Thursday, 25 de April de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1284

O Google, a França e os
EUA na leitura de Sayad

Em dia de poucas notícias sobre mídia e imprensa nos grandes jornais brasileiros, o destaque é para artigo do ex-ministro João Sayad, publicado na Folha e intitulado ‘Google’, no qual o colunista parte da informação de que o governo francês está criando um mecanismo de busca na internet, de caráter estatal, para comparar o desenvolvimento tecnológico das nações.


A Folha também informa o relançamento do canal Globo Internacional na Europa, desta vez via DTH (TV paga via satélite, como Sky e DirecTV), para tentar se recuperar do fiasco que foi o lançamento do canal em 2002 – até hoje a Globo só conseguiu 10 mil assinantes no continente europeu.


Leia abaixo os textos desta segunda-feira selecionados para a seção Entre Aspas.


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Folha de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de janeiro de 2006


POLÍTICA CULTURAL
Silvana Arantes


‘Mercado não é só bilheteria’, diz Senna


‘Secretário do Audiovisual do ministro Gilberto Gil (Cultura), o cineasta Orlando Senna ouviu não poucas reclamações neste mês. Não eram protestos do ministro, mas do setor privado.


O concurso de patrocínio de filmes do BNDES, cujo resultado foi divulgado na última quinta-feira, com a distribuição de R$ 10 milhões a 18 filmes, polarizou durante semanas opositores e defensores da política da secretaria.


Nesse período, intensificaram-se as críticas de que o MinC erra ao privilegiar a produção autoral em detrimento da industrial.


Senna acha improcedente a avaliação. O secretário diz que a conquista de mercado pelo filme brasileiro é o objetivo das políticas do MinC e afirma que o conceito de obra comercial, hoje, não é o mesmo válido 40 anos atrás.


A seguir, sua entrevista à Folha.


Folha – Como o sr. avalia a seleção dos 18 filmes que terão patrocínio do BNDES neste ano? Divulgado na quinta, o resultado havia sido criticado antecipadamente por cineastas e produtores, por suposto privilégio à produção experimental, de reduzido potencial de bilheteria.


Orlando Senna – O resultado aponta para outra direção, e não para essa [do privilégio aos filmes experimentais]. Hoje, é complexa a questão do filme de mercado, principalmente como está sendo tratado por esse grupo queixoso. Um filme de mercado, na consideração antiga, é o que tem êxito enorme nas bilheterias de cinema. Hoje, um filme de mercado não é isso. Alguns sucessos têm êxito apenas relativo nas salas de exibição e garantem arrecadação enorme por meio das outras mídias de difusão, como DVD, telefonia, vendas para iPod.


O viés das novas tecnologias causou mudanças nos planos de negócios e demonstra que um filme de mercado não pode ser considerado hoje com os parâmetros de 30 ou 40 anos atrás.


O resultado do BNDES aponta um processo muito qualificado de seleção, que trabalhou nessa direção de filmes de qualidade artística com empuxo mercadológico. A resposta [às críticas] é estarmos com 14% do nosso mercado [participação do filme brasileiro nas bilheterias do país em 2005].


Folha – Se o sr. considera os 14% de 2005 um bom resultado, avalia os 21% de 2003 como um ponto fora da curva?


Senna – Foi um pique excelente. Se você começa uma partida de futebol fazendo um gol no primeiro minuto é uma maravilha. Mas, obviamente, foi algo fora dos parâmetros da economia do audiovisual e de qualquer outra.


Uma subida de mercado de 6% para 21% é excepcional. Ninguém espera que se repita de forma corriqueira. O que se espera é a manutenção de um padrão.


Tivemos agora um início de ano com um filme de bilheteria enorme [‘Se Eu Fosse Você’, de Daniel Filho: 1 milhão de espectadores em duas semanas]. A ocupação do mercado tende a crescer em 2006. Não será um crescimento fenomenal, mas um crescimento real, baseado numa política.


Folha – As maiores polêmicas da gestão Gil no MinC tiveram início ou foram alimentadas por produtores e cineastas e têm como questão de fundo o financiamento ao cinema. A Secretaria do Audiovisual pretende fazer mudanças nas regras de financiamento?


Senna – Temos de manter o que é positivo no financiamento através da renúncia fiscal e tentar aprimorar os poucos aspectos que podem ser aprimorados. Há proposta de modificações na Lei Rouanet, feita a partir de uma longa consulta pública realizada em 2003 e 2004 e que será examinada pelo Congresso. Qualquer mudança na Lei do Audiovisual só será feita este ano, se for necessária, com consulta pública. O que devemos fazer todos, governo e iniciativa privada, é pensar novas formas de financiamento.


Folha – Quando o MinC propõe descentralização dos recursos e regionalização da produção audiovisual, está interessado em desenvolver o aspecto de expressão cultural do cinema ou a sua vertente de arte industrial?


Senna – Ambos. São vasos comunicantes. A política do MinC é abrangente, estimulando ao mesmo tempo a diversidade da criação, a diversidade de modelos negociais e a distribuição, porque se trata do mesmo sistema, da mesma cadeia de produção, com áreas específicas, mas integradas.


O alimento artístico do chamado ‘filme de mercado’ ou ‘filme comercial’ é a livre invenção dos ousados, dos experimentalistas, do curta-metragem. O oxigênio econômico do filme de vanguarda depende do sucesso de bilheteria dos filmes de maior apelo comercial. Um veste o outro.


Folha – Quando estabeleceu os critérios de patrocínio das empresas estatais, o que o MinC almejava para a área de cinema? O sr. julga que o atual modelo dos editais e das comissões de seleção nas estatais atingiu a sua melhor forma ou pode ser aperfeiçoado?


Senna – O que houve foi uma maior integração dos investimentos das estatais a uma política federal. Almejávamos maior racionalidade mercadológica, aumento pluralizado da produção e transparência. Ou seja, o resultado que estamos alcançando. O modelo pode ser aperfeiçoado, com resultados ainda melhores.


Folha – O que o sr. recomenda ao representante do MinC nas comissões de seleção de projetos para patrocínio das estatais?


Senna – O MinC tem representantes no comitê das empresas estatais que define os investimentos em projetos culturais. Esses representantes são apoiadores das empresas no desenvolvimento das políticas públicas que estão sendo executadas, são elos entre o MinC e as empresas. E tem um representante nas comissões de seleções. A recomendação a esses representantes é a mesma feita aos outros integrantes das comissões: trabalhem com critérios de qualidade artística e mercadológica e de valor cultural.


Folha – Ao assumir a Secretaria do Audiovisual (2003), o sr. disse que havia ‘falhas de Estado’ na gestão dessa área, apontou existência de práticas monopolistas no setor da distribuição e de dumping no da exibição, ligadas à atuação de empresas estrangeiras no mercado interno. As falhas foram corrigidas?


Senna – Algumas dessas falhas foram corrigidas, como a nacionalização dos recursos e ações do governo, a democratização do acesso a esses recursos, a abertura de linhas de exportação. Outras, estamos tentando corrigir, como a legislação deficitária e ultrapassada e a instrumentação da Ancine para fiscalizar as mídias de distribuição e cobrar os impostos.


Estamos com as energias apontadas para instituir o Fundo Público do Audiovisual e montar um circuito de salas voltado prioritariamente a filmes brasileiros.’


INTERNET
João Sayad


Google


‘Nos Estados Unidos é proibido fumar em quase todos os lugares. Na França, fumar é quase obrigatório. O francês é a negação do americano. E vice-versa.


Na semana passada, o ‘Financial Times’ fez ironias a respeito da decisão do presidente Chirac de investir em novo sistema de pesquisa, que concorrerá com o Google. ‘Já existe um Google francês, o Google.com.fr.’ O sistema será especializado em vídeos e fotos. A gozação do jornal está dirigida ao caráter estatal do projeto. E ao fato de ser francês.


A França foi pioneira no lançamento de uma rede digital, a minitel, anterior à internet. Por outro lado, a própria internet começou nas forças armadas americanas, isto é, como investimento público.


Muitas investimentos pioneiros começam como públicos porque os lucros sociais são muito maiores que os privados. E os lucros privados não justificariam o investimento.


O caráter público dos investimentos depende das características da economia onde se realizam. A Google é um investimento privado nos Estados Unidos depois que a internet apareceu. A França, exatamente por seu atraso relativo nesse setor, talvez precise de uma Google estatal, que pode ser bem-sucedido ou não.


No século 19, nas economias ‘relativamente atrasadas’, como França, Itália, Alemanha e Rússia, o Estado ou grandes bancos associados ao Estado foram os grandes investidores ou financiadores do desenvolvimento industrial.


O mesmo se aplica ao Brasil do século 20. A Companhia Siderúrgica Nacional, a Petrobras e a Embraer, por exemplo, começaram como empresas estatais porque atuavam em setores que, para nós, eram de tecnologia de ponta e em uma economia ainda pouco industrializada. Mais tarde, puderam ser privatizadas. Hoje, os investimentos públicos são necessários em outras atividades.


Nos Estados Unidos, país da liberdade individual, a Google está sendo processada por não fornecer informações confidenciais sobre os usuários para facilitar investigações policiais. Ao mesmo tempo, o governo é acusado de fazer espionagem doméstica.


A Google desenvolveu um programa espetacular, o Google Earth, que permite ver a Terra como se estivéssemos numa nave espacial versátil, que viaja à altura de um satélite, de um avião de carreira ou mesmo de um helicóptero. Voando baixo sobre as cidades mais importantes, podemos até reconhecer a própria casa, o jardim e as árvores.


Não existe uma distância certa para ver as imagens. De muito perto, as fotos viram um mosaico incompreensível de quadradinhos (pixels) coloridos. De longe, um mapa escolar convencional. De longe, os franceses são estatizantes, e os Estados Unidos, o paraíso da liberdade. De perto, é impossível concluir.


O Brasil, de muito perto, é incompreensível -uma profusão de notícias sobre corrupção. De longe, um problema exótico de macroeconomia. A melhor distância para analisar é a do artista. Distante o suficiente para ser conceitual -quadro, música ou filme. E suficientemente próxima para emocionar, como nos emocionam as coisas que amamos.


João Sayad escreve às segundas-feiras nesta coluna.’


VoIP
Editorial


Internet Falada


‘Há uma pequena revolução em germe no Brasil com a entrada dos serviços de telefonia pela internet. O VoIP (voz sobre protocolo de internet, na sigla em inglês) faz com que a ligação trafegue pela rede de computadores e se conecte com a malha telefônica apenas em seu destino. Virtualmente anula o custo relativo ao fator distância nas chamadas.


Companhias que têm de se comunicar em base regular com subsidiárias, clientes e fornecedores em várias cidades do país ou até no exterior encontram no VoIP um modo de baixar bastante seus gastos com telefonia. O barateamento das chamadas chega a superar os 80% na comparação com interurbanos tradicionais.


Algo como 70 mil empresas brasileiras já aderiram à nova tecnologia. O segmento doméstico vai aos poucos acompanhando a marcha, mas a disseminação da facilidade nesse caso está mais restrita, pois um dos requisitos para ter acesso ao serviço -a conexão em banda larga- está presente em apenas 6,7% dos lares.


A perspectiva de crescimento desse mercado é geométrica. A consultoria Merrill Lynch estima que os provedores de telefonia pela internet nos EUA tenham, ao final deste ano, mais de 12 milhões de assinantes -quatro vezes mais do que em 2003.


O elevado potencial de negócios favorece o surgimento de uma miríade de pequenos provedores de VoIP no Brasil. As companhias telefônicas se preparam para disputar o mercado. Com a presença dos grandes provedores e das empresas de TV a cabo, a competição promete ser aguda, o que beneficiará o consumidor.


Age bem a Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) ao eximir-se por ora de interferir na competição pela telefonia na internet, no que segue a opção de sua homóloga americana, a FCC. O fato de o avanço do VoIP estar contido no fenômeno maior da convergência das tecnologias da informação vai exigir no futuro próximo abordagem mais sofisticada, transdisciplinar, dos reguladores. Basta lembrar que uma nova e decisiva fase dessa revolução tecnológica -a TV digital- bate à porta.’


TV GLOBO
Daniel Castro


Após fiasco, Globo relança canal na Europa


‘Lançado na Europa em 2002, o canal Globo Internacional será ‘relançado’ em março no continente. O canal, com quase a mesma programação da Globo no Brasil (menos filmes, desenhos e séries enlatadas), é dirigido a brasileiros que vivem no exterior.


A Globo Internacional fracassou na Europa, onde tem hoje apenas cerca de 10 mil assinantes. No mundo todo, cerca de 400 mil pessoas pagam US$ 20 por mês, em média, para vê-la. Mais 1,6 milhão de pessoas, principalmente na América Latina, têm acesso ao canal, mas pagam por ele um valor irrisório. Isso porque nos países vizinhos do Brasil a Globo Internacional não é um canal ‘premium’, mas integrante de pacotes básicos e étnicos.


O canal não deu certo na Europa, avaliam executivos da Globo, por causa do parceiro da emissora no continente, a TV Cabo, uma operadora de TV paga de Portugal. A TV Cabo não conseguiu fechar acordos com outras operadoras européias.


A Globo vai agora distribuir o canal na Europa via DTH (TV paga via satélite, como Sky e DirecTV), estratégia que deu certo nos EUA e no Japão. Para chegar aos brasileiros que vivem na Europa, a própria Globo terá que arcar com as despesas de satélite e fechar parcerias com instaladores de antenas em todo o continente. Mas espera conquistar 100 mil novos assinantes, que pagarão, cada um, US$ 20 pelo canal.


OUTRO CANAL


Clonagem 1 Quem sintonizar o ‘Jornal da Record’ a partir da próxima segunda-feira, 30, poderá ter a sensação de que está vendo o ‘Jornal Nacional’. O novo cenário do telejornal, que nesse dia deverá passar a ser apresentado pelos ex-Globo Celso Freitas e Adriana Araújo, é quase uma réplica do ‘JN’.


Clonagem 2 Os apresentadores do ‘Jornal da Record’ ficarão em um mezanino, com a redação ao fundo. O azul será a cor predominante. O cenário só não terá o teto formando o desenho de um globo. Nem a música-tema do ‘JN’.


Estante A TV Cultura negocia com a Imprensa Oficial do Estado de São Paulo a renovação do contrato de patrocínio do ‘Entrelinhas’, programa sobre literatura apresentado pela atriz Paula Picarelli. A emissora também negocia com a Imprensa Oficial transformar a coleção de livros ‘Aplauso’ (biografias e depoimentos de atores e autores de TV) em uma série de documentários.


Mandou bem Pedro Malta, o menino que interpreta dois personagens na novela ‘Prova de Amor’, está em alta na Record. A direção da emissora, que avalia Malta como intérprete dos personagens mais difíceis da trama, já estuda um contrato de longa duração com o ator. Não quer perdê-lo para a Globo (onde foi revelado), que está de olho nele.’


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O Globo


Segunda-feira, 23 de janeiro de 2006


MÚSICA
Eduardo Fradkin


Músicos afinados contra a OMB


‘Uma eleição antecipada de novembro para julho de 2005 na Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) foi o estopim de uma mobilização nacional contra a instituição. O que começou com um abaixo-assinado para pedir a anulação do referendo tomou proporções maiores quando o violonista Eduardo Camenietzki, cujo nome encabeçava o documento, foi surpreendido com um processo de cassação de seu registro da OMB movido pelo conselho regional do Rio, no mês passado. Sem o registro, a lei não permite que se toque em público ou se lecione música, atividades exercidas pelo réu.


O violonista foi acusado de falta de ética pelo presidente regional da OMB João Batista Viana, que também é vice-presidente do conselho federal, onde agora tramita o processo de cassação. O posto de Viana era um dos disputados na eleição do ano passado. Os músicos que lhe fazem oposição alegaram que não tiveram tempo de organizar uma chapa e que a antecipação do pleito foi antidemocrática. Viana está no cargo desde 1982. O presidente nacional da ordem, Wilson Sândoli, foi empossado em seguida ao golpe militar de 64 e permanece até hoje.


– A OMB está distanciada da classe, não fiscaliza contratos, está desaparelhada e só faz cobrar anuidades. Fui atrás de adesões para o abaixo-assinado lá mesmo no dia da eleição e fui ameaçado de agressão por amigos do presidente (Viana) . É curioso que só encontrei 14 eleitores durante todo o dia. Quem são as pessoas que votam na perpetuação dos quadros? Ninguém tem acesso a esses dados. Além disso, há muitas irregularidades, como a ausência há mais de 20 anos de assembléias gerais, que deveriam ser anuais, delegacias da ordem que funcionam em endereços particulares, entre outras – enumerou Camenietzki, que ganhou o apoio da presidência da Funarte na luta para evitar sua cassação.


Tal luta é um dos tópicos de um novo abaixo-assinado, que já contabiliza 500 nomes, entre eles os de Chico Buarque, Roberto Frejat, Sandra de Sá, Zélia Duncan, Carlos Lyra, Leila Pinheiro, Cristóvão Bastos, Joyce e Wagner Tiso. O documento pede também a intervenção do Ministério Público Federal para suspender os mandatos de dirigentes ‘comprometidos com práticas autoritárias’, a reforma do processo eleitoral, o levantamento do patrimônio material e imaterial da entidade e a restituição dos registros de todos los músicos ‘cassados por não concordarem com as regras impostas pela OMB’. Camenietzki crê ter sido decisivo para sua cassação o fato de Viana ter visto uma conversa on-line em que se referia a ele como papa-defuntos, pois o presidente da ordem teria dito que dá enterros dignos aos músicos.


O acusante retorquiu que Camenietzki foi penalizado por não ter apontado a uma comissão de ética instaurada na ordem as irregularidades que denuncia. Para Viana, a maioria dos 500 subscritores do abaixo-assinado está inadimplente com a ordem e mal sabe o que assinou. Sobre a eleição, disse que ela foi feita dentro da lei e que a antecipação foi ordem de um juiz do Rio Grande do Sul, cujo nome não se lembrava. Ressaltou que nos 40 anos de Sândoli na presidência da OMB foi construído um belo patrimônio, que inclui um ‘palácio’ em Brasília e que a ordem proporciona aos seus associados restaurante, policlínica, estúdio de gravação e outras facilidades.


Em seguida, revelou que mais de 80% dos 48 mil músicos inscritos no Rio estão inadimplentes. Espantoso? Não tanto quanto a explicação para o fato, que descarta a possibilidade de ojeriza da classe à sua entidade representativa.


– São músicos que não têm trabalho, por isso não pagam a anuidade de R$ 81. O órgão tirou o trabalho de muitos músicos. Você vê um recital de uma cantora com um organista e sai de alma lavada, nem é preciso uma orquestra – alegou Viana.


A solução proposta para revitalizar o mercado de trabalho foi igualmente inusitada.


– Se os cassinos voltassem, haveria trabalho para muitos músicos. Seria uma maravilha. Acho que a taxa de inadimplência cairia – completou.


O presidente nacional da ordem, Wilson Sândoli, foi procurado por três dias mas não retornou as ligações.’


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O que dizem os músicos


‘ROBERTO FREJAT: ‘Desde que me filiei à Ordem dos Músicos do Brasil, em 1982, eu nunca testemunhei um movimento, gesto, ato ou posicionamento dela em favor da classe musical. Tudo que vivenciei foi a exigência do pagamento da anuidade e momentos de achaque policialesco em busca de comprovantes de quitação dessa anuidade para que o evento fosse autorizado. Uma entidade que tem o mesmo presidente desde 1965 não pode fugir da pecha de ser o rescaldo de um tempo autoritário.’


GABRIEL O PENSADOR: ‘As pessoas que comandam a OMB deveriam estar abertas à opinião dos músicos. A cassação do registro do Eduardo foi um absurdo. Ele tem direito a expressar sua opinião. A ordem poderia até tê-lo processado pelo que falou mas não ter cassado seu registro. A profissão de músico não combina com autoritarismo. Combina com liberdade, inclusive a de expressão.’


HELIO DELMIRO: ‘Trata-se de uma instituição que não evoluiu culturalmente, mantendo uma postura política retrógrada e omissa. É preciso realmente uma reformulação, substituindo omissão e truculência por uma administração moderna e participativa, discutida pelos associados.’


JORGE AYER: ‘Eu e todo mundo que conheço tocamos há anos sem ordem contratual. Onde está a fiscalização da OMB? Não reprimem irregularidades trabalhistas, mas reprimem um músico que se opõe à ordem.’’


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O Estado de S. Paulo


Segunda-feira, 23 de janeiro de 2006


TV DIGITAL
Carlos Franco


Celulares estréiam transmissão de TV digital nesta Copa


‘A Copa 2006 entra em contagem regressiva e, com ela, vários atrativos online para ver, ouvir e ler sobre os jogos, especialmente sobre as chances de o Brasil conquistar mais uma estrela no torneio mundial de futebol, tornando-se hexacampeão. Na mídia, a grande novidade desta Copa são os aparelhos celulares, que permitem tirar e enviar imagens ao vivo dos jogos e, em alguns países, se transformarem em aparelhos de televisão, permitindo ao público acompanhar individualmente a transmissão integral das partidas, reter imagens de gols e acoplar este serviço ao já tradicional envio de e-mails, com imagem e textos, e mesmo pequenos filmes, espécie de curtas-metragens não editados.


É essa mudança que está transformando a finlandesa Nokia no maior produtor mundial de câmeras digitais. Foram 100 milhões de celulares com câmera produzidos no ano passado, mais 40 milhões de celulares com Music Player e 25 milhões de celulares tipo SmartPhone, o modelo tradicional que vai perdendo mercado para os mais sofisticados.


No mundo, a estimativa é de que, no ano passado, 740 milhões de celulares foram vendidos globalmente. Não há dúvidas, porém, que são os que possuem câmeras e agora telas mais potentes os preferidos do consumidor, diz Fiori Mangoni, gerente de produtos da Nokia Brasil. A empresa já está produzindo em escala industrial na Europa aparelhos com o sistema de TV digital europeu, de olho na transmissão de jogos. ‘Isso será possível por meio de acordos com as concessionárias das imagens’, diz Mangoni.


Ele põe o dedo numa ferida que hoje faz movimentar poderosos grupos de pressão sobre o padrão de TV digital a ser adotado pelo País. Essa convergência de mídias que permite o padrão europeu assusta emissoras, que preferem o modelo japonês, que obriga as operadoras de celulares a terem que realizar processo de convergência apenas com autorização. Já o padrão americano, menos disseminado que o europeu, também está na mesa de discussão do governo e do Congresso.


De qualquer forma, fabricantes e operadoras têm pressa nessa corrida, e o celular que hoje ganhou múltiplas funções também está prestes a se transformar em veículo de mídia, para a difusão de publicidade. Neste caso, o assunto também é polêmico, porque as operadoras teriam de abrir a anunciantes dados do perfil de seus clientes e estes podem reclamar da invasão de privacidade. Há quem defenda que aqueles que permitirem o envio de publicidade sejam beneficiados de alguma forma por tarifas, que seriam pagas pelos anunciantes.


A operadora italiana de telefonia celular TIM, por exemplo, já se prepara até para oferecer filmes para celulares. ‘Na Europa, já começam a surgir locadoras de filmes por sistema de cartão para serem veiculados no celular’, diz Stefano Melucci, gerente de Desenvolvimento de Produtos e Serviços de Valor Agregado da TIM. A aposta mais firme da operadora, porém, é exatamente a transmissão de programas de televisão pelo celular. No Brasil, três modelos da Nokia (6681, 6600 e 3650) já permitem esse uso. É o serviço TIM TV Access, que permite que esses aparelhos sejam ativados para a captação da programação da Band e, via TVA, de BandSports, BandNews, Bloomberg e TVA no Ar, além de Climatempo, TV Câmara, TV Senado e SAT 2000 (canal do Vaticano).


‘Essa é uma realidade e deve provocar o surgimento de empresas como aconteceu com o ring tones (os sons musicais dos aparelhos), os games e, agora, videoclips e filmes. A Copa da Alemanha promete ser o campo de teste da transmissão em tempo real (broadcasting).’



Matt Richtel


Equipamento é o mais novo alvo da propaganda, do The New York Times


‘Esqueça os comerciais de 30 segundos nas telas de alta definição em 50 polegadas. Que tal uma mensagem de três segundos nas mais diminutas telinhas? Os comerciais para televisão estão chegando no celular mais perto de você. Tudo isso faz parte de uma ampla iniciativa dos publicitários para que seja criada uma nova geração de comerciais ‘íntimos e pessoais’ que levarão vídeos, áudio, banners e textos a um aparelho possuído por quase todos os americanos adultos.


Os publicitários dizem estar especialmente empolgados com a perspectiva do eventual uso dos celulares, muitos dos quais equipados com sistema de posicionamento global, para enviar comerciais aos consumidores com base em sua localização. Com essa informação eles poderiam, teoricamente, enviar mensagens de certas lojas aos usuários que estiverem na região próxima.


O marketing baseado nos telefones celulares pode ser ‘a bala de prata que há muito procurávamos para a publicidade’, disse Laura Marriott, diretora-executiva da Associação de Marketing em Celulares, consórcio de operadores de celulares, agências de publicidade, empresas de tecnologia e publicitários.


Mas comerciais em telefones celulares representam um sério problema, de acordo com os grupos de defesa do consumidor americanos. Os críticos argumentam que a Madison Avenue, com anúncios espalhados em todos os espaços vazios – como outdoors, muros e laterais de ônibus – logo poderá invadir um aparelho que se tornou tão comum como uma carteira. ‘Isso é só uma parte do horror que é ter a publicidade em cada canto e fresta de nossas vidas’, disse Gary Ruskin, diretor-executivo do Alerta Comercial , um grupo sem fins lucrativos de consumidores.


As operadoras de aparelhos celulares alegam que o risco de perder clientes é um forte incentivo para ter cuidado. Por lei, os operadores não podem divulgar informação sobre o endereço dos assinantes a menos que o indivíduo dê permissão.


Uma idéia que está circulando entre operadoras e agências é oferecer incentivos aos consumidores, como mensalidades reduzidas, se concordarem em receber anúncios.’


PIERRE VERGER
Flávia Guerra


Bahia de todos os ângulos


‘Os números são superlativos. Retratos da Bahia, primeiro livro que o fotógrafo e etnógrafo francês Pierre ‘Fatumbi’ Verger, lançou no Brasil, contém 251 imagens em preto-e-branco das mais de 800 que ele realizou de 1946 a 1952, retratando os costumes, as crenças, os becos, os descampados, os altos e baixos, os sorrisos e até mesmo os aromas daquela que ele chamava de Boa Terra. Suas fotos revelam o tempo de uma Bahia idílica que há muito dizem ter se perdido. Apaixonado pela terra de todos os santos, Verger não realizou só um mero registro iconográfico. Traduziu a Bahia e o Brasil para o mundo.


Declaradamente seu trabalho favorito, esta obra-prima da fotografia está completando 25 anos e ganha uma reedição à altura de seu valor. Esta não é a primeira reedição de Retratos da Bahia, que fique claro. Um primeiro novo tratamento foi realizado em 2002 por ocasião do centenário de Verger. Mas esta é a primeira vez que tamanho apuro é dado ao seus retratos tão carinhosos.


Além de uma nova capa (desta vez, a foto que abre é a vertiginosa Porto dos Saveiros, em que um pescador escala o mastro de um dos barcos), novo papel e as novíssimas técnicas de impressão conseguem o feito de melhorar ainda mais o trabalho de Verger. ‘As fotos são em preto-e-branco, mas finalmente estamos imprimindo o livro com quatro cores de base, o que dá maior riqueza às nuances. Os cinzas, os semitons se destacam, tudo ganha muito mais profundidade. É notável a diferença’, explica Arlete Soares, grande admiradora, amiga e editora de Verger, morto em 1996, aos 94 anos.


Não por acaso, também é o primeiro livro a ganhar apoio da Funcultura, Fundo de Cultura da Bahia, programa do governo estadual que estimula a produção artístico-cultural baiana por meio de parcerias com empresas e incentivos fiscais.


Superlativa também foi a labuta para tornar Retratos da Bahia (Editora Corrupio, 288 págs., R$ 220) uma realidade. ‘Eu havia prometido o livro a Verger, que havia passado por um período de grande frustração após ter sido preso na Nigéria, onde foi professor visitante na Universidade de Ifé. A prisão colocou em dúvida sua honestidade e o deixou perplexo e triste, sem motivação para o trabalho’, relata Arlete. ‘Foi então que prometemos publicar sua obra, até aquele momento desconhecida no Brasil. Foi muito mais difícil do que pensava. Eu tinha cartas de recomendação de Jorge Amado e Carybé, mas mesmo assim ouvi de grandes editoras que lançar um livro sobre negros não dava retorno. O Brasil era muito mais racista e preconceituoso’, continua. ‘Jamais contei isso a Verger. Ele já estava entusiasmado demais. Então, eu e mais três amigos (Arnaldo Grebler, Enéas Guerra e Cida Nóbrega) decidimos abrir uma editora só para tornar Retratos da Bahia uma realidade.’


A ousadia valeu a pena. Retratos ganhou críticas que se derramavam de admiração por todo o País. A obra virou referência de excelência em apuro técnico e artístico e ainda hoje inspira mestres da fotografia pelo mundo. ‘Até Drummond escreveu sobre o livro’, orgulha-se Arlete. Mas investimento é investimento. ‘As contas tinham data para vencer. Não tínhamos experiência nenhuma de mercado e naquele tempo Salvador era muito mais longe do Rio e São Paulo. Tive de vender um terreno na praia para pagar o livro. Conseguimos nos manter e hoje ainda lançamos grandes artistas’, orgulha-se Arlete, que conheceu o fotógrafo por intermédio de um amigo ilustre. ‘Foi Jorge Amado quem nos apresentou. Eu fazia doutorado na França e descobri o livro Fluxo e Refluxo do Tráfico de Escravos entre o Golfo do Benin e a Baía de Todos os Santos dos Séculos XVII a XIX. Precisava ler, mas só existia em francês. Eu li e quis traduzi-lo para o português. Falei disso para o Jorge, que nos apresentou. Verger foi tão gentil que me enviou seu exemplar, cheio de anotações. Pouco depois, ele me convidou para ir à Nigéria. Acabamos amigos e eu me incumbi de resgatar suas fotos que ele havia deixado na casa de amigos durante a Segunda Guerra. Cheguei a despachar 150 quilos de negativos para o Brasil.’


Originalmente, Retratos da Bahia tem prefácio dos amigos Carybé e Jorge Amado, além de um texto em que Verger relata desde a primeira vez que avistou a Baía de Todos os Santos, a importância do carnaval, e seu amor pelo candomblé, religião que adotou e lhe deu o segundo nome de Fatumbi (renascido pelo Ifá, sistema de adivinhação de religiões tradicionais africanas). A nova edição ganhou apresentação de Gilberto Sá, presidente da Fundação Pierre Verger, e de Arlete Soares.


Como se nota no texto escrito pelo próprio, para Verger, superlativa mesmo era a Bahia. Para melhor relatar o amor que tinha pela terra que o acolheu, sugeriu a Arlete que dividisse o livro numa seqüência capaz de revelar aos poucos seus caminhos pela Bahia, as visões gerais da Cidade Alta e Baixa, as festas populares, as moças e rapazes, pescadores, cenas de rua, fachadas, os amigos. ‘É o retrato de uma Bahia que não existe mais, que foi destruída. Período em que a arquitetura não havia sido tão agredida, que festas populares não haviam ganhado essa dimensão comercial, assustadora’, reflete Arlete.


Preservar esse tempo já é grande feito. Mais que o etnógrafo, pesquisador, fotógrafo e artista, Verger é sempre apontado como um grande humanista, que tinha a coragem de fugir do óbvio. Em uma época em que a cultura se pasteuriza para alimentar massas sedentas de consumo rápido, Verger se reafirma cada vez mais como mestre. ‘O que me deixa mais feliz é que as pessoas se interessam. Outro dia, uma vendedora de acarajé queria comprar o livro e sugeriu pagar em dez prestações. Acabei dando o livro de presente.’


Verger tinha essa capacidade de dialogar com os chamados mais humildes. ‘Quando desembarcou na Bahia, já tinha 44 anos e havia percorrido o mundo. Era um andarilho com olhar estrangeiro, experiente o bastante para não observar uma nova terra apenas como um voyeur, mas perceber as sutilezas de cada povo. Ele teve capacidade de nos devolver uma Bahia que nós mesmo não enxergávamos. A Bahia de Verger ainda existe, mas hoje ela não está mais próxima do mar. Há que se recuar para as regiões periféricas para encontrar os tipos que ele tanto amava. Mesmo em seu tempo, ele me levava para passear sempre longe da orla, nos bairros recuados, longe da classe média, em busca da Bahia que encantava.’’


INTERNET
O Estado de S. Paulo


Google lidera ranking de marcas influentes


‘O site de buscas Google retomou em 2005 o primeiro lugar entre as marcas mais influentes do mundo, em pesquisa realizada pela revista online brandchannel.com. No ano anterior, a posição foi ocupada pela Apple, que caiu para o segundo lugar, seguida de Skype, Starbucks e pela fabricante de móveis Ikea. Na América Latina, as cinco marcas mais bem colocadas foram a cerveja Corona, rum Bacardi, operadora de telefonia Movistar, sandálias Havaianas e grupo Cemex.’


SBT
O Estado de S. Paulo


Ratinho e SBT condenados por ofensa a pastor


‘A Justiça paulista condenou o apresentador Carlos Roberto Massa, o Ratinho, o diretor Américo Ribeiro e o SBT ao pagamento de 500 salários mínimos à Igreja Pentecostal Deus é Amor e ao pastor David de Oliveira Miranda, filho do fundador da igreja, David Martins de Miranda.


De acordo com informação do site Consultor Jurídico, o motivo da condenação foi uma entrevista exibida no Programa do Ratinho, em 8 de junho de 2000, com Raquel Borges Miranda, ex-mulher de David Oliveira de Miranda. Raquel teria atingido a imagem do marido, revelando fatos que corriam em segredo de Justiça. Durante a entrevista, Ratinho recomendou que fosse aplicado um castigo corporal ao marido e que ele fosse preso, já que devia pensão alimentícia.


Ainda segundo o Consultor Jurídico, a justiça entendeu que ‘a liberdade de imprensa deve vir junto com a responsabilidade. Em contrapartida ao poder de informar, existe a obrigação de divulgar a verdade, preservando-se a honra alheia, ainda que subjetiva.’ Cabe novo recurso ao próprio Tribunal de Justiça contra o resultado do julgamento.’


CASOY NA REDE TV!
Taíssa Stivanin


O caro Boris Casoy


‘A RedeTV! não se pronuncia a respeito, mas quer, e muito, que Boris Casoy feche contrato com a casa. O problema, entretanto, é que é preciso encontrar um patrocinador que banque o salário e a equipe do jornalista. Na Record, especula-se que seu salário girava em torno de R$ 700 mil. Só em luvas contratuais, quando fechou contrato em 1997, teria recebido R$ 16 milhões em quatro anos. Ele rompeu o contrato com a emissora no fim do ano passado.


Para Boris, a RedeTV! traria algumas vantagens: sua casa é próxima à sede, em Alphaville, e estar fora do vídeo em ano de eleição não pega bem. A RedeTV! quer e já colocou seu departamento comercial no encalço de várias empresas.


Enquanto isso, a Record prepara a estréia de seu novo Jornal da Record com Celso Freitas e Adriana Araújo (ainda não confirmada), ex-repórter da Rede Globo. A emissora encontrou dificuldade para encontrar um substituto para Casoy, por conta da ligação com a Igreja Universal. O casal dos sonhos na bancada do telejornal seria Lilian Wite Fibbe e Paulo Henrique Amorim, que comanda o Tudo a Ver. Não rolou.’


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