Friday, 29 de March de 2024 ISSN 1519-7670 - Ano 24 - nº 1281

O Estado de S. Paulo


SEGUNDO MANDATO
Daniel Piza


Baile de mentiras


‘Mentira, como se sabe, ganha jeito de verdade pela repetição, enquanto toda
verdade que é dita muitas vezes termina com semblante falso. Na minissérie
Amazônia, até onde acompanhei, a cada capítulo se ouvia que ‘Manaus não deve
nada às melhores capitais do mundo’; ou seja, tinha lojas com artigos de luxo
importados da Europa. Não foi nem é a única capital brasileira a ser comparada
assim. O Rio, afinal, é a cidade mais linda do mundo e São Paulo tem uma agenda
cultural como a de Nova York. O carnaval também desfila mentiras em série. O
Brasil foi criado especialmente pelo criador, que caprichou nas belezas naturais
e harmonia racial. Pelo menos é o que diz todo samba-enredo.


Enquanto isso, as cidades são tomadas por violência e a natureza é mais
explorada que comprador de abadá em Salvador, onde nada menos que 41 ônibus
sofreram arrastão, para não falar da conversão das ruas em banheiro a céu
aberto. Sugeriram suspender o carnaval em luto pelo menino João Hélio, mas, se a
cada assassinato ocorrido no Brasil fosse feito o mesmo, o ano teria 365
Quartas-Feiras de Cinzas. Nas estradas federais, o número de mortes em
acidentes, depois do recorde de fim de ano, superou sua marca mais uma vez;
parece que a Operação Tapa-Buraco não resistiu à primeira chuva de verão. Mas
quem quer falar sobre isso, se as ‘autoridades’ estão nos camarotes de cerveja
ou então isoladas do mundo real em alguma praia militar?


Carnaval, segundo os estudiosos, seria a festa da espontaneidade e do riso,
em que o povo expressaria seu desejo de liberdade, etc., etc. Mas o brasileiro,
maledicente pelas costas e servil pela frente, não parece mais a fim de gozação
no sambódromo. Será porque as escolas são todas patrocinadas por estatais e
pelos grandes grupos privados, cuja ligação vai muito além da lei Rouanet? Não
vi ninguém tirando sarro dos corruptos, jogando limão em caricatura de político,
lembrando como Joãosinho Trinta que quem gosta de miséria é intelectual. Só se
fala em impérios do passado, na mãe África, nos otomanos e sei lá mais o quê. O
Brasil, ali, é apenas um gigante à espera do futuro grandioso. A mentira oficial
se propaga nos botequins.


Não espanta que, nesse contínuo baile de máscaras, se saiba tão pouco sobre o
passado e o presente do Brasil. As escolas continuam a ensinar que ‘em se
plantando tudo dá’, que dom Pedro I deu o grito do Ipiranga, que Tiradentes é um
mártir da liberdade, que Getúlio deu soberania ao Brasil, que os anos JK foram
dourados, que o único ‘problema’ do regime militar foi a tortura, que José
Sarney reconduziu a nação à democracia… Aleijadinho traduziu a alma barroca do
brasileiro, Santos-Dumont é o pai único da aviação, a Semana de 22 fundou a arte
modernista no Brasil, o futebol é patrimônio genético da fusão racial… É uma
das historiografias menos contestadas do Ocidente; Afonso Celso e Policarpo
Quaresma continuam assinando os livros didáticos.


O Brasil, como resultado, ignora o Brasil. Um dos melhores diálogos de
Entreatos, o documentário de João Moreira Salles sobre a campanha de Lula, é
aquele em que o atual presidente diz ao assessor, Gilberto Carvalho, que não
acredita que existam 30 milhões de pessoas passando fome no Brasil, ainda que
fizesse essa afirmativa todo dia e fosse basear nesses dados duvidosos sua
principal campanha social do início de governo. Ok, dirão que político mente em
toda em parte. Verdade – e eis um recurso típico da mentira, que é se alimentar
de uma dose de verdade. Nos países sérios, as mentiras dos políticos terminam
desbaratadas, cedo ou tarde. Agora me diga qual instituto de pesquisa já chegou
a um número confiável sobre desnutrição no Brasil.


Há um monte de outros dados sobre o Brasil que não conhecemos com segurança.
Nesta semana, por exemplo, houve de novo invasão do MST no Pontal, em
propriedades que eles dizem ser improdutivas. Você acha que o governo tem o
mapeamento completo das propriedades improdutivas do Brasil? E você acredita,
por exemplo, nas medições das áreas desmatadas na Amazônia? Dizem que diminuíram
nos últimos dois anos, justamente depois do escândalo causado pelas estatísticas
divulgadas em 2004, que envergonharam a ministra Marina Silva. Mas como? A
fiscalização aumentou? Até onde se sabe, como podem lhe informar em qualquer
reserva nacional, a carência de vigias florestais é enorme. Isso para não falar
no desconhecimento da biodiversidade. Os dados oficiais, no entanto, são
lançados assim; quem quiser que conte outros.


Os subprodutos desse carnaval de mentiras são muitos. O mais claro é a
impunidade. Exemplo: se todos os partidos fazem caixa 2, como garantiu o
presidente, ninguém apura quanto dinheiro é desviado (e como, onde, etc.);
portanto, não há punição nenhuma, como estão aí Marcos Valério, Eduardo Azeredo
e Delúbio Soares – entre tantos outros – para provar. Outro subproduto aparece
na auto-imagem nacional. Dizem que países precisam de mitos, de referências
simbólicas que tragam unidade e inspiração. O mito brasileiro, por exemplo,
seria o da civilização tropical, do progresso adoçado pela alegria, pelo ‘calor
humano’. Mas de nada serve um mito se ele se opõe tão frontalmente à realidade,
se ele se torna um carro alegórico de lorotas, se ele é a musa de tanta
enganação. Como na fábula da tartaruga e da lebre, a mentira pode ter pernas
curtas, mas no Brasil sempre termina com vitória.


SKINDÔ, SKINDÔ


Quanto ao carnaval propriamente dito, é curioso como as belezas e inovações
agora estão relacionadas à produção e à tecnologia. Os carros estão cada vez
maiores e mais funcionais, com efeitos especiais surpreendentes, como os da
Viradouro e aquele livro da Mocidade. Mas continuo sem entender o que faz um
jurado dar 9,9 em vez de 10 ou 9,8 para um determinado quesito. E, como disseram
Paulinho da Viola e Osvaldinho da Cuíca, os sambas-enredo não acompanharam a
evolução: continuam muito parecidos e marciais.


CADERNOS DO CINEMA


Hoje é dia do Oscar e não gosto de ficar adivinhando resultado, até porque
ainda não vi alguns filmes que têm indicações. Mas vale notar que a aproximação
das obras com a não-ficção continua a ser uma tendência clara, contrariando a
previsão de muitos de que o 11/9 abriria uma época de escapismos e fantasias em
Hollywood. Tanto Cartas de Iwo Jima como A Rainha e O Último Rei da Escócia têm
trechos documentais ou, ao menos, a pretensão de recriar fatos históricos;
Dreamgirls não é uma cinebiografia de artista, mas parece ser mais uma; e Babel
discursa sobre a realidade contemporânea da globalização. Eu gostaria que Clint
Eastwood vencesse, por seu olhar que recusa o simplismo. E acho que Os
Infiltrados, de Martin Scorsese, não é tão bom quanto Os Bons Companheiros, de
Martin Scorsese.


Como no ano passado, trata-se de uma boa safra sem nenhum filme
cinco-estrelas. Há um pouco de cada gênero: ‘road movie’, filme de guerra, de
gângster, político, etc. Muitos, curiosamente, se sustentam no talento de seus
protagonistas, de atores de gerações distintas – de Peter O’Toole a Forest
Whitaker, de Judi Dench a Kate Winslet, passando, claro, por Helen Mirren. Isso
tudo significa que há material e público para fazer filmes ainda melhores.


RODAPÉ


Breve esclarecimento: Alain de Botton, autor de The Architecture of
Happiness, nasceu na Suíça e se naturalizou inglês. Aproveito para corrigir
também, no texto sobre o centenário do escritor inglês W.H. Auden publicado na
quarta-feira, que o ator que lê o poema Funeral Blues no filme Quatro Casamentos
e Um Funeral é John Hannah, e não Simon Callow.


HAI KAI DO CAFÉ


Caldo de rubiácea


Fumegando por dentro –


O texto esquenta e flui.


POR QUE NÃO ME UFANO


Dizem que o ano só começa amanhã. O segundo governo Lula, com certeza, não
começou. O ministério não está definido, as obras do PAC não desempacam, não há
nenhuma reforma à vista – política, tributária, etc. – e a educação continua
piorando de qualidade. Sistemas como o aeroviário, o prisional e o energético
continuam à beira do colapso, mas o governo prefere isso a fazer qualquer coisa
que lembre aquela palavra feia, ‘privatização’. Não há, portanto, pista nenhuma
de que as promessas de crescer mais e de melhorar os serviços públicos vão ser
cumpridas tão cedo. Feliz ano velho.’


TV DIGITAL
Agnaldo Brito


Zona Franca aposta na TV digital para manter crescimento acelerado


‘A Zona Franca de Manaus (ZFM), que comemora 40 anos na quarta-feira, vive
uma nova onda de expansão no Pólo Industrial de Manaus (PIM), onde as 450
empresas beneficiadas com renúncia fiscal estão puxando um ritmo acelerado de
crescimento.


Além da ampliação da produção de motos e o já tradicional pólo
eletroeletrônico (que respondeu por 34,4% das receitas do pólo no ano passado),
novos negócios prometem dar novo impulso à região.


O primeiro e mais promissor é a TV digital, que deve ganhar força a partir de
2008, quando o sistema começar a tomar lugar da TV analógica. No anúncio do
Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), o governo federal elegeu Manaus
como o pólo produtor dos produtos de consumo da TV digital. Entre os produtos
estão o próprio aparelho de TV digital, como o conversor de sinal analógico para
digital, o chamado set top box.


A Zona Franca disputava com outras regiões do País o direito de produzir o
item. Outras regiões, como Santa Rita do Sapucaí (MG), negociava a concessão de
incentivos semelhantes aos da ZFM para a produção desses produtos em qualquer
região do País. Manaus venceu a briga e agora começa a estimar o efeito
econômico positivo que isso vai produzir.


O segundo meganegócio avaliado pela Superintendência da Zona Franca de Manaus
(Suframa), agência do governo federal responsável pela gestão do desenvolvimento
da região, está num plano já pronto de industrialização do gás natural produzido
pela Petrobrás no campo de Urucu, no meio da floresta amazônica.


Segundo José Alberto da Costa Machado, coordenador-geral de Estudos
Econômicos e Empresariais da Suframa, o investimento previsto no pólo
gasoquímico alcança US$ 1,1 bilhão e, quando pronto, poderá gerar receita anual
de US$ 1,6 bilhão com os insumos usados na indústria petroquímica ou de
fertilizantes. A previsão é que o gás natural deverá chegar a Manaus em
2008.


A Suframa ainda não mensurou os investimentos totais, mas avalia que os
ingressos sejam tão ou mais fortes que aqueles que entraram na economia da
região desde o início da década. ‘O total de investimentos aplicados no pólo nos
últimos cinco anos soma US$ 8 bilhões. A expansão dos negócios já consolidados e
o surgimento de novos vai atrair mais capital’, diz Machado.


RECEITA


O volume de investimentos nos últimos anos e a transformação da Zona Franca
numa região não apenas importadora, mas produtora dos próprios insumos, resultou
em crescimentos constantes de faturamento na região. ‘A idéia de que o Pólo
Industrial é uma região maquiadora é antiga e equivocada. Mais da metade dos
insumos industriais usados na região são comprados no Brasil’, afirma o
coordenador de estudos da Suframa.


Segundo ele, dos 52% dos insumos industriais consumidos por Manaus, 38% são
produtos adquiridos no próprio pólo. ‘Há uma cadeia industrial sendo montada na
área’, sustenta Machado. O resultado, explica, refletiu-se no balanço geral do
faturamento.


A receita do conjunto da indústria do Pólo Industrial cresce anualmente acima
de dois dígitos, o que fez o faturamento dobrar em três anos, passando de US$
10,5 bilhões para US$ 22,8 bilhões no ano passado. A previsão da Suframa é que a
indústria local eleve em 15% o faturamento neste ano, com perspectiva de
crescimentos ainda mais fortes a partir de 2008, devido aos novos setores.


PROJETOS APROVADOS


Em projetos enquadrados no Processo Produtivo Básico (PPB) e beneficiados com
isenções tributárias de Imposto de Importação (II) e Imposto sobre Produtos
Industrializados (IPI), a Suframa aprovou no ano passado 277 projetos. São
projetos que prevêem a construção de novas fábricas ou a ampliação de indústrias
já instaladas. O investimento previsto para esse conjunto de empreendimentos é
de US$ 2,251 bilhões. Pelas regras do PPB, a empresa enquadrada no processo e
beneficiada com as isenções tem três anos para viabilizar a implantação de
indústrias, antes de expirar o aval da Suframa.


Nem todas saem do papel. Desde 2000, a Suframa aprovou mais de 1,6 mil
projetos, que previam investimentos de mais de US$ 19 bilhões. Apenas US$ 8
bilhões se viabilizaram. Mesmo assim, o Pólo Industrial de Manaus se transformou
num resultado promissor de uma política dirigida de governo. Principalmente como
esforço para proteger a floresta amazônica. O Estado do Amazonas mantém 98% da
cobertura vegetal intocada. ‘Sem o pólo, isso não seria possível’, diz
Machado.’


INTERNET
Ethevaldo Siqueira


Second Life é um outro mundo virtual 3D


‘O mundo virtual não se opõe ao real. Tanto assim que falamos em realidade
virtual. Na verdade, o oposto de virtual é atual. Nossa sensação inicial diante
do virtual é curiosa: tudo que é virtual tem algo de misterioso e intrigante,
seja internet, espelho ou arco-íris.


O mundo virtual não apenas nos encanta como intriga, mas pode oferecer coisas
que há apenas cinco anos jamais poderíamos imaginar. A cada dia, a tecnologia
nos faz entender melhor o mundo virtual: seja em realidade virtual, imagem
virtual, máquina virtual, sexo virtual, texto virtual ou livro virtual.


O Second Life é o melhor exemplo do potencial da virtualização da internet,
reproduzindo tudo que existe em nosso mundo concreto, de átomos. O sucesso desse
projeto virtual tridimensional é impressionante. Ontem, eram 3.937.280
participantes do projeto.


Conheci o Second Life pelas mãos e palavras de um de seus fundadores, o
cientista brasileiro Jean Paul Jacob, no Laboratório de Almadén da IBM, na
Califórnia. Jean Paul é dono de uma ilha nesse mundo virtual. Em duas horas de
grande papo, diante do computador, ele demonstrou tudo que o Second Life nos
pode proporcionar como experiência inovadora.


Nesse novo mundo podemos ser visitantes ou moradores. Somos representados
visualmente por um avatar, um boneco que criamos segundo nossas preferências.
Utilizando os comandos do computador, podemos fazer nosso avatar andar, voar,
correr, sentar, passear, discutir, pesquisar, aprender, comprar, vender ou,
simplesmente, contemplar suas imagens.


Numa descrição mais precisa, Second Life é um mundo virtual tridimensional
totalmente construído por seus moradores, que também são seus proprietários.
Desde a sua abertura ao público, em 2003, ele tem crescido de forma explosiva e
sua população já se aproxima de 4 milhões, com moradores de todo o planeta.


Nos últimos dias me registrei no Second Life. Sou um neófito, pois ainda
estou trabalhando na construção de meu avatar e meu pseudônimo.


A partir do momento em que o visitante entra no Second Life, descobre um
vasto continente digital, vibrante de vida, atividades humanas, entretenimento,
experiências e oportunidades. Explorando mais um pouco esse novo mundo, esse
visitante talvez queira adquirir um pedaço de terra para construir sua casa ou
negócio.


O Second Life tem duas coisas essenciais: a) as criações, que são objetos e
produtos que circundam os moradores e podem ser comprados e vendidos a outros
residentes; e b) o mercado, que alcança milhões de dólares por mês em
transações. Esse comércio é feito na moeda do Second Life: o dólar Linden, que
pode ser convertido em dólares americanos, em câmbio feito online.


PARA EDUCAÇÃO


Jean Paul Jacob tem uma visão mais ambiciosa do Second Life e de sua
aplicação em países emergentes; ‘Um tema que discuto e vejo com otimismo é o
papel de projetos como esse na educação. É a esse tema que dedico minha ilha em
Second Life, discutindo essencialmente como a educação poderá ser útil à
economia de serviços no Brasil’.


Outro aspecto que ele sugere é o da inovação em serviços: ‘Algo como inovação
às suas ordens, semelhante aos projetos do tipo wiki. A Wikipédia é o exemplo
mais conhecido. Eu diria que o Second Life é um wiki que tomou fortificante.
Poderemos usar os wikis como sistema de produção’.


Uma das sugestões dos criadores do Second Life é que todas as aplicações a
serem desenvolvidas na área de educação na Ilha Almadén de Jean Paul Jacob sejam
oferecidas pela IBM aos países do grupo BRIC (Brasil, Rússia, Índia e
China).


Jean Paul é dono da Ilha Almadén, criada em abril de 2006 com o propósito de
estudar a contribuição possível das novas mídias para a educação e o ensino, com
o modelo colaborativo, redes sociais, jogos e outras formas. O tema inicial que
escolheu foi Serviços, Inovação e SSME (Serviços, Ciência, Administração e
Engenharia, sigla inglesa de Services, Science, Management &
Engineering).


Para montar seu projeto, Jean Paul gastou a maior parte do tempo na criação
de apresentações simples, curtas e de fácil entendimento sobre as três áreas:
serviços, inovação e ferramentas (SSME). Essas apresentações estão em diversos
pontos da ilha, mas destinam-se, antes de tudo, a serem vistas na Praça dos
Serviços, ponto central de Almadén.


Jean Paul Jacob tem muitas idéias ainda a serem implementadas. ‘Recentemente,
eu me interessei em ajudar alguns grupos diferentes, depois de encontrar uma
jovem programadora autista de 19 anos, da França, que se ofereceu para construir
uma miniatura do laboratório real de Almadén. Descobri, então, que não sei muito
sobre a situação dos autistas e quero saber muito mais’.


Na Ilha de Almadén, há vários ambientes. Um deles é o auditório, o Jacob
Hall. Ali todos devem, em princípio, prestar atenção a um orador ou palestrante,
que organiza uma atividade. Numa tela no fundo do palco, são projetadas imagens
de vídeo, que mostram a vida real.


Um curioso recurso oferecido ao visitante é o pôr-do-sol a la carte. A
qualquer momento, o visitante ou morador pode sentar-se num banco, na praça, e
pedir que o sol se ponha.’


A TRAJETÓRIA DE OCTAVIO FRIAS DE OLIVEIRA
O Estado de S.
Paulo


Memórias atualizadas de Octavio Frias Filho


‘Office-boy, vendedor de aparelhos de rádio, funcionário público,
incorporador imobiliário, banqueiro, Octavio Frias de Oliveira fez de tudo um
pouco até comprar um jornal, a Folha de S. Paulo. E para falar de uma das
figuras mais reservadas do jornalismo brasileiro, o jornalista e escritor Engel
Paschoal analisou documentos durante seis meses, entrevistou jornalistas,
políticos e amigos, pesquisou o passado e o presente. O resultado foi o primeiro
perfil biográfico de Octavio Frias de Oliveira, agora relançado, em nova edição,
pela Publifolha. A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira ganhou nova roupagem
para contar a história do publisher da Folha de São Paulo, desde o nascimento,
em 1912, aos dias de hoje.


A Trajetória de Octavio Frias de Oliveira, Engel Paschoal, Publifolha, 328
págs., R$ 44′


TELEVISÃO
Leila Reis


Juízo moral


‘Pouca coisa mobiliza mais o brasileiro do que a possibilidade de assumir o
papel de juiz. Só isso explica a monstruosa movimentação em torno do destino dos
participantes do Big Brother Brasil 7. No penúltimo paredão na Globo, o ‘colégio
eleitoral’ do BBB somou mais de 41 milhões de votos. Esse volume representa 40%
dos votos colhidos no plebiscito do desarmamento no Brasil. E a votação recebida
pelo skatista Felipe (eliminado) foi de 38 milhões de indicações, equivalente a
65% dos votos que levaram o presidente Lula ao Planalto, no segundo mandato (58
milhões).


No paredão seguinte, que contrapôs a interiorana Íris ao mineirinho Bruno
(eliminado), o quórum decresceu para 30 milhões, mas, convenhamos, ainda é muito
voto. É muita gente disponível para atender ao chamado da TV na brincadeira de
carrasco/salvador.


Claro que a audiência do programa é boa: 41 pontos de média no Ibope (na
Grande São Paulo) em dia de decisão, só 6 a menos que a principal novela da
casa, Páginas da Vida.


A formação desse Big Brother meio que eliminou as diferenças sociais que
marcaram as outras edições do programa. Não adianta a participante Íris insistir
em mostrar que representa os necessitados, porque com cabelão loiro e corpo
malhado fica difícil para o público acreditar. Nas edições passadas foi fácil
para o telespectador fazer tudo pelo social porque a cara de Cida, Mara e
Bam-bam era de pobre.


Na impossibilidade de fazer justiça social, a platéia opta pela justiça
moral. Mas como se trata de Brasil, onde os valores têm uma flexibilidade
peculiar – o carnaval esteve aí para mostrar a convivência harmônica de alas de
crianças com exuberantes corpos nus femininos no mesmo metro quadrado da avenida
– esse julgamento passa por critérios surpreendentes, até sutis.


Quer ver? Naquelas chamadas feitas durante a programação para o público
declarar quem ama e odeia no BBB7, uma senhora, com cara de dona-de-casa, diz
que quer que o Alemão vença a competição por ser ‘homem direito’. Muitos outros
declararam ser simpatizantes do mesmo participante.


Vamos ver de quem se trata: Diego, um loiro fortão, tatuado, tipo cafajeste,
que de primeira explicitou entrar na brincadeira para ‘pegar mulher’ e que
mantém um triângulo amoroso – até agora platônico – com duas competidoras, Fani
e Íris.


Para quem não acompanha o reality show, pode parecer que os brasileiros
valorizam o ruim, o errado. Mas não é. Ao contrário dos mais ‘certinhos’ que
estão na casa do Big Brother, Alemão é o que tem mais dado demonstrações de
solidariedade, discernimento, fidelidade aos amigos e idoneidade. Em
contrapartida, o participante Alberto, certinho, monogâmico (namora a sério a
participante Bruna), guardião da ‘moral e dos bons costumes’, como explicita
para se diferenciar do trio amoroso, tem angariado grande antipatia.


I sso não quer dizer que o brasileiro seja do mal. Pelo contrário, exibe
certo refinamento na sua avaliação. Consegue ver além do estereótipo, focar na
essência e não apenas no comportamento. O público mostra sabedoria ao valorizar
atributos mais profundos. Rejeita Alberto porque, a despeito de seu
comportamento ‘normal’, passa o tempo todo armando para jogar outros
competidores contra Alemão e as suas protegidas, mente e dissimula.


O que talvez em outra sociedade pudesse representar o escândalo – o
relacionamento a três – aqui ocupa a mais completa coadjuvância, porque é capaz
de mostrar que, no fundo, nós tenhamos aprendido que a flexibilidade é a nossa
tábua de salvação. E-mail: leilareis@terra.com.br’


O Estado de S. Paulo


‘Sigo meus instintos’


‘O AXN estréia, finalmente, a terceira temporada de Lost neste dia 5, às 21
horas, mas o público terá de esperar algumas semanas para ver Rodrigo Santoro em
ação. O ator interpreta Paulo, que tem uma rápida aparição no terceiro episódio,
intitulado Further Instructions, em que contracena com Jonh Locke, o ator Terry
O’Quinn. Paulo é um dos 48 sobreviventes do acidente com o vôo 815 da Oceanic
Air. Como o brasileiro assinou contrato de apenas um ano, seu personagem deve
morrer antes do final desta terceira temporada.


Rodrigo está em alta no exterior. Chama a atenção do público na TV e no
cinema. Esteve recentemente no Festival de Berlim, onde conversou com o
jornalista Luiz Carlos Merten sobre o filme 300 (leia ao lado) e está morando no
Havaí. Para conseguir entrevistá-lo, o Estado teve de ter paciência e
persistência. O primeiro contato com a assessora de imprensa do ator foi feito
no dia 15 de janeiro. Após insistir para falar com ele por telefone, esta
repórter concordou em um papo via e-mail. E esperou.


As respostas de Rodrigo chegaram às 20 horas da última quinta-feira, dia do
fechamento desta edição. Assim como seleciona seus trabalhos, o ator também
escolhe as perguntas que quer responder. Deixou de comentar, por exemplo, por
que assinou contrato para apenas uma temporada de Lost e também não falou sobre
a comparação que fizeram entre ele e Tom Cruise.


Como você iniciou sua carreira no exterior?


O diretor Robert Allan Ackerman assistiu ao filme Bicho de 7 Cabeças no
Festival de Biarritz e, via internet, propôs uma conversa sobre o filme The
roman spring of Mrs. Stone. Este foi meu primeiro trabalho fora do Brasil.
Filmamos em Roma e tive a oportunidade de contracenar com Hellen Mirren
(favorita ao Oscar hoje) e Anne Bancroft. Foi uma experiência inesquecível.


A língua é ou foi empecilho? O que você fez para aprimorar seu inglês?


Nunca morei nos EUA ou me formei em curso de língua inglesa. Tinha apenas uma
noção básica. Em 2002, viajei para os EUA e aprimorei o inglês com muita leitura
e algumas aulas.


Muita gente te criticou por causa de ‘As Panteras Detonando’. Por que você
acha que as pessoas cobram tanto?


Acredito que esta cobrança está relacionada à comparação da minha carreira no
Brasil com as primeiras oportunidades que tive no exterior.


Conte um pouco sobre as dificuldades de atuar e conseguir papéis no
exterior.


É difícil para um estrangeiro conseguir papéis interessantes que não sejam
estereotipados. Lá, o mercado é enorme e oferece inúmeras oportunidades, mas a
competição também é grande.


Como surgiu o convite para ‘Lost’?


Há dois anos fui convidado para participar do seriado Alias (de J.J. Abrams,
criador de ‘Lost’, que já teve Sônia Braga no elenco). Na época eu estava
gravando a microssérie Hoje é Dia de Maria e não era possível conciliar as
agendas. Passou um tempo, tinha acabado de filmar o longa Não por acaso e os
mesmo produtores fizeram novo contato. Desta vez era para Lost.


Como é participar de uma série tão bem-sucedida?


A série é extremamente popular e atinge espectadores no mundo inteiro. É um
trabalho que exige muita dedicação e me sinto honrado em participar de uma
produção tão querida.


Você já teve um feedback desta participação em ‘Lost’? O que mudou em relação
ao público e à imprensa americana?


A série está no começo e ainda não tive a oportunidade de perceber este
feedback do público. Em relação à imprensa americana, sim. O seriado é muito
querido e pude notar um reconhecimento pela minha participação.


Como é morar no Havaí? É possível curtir?


Moro no Rio, mas nasci em Petrópolis. No Havaí tenho a oportunidade de unir a
beleza da praia com a tranqüilidade da serra. Pratico ioga, surfo e estou sempre
em contato com a natureza. Trabalho, na maioria das vezes, em locações lindas,
com pessoas de um ótimo astral e estou muito satisfeito e agradecido.


Os atores de ‘Lost’ falam que a grande dificuldade de atuar na série é o
desconhecimento do personagem. Como você lida com isso?


Está sendo uma experiência interessante, diferente de tudo o que já fiz. O
ator, na condição de ser humano, tende a querer controlar as coisas. Trabalhar
desta forma o coloca numa situação desconfortável e o obriga a viver o momento.
Isso é extremamente rico. Estou aprendendo muito.


Quais são as diferenças entre fazer TV no Brasil e nos EUA?


A qualidade da TV brasileira é indiscutível. O ritmo de trabalho é parecido,
mas a diferença é que estou trabalhando em outro idioma e cultura.


Você já fez novelas, minisséries e cinema. O que mais se aproxima de
‘Lost’?


Pelas características singulares, Lost é uma experiência única.


Cinema é sua preferência?


Não vou negar que estou encantado com o cinema. Tive experiências que me
acrescentaram muito, mas não diria que é uma preferência. Acredito tanto na
importância do teatro e da TV, quanto na do cinema, para a formação do ator.


É difícil ver um ator tão jovem em um nível tão alto. Você teve ótimos papéis
na TV e, principalmente, no cinema. Como isso aconteceu? Você é muito seletivo
nos trabalhos que escolhe?


Ser seletivo é importante e sempre procuro seguir e respeitar meus instintos.
Acredito que a escolha certa é aquela que parece estar certa para você.


Depois de tantos trabalhos em cinema, você ainda tem disposição para fazer
novelas ou isso já está descartado?


Aprendi muita coisa fazendo televisão e acredito na sua importância. Ainda
tenho disposição para fazer muita coisa e não vejo motivos descartar
possibilidades.’


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