coloração. A MD produz 12 mil toneladas do produto ao ano; a Suzano, que fabricou 9 mil toneladas em 2009, pretende fechar o ano próxima do mesmo patamar.

Embora ainda o mercado editorial ainda seja um nicho para grandes indústrias, a disputa pelo fornecimento de produtos específicos ao setor mostra uma mudança na balança de interesses das fabricantes em papel para impressão. Aos poucos, os livros para leitura ‘recreativa’ ganham parte da atenção antes voltada aos didáticos, que garantem volumes maiores.

Para Tadeu Souza, diretor comercial da MD Papéis, o investimento nos papéis off-white se explica pelo fato de o espaço para o crescimento do mercado editorial ser bem maior. ‘O Brasil produziu 380 milhões de livros no ano passado, o que é menos de 2 livros por habitante. Há um espaço enorme de crescimento. Já os livros didáticos vão se expandir somente com a população, que hoje cresce menos’, argumenta.

O executivo prevê vendas até 7% maiores para o segmento de papel para imprimir e escrever em 2010. Ele também descarta que os e-books venham a atrapalhar o desempenho das vendas para as editoras. ‘Os livros eletrônicos não substituem a experiência do papel. Um livro pode ser grifado, emprestado a outros e guardado’, diz Souza. Uma pesquisa do instituto GfK mostra que, pelo menos por enquanto, ele está certo: segundo o levantamento, 67% dos brasileiros desconhecem os e-books.

Dados do mercado editorial mostram que a produção e a venda de livros cresceram acima da média da economia em 2009, quando o PIB brasileiro recuou 0,2%. A produção de livros saltou 13,5%, para 386 milhões de exemplares. Por conta da queda do preço médio do livro, o faturamento do setor subiu 2,1%, para R$ 3,4 bilhões.

Embora os números oficiais sobre 2010 só devam ser divulgados em meados de 2011, há evidências de aceleração do mercado editorial brasileiro neste ano. A receita bruta das livrarias Saraiva teve alta de 26,8% no primeiro semestre deste ano, em relação a igual período do ano passado. As vendas das lojas físicas da rede subiram 19,4% no segundo trimestre. Excluindo-se as novas unidades, a alta foi de 10,5%.

Acostumadas a grandes contratos, as indústrias de papel trabalham com pequenos volumes com as editoras – a maior parte das negociações é feita por obra. O gerente executivo de estratégia e marketing da Suzano, Adriano Canela, diz que os acordos podem seguir a tiragem padrão de um livro no mercado local, que gira em torno de 3 mil exemplares. ‘Oferecemos diferentes cortes do papel, conforme a segmentação exigida’, afirma Canela. Segundo ele, a oferta mais especializada ajuda a aumentar o preço do produto em até 15%.

Para ganhar em volume, a fabricante investe no contato com editoras que investem em títulos comerciais, como a Sextante. A empresa recentemente lançou O Aleph, de Paulo Coelho, com tiragem inicial de 200 mil exemplares, impresso no papel Pólen. A Suzano também desenvolve relacionamentos no setor doando papel para alguns livros – caso da biografia de Clarice Lispector –, em troca de menção à marca da companhia no fim da obra.

De olho

O crescimento do segmento editorial chama a atenção também de indústrias que ainda não desenvolvem produtos específicos para a leitura recreativa. Do total de 108 mil toneladas de papel produzido pela finlandesa Ahlstrom no Brasil, 34% são de papéis para imprimir e escrever. A companhia vende principalmente a editoras ligadas a didáticos, e só produz papel branco. A previsão da empresa é crescer até 20% neste nicho em 2010.

O gerente de vendas da companhia, Paulo Camargo, diz que a empresa estuda diversificar as linhas de sua unidade de papel, em Jacareí (SP). De acordo com ele, após período de acomodação por causa da crise, a empresa pode ‘desengavetar projetos’.

 

TELEVISÃO
Keila Jimenez

Bombeiros terão horário gratuito na TV

Você já está cansado do horário eleitoral gratuito? Tramita em caráter conclusivo na Câmara nos Deputados um Projeto de Lei que pretende assegurar mais horário gratuito na TV, desta vez, para os órgãos de segurança (Defesa Civil, Corpo de Bombeiros e polícias Civil, Militar e Federal). Dicas de segurança e procedimentos em caso de emergência e catástrofes serão alguns dos temas abordados nos programetes, que devem ser exibidos entre 20h e 22 horas, sempre às segundas-feiras, durante cinco minutos. Polícia, Bombeiro, secretária de Segurança se revezarão no horário semanalmente. Pelo projeto, as emissoras terão direito a compensação fiscal.

Olha ela aí

Assim, de Betty a Feia, Daniella Cicarelli surge como convidada de amanhã de Marco Luque, em O Formigueiro, da Band. O programa recebe também o piloto Rubens Barrichello.

US$ 60 milhões

por ano é o que a RedeTV! investe em novas tecnologias. A próxima será o lançamento da transmissão de 100% do conteúdo do canal em celulares 3G

‘O cúmulo da pobreza é ligar de um orelhão pro Criança Esperança…Acreditando que o dinheiro voltará’ Evandro Santo, o Christian Pior do Pânico, no Twitter

Dois personagens divertidos vão seu unir em Passione: Mimi (Marcelo Médice) vai se interessar por Jackie (Alexandra Richter), secretária de Olavo (Francisco Cuoco), assim que chegar ao Brasil.

A nova temporada de O Aprendiz, da Record, terá mandamentos de um bom empreendedor. Dicas necessárias para quem deseja um dia abrir seu próprio negócio. Serão 15 mandamentos ao todo, um por programa, sempre relacionado às provas cumpridas pelos participantes.

Paulo Coelho é o entrevistado de amanhã do É Notícia, da RedeTV!

Lauro César Muniz voltará ao ar na Record só no segundo semestre de 2011. Sua próxima novela sucederá o folhetim de Christiane Fridman.

São grandes as chances de a animação nacional Meu Amigãozão ganhar uma nova temporada no Discovery Kids.

Em uma nova temporada também está pensando o GNT para um programa que ainda nem estreou: Por Um Fio, reality show de cabeleireiros comandado por Juliana Paes.

A direção do canal acredita no formato e no potencial comercial do produto, que já tem entre os seus patrocinadores a L’Oreal.

Fábio Assunção deu uma pausa em sua preparação para Insensato Coração, que sucederá Passione, para participar hoje de um projeto social de Laís Bodanzky. O ator assistirá a curtas-metragens produzidos por jovens de baixa renda no projeto Oficinas Tela Brasil, em Castro (PR).

Atende por Renata Abravanel, filha de Silvio Santos, a idealizadora de boa parte das mudanças do site do SBT. O pacote inclui um portal de vídeos com tudo que foi ao ar no SBT e um plantão de notícias gerais.

 

FOTOGRAFIA
Antonio Gonçalves Filho

A face oculta de Cartier-Bresson

Acena acima foi fotografada em Pequim pelo francês Henri Cartier-Bresson (1908- 2004) em dezembro de 1948, pouco antes da tomada do poder pelos comunistas. No último avião a deixar a cidade, o fotógrafo voou para Xangai, onde fez essa que é uma de suas melhores fotos, a de uma multidão desesperada de chineses tentando trocar por ouro cédulas bancárias prestes a virar nada. É fotojornalismo puro, sem necessidade de legendas. O pânico está impresso em cada um dos rostos, assim como, na foto menor, fica evidente a comoção do encontro entre uma mãe e seu filho, separados durante a guerra, em um píer de Nova York – cena registrada dois anos antes, em 1946. São imagens como essa que o espectador privilegiado viu na retrospectiva do fotógrafo que ficou em cartaz até junho no Museu de Arte Moderna de Nova York (MoMA). Quem perdeu, não precisa ficar necessariamente frustrado. A exposição está totalmente registrada no luxuoso livro Henri Cartier-Bresson – O Século Moderno, lançado esta semana pela editora Cosac Naify em mais uma parceria com o MoMA, após a publicação conjunta, em 2009, do catálogo da mostra de Mira Schendel.

Não é apenas um catálogo, mas um ensaio sobre a formação e a carreira do fotógrafo e criador da agência Magnum com Robert Capa (1913-1954). Fala pouco das suas influências, até mesmo porque Cartier-Bresson só admitia uma, a do fotógrafo húngaro Martin Munkácsi (1896-1963), fotojornalista especializado em esportes de quem viu, nos anos 1930, uma foto que decidiu seu futuro. Eram garotos nadando no lago Tanganica, na África Central, cujos movimentos foram captados de forma delicada por Munkácsi. Peter Galassi, curador da retrospectiva de Cartier-Bresson no MoMA, menciona Munkácsi apenas duas vezes no livro, a primeira quando fala do advento das revistas que usavam fotos dele e outros mestres (Kertész, Irving Penn, Richard Avedon) e a segunda quando trata de sofisticados fotógrafos que fizeram do movimento congelado um tema em si mesmo.

Cartier-Bresson, que começou a praticar fotografia como amador nos anos 1920, ficou, aliás, conhecido por uma dessas fotos, a do homem que pula sobre uma poça d’água atrás da Gare Saint-Lazare (1932), em Paris, movimento eternizado no ar que copia o do cartaz de um circo colado na parede, onde uma acrobata dá um salto em direção oposta à do modelo real. O fotógrafo tinha 24 anos, era um filho dileto da burguesia francesa – seu pai foi dono de uma fábrica de linhas -, militante comunista, parceiro dos surrealistas e um intelectual refinado, leitor de Proust e amigo íntimo de gays rebeldes que abalaram Paris na era do jazz. Entre esses estavam o escandaloso pintor Christian Bérard, seu namorado galerista Pierre Colle e o poeta suicida René Crevel. Com a abertura dos arquivos da Fundação Cartier-Bresson, o envolvimento do fotógrafo com os garotos ficou público. O curador da mostra dá a entender que, embora tímido, suas relações com esses modelos ‘eram tudo, menos distantes’. Dá para perceber. Há uma foto de Colle na cama, enrolado em lençóis e cara de quem acabou de acordar.

A viúva de Cartier-Bresson abriu sem restrições o arquivo para Galassi, que não usa essas fotos como peças de escândalo, mas para mostrar que o olhar de Cartier-Bresson era dividido entre a ordem burguesa em que crescera e a rebeldia dos modernistas – e ele foi amigo de todos os pintores que importavam na cena parisiense, de Bonnard a Picasso, passando por Matisse e Miró, dupla com a qual assinou livros reproduzidos no catálogo. Embora seu foco seja o fotojornalismo de Cartier-Bresson, impulsionado por Robert Capa, o livro fala muito da sua ligação com as artes visuais, seja a pintura surrealista ou o cinema – ele dirigiu documentários (Victoire de la Vie) e atuou em dois filmes de Renoir, La Vie Est à Nous (1936) e A Regra do Jogo (1939); no primeiro, como um vilão aristocrata que atira num alvo em forma de cabeça de operário e, no outro, como um criado inglês no castelo dos protagonistas.

Renoir sabia que Cartier-Bresson era um homem dividido, fruto dos preconceitos de sua classe social. Sardônico, o cineasta transforma o fotógrafo em aristocrata arrogante que dispara contra a classe trabalhadora – crítica à elite francesa, da qual Cartier-Bresson fazia parte – e, depois, em A Regra do Jogo, em alguém que é vítima da opressão burguesa. Óbvio que o fotógrafo tinha consciência dessa contradição, a tal ponto que seu engajamento o levou a fazer reportagens na África sobre as colônias francesas, a registrar como viviam os russos na ex-União Soviética e acompanhar os primeiros passos da revolução comunista na China. Sem ele, o ‘século moderno’ poderia ter perdido um de seus melhores, ou, no parecer de Galassi, seu melhor intérprete.

 

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